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7º ENCONTRO DA ABRI

Atores e agendas: interconexões, desafios e oportunidades


23 a 26 de julho de 2019 - PUC MINAS

Área temática: Análise de Política Externa

A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL DE LULA PARA O ORIENTE MÉDIO A PARTIR DE


UMA ANÁLISE DISCURSIVA: O CONFLITO ISRAELO-PALESTINO NA QUESTÃO
PALESTINA E O CASO NUCLEAR IRANIANO

Doutora Elizabete Sanches Rocha,


Professora da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UNESP-Franca

Jéser Abílio de Souza,


Mestrando em Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

BELO HORIZONTE – MG
2019
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RESUMO

O presente trabalho teve por objetivo compreender a contribuição da diplomacia presidencial


de Luís Inácio Lula da Silva por intermédio da mediação de conflitos no Oriente Médio, e os
sentidos manifestos, porquanto o ex-presidente brasileiro, em seus governos, desempenhou
um papel preponderante ao lidar diretamente com cruciais conflitos internacionais nessa
região. Nesse sentido, a pesquisa clamou para a realização de um aprofundamento teórico,
partindo-se da análise do conflito de Irã na questão nuclear e do conflito israelo-palestino na
questão Palestina. Considerou-se, ainda, a Escola Francesa da Análise do Discurso como
central abordagem crítico-analítica dos pronunciamentos dos discursos presidenciais e de
documentos oficiais emitidos que foram quantitativa e qualitativamente delimitados para
análise na finalidade dessa investigação acadêmica, levando em conta o recorte material
necessário para a maior acuidade na exequibilidade da pesquisa, que possui caráter teórico-
bibliográfico, e na precisão de seus futuros resultados. Constatou-se que a política externa e
a diplomacia presidencial de Lula entoaram certos valores, e que uma vez reunidos,
convergiram para o Brasil exercer o papel de mediador de conflitos, caracterizando a
estratégia central para o país se inserir no Oriente Médio. A justificativa teria sido a
necessidade de proporcionar uma estabilidade do sistema internacional por meio da
pacificação atrelada à redemocratização das relações internacionais com a diminuição das
desigualdades entre os países periféricos e centrais. Ademais, foi identificado, pela análise
discursiva, que o país se dedicou a obter reconhecimento do seu potencial em gerenciar
temas sensíveis, paz e segurança internacional, temas esses muito bem protegidos pelas
grandes potências. Concluiu-se que o Estado brasileiro na era Lula criou condições de
diálogo, reciprocidade, reconhecimento e paz, e a Declaração de Teerã, acordo construído
entre Brasil, Turquia e Irã, e o reconhecimento formal da Palestina, refletem o protagonismo
brasileiro em legitimar o seu papel de mediador com sua diplomacia presidencial.
Palavras-chave: Diplomacia presidencial; Mediação de conflitos; Análise do Discurso
Francesa.
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Introdução

O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva demonstrou nos seus governos uma política
externa com uma agenda voltada para paz a fim de possibilitar um substancial caminho para
a estabilidade do sistema internacional, a partir da diplomacia presidencial, em cruciais e
específicos conflitos internacionais, a destacar na região do Oriente Médio.
O Oriente Médio, no que lhe concerne, possui uma importância geopolítica e
estratégica para certos países. A região consiste em um ponto fraco das Nações Unidas,
maiormente de seu Conselho de Segurança, que não consegue solucionar os conflitos há
décadas. E diante de mudanças na estrutura do sistema internacional, como a
multipolarização desencadeada no pós-Guerra Fria, o déficit da credibilidade da potência
norte-americana em virtude da Guerra ao Terror e as insuficiências nas relações dos Estados
Unidos e da Europa face à crise financeira internacional de 2008, foram se abrindo
oportunidades para o Brasil, uma potência média, inserir-se em questões chave do Oriente
Médio, com o intento de obter uma inserção autônoma e soberana no sistema internacional.
De acordo com Notari (2017), o objetivo primordial do Brasil com o papel de mediador
de conflitos consistia em influenciar na reforma da governança global, e a mediação de
conflitos foi considerada a estratégia central para a inserção do Brasil no Oriente Médio.
Destacam-se, assim, os seguintes casos em que o Brasil, por meio da diplomacia presidencial
de Lula, contribuiu na área da mediação de conflitos na região: a) a questão nuclear iraniana
e a tentativa da obtenção de um acordo através de uma disposição reunida pelos governos
do Brasil e da Turquia, de forma que houve a materialização de um acordo: a Declaração de
Teerã; e b) a iniciativa lançada pelo Brasil para uma proposta de mediação acerca do conflito
israelo-palestino na questão Palestina.
A problematização central consiste em verificar se a diplomacia presidencial de Lula
revelou ter condições em mediar conflitos internacionais, em especial, no Oriente Médio.
Ademais, identificar os efeitos de sentidos manifestos do posicionamento brasileiro para
entender as suas motivações.
A linha Francesa da Análise do Discurso (ADF), por seu turno, contribuiu para o
desenvolvimento da pesquisa, uma vez que oferece um arcabouço teórico-metodológico
quanto à relação entre linguística e ideologia ao articular a qualidade dos discursos e os juízos
instituídos na conjuntura histórica e social de determinada sociedade. Desse modo, no tocante
ao campo discursivo, se fez necessário analisar e compreender os motivos e os sentidos que
derivaram da condução da diplomacia presidencial de Lula.
Cumpre ressaltar que este trabalho é resultado de Projeto de Pesquisa de Iniciação
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Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) -


Processo n. 2017/26185-8, conduzido durante o curso de graduação em Relações
Internacionais pela Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Estadual
Paulista (UNESP), campus de Franca.

1 Análise do Discurso Francesa: contribuições teóricas para as Relações Internacionais

Ressaltaremos as principais características do discurso consoante às concepções


teórico-metodológicas da Análise do Discurso da Escola Francesa que pudessem contribuir
para os estudos de discursos vinculados à área das Relações Internacionais.
Elizabete Sanches Rocha e Julia Faria Camargo (2011), apontam que a Análise do
Discurso Francesa (ADF) concebe que seu objeto de estudo é concebido por uma
materialidade histórica e uma materialidade linguística. Rocha e Camargo (2011) alertam que
a AD não se trata de um método, como alguns tem avaliado e aplicado em seus estudos,
tampouco uma simples ferramenta para a aplicação de outras teorias. A ADF constitui um
bojo teórico próprio que busca analisar o acontecimento da linguagem através de uma prática
eficaz.
Brandão (2004), por sua vez, explica que o discurso não pode ser compreendido
apenas na seara linguística, pois ele possui conhecimentos de caráter extralinguísticos, como
as crenças, os valores, o lugar e o tempo histórico em que o discurso é elaborado. Isso porque
o discurso só adquire sentido por meio da sua contextualização, que ocorre em dado momento
de sua manifestação. Logo, vários elementos de ordem extrínseca à língua se encontram na
abordagem discursiva de modo que proporcionam o sentido do discurso.
À vista disso, Brandão (2004) conceitua o discurso como “o efeito de sentido
construído no processo de interlocução” (BRANDÃO, 2004, p. 106), é “o ponto de articulação
dos processos ideológicos e dos fenômenos linguísticos” (BRANDÃO, 2004, p. 11), e, mais,
“discurso como efeito de sentido entre locutores” (ORLANDI, 2009, p. 73). E a maneira como
o texto organiza a relação da língua com a história na ação significante do sujeito pela sua
conexão com o mundo é o que realmente importa para a Análise do Discurso Francesa.
Entendemos efeitos de sentido como as reações criadas pelas estratégias discursivas
para comunicar um determinado sentido, de maneira que não existe uma transparência
discursiva, pois tudo é efeito de sentido.
Com o intuito de compreender satisfatoriamente o discurso, selecionamos algumas
categorias importantes que sejam relevantes para a realização da posterior interface
discursivo-ideológica e os estudos de Relações Internacionais. Tais categorias foram
apuradas por vários autores que compartilham dos preceitos da Escola Francesa.
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Brandão (2004) demonstra que a interatividade do discurso consiste numa operação


potencializada através de dois sujeitos: o Eu (enunciador) e o Você (enunciatário). Em face
disso, o espaço do discurso é dividido por esses dois sujeitos que estabelecem uma relação.
A interação constante entre este Eu e este Você é o mobilizador comum no processo
discursivo, ou seja, o significado que se manifesta no discurso é o produto vivo das forças
sociais interativas entre esses dois sujeitos. Brandão, na citada obra, expõe a seguinte
proposição teórica de Orlandi: “o centro da relação não está (...) nem no eu nem no tu, mas
no espaço discursivo criado entre ambos.” (BRANDÃO, 2004, p. 55).
O enunciador do discurso, ao atuar discursivamente, acaba, consequentemente,
agindo sobre o outro, o enunciatário, a fim de alterar uma situação. Logo, o discurso não
constitui tão somente uma representação do mundo, mas é também uma forma de ação sobre
o outro, como aponta Maingueneau (2001). Em razão disso, o discurso carrega em si mesmo
a fala, as concepções e ideias do outro (ouvinte), já que o objetivo do enunciador ou do locutor
é atingir o outro. Em consequência, como o intuito do discurso é o de alterar uma situação, se
permite dialogar, contestar ou se aliar a outras formações discursivas – estas correspondem
ao sistema de relações entre objetos, enunciados, concepções e métodos – para obter um
maior impacto na fala. E é pela formação discursiva que podemos compreender os sentidos
no funcionamento do discurso.
Maingueneau (1998) defende, ainda, que formação discursiva designa todo o sistema
de normas que constitui a unidade de um conjunto de enunciados sócio historicamente
delineado, perante uma posição e um momento definidos para uma sociedade, que se
encontram acessíveis e delimitam uma identidade. Assim, a formação discursiva pode ser
compreendida como os posicionamentos ideológicos manifestos que se encontram em
conflito num dado campo discursivo. Já Orlandi (2001; 2009) define a formação discursiva
como aquilo que em determinada posição de uma conjuntura sócio histórica estabelece o que
pode e deve ser dito, ao passo que as palavras apenas obtêm sentido quando inseridas na
formação discursiva em que se inscrevem. “A formação discursiva é o lugar da construção do
sentido” (ORLANDI, 2001, p. 65).
Outra característica importante para a ADF é a contextualização, porquanto que o
discurso ganha sentido a partir do contexto em que é lançado. José Luiz Fiorin (1998) explica,
que as ideias e os discursos representam a manifestação da vida real, de modo que a
realidade exprime os discursos. Logo, um mesmo enunciado, exibido em momentos
diferentes, e aqui se levam em conta as questões geográficas, culturais e temporais dos
sujeitos, pode ter sentidos diferentes e acarretar em diversos discursos.
A exterioridade, o contexto imediato, como diz Orlandi (2009), é uma das condições
de produção do sentido do discurso. Consequentemente, não há enunciado destituído de
contexto, histórico e ideológico, pois o contexto exerce coerção semântica sobre o enunciado.
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Para a ADF, portanto, a linguagem é considerada uma atividade desempenhada por sujeitos
em determinados contextos permeados por processos ideológicos e históricos. Não há
enunciados destituídos de contexto histórico e ideológico, e o contexto exerce coerção
semântica sobre o enunciado.
Ressalta-se, por conseguinte, que o discurso enunciado por algum “sujeito” nunca será
original, pois além dele ser dialógico, ele também é heterogêneo. É dialógico porque
proporciona um ambiente de interação com o outro, como já explicado, sendo através desta
mesma interação que as representações que se julga ou que se faz do interlocutor são
construídas conforme os interesses do locutor.
Bakhtin e Volochinov (2006) expõem em sua teoria da linguagem o dialogismo como
o princípio geral que rege o discurso. Para esses, o dialogismo se estabelece nas
caracterizações desenvolvidas durante as constâncias da comunicação com o outro, da
interação verbal que presume pelo menos dois sujeitos, o locutor e o interlocutor. O real
conteúdo da língua não é formado por um sistema abstrato de formas linguísticas, mas pela
interação verbal que consubstancia um fenômeno social realizado por meio da enunciação ou
das enunciações. Os mesmos compreendem que “a interação verbal constitui assim a
realidade fundamental da língua” (BAKHTIN; VOLOCHINOV, 2006, p. 125). O discurso é
componente de uma discussão ideológica, que refuta, ratifica, prenuncia as respostas, declara
determinadas objeções a alguma coisa, etc. Portanto, há no discurso uma reprodução
contínua de outras vozes e, por efeito, uma multiplicidade de sujeitos.
Também podemos trazer a questão da heterogeneidade do discurso, que significa
dizer que o discurso é permeado por várias vozes, constituindo uma rede interdiscursiva. Um
discurso sempre faz referência a outro discurso, podendo ser de forma direta, indireta ou até
em oculto. Brandão (2004) denota sobre a heterogeneidade do discurso como o efeito de
sentido e também o deslocamento do sujeito falante mediante o atravessamento de dado
discurso pelo discurso do outro.
E como existe esta pluralidade de vozes em um discurso, o locutor do discurso se
forma na relação com o outro, isto é, pela alteridade, de maneira que se institui um sentido
como resultado. Assim como da relação com os outros um Eu adquire consciência de si
mesmo, o sujeito do discurso se configura mediante o reconhecimento de certa identidade na
relação com os demais discursos elaborados, divergindo entre ideologias, comparando
perspectivas, etc. É também pela interação da ação e reação de ambos, o choque de valores
e crenças particulares que cada um carrega, que o sentido se manifesta.
Com efeito, o entendimento de que o sujeito é a origem ou a fonte absoluta do sentido
é uma ilusão para os teóricos da Análise do Discurso Francesa, já que o Eu divide o mesmo
espaço discursivo com o Outro, e o sentido insurge com a interatividade, o dialogismo e a
heterogeneidade presente no discurso. Em virtude disso, o sujeito é dividido, cindido,
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descentralizado e efeito de linguagem. O sujeito “perde o seu centro e passa a se caracterizar


pela dispersão, por um discurso heterogêneo que incorpora e assume diferentes vozes
sociais” (BRANDÃO, 2004, p. 86).
Orlandi (1991), no tocante a isto, ensina que o sujeito do discurso se constitui pela
interpelação ideológica e representa uma forma-objeto historicamente determinada. A forma-
sujeito, portanto, é constituída pelas relações de uma formação social, e que pode ser
diferente nos distintos momentos históricos, de modo que ele é um sujeito o qual se confere
autonomia ao mesmo tempo em que ele é estabelecido pelo seu relacionamento com a
exterioridade. De outro modo, o sujeito se constitui na simultaneidade daquilo que pode ser
compreendido de “subjetividade” do indivíduo, marcas próprias do enunciatário, e da
“coletividade” decorrente do contexto social, cultural, histórico e ideológico. Assim, o sujeito é
submetido a diversas coerções – podemos chamar de enfrentamentos discursivos –, pois a
história não é singular, unicamente do Eu, pois somos parte do social.
A respeito da interdiscursividade, Maingueneau (1997; 1998; 2001), ao se referir ao
interdiscurso, explica que este compreende uma formação discursiva que incorpora em si
elementos pré-constituídos, isto é, que foram concebidos fora desta formação discursiva, em
que procura redefinir e redirecionar os seus próprios elementos para coordenar a repetição,
contudo porventura também pode gerar o esquecimento de certos elementos. Dado isso, o
discurso se encontra em constante interação com outros já construídos e com aqueles que
ainda estão em construção. Por consequência, o discurso se projeta numa rede de outros
discursos e, por isso, nenhum discurso é único, singular, acabado, inerte, estável ou puro e
muito menos neutro, uma vez que ele se encontra em interação constante com os discursos
já concebidos e com aqueles que ainda estão sendo produzidos.
É devido a heterogeneidade e alteridade existente que “o discurso é o espaço da
reprodução, do conflito ou da heterogeneidade” (FIORIN, 1998, p. 45). Os sentidos não são
predeterminados nem por propriedades da língua e nem por um dos sujeitos. O sentido do
discurso depende das relações que se constituem, já que as formações discursivas não são
blocos homogêneos operando automaticamente, mas “são constituídas pela contradição, são
heterogêneas nelas mesmas e suas fronteiras são fluidas” (ORLANDI, 2009, p. 44).
A materialização do discurso, por outro lado, pode se dar de distintas maneiras, e não
somente pelos textos. E os discursos carregam na sua produção crenças e valores, aspectos
sociais, culturais, históricos, geográficos e políticos, o que denominamos de condições de
produção. Os textos discursivos, por seu turno, compreendem toda a gama de conhecimentos
linguísticos e extralinguísticos. O texto é utilizado pela ADF para compreender o discurso que
se materializa e os sentidos produzidos, bem como para reconhecer as identicidades
construídas no espaço de interação entre o Eu e o Outro. Este espaço é o texto discursivo.
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De outra parte, Michel Foucault (1984), na sua filosofia da linguagem, nos apresenta
os “regimes de verdade”, os quais validam interesses baseados nas identidades definidas e
motivados por certas situações. Eles perfazem os tipos de discursos eleitos para operarem
como verdadeiros, que buscam validar e difundir significados dominantes e hegemônicos, à
proporção que rebate outros como falsos. Segundo Foucault (1984), cada sociedade detém o
seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade. Um regime de verdade, que podemos
indicar como exemplo para as Relações Internacionais, é o protagonismo e centralidade do
Estado no sistema internacional. Por outro lado, referido autor não se preocupa em definir o
que de fato é verdade e o que não é, assim como a ADF. A preocupação repousa, desse
modo, nos efeitos de sentido e seus desdobramentos ideológicos e políticos, haja vista que
não se considera a existência de verdades absolutas, mas verdades construídas a partir de
uma formação discursiva-ideológica.
Percebe-se, assim, a enorme complexidade do objeto de estudo da ADF que é
constituído não somente de materialidade linguística, mas também de materialidade sócio
histórica, que dispõe de um espaço de ponderação sobre a língua numa perspectiva de
complexa identidade social, concebida como discurso.
Dedicar-se-á, neste momento, a constatação do lugar das determinações ideológicas
neste labiríntico fenômeno que é o discurso. Devemos, inicialmente, entender que a
linguagem não é totalmente desvinculada da vida social, mas também não é completamente
restringida especificamente ao nível ideológico, como adverte José Luiz Fiorin (1998). Além
disso, a linguagem não se divide unicamente em língua e fala. Existe um terceiro elemento,
que é a ideologia. E a ideologia está ao mesmo tempo na própria realidade como também
representa uma “visão de mundo”, diferindo conforme cada classe social, de acordo com o
teórico acima mencionado.
O discurso, como já vimos, é um arranjo de elementos linguísticos utilizados pelos
enunciatários ou locutores com o objetivo de revelar seus pensamentos, ideias, crenças, um
meio de articular do mundo exterior e também do seu mundo interior. A fala ou o texto, no que
lhe concerne, é a forma de exteriorizar o discurso. O emprego do discurso é uma ação no
mundo. Enquanto o texto está na esfera individual, o discurso se encontra na esfera social.
Como vimos, o sujeito sofre coerções, os atravessamentos discursivos. E as
formações discursivas adquirem existência apenas com as formações ideológicas. Ora, a
ideologia se encontra presa no social, não podendo ser contida puramente pela consciência,
uma vez que ela consiste numa “visão de mundo”, num ponto de vista de uma classe social
com relação à realidade, de modo que a ideologia explica e justifica uma dada ordem social.
“A ideologia é constituída pela realidade e constituinte da realidade” (FIORIN, 1998, p. 30).
A respeito da formação ideológica, Brandão (2004) explica que ela é composta por um
conjunto multifacetado de atitudes, representações e imagens que não são nem universais e
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nem individuais, porém, elas se referem relativamente às posições de classe em atrito umas
com as outras. De maneira similar, Fiorin exibe o seguinte conceito sobre formação ideológica:

