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1
Advogada e Professora Universitária. Coordenadora da Escola Superior da Advocacia – Subseção da OAB de
Itapema-SC. Brasil. Mestra em Ciência Jurídica. Especialista em Direito do Trabalho e Previdência Social.
Graduada nos Cursos de Graduação em Direito, Administração de Empresas e Ciências Contábeis. E-mail:
sennaenascimento@ig.com.br. e, sennenascimento@gmail.com. CV: http://lattes.cnpq.br/0215101821273519.
2
Acadêmico do Curso de Direito. Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI. E-mail: Campus de Balneário
Camboriu/SC. Brasil. lucasandrenascimento21@gmail.com.
ABSTRACT: This chapter presents considerations about the Fundamental Right to health,
physical or mental, as integrative elements of the constitutional guarantee to the dignity of the
person, according to the Brazilian legal order. In the 21st century, the world is imbued with
problems of various orders, including the lack of effectiveness of fundamental rights that,
sometimes, are in development and sometimes in retreat; in this scenario, the State has a
duty to ensure such effectiveness and particularly to guarantee the health and dignity of the
person. In Brazil, the promulgation of the Federal Constitution of 1988 elevated the right to
health, to the category of fundamental right, leaving the State equal dimension to meet such
demands, and financial scarcity cannot be a reason for its non-compliance, which is a target of
discussion. The general objectives of this research are to present the concept of Fundamental
Rights directed to health; identify rights, constitutional and infraconstitutional health
guarantees. On the other hand, the specific objectives are aimed at studying the fundamental
right to health and dignity of the person; and, to present official national indexes of policies,
programs and procedures aimed at health, in the decades following the Federal Constitution of
1988. For the research, the Cartesian method was used in the investigation and treatment
phase of the data and, for the report, the deductive method. The techniques were those of the
referent, categories, operational concepts, directed reading, registration and consultations in
the worldwide computer network.
PALAVRAS-CHAVE: Dignidade da pessoa. Direito Fundamental. Garantia Constitucional.
Saúde Física e Mental.
KEYWORDS: Dignity of the person. Fundamental Right. Constitutional Guarantee. Physical
and Mental Health.
INTRODUÇÃO
A saúde traz em si a característica de essencialidade, por isso, o direito à saúde se
revela numa questão extremamente sensível e, motiva o encaminhamento da ordem jurídica
brasileira à imposição ao Estado à obrigatoriedade de ofertar garantias mínimas, através de
políticas públicas às garantias ao direito fundamental à saúde para a sociedade.
Observa-se que modernidade apresentou inúmeras facilidades para a vida cotidiana e
inúmeros foram os avanços em diversas áreas; com igual velocidade, fez emergir inúmeros
problemas de adaptação a esses novos tempos, bem como, diversos problemas de saúde, física
ou mental, os quais, por vezes, são convergentes de convivências ou de patologias com
difíceis diagnósticos, mas que alteram a vida da pessoa, de seus familiares e de todos à sua
volta, desafiando a ciência e as políticas públicas de saúde que, não dão conta da demanda.
A compreensão do Direitos Fundamentais da saúde física e mental, como elementos
integradores da garantia constitucional à dignidade da pessoa, toma proporções que revela a
necessidade de se criar mecanismos jurídicos e políticos, sob a perspectiva que vai para além
da saúde, tida como saúde física, dada a coexistência de fatores mentais que podem afastar a
pessoa do convívio familiar, laboral e social, ficando ainda, sujeita à exclusão e ao
preconceito.
Os objetivos gerais visam apresentar o conceito de Direitos Fundamentais
direcionados à saúde como obrigação do Estado e da Sociedade; identificar garantias
constitucionais e infraconstitucionais direcionados à saúde a partir da Constituição Federal de
1988. Os objetivos específicos caminham-se ao estudo do direito fundamental à saúde física e
mental, como elementos integradores da garantia constitucional à dignidade da pessoa; ainda,
demonstrar a prestação do direito fundamental à saúde através de políticas públicas na década
da promulgação da Constituição Federal de 1988 e, nas posteriores a esta.
O presente trabalho fundamentar-se-á na Técnica3 da pesquisa de fontes bibliográficas
(doutrina, legislação, artigos científicos, periódicos, dados estatísticos e, documentos por meio
físico e eletrônico), do referente 4, de categorias5, de conceitos operacionais6; na fase de
investigação e tratamento dos dados foi o cartesiano 7; e, no relatório usar-se-á o método
dedutivo8.
3
“é um conjunto diferenciado de informações reunidas e acionadas em forma instrumental para realizar
operações intelectuais ou físicas, sob o comando de uma ou mais bases lógicas investigatórias.” (PASOLD,
Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: ideias e ferramentas úteis para o pesquisador do direito. 12. ed. São
Paulo: Conceito Editorial. 2011, p. 105).
4
“é a explicitação prévia do(s) motivo(s), do(s) objetivo(s) e do produto final desejado, delimitando o alcance
temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa”. (PASOLD, Cesar
Luiz. Prática da pesquisa jurídica. 2011, p. 54).
5
“é a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma ideia”. (PASOLD, Cesar Luiz.
Prática da pesquisa jurídica. 2011, p. 25).
6
“Conceito Operacional (=Cop) é uma definição para uma palavra e expressão, com o desejo de que tal
definição seja aceita para os efeitos das ideias que expomos”. (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa
jurídica. 2011, p. 50).
7
Método cartesiano: “1. [...] nunca aceitar, por verdadeira, cousa nenhuma que não conhecesse como evidente;
[...]. 2. [...] dividir cada uma das dificuldades que examinasse em tantas parcelas quantas pudessem ser e fossem
exigidas para melhor compreendê-las; 3. [...] conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos
objetos mais simples e mais fáceis [...], até o conhecimento dos mais compostos, [...]; 4. [...] enumerações tão
completas e revisões tão gerais, que ficasse certo de nada omitir” (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa
jurídica. 2011, p. 88).
8
Tal método busca “[...] estabelecer uma formulação geral e, em seguida buscar as partes do fenômeno de modo
a sustentar a formulação geral [...].” (PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica. 2011, p. 86).
A positivação de direitos surge com a tomada de consciência e da “necessidade de
dotar a ideia que, apareçam historicamente como direitos naturais, de um estatuto jurídico que
permita sua aplicação e eficácia e, a proteção real das pessoas titulares dos direitos” 9;
portanto, tomou força a partir da organização humana e com o nascimento do Estado, para o
qual foi legitimado o poder e a limitação da sanção.
