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PROFA.

LUCIANA SILVA REIS – TEORIA DO DIREITO – 02/06/2023


GRUPO: ANA LUIZA LEMES NUNES (12221DIR049)
JÚLIA FERREIRA VASCONCELOS (12221DIR047)
MARIA CLARA SEVERINO DOS SANTOS (12221DIR044)
MURIEL SOUTO (12221DIR042)
ROSANIA ALVES MAGALHÃES (12221DIR013)
VICTÓRIA MARIA CAVALINI DINIZ NEVES (12221DIR028)

ESQUEMA DE TEXTO- SEMINÁRIO 7

DWORKIN, Ronald. De que maneira o direito se assemelha à literatura. In: Uma questão de princípio. Tradução
Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 2000, pp. 217-249.

Capítulo VI- De que maneira o Direito se assemelha à literatura

0. INTRODUÇÃO
0.1. A prática jurídica, em geral, é um exercício de interpretação.
0.2. Sendo assim, o Direito é político, não uma prática política pessoal ou particular.
0.3. Dworkin propõe uma comparação entre interpretação jurídica e a interpretação em outros campos do
conhecimento, em especial, a Literatura.
1. O DIREITO
1.1. O problema central da doutrina analítica refere-se ao sentido que se deve dar às proposições de Direito.
1.1.1. Existem vários enunciados que os juristas fazem ao descrever o que é Direito com relação a uma
determinada certa questão.
1.1.1.1. As proposições jurídicas podem ser classificadas de três maneiras.
1.1.1.1.1. Muito abstratas e gerais
1.1.1.1.2. Quando pensamos na proposição que nos Estados Unidos não pode fazer
discriminações raciais na prestação de serviços básicos aos seus cidadãos.
1.1.1.1.3. Relativamente concretas
1.1.1.1.4. Quando alguém que aceita um cheque no curso normal de uma transação, sem notar
algum defeito no título, ter o direito de saque perante o eminente.
1.1.1.1.5. Muito concretas
1.1.1.1.6. Quando a Sra. X é responsável por danos perante o Sr. Y, na quantia de $1.150,
porque ele escorregou na calçada escorregadia da Sra. X e quebrou a bacia.
1.1.1.2. Daí surge uma dificuldade em cada caso apresentado
1.1.1.2.1. De que tratam as proposições jurídicas?
1.1.1.2.2. O que pode torná-las verdadeiras ou falsas?
1.1.2. Isso porque as proposições de Direito parecem ser descritivas, pois dizem respeito a como as coisas
são no Direito e não como deveriam ser.
1.1.2.1. Mas, o que exatamente descrevem, argumenta o autor.
1.1.2.2. Neste sentido, os positivistas jurídicos acreditam que as proposições de Direito são inteiramente
descritivas, isto é, configuram-se como trechos da história.
1.1.3. Assim, compreende-se uma proposição jurídica como a realização de um evento de natureza
legislativa, caso contrário não é considerado uma proposição.
1.1.3.1. A teoria positivista parece funcionar bem em casos simples. Porém, em casos mais difíceis esse
tipo de análise falha.
1.1.3.2. A proposição de que um esquema de ação afirmativa (ainda não examinado pelos tribunais) é
constitucionalmente válido e, partindo da premissa que isso é verdade, não se pode dizer que
essa proposição existe por causa do texto da Constituição ou de decisões anteriores dos
tribunais.
1.1.4. Outras formas poderiam ser por meio de suposições de Direito controvertido.
1.1.4.1. No lugar de descritivas, significa dizer o que o falante quer que seja Direito.
1.1.4.2. No lugar da decisão histórica, tentar descrever o Direito puro ou natural, existindo em virtude
da verdade moral objetiva.
1.1.4.2.1. Ambos descrevem os enunciados puramente valorativos e não descritivos, pois
expressam as preferências políticas ou crenças morais sobre política do falante.
1.2. A dificuldade surge quando as proposições do Direito parecem ser descritivas, referindo-se a como as coisas
são no Direito e não como deveriam ser. Dessa forma, fica difícil dizer exatamente o que descreve.
1.2.1. Os positivistas jurídicos acreditam que as proposições de Direito, são na verdade, inteiramente
descritivas: são trechos da história. Se assim fosse, somente seria verdadeira caso tenha ocorrido algum
evento de natureza legislativa simplesmente do tipo citado.
1.2.2. Portanto, as proposições do Direito não são meras descrições da história jurídica ou valorativas.
1.2.2.1. Na verdade, combinam elementos da descrição e valoração, diferenciando de ambas.
1.2.2.1.1. Para muitos juristas e filósofos juristas o Direito é uma questão de interpretação.
1.2.2.1.2. Assim, quando se deparam com a lei ou com a Constituição com algum termo ou
expressão obscura, dizem que a lei deve ser interpretada, aplicando-se “técnicas de
interpretação da lei”.
1.2.2.1.3. A maioria presume que a interpretação de um documento consiste em descobrir a
intenção do autor ao fazer determinada afirmação.
1.2.2.1.4. Entretanto, chegam a conclusão que é um exercício demasiado difícil senão
impossível.
1.2.2.1.5. Outros juristas mais céticos acreditam que muitos que dizem interpretar determinada
proposição jurídica estão apenas fazendo-o de forma tendenciosa, impondo sua
própria visão.
1.3. A interpretação como técnica de análise jurídica é menos comum em regimes de Common Law, por exemplo,
o condutor de um carro que atropela uma criança na rua deve se responsabilizar pelos danos emocionais
causados aos parentes da vítima. Segundo o autor, alguns advogados diriam que a análise desse caso depende
de interpretação de casos anteriores.
1.3.1. Porém, os céticos destacam a impossibilidade de que o primeiro juiz tivesse em mente alguma teoria
suficientemente desenvolvida para decidir, que são casos muitos específicos.
