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Segunda avaliação de filosofia.

Aluno: Nicolas Lucano Steenmeijer do Amaral


Docente: Andrea Luisa Bucchile Faggion
Turma: 2000

1. Explique por que Dworkin não aceita o conceito hartiano de regra de


reconhecimento. (30 pontos)

Hart, em sua filosofia, dá certo enfoque às regras, classificando-as. Dentre suas


classificações, destaca-se a de reconhecimento, que de acordo com ele é uma convenção
social cuja função é crivar e indicar quais são normas válidas em dada sociedade. Nesse
sentido, essa seria um fato, não estando sujeita a ser considerada válida ou inválida, mas
serviria de crivo para validar ou não as demais regras. O ponto da discordância de
Dworkin com Hart quanto a regra de reconhecimento consiste no fato de que Dworkin
não acredita que há um consenso na comunidade jurídica que sustente a regra de
reconhecimento, havendo apenas um consenso quanto ao objeto a ser interpretado. Em
suma, ao passo que para Dworkin os aplicadores do Direito divergem quanto aos
acordos de base que fundamentam as leis, para Hart há esse consenso, que seria a
chamada regra de reconhecimento.

2. Explique em que consiste o ponto de vista das simples questões de fato ou dos
fatos simples (plain fact view) que Dworkin pretende rejeitar em seu livro. (20
pontos)

Dworkin critica os positivistas rejeitando o “plain fact view”, postulado em seu livro “O
Império do Direito”. Para ele, esta é uma visão simplória e distorcida do Direito, em que
os aplicadores do Direito concordam com os fundamentos da lei, não havendo
significantes divergências interpretativas quanto a eles. A Lei, portanto, seria reduzida a
apenas uma questão do que foi decidido no passado pelas instituições jurídicas. Sendo
assim, de acordo com o “plain fact view”, caso haja controvérsias entre juristas, é sinal
de que um deles cometeu um erro empírico a respeito de quais decisões foram tomadas
no passado. Dworkin, no caso, defende a tese de que o Direito é bem mais complexo
que isso, visto que, para ele, não há um consenso quanto aos fundamentos do Direito
dentro da própria sociedade jurídica.
3. Explique a analogia que Dworkin faz entre o argumento judicial e a crítica
literária. (25 pontos)

Dworkin afirma que há várias similaridades entre o argumento judicial e a crítica


literária, sendo a divergência deles quanto ao objeto a ser interpretado e estudado. A
semelhança deles se dá pelo fato de que ambos devem ser interpretados pelos estudiosos
e haverá, muito provavelmente, divergência entre esses quanto ao que o texto realmente
quer dizer. Ademais, ambos buscam interpretar o que está documentado da melhor
maneira possível e utilizando cada um suas devidas técnicas (sendo o crítico literário
um estilo de interpretação e o jurista uma teoria de legislação), porém de maneira
adequada, isto é, sem fugir do que o autor escreveu.

4. Cite e explique dois exemplos de teorias da legislação utilizadas por juízes de


casos citados por Dworkin no livro O Império do Direito. (25 pontos)

Ao analisarmos o Caso Elmer, famoso caso americano em que o neto assassinou o avô
quando este estava iniciando outro relacionamento conjugal, o que provavelmente
culminaria na alteração do testamento que o favorecia, podemos encontrar dois
exemplos de teorias da legislação. Neste caso, vale ressaltar que a lei americana não
tinha prescrito a negação da herança para aquele que matasse o proprietário dos bens
que estariam dispostos na herança, e, neste caso em especial, não havia no testamento
qualquer cláusula que indicasse a perda da herança caso o beneficiário fizesse isso. Uma
das teorias da legislação citadas é a literal ou acontextual, que possui como base atribuir
as palavras um significado ignorando o contexto e não levando em conta a intenção do
Legislador. O juiz Grey defendeu essa visão, afirmando ser um absurdo jurídico negar
algo que é de direito de alguém por conta de algo que antes não foi prescrito em lugar
algum. Já, o juiz Earl fundamentou-se na teoria da legislação baseada na intenção do
Legislador, partindo do ponto de que a letra é nula no caso de não conferir com a
intenção e que a intenção do Legislador conta como letra, também baseia-se na premissa
de que um estatuto não pode ter nenhuma consequência que os legisladores teriam
rejeitado caso tivessem pensado nela. Por fim, Elmer não recebeu a herança,
apresentando que a letra da lei pode ser perfeita e clara, porém mostra que pode haver
outra maneira de interpretar a Lei que prevaleça contra a sua letra. Outro importante
caso citado por Dworkin é o do peixe-caramujo, que consiste no episódio que havia
alguns ambientalistas que estavam lutando contra a construção de uma barragem que já
tinha custado US$100 milhões de dólares do governo americano, isso porque
extinguiria o único habitat de um peixe-caramujo, que ainda segundo Dworkin não tinha
qualquer relevância. Neste caso, o juiz Burguer, sendo um textualista quanto a teoria da
legislação, argumentou que quando o texto é claro, não se pode deixar de aplicar a Lei
quando o seu resultado é “bobo”. Já o juiz Powell defende outra teoria da legislação,
afirmando que quando a leitura acontextual é “subótima”, não se pode levar em conta
como a melhor aplicação a menos que possa ser demonstrado claramente que essa era a
intenção de consequência desejada pelo legislador, se assemelhando ao juiz Earl do caso
anterior, porém considerando o bom senso no lugar do princípio supracitado.

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