“Formação ideológica: é uma visão de mundo, um conjunto de


representações que explicam as condições de existência. Como as visões de
mundo estão vinculadas às classes sociais, há, em princípio, numa formação
social, tantas visões de mundo quantas forem as classes ai existentes. No
entanto, a visão de mundo dominante é a da classe dominante.” (FIORIN,
1998, p. 81).

Em uma determinada formação social existem distintas visões de mundo diante da


existência de várias classes sociais. Van Dijk (2000) esclarece que a ideologia é um conjunto
de ideias que hierarquizam os lugares de disputa, de modo que o racismo, o machismo e o
capitalismo, por exemplo, constituem ideologias, nesse sentido.
Cumpre destacar, todavia, que a ideologia dominante será a ideologia da classe
dominante. E tendo em vista que o discurso é um agir sobre o mundo, Fiorin (1998) afirma
que quando um enunciador reproduz certo discurso com elementos de formação discursiva
dominante, estará ele ajudando a fortalecer as estruturas de dominação. Numa ordem
capitalista, por exemplo, a ideologia burguesa é, portanto, a ideologia dominante.
Por outro lado, “é no discurso que se manifestam, com toda a plenitude, as coerções
ideológicas” (FIORIN, 1998, p. 80). Bakhtin e Volochinov diz que a “consciência constitui um
fato sócio ideológico” (2006, p. 47), uma vez que o conteúdo contido na consciência é definido
por fatores sociais, ou seja, as condições do meio social determinam a vida concreta das
pessoas. Assim, a coerção social compele a manifestação do ser humano na sociedade. O
discurso, consequentemente, é determinado por coerções ideológicas, pois já que as pessoas
são limitadas pelas relações sociais, não há nem individualidade na consciência, no íntimo,
muito menos individualidade discursiva incondicional, absoluta.
Considerando que não existe um sujeito individualizado para a ADF, mas sujeitos
construídos, esses dão o suporte ao discurso e haja vista que o sentido do discurso é obtido
pela interatividade, contextualização, dialogismo e heterogeneidade, categorias estas já
explicadas e que são tão importantes, o discurso é, por consequência, interpelado
indissociavelmente pela ideologia. E a formação ideológica se ajusta a uma formação
discursiva, pois ambas são representações da realidade, ao passo que a primeira impõe o
que pensar e a segunda estipula o que dizer. O discurso materializa as representações
ideológicas e isso explica porque não existe neutralidade em discurso algum.
Cabe evidenciar, no entanto, que o discurso não representa um reflexo de uma
exposição sensível e clara do mundo, mas uma categorização do mundo. É como diz Fiorin,
“uma abstração efetuada pela prática social” (1998, p. 54). O discurso, conforme o teórico,
imprime parte da visão de mundo que difunde um sistema de valores a partir da solidificação
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de uma prática social, ou seja, estereótipos criados referentes aos comportamentos dos seres
humanos que são julgados positiva ou negativamente. E como o discurso é um produto
histórico e social, se houver transformações na estrutura social estas podem ensejar
transformações discursivas.
Todo este aporte teórico da Análise do Discurso Francesa é de grande relevância para
as Relações Internacionais. A ADF demonstra uma área rica, propícia para analisar,
compreender e explicar efetivamente as temáticas da agenda internacional contemporânea,
principalmente, as práticas políticas adotadas pelos “policymakers” em tentarem conduzir,
impor e influenciar a realidade internacional. Afinal, o discurso molda uma determinada visão
de mundo ao mesmo tempo em que consolida uma prática social. A ideologia dominante de
um discurso pode ser fortemente persuasiva para modificar determinada identidade.

2 Política externa brasileira e diplomacia presidencial nos governos de Lula: algumas


características

A diplomacia presidencial desempenhada por Luís Inácio Lula da Silva demonstrou


uma maior afinidade com os outros atores políticos por intermédio da mediação, além do fato
de que sua política externa exibiu distintas características que contribuíram para a projeção
positiva do Brasil.
Cumpre, apresentar, o cenário do sistema internacional que influenciou e proporcionou
uma reorientação da política externa brasileira e da diplomacia presidencial durante os
governos de Lula. Uma importante mudança que ocorreu na estrutura do sistema internacional
no pós-Guerra Fria foi a multipolarização, sendo que ela tem se acentuado no século XXI. Os
motivos da intensificação da multipolarização se deram devido à ascensão dos grandes
países em desenvolvimento, como China, Índia, África do Sul e Brasil, à proporção que houve
perda relativa de poder dos Estados Unidos, haja vista que a nação norte-americana tem
gerado cada vez mais resistências à sua ingerência política no sistema internacional, como
explica Gonçalves (2011). Este autor afirma que tem havido uma desconcentração do poder
na estrutura do sistema internacional, sendo um fator importante caracterizado pela relativa
perda de poder por parte dos EUA, já que tal nação não dispõe mais do enorme poder que
exercia sobre os outros Estados no final da Segunda Guerra Mundial.
Amaury de Souza (2009) aponta que, em resposta aos atentados de 11 de setembro
de 2001 às torres do World Trade Center e ao Pentágono, os Estados Unidos deliberaram
para manter a supremacia militar a qualquer preço, o que gerou profundas alterações no
tabuleiro geopolítico mundial, tendo em vista o agravamento das intervenções militares no
Iraque e no Afeganistão. A ingerência política norte-americana na condução da Guerra ao
Terror e dos conflitos na Ásia (Afeganistão e Iraque) desencadeados após os atentados de
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11 de setembro de 2001 desagradou grande parte da comunidade internacional, inclusive o


Brasil.
Dessa maneira, surgem dúvidas quanto a absoluta centralidade exibida pelos EUA na
condução das agendas no sistema internacional. As ações dos Estados Unidos na Guerra ao
Terror provocaram reações das mais contrárias entre os atores, tendo o seu prestígio
declinado.
Considera-se, também, a crise econômica mundial de 2008, também desencadeada
nos Estados Unidos, que transbordou com grande força para a Europa; mas o Brasil não
sofreu com seus piores efeitos, uma vez que reagiu logisticamente, como apontam Clodoaldo
Bueno e Amado Luiz Cervo (2015). Segundo Haroldo Ramanzini Jr (2010), a crise financeira
acabou revelando ao mundo uma possível debilidade dos EUA na sua capacidade econômica,
e, que, por outro lado, houve o fortalecimento de outras regiões e países, pois alianças e
blocos econômicos foram construídos entre os países emergentes.
É neste contexto internacional complexo, assimétrico e multipolar, que o governo Lula
buscou espaço para o Brasil desempenhar o papel de global player, mediante uma política
externa e uma diplomacia pautada em distintos atributos, como “autonomia pela
diversificação”, “multilateralismo”, “nacionalista”, “humanista”, “solidária”, “não indiferença” e
“ativismo”, consoante múltiplas perspectivas de autores. Com essas características, o Brasil
fomentou a aproximação entre os Estados desenvolvidos e em desenvolvimento, com o
objetivo de firmar-se como mediador de conflitos. E a diplomacia presidencial constituiu um
instrumento oportuno para a projeção do Brasil.
Cepaluni e Vigevani (2007; 2011) revelam que Lula concedeu um novo realce na
agenda internacional da política externa brasileira, a qual os autores denominaram de
“autonomia pela diversificação”, uma vez que houve o reconhecimento de princípios e normas
internacionais sobrevindos de alianças regionais e também no eixo Sul-Sul, com o intuito de
diminuir desigualdades nas relações com as grandes potências e, concomitantemente,
preservar as relações com os países em desenvolvimento, além do empenho na cooperação
com Organizações Internacionais, com o propósito de reduzir o poder das grandes potências
e reformar as instituições internacionais. Os autores (2007; 2011) defendem que esta
diversificação versa também na potencialidade de ingerência de questões que não se referem
aos interesses prioritários do Brasil, mas a recursos comunitários identificados
internacionalmente, visando à cooperação e à redução das assimetrias nas relações entre
países periféricos e países.
Já Cervo e Bueno (2015) afirmam que o propósito desta política externa consistiu em
democratizar os processos da globalização e distribuir os benefícios da ordem internacional,
ao passo que o Estado brasileiro requisita, com reforço, o papel de negociador, sustentando
logisticamente os interesses nacionais e alianças com países emergentes. Os mesmos (2015)
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ainda explicam que a diplomacia brasileira elaborou o conceito de “multilateralismo da


reciprocidade”, que se estendeu a todos os domínios das relações internacionais.
O multilateralismo da reciprocidade possui dois pressupostos: a existência de normas
para compor o ordenamento internacional, sem as quais irá persistir a disparidade de poder
em prol das grandes potências; e a construção conjunta dessas normas, com o intuito de
garantir reciprocidade e equilíbrio dos efeitos.
Inobstante, outro caráter importante aparece na política externa e na diplomacia
durante o governo Lula: o “princípio da não indiferença”. Este princípio foi apresentado,
discurssivamente, pelo próprio presidente Lula, assim como pelo ex-chanceler Celso Amorim.
Souza Neto (2011) explana que o “princípio da não indiferença” se orientava por uma
perspectiva humanista, em que o Brasil, sempre que solicitado a desempenhar um papel
positivo, prestaria apoio e solidariedade ativa em situações de crise, sem recorrer a interesses
nacionais, porquanto não aceitaria uma ordem internacional injusta.
Além disso, Alles (2012) afirma que as políticas engajadas pelo Brasil em cooperar e
de se colocar à disposição no sentido de prestar auxílio a outros países contribuíram para
angariar o seu prestígio e aumento de sua autoridade moral. Essa reorientação da visão
política e da diplomacia brasileira no governo Lula, pautada na “não indiferença”, convergiu
para que o país desempenhasse um papel de mediador de conflitos direcionado à paz em
convivência com ideias de solidariedade ativa e na persecução pelo avanço e melhoria das
condições sociais dos povos, combatendo as tendências belicosas do sistema.
Barnabé (2010) e Alles (2012) nos esclarecem que o conceito de “diplomacia
presidencial” não chegou a ser usado por Lula, porém, na prática, houve de fato uma
intensificação do uso desse mecanismo na conquista dos interesses brasileiros na esfera
internacional. Outrossim, ambos os autores (2010; 2012) revelam que o ex-chanceler Celso
Amorim denominou a diplomacia presidencial de Lula como “ativismo diplomático” ou
“diplomacia ativa e altiva”.

“Este ativismo e esta altivez do governo Lula são explicitados pelo caráter
mais dinâmico e multipresencial do presidente e pela imersão do país de
maneira mais incisiva em temas que seu predecessor tinha tratado de
maneira mais retórica, como por exemplo, a cooperação Sul-Sul, o
multilateralismo, o Mercosul, a liderança brasileira, etc. Além de já superar
seu antecessor no número de viagens ao exterior, Lula mudou o enfoque da
política externa, mais centrada nas questões terceiro-mundistas, no propósito
insistente de conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança
da ONU, sem desconsiderar a importância dos diálogos com o chamado
Primeiro Mundo.” (BARNABÉ, 2010, p. 8)

Destarte, todos estes atributos aqui demonstrados convergiram para o Brasil exercer
um papel dedicado ao pacifismo (ou dedicado à solidariedade).
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3 O caso nuclear iraniano e a Análise do Discurso Francesa

A República Islâmica do Irã tem anunciado ao mundo o seu desejo por enriquecer
urânio para fins científicos, pacíficos e energéticos, no qual trocaria o seu urânio enriquecido,
com o exterior, por combustível, sendo que este seria destinado a um pequeno reator de
pesquisas médicas em Teerã. Entretanto, os Estados Unidos (EUA) e demais membros do
grupo P5+1 sempre questionaram o intento iraniano de enriquecer urânio como uma possível
expansão do programa nuclear para fins militares, aplicando, por diversas vezes, sanções ao
Irã diante de supostas violações ao Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).
O P5+1 é um grupo composto pelos cinco países que são membros permanentes do
Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), os EUA, a Rússia, a China, o Reino
Unido e a França, mais a Alemanha, de modo que uniram esforços diplomáticos em 2006 a
fim de realizar negociações sobre o programa nuclear do Irã. O Irã, por seu turno, rejeitou as
propostas e as sanções, e iniciou o enriquecimento do urânio em 20%. Por efeito, diante dos
ineficazes esforços despendidos pelos países do P5+1 em 2008 e também em 2009 pela
fracassada rodada de negociações entre os dirigentes iranianos e o Grupo de Viena (Estados
Unidos, França, Rússia e a AIEA), se abriu uma oportunidade para o Brasil conduzir uma
mediação com o Irã a respeito do tema.
Um evento importante que contribuiu para o aprofundamento da investida brasileira
nesta temática se deu graças à visita do próprio presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad,
a Brasília, para um encontro presidencial com Lula, no Itamaraty, no dia 23 de novembro de
2009. Neste mesmo dia, o presidente Lula realizou uma Declaração à Imprensa (MRE, 2009)
após a assinatura de atos. No entanto, o encontro não se tratou apenas de parcerias bilaterais,
como veremos.

“O Irã e o Brasil são dois grandes países em desenvolvimento. Têm


aspirações comuns em matéria de progresso econômico e social”...
...“A política externa brasileira é balizada pelo compromisso com a
democracia e o respeito à diversidade”...
....“Reconhecemos o direito do Irã de desenvolver seu programa nuclear para
fins pacíficos, com pleno respeito aos acordos internacionais. Esse é o
caminho que o Brasil vem trilhando, em obediência à nossa Constituição, que
proíbe a produção e a utilização de armas nucleares”...
....“Mas a busca de um entendimento, nesse e em outros temas regionais,
exige a incorporação de novos interlocutores genuinamente interessados na
paz. Para dialogar, é necessário construir canais de confiança, com
desprendimento e coragem. São esses mesmos valores e princípios que
devem prevalecer na busca de paz no Oriente Médio“. (MRE, 2009, p. 183-
184)

Percebe-se dos trechos acima selecionados, que se busca estabelecer a edificação


de uma “ponte de influência” para o Brasil se inserir na questão nuclear iraniana, bem como
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na região do Oriente Médio, a partir do plano discursivo. Dentre os sentidos, foram captados
os seguintes: a) países periféricos estão discutindo temas de agenda global; b) o Brasil possui
capacidade para gerir crises e temas da agenda global; c) o Brasil respeita e obedece os
direitos humanos e demais normas, ainda que tenha relações com o Irã que é conhecido por
não agir de acordo com os direitos humanos; d) o Brasil reconhece o direito do Irã com seu
programa nuclear para fins pacíficos; e) se fazem necessários interlocutores adequados,
vulgo Brasil, na questão nuclear iraniana para a contribuição à paz; e f) o Brasil está aberto
ao diálogo.
Este conjunto apreendido de sentidos reunidos atuam como uma sinalização para os
demais atores que observaram o encontro. Isto é, o Brasil está se relacionando com o Oriente
Médio, com o Irã, e não há motivos para preocupação porque os direitos humanos e as demais
normas vigentes estão sendo observados e respeitados. Igualmente, é sinalizado para o
próprio Irã que o Brasil é um ator comprometido com o diálogo e capacitado a gerir crises.
Esses efeitos de sentidos compreendem uma variedade de valores que revestem o
discurso, em função do contexto em que se introduz. E o discurso somente obtém sentido
através de sua contextualização (BRANDÃO, 2004). Não basta analisar o domínio linguístico
de um discurso, mas também as crenças e valores, o lugar, o momento histórico que envolve
o discurso e os agentes deles. Afinal, a contextualização, a exterioridade do discurso, é uma
das disposições necessárias para a produção do sentido do discurso (ORLANDI, 2009; 2009).
Ora, Lula enunciou em um contexto que uma crise econômica mundial emergiu com grande
força nos EUA e na Europa, porém não teve muito impacto no Brasil, e isso contribuiu para o
país se projetar no sistema internacional com uma postura mais incisiva, como a aproximação
com o Oriente Médio. Trata-se, ainda, de um contexto em que nenhuma grande potência
obteve sucesso.
Desse modo, infere-se da análise deste discurso político o quanto não há enunciado
destituído de contexto (histórico e ideológico), pois esse exerce coerção semântica sobre o
enunciado. Por outro lado, o sujeito do discurso é aquele que fatalmente está falando do seu
lugar de enunciação, sendo um sujeito permeado por vozes coletivas, logo, o sujeito está
emaranhado em um contexto social, histórico e cultural (PÊCHEUX, 1990).
Dias após a este encontro presidencial, a Agência Internacional de Energia Atômica
(AIEA) adotou, em 27 de novembro de 2009, um projeto de resolução em que condenou o Irã
mais uma vez pelo seu programa. Diante deste panorama, convergiram-se esforços turco-
brasileiros para a obtenção de um acordo, e nesse sentido, Brasil e Turquia se ofereceram
para mediar as negociações com o Irã, visando encontrar uma solução para o país e para seu
programa nuclear sem recorrer à aplicação de sanções.
Destaca-se que, no dia 20 de abril de 2010, o presidente norte-americano Obama
escreveu uma carta para o presidente Lula e para o primeiro-ministro Erdogan. A carta
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(FOLHA DE SÃO PAULO, 2010) continha uma solicitação do cumprimento do acordo para a
criação de laços de confiança, juntamente com pontos específicos a serem respeitados pelo
Irã. E, por meio da carta do presidente norte-americano, foi conduzida a mediação entre Brasil,
Irã e Turquia com os seus chefes de Estado e de governo e seus respectivos ministros, nos
dias 15 e 16 de maio de 2010, na capital do Estado iraniano, em Teerã. E em 17 de maio,
houve a elaboração e assinatura de um acordo trilateral: a Declaração Conjunta de Irã,
Turquia e Brasil, ou Declaração de Teerã (MRE, 2010b).
O primeiro prágrafo da Declaração de Teerã (MRE, 2010b, p. 440) contém dois
aspectos importantes: o reconhecimento do Irã como Estado-parte do TNP e o
reconhecimento do seu direito nas “atividades de enriquecimento”.

“1. Reafirmamos nosso compromisso com o Tratado de Não-Proliferação de


Armas Nucleares (TNP) e, de acordo com os artigos relevantes do TNP,
recordamos o direito de todos os Estados-Parte, inclusive a República
Islâmica do Irã, de desenvolver pesquisa, produção e uso de energia nuclear
(assim como o ciclo do combustível nuclear, inclusive atividades de
enriquecimento) para fins pacíficos, sem discriminação.” (MRE, 2010b, p.
440)

Podemos observar que essa necessidade de reconhecimento do Irã pelos demais


membros do TNP, sobretudo, do P5+1, se refere ao contexto em que se insere: a recusa do
direito ao enriquecimento de urânio ante a alegação de que o projeto teria fins militares. Além
disso, há todo o cenário internacional em que o Irã é visto como país pertencente ao “Eixo do
mal”, em que o Ocidente assim insiste em categorizá-lo. Conseguinte, esse duplo
reconhecimento contido neste primeiro parágrafo se refere ao contexto vivenciado pelo país,
que tem sofrido com discriminações e injustiças, como as diversas sanções aplicadas a ele.
Percebe-se, uma refutação e também uma antecipação de futuras repostas, sendo
isso uma das características do discurso, que Bakhtin e Volochinov (2006) denotaram em
seus estudos. Ademais, também podemos apontar a questão da interatividade, em que estes
sentidos identificados não se concentram apenas nos sujeitos Irã, mas se deu na relação
entre Irã e Ocidente, em particular, P5+1. Em virtude disso, a Declaração de Teerã representa
uma resposta ao mundo do Irã que busca reaver a sua legítima posição no sistema
internacional, contudo, o sentido não se centraliza apenas no reconhecimento daquele. Por
meio da referida Declaração, também é anunciada à comunidade internacional a legitimidade
do Brasil e da Turquia em gerenciar temas de paz e segurança internacional, pois, afinal, as
duas potências médias obtiveram um acordo em um caso em que as grandes potências não
conseguiram qualquer avanço.
Os parágrafos segundo, terceiro e quarto (MRE, 2010b, p. 440-441), analisam o
acordo de troca do combustível nuclear como ponto de partida, na medida em que reforçam
a interação cooperativa, positiva e construtiva entre as nações, em particular, nas atividades
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nucleares pacíficas. Ao final do parágrafo quarto, há um trecho interessante que aponta como
essencial evitar confrontação, privando-se de ações, medidas e declarações retóricas que
sejam capazes de criar obstáculos aos direitos e obrigações do Irã no TNP. Ora, está sendo
divulgada, a não imposição de qualquer tipo de sanção ao Irã, bem como realizar declarações
retóricas de suas supostas atividades ilegais. Ademais, também está se reafirmando,
novamente, que o mesmo é membro do TNP e caso haja a imposição de futuras sanções (que
de fato sucedeu), se estará contrariando os direitos e a legitimidade dele. Portanto, reivindica-
se a sua legitimidade. Esta formação discursiva observou os sentidos emergidos no passado
e, a partir disso, considerou-se o futuro, para alterar a realidade.
Consoante Maingueneau (1998), a formação discursiva compreende todo conjunto de
normas que institui uma unidade de enunciados sócio-historicamente traçados em face de
uma posição e um momento estabelecidos para uma sociedade. Deste modo, a construção
do parágrafo quatro, decorreu da posição ideológica adotada por certos atores da sociedade
internacional que têm buscado suprimir a legitimidade do Irã com o seu desenvolvimento e
uso pacífico da energia nuclear. Assim, as palavras possuem sentidos que se inscrevem no
contexto sócio-histórico que o Irã e o P5+1 têm vivenciado: negociações frustradas, imposição
de sanções, não reconhecimento etc.
Em suma, a realidade exprime o discurso e os sentidos contidos nele. E todo discurso
possui uma finalidade em forma de ação: a de modificar uma situação, isto é, construir outra
realidade. Considerando a Declaração de Teerã um discurso normativo, ela apresenta em si
objetivos essenciais para o Irã, que não se resumem apenas em obter uma aprovação para o
desenvolvimento e uso da energia nuclear para fins pacíficos. Há um objetivo de alterar a
realidade imposta pelos EUA e seus aliados em taxar o país em questão como indigno e
ilegítimo. Do mesmo modo que, também, existe um objetivo de alterar a situação do Brasil e
da Turquia como potências emergentes capazes de gerenciar uma questão sensível que, até
então, sempre foi tema de domínio dos países centrais, afinal, ambos os países também
construíram o acordo tripartite. Por efeito, o discurso carrega em si as concepções, os ideais
e as falas do outro, pois o objetivo do enunciador é atingir o enunciatário para alterar a
realidade. O décimo e último parágrafo (MRE, 2010b, p. 441) traz, mais uma vez, e
implicitamente, a legitimidade em gerenciar a questão da nuclearização iraniana, ao passo
que também reconhecem o próprio Irã como merecedor de confiança.
Em contrapartida, os sentidos nos enunciados da Declaração de Teerã provocaram
efeitos além do esperado. Apesar do êxito alcançado pelas negociações realizadas entre Irã,
Turquia e Brasil com a Declaração de Teerã, o CSNU não reconheceu nem a legitimidade do
Brasil e da Turquia na conquista do acordo, cuja solução foi pacífica, muito menos a
legitimidade do documento. Isso porque, no dia 9 de junho de 2010, foi aprovada outra
resolução que estabeleceu novas sanções contra o Irã: a Resolução 1.929/2010 (UN, 2010).
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No início desta Resolução, logo se percebe que o foco se deu tão somente na
atribuição de culpa por parte do Irã e em posições firmemente pautadas no passado. Para
tanto, um trecho merece destaque:

“Recalling the resolution of the IAEA Board of Governors (GOV/2006/14),


which states that a solution to the Iranian nuclear issue would contribute to
global non-proliferation efforts and to realizing the objective of a Middle East
free of weapons of mass destruction, including their means of delivery, ” (UN,
2010, p. 1)

O discurso normativo em questão colocou como essencial que a resolução deste


conflito contribuiria para os esforços mundiais, cujo objetivo seria um “Oriente Médio livre de
armas de destruição em massa”. Aqui, constou-se uma ideologia que tem sido fortemente
reiterada nos discursos norte-americanos, a destacar durante a Guerra ao Terror, de que o
Oriente Médio possuiria supostos vetores e potencial para armas de destruição em massa.
Esta ideologia construída que se fez presente na Resolução motiva a concepção de que o
discurso é heterogêneo, pois é permeado por diversas vozes. Um discurso sempre faz
referências a outros, de modo direto, indireto ou até de maneira não explícita, logo, ele nunca
será original em razão da rede interdiscursiva.
Observa-se que a recusa da Declaração de Teerã e da negação da legitimidade do Irã
como possuidor dos mesmos direitos que os demais membros do TNP também revelam uma
rejeição à legitimidade do Brasil e da Turquia com o acordo obtido. Embora a Resolução
1.929/2010 tenha feito uma referência à atuação do Brasil e Turquia com os esforços
diplomáticos, não houve um reconhecimento deles. Isto porque, após a menção aos esforços
turco-brasileiros, há uma ressalva de que o Irã deve se preocupar com as questões
fundamentais ao seu programa nuclear, na medida em que indica que os países do CSNU
estão dispostos a adotar medidas concretas para resolver a questão nuclear iraniana. Desta
maneira, o CSNU por meio destas considerações, manifestou no sentido de exibir à
comunidade internacional que a esfera desta temática cabe a eles (e somente a eles) resolver.

“Emphasizing the importance of political and diplomatic efforts to find a


negotiated solution guaranteeing that Iran’s nuclear programme is exclusively
for peaceful purposes and noting in this regard the efforts of Turkey and Brazil
towards an agreement with Iran on the Tehran Research Reactor that could
serve as a confidence-building measure,
Emphasizing also, however, in the context of these efforts, the importance of
Iran addressing the core issues related to its nuclear programme, Stressing
that China, France, Germany, the Russian Federation, the United Kingdom
and the United States are willing to take further concrete measures on
exploring an overall strategy of resolving the Iranian nuclear issue through
negotiation on the basis of their June 2006 proposals (S/2006/521) and their
June 2008 proposals (INFCIRC/730)…” (UN, 2010, p. 2)
18

A necessidade do CSNU de se reafirmar como o órgão que propicia a ordem mundial,


bem como o único legítimo para resolver a questão nuclear iraniana, é uma resposta à
Declaração de Teerã, em particular, à mediação conduzida pelo Brasil e pela Turquia, visto
que estes buscavam reconhecimento na ingerência de temas de paz e segurança
internacional, e alterar a ideia concebida de que apenas grandes potências conseguem ser
capazes de tal feito. E esta ideologia dominante da CSNU hierarquiza, assim, os lugares de
disputa nos sistema internacional, além de pregoar um “regime de verdade”.
Os trinta e oito parágrafos da Resolução impõem exaustivamente numerosas e
distintas medidas ao Irã. Ressalta-se, no entanto, que as medidas são destituídas de qualquer
fundamento e prova, uma vez que estavam a serviço apenas do objetivo de enquadrar o Irã
como perigoso (pertencente ao “Eixo do mal”), com atividades suspeitas (ROCHA; ABREU
PEREIRA; 2014).
Nota-se que tanto a Declaração de Teerã quanto a Resolução 1.2929/2010 do CSNU
ao serem construídas se deram nessa interdiscursividade, em um espaço de contradição,
conflito e heterogeneidade, no qual se levou em consideração diversas vozes, sentidos e
ideologias que não estão presas em um bloco homogêneo do texto, como já discutido
anteriormente. Outrossim, o ciclo de sanções imposto pela Resolução 1.929/2010 CSNU
apregoa um “regime de verdade” (conceito foucaultiano, já discutido anteriormente) próprio
que noticia, retoricamente, supostas “más intenções” do Irã com a sua nuclearização, e reforça
uma “política geral”, validando e difudindo significados dominantes e hegemônicos.

4 O conflito israelo-palestino na questão Palestina e Análise do Discurso Francesa

O cenário hostil envolvendo a questão Palestina sempre foi existente, tem seguido por
diversos caminhos, tanto no âmbito externo quanto interno, se tornando mais complexa e
multifacetada ao longo dos anos. Desde 1947, trata-se de um assunto de relevância
internacional, quando as Nações Unidas aprovaram a partilha da Palestina para a formação
de Israel e, consequentemente, a criação do Estado de Israel em 1948. Diversas tentativas
de negociação têm sido empregadas pelas Nações Unidas e as grandes potências para a
pacificação da região, mas nenhuma permanente e frutífera.
Em 2006, houve uma mudança no mapa político interno da região árabe, ameaçando,
ainda mais, o projeto de constituição de um futuro Estado palestino. Conforme Amorim (2015)
e Maielo Silva (2012), em janeiro de 2006, o grupo Hamas (“Movimento de Resistência
Islâmica”) venceu as eleições parlamentares na Palestina, sendo que o Fatah (“Movimento de
Libertação Nacional”) estava à frente da liderança palestina há mais de 40 anos. E embora
tenha se estabelecido um governo de coalizão entre esses grupos em fevereiro-março de
2007 pelo Acordo de Mecca (MAIELO SILVA, 2012), conflitos em Gaza se intensificaram em
19

junho, resultando na ruptura política; o Hamas controlou a Faixa de Gaza desde então. Assim,
desde junho de 2007, a questão Palestina prosseguiu sufocada pela ruptura entre o Fatah e
o Hamas, e esse último, movimento relacionado à Irmandade Muçulmana, tem sido
considerado mais radical (rotulado como “organização terrorista” pelos EUA e outras
potências) e “dominava a Faixa de Gaza, de onde partiam, com certa regularidade, ataques
com mísseis ao território israelense” (AMORIM, 2015, p. 205).
Quase três anos depois, em março de 2010, o ex-presidente Lula realizou um giro pelo
Oriente Médio visando estreitar laços comerciais/empresariais. Essas visitas configuram um
direcionamento mais incisivo do Brasil em uma tentativa de mediação, porquanto dialogou
com os países envolvidos no conflito para buscar paz na Terra Santa. Podemos indicar, ainda,
que a viagem de comitiva de Lula em Israel ocorreu em um momento conturbado em razão
da declaração do Estado israelense em instalar mais de mil assentamentos judaicos em
território palestino, na Jerusalém Oriental, que gerou, aliás, uma desaprovação da
comunidade internacional, inclusive dos EUA, que tem sido o principal aliado de Israel
(KUNRATH; REIS DA SILVA, 2010).
Em Jerusável, Israel, no dia 15 de março de 2010, Lula proferiu um discurso durante
a sessão plenária especial do Parlamento israelense-Knesset (MRE, 2010c). É exposto,
primeiramente, que o Brasil defende a coexistência pacífica e soberana do Estado de Israel e
do Estado Palestino, e menciona “sobretudo pelo traçado de seu território” (MRE, 2010c, p.
3). Esta expressão se refere ao respeito aos limites territoriais, haja vista que Israel tem
violado, perpetrado assentados militares, atentando contra a vida de palestinos e a própria
existência do Estado palestino. Igualmente, este mesmo fragmento também reporta ao
reconhecimento da Palestina, retroagindo-se as fronteiras de pré-1967, posto que o Brasil já
se posiciou defendendo o retorno das fronteiras anteriores à Guerra dos Seis Dias (1967)
entre países árabes e israelenses.
Na sequência do discurso, o conflito entre palestinos e israelenses é posto também
como uma categoria universal, em que não somente reflete numa instabilidade da região, mas
que versa na busca de uma estabilidade em todo o globo (MRE, 2010c, p. 4). Ao elevar um
conflito regional para global, amplia-se, consequentemente, o interesse, a responsabilidade e
impacto de outros atores que não se encontram vinculados diretamente à questão Palestina.
Por conseguinte, justifica-se a atuação brasileira na região e aquele princípio que já
discutimos, da “não indiferença”. Observa-se que os sentidos estão emaranhados nos
discursos e a análise se dispõe a relacionar e organizá-los.
Em outro trecho, o ex-presidente brasileiro realiza um questionamento: “Não será o
caso de que as Nações Unidas, renovadas e com maior legitimidade, assumam agora um
papel mais ativo na busca da paz?” (MRE, 2010c, p. 6).
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(...)“O impasse que vive o Oriente Médio mostra as enormes dificuldades que
enfrenta hoje a governança global, em particular as Nações Unidas.
Em 1948, como lembrei, o surgimento do Estado de Israel teve o patrocínio
das Nações Unidas. Não será o caso de que as Nações Unidas, renovadas e
com maior legitimidade, assumam agora um papel mais ativo na busca da
paz?” (MRE, 2010c, p. 6)