1.4. A ideia de interpretação não pode servir como descrição geral da natureza ou veracidade das proposições de
Direito, a menos que seja separada dessas associações com o significado ou intenção do falante.
1.4.1. Sob pena de tornar-se simplesmente uma versão da tese positivista, baseadas em decisões do passado.
1.4.2. Nesse sentido, deve-se desenvolver uma descrição mais abrangente do que seja interpretação.
1.4.3. A interpretação deve ser utilizada como uma atividade geral, como um modo de conhecimento,
atentando-se a outros contextos.
1.4.3.1. Os juristas deveriam considerar a interpretação literária, bem como, outras interpretações
artísticas.
1.4.3.1.1. Na literatura existem mais teorias da interpretação do que no Direito. Inclusive,
aquelas que combatem a distinção categórica entre descrição e valoração,
responsável pelo enfraquecimento da teoria jurídica.
2. A LITERATURA
2.1. A hipótese estética
2.1.1. Para que o jurista se beneficie da comparação entre interpretação jurídica e literatura, a segunda deve
ser vista de certo modo.
2.1.2. Os estudantes de literatura fazem muitas coisas sob os títulos de “interpretação” e “hermenêutica”, e a
maioria delas é também chamada de “descobrir o significado de um texto”.
2.1.2.1. O autor se interessa por teses que oferecem interpretações do significado da obra como um
todo.
2.1.2.2. Essas interpretações assumem em certas vezes a forma de afirmações sobre os personagens, por
exemplo: o amor ou ódio de Hamlet pela sua mãe.
2.1.2.3. Outras sobre eventos da história por trás da história: Hamlet e Ofélia eram amantes antes do
início da peça.
2.1.2.4. Frequentemente oferece hipóteses sobre o “objeto”, o “tema”, o “sentido” ou tom da peça
como um todo, por exemplo que Hamlet é uma peça sobre a morte ou sobre gerações, ou sobre
política.
2.1.3. Essas afirmações possuem propósito prático.
2.1.3.1. Como orientar um diretor da peça, por exemplo.
2.1.3.2. São também de importância mais geral, e ajudam a compreender melhor o ambiente cultural.
2.1.4. Dificuldades quanto a intenção pretendida pelo falante com o uso de determinada palavra do texto
pode influenciar questões de interpretação.
2.1.4.1. Estas questões dizem respeito ao objetivo ou significado da obra como um todo, não a um
sentido particular.
2.1.5. Os críticos divergem acerca de como responder a tais questões.
2.1.6. A sugestão do autor, chamada de hipótese estética, é que a interpretação de uma obra literária tenta
mostrar que maneira o texto revela-o como a melhor obra.
2.1.6.1. Dworkin acredita que muitos estudiosos recusarão sua sugestão, pois podem confundir
interpretação com crítica, ou porque é relativista, pois, um exemplo de ceticismo que nega a
possibilidade de interpretação.
2.1.7. A hipótese estética pode parecer outra formulação da teoria de que, como a interpretação cria uma
obra de arte e representa apenas uma certa porção de críticos, existem apenas interpretações e
nenhuma interpretação melhor de qualquer peça, romance ou poema.
2.1.7.1. A interpretação tenta mostrar o texto como a melhor obra de arte que ele pode ser.
2.1.7.2. O pronome reforça a diferença entre explicar uma obra e transformá-la em outra.
2.1.8. Uma teoria da interpretação deve ter uma subteoria sobre a identidade de uma obra de arte, capaz de
distinguir, interpretar e modificar uma obra.
2.1.9. Todas as teorias contemporâneas parecem usar a resposta de um texto canônico.
2.1.9.1. O texto restringe severamente em função da identidade, em que todas as palavras devem ser
consideras e não podem ser mudadas objetivando uma obra de arte melhor.
2.1.9.1.1. Por exemplo, uma piada pode ser a mesma por mais que contada de diferentes
formas, nenhuma das quais canônica.
2.1.9.1.2. Interpretar uma piada terá um jeito particular de apresentá-la, que pode ser original,
para assim revelar seu sentido “real”.
2.1.9.2. A interpretação de um crítico literário estará de acordo com suas convicções a respeito da
natureza de um texto canônico e das evidências que o corroboram.
2.1.9.3. A interpretação também estará de acordo com as opiniões do leitor a respeito da coerência da
arte.
2.1.10. A interpretação não pode tornar a obra de arte superior se trata o texto como irrelevante.
2.1.10.1. Não decorre, pois, da hipótese estética que, como um romance filosófico é mais valioso do que
um livro de mistério, um romance de Agatha Christie seja na verdade sobre o significado da
morte.
2.1.10.2. Essa interpretação seria falha porque faz do romance um desastre.
2.1.10.2.1. Certas frases seriam irrelevantes para o tema suposto, e a organização, o estilo e as
figuras seriam adequados não a um romance filosófico, mas a outro gênero.
2.1.10.3. Livros oferecidos originalmente ao público, como mistérios e suspenses foram reinterpretados
de forma mais ambiciosa.
2.1.10.3.1. O fato de que a reinterpretação demonstra sucesso no caso de Chandler, mas não no
caso de Christie, demonstra restrição da integridade.
2.1.11. Há espaço para a discordância entre os críticos sobre o que considerar integração, de que tipo de
unidade é desejável, irrelevante ou indesejável.
2.1.11.1. É uma vantagem que a língua do leitor, ao ler um poema em voz alta, “imite” os movimentos ou
instruções que figuram nos tropos ou na narrativa do poema? Uma obra literária deveria ser
capaz de ter o mesmo significado ou importância quando lida uma segunda vez?
2.1.11.1.1. Escolas de interpretação responderão a essas questões da teoria estética, que é o
que sugere a hipótese estética.
