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André Arêa Página |1

ESTUDO BÍBLICO
Rev. André Arêa

Data: 09/07/20
Local: IP Mutuaguaçu
Tema: O Anúncio a José e Nascimento de Jesus
Texto Bíblico: Mateus 1.18-25

LEITURA BÍBLICA
Mateus 1.18-25

18
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim:
estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem
que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo
Espírito Santo.
19
Mas José, seu esposo, sendo justo e não a
querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente.
20
Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe
apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo:
José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito
Santo.
21
Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de
Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados
deles.
22
Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o
que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta:
23
Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e
ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer
dizer: Deus conosco).
24
Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o
anjo do Senhor e recebeu sua mulher.
25
Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à
luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.
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INTRODUÇÃO

Alguém disse que o dia mais importante da existência humana não


foi quando o homem pôs os pés na lua, mas, sim, quando o Filho de
Deus pôs os pés na Terra.
Estamos diante do evento mais importante, mais profundo e
sublime da história da humanidade, e antes de prosseguirmos,
devemos atentar às palavras de Matthew1:
“O mistério da encarnação de Cristo deve ser venerado, e não
visto com curiosidade. Se não conhecemos o caminho do Espírito
na formação das pessoas comuns, nem como os ossos são formados
no útero daquela que está grávida (Ec 11.5), muito menos sabemos
como o bendito Jesus foi formado no ventre da virgem bendita.
Quando Davi se admira de como ele próprio foi feito em segredo e
curiosamente formado (Sl 139.13-16), parece que ele está falando
no espírito da encarnação de Cristo.”

1. O início da história
18
Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim:
estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem
que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo
Espírito Santo.
Aqui, Mateus inicia o relato da seguinte forma: “Ora, o
nascimento de Jesus Cristo foi assim...”. O que já estava implícito
na genealogia, agora Mateus explicita aqui: o Filho de Deus de fato
veio a este mundo.
O objetivo de Mateus aqui não é satisfazer a curiosidade dos
historiadores fornecendo-lhes detalhes do nascimento de Jesus, mas,
sim, chamar a atenção para certos aspectos da história do
nascimento de Cristo evidenciando que as profecias do Antigo
Testamento referentes a Ele haviam se cumprido plenamente.
Não se esqueça: Mateus escreveu o Evangelho visando os judeus 2.

1
HENRY, 2008, vol.5, p.4.
2
Cf. TASKER, 2006, p.26.
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2. A instituição do casamento naqueles tempos


