Você está na página 1de 5

AVALIAÇÃO DE UM POSTO DE TRABALHO EM UM

FRIGORÍFICO DE AVES.

Marco Antonio Sant’Ana


Docente da Universidade Paranaense – UNIPAR – Umuarama – PR, Mestrando em Engenharia de Produção.

Carlos Augusto Pereira Walger


Médico do Trabalho, Mestrando em Engenharia de Produção

AN EVALUATION OF A WORKING PLACE IN A CHICKEN SLAUGHTERHOUSE


We aimed to analyze a working place in a chicken slaughterhouse, associating the posture
to the activity. The work place is a chicken reception where the workers present eight
different positions. The first worker open the boxes, organizes and hangs the chickens. The
second to the seventh workers must to catch all the chickens from the boxes and to hang
them. The eighth worker must verify if the boxes are empty. We can verify so many
repetitive movements of arms, hands and trunk while the stand up position keep the worker
stopped at the same place. The conclusion is a prevailing ache in shoulders, fists and
cervical/lumbar/sacrum spine, presenting different results than observed before. So, based
in this dataset, a medical examination must be executed, using anthropometrical analysis
and dynamometry.

KEY WORDS: activity; posture; repetition.

1 – Introdução
A capacidade de analisar eficazmente uma habilidade motora requer um
conhecimento da natureza e do propósito da habilidade em questão (HALL, 1993). Na
Biomecânica, sem o entendimento correto da habilidade, podemos ter dificuldades em
identificar os fatores que contribuem para o desempenho e podemos interpretar mal os
dados coletados.
A ergonomia, vemos que é considerada como um conjunto de conhecimentos,
relativos ao homem em atividade, que nos permite desenvolver ferramentas, máquinas,
espaços e os próprios sistemas de trabalho, para que estes traduzam o máximo de conforto,
segurança e eficiência (UFSC, 2001). Nessa relação a Biomecânica é utilizada pela
Ergonomia para fazer avaliações das atividades no trabalho.
A análise ergonômica do trabalho (AET) não se restringe à análise do trabalho
prescrito cujos objetivos e os métodos são definidos por instruções. A partir do trabalho
prescrito os trabalhadores organizam suas atividades, em função de múltiplos fatores. É
este trabalho real que constitui o objeto principal da análise ergonômica do trabalho (INRS,
1993). A análise vai além do estudo da tarefa buscando encontrar o trabalho real, como
sendo a atividade desenvolvida pelo operador, o que extremamente útil, podendo assim,
descrever com maior certeza as características do trabalho real.
Direcionando a avaliação feita, entendemos que o estudo do campo médico e
ergonômico indicam que a postura em pé e sentado são algumas vezes acompanhado de
dores nos músculos e tecidos conectivos dos tendões, cápsulas articulares e ligamentos. Há
evidência que tais dores possam se tornar os sintomas de doenças crônicas e de ordem

1
reumáticas. Recente pesquisa ortopédica aponta que os trabalhadores, por estarem de pé e
ou sentado provocam pressão intradiscal (WHISTANACE et al. 1995).
Ainda WHISTANACE et al. (1995), diz que a relação entre dor muscular-esquelética
e desconforto devido a postura, utilização de força, peso estático e abusos inconvenientes é
amplamente aceita como um indicador de design ruim no local de trabalho. Uma pesquisa
a respeito de desconforto foi conduzida em uma indústria de aves para priorizar áreas de
intervenção ergonômica e para determinar se algumas regiões de desconforto têm relação
com os tipos de trabalhos/tarefas levadas a cabo (STUART-BUTTLE, 2001).
Segundo STUART-BUTTLE (2001), na sua pesquisa dos 65% que relataram
desconforto, as costas tiveram a média mais alta em termos de intensidade máxima,
seguidas pelo braço, contrariamente ao índice de freqüência das regiões do corpo.
Para realizar a tarefa, com os meios disponíveis e nas condições definidas, o
operador desenvolve uma atividade. A atividade é a resposta do indivíduo ao conjunto
destes meios e condições, caracterizada pelos comportamentos reais do mesmo em seu
local de trabalho. Os comportamentos podem ser físicos, tais como gestos e posturas, ou
mentais, representados por competências, conhecimentos e raciocínios que guiam os
procedimentos realmente seguidos.
WISNER (1987) afirma que a abordagem ergonômica não mais considera o homem
de um lado e o dispositivo de trabalho de outro e sim a sua inter-relação na qual "o homem
e sua máquina estão ligados, de um modo determinante, a conjuntos mais vastos, em
diversos níveis". Desta forma, é estudado o conjunto formado pelo trabalhador e seu posto
de trabalho, ou vários trabalhadores e o dispositivo técnico, considerando as estruturas
técnicas, econômicas e sociais nas quais estão inseridos.
A atividade de trabalho, como salientam SANTOS et al (1997), é a mobilização total
do indivíduo para realizar a tarefa que é prescrita. Trata-se, então, da mobilização das
funções fisiológicas e psicológicas de um determinado indivíduo num determinado
momento. O estudo da atividade de trabalho é o centro da abordagem ergonômica. É a
compreensão das principais características da atividade de trabalho que permite à
Ergonomia elucidar, de um lado, certos efeitos do trabalho sobre a saúde daqueles que o
executam e de outro lado, certas características do desempenho, constituída pelo resultado
do trabalho.
Para as nossas observações o objetivo deste trabalho foi analisar a situação de um
posto de trabalho em um frigorífico de aves relacionando a postura à atividade. A atividade
de trabalho produz um certo resultado (quantitativo e qualitativo) e efeitos sobre o
operador: efeitos medidos (freqüência cardíaca), observados (modificação da postura),
exprimidos (satisfação/dor). O resultado obtido e os efeitos gerados fazem modificar a
atividade do operador. A atividade modifica, também, o operador: a prática de uma
profissão permite adquirir experiências, hábitos, mas também modificações fisiológicas.

2 - Material e Métodos
O local de avaliação refere-se à recepção de frangos em um frigorífico de aves do
município de Palotina-PR. A amostra se caracteriza por um grupo de 8 funcionários que
trabalham na “pendura”. Os frangos vem encaixotados sobre uma esteira passando pelos
funcionários, estes devem abrir a caixa, retirar o frango e pendurá-los na nória, por onde
seguem para o abate. O local de trabalho tem oito posições com algumas diferenças que
serão descritas a seguir.
A primeira posição refere-se ao responsável por abrir as caixas com frango, arrumar
os frangos colocados por outros funcionários e ainda pendurar frangos quando há tempo.
Na segunda posição o funcionário deve retirar frangos da caixa, pendurá-los e auxiliar o
primeiro funcionário à arrumar os frangos no gancho. Da terceira à sétima posição, os
cinco funcionários devem dar conta de retirar todos os frangos das caixas e pendura-los. O

2
oitavo funcionário é responsável por impedir que fiquem frangos dentro das caixas, tendo
que retirar qualquer frango que passe pelos outros sete funcionários.
Cada funcionário fica, aproximadamente, 20 minutos em cada uma das 8 posições,
totalizando 2h40min de atividade na “pendura” dos frangos. Nesse período são pendurados
aproximadamente 8.500 frangos por hora, resultado da pendura de 16 frangos por minuto
para cada funcionário.
A esteira por onde passam as caixas tem 80 cm de altura e 60 cm de largura, na parte
frontal da bancada existem duas barras de ferro, impedindo que o funcionário encoste na
esteira. A altura da nória é 45 cm na parte inferior e 60 cm na parte superior, tendo como
base a caixa sobre a esteira. Após a caixa estar vazia segue para o tanque de lavagem.
Fotografamos as posições dos funcionários durante o expediente normal. Foi
utilizado para a observação, uma máquina fotográfica, marca Pentax, modelo auto focus
PC-50, com filme de 35mm, ASA 100, flash embutido e pilhas alcalinas. Foram escolhidas
3 fotos para ilustrar a situação, também para que a situação dos movimentos executados
pelos funcionários seja mais expressiva. As fotos foram tiradas em 16 de março de 2001,
entre 14:00 e 16:00 horas, durante o segundo turno de recepção de frangos do frigorífico.

3 - Resultados e Discussão
O estudo e a análise dos parâmetros de movimento de uma articulação individual e
múltipla articulações proporciona informações úteis para comprreender um movimento
básico ou uma habilidade esportiva/ocupacional. Identificando a seqüência de movimento
articulares simples que se combinam para produzir uma habilidade esportiva ou
movimento complexo, pode-se ter uma compreensão mais clara dos requisitos para o
condicionamento e ênfase na técnica (HAMILL & KNUTZEN, 1999).
Na figura 1 vemos o funcionário em posição ortostática, visto pelo plano sagital. Na
sua frente está a bancada e caixas na altura do quadril e a nória na altura dos olhos. Na
figura 2 observa-se os funcionários nas posições estabelecidas de 1 a 8.
Podemos verificar que os movimentos são executados principalmente no plano
sagital com relação à extensão e flexão dos braços e antebraços, também temos que
observar os movimentos de flexão, extensão e hiperextensão da mão, assim como a flexão
e extensão dos dedos. A cabeça sofre extensão e flexão assim como o tronco. Verificamos
a necessidade de execução dos movimentos de abdução e adução e supinação e pronação
da escápula. No braço ainda temos abdução e adução, rotação medial e lateral e elevação
da escápula, na mão há adução e abdução, assim com os dedos. A cabeça faz rotações para
direita e esquerda e também o tronco. Lembramos que esses movimentos se repetem em
uma média de 16 vezes por minuto durante 2h40min, provavelmente estas situações
compreendem o grande número de queixas de cervicalgias, dores nos punhos e ombros.
BRIDGER et al. (1992) descobriu que o gênero dos indivíduos tem um efeito
estatisticamente significante em relação ao ângulo lombar, na medida angular da curvatura
lombar. Para fundamentar a ação dos movimentos da coluna, acredita-se que a lordose
lombar completamente estendida enquanto o indivíduo está de pé é maior em indivíduos
do sexo masculino do que em mulheres. Estes resultados sugerem que pode haver
diferenças de gênero em adaptação de postura, particularmente em inclinação pélvica. No
local observado, atualmente só homens trabalham na pendura, as mulheres apresentavam
muitas queixas de dor, mesmo assim, há homens reclamando da algias.
A distância de tarefa tem de fato um efeito significante na postura, particularmente
na flexão de tronco, flexão de quadril, inclinação pélvica, inclinação de tronco e flexão de
pescoço, que pode ser evidenciada nas figuras 1, 2 e 3.
A flexão do tronco é parecida com a inclinação de tronco, embora a primