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AUTO-HEMOTERAPIA

A auto-hemoterapia foi descrita pela primeira vez na França, no início do século XX, como uma
proposta para curar febre tifoide e vem sendo estudada por cientistas, médicos e veterinários devido
ao seu custo/benefício.

Entretanto, tal prática ainda não tem comprovação científica de seus resultados benéficos, sendo um
procedimeno terapêutico.

A auto-hemoterapia também pode ser conhecida por outros nomes, como: imunoterapia, auto-
hemotransfusão, transfusão de sangue autólogo ou terapia do soro.

Tal técnica se dá pela extração de sangue venoso e pela posterior aplicação por via intramuscular,
subcutânea, intravenosa, tópica ocular ou peridural no mesmo indivíduo com propóstio terapêutico,
objetivando estimular o sistema imunológico do paciente animal por meio da ativação do sistema
mononuclear fagocitário (SMF).

O sangue coletado pode ser tratado ou não, com radiação UV, ozônio e outros produtos, entretanto
não existe uma sistematização precisa quanto aos seus procedimentos.

Na literatura, o assunto auto-hemoterapia é bem escasso, tanto para terapia humana como para
terapia animal. No Brasil, a técnica clássica de terapia humana mais usada consiste na coleta de 5-
20 mL de sangue por via endovenosa, da região antecubital do braço de um paciente, e do uso do
sangue por imediata reinfusão sem prévio tratamento desse sangue, por via intramuscular, no
músculo deltoide ou no glúteo do mesmo paciente de 7 em 7 dias, com o objetivo de estimular o
sistema imunológico, atuando como uma vacina autógena.

Segundo o médico Luiz Moura, na prática da auto-hemoterapia após aplicação do sangue venoso no
músculo ocorre o desencademento de uma reação de rejeição a este fluido, fazendo com que a
medula óssea produza mais monócitos e macrófagos para proteger os tecidos (passando de 5% a
22%).

O benefício de tal técnica pode ocorrer para o tratamento de certas doenças, como lúpus, doença de
Crohn, glaucoma, esclerose múltipla, púrpura trombocitopênica, entre outros, estando associados ou
não à cirurgia ou a outros tratamentos (BRITO JUNIOR et al., 2015).

Vale lembrar que a função imunológica é dividida em:

a. imunidade inata:
› barreiras químicas, físicas e biológicas;
› células especializadas em fagocitose; e
› moléculas solúveis;

b. imunidade adaptativa: depende da ativação de linfócitos e de citocinas e quimiocinas


produzida por estas.

O procedimento de coleta e inoculação de sangue do próprio paciente no espaço intramuscular


proposto no procedimento da auto-hemoterapia pode gerar, por si só, lesão tecidual e,
consequentemente, uma resposta tecidual imune inata, com fagocitose das células necrosadas e
resposta inflamatória aguda.
Na Medicina Veterinária, tal técnica é comum, de baixo custo e já apresenta sucesso na cura de
algumas doenças, sendo a mais clássica a papilomatose cutânea.

Outras doenças, como sarna demodécica e cinomose em cães, têm sido estudadas para o uso de tal
procedimento.

RELATO DE CASO

Aqui descreveremos um relato de caso específico de papilomatose canina, doença tumoral causada
pelo vírus do gênero Papillomavirus.

Essa doença tem maior incidência em cães menores de dois anos de idade, mas pode ocorrer em
qualquer faixa etária, sexo ou raça. Cães adultos imunossuprimidos são mais susceptíveis.

A forma cutânea da doença é rara, com aparecimento de massas múltiplas na cabeça, boca, pés ou
pálpebras. Na forma oral, as lesões começam com elevações lisas e brancas da mucosa,
desenvolvendo verrugas semelhantes a couve-flor nas margens labiais, na mucosa oral, no palato,
na língua, na faringe e na epiglote.

No tratamento para a forma oral agressiva, recomenda-se auto-hemoterapia, drogas


imunomoduladoras e eletrocirurgia.

Na autohemoterapira, o processo de retirada do sangue venoso do animal e sua aplicação na


musculatura provoca uma resposta imunológica inespecífica, e essa condição pode desencadear a
queda dos papilomas.

No trabalho realizado por Bambo et al. (2012), a auto-hemoterapia foi usada no tratamento da
papilomatose oral em cães (uma cadela pastor alemão, idade 5 meses, 15 kg), com aplicações de
sangue autólogo na base dos papilomas.

Não foram usados antibióticos na possível infecção secundária.

- Metodologia:

No tratamento foi feita a auto-hemoterapia a cada quatro dias, durante 24 dias, em um total
de cinco aplicações. Foi coletado sangue pela veia jugular e armazenado com EDTA (ácido
etilenodiamino tetra-acético). Depois, o sangue foi aplicado na base dos papilomas e nas áreas
circundantes.

- Resultados:
Antes do tratamento, o resultado do hemograma não mostrou alteração no eritrograma,
entretanto no leucograma foi vista uma leucocitose por neutrofilia com desvio à esquerda
regenerativo e monocitose. No último dia de tratamento, não havia mais papilomas na gengiva, no
palato, na região dorsal e ventral da língua, e nos bordos dos lábios, e o exame de hemograma
mostrou todos os resultados dentro dos valores de referências da espécie. Durante todo o
tratamento, não houve efeitos colaterais.

- Conclusões
O tratamento com auto-hemoterapia foi eficaz na regressão dos papilomas, mostrando ser
uma técnica relativamente barata, sem efeitos colaterais e de fácil aplicação.
Entretanto, mais estudos são necessários para comprovação do tratamento, uma vez que, no
trabalho apresentado, a técnica foi realizada com apenas um animal.

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