18
...estando Maria, sua mãe, desposada com José,
sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida
pelo Espírito Santo.
Naqueles tempos a instituição do noivado/casamento era diferente
dos nossos dias.
Geralmente, um casal era prometido um ao outro já na infância e
eles cresciam sabendo do compromisso assumido pelas famílias.
Chegando à idade apropriada, acontecia os esponsais, um
compromisso de noivado (muito mais rigoroso que o dos nossos dias),
o qual só poderia ser desfeito mediante um processo de divórcio caso
fosse encontrado coisa indecente num dos cônjuges (cf. Dt 24.1), tal
como relação sexual com outra pessoa (o que era considerado como o
adultério dentro de um casamento).
Durante o noivado o casal ficava separado sem ter qualquer
contato
um com o outro. No dia estipulado para o casamento, a noiva
aguardava o noivo na casa de seu pai, enquanto as famílias estavam
reunidas num outro lugar preparando-se para uma festa que durava
dias.
O noivo, então, acompanhado de seus amigos mais chegados, saía
pelas ruas da cidade ao som de instrumentos musicais, indo à casa do
pai da noiva buscá-la. Juntos, eles iam para o local da festa, e lá, na
presença de todos, retiravam-se para uma tenda preparada para os
dois, e ali consumavam o casamento por meio das núpcias.
O tempo entre o noivado e o casamento era para que qualquer
suspeita fosse desfeita, especialmente em relação à mulher. Se ela
estando longe de seu noivo viesse a engravidar, de outro homem, ou
mesmo do seu noivo que a tivesse visitado neste período, deveria
sofrer as sanções da Lei.
Se fosse provado que os dois tivessem fornicado neste período,
ambos sofreriam as sanções.
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3. O drama de José
19
Mas José, seu esposo, sendo justo e não a
querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente.
José é chamado de “seu esposo” (de Maria), mas, ele “não a
conheceu, enquanto ela não deu à luz a um filho...” (v.25). O verbo
“conhecer” (γινώσκω), literalmente, é: “saber, tomar
conhecimento sobre algo”, mas, eufemisticamente3 é usado para
“relações sexuais”4. Isso confirma tudo o que dissemos sobre o
noivado e casamento naqueles tempos.
Pense agora, em José. Sua noiva/esposa estava grávida e o filho
não era dele. O anjo Gabriel havia revelado a Maria que ela seria a
mãe do Messias, e que, sua fecundação seria algo sobrenatural “pelo
Espírito Santo” (ver Lc 1.26-27). As suspeitas e escândalos em torno
de uma moça solteira (ainda que noiva de alguém) que fosse
encontrada grávida apontava para um único motivo: fornicação.
Embora nenhum dos evangelistas afirme que Maria contara a José
o ocorrido, não é exagero algum, afirmarmos que ela o tenha feito.
No momento em que José ficou sabendo que sua noiva/esposa
estava grávida, a única coisa que passou pela sua cabeça
provavelmente foi: “Maria me traiu”.
A expressão “sendo justo” (δίκαιος ὢν) refere-se ao caráter
José, ou ao que ele devia fazer, isto é, não expor Maria sem ter todos
os fatos esclarecidos? Creio que um pouco de ambas.

4. O justo a ser feito era ter todos os fatos esclarecidos


para que um julgamento correto da situação pudesse ser
feito.
3
O eufemismo é um recurso gramatical e literário que tem como objetivo suavizar o significado de uma
palavra. Por exemplo: para não soar rude dizendo que José e Maria “tiveram relações sexuais” (o que
expõe a intimidade de um casal de forma indevida), Mateus diz que eles “não se conheceram”,
subentendendo “conhecer intimamente”.
4
Cf. GINGRICH-DANKER, 1993, p. 47.
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Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe
apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo:
José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito
Santo.

Somente que é justo em seu caráter se preocupa em executar a


justiça; quem não o é sai imediatamente vindicando “justiça
própria”, isto é, se José não fosse justo, ele pensaria somente em si e
pouco se importaria com Maria e a criança, mas, tão somente com a
sua própria honra.
Embora ele planejasse divorciar-se5 dela, e isso secretamente,
José não o fez de imediato. William Hendriksen faz o seguinte
comentário6:
“Ele amava Maria e queria tê-la consigo como sua esposa, porém,
acima de tudo, ele era um homem justo (cf. Jó 1.8; Lc 1.6), um
homem de princípios, que de todo o coração queria viver de
conformidade com a vontade de Deus, o Deus que levava tão a
sério a quebra dos votos matrimoniais. Contudo, José era também
um homem bom. Segundo o costume da época, duas avenidas se
abriam diante dele: (a) estabelecer uma demanda judicial contra
Maria; ou (b) entregar-lhe uma carta de divórcio, despedindo-a
silenciosamente, ou seja, sem envolvê-la em qualquer
procedimento judicial (ver Dt 24.1,3 e Mt 5.32).”
Escolhendo a segunda alternativa...
20
Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe
apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo:
José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua
mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito
Santo.