2.1.11.1.1.1. Diferenças entre as escolas de interpretação são menos sutis, e não tocam
em aspectos formais de arte, mas na função e propósito da arte amplamente
concebidos.
2.1.12. Em seguida, questiona se a literatura possui um propósito cognitivo.
2.1.12.1. A arte é melhor quando é instrutiva?
2.1.12.1.1. Se sim, então uma interpretação psicanalítica de uma obra literária mostrará porque
ela é uma arte bem-sucedida.
2.1.12.2. A arte seria boa na medida em que é comunicação bem-sucedida no sentido comum?
2.1.12.2.1. Se assim for, então uma boa interpretação se concentrará no que o autor pretende.
2.1.12.3. A arte seria boa quando se expressa na medida que tem a capacidade de estimular a vida
daqueles que a usufruem?
2.1.12.3.1. Se sim, a interpretação colocará o leitor em primeiro plano. Indicará a leitura da obra
que a torna mais valiosa.
2.1.13. Teorias de arte não se isolam da filosofia, psicologia, sociologia e da cosmologia.
2.1.13.1. Pessoas com um ponto de vista religioso terão, provavelmente, uma teoria de arte diferente da
de alguém que não tem.
2.1.14. A hipótese estética não presume que todos que interpretam a literatura tenham uma teoria estética
desenvolvida e consciente.
2.1.14.1. Tampouco todos que interpretam devem subscrever com uma escola de interpretação.
2.1.14.2. Na opinião de Dworkin, os melhores críticos negam que a literatura tenha uma única função ou
propósito.
2.1.14.3. Qualquer um que interpreta uma obra de arte se apoia em convicções de caráter teórico sobre a
identidade e outras propriedades da arte, assim como de opiniões sobre o que é bom na arte.
2.1.14.4. Ambas as convicções figuram no julgamento de que maneira de ler um texto o torna melhor do
que outra.
2.1.14.5. Essas convicções podem ser inarticuladas.
2.1.14.5.1. Essas afirmações fracas não tomam partido no debate quanto à existência ou não de
“princípios de valor”, necessários na arte, ou se uma teoria da arte justificaria uma
interpretação, na ausência da experiência direta da obra que está sob interpretação.
2.1.15. Nada disso toca a objeção que Dworkin previu contra a hipótese estética, que ela é trivial.
2.1.15.1. Estilos interpretativos diferentes se fundam em teorias diferentes sobre o que é arte, para que ela
serve e o que a torna uma boa arte.
2.1.15.2. Diferentes teorias de arte são geradas por diferentes teorias de interpretação.
2.1.15.2.1. Para alguém que pensa que a estilística é importante para a interpretação melhor
seria uma obra que integre pronúncia e tropo.
2.1.15.2.1.1. A elaboração da hipótese não auxiliará a escolher entre as teorias de
interpretação ou refutar a acusação de niilismo ou relativismo.
2.1.15.2.1.2. Como a opinião das pessoas sobre o que constitui uma boa arte é subjetiva, a
hipótese estética não tem esperança de resgatar a objetividade na
interpretação.
2.1.16. A hipótese estética se torna banal em aspectos importantes, mas ela não é tão fraca assim.
2.1.16.1. A consequência dessa hipótese é que as teorias acadêmicas de interpretação deixam de ser
vistas como análises da própria ideia de interpretação.
2.1.16.2. A interpretação se torna um conceito de quais teorias diferentes são concepções rivais.
2.1.16.3. A hipótese nega distinções que alguns estudiosos desenvolveram, como a de que não há mais
uma distinção categórica entre a interpretação e a crítica.
2.1.17. A questão de se é certo considerar os julgamentos que fazemos sobre arte como verdadeiros ou falsos,
válidos ou inválidos permanecerão sem respostas.
2.1.17.1. Nenhuma afirmação estética pode ser “demonstrada” como verdadeira ou falsa.
2.1.17.1.1. Não se oferece argumento que seja a favor de alguma interpretação que agrade a
todos também.
2.1.17.2. Dizer que os juízos estéticos são subjetivos significa dizer que não são demonstráveis.
2.1.17.2.1. Não decorre disso que nenhuma teoria normativa da arte é melhor que outra, nem
que uma teoria não pode ser a melhor produzida até o momento.
2.1.18. E.D. Hirsch, por exemplo, diz que apenas uma teoria como a dele poderá tornar objetiva a
interpretação e validar as interpretações particulares, a hipótese estética inverterá essa estratégia.
2.1.18.1. Para Dworkin, isso é um equívoco quanto a dois aspectos.
2.1.18.1.1. A interpretação é um empreendimento e seria errado supor que as proposições
centrais a qualquer empreendimento público serão passíveis de validação.
2.1.18.1.2. Também é errado estabelecer pressupostos a respeito de como deve ser a validade
em tais empreendimentos.
2.1.18.1.3. Proceder de um modo mais empírico seria melhor nesse caso.
2.1.19. A questão da reversibilidade não constitui um argumento contra a hipótese estética.
2.1.19.1. Dworkin não defende nenhuma explicação particular de como as pessoas vêm a ter teorias de
interpretação ou de arte.
2.1.19.1.1. Pretende afirmar as ligações, em termos de argumentos, que existem entre essas
teorias.
2.1.19.1.2. Considerar que essa dependência mútua oferece, por si só, algum motivo para o
ceticismo ou relativismo quanto à interpretação.
2.1.19.1.3. Não há na ideia de que, o que consideramos ser uma obra de arte, tem que se
harmonizar com o que pode se considerar ser o ato de interpretar uma obra de arte,
como um bordão de que “a interpretação cria o texto”.
2.1.19.2. Nenhuma consequência cética mais imediata do que na ideia análoga de que aquilo que
consideramos ser um objeto físico precisa se adequar a nossas teorias do conhecimento.