O surgimento dos Direitos Humanos, segundo indica Moraes10, se observado com
atenção, teve seu marco inicial no terceiro milênio a.C.; já na compreensão de Beltramelli
Neto, estes ganham força após a Segunda Guerra Mundial, por conta do massacre étnico11.
Muitas são as fontes que se inclinaram aos direitos da pessoa 12, como foi o Código de
Lipt-Ishart13 e o Código de Hammurabi 14 na antiguidade; assim como, a Lei das XII Tábuas,
da República Romana, acessível aos que soubessem ler. Também, Buda por volta de 500 a.C
e, depois, o Cristianismo, que construíram bases sensíveis aos direitos da pessoa, consagrando
os Direitos Humanos durante o Século XVIII, até o Século XX, período em que se destacam a
Declaração Norte-americana em 1776 e a Revolução Francesa em 1789.15
Para Nogueira, os Direitos Humanos nasceram na início na Idade Média e, na
atualidade, “a literatura é muito vasta – em Direitos do Homem”, por isso, o desenvolvimento
de categorias como “Direitos Humanos, liberdades públicas, Direitos Fundamentais, Direitos
Naturais, Direitos Históricos”; sendo que “essas expressões, ao longo das épocas, sempre
recomeçam, são sempre recorrentes”, porque em determinado momento uma ou outra
expressão se apaga ou “perde relevo, perde nitidez”; por isso, compete aos “operadores do
direito, [...] a importante tarefa de adequar a ciência do Direito às necessidades sociais de cada
9
PECES-BARBA, Gregorio. La diacronía del fundamento y del concepto de los Derechos: el tiempo de la
historia. In: PECES-BARBA, Gregorio. Curso de Derechos Fundamentales: teoría general. Madrid:
Universidad Carlos III de Madrid. 1995, p. 154, 156 e, 160.
10
MORAES, Alexandre de. Direitos humanos fundamentais. 10. ed. São Paulo: Atlas. 2013, p. 6.
11
BELTRAMELLI NETO, Silvio. Direitos humanos. Salvador: Jus Podium. 2017, p. 77-78.
12
Para a presente pesquisa utilizar-se-á a categoria “pessoa” para designar homem, mulher, ser humano,
indivíduo, sujeito, cidadão e outros sinônimos ou termos afins, seguindo-se a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, no seu Artigo XXII: “Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à
realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de
cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre
desenvolvimento da sua personalidade”. (BRASIL. Ministério da Justiça. Declaração Universal dos Direitos
Humanos. Acesso em: 14 jan. 2020).
13
“Do ‘Código de Lipit-Ishtar’, rei de Isin, escrito cerca de 1880 anos antes de Cristo, encontrou-se o prólogo, o
epílogo e 37 artigos. Era destinado a estabelecer o direito nas regiões da Suméria e da Acádia. [...].” (BRASIL.
Direito & História. O Código de Lipit-Ishtar. Disponível em:
http://historiadodireitounesp.blogspot.com.br/2010/04/o-codigo-de-lipit-ishtar.html. Acesso em 07 mar. 2020).
14
Século XVIII a.C. o rei da Babilônia chamava-se Khammu-rabi e o mesmo ergeu uma pedra de basalto
contendo 21 colunas e 282 cláusulas que determinavam regras para a vida das pessoas e para a sociedade da
época. (SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Direito humanos: liberdades públicas e cidadania. 4. ed. São Paulo:
Saraiva. 2016, p. 18).
15
SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Direito humanos. 2016, p. 17-30.
época, [...], dentro do possível, aos reclamos da pessoa humana, que é, em última análise, o
titular e o destinatário de toda essa atividade”.16
Observa-se que as transformações históricas dos Direitos Humanos se apresentaram
em sucessivas “gerações”17 de direitos; e, como categorias históricas, só tem sentido se
baseados em contextos temporais determinados, pois nasceram com a Modernidade 18 numa
atmosfera iluminista que inspirou as Revoluções burguesas do Século XVIII.
Observa-se que a dominação dos povos e nações, motivaram as guerras, promoveu a
violência e a escravização. A exemplo, das Grandes Guerras Mundiais, muitos perderam a
vida, a saúde e paz, o que fez nascer a necessidade de buscar a paz e um novo modo de vida;
nessa época a sociedade já se encontrava sob a influência da globalização, tornando-se mais
consumista e individualista, o que, associado ao crescimento demográfico, iniciado na Idade
Média, impôs crises econômica, social, cultural, religiosa, tecnológica e outras.
A Segunda Guerra Mundial favoreceu a desaceleração da Guerra Fria 19; logo surgiu a
Organização das Nações Unidas (ONU) apoiada pelos norte-americanos, com o objetivo de
evitar-se novos conflitos após a guerra entre os seus membros, aprovando em 1948 o texto da
Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) 20, que pretendia prevenir e reprimir
crimes como genocídio.
16
NOGUEIRA, Alberto. Viagem do direito do terceiro milênio: justiça, globalização, direitos humanos e
tributação. Rio de Janeiro: Renovar. 2001, p. 281.
17
A Teoria das Gerações de Direitos Humanos é atribuída a Karel Vasak, o qual associava às cores da bandeira
da França e da Revolução Francesa (Liberdade, Igualdade e Fraternidade). No entanto, Beltramelli Neto faz
referência aos autores Bonavides e Cançado Trindade como críticos à essa definição, porque defendiam a
existência da 4ª geração, advinda da globalização, impondo a universalização dos Direitos Humanos; por isso, a
predileção doutrinária reconhece o termo “dimensões” que substitui o termo “gerações”. (BELTRAMELLI
NETO, Silvio. Direitos humanos. 2017, p. 101-108).
18
A modernidade não se deu de forma linear e imediata, porque ocorreram mudanças, onde a religião única, a
vida rural, economia única, o coletivismo, dentre outros, foram abandonados na Sociedade Feudal; ascenderam a
burguesia, o capitalismo, o comércio, o aumento da vida urbana, o individualismo, os movimentos
reivindicatórios, as descobertas e diversas mudanças que permeiam ainda os dias atuais.
19
A queda do muro de Berlim e o fim Guerra Fria, na década de 90, favoreceram a “implementação do sistema
de proteção internacional dos direitos humanos”. (BELTRAMELLI NETO, Silvio. Direitos humanos. 2017, p.
93).
20
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da
Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. (BRASIL. Ministério da Justiça. Declaração
Universal dos Direitos Humanos. Adotada e proclamada pela resolução 217 A (III) da Assembleia Geral das
Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Disponível em:
http://portal.mj.goVol.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm. Acesso em: 14 jan. 2020).
