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REAPROVEITAMENTO DO GLICEROL RESIDUAL DO

PROCESSO DE PRODUÇÃO DE BIODIESEL


Michelli Santarelli
Centro Universitário FEI, Departamento de Engenharia Química.

1. RESUMO

Este artigo traz informações sobre o glicerol, toda a sua forma de produção e de
alguns fins para este produto, do processo de fabricação do biodiesel e aproveitamento
do glicerol como alternativa de aproveitamento energético sustentável. Visa aumentar o
conhecimento atual a respeito e contribuir para a melhoria das perspectivas da indústria
do biodiesel e derivados e de uma parte da população. Desta forma o presente estudo
constitui-se em uma fonte importante de informação sobre a glicerina para autoridades
ambientais, indústrias e pesquisadores.
Este artigo é uma revisão de dois artigos publicados referentes a utilização do resíduo
Glicerol. O 1º artigo comenta sobre o uso do glicerol na dieta de suínos, o 2º artigo
comenta sobre a conversão do glicerol em etanol.

Palavras-chave: Glicerina, Glicerol, Biodiesel

2. INTRODUÇÃO

A crescente demanda por combustíveis fósseis aumenta a preocupação com o


aquecimento global incentivando as discussões sobre novas fontes de energia. E uma
alternativa para minimizar a poluição e consequentemente o aquecimento global é a
utilização de combustíveis renováveis, pois no balanço total diminuem as emissões de
CO2, um dos principais vilões do efeito estufa
O uso de matérias-primas de fontes renováveis pela indústria é essencial para o
desenvolvimento sustentável da sociedade moderna. Por motivos óbvios, a necessidade
de se utilizar de processos catalíticos “verdes” para converter fontes bio renováveis em
commodities químicos, dentre eles os biocombustíveis ecologicamente corretos, está
mobilizando cientistas das indústrias e universidades de todo o mundo. Entre os
combustíveis renováveis mais promissores destaca-se o biodiesel. Este produto é um
combustível alternativo limpo, produzido pela reação de um óleo ou gordura com um
álcool que reduz a viscosidade. Nessa reação, chamada de transesterificação, são
formados ésteres metílicos ou etílicos de ácidos graxos (biodiesel) e glicerol.
Teoricamente, para cada 3 mols de ésteres metílicos (ou etílico) é gerado 1 mol de
glicerol; aproximadamente 10% da massa total do produto.

Visando substituir o uso do óleo diesel, o Brasil vem incorporando o biodiesel na


matriz energética nacional através do Programa Brasileiro de Desenvolvimento
Tecnológico de Biodiesel. O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)
estabeleceu que, a partir de 2008, o óleo diesel seria comercializado com a adição de
3% de biodiesel, 7% em 2016, 8% até 2017, 9%, até 2018 e 10% até 2019.
No ano de 2010, 250.000 toneladas de glicerol foram geradas pelas usinas
brasileiras de biodiesel.

Glicerol

O glicerol oriundo da produção de biodiesel, também chamado de glicerol residual,


é um material líquido altamente poluente. Nesta mistura complexa, além do próprio
glicerol, na sua constituição encontram-se outras substâncias (óleos, ácidos graxos de
cadeia longa, metanol, sais e outros) que, se dispostas no meio ambiente sem tratamento
adequado, podem causar problemas de intoxicação, formação de espumas, mau cheiro, e
variações nas características naturais de um determinado ecossistema. Com tudo isto, é
necessário encontrar usos alternativos para o glicerol residual para manter a
sustentabilidade econômica e ambiental da produção de biodiesel.
Atualmente, a produção de glicerol proveniente do processamento do biodiesel é
vendida, principalmente, para a indústria química. No entanto, a oferta de glicerol está
se tornando bem maior que a demanda, além de ter um elevado teor de impurezas, em
torno de 20%, que afeta e encarece seu processamento industrial.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Artigo1 - uso do glicerol na dieta de suínos (R. Bras. Zootec., v.39, n.7, p.1491-1496, 2010)

Neste artigo se comenta sobre a uma alternativa para o resíduo Glicerol, sendo
utilizado como fonte de energia para suínos. Este artigo avalia os efeitos da adição de
níveis crescentes de glicerol na dieta de suínos em crescimento e terminação, por meio
do desempenho, das características da carcaça e da qualidade da carne dos animais.