2.1.19.2.1. Contanto que acrescentemos, em ambos os casos, que a ligação também é válida
inversamente.

2.2. A intenção do autor


2.2.1. O principal teste da hipótese estética encontra-se no seu poder explicativo e, particularmente, no seu
poder crítico.
2.2.1.1. Se aceitamos que as teorias de interpretação não são análises independentes do que significa
interpretar alguma coisa, devemos, então, aceitar que são vulneráveis a críticas.
2.2.1.1.1. As teorias mais doutrinárias da intenção dos autores são vulneráveis, nesse sentido.
2.2.1.1.2. Essas teorias devem supor que o que é valioso numa obra de arte limita-se ao que o
autor pretendeu colocar nela.
2.2.1.1.2.1. Essa afirmação pressupõe uma tese mais geral de que a arte deve ser
compreendida como uma forma de comunicação falante-público.
2.2.1.1.2.2. Após um exame adicional, porém, revela-se que mesmo essa tese duvidosa
não a sustenta.
2.2.2. Os intencionalistas fariam objeção a essas observações.
2.2.2.1. Eles insistiriam que sua teoria da interpretação não é uma descrição do que é valioso em um
livro, poema ou peça, mas apenas uma descrição do que qualquer livro, poema ou peça
específicos significam.
2.2.2.1.1. Devemos compreender o significado de algo antes de podermos decidir se é valioso,
e em que reside seu valor.
2.2.2.1.2. Eles objetariam negando que consideram apenas as “intenções do autor” em algum
sentido estrito e “restrito” ao determinar o significado de sua obra.
2.2.2.1.3. Na primeira dessas objeções, a teoria da intenção do autor apresenta-se não como o
resultado da hipótese estética, mas antes como rival dela.
2.2.2.1.3.1. Elas certamente não propõem respostas sobre questões da linguagem
comum ou sobre o significado das palavras “interpretação” ou “significado”.
2.2.3. Um intencionalista não pode supor que todos os seus críticos e todos aqueles que ele critica
pretendem designar, quando dizem “interpretação”, a descoberta da intenção do autor.
2.2.3.1. Tampouco pode pensar que suas afirmações descrevem com exatidão o que cada membro da
comunidade crítica realmente faz sob o título de “interpretação".
2.2.3.1.1. Se fosse assim, suas críticas e polêmicas seriam desnecessárias.
2.2.3.1.2. Mas se sua teoria não é semântica nem empírica da maneira descrita, que tipo de
teoria é?
2.2.3.1.3. Suponha que um intencionalista responda que ela aponta para uma questão
importante sobre obras literárias, isto é, o que o autor da obra pretendia que ela
fosse.
2.2.3.1.3.1. Podemos descobrir o que um autor pretendia, e é importante fazê-lo para
outros propósitos literários.
2.2.3.1.3.2. O valor ou significado na arte vincula-se primariamente ao que o autor
pretendia, só porque ela é aquilo que o autor pretendia.
2.2.3.1.3.3. A afirmação de que essa forma de interpretação é importante depende de
uma teoria normativa da arte muito controvertida, não de uma observação
neutra preliminar a toda avaliação coerente.
2.2.4. Nenhuma teoria plausível de interpretação sustenta que a intenção do autor é sempre irrelevante. Às
vezes, é claramente o âmago da questão.
2.2.4.1. Como é o caso de quando alguma questão gira em torno do que Shakespeare quis dizer com
“falcão” como algo distinto de “serrote”.
2.2.4.1.1. Não obstante, há controvérsias quanto a se precisamos ou não saber se Shakespeare
achava que Hamlet era são um louco fingindo ser louco para decidir se a peça que
ele escreveu é boa.
2.2.4.1.1.1. O intencionalista pensa que sim, e é exatamente por isso que sua teoria de
interpretação não é antagônica à hipótese estética, mas antes uma
pretendente à coroa que a hipótese oferece.
2.2.5. A segunda objeção à crítica contra as teorias da intenção do autor diz que os intencionalistas tornam
central a interpretação do estado de espírito do autor.
2.2.5.1. Contudo, compreendem erroneamente certas complexidades desse estado de espírito, em
particular ignoram como interagem as intenções para uma obra e as opiniões sobre ela.
2.2.5.2. No exemplo dado sobre a narrativa de Fowles, o romancista afirma ter mudado de ideia sobre
como a história prossegue em “A mulher do tenente francês”, quando estava na metade do
livro.
2.2.5.2.1. O intencionalista quer que escolhamos entre duas possibilidades.
2.2.5.2.1.1. Ou o autor repentinamente percebe que antes tinha uma “intenção
subconsciente”, ou mudou de intenção depois.
2.2.5.2.1.2. Nenhuma dessas explicações é satisfatória.
2.2.5.2.1.3. O subconsciente corre o perigo de tornar-se o flogisto aqui, a menos que
haja alguma prova independente, além da nova visão que o autor tem de sua
obra, para sugerir que ele tinha uma intenção subconsciente anterior.
2.2.6. Dworkin não quer dizer que as características de uma obra de arte da qual o autor não tenha
consciência devam ser acidentes aleatórios.
2.2.6.1. Se um romance é mais interessante e mais coerente quando supomos que os personagens têm
motivos diferentes daqueles que o romancista pensou ao escrevê-lo, a causa disso deve
encontrar-se no talento do artista.
2.2.6.2. Se Fowles teve ou não uma intenção subconsciente de fazer Charles ou Sarah personagens
diferentes do que ele imaginava, suas decisões e convicções posteriores não consistem nem se
baseiam em nenhuma descoberta dessa intenção anterior.
2.2.6.3. Elas são produzidas ao se confrontar não o seu eu anterior, mas a obra que ele criou.
2.2.6.4. Tampouco constitui uma intenção nova e distinta a nova opinião que Fowles forma a respeito
de seus personagens propriamente ditos.