Os Direitos Humanos é algo abstrato21, porque, via de regra, são inseridos nas normas
fundamentais do Estado e se conjugam com Direito Natural, inerentes à pessoa e à Sociedade;
já os Direitos Fundamentais são Direitos Positivos22 e inerentes à pessoa e ao Estado.23
Compreender e definir os Direitos Fundamentais à luz da argumentação de Peces-
Barba, é compreender que “[...] el espíritu y la fuerza, la moral y el Derecho están
entrelazados y la separación los mutila, los hace incomprensibles24”. Portanto, Direitos
Humanos se concretizam da integração da justiça e da força da perspectiva individual no
mundo moderno de cultura antropocêntrica; já os Direitos Fundamentais se originam e
nascem consubstanciados na moralidade que impulsionam sua positivação pelo Estado, sendo
o ponto de referência da realidade jurídica a partir da passagem da modernidade; logo, “Son
moralidad legalizada”25.
Sarlet e Figueiredo compreendem que os conceitos de Direitos Humanos e Direitos
Fundamentais são distintos, sendo os “direitos humanos considerados como aqueles
assegurados no plano do direito internacional”, dirigidos a qualquer pessoa, mesmo sem
vínculo com determinado Estado e são “oponíveis ao próprio Estado perante as instâncias
supranacionais de tutela”; e, definem os “Direitos Fundamentais como sendo aqueles
consagrados no plano direito constitucional de cada Estado”.26
Cançado Trindade ao examinar as “obrigações executivas, legislativas e judiciais do
Estados-Partes nos tratados de direitos humanos”, sustenta que “[...] - primeiro, os tratados de
direitos humanos, que se inspiram em valores comuns superiores (consubstanciado na
proteção do ser humano) e são dotados de mecanismos próprios de supervisão que se aplicam
consoante a noção de garantia coletiva”, por isso, possui um “caráter especial que os
diferenciam dos demais tratados”, por regulamentar interesses comuns ou recíprocos entre os
Estados-Partes, com consequências jurídicas no plano do direito internacional e do direito
interno; aponta que em “- segundo, o direito internacional e o direito interno mostram-se em
constante interação no presente contexto de proteção, na realização do propósito convergente
21
Nogueira aponta que os Direitos Humanos se concretizam através de uma regulamentação, por isso, é tido
como algo abstrato. (NOGUEIRA, Alberto. Viagem do direito do terceiro milênio. 2001, p. 283).
22
“O direito positivo é posto, imposto, positivado pelo Estado”. (SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Direito
humanos. 2016, p. 49).
23
SIQUEIRA JR., Paulo Hamilton. Direito humanos. 2016, 41-49.
24
“[...] o espírito e a força, a moral e o Direito estão entrelaçados e a separação os mutila, fazem-nos
incompreensíveis”. (Tradução livre dos autores).
25
PECES-BARBA, Gregorio. La diacronía del fundamento y del concepto de los Derechos: el tiempo de la
historia. In: PECES-BARBA, Gregorio. Curso de Derechos Fundamentales. 1995, p. 105.
26
SARLET, Ingo Wolfgang. FIGUEIREDO. Mariana Filchtiner. Reserva do possível, mínimo existencial e
direito a saúde: algumas aproximações. In: SARLET, Ingo Wolfgand. TIMM, Luciano Benedeti. Direitos
Fundamentais: orçamento e "reserva do possível". Porto Alegre: Livraria do Advogado. 2008, p. 13.
e comum da salvaguarda dos direitos do ser humano”; e, por fim, “e terceiro, na solução de
casos concretos, a primazia é da norma que melhor proteja as vítimas de violações de direitos
humanos, seja ela de origem internacional ou interna”.27 (como no original).
E relação ao sistema internacional de proteção aos Direitos Humanos, o Brasil se
posicionou a partir do ano de 1985, juntamente com o processo de democratização,
ratificando tratados internacionais de Direitos Humanos, sendo um país respeitador e
garantidor de Direitos Humanos no âmbito internacional.28
A partir da concepção que os Direitos Fundamentais ratificam os Direitos Humanos,
mediante a positivação no âmbito da norma jurídica interna do Estado, pela sua
constitucionalização, têm-se, que o direito à saúde é um Direito Fundamental e irradia
reflexos nos diversos segmentos da sociedade, por isso, deve ser tutelada pela norma interna,
constitucional e infraconstitucional, como se estudará em seguida.
humana e dignidade humana (da humanidade)”. (SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e
direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002, p. 108).
33
Saúde mental. Cadernos de Atenção Básica. nº 34. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde.
Departamento de Atenção Básica. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da
Saúde. 2013, p. 30. (E-book).
34
Ciência & Saúde Coletiva. SANTOS, Nelson Rodrigues dos. SUS 30 anos: o início, a caminhada e o rumo. p.
1730. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csc/2018.v23n6/1729-1736/pt. E,
https://doi.org/10.1590/1413-81232018236.06092018. p. 1729-1736. Acesso em: 22 abr. 2020.
35
PIOVESAN, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 2. ed. São Paulo: Max
Limonad. 1997, p. 59.
36
Constituição da República Federal do Brasil. Senado Federal. Secretaria de Editoração e Publicações.
Brasília: Senado Federal. 2017, p. 8-9.
Os Direitos Fundamentais foram consolidados na Constituição Federal de 1988 37 e, em
seu preâmbulo e no seu corpo, no Título II, estão definidos os direitos individuais e coletivos,
segundo o artigo 5º e seus Incisos; já os direitos sociais, onde se inscreve a saúde, estão
prelecionados nos artigos 6º ao 11; adiante, no Título VIII, o indicativo “da ordem social”
iniciado pelo artigo 193 e, especificamente, a partir do artigo 196, define que “a saúde é
direito de todos e dever do Estado” e, preconiza a garantia desse direito mediante políticas
sociais e econômicas que possam reduzir o risco de doença e de agravos, com acesso
universal e igualitário, cujo fim, é a promoção, proteção e recuperação da saúde.
O direito à saúde como um Direito Fundamental implica na atuação do Estado e da
Sociedade, cuja ordem social definida no artigo 193 “tem por base o primado do trabalho, e
como objetivo o bem-estar e as justiças sociais”, com a complementação do artigo 194, o qual
define que a Seguridade Social “compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social”.38
A partir da premissa da organização do Estado para atendimento das necessidades ou
direitos elencados no título destinado à ordem social, foi previsto no artigo 195 da
Constituição Federal de 1988, que a sociedade está compromissada com o custeio, de forma
direta e indireta; portanto, deve participar do custeio da prestação de serviços dirigidos à
saúde.