Artigo 2- conversão do glicerol em etanol (Quim. Nova, Vol. 34, No. 2, 2011)

A conversão microbiana de glicerol em vários compostos foi investigada


recentemente com particular foco na produção de 1,3-propanodiol, que pode ser
aplicado como ingrediente de base de poliésteres. A fermentação de glicerol em 1,3-
propanodiol foi estudada utilizando microrganismos tais como Klebsiella pneumoniae,
Citrobacter freundii, o Clostridium butyricum e Enterobacter agglomerans. No entanto,
a produção biológica de H2 e etanol a partir de glicerol, também são atraentes porque se
espera que o H2 seja uma futura fonte de energia limpa e o etanol possa ser usado como
uma matéria-prima e um suplemento para gasolina.

4. ANÁLISE DE MÉTODOS, RESULTADOS E DISCUSSÃO

Artigo1 - uso do glicerol na dieta de suínos

Foi realizado um experimento no setor de suinocultura do Departamento de


Zootecnia, ESALQ/USP, utilizando-se 64 suínos da genética Topigs, com peso vivo
inicial de 33,27 ± 4,66 kg, distribuídos em delineamento experimental de blocos
casualizados, com quatro níveis de glicerol, cada um com oito repetições (blocos). Os
animais foram alojados em 32 baias (unidade experimental) conforme o sexo e o peso
vivo, de modo que em cada baia foram alocados dois animais, consistindo de duas
fêmeas por baia no bloco 1 e um macho castrado e uma fêmea nos demais blocos. Nas
dietas, foi adicionado glicerol semi purificado, proveniente de sebo bovino, produzido
em condições industriais e obtido diretamente do fabricante.
Em cada uma das três fases, crescimento 1 (33,27 a 65,00 kg), crescimento 2
(65,00 a 85,00 kg) e terminação (85,00 a 99,97 kg), os animais receberam rações
isoenergéticas e água à vontade.
Ao atingirem o peso vivo médio de 99,97 ± 1,92 kg, os animais foram abatidos,
depilados, eviscerados, cortados ao meio longitudinalmente, e as carcaças pesadas para
calcular o rendimento de carcaça quente.

Nível de Glicerol na Dieta 0% 3% 6% 9%


Crescimento 1
Peso vivo inicial, kg 33,28 33,32 33,40 33,05
Peso vivo no final, kg 67,06 65,62 65,51 65,35
Consumo diário de ração, kg/dia 2,44 2,37 2,40 2,34
Ganho diário de peso, kg/dia 1,17 1,12 1,13 1,12
Conversão alimentar 2,10 2,20 2,24 2,12
Crescimento 1 e 2
Peso vivo inicial, kg 33,28 33,32 33,40 33,05
Peso vivo no final, kg 85,12 81,14 82,29 81,20
Consumo diário de ração, kg/dia 2,62 2,48 2,50 2,49
Ganho diário de peso, kg/dia 1,13 1,03 1,02 1,04
Conversão alimentar 2,33 2,49 2,55 2,41
Período total
Peso vivo inicial, kg 33,28 33,32 33,40 33,05
Peso vivo no final, kg 102,41 98,55 99,22 99,73
Consumo diário de ração, kg/dia 2,73 2,65 2,75 2,68
Ganho diário de peso, kg/dia 1,11 1,05 1,06 1,06
Conversão alimentar 2,46 2,59 2,66 2,57
TABELA 1. Desempenho de suínos nas fases de crescimento 1, crescimento 1 e 2 e período total,
alimentados com níveis crescentes de glicerol na dieta).

Os resultados deste estudo mostram, de modo geral, que o glicerol pode


participar em até 9% nas dietas de suínos em crescimento e terminação, sem efeitos
depressivos nas características de carcaça dos animais.