Esta pergunta não se encontra isolada. A agenda de política externa brasileira nos
governos Lula pregava uma mudança nas relações internacionais e nas Organizações
Internacionais a fim de deixá-los mais democráticos e representativos. É cogitado, assim, um
papel mais ativo da ONU na promoção da paz, porém, este oportuno desempenho teria que
estar vinculado a uma reforma no CSNU para se obter uma maior legitimidade e,
consequentemente, uma maior e eficaz governança global. Aliás, o Brasil tem evocado um
assento permanente no Conselho, logo, esta reforma e legitimidade só seriam possíveis
quando considerar o papel do país, já que ele tem revelado ao mundo as suas positivas
incursões no Oriente Médio, como interlocutor válido em uma região sensível, a qual está
lidando com temas de paz e segurança internacional, temas estes muito bem zelados pelas
grandes potências. O discurso está direcionado a diversas vozes, dentro de um contexto, e
não apenas à região.
Na visita à Cisjordânia, Lula proferiu um discurso durante a cerimônia de encerramento
do encontro empresarial Brasil-Palestina, em Belém, no dia 16 de março (MRE, 2010d). É
inicialmente realizado menções sobre as condenações perante as ações de Israel, como o
bloqueio comercial imposto (e que foi aplicado juntamente com os EUA) e o muro construído
que travessa a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, áreas estas com maior concentração dos
palestinos. De outra parte, são ressaltadas as diversas contribuições que o Brasil fez à
Palestina e que são postas como medidas brasileiras que contribuirão para construir as bases
do Estado palestino (MRE, 2010d, p. 2-3).
Em outro parágrafo (MRE, 2010d, p. 4) é posto uma visão ideológica e política afirmada
nos governos Lula, que visa informar que o país tem lutado para mudar sua própria situação
na geografia econômica do mundo, bem como alterar a própria configuração dessa estrutura.
Trata-se de romper com a submissão econômica perante as ditas “economias ricas” e buscar
a sua soberania.
Por outro lado, é exposto em outro trecho na sequência que o “Brasil pode disputar
com os EUA e com a União Europeia em qualquer comércio” (MRE, 2010d, p. 6) e que não
se encontra mais dependente economicamente. É indicado, ainda, que o Brasil saiu vencedor
na Organização Mundial do Comércio (OMC) para que os EUA retirassem os subsídios do
seu algodão após anos de briga, mas esses não acataram a decisão da OMC (MRE, 2010d,
p. 6-7).
21

Todas essas informações transmitem as seguintes ideias: a) o Brasil sofreu injustiças


com outros atores internacionais, em especial, os EUA; b) o Brasil já foi dependente das
economias ricas, porém conseguiu se tornar soberano economicamente; c) a economia
brasileira se tornou forte, tanto que a crise financeira mundial não repercutiu com furor,
diferentemente dos EUA e da Europa; e d) o país possui muitos parceiros comerciais e
participa de distintos fóruns multilaterais. Tais ideias, uma vez reunidas, concebem dois
efeitos de sentidos: primeiro, o Brasil é um interlocutor forte e interessado no destino da
Palestina; segundo, é encetado uma semelhança da Palestina com o Brasil, tendo em conta
que a Palestina é dependente de ajuda externa, não é soberana nem politicamente – pois
naquele momento, muitos atores não reconhecem formalmente o Estado palestino –, muito
menos na esfera econômica, já que tem sofrido embargos comerciais impostos por Israel
juntamente com os EUA.
Em suma, o efeito de sentido consiste em patentear medidas de “salvação” para os
palestinos, à proporção que constrói uma imagem do Estado brasileiro como forte, capaz e
interessado em proporcionar as bases para a edificação da Palestina como Estado
independente, ao passo que sublinha as capacidades econômicas e políticas do Brasil e
produz uma semelhança entre os dois. Assim, o discurso carrega em si as concepções, os
ideais e as falas do outro, tendo em vista que o objetivo do enunciador é atingir o enunciatário,
que no caso deste discurso, é estabelecer uma relação de semelhanças e proximidades entre
os sujeitos discursivos. E a ideologia é a matriz do sentido.
Destes discursos políticos analisados, percebe-se o quanto eles constroem imagens
do outro, e cada um dos sujeitos é para o outro somente uma imagem. Charaudeau (2017)
esclarece que a identidade desses sujeitos são imagens coconstituídas no encontro deles e
que estas assimilações percebidas e concebidas não representam absolutamente uma
imagem falsa ou enganosa; é uma imagem diante do outro que é o próprio ser em sua
verdade. Portanto, as identidades são construídas neste processo de identificação dos
sujeitos nos discursos e as condições de produção do discurso estão presentes neste
processo, porquanto nada é destituído de contexto sócio-histórico.
Paralelamente às tentativas brasileiras na condução da mediação no conflito israelo-
palestino, os EUA patrocinaram, mais uma vez, um processo de paz entre os dois lados em
setembro e que também conteve representação do Quarteto. O chamado Quarteto para o
Oriente Médio, ou apenas Quarteto, refere-se ao grupo de países e organizações, o
Secretariado das Nações Unidas, os EUA, a Rússia e a União Europeia, que tem como
prioridade a retomada do diálogo entre Israel e Palestina, bem como mediar as negociações.
Entretanto, as negociações foram interrompidas após os israelenses não terem renovado a
moratória de construção de assentamentos na Cisjordânia (AMORIM, 2015).
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De todo modo, uma mediação propriamente dita ou outras formas de facilitação com
interlocutores no conflito israelo-palestino ficaram em suspenso. Saltando para o final daquele
ano, temos o reconhecimento do Estado palestino nas fronteiras de 1967 pelo Brasil, através
da Nota n. 707, de 3 de dezembro de 2010, pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE).
A Nota n. 707 do MRE (2010e) divulgou a carta do presidente Lula (MRE, 2010a, p. 356) que
fora enviada ao presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Zeidan Abbas
em 1º de dezembro de 2010. Abbas havia enviado ao presidente brasileiro uma carta datada
em 24 de novembro de 2010 (MRE, 2010a, p. 357) solicitando o reconhecimento formal do
Estado palestino nas fronteiras de 1967.
Infere-se que a carta do presidente brasileiro inicia apontando que o Brasil defendeu
historicamente não apenas um Estado palestino, mas a coexistência pacífica entre Israel e
Palestina, na medida em que atrela a um Estado seguro, coeso, democrático e
economicamente viável. É assinalada que esta defesa pela existência pacífica entre os dois
também se deu no seu governo, uma clara ressalva para as investidas ocorridas com o
direcionamento da política externa brasileira e a própria diplomacia presidencial nos governos
Lula.
Em outro trecho, são citadas as intensificações diplomáticas ao Oriente Médio nos
governos Lula, a abertura do Escritório de Representação em Ramalá, as visitas aos países
árabes, o aprofundamento das relações comerciais... e no próximo parágrafo, é anunciado
que o governo brasileiro observou os esforços da ANP para dinamizar a economia da
Cisjordânia e de melhorar as condições de segurança e prestação de serviços para a
população.
Os sentidos identificados foram: a) o Brasil de Lula tem investido nas relações com a
região e os palestinos; e b) o Brasil reconhece os esforços positivos despendidos pela ANP,
a qual é liderada pelo Hamas, tanto para com sua população quanto nas relações com o
Brasil, visto que foi realizado o encontro empresarial Brasil-Palestina (assim, dinamicidade da
economia), além de outros relacionamentos diplomáticos. Ao ressaltar a ANP, é comunicada
tanto à Palestina quanto aos países vizinhos e ocidentais, uma valorização positiva das ações
do Hamas, já que este é quem está no poder. Isso não quer dizer que o Brasil legitima todas
as ações deste grupo, porém não nega as contribuições dele. Israel e os EUA rotulam o
Hamas puramente como uma facção terrorista.
Posteriormente, nos trechos finais, há o reconhecimento formal do Brasil em relação
ao Estado palestino. Consoante Lula, em sua correspondência, o reconhecimento do Estado
palestino nas fronteiras de 1967 se deu por considerar que a solicitação de Abbas “é justa e
coerente com os princípios defendidos pelo Brasil na Questão Palestina” (MRE, 2010a, p.
356). Os princípios, no sentido da língua, não estão constantes no texto do discurso, mas
como são valores, ideais, eles configuram um conteúdo extralinguístico. À vista disso, os
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princípios alegados não estão estritamente verbalizados na carta, mas são aqueles que regem
as relações internacionais descritos nos incisos do artigo 4º da Constituição Federal da
República Federativa do Brasil de 1988, como a “autodeterminação dos povos”, a “defesa da
paz”, a “solução pacífica dos conflitos” e a “cooperação entre os povos para o progresso da
humanidade”.
O reconhecimento formal perfaz o direcionamento brasileiro em respeitar a soberania
nacional da Palestina ante a sua autodeterminação, de forma que não haja mais intervenções
às suas competências nacionais e em prol da defesa da paz. Considera-se, outrossim, que o
Brasil estimulou uma solução pacífica entre Israel e palestinos, tendo a diplomacia
presidencial um papel considerável, haja vista que o próprio presidente buscou ser
interlocutor/mediador na região. Isto porque, como notório nos outros discursos analisados, o
governo considerou que a causa palestina não se trata de um conflito que diz respeito apenas
aos envolvidos conflitantes, ela afeta toda a ordem internacional; é necessária uma
cooperação entre os povos para instituir esta harmonia e o Brasil está fazendo sua parte, pois
ele não se exime de prestar solidariedade ante cenários injustos. Portanto, àquela referência
equivale dizer que tais princípios orientaram a política externa brasileira e a diplomacia
presidencial de Lula
Em síntese, no discurso – a carta do Lula – é transmitido que o ato do reconhecimento
do Estado palestino, este posicionamento do Brasil diante do sistema internacional, é justo e
coerente devido aos valores por si respeitados.
Em seguida, é dito, ainda, sobre a necessidade de diálogo e convivência pacífica com
os vizinhos para que a causa palestina possa avançar. Este fragmento opera como um aviso,
ao passo que adverte a ANP de que o avanço efetivo da causa palestina se dará unicamente
com diálogo e convivência pacífica do Estado palestino com os seus vizinhos, pois sabe-se
que Israel e Palestina travam uma luta histórica acerca do território sob aspectos políticos,
culturais, geográficos, entre outros. Ademais, observa-se que o conflito israelo-palestino é
posto como inacabado, pois ainda que tenha havido o reconhecimento formal do Estado
palestino por parte do Brasil, é preciso continuar com um processo negociador para uma
coexistência pacífica deles.
O reconhecimento formal do Estado palestino por parte do Estado brasileiro implicou
em repercussão internacional, refletindo o papel de liderança do Brasil na América do Sul. O
ato influenciou a mesma decisão em outras chancelarias sul-americanas, de modo que até
março de 2011, onze de doze países sul-americanas reconheceram formalmente a Palestina
com “status” de Estado (AMORIM, 2015; FÁVERO; PINHEIRO, 2016; NOTARI, 2017).
24

