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Resumen: El estudio analiza los textos de las constituciones de Brasil (1824, 1891,
1934, 1937, 1946, 1967, 1988) para recuperar el tratamiento que cada uno da a los
temas de salud y al derecho a la salud, y contextualizar este tratamiento
históricamente y desde el punto de vista de la evolución del Derecho Constitucional
brasileño. Concluye que el derecho a la salud sólo gana lugar constitucional
incontestable en 1988, y revela aspecto innovador del constitucionalismo brasileño,
representado por la determinación, en el texto constitucional, de la organización
institucional del sector, ya presente en la Constitución de 1934 (que determina a la
Unión organizar un servicio nacional de lucha contra las enfermedades endémicas) y
en la de 1988 (que creó el Sistema Único de Saúde). Al fin, señala que, al
constitucionalizar el derecho a la salud y dar tratamiento especial al tema, el
constituyente de 1988 impulsó el tratamiento jurídico de la cuestión de la salud y el
desarrollo del Derecho Sanitario en Brasil.
Palabras clave: Derecho a la salud; Derecho Sanitario; Derecho Constitucional;
Sistema Único de Saúde (Brasil).
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Abstract: The paper analyzes Brazilian constitutions (1824, 1891, 1934, 1937, 1946,
1967 and 1988) to recover the treatment that they give to health matters and to the
right to health, historically contextualizing this treatment from the point of view of the
evolution of our Constitutional Law. It concludes that the right to health only wins
uncontested constitutional seat in 1988, and reveals a novel aspect of our
constitutionalism, represented by the institutional organization, already present in the
1934 Constitution (which required the Union to organize a national service to combat
endemic diseases) and in that of 1988 (which created the Sistema Único de Saúde).
Finally, the paper notes that, when constitucionalizes the right to health and gives
special treatment to the subject, the constituent of 1988 spurred the legal treatment of
the issue and the development of the Health Law in Brazil.
Keywords: Right to health; Health Law; Constitutional Law; Brazilian Public Health
System.
Introdução
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O mais próximo que chegam de políticas sociais são: o inciso XXXI do art. 179,
que trata dos direitos civis e políticos dos cidadãos brasileiros – que diz que “a
Constituição também garante os socorros públicos” (Nogueira, 2001, p. 105); e o § 10
do art. 10 do Ato Adicional de 1834 (Lei nº 16, de 12 de agosto de 1834) – que
acrescenta, às competências das Assembléias Legislativas Provinciais, “legislar sobre
casas de socorros públicos, conventos e quaisquer associações políticas ou
religiosas” (Nogueira, 2001, p. 109), ambos da Constituição de 1824 e ausentes na de
1891.
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Até estar bem avançado o século XX, a assistência à saúde da população, rica
ou pobre, era prestada por “um conjunto diversificado de exercentes (físicos,
cirurgiões-barbeiros, barbeiros, boticários etc.) e nas Santas Casas de Misericórdia”
(Conill, 2003), mas, principalmente, por curandeiros, negros ou indígenas, com
intervenção mínima do Estado. As primeiras instituições destinadas aos “socorros
públicos” ofereciam mais uma assistência à miséria do que à saúde; eram serviços de
caridade e não de assistência médica – limitada que era quanto a seus meios e
resultados. A higiene dos ambientes urbanos, a fiscalização do comércio de alimentos
e a vistoria de embarcações – em especial na presença ou risco de epidemias, para
“evitar a entrada de pestes” – eram atribuições das autoridades municipais, mas
dependiam de denúncia, do interesse privado e raramente se faziam de forma
permanente e contínua.
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brasileiro (...) alcança seu ponto mais alto de teorização” (Bonavides; Andrade, 1991,
p. 7). Inspirada na Carta norte-americana, não dá conta do surgimento da classe
operária como ator social e político e trata de instituir um sistema de poder no qual se
sobrepõe, em plenitude, a burguesia. De qualquer forma, inaugura o regime
republicano, a forma federativa do Estado e o governo presidencialista – criações do
constitucionalismo liberal – sem, no entanto, trazer nenhuma novidade em matéria
social, inclusive sem tratar de matérias de saúde em absoluto.
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É importante notar que, no âmbito dos novos direitos sociais, a saúde tem
menor relevância quando comparada aos demais: enquanto o trabalho, a educação,
as artes, as letras e a cultura são objeto de favorecimento, amparo e estímulo do
Estado, a saúde continua a ser concebida com indisfarçável parcialidade e na
perspectiva de benefício, outorga.
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Célio Borja (1989) tem opinião distinta. Para ele, com a Constituição de 1934 a
proteção e a atenção à saúde se convertem em direito do trabalhador, exigíveis ao
empregador e ao sistema de previdência social organizado nesse período. Cristina
Fonseca (2007), no entanto, vê a questão de outra perspectiva: para ela, a
constituição de dois formatos de prestação de serviços de saúde está associada a
duas formas diversas de inclusão social. No âmbito da previdência social, a
assistência médica era um direito assegurado pela legislação trabalhista a
determinadas categorias de trabalhadores e deveria ser garantida pelo Estado, pelos
empregadores e pelos empregados; já no âmbito da saúde pública, o acesso aos
serviços não constituía um direito social adquirido, mas um benefício concedido pelo
Estado e, portanto, não se formalizou uma obrigação ou dever do Estado para com o
cidadão.
De qualquer forma, “aquele bem coletivo por natureza [saúde] não seria
percebido e interpretado como um direito, como ocorre nos contextos democráticos,
mas como outorga de um poder benevolente que, discricionariamente, decide como
provê-lo” (Fonseca, 2007, p. 10). Opinião que também é defendida por Bonavides e
Andrade, segundo os quais “a ditadura do Estado Novo criou o mito de que as
conquistas, como a legislação, por exemplo, não significavam conquistas, mas
dádivas do poder e do seu chefe” (Bonavides; Andrade, p. 410).
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1946, mas, na prática, contestou o texto adotado ao transferir para a lei ordinária o
estabelecimento dos termos em que se exerceriam aqueles direitos.
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A adoção dessa nova política de Estado está, dessa forma, imbricada, por um
lado, ao processo de redemocratização do País e às mudanças na esfera do Estado
e das relações do Estado com a sociedade, e, por outro, à maneira pela qual os
diversos interesses que compuseram o movimento social em saúde lidaram entre si e
se fizeram representar nas instâncias institucionais da política de saúde (Gerschman,
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Com a Constituição de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) por ela criado
torna-se a instituição jurídica mais importante do Direito Sanitário. E essa instituição
já nasce com suas características estruturais e as diretrizes para sua organização
(art. 198 caput e incisos I a III); competências (art. 200); parâmetros de financiamento
(art. 198 §§ 1º a 3º) e atuação dos agentes públicos estatais em relação a ela (arts.
196, 197 e 198) definidos no texto da constituição. Como opção política, o SUS traz o
que Gastão Wagner Campos (2009, p. 50) denomina “marca genética do
intervencionismo estatal sobre a dinâmica de mercado”, “primo irmão dos sistemas
socializados de saúde e sobrinho do estado de bem estar social” – e, por isso, já
nasce anacrônico, num “tempo áureo do neoliberalismo”.
É interessante notar que o SUS foi criado em plena crise do socialismo e das
políticas de bem-estar social e sua implementação se fez numa época de retomada
do liberalismo – o que Campos chama de “sanha privatizante dos últimos vinte anos”
(Campos, 2009, p. 54).
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Conclusão
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O aspecto inovador de 1988 quanto a isso está em que, mais do que instituir o
sistema de saúde, o texto constitucional define suas características estruturais e as
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