2.2.6.4.1. Não é uma intenção sobre que tipo de personagens criar, porque é uma opinião
sobre o tipo de personagens que ele criou.
2.2.6.4.2. Também não é uma intenção que diz respeito a como os outros devem compreender
o livro.
2.2.6.5. Fowles mudou de opinião à medida que escrevia o livro, mas mudou-a analisando o texto que já
tinha escrito, tratando seus personagens como reais no sentido de poderem ser desligados de
seus planos iniciais.
2.2.6.5.1. Logo, interpretando-o, não explorando as profundezas subconscientes de algum
plano anterior ou descobrindo que tinha um novo plano.
2.2.7. Um autor é capaz de separar o que escreveu de suas intenções e crenças anteriores, de tratá-lo como
um objeto em si.
2.2.7.1. É também capaz de chegar a novas conclusões sobre sua obra, fundamentadas em juízos
estéticos.
2.2.7.1.1. Nesse sentido, seu livro é mais coerente e é uma análise melhor de temas mais
importantes, interpretados de maneira um tanto diferente do que pensou quando
estava escrevendo.
2.2.8. Considerar algo que se produziu como um romance, um poema ou uma pintura, ao invés de um
conjunto de proposições ou sinais, depende de considerá-lo como algo que pode ser separado e
interpretado no sentido que foi descrito.
2.2.8.1. As intenções dos autores são estruturadas de modo que as mais concretas delas dependem de
opiniões interpretativas, cujo acerto varia com o que é produzido e que podem ser alteradas de
tempos em tempos.
2.2.8.2. Podemos isolar o conjunto completo de opiniões interpretativas que um autor tem em um
momento específico e declarar que essas opiniões, em sua concretude plena, determinam o que é
o romance ou o que significa.
2.2.8.2.1. Contudo, mesmo que chamemos erroneamente de “intenções” esse conjunto
particular de opiniões, estamos, ao escolhê-las, ignorando outro tipo ou nível de
intenção.
2.2.8.2.1.1. Por isso que a escola da intenção do autor baseia o valor de uma obra de arte
numa visão estrita e restrita das intenções do autor.
3. O DIREITO E LITERATURA
3.1. A corrente do direito
3.1.1. Dworkin inicia dizendo que as observações preliminares sobre a interpretação literária podem ter
sugerido uma distinção entre o artista que cria a obra e o crítico que a interpreta.
3.1.1.1. O artista não pode criar nada sem interpretar.
3.1.1.1.1. Como pretende criar arte, deve possuir uma teoria sobre porque aquilo que produz é
arte e porque fica melhor de determinada forma.
3.1.1.2. O crítico cria quando interpreta.
3.1.1.2.1. Embora limitado pelo fato da obra, ele está comprometido em decidir qual maneira
de compreender aquela obra a mostra como arte melhor.
3.1.1.3. Contudo, há uma diferença entre interpretar quando se cria e criar quando se interpreta,
portanto, uma diferença reconhecível entre artista e crítico.
3.1.2. O autor busca usar a interpretação literária como modelo para o método da análise jurídica.
3.1.2.1. Supondo que um grupo de romancistas contratados para determinado projeto joga dados para
resolver a ordem do jogo.
3.1.2.1.1. O de número mais baixo escreve o primeiro capítulo e manda para o próximo e
assim por diante, o qual acrescenta o capítulo a esse romance, não começando o
outro, e depois, manda os dois capítulos para o número seguinte, e assim por diante.
3.1.2.1.2. Cada romancista, depois do primeiro, tem a responsabilidade de interpretar o que
vem antes e criar.
3.1.2.1.3. Ele deve decidir como os personagens são “realmente”, que motivos os orientam,
qual é o tema ou o propósito do romance em desenvolvimento.
3.1.2.1.4. Isso deve ser interpretação em um estilo não subordinado à intenção, porque, a não
ser para o romancista posterior ao segundo, não há um único autor cujas intenções
possam ser consideradas decisivas.
3.1.2.2. Alguns romances foram escritos dessa maneira.
3.1.2.2.1. Nesse exercício, espera-se que os romancistas assumam responsabilidade de criar um
romance único.
3.1.2.3. O autor reconhece que, talvez, o projeto esteja fadado a produzir não apenas um romance ruim,
mas absolutamente nenhum romance.
3.1.2.3.1. Diante dessa perspectiva, a melhor teoria da arte exige um criador único ou que
todos os criadores tenham controle sobre o todo da obra.
3.1.2.4. Entretanto, não insiste na questão pois está interessado apenas no fato de que a incumbência faz
sentido.
3.1.2.4.1. Cada um dos romancistas pode ter uma ideia do que está sendo pedido.
3.1.2.4.1.1. Independente dos temores de cada um sobre o valor ou o caráter do que está
sendo produzido.
3.1.3. Portanto, decidir casos do Direito é parecido com esse exercício literário.
3.1.3.1. Se torna mais evidente quando se examinam casos de Common Law.
3.1.3.1.1. Nesse âmbito, não há lei que ocupe a posição central e os argumentos se baseiam
nas decisões anteriores de outros juízes.
3.1.3.2. Cada juiz é como um romancista na corrente.
3.1.3.2.1. É preciso ler tudo o que os outros juízes produziram até então para descobrir o que
esses juízes fizeram coletivamente.
3.1.3.2.1.1. Da mesma forma que os romancistas formaram uma opinião sobre o
romance já escrito.
3.1.3.3. Ao decidir um novo caso, o juiz deve se considerar um parceiro de um complexo
empreendimento em cadeia, onde cada decisão, estrutura, convenção e prática fazem parte da
história.
3.1.3.3.1. É seu trabalho continuar a história por meio do que faz agora.
