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CURSO DE GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA

CENTRO DE CIÊNCIAS APLICADAS E EDUCAÇÃO - CCAE


CAMPUNS IV DA UFPB

DISCIPLINA: FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO

Aluno: Pedro Jorge Coutinho guerra


Professor: Dr. Estevão Martins Palitot

Rio Tinto – PB
2023
ATIVIDADE: Analisar a música “O Dia em que a terra parou” de Raul Seixas,
aplicando os conceitos de fato social e solidariedade orgânica de Emile Durkheim.

Analisamos a música: “O Dia em que a terra parou” de Raul Seixas de 1977,


dentro dos conceitos de Fato Social e Solidariedade Orgânica de Emile Durkheim.
Segue a música:

Essa noite
Eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, eu sonhei
Com o dia em que a Terra parou
Com o dia em que a Terra parou
Foi assim
No dia em que todas as pessoas do planeta inteiro
Resolveram que ninguém ia sair de casa
Como que se fosse combinado, em todo o planeta
Naquele dia ninguém saiu de casa
Ninguém.
O empregado não saiu pro seu trabalho
Pois sabia que o patrão também não tava lá
Dona de casa não saiu pra comprar pão
Pois sabia que o padeiro também não tava lá
E o guarda não saiu para prender
Pois sabia que o ladrão também não tava lá
E o ladrão não saiu para roubar
Pois sabia que não ia ter onde gastar
No dia em que a Terra parou (Ê!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou
E nas Igrejas nem um sino a badalar
Pois sabiam que os fiéis também não tavam lá
E os fiéis não saíram pra rezar
Pois sabiam que o padre também não tava lá
E o aluno não saiu para estudar
Pois sabia, o professor também não tava lá
E o professor não saiu pra lecionar
Pois sabia que não tinha mais nada pra ensinar
No dia em que a Terra parou (Ê!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou
O comandante não saiu para o quartel
Pois sabia que o soldado também não tava lá
E o soldado não saiu pra ir pra guerra
Pois sabia que o inimigo também não tava lá
E o paciente não saiu pra se tratar
Pois sabia que o doutor também não tava lá
E o doutor não saiu pra medicar
Pois sabia que não tinha mais doença pra curar
No dia em que a Terra parou (Ô, yeah!)
No dia em que a Terra parou (Foi tu)
No dia em que a Terra parou (Ô-ô!)
No dia em que a Terra parou
Essa noite
Eu tive um sonho de sonhador
Maluco que sou, acordei
No dia em que a Terra parou (Oh yeah!)
No dia em que a Terra parou (Ô!)
No dia em que a Terra parou (Eu acordei)
No dia em que a Terra parou (Acordei)
No dia em que a Terra parou (Justamente)
No dia em que a Terra parou (Eu não sonhei acordado)
No dia em que a Terra parou (Êêê!)
No dia em que a Terra parou
No dia em que a Terra parou (Oh yeah!)
(RAUL SEIXAS. Álbum. O dia em que a Terra parou, 1977).