Considerações finais

À vista de todo o aporte teórico discutido, das investigações e análises efetuadas,


vimos que os governos de Lula, em especial a política externa brasileira e a diplomacia
presidencial, se pautaram em certos atributos, visando obter espaço no sistema internacional
para o Brasil desempenhar um papel de interlocutor e mediador de conflitos na região do
Oriente Médio. A justificativa teria sido a necessidade de proporcionar uma estabilidade do
sistema por meio da pacificação atrelada à redemocratização das relações internacionais com
a diminuição das desigualdades entre os países periféricos e centrais.
Mediante o estudo do caso nuclear iraniano, concebemos que a Declaração de Teerã
representa um comunicado ao mundo, de forma implícita (ou “não dito”), sobre a necessidade
de reconhecimento da legitimidade de Brasil e Turquia, ambas potências médias, em
gerenciar temas de paz e segurança internacional. Todavia, os EUA e seus aliados, ao
aprovarem a Resolução 1.929/2010 no CSNU, não reconheceram nem a legitimidade do
Brasil e da Turquia na conquista do acordo, muito menos o conteúdo do acordo. As
justificativas se resumiram em um suposto desenvolvimento de atividades nucleares voltadas
para fins militares, por parte do Irã, uma retórica que tem sido arrastada pelos países
integrantes do P5+1, em especial os EUA. Além do mais, os EUA não foram capazes de sair
da situação de polarização, haja vista que somente visaram o atendimento de seus interesses
e com veemente atribuição de culpa ao Irã. Ao invés de buscarem a resolução do conflito por
meio de um processo construtivo, preferiram decisões unilaterais e o uso da força.
A Declaração de Teerã havia criado um laço de confiança de Irã com o Ocidente, mas
este laço foi rejeitado pelos países membros do CSNU. A Resolução 1.929/2010 do CSNU
revela uma enorme contradição, haja vista a existência da carta do presidente norteamericano
Obama. Logo, ficou claro que os EUA e seus aliados ficaram insatisfeitos com o êxito obtido,
porquanto além da região representar uma importância geopolítica e estratégica para certos
países, um acordo foi obtido por atores não hegemônicos, o que provou a deficiência de
credibilidade dos EUA e do P5+1. O motivo é que não havia interesse da maior parte dos
países centrais em compartilhar com os países periféricos decisões a respeito dos temas de
paz e segurança internacional.
Em alternativa, com o estudo do conflito israelo-palestino na questão Palestina,
compreendemos, a partir dos pronunciamentos, que o Brasil buscou a construção de uma
imagem como ator forte, capaz e interessado em possibilitar o restabelecimento do diálogo
entre Israel e palestinos e de viabilizar as bases da própria edificação do Estado palestino
com as suas capacidades econômicas e políticas, pois o Estado brasileiro não se julga mais
dependente das grandes potências. Já na carta do mandatário brasileiro, identificamos que o
ato de reconhecimento formal do Estado palestino nas fronteiras de 1967 corresponde aos
25

valores que o Estado, o governo e a política externa brasileira respeitam, operando, portanto,
como fundamento perante a comunidade internacional, posto que muitos Estados não o
haviam reconhecido formalmente. E ainda que não tenha sido feita uma mediação
propriamente dita (talvez porque as investidas incisivas se deram justamente no último ano
do segundo mandato de Lula), o Brasil foi recebido em Israel e na Palestina, em visitas
inéditas, e recebeu um pedido para o reconhecimento formal do Estado palestino, o que revela
que o país foi validado por àquela região.
Diante disso, inferimos que o Brasil exibiu seu interesse em adentrar em temas
complexos, em intensos conflitos e em regiões sensíveis, assuntos em que as grandes
potências não estavam conseguindo qualquer conquista. Foram nessas viagens, visitas, que,
concomitantemente, foram anunciados ao mundo o potencial do Brasil (aspirante a “subir de
nível”) e construída essa imagem a partir do plano discursivo. É de se reconhecer que existem
enormes dificuldades para a despolarização em face das peculiaridades envolvendo os
Estados conflitantes e os arranjos normativos vigentes tanto em âmbito nacional quanto em
âmbito internacional. Sem contar as posições reativas das grandes potências quanto ao
destaque de potências médias que buscam uma maior influência no sistema internacional, de
maneira que acaba se esbarrando nos interesses daqueles países já consolidados, como os
EUA, sobre os “grandes temas” de seu domínio. De todo modo, defendemos que a percepção
ou compreensão de que apenas as grandes potências ou as Nações Unidas é que são atores
legítimos para desempenhar a função de equilíbrio do poder global é um valor social e
discursivamente construído, de forma que representa uma ideologia dominante das grandes
potências que hierarquiza os lugares de disputa no sistema internacional, além de constituir
um “regime de verdade”.
A ADF, por seu turno, foi essencial para compreender a percepção dos efeitos de
sentidos nos discursos examinados. Verificamos como o sentido de uma palavra, de uma
expressão, é determinado pelas posições ideológicas que se encontram em um determinado
processo sócio-histórico. Pontua-se que os sentidos aqui identificados não são os únicos.
Existem muitos outros emaranhados a serem capturados.
Sem mais delongas, concluímos que o Brasil na era Lula criou condições de diálogo,
reciprocidade, reconhecimento e paz. E a Declaração de Teerã e o reconhecimento formal da
Palestina refletem o protagonismo brasileiro em legitimar o seu papel de mediador com sua
diplomacia presidencial, baseado na “não indiferença”, na “autonomia pela diversificação” e
no “multilateralismo da reciprocidade”, os quais foram entoados nos governos Lula.

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