3.1.3.3.2. Ele deve interpretar o que aconteceu antes porque tem a responsabilidade de levar
adiante e não seguir em uma nova direção.
3.1.3.3.3. Deve, portanto, determinar o motivo das decisões anteriores.
3.1.3.4. Dworkin usa o exemplo anteriormente apresentado, que é o caso hipotético sobre o choque
emocional da tia.
3.1.4. Nesse ínterim, o juiz deve decidir o tema não apenas do precedente específico da mãe, mas dos casos
de acidente como um todo.
3.1.4.1. Ele pode ser obrigado a escolher entre essas duas teorias sobre o “significado” da corrente de
decisões.
3.1.4.1.1. Segundo a primeira, os motoristas negligentes são responsáveis por aqueles a quem
podem causar dano físico e responsáveis por qualquer dano, emocional ou físico,
que causem a esses.
3.1.4.1.2. Na segunda teoria, porém, os motoristas são responsáveis por qualquer dano que
seja plausível esperar que eles prevejam de acordo com sua conduta.
3.1.4.1.2.1. Ao se considerar o segundo princípio correto, a tia teria direito a reparação.
3.1.4.1.2.2. O juiz do caso deve decidir qual a melhor corrente de decisões a dar
continuidade.
3.1.5. Em seguida, o autor questiona se podemos dizer sobre o que estão discordando aqueles que
discordam quanto à melhor interpretação do precedente jurídico.
3.1.5.1. Uma interpretação literária tem objetivo de mostrar como a obra pode ser vista em sua forma
mais valiosa.
3.1.5.1.1. Para isso, deve se atentar à identidade, à coerência, à integridade e a outras
considerações mais substantivas de valor artístico.
3.1.5.2. Uma interpretação da prática jurídica também deve passar por um teste de duas dimensões,
ajustar-se a essa prática e demonstrar sua finalidade ou valor.
3.1.5.2.1.1. Não um valor artístico, diferentemente da literatura, já que o Direito não é
um empreendimento artístico.
3.1.6. O Direito é um empreendimento político, cuja finalidade é coordenar o esforço ou resolver
conflitos sociais ou individuais, ou assegurar a justiça, ou mesmo uma combinação dessas alternativas.
3.1.6.1. Essa caracterização é, por si própria, uma interpretação, utilizada no momento por ser
relativamente neutra.
3.1.6.2. Qualquer ramo do Direito deve, em termos políticos, demonstrar o valor de uma interpretação.
3.1.7. Essa interpretação não é uma licença para que cada juiz descubra na história doutrinal o que quer que
pense que deveria estar lá.
3.1.7.1. A mesma distinção é válida entre a interpretação e o ideal.
3.1.7.2. O dever do juiz é interpretar o que encontra, não inventar uma história melhor.
3.1.7.2.1. Não existe nenhum algoritmo para decidir se determinada interpretação se ajusta
satisfatoriamente.
3.1.8. Quando há um documento jurídico, a intenção do falante desempenhará um papel.
3.1.8.1. Entretanto, a escolha de qual dos sentidos é o adequado não pode ser remetida à intenção de
ninguém.
3.1.9. Em casos de Common Law a questão do ajuste é mais complexa.
3.1.9.1. Qualquer hipótese sobre a finalidade de uma sequência de decisões, a exemplo do autor que
diz que “Alguém que não se encontra na área de risco não pode obter compensação por dano
emocional”, tende a encontrar pelo menos linguagem ou argumento que pareça sugerir o
contrário.
3.1.9.1.1. Qualquer concepção útil deve conter uma doutrina do erro.
3.1.9.1.2. Às vezes, tais erros serão explicitamente reconhecidos.
3.1.10. Dworkin entende aqui, que essa flexibilidade parece destruir a diferença entre interpretação e decisão
sobre o que, segundo ele, o Direito deve ser.
3.1.10.1. Cada aspecto de abordagem ou interpretação de qualquer juiz dependerá do seu senso acerca da
finalidade e função do Direito.
3.1.10.2. Implicará alguma concepção da integridade e coerência do Direito como instituição.
3.1.10.2.1. Essa, por sua vez, irá tutelar e limitar sua teoria operacional de ajuste, ou seja, suas
convicções sobre de que maneira e medida uma interpretação deve ajustar-se ao
Direito anterior.
3.1.11. Muitas vezes, porém, a teoria de ajuste de qualquer juiz não conseguirá produzir uma interpretação
única.
3.1.11.1. A própria distinção entre casos controversos e casos fáceis pode estar ligada a casos que se
consegue isso e casos que não.
3.1.11.2. Dois princípios podem encontrar apoio o suficiente em decisões do passado para satisfazer
qualquer teoria da adequação.
3.1.11.3. Nesse caso, a teoria política substantiva desempenhará um papel decisivo.
3.1.11.4. Em suma, juízes desenvolvem uma abordagem particular da interpretação jurídica que
aperfeiçoa uma teoria política sensível, e dessa dependerá a interpretação em casos específicos.
3.1.11.4.1. Isso é dado o nome de filosofia jurídica.
3.1.11.4.2. Incluirá características estruturais, que exigem uma interpretação se ajuste a história
doutrinal.
3.1.11.5. Além disso, incluirá afirmações sobre os objetivos sociais e os princípios de justiça.
3.1.11.6. Portanto, a opinião de um juiz será consequência de convicções que outros juízes não
precisam compartilhar.
3.1.11.6.1. Se um juiz acredita que o propósito dominante do sistema jurídico é o econômico,
verá em decisões passadas uma estratégia para reduzir os custos do acidente em
geral.
3.1.12. Insistir em um grau de elevada neutralidade da interpretação jurídica não pode tornar a descrição de
sua natureza muito mais concreta do que a que foi feita.