Nesse diapasão, nota-se que a Constituição Federal de 1988 39, no seu artigo 198 trata
das ações e serviços públicos destinados à promoção, proteção e recuperação saúde e, define a
“rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único”, cujo orçamento, tem
como direcionamento as participações financeiras definidas no artigo 195.
O Plano Nacional de Saúde nasce com a Lei nº 8.080/1990 40, que no seu artigo 2º
preleciona que “a saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as
condições indispensáveis ao seu pleno exercício” e, traz no artigo 3º que, “os níveis de saúde
expressam a organização social e econômica do País [...]” e, completa que a saúde tem como
determinantes e condicionantes, outros direitos, como “a alimentação, a moradia, o
saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o
transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais”; e, Parágrafo Único do mesmo
37
Constituição da República Federal do Brasil. 2017, p. 9-13 e, 60.
38
Constituição da República Federal do Brasil. 2017, p. 60-61.
39
Constituição da República Federal do Brasil. 2017, p. 61.
40
BRASIL. Planalto. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 21 abr. 2020.
artigo, define que as ações “se destinam a garantir às pessoas e à coletividade de condições de
bem-estar físico, mental e social”.
O mesmo diploma legal, no seu artigo 4º preleciona que “o conjunto de ações e
serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais, da Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público,
constitui o Sistema Único de Saúde (SUS)”. E, o artigo 23, Inciso II, da Constituição Federal
de 198841, definiu competência concorrente à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, para cuidar da saúde e da assistência pública.
Na sequência, a Lei nº 8.142/199042 definiu a participação da comunidade na gestão do
Sistema único de Saúde (SUS) e dispôs sobre as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde, restando claro que a organização, a criação de normas e
dos recursos financeiros para a saúde, são complementadas por outras leis, emendas, decretos
e portarias, segundo a necessidade de cada esfera; incluindo o Serviço Nacional de Auditoria
(SNA), cujo fim, é controlar, verificar, avaliar, aferir, analisar e manter demais atribuições
para auditar os serviços desenvolvidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo define o
Decreto nº 1.651/199543.
A hierarquização e a descentralização dos serviços da saúde definidas na Constituição
Federal de 1988, impõe que na esfera federal, seja o Ministério da Saúde o órgão responsável
para gerenciar o conjunto de ações e desenvolvimento de políticas de saúde na sua esfera de
competência, porque planeja, organiza o financiamento e os repasses de recursos para
secretarias estaduais e municipais de saúde; a realização de ações diretas à prestação de
serviços de saúde ocorre apenas em casos de exceção.
A concretização do alcance da promoção, proteção e recuperação da saúde, dependem
da efetividade de duas vertentes, sendo a primeira de natureza negativa, a qual consiste no
direito de exigir que o Estado se abstenha de qualquer ato que prejudique a saúde; e, a
segunda, revela natureza positiva, porque importa no direito de exigir do Estado medidas e
prestações que visem a prevenção e o tratamento das enfermidades.44
Nesse contexto, a prevenção e a proteção à saúde adquirem feições de acordo com a
41
Constituição da República Federal do Brasil. 2017, p. 16-17.
42
BRASIL. Planalto. Lei nº 8.142, de 28 de dezembro de 1990. Dispõe sobre a participação da comunidade na
gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de recursos financeiros
na área da saúde e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8142.htm.
Acesso em: 21 abr. 2020.
43
BRASIL. Planalto. Decreto nº 1.651, de 28 de setembro de 1995. Regulamenta o Sistema Nacional de
Auditoria no âmbito do Sistema Único de Saúde. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1995/D1651.htm. Acesso em: 21 abr. 2020.
44
CANOTILHO, J. J. Gomes; MOREIRA, Vital. Constituição da República Portuguesa Anotada. 3. ed.
Coimbra: Coimbra Editora. 1984, p. 342.
necessidade, sendo que toda pessoa, quando enferma, tem “o direito a um tratamento
condigno de acordo com o estado atual da ciência médica, independentemente de sua situação
econômica, sob pena de não ter muito valor sua consignação em normas constitucionais”45, o
que se buscará identificar no tema que segue.
45
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 36. ed. São Paulo: Malheiros. 2013, p.
311.
46
Na atualidade se verifica a aplicação da teoria da reserva do possível, a qual é fruto de uma decisão do
Tribunal Constitucional Federal na Alemanha em 1970, na qual se discutiu o direito de acesso à faculdade de
medicina, cujo número de vagas era menor que o número de candidatos. Nesse sentido, a teoria é compreendida
como uma limitação fática e jurídica oponível, mesmo que relativa à realização de direitos fundamentais,
principalmente os de cunho prestacional, inclusive o direito à saúde. [...], define que “o indivíduo pode
razoavelmente exigir da sociedade”. (NOVELINO, Marcelo. Direito Constitucional. 6. ed. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: Método, 2012, p. 633).
47
SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na Constituição Federal
de 1988. 2002. pág. 47.
48
O IBGE tem como missão institucional "Retratar o Brasil com informações necessárias ao conhecimento de
sua realidade e ao exercício da cidadania”; dentre suas principais funções é ser o “[...] principal provedor de
dados e informações do País, que atendem às necessidades dos mais diversos segmentos da sociedade civil, bem
como dos órgãos das esferas governamentais federal, estadual e municipal". O IBGE oferece uma visão
completa e atual do País”, através da produção e análise de informações estatísticas, coordenação e consolidação
das informações estatísticas, documentação e disseminação de informações. (BRASIL. Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE. Institucional. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/institucional/o-
ibge.html. Acesso em: 21 abr. 2020.
49
BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Estatísticas. População por situação de
domicílio, 1950 a 2010. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/25089-censo-
1991-6.html?edicao=25090&t=series-historicas. Acesso em: 21 abr. 2020.
pessoas residentes no país, apurados decenalmente: em 1980 havia 121.150.573; em 1991
havia 146.917.459; em 2000 havia 169.590.693; em 2010 havia 190.755.799; em 201850 havia
208.494.900.
Nesse contexto, as informações trazidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) no período dos últimos 30 anos pesquisados, ou seja, do ano de 1980 ao
ano de 2010 (data da última pesquisa), confirmou que o Brasil teve um crescimento
populacional de 57,45% (de 121,15 para 190,75 milhões) e, se comparado o ano de 1980 e o
ano de 2018, o crescimento populacional chega ao patamar de 72,10% (de 121,15 para 208,49
milhões).
