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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA –

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SINDICATO DOS SERVIDORES DA GUARDA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO,


CNPJ 73.430.639/0001-80, com sede nesta cidade, na Rua Álvaro Alvim nº 31, Sala 701, Centro,
Rio de Janeiro/RJ, vem respeitosamente a presença de V.Exa., por seu procurador abaixo-assinado,
apresentar a presente

NOTÍCIA-CRIME

em face dos Deputados Estaduais FILIPPE MEDEIROS POUBEL, Rua da Ajuda, nº 05,
gabinete 1106, Centro, Rio de Janeiro, CEP:20040-000, (21) 2588-1000 filippepoubel@alerj.rj.gov.br;
RODRIGO AMORIM, Rua da Ajuda, nº 05, gabinete 0604, Centro, Rio de Janeiro, CEP:20040-000,
(21) 2588-1000, rodrigoamorim@alerj.rj.gov.br; ALAN LOPES, Rua da Ajuda, nº 05, gabinete 1104,
Centro, Rio de Janeiro, CEP:20040-000, (21) 2588-1000, alanlopes@alerj.rj.gov.br; e do vereador
ROGERIO MARTINS PIRES DE AMORIM, Praça Floriano s/nº, Prédio: Anexo - Sala: 801 - Centro
- Rio de Janeiro - RJ CEP: 20031-050, 3814-2140 / 2143 / 2540.

1. SÍNTESE DOS FATOS

Na noite da última terça-feira, 10 de outubro de 2023, na Avenida Brasil, os parlamentares


supracitados interromperam uma operação da Secretaria de Ordem Pública (SEOP), cujo objetivo era
coibir o trânsito de veículos particulares na via exclusiva do BRT (BRT Seguro).

Em vídeos que viralizaram nas redes sociais, é possível ver o Deputado Estadual Rodrigo
Amorim questionando e intimidando os agentes do programa. Em determinado momento, o parlamentar
chega a empurrar um Guarda Municipal fardado, enquanto este é cercado por três seguranças fortemente
armados.

Conforme noticiado pelos principais veículos de imprensa, os Guardas Municipais e Policiais


Militares presentes na operação foram ofendidos e atacados pelos Deputados Estaduais e o Vereador,
que afirmavam, em alto e bom som, que eles "eram uma vergonha", e que "eram milicianos e apoiavam
a quadrilha da máfia do reboque da Prefeitura do Rio". Tudo isto gravado e publicado em redes sociais
dos próprios parlamentares.

Além disso, os Guardas Municipais e Policiais Militares se sentiram intimidados, já que as


equipes dos parlamentares portavam fuzis e tinham uma postura hostil.
Insta frisar que, os Deputados Estaduais e o Vereador em questão tentaram impedir, de forma
abusiva e sem qualquer amparo legal, o trabalho de fiscalização da operação BRT Seguro, coagindo e
ameaçando servidores públicos no exercício de suas respectivas funções.

Não se trata de um episódio isolado, os parlamentares em questão não medem esforços para
autopromoção pessoal e política, sendo recorrente intimidações, ameaças e constrangimentos contra
agentes públicos em pleno exercício da função.

2. DO DIREITO

2.1. DESACATO

Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela é crime, conforme


previsto no art.331 do Código Penal.

Art. 331. Desacatar funcionário público no exercício da função ou


em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

Desacatar significa "menosprezar a função pública exercida por determinada pessoa. Em


outras palavras, ofende-se o funcionário público com a finalidade de humilhar a dignidade e o prestígio
da atividade administrativa." (MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado. 4ª ed., São Paulo:
Método, 2014, p. 748).

O bem jurídico protegido é o respeito da função pública. Tanto isso é verdade que a vítima
primária deste delito é o Estado. O servidor ofendido é apenas o sujeito passivo secundário.

Os supracitados parlamentares, portanto, atacaram o Estado Democrático de Direito e seus


servidores públicos em pleno exercício da função, conforme constatado em mídias sociais (dos
próprios, inclusive) e veículos de imprensa, com fins eminentemente políticos, usando aparatos
institucionais, seguranças particulares (provavelmente remunerados com recursos públicos) e armas
de uso restrito, o que torna a conduta gravíssima.

2.2. ABUSO DE AUTORIDADE

O Estado e seus agentes gozam de algumas prerrogativas que não são extensíveis aos
particulares, como, por exemplo, a presunção de legitimidade de seus atos, isto é, a princípio, seus
atos são considerados praticados conforme a lei. Entretanto, não raro, agentes estatais extrapolam os
limites da lei em suas condutas, configurando-se um verdadeiro abuso do poder legitimamente a eles
conferido, como no caso em questão.

Conforme se depreende da leitura do art. 1º, § 1º da Lei nº 13.869/19, para a caracterização


do crime de abuso de autoridade e a consequente aplicação da Lei em análise, são necessários os
seguintes elementos finalísticos: prejudicar outrem; beneficiar a si mesmo ou terceiro; agir por
mero capricho ou satisfação pessoal.

Vale ressaltar que as hipóteses de aplicabilidade acima são alternativas, e não cumulativas.

Além disso, as condutas devem ser praticadas por agente público, servidor ou não, que, no
exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído.

Os parlamentares abusaram de suas prerrogativas e deturparam suas funções com fins


eminentemente políticos, de promoção pessoal, não medindo esforços, mesmo que para isso tivessem
que extrapolar os limites legais.

Tais condutas não podem ficar impunes. Nos termos do artigo 4º Lei nº 13.869/19Lei, insta
consignar que, são efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime,


devendo o juiz, a requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor
mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando
os prejuízos por ele sofridos;
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública,
pelo período de 1 (um) a 5 (cinco) anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

As condutas dos noticiados configuram, tem tese, o delito de abuso de autoridade, diante do
que menciona o artigo 33 da Lei 13.869/19, transcrito abaixo:

Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o


dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou
função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de
obrigação legal ou para obter vantagem ou privilégio indevido.

3. DOS PEDIDOS

Diante da notoriedade e gravidade dos fatos narrados na presente “notícia-crime”,


requeremos ao Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça – Luciano Oliveira Mattos de
Souza – a instauração de procedimento investigatório criminal contra os parlamentares mencionados,
haja vista a gravidade da situação.

Servidores Públicos no exercício de suas funções, notadamente os Guardas Municipais do Rio


de Janeiro, não podem continuar sendo intimidados, ameaçados e agredidos por autoridades, sempre
acompanhadas de seguranças fortemente armados, portanto fuzis, e que deveriam primar pelo respeito
à Lei e às Instituições.
Sendo assim, havendo fortes indícios de autoria e materialidade dos delitos perpetrados no
caso em tela, requerem a deflagração da persecução penal em face dos Parlamentares acima
qualificados.

Termos em que,
Requer deferimento.

Rio de Janeiro, 14 de outubro de 2023.

Assinado de forma digital por LEONARDO BARBOSA CAMANHO DA SILVEIRA


Dados: 2023.10.14 21:11:21 -03'00'

LEONARDO BARBOSA CAMANHO DA SILVEIRA


OAB/RJ 200.403

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