3.2. A intenção do autor no Direito


3.2.1. A visão do Direito expressa anteriormente, torna-o irredutível e subjetivo.
3.2.1.1. Para alguns juristas e estudiosos do Direito isso não é uma objeção, mas o início da sabedoria
cética do Direito.
3.2.1.2. Para o autor, porém, a distinção categórica entre descrição e avaliação na qual se apoia esse
ceticismo está mal colocada, pois a interpretação é algo diferente.
3.2.2. Não há nenhuma razão óbvia na descrição da interpretação para duvidar que uma interpretação do
Direito pode ser melhor que outra e que uma pode ser a melhor de todas.
3.2.2.1. Nesse caso, questões gerais de filosofia são necessárias, e faríamos bem, ao considerar essas
questões gerais, se não partíssemos de nenhuma ideia estabelecida sobre as condições suficientes
e necessárias da objetividade.
3.2.2.1.1. Por exemplo, que nenhuma teoria de Direito será sólida, a menos que possa
demonstrar sua solidez e a menos que possa arrancar assentimento até de uma pedra.
3.2.2.2. Nesse sentido, podemos tentar desenvolver vários níveis de uma concepção de Direito para
nosso uso.
3.2.2.2.1. Isso se baseia em encontrar a interpretação de uma prática complexa e
extremamente importante, que nos pareça, ao mesmo tempo, o tipo certo de
interpretação para o Direito e certa quanto a esse tipo de interpretação.
3.2.3. Outra objeção é a de que hipótese política do autor sobre a interpretação jurídica, como a hipótese
estética sobre a interpretação artística, não oferece um lugar adequado à intenção do autor.
3.2.3.1. Essa hipótese ignora que a interpretação no Direito é simplesmente uma questão de descobrir o
que pretendiam os vários atores do processo jurídico, como os constituintes, os membros do
Congresso e legislaturas estaduais, juízes e funcionários do executivo.
3.2.3.1.1. A hipótese política abre espaço para o argumento da intenção do autor como uma
concepção de interpretação.
3.2.3.1.1.1. Essa afirma que a melhor teoria política confere papel decisivo na
interpretação às intenções dos legisladores e juízes do passado.
3.2.3.1.1.2. Dessa forma, a teoria da intenção do autor não contraria a hipótese política,
mas contesta sua autoridade.
3.2.3.2. Portanto, essa objeção deve ser compreendida de forma que o próprio “significado” da
interpretação no Direito exige que apenas essas intenções oficiais sejam consideradas ou que,
pelo menos, haja um firme consenso entre os juristas nesse sentido.
3.2.3.3. Ambas as afirmações e as afirmações equivalentes sobre a ideia ou a prática da interpretação na
arte são simplistas.
3.2.3.4. O autor supõe, pois, que consideremos a teoria da intenção do autor mais como uma concepção
do que como uma explicação do conceito de interpretação jurídica.
3.2.3.4.1. Enquanto a interpretação se volta para um texto jurídico canônico, como uma
cláusula da Constituição, o artigo de uma lei ou um dispositivo de contrato ou
testamento, a teoria parece ter base mais sólida.
3.2.4. Contudo, assim como a intenção de um romancista é complexa e estruturada de maneiras que
confundem qualquer teoria simples da intenção do autor na literatura, a intenção de um legislador é
similarmente complexa.
3.2.4.1. Em uma situação em que o constituinte vote a favor de uma cláusula que garante a igualdade de
tratamento, sem distinção de raça, em questões que afetam interesses fundamentais das pessoas.
Ao mesmo tempo, pensa que a educação não é uma questão de interesse fundamental, logo, não
acredita que a cláusula torna inconstitucionais escolas segregadas racialmente.
3.2.4.1.1. Nesse cenário, há uma intenção abstrata e uma concreta.
3.2.4.1.1.1. O constituinte pretende proibir a discriminação em tudo o que é realmente
de interesse fundamental e também pretende não proibir escolas segregadas.
3.2.4.1.1.2. Essas não são intenções isoladas, distintas, pois podemos descrever a mesma
intenção de maneiras diferentes.
3.2.4.1.2. Entretanto, importa muito qual descrição uma teoria da intenção legislativa aceita
como canônica.
3.2.4.1.2.1. Ao se aceitar a primeira descrição, então um juiz que deseja seguir as
intenções do constituinte, mas acredita que a educação é uma questão de
interesse fundamental, irá considerar a segregação inconstitucional.
3.2.4.1.2.2. Ao se aceitar a segunda descrição, esse não será o caso.
3.2.4.1.2.3. A escolha entre as duas descrições não pode ser feita diante de nenhuma
reflexão adicional sobre o que é, de fato, uma intenção.
3.2.4.1.2.4. Essa escolha deve ser feita decidindo-se que uma descrição é mais adequada
que a outra, por força da melhor teoria da democracia representativa ou com
base em outros fundamentos abertamente políticos.
3.2.5. Ao considerarmos os problemas de interpretação do Common Law consuetudinário, a teoria da
intenção do autor mostra-se sob uma luz ainda mais pobre.
3.2.5.1. Nessa ótica, os problemas não dizem respeito meramente às provas.
3.2.5.2. Talvez seja possível descobrir o que estava “na mente” de todos os juízes que decidiram casos a
respeito de acidentes em uma ou outra época da história jurídica.
3.2.5.3. Talvez seja possível descobrir ou especular as explicações psicodinâmicas, econômicas ou sociais
para que um juiz tenha pensado como pensou.
3.2.5.3.1. O resultado de toda essa pesquisa (ou especulação) seria um conjunto de dados
psicológicos essencialmente diferentes para cada um dos juízes anteriores incluídos
no estudo.
3.2.5.3.2. Seria possível, segundo o autor, introduzir ordem no conjunto através de sumários
estatísticos de qual proporção de juízes, em cada período histórico, provavelmente
sustentou qual opinião e esteve mais ou menos sujeito a qual influência.