As políticas de saúde pública no Brasil, entre os anos de 1980 a 1990, eram
direcionadas para o combate de doenças como Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
(AIDS), Coqueluche, Dengue, Difteria, Doença Meningocócica, Febre Amarela, Febre
Tifoide, Hanseníase, Leishmaniose Tegumentar, Leishmaniose Visceral, Malária, Poliomielite,
Sarampo, Tuberculose, e outras doenças. Nesse período viu-se a redução do número de casos
para doenças como a Difteria, Febre Tifoide, Sarampo e Tétano.51
Na década seguinte, entre os anos de 1991 a 2000 ocorreu a erradicação da
Poliomielite; no entanto, surge a Cólera e algumas doenças que eram tratadas na década
anterior tiveram crescente aumento, como foi o caso de Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida (AIDS), Dengue, Malária e tuberculose.52
Já entre os anos de 2001 a 2010, algumas doenças existentes na década passada foram
controladas e outras diminuíram a incidência de casos, no entanto, emergiram Doenças
Transmitidas por alimentos (DTA), Hantavirose e sífilis. No ano de 2005 foi iniciado o
controle ao tabagismo, o que já era percebido desde os anos de 1980.53
Chegada a década seguinte, com apurou-se dados dos anos de 2011 a 2018 e, percebe-
se que cresceram os casos de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), que são
50
“Em função das orientações do Ministério da Saúde relacionadas ao quadro de emergência de saúde pública
causado pela COVID-19, o IBGE adiará a realização do Censo Demográfico para 2021. [...].” (BRASIL.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Agência de notícias. Censo é adiado para 2021; coleta
presencial de pesquisas é suspensa. Disponível em:
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/27160-censo-e-adiado-
para-2021-coleta-presencial-de-pesquisas-e-suspensa. Acesso em: 21 abr. 2020).
51
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde – FUNASA. Boletim Epidemiológico. Evolução
temporal das doenças de notificação compulsória no Brasil de 1980 a 1998. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/boletim_epi_edicao_especial.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020.
52
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde – FUNASA. Boletim Epidemiológico. Evolução
temporal das doenças de notificação compulsória no Brasil de 1980 a 1998. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/periodicos/boletim_epi_edicao_especial.pdf. Acesso em: 27 abr. 2020.
53
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância em saúde no Brasil 2003-2019:
da criação da Secretaria de Vigilância em Saúde aos dias atuais. Número Especial. Set. 2019:1-154. Disponível
em: http://www.saude.gov.br/ boletins-epidemiológicos. Acesso em: 27 abr. 2020.
doenças do aparelho circulatório, câncer, respiratórias crônicas e diabetes, as quais foram as
motivações de óbito de pessoas de 30 a 69 anos de idade. O tabagismo ainda se mantinha
como causa de morbidade e mortalidade no Brasil. Somam-se ainda, as violências
interpessoais e provocadas contra crianças, idosos, mulheres, indígenas, deficientes, pessoas
do grupo de lésbicas, gay, bissexuais, travestis e transsexuais (LGBT), em âmbito
intrafamiliar (homens e mulheres), tráfico de pessoas, trabalho escravo e infantil, tortura e
outras, que são crescentes no Brasil.54
O Brasil ainda convive com algumas doenças como Coqueluche, Doenças de Chagas,
Hantavirose, Hanseníase, Tuberculose e outras, estão em declínio ou controladas; doenças
antes existentes como Dengue, Febre Amarela, Febre Maculosa e outras, figuram entre as
doenças que ainda preocupam; e, surgiram doenças como Chikungunya, Influenza (H1N1 e
H3N2), Zika (ZIKV), Síndrome Congênita do Vírus Zika que revelam necessidade de
controle.55
Ademais, observa-se que entre os anos de 2006 a 2019, viu-se o crescimento de casos
de doenças crônicas como diabete, hipertensão e obesidade56. E, o ano de 2020 iniciou com
uma nova doença, uma pandemia mundial, definida como Coronavírus (COVID-19) que até o
final de abril registrou 71.886 casos, como 5.017 mortes, a qual reportou maior risco para as
pessoas com cardiopatia, diabetes, pneumopatia, doença neurológica ou renal,
imunodepressão, obesidade, asma, entres outras comorbidades. 57
A densidade demográfica por idade58, segundo o IBGE, revelam que: em1980 havia
45.460.763 com 0 a 14 anos, 58.947.791 com 15 a 49 anos e, 14.594.152 com 50 anos ou
mais; já no ano de 2010 havia 45.941.635 com 0 a 14 anos, 105.806.519 com de 15 a 49 anos
e, 39.007.645 com 50 anos ou mais.
54
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância em saúde no Brasil 2003-2019:
da criação da Secretaria de Vigilância em Saúde aos dias atuais. Número Especial. Set. 2019:1-154. Disponível
em: http://www.saude.gov.br/ boletins-epidemiológicos. Acesso em: 27 abr. 2020.
55
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Vigilância em saúde no Brasil 2003-2019:
da criação da Secretaria de Vigilância em Saúde aos dias atuais. Número Especial. Set. 2019:1-154. Disponível
em: http://www.saude.gov.br/ boletins-epidemiológicos. Acesso em: 27 abr. 2020.
56
”O Ministério da Saúde traçou o perfil do brasileiro em relação as doenças crônicas mais incidentes no país:
7,4% tem diabetes, 24,5% tem hipertensão e 20,3% estão obesos.” (BRASIL. Ministério da Saúde. Diabetes,
hipertensão e obesidade avançam entre os brasileiros. Publicado em 27 de Abril de 2020. Disponível em:
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46792-diabetes-hipertensao-e-obesidade-avancam-entre-os-
brasileiros-2s-hipertensao-e-obesidade-avancam-entre-os-brasileiros-2. Acesso em 27 abr. 2020).
57
BRASIL. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. Agência Saúde. Brasil registra 71.886 casos de
coronavírus e 5.017 mortes da doença. Publicado em 28 de abril de 2020. Disponível em:
https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46806-brasil-registra-71-886-casos-de-coronavirus-e-5-017-
mortes-da-doenca. Acesso em: 28 abr. 2020.
58 BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Estatísticas. Tabelas (sidra). Demografia
59
Constituição da República Federal do Brasil. 2017, p. 61.
60
BRASIL. Planalto. Emenda constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000. Altera os arts. 34, 35, 156,
160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias,
para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc29.htm. Acesso: 23 abr. 2020).
61
BRASIL. Planalto. Emenda constitucional nº 51, de 14 de fevereiro de 2006. Acrescenta os §§ 4º, 5º e 6º ao
art. 198 da Constituição Federal. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc51.htm. Acesso: 23 abr. 2020.
62
BRASIL. Planalto. Emenda constitucional nº 63, de 04 de fevereiro de 2010. Altera o § 5º do art. 198 da
Constituição Federal para dispor sobre piso salarial profissional nacional e diretrizes para os Planos de Carreira
de agentes comunitários de saúde e de agentes de combate às endemias. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc63.htm. Acesso: 23 abr. 2020.