Deus nunca deixa os Seus servos sem a compreensão dos Seus


propósitos santos na vida de cada um deles. Ao chamar José de “filho
5
A expressão “resolveu deixa-la secretamente”, não quer dizer que ele estivesse escondendo-a para
protege-la, mas, sim que realmente queria se divorciar dela. O verbo “deixar” aqui é ἀπολύω e além de
significar “libertar, perdoar, livrar, deixar ir”, eufemisticamente, como aqui em Mt 1.19, significa
“divorciar”.
6
HENDRIKSEN, 2001, vol.1, p.187.
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de Davi”, o anjo lhe mostra que o Messias que estava sendo gerado no
ventre de Maria receberia da parte de José a linhagem de Davi.
E assim, mais uma vez Mateus mostra que em Jesus essas profecias
se cumpriram.
O anjo lhe diz para não temer levar Maria para sua casa e toma-la
por sua mulher que de fato era, pois, tudo o que estava acontecendo
era a concretização da profecia mais importante da história humana.
Assim, o anjo tranquiliza José mostrando-lhe que Maria não foi
infiel, mas, sim, fazia parte de um plano maior: trazer ao mundo o
Salvador.

5. A razão de tudo isso


No v.21 lemos:
21
Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de
Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados
deles.
O anjo deixou bem claro que Seu nome seria Jesus. Esta é a
variação grega do nome hebraico Josué, que significa “YAHWEH é
Salvação”. Havia muitos meninos judeus com o nome “Josué”, mas,
somente o filho de José e Maria tinha um título que se tornou Seu
nome: Cristo.
Assim,
“Jesus” é o Seu nome humano, e, “Cristo” (“Ungido”), é o Seu título
divino, porque Ele é o Deus-Homem.
Há um outro Nome mencionado aqui em relação a Jesus Cristo:
Emanuel, que quer dizer “Deus conosco” (cf. Is 7.14; 8.8).
Todas as religiões alimentam a esperança de um dia um de seus
deuses por os pés neste mundo. Algumas (como a mitologia grega) até
se atrevem a afirmar que isto aconteceu.
Contudo, somente o Evangelho e o “povo do livro” (Bíblia) pode
ter a certeza que o Seu Deus um dia esteve aqui.
Jesus Cristo seria chamado, reconhecido como o “Deus conosco”.
Ele tem as Suas mãos uma em Deus e outra em nós (1Tm 2.5); Nele as
duas naturezas, a Divina e a Humana coexistem em perfeita harmonia
(Cl 2.9).
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Jesus Cristo veio ao mundo para salvar o povo de Deus (os eleitos
Dele) “dos pecados deles”.
É certo que temos outros inimigos: Satanás e seus demônios, o
sistema corrupto e corrompido deste mundo, a morte, mas, todos
estes inimigos só tem força sobre nós por causa de outro inimigo, o
principal, que nos destrói gradativa e totalmente, a saber, o
pecado.
Jesus veio para destruir o pecado e nos dar a salvação.
A nossa salvação, desde o Antigo Testamento é descrita como um
ato exclusivamente Divino. Não tínhamos (e não temos) em nós
mesmos qualquer condição de nos salvar. Não Deus tomar a iniciativa,
ainda estaríamos mortos em delitos e pecados (cf. Ef 2.1).
Mas o que significa “ser salvo”?
 Ser liberto do maior de todos os males – a culpa, a corrupção,
o poder e o castigo do pecado;
 Receber a posse do maior de todos os bens, a vida eterna.

Não podemos nos esquecer que ninguém há que seja salvo do


pecado, sem que também o seja para uma vida de santidade e
pureza.
Não faz sentido alguém dizer que é salvo em Cristo Jesus e
continuar no mesmo estilo de vida pecaminoso e corrompido de
outrora.

6. A base de tudo isso


22
Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o
que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta:
23
Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e
ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer
dizer: Deus conosco).
Nos v.22-23 Mateus mais uma vez declara que em Jesus se
cumpria as profecias do Antigo Testamento referentes ao Messias
(Cristo), e aqui especificamente, a de Is 7.14.
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A expressão “...para que se cumprisse o que fora dito pelo


Senhor por intermédio do profeta” é emblemática no Evangelho de
Mateus, mostrando que Deus está no controle de tudo como podemos
ver no contexto de Is 7.14.
Um pouco mais de sete séculos antes de Cristo, uma coligação
entre o rei de Israel (Peca) e o rei da Síria (Rezin) foi feita para
derrubar o rei de Judá, Acaz, e sua dinastia. Se tal plano tivesse dado
certo, a dinastia davídica estaria arruinada, e o Messias não teria como
vir ao mundo, pois, é dito que o Messias é “filho de Davi” (Mt 1.1).
Mas, a história é o palco da vontade de soberana de Deus. Quem
determina os atos dessa peça é o Seu Autor Divino e não as
personagens.

7. A obediência e o caráter de José


24
Despertado José do sono, fez como lhe ordenara o
anjo do Senhor e recebeu sua mulher.
25
Contudo, não a conheceu, enquanto ela não deu à
luz um filho, a quem pôs o nome de Jesus.
Os vs. 24-25 encerram destacando a obediência completa de José
que pode ser classificada como: inteira, interna e imediata.
Ele não ficou questionando e nem mesmo duvidou do que o anjo
lhe falara em sonho. Em vez disso, “fez como lhe ordenara o anjo do
Senhor e recebeu sua mulher”(v. 24).
Além disso, assim que o menino nasceu, ele cumprindo a ordem
divina, Lhe pôs o nome de Jesus. Matthew Henry diz7:
Note que aquilo que é concebido pelo Espírito Santo nunca
fracassa, mas certamente será trazido à luz em seu devido tempo.
O que é da vontade da carne e da vontade do homem,
frequentemente fracassa; mas, se Cristo estiver consolidado na alma,
o próprio Deus inicia a boa obra que Ele realizará; o que é concebido
na graça, sem dúvida nascerá em glória.
Mas, também é digno de nota o seu caráter. Ele não teve relações
sexuais com Mari enquanto ela esteve grávida. As razões para isso não

7
HENRY, 2008, vol.5, p.8.
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nos são informadas nas Escrituras, mas, com toda certeza José estava
agora demonstrando sua preocupação com o menino Jesus. Para que
ninguém acusasse que Jesus era filho de José, humanamente falando,
José poderia alegar com sã consciência que ele não havia coabitado
com sua esposa enquanto o menino não nasceu.

8. O caráter de José exalta a glória de Deus.


Quanto à afirmação infundada da “perpétua virgindade de
Maria” apregoada pela igreja de Roma, não devemos tomar nosso
tempo com fábulas.
O exercício imaginativo que esta igreja faz para garantir que Maria
seja digna de louvor e veneração passa dos limites do absurdo. O texto
aqui é claro em dizer que José não teve relações sexuais com a sua
esposa “enquanto ela não deu à luz”, o que deixa implícito que
depois eles viverem maritalmente como qualquer outro casal, vindo,
inclusive a ter outros filhos (Mt 12.46; 13.55-56; Mc 6.3; Jo 7.3,5; At
1.14).

Ao tomar Maria como sua esposa, José levou seu filho como seu
filho adotivo; é assim que Jesus tornou-se o herdeiro legal do trono
de Davi.

Para Pensarmos e Praticar

O Evangelho é a história da nossa salvação efetuada por Deus


através de Jesus Cristo, o Seu Filho amado. Ele nos comprou do nosso
antigo senhor e dono, o pecado, com Seu sangue precioso, e, nos
transformou em Seus servos.
Nunca seremos livres. Outrora éramos escravos do pecado; hoje
somos de Cristo. Aleluia!
E isto implica como vimos, num viver santo diante Dele. Ninguém
há que tendo sido salvo por Cristo continua escravo do pecado.
Rev. André Arêa P á g i n a | 10

Devemos abandonar todo o nosso ímpeto de autojustiça. Que a


exemplo de José, não saiamos impulsivamente defendendo nossa honra
às custas de infamar outras pessoas.
Que busquemos em Deus a nossa defesa, e não só isso, mas,
também o esclarecimento dos fatos.

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