3.2.5.3.3. No entanto, embora organizado pela estatística, esse conjunto não seria mais útil ao
juiz que tentasse responder o que realmente significam as decisões anteriores, do que
a informação similar para um dos romancistas que estivesse tentando decidir que
romance os romancistas anteriores escreveram coletivamente.
3.2.5.3.3.1. Esse julgamento exige um novo exercício de interpretação que não é nem
pesquisa histórica pura nem uma expressão inteiramente nova de como as
coisas deveriam ser em termos ideais.
3.2.5.4. Um juiz que considerasse importante discernir a intenção do autor poderia tentar escapar desses
problemas selecionando um juiz em particular, ou um pequeno grupo de juízes do passado e
perguntando que regra esse juiz ou grupo de juízes pretendeu estabelecer para o futuro.
3.2.5.4.1. Essa situação colocaria os juízes anteriores na condição de legisladores.
3.2.5.4.1.1. Logo, acarretaria todos os problemas que surgem ao se interpretar uma lei,
inclusive o sério problema que foi observado.
3.2.5.5. Apesar disso, no fim das contas, não evitaria os problemas especiais da prestação jurisdicional
no Common Law.
3.2.5.5.1. O juiz que assim interpretasse teria de supor-se com o direito de examinar apenas as
intenções do juiz ou juízes anteriores que selecionou.
3.2.5.5.2. Contudo, ele não poderia supor tal coisa, a menos que acreditasse que ser isso o que
juízes na sua posição deveriam fazer era fruto da prática judicial como um todo, e
não apenas as intenções de algum outro juiz selecionado antes.

3.3. A política na interpretação


3.3.1. Caso as afirmações sobre o papel da política na interpretação jurídica citadas anteriormente forem
fundadas, será necessário esperar opiniões claramente liberais, radicais ou conservadoras.
3.3.1.1. A interpretação da cláusula da igualdade de proteção na Constituição dos Estados Unidos
apresenta exemplos de opiniões claramente liberais/ radicais/conservadoras.
3.3.1.1.1. Nessa cláusula não se pode ter uma interpretação muito objetiva que seja
independente de alguma teoria sobre o que é igualdade política e até que ponto ela é
exigida pela justiça.
3.3.2. A história do último meio século do Direito constitucional é uma investigação exatamente dessas
questões de moralidade política.
3.3.2.1. Juristas conservadores argumentaram a favor de um estilo de interpretar essa cláusula baseado
nas intenções do autor.
3.3.2.1.1. Além disso, acusaram outros que usavam um estilo diferente, com resultados mais
igualitários de inventar ao invés de interpretar o Direito.
3.3.2.1.2. Entretanto, essa tratava-se de uma vociferação voltada para ocultar o papel que suas
próprias convicções políticas desempenhavam na sua escolha do estilo
interpretativo.
3.3.2.1.3. Os grandes debates jurídicos quanto à cláusula da igualdade de direitos teriam sido
mais esclarecedores se fosse mais amplamente reconhecido que valer-se de uma
teoria política não é uma corrupção da interpretação, mas parte do que significa
interpretação.
3.3.3. A política deve desempenhar algum papel comparável na interpretação da literatura e de outras formas
artísticas?
3.3.3.1. A teoria da interpretação de Stanley Fish assume que as disputas entre escolas rivais de
interpretação literária são mais políticas do que lógicas, já que professorados rivais estão em
busca de domínio.
3.3.3.2. Naturalmente, é um truísmo da sociologia da literatura, e não apenas uma contribuição marxista
para essa área, ou seja, a interpretação é sensível a estruturas políticas e econômicas.
3.3.3.2.1. Essas afirmações são externas, pois referem-se às causas da ascensão desta ou
daquela abordagem da literatura e da interpretação.
3.3.4. Até que ponto princípios de moralidade política podem efetivamente ser considerados como
argumentos a favor de uma determinada interpretação de uma obra?
3.3.4.1. A conferência disse que nosso compromisso com o feminismo, nossa lealdade à nação ou nossa
insatisfação com a ascensão da nova direita devem influenciar nossa avaliação e apreciação da
literatura.
3.3.4.1.1. Contudo, se nossas convicções sobre essas questões políticas específicas contam
para decidir o quão bom é um romance, peça ou poema, então elas também devem
contar qual interpretação é a melhor.
3.3.5. É possível, também, explorar uma ligação mais indireta entre a teoria estética e a teoria política.
3.3.5.1. Qualquer teoria abrangente da arte tende a ter em seu centro alguma tese epistemológica, além
de algum conjunto de opiniões a respeito das relações válidas entre a experiência, a
autoconsciência e a percepção ou formação de valores.
3.3.5.1.1. Caso a teoria atribua à autodescoberta algum papel na arte, essa irá demandar uma
teoria de identidade pessoal para estabelecer os limites entre uma pessoa e suas
circunstâncias.
3.3.5.2. Qualquer teoria abrangente de justiça social também terá raízes em convicções sobre questões
intimamente relacionadas.
3.3.5.2.1. O liberalismo, por exemplo, pode depender de uma imagem específica do papel que
os juízos de valor desempenham na vida das pessoas.
3.3.6. Talvez fosse um projeto sensato indagar se não existem bases filosóficas compartilhadas por
determinadas teorias estéticas e políticas.
3.3.6.1. Seria necessário, pois, verificar se é realmente possível remontar o liberalismo a uma base
epistemológica distinta.
3.3.6.1.1. Em seguida, indagaríamos se essa base distinta poderia ser transportada para a teoria
estética e ali produzir um estilo interpretativo distinto.
3.3.6.2. Portanto, a política, arte e Direito estão unidos, de algum modo, na filosofia.

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