63
BRASIL. Planalto. Emenda constitucional nº 63, de 26 de fevereiro de 2015. Altera e adiciona dispositivos
na Constituição Federal para atualizar o tratamento das atividades de ciência, tecnologia e inovação. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc85.htm. Acesso em: 23 abr. 2020.
64
“[...]. Art. 110. Na vigência do Novo Regime Fiscal, as aplicações mínimas em ações e serviços públicos de
saúde e em manutenção e desenvolvimento do ensino equivalerão: I - no exercício de 2017, às aplicações
mínimas calculadas nos termos do inciso I do § 2º do art. 198 e do caput do art. 212, da Constituição Federal; e
II - nos exercícios posteriores, aos valores calculados para as aplicações mínimas do exercício imediatamente
anterior, corrigidos na forma estabelecida pelo inciso II do § 1º do art. 107 deste Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias." [...]. (BRASIL. Planalto. Emenda constitucional nº 95, de 15 de dezembro de
2016. Altera o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para instituir o Novo Regime Fiscal, e dá outras
providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc95.htm.
Acesso em: 23 abr. 2020.
208.494.90066 pessoas; sendo que o Relatório de Gestão 2018 estimou que “mais de 70% da
população nacional é usuária do SUS, o que equivale a aproximadamente 160 milhões de
pessoas exclusivamente dependentes do Sistema” e, ainda apontou que “o SUS realizou quase
4 bilhões de procedimentos ambulatoriais, 11,6 milhões de internações, 1,4 bilhão de
consultas e atendimentos e 900 milhões de exames”. 67
O Relatório de Gestão 2018 destaca que a “diversidade geográfica, demográfica,
socioeconômica e epidemiológica do Brasil torna altamente complexas e abrangentes as
determinações da Constituição Federal de 1988”, cujo comando define a “garantia integral e
equânime de atenção à Saúde para todos os habitantes do território nacional”; porque “são
crescentes as necessidades de recursos físicos, financeiros e humanos para cobrir a extensão
das carências da população”.68
O Ministério da Saúde encerrou o ano de 2018 com aplicação de R$ 108,18 bilhões de
Reais, dos R$ 121,86 bilhões de Reais orçados para a saúde; desse valor, 46,44% foi
destinado à assistência hospitalar e ambulatorial, 18,77% à atenção básica69, 13,38% para a
administração Geral, 10,32% para o suporte profilático e terapêutico e, o saldo 11,09%
destinados à vigilância epidemiológica e outros serviços. 70
Confirmam os dados apresentados que, o Plano Nacional de Saúde, à luz da Lei nº
8.080/1990, devem estar a saúde, tanto física quanto mental, ambas num patamar de igualdade
perante as políticas e ações dirigidas à promoção, proteção e recuperação da saúde. Assim, a
65
“Em 2017, quando a emenda passou a vigorar, os investimentos em serviços públicos de Saúde
representavam 15,77% da arrecadação da União. Já em 2019, os recursos destinados à área representaram
13,54%”, que representa uma “queda livre” desde a edição da emenda, conforme afirmou o economista
Francisco Funcia, que relatou que “se em 2019 o governo tivesse aplicado o mesmo patamar que aplicou em
2017 (15% da receita corrente líquida de cada ano), a Saúde teria um orçamento de cerca de R$ 142,8 bilhões, e
não R$ 122,6 bilhões aplicados. Ou seja, um encolhimento de R$ 20,19 bilhões nos recursos em saúde. [...].”
(BRASIL. Governo Federal. Conselho Nacional da Saúde. Ministério da Saúde. Saúde perdeu R$ 20 bilhões
em 2019 por causa da EC 95/2016. Publicado em 28 de fevereiro de 2020. Disponível em:
https://conselho.saude.gov.br/ultimas-noticias-cns/1044-saude-perdeu-r-20-bilhoes-em-2019-por-causa-da-ec-
95-2016. Acesso em: 23 abr. 2020).
66
BRASIL. EBC Notícias. População brasileira passa de 208,4 milhões de pessoas, mostra IBGE. Houve
crescimento populacional de 0,82% de 2017 para 2018. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-08/populacao-brasileira-passa-de-2084-milhoes-de-pessoas-
mostra-ibge. Acesso em: 21 abr. 2020.
67
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de Gestão 2018. p. 3. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_gestao_2018.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020.
68
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de Gestão 2018. p. 3. Acesso em: 15 abr. 2020.
69
A Atenção Básica em saúde é o atendimento inicial da pessoa, cujo objetivo é “orientar sobre a prevenção de
doenças, solucionar os possíveis casos de agravos e direcionar os mais graves para níveis de atendimento
superiores em complexidade”, são exemplos: “Estratégia de Saúde da Família (ESF), que leva serviços
multidisciplinares às comunidades por meio das Unidades Básicas de Saúde (UBSs). (BRASIL. Fundação
Osvaldo Cruz. FIOCRUZ. Pense SUS. Atenção Básica. Disponível em: https://pensesus.fiocruz.br/atencao-
basica. Acesso em: 23 abr. 2020).
70
BRASIL. Portal da Transparência. Controladoria Geral da União. Saúde. Ano de 2018. Disponível em:
http://www.portaltransparencia.gov.br/funcoes/10-saude?ano=2018. Acesso em: 23 abr. 2020.
organização e o funcionamento dos serviços dirigidos à saúde, devem ter um olhar
humanizado e com possiblidades de se dar convergência à promoção, proteção e recuperação
da saúde mental em favor da pessoa, segundo de avaliará em seguida.
74
Em 1978 surgiu o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que foi um “movimento plural
formado por trabalhadores integrantes do movimento sanitário, associações de familiares, sindicalistas, membros
de associações de profissionais e pessoas com longo histórico de internações psiquiátricas”. Variadas foram as
lutas, “denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada
de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo
hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais.” (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria
de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde
mental no Brasil. Documento apresentado à Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental:
15 anos depois de Caracas. OPAS. Brasília, novembro de 2005. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Relatorio15_anos_Caracas.pdf. Acesso em: 23 abr. 2020).
75
Saúde mental. Cadernos de Atenção Básica. nº 34. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 2013,
p. 21. (E-book).
76
A partir do ano de 1989 “instalou-se nos meios profissionais e científicos um importante debate sobre a
mudança do modelo assistencial, e mesmo sobre as concepções de loucura, sofrimento mental e métodos
terapêuticos. [...]”. (BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de
Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Acesso em: 23 abr. 2020.
77
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental .
Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Acesso em: 23 abr. 2020.
78
“é uma ação do Governo Federal, coordenada pelo Ministério da Saúde, que compreende as estratégias e
diretrizes adotadas pelo país para organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e
cuidados específicos em saúde mental. Abrange a atenção às pessoas com necessidades relacionadas a
transtornos mentais como depressão, ansiedade, esquizofrenia, transtorno afetivo bipolar, transtorno
obsessivo-compulsivo etc, e pessoas com quadro de uso nocivo e dependência de substâncias psicoativas,
como álcool, cocaína, crack e outras drogas.” (BRASIL. Ministério da Saúde . Saúde mental: o que é,
doenças, tratamentos e direitos. Acesso em: 23 abr. 2020).
79
BRASIL. Planalto. Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm. Acesso em: 23 abr. 2020
pelo “desenvolvimento da política de saúde mental, a assistência e a promoção de ações de
saúde aos portadores de transtornos mentais”; e, confirma a responsabilidade e participação
“da sociedade e da família, a qual será prestada em estabelecimento de saúde mental, assim
entendidas as instituições ou unidades que ofereçam assistência em saúde aos portadores de
transtornos mentais”. Desde então, ficou definido que a internação hospitalar80 deveria ser o
último recurso no tratamento de transtornos mentais, garantindo tratamento às pessoas em
serviços de base comunitária.81
A promoção, proteção e recuperação da saúde mental passou a acontecer em
atendimentos em Atenção Básica, a qual “caracteriza-se como porta de entrada preferencial do
SUS, formando um conjunto de ações de Saúde, no âmbito individual e coletivo”, com “a
prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a
manutenção da saúde”, cujo o objetivo é “desenvolver uma atenção integral que impacte na
situação de saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das
coletividades”, com descentralização desses serviços e proximidade das pessoas.82
O Ministério da Economia e Previdência apontou que os transtornos mentais e
comportamentais afastaram as pessoas do trabalho, as quais apresentaram episódios
depressivos (43,3 mil casos), sendo que o Brasil se posicionou na 10ª posição com mais
afastamentos no ano de 2017; outras enfermidades, como transtornos ansiosos o colocou na
15ª posição de motivos de afastamento no mesmo ano (28,9 mil casos).83
Notadamente, o Brasil investiu no ano de 2018 o valor de R$ 33 milhões e, no ano de
2019 foi investido R$ 97 milhões 84 para atender a demanda de saúde mental no Sistema
Único de Saúde (SUS) e na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS); ainda, a prestação dos
serviços da saúde mental ocorreram através de convênio firmado com o Centro de
80
Não foram estudados os casos de pessoas submetidas à Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou Manicômios
Judiciários, porque a abordagem envolve transtorno e crime, não sendo o objetivo desta pesquisa.
81
SÃO PAULO. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. GONÇALVES, Renata Weber;
VIEIRA, Fabíola Sulpino Vieira; DELGADO, Pedro Gabriel Godinho Delgado. Política de Saúde Mental no
Brasil: evolução do gasto federal entre 2001 e 2009. Print version ISSN 0034-8910. On-line version ISSN
1518-8787. Disponível em: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102012000100007.
Acesso em: 23 abr. 2020.
82
Saúde mental. Cadernos de Atenção Básica, nº 34. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. 2013,
p. 19. (E-book).
83
BRASIL. Ministério da Economia. Previdência. Saúde do trabalhador: Dor nas costas foi doença que mais
afastou trabalhadores em 2017. Publicado em 08 de março de 2018. Disponível em:
http://www.previdencia.gov.br/2018/03/saude-do-trabalhador-dor-nas-costas-foi-doenca-que-mais-afastou-
trabalhadores-em-2017/ Acesso em: 13 abr. 2020.
84
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde Mental: investimento cresce 200% em 2019. Publicado em 09 de
janeiro de 2020. Disponível em: https://www.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/46193-saude-mental-
investimento-cresce-200-em-2019. Acesso em: 23 abr. 2020.
Valorização da Vida (CVV)85, Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)86, atendimentos de
Urgência e emergência pelo SAMU 192, sala de estabilização, UPA 24h, pronto socorro,
serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), Unidades de Acolhimento (UA), Ambulatórios
Multiprofissionais de Saúde Mental, Comunidades Terapêuticas, Enfermarias Especializadas
em Hospital Geral, dentre outros serviços à disposição da pessoa.87
Os transtornos mentais e comportamentais foram responsáveis pelo afastamento de
178.268 trabalhadores, no ano de 2018, os quais receberam benefícios de auxílio-doença; para
o Ministério do Trabalho, boa parte do adoecimento dos trabalhadores tem ligação com o
ambiente de trabalho e com as condições apresentadas pelo empregador ao trabalhador.88
Apesar da evolução e o reconhecimento da necessidade de atender as demandas
decorrentes de problemas de saúde mental, nos anos de 2013 a 2015 ocorreram 29,3 óbitos
por suicídio para cada 100 mil habitantes; já nos anos de 2016 a 2018, ocorreram 21,8 óbitos
por suicídio para cada 100 mil habitantes, revelando a redução de 25,6% em relação ao biênio
anterior.89
A pessoa com saúde mental debilitada necessita de tratamento médico, tal qual,
necessita a pessoa com problema de saúde física e, por isso, necessita da atenção de todas as
pessoas de seu convívio e, cada uma dessas pessoas deve estar inclinada ao seu acolhimento
para favorecer a conjugação da interrelação dialógica. Tal percepção, permite à pessoa
enferma sentir-se amparada para decidir sobre pontos que lhe interessam, na medida que seja
possível e, empoderar-se para ter a coragem de decidir por si, para aceitar ajuda e buscar o
caminho que possa ser possível alcançar a plena saúde mental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão do Direito Fundamental à saúde, física e mental, como elementos
integradores da garantia constitucional à dignidade da pessoa, revela preocupação em
85
O Centro de Valorização da Vida (CVV) “realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo
voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, [...].” (BRASIL. Ministério da
Saúde. Saúde mental: o que é, doenças, tratamentos e direitos. Acesso em: 23 abr. 2020).
86
O primeiro CAPS no Brasil foi criado na cidade de São Paulo, no ano de 1987. (BRASIL. Ministério da Saúde.
Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde Mental. Reforma psiquiátrica e política
de saúde mental no Brasil. 23 abr. 2020).
87
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde mental: o que é, doenças, tratamentos e direitos. Acesso em: 23
abr. 2020).