Artigo 2- conversão do glicerol em etanol

O glicerol utilizado durante a pesquisa foi produzido em uma usina de biodiesel da


Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras – na unidade denominada UBQ (Usina de Biodiesel de
Quixadá), localizada no município de Quixadá, Ceará.
A matéria-prima utilizada na fabricação de biodiesel era composta por uma mistura
de dois óleos vegetais, de algodão e de soja, em uma proporção de 2:3 (v/v). Após o refino
do óleo e do duplo processo de transesterificação, o glicerol era separado do biodiesel por
gravidade, coletado em recipientes de 4L e transportado para o Laboratório de Gestão da
Embrapa Agroindústria Tropical, localizado em Fortaleza - CE, onde ficavam preservados
em vidro âmbar a 4ºC. O catalisador químico utilizado na reação era o hidróxido de sódio
(NaOH). O ácido clorídrico (HCl) foi o reagente empregado na etapa de acidificação da
mistura biodiesel-glicerol.

FIGURA 1. Desenho esquemático do processo de produção de biodiesel e geração de glicerol. (esquema


elaborado segundo informações fornecidas pela Petrobras). Fonte: Viana (2011).

Segundo artigo, obtém-se etanol por três maneiras gerais: por via destilatória,
por via sintética e por via fermentativa.
A via destilatória não tem viabilidade econômica no Brasil, a não ser para certas
regiões vinícolas, para o controle de preço de determinadas castas de vinhos de mesa.
Por via sintética, obtém-se o etanol a partir de hidrocarbonetos não saturados,
como o eteno e o etino, e de gases de petróleo e da hulha. Nos países em que há grandes
reservas de petróleo e uma indústria petroquímica avançada, é uma forma econômica de
produzir etanol.
A via fermentativa é a maneira mais importante para a obtenção do álcool etílico
no Brasil. Mesmo que venha a haver disponibilidade de derivados de petróleo que
permitam a produção de álcool de síntese, a via fermentativa ainda será de grande
importância para a produção da bebida, sob a forma de aguardentes. As bebidas
fermento-destiladas possuem características próprias de aroma e sabor, conferidas por
impurezas decorrentes do processo fermentativo.

Neste artigo é comentado sobre a produção de etanol por fermentação de glicerol


com Klebsiella planticola. O glicerol foi convertido em etanol em níveis de 30 mmol.L-
1. Como comparação, foi investigado a fermentação de glicerol por mistas culturas a pH
alcalino. Os estudos indicaram que formação de etanol e 1,3-propanodiol-acetato foram
as principais vias de formação de produtos catabólicos. O substrato limitante das
condições foram os principais fatores que afetaram a formação de etanol. Sob estas
condições, até 60% do substrato de carbono foi convertido em etanol, numa proporção
de 1:1. Outro microrganismo estudado, a Escherichia coli pode fermentar
anaerobiamente o glicerol. Segundo os autores, no prazo de 84 h de crescimento ativo,
o glicerol foi quase completamente consumido, alcançando uma concentração máxima
nas células de 486,2 mg.L-1. O etanol representou cerca de 80% (base molar) de
produtos. A fermentação de glicerol em 1,3-propanodiol foi estudada utilizando
microrganismos tais como Klebsiella pneumoniae, Citrobacter freundii, o Clostridium
butyricum e Enterobacter agglomerans. No entanto, a produção biológica de H2 e
etanol a partir de glicerol, também são atraentes porque se espera que o H2 seja uma
futura fonte de energia limpa e o etanol possa ser usado como uma matéria-prima e um
suplemento para gasolina.

Apesar dos exemplos descritos na literatura, a fermentação de glicerina para a


produção de químicos só tem sido avaliada em escala laboratorial. Os estudos ainda se
encontram em estado inicial e poucas linhagens microbianas têm sido avaliadas. Dessa
forma, a identificação de novas linhagens microbianas capazes de fermentar
eficientemente glicerina bruta para a produção de químicos é altamente interessante.
Tais microrganismos podem ser utilizados em processos fermentativos específicos ou
ainda serem utilizados como fontes de vias metabólicas para processos de
melhoramento genético de linhagens industriais já conhecidas.

5. CONCLUSÃO

6. BIBLIOGRAFIA

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