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Métodos e tipos de interpretação

ADRIANO FERREIRA

A boa interpretação da norma legal deve: (1.) esclarecer seu significado, mostrando sua
validade; (2.) demonstrar o alcance social da norma; (3.) demonstrar que o conflito pode ser resolvido
conforme os fins sociais da norma e concretizando valores que levam ao bem comum. Existe, para cada
um desses pontos, um conjunto de métodos de interpretação.
(1) Para resolver o problema do significado e da validade da norma, existem os métodos de
interpretação gramatical, lógica e sistemática.
A interpretação gramatical permite desvendar o significado da norma, enfrentando dificuldades
léxicas e de relações entre as palavras. Podem surgir questões quanto ao sentido dicionarizado de uma
palavra ou quanto a relações entre substantivos e adjetivos ou, ainda, no uso de pronomes relativos.
Um exemplo clássico deu-se quando Rui Barbosa recebeu uma condecoração estrangeira. Seus
adversários alegaram que ele deveria perder seus direitos políticos, conforme disposição da
Constituição de 1891: “os que aceitarem condecorações ou títulos nobiliárquicos estrangeiros perderão
todos os direitos políticos”.
A defesa do jurista recorreu ao método gramatical, demonstrando que o adjetivo nobiliárquicos
refere-se não apenas a títulos, mas também a condecorações. Ele estaria, assim, proibido de aceitar
condecoração nobiliárquica estrangeira e não uma condecoração simples, como a que aceitara.
A interpretação lógica permite resolver contradições entre termos numa norma jurídica,
chegando-se a um significado coerente. Adotando-se o princípio da identidade, por exemplo, não se
admite o uso de um termo com significados diferentes.
A interpretação sistemática, por sua vez, analisa normas jurídicas entre si. Pressupondo que o
ordenamento é um todo unitário, sem incompatibilidades, permite escolher o significado da norma que
seja coerente com o conjunto. Principalmente devem ser evitadas as contradições com normas
superiores e com os princípios gerais do direito.
O método sistemático impede que as normas jurídicas sejam interpretadas de modo isolado,
exigindo que todo o conjunto seja analisado simultaneamente à interpretação de qualquer texto
normativo. Assim, não podemos buscar o significado de um artigo, de uma lei ou de um código. Ambos
devem ser analisados em sintonia com a Constituição e as demais normas jurídicas.
(2) Para demonstrar o alcance da norma legal, devemos precisar a quais fatos ela se refere. Para
isso, por vezes, precisaremos identificar os fenômenos contidos nos significados de algumas palavras ou
expressões. Os principais problemas podem ser de ambiguidade ou vagueza.
Um signo é ambíguo quando possui mais de um significado possível; é vago quando não
conseguimos determinar seu significado. No caso das normas, um termo ambíguo deixa dúvidas quanto
ao fato a que se refere e o termo vago não permite identificá-lo.
As palavras de uma lei podem ser:
indeterminadas – não identificamos os fenômenos (ex. repouso noturno: o que é repouso?
quando é noturno?);
valorativas – não sabemos quais os atributos que preenchem significado (ex. honestidade:
quando uma pessoa é considerada honesta?);
discricionárias – há uma gradação que deve ser preenchida no momento de análise do caso (ex.
grave/leve; preponderante/secundário).
O preenchimento do significado dessas palavras varia conforme o momento histórico ou as
condições sociais. A interpretação histórica assemelha-se à busca da vontade do legislador. Recorrendo
aos precedentes normativos e aos trabalhos preparatórios, que antecedem a aprovação da lei, tenta
encontrar o significado das palavras no contexto de criação da norma (occasio legis).
A interpretação sociológica, por seu turno, assemelha-se à busca da vontade da lei. Focando o
presente, tenta verificar o sentido das palavras imprecisas analisando-se os costumes e os valores atuais
da sociedade.
(3) Após determinar-se um significado válido para a norma e encontrarem-se os fatos a que se
refere, resta mostrar que sua aplicação concretizará seus fins sociais e levará ao bem comum, como
determina o art.5° da LINDB. A interpretação teleológica busca os fins da norma legal e a interpretação
axiológica busca explicitar os valores que serão concretizados pela norma.
A boa interpretação, assim, chega a um significado jurídico (métodos gramatical, lógico e
sistemático) para a norma legal, demonstra seu alcance social (métodos histórico e sociológico) e sua
efetividade (métodos teleológico e axiológico). Ela deve cessar no momento em que o conflito puder ser
resolvido por uma decisão (sentença).
O resultado do processo é um dos tipos de interpretação: literal (especificador), restritiva ou
extensiva (ampliativa). Para entendê-los, devemos classificar as palavras como códigos fraco ou códigos
forte. Uma palavra é um código forte se seu significado corresponder a um fenômeno determinado (ex.
agravo de instrumento é um tipo único de recurso); será código fraco se seu significado referir-se a mais
de um fenômeno (ex. tributo é um conceito que pode referir-se a várias coisas, como contribuição,
imposto e taxa).
A interpretação literal mantém a força do código: se forte, é interpretado como forte; se fraco, é
interpretado como fraco. A interpretação mantém o mesmo número de fatos sociais sob alcance da lei.
A interpretação restritiva fortalece o código. Um código fraco, por exemplo, pode ser
interpretado como código forte. Uma lei pode usar a palavra recurso, que se refere a vários objetos. Sua
interpretação pode reduzir o alcance da palavra, traduzindo-a como apenas apelação, um tipo de
recurso.
A interpretação extensiva enfraquece o código. O significado da norma é ampliado, passando a
englobar mais objetos do que seu sentido literal. Por exemplo, uma lei que proíbe o estacionamento de
carros pode ser enfraquecida e ser interpretada como proibindo também o estacionamento de motos.

Referências:
BETIOLI, Antonio Bento. Introdução ao Direito. 11ª edição. São Paulo: Saraiva, 2011. (Lição XXX-XXXII)

DIMOULIS, Dimitri. Manual de Introdução ao Direito. 2a. edição. São Paulo: RT, 2007. (lição 8 )

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito – Técnica, Decisão e Dominação. 6ª
edição. São Paulo: Atlas, 2008. (cap. 5)

Disponível em: <http://introducaoaodireito.info/wp/?p=615>.

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