Desta maneira, após a leitura da música passemos a relações dos conceitos de


Fato Social e Solidariedade em Durkheim. Antes disso, é importante contextualizarmos
o leitor sobre as origens da música e contexto social. A letra de “O Dia em que a Terra
Parou” foi escrita ainda na década de 1970 e voltou a ser muito reproduzida nos últimos
anos. O ano era 1977 e o Brasil lidava com as consequências de um governo militar.
Raul Seixas estava lançando essa canção baseada em um filme de ficção científica feito
em um longínquo 1951. O dia em que a Terra parou (1977) trata-se de uma recepção do
filme, de mesmo título (1951), norteamericano, do gênero ficção científica, dirigido por
Robert Wise. A referida obra cinematográfica narra a visita de um ser alienígena à Terra
e o seu apelo para a paz entre os povos do planeta, em meio a um contexto histórico de
ameaça de conflitos bélicos na denominada Guerra Fria. Para demonstrar sua força, o
referido alienígena provoca uma pane em todos os aparelhos elétricos da Terra, com
exceção daqueles essenciais à vida, como os de hospitais e de aviões em voo. Enredo
esse relacionado ao tema dos discovoadores tão caro na vida e na produção lítero-
musical de Raul Seixas1.
Basicamente, a letra criticava a situação política do país. O período era de forte
tensão e uma crítica poderia resultar em graves problemas para o cantor, como ocorreu
com uma série de artistas que precisaram se exilar em outras nações.
Todavia, Raul era um exímio compositor e conseguia transmitir as suas ideias
com uso de metáforas poderosas e “O Dia que a Terra Parou” não fugiu dessa regra. No
começo da canção, o compositor relata que teve um “sonho”, e que por ser tão louco
sonhou com uma coisa que seria improvável de ocorrer: um dia em que o planeta
parasse.
Esse verso servia tanto para a dificuldade que o Brasil encarava quanto para o
caos instaurado em todo o mundo, devido à Guerra Fria. Nos outros versos, o cantor
realizou comparações entre classes sociais e profissões, como estudante e professor,
dona de casa e padeiro, entre outras.
Outra relação proposta pelo cantor foi de crise e ostentação. Por exemplo, o
Maluco Beleza chega a dizer que “os médicos não saíram para trabalhar”. No final da
canção, o artista acorda do sonho. Nas distopias, em geral, inclusive na retratada por
Raul Seixas, são contextualizados cenários assustadores e pessimistas, governos
totalitários e cidadãos privados de seus direitos fundamentais. Esse conceito, por vezes,
é relacionado às histórias futurísticas, nas quais, pelo declínio da sociedade e da
natureza, cria-se um cenário ideal para regimes ditatoriais.
Portanto, em sua relação com o fato Social de Emile Durkheim, podemos defini-
lo em toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma

1
NERY, Emília Saraiva. História, pandemia, distopia e utopia - Um estudo a partir do dia em que a terra
parou (1977) /o corona acabou (2020) de Raul Seixas e Tom Cavalcante. Anais... ANPUH - brasil. 31º
simpósio nacional de história. Rio de Janeiro/RJ, 2021.
coerção exterior. Em palavras mais simples, ele entende como fato social qualquer
norma que é imposta aos indivíduos pela sociedade. Assim, o teórico considera que
nosso comportamento não é influenciado apenas pelas normas escritas, rígidas e com
previsão de sanções. O indivíduo que vive em determinada sociedade recebe influências
e orientações que, muitas vezes, são implícitas, assim seja, a sociedade é um conjunto
de normas de ação, pensamento e sentimento que não existem apenas na consciência
dos indivíduos, que são construídas exteriormente, isto é, fora das consciências
individuais.
Na vida em sociedade o homem defronta com regras de conduta que não foram
diretamente criadas por ele, mas que existem e são aceitas na vida em sociedade,
devendo ser seguidas por todos. As sociedades apresentam uma estrutura de relações e
de vínculos recíprocos que o autor denomina de solidariedade. A solidariedade social só
pode funcionar se existem formas de controle e de constrangimento aplicáveis aos
indivíduos que não respeitam as regras em vigor e ameaçam a coesão social. Essa
análise das relações entre o indivíduo e o grupo o qual eles vivem, objetivou analisar e
entender as razões de solidariedade entre as pessoas, de onde vem esta coesão e como se
conserva.
A canção de 1977, composta em parceria com Claudio Roberto, demonstra a
transformação figura o papel de uma espécie de produção destrutiva da vida social. A
ideia de suspensão dos papéis sociais vem com o intuito de demonstrar que como os
papeis sociais são criados, por nós, eles podem ser destruídos.
Isso tudo nos faz pensar em um conceito que aparece em Ciências Sociais:
sociedade. Muitas vezes falamos da sociedade como se nós mesmos não
participássemos dela. Seríamos, de um lado, indivíduos autônomos e de outro haveria
esse ser abstrato que nomeamos sociedade que nos tenta impor o que fazer e pensar. No
entanto, podemos pensar a sociedade não como algo que se nos impõe de fora, mas
como uma rede de relações de que, necessariamente, participamos e da qual sempre
dependemos. Em um momento como o nosso isso fica evidente. Dependemos do
trabalho de outras pessoas, dos cuidados dos nossos familiares, do ensino dos nossos
professores e também contribuímos com a rede com as nossas atividades. Isso, contudo,
não significa que as sociedades sejam redes de colaboração espontâneas e livres de
quaisquer coações. Pelo contrário. O estudo da antropologia em Ciências Sociais nos
mostra que em todas as sociedades de classe sempre houve relações de dominação
econômicas, de gênero, raciais. Os grupos e as classes sociais, por necessidade,
estabelecem relações em que uma parte sobressai como dominante. Dinâmica que
muitas vezes leva aos conflitos que chamamos de luta de classes.

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