88
BRASIL. Associação Nacional de Medicina do Trabalho – ANMT. Transtorno mental afastou 178 mil
pessoas do trabalho em 2017. Disponível em: https://www.anamt.org.br/portal/2018/10/11/transtorno-mental-
afastou-178-mil-pessoas-do-trabalho-em-2017/. Acesso em: 15 abr. 2020.
89
BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório de Gestão 2018. p. 82. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relatorio_gestao_2018.pdf. Acesso em: 15 abr. 2020
dimensões nacionais e mundiais, porque, apesar de toda evolução e cuidados que emergem
das políticas públicas de saúde no Brasil, ainda carece da criação de mecanismos jurídicos e
políticos para que seja garantida a saúde integral da pessoa enferma, porque o seu
restabelecimento integral vai para além da saúde física e chega aos fatores mentais que fazem
a pessoa adoecer; tais circunstâncias motivam a exclusão e o preconceito, os quais dificultam
a convivência familiar, a atividade laboral e ao convívio social.
Os Direitos Fundamentais são fontes inesgotáveis de pesquisa, assim como os Direitos
Humanos e, para ambos, a pessoa é a inspiração. Para alguns doutrinadores, tais categorias
são sinônimos; já para outros, os primeiros nascem pela incursão no mandamento
constitucional de cada Estado, enquanto os segundos se tratam de mandamento universal,
dirigidos à sociedade e para cada pessoa individualmente.
A História indica fatos que, alguns doutrinadores pontuam que a existência de Direitos
destinados à pessoa foram identificados já no Código de Lipt-Ishart (1880 a.C) até as
doutrinas de Buda e de Cristo. Todavia, outros doutrinadores defendem que os Direitos
Humanos nasceram na Idade Média e, outros, ainda, defendem que os Direitos Fundamentais
nasceram após as Grandes Guerras Mundiais.
Notadamente, Direitos Humanos e Direitos Fundamentais se entrelaçam, pontuam a
pessoa com o centro de direitos e, mesmo diante de avanços e retrocessos, a
constitucionalização dos Direitos Humanos confirmou o compromisso dos Estados para a
busca de sua concretização, cuja determinação normativa ,os define como Direitos
Fundamentais, sendo tarefa da ciência do Direito reconhecer e abrigar as necessidades
fundamentais ou sociais da pessoa para cada época.
No Brasil, a Constituição Federal de 1988 demarcou a garantia dos Direitos
Fundamentais e, como tal, o direito à saúde, o qual circunda a dignidade da pessoa porque
busca a promoção da vida.
Verificou-se que os indicadores da saúde no Brasil, a partir do ano de 1980, com a
municipalização desse serviço e controle de algumas doenças como hipertensão, poliomielite,
sarampo, pré-natal e outras; encaminhou o Sistema Único de Saúde (SUS) como diretriz
constitucional.
Nessa época, segundo o IBGE, o país tinha 121 milhões de pessoas; no ano de 2010
contava com 190 milhões e, a contagem do ano de 2018 apurou 208 milhões, dos quais, 160
milhões de pessoas dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda,
percebeu-se o crescimento da população idosa, assim com o número e variações das doenças,
antigas e novas, que tendem a crescer, segundo os últimos anos pesquisados.
O ordenamento jurídico brasileiro confirmou o crescimento dos padrões orçamentários
para a saúde nos anos seguintes à Constituição Federal de 1988. Em 1990 foi criado o Plano
Nacional de Saúde, porém, a Emenda Constitucional 95/2016 limitou os gastos e
investimentos na saúde ao ano de 2017 e para os anos seguintes; sendo que no ano de 2018, os
indicadores apontaram que 70% da população brasileira depende exclusivamente do Sistema
Único de Saúde (SUS).
Ademais, ainda no ano de 2018 o Brasil aplicou R$ 108,18 bilhões de Reais, dos R$
121,86 bilhões de Reais orçados para a saúde, com 46,44% destinados à assistência hospitalar
e ambulatorial e, 18,77% à atenção básica, para atender a população que utiliza o Sistema
Único de Saúde (SUS), não cobrindo as necessidades de todas as pessoas residentes no país.
A garantia constitucional de promoção, proteção e recuperação da saúde, nascidos
pelos movimentos no ano de 1980, faz surgir o Plano Nacional de Saúde Mental, sob a égide
da Lei nº 10.216/2001, estendendo a garantia à saúde mental, mediante a assistência e a
promoção de ações de saúde às pessoas com transtornos mentais, com participação do Estado,
da sociedade e da família, deixando claro que a internação hospitalar deve ser o último
recurso no tratamento.
Os diversos obstáculos e a escassez de recursos financeiros não impediram a busca de
atender a demanda da saúde mental; porém, entre os anos de 2013 a 2015 e, de 2016 a 2018,
ocorreram 29,3 e 21,8 suicídios por 100 mil habitantes, respectivamente. Apesar da redução
de 25,6%, tais números revelam preocupação, mesmo o Brasil tendo revelado coerência
firmada pela legislação e programas de saúde mental.
Por isso, a busca das garantias de promoção, proteção e recuperação da saúde mental
deve continuar para toda pessoa que necessite, de acordo com a proposta da reforma
psiquiátrica, ocorrida no ano de 1989.
A efetividade dos Direitos Fundamentais da saúde, física e mental, não podem ficar
limitados à dimensão orçamentária do Estado; e, mesmo diante de outras diversidades
percebidas no Brasil, como geográfica, demográfica, socioeconômica ou epidemiológica, a
garantida da saúde integral e equânime, se confunde com a dignidade da pessoa, definida na
Constituição Federal de 1988 e se trata de um dever do Estado, da Sociedade e da família.
Oportunidades devem ser ofertadas para se discutir e refletir sobre saúde, física e
mental, para a integral recuperação da saúde da pessoa; e, todos que estejam à volta da pessoa
enferma, como os familiares e amigos, devem desenvolver a sensibilidade para não excluir ou
não ter preconceitos para auxiliar no encaminhamento para o tratamento, que na maioria das
vezes, tem como porta de entrada o Sistema Único de Saúde (SUS), segundo se verificou.
O Direito Fundamental da saúde da pessoa deve ser preservada a todo custo, mediante
a promoção, a proteção e a recuperação da saúde, física e mental, como elementos
integradores da garantia constitucional à dignidade da pessoa, mediante a busca de formas de
prevenção de doenças através redes de apoio, cuja finalidade são o amparo físico, emocional e
espiritual, o que proporcionará à pessoa curada uma vida melhor, com melhor relacionamento
consigo mesmo e nos ambientes familiar, laboral e social; e, deve ser este o motivo pelo qual
o tema deve ser continuamente estudado por diversos profissionais, inclusive, porque, a
presente pesquisa não teve a pretensão de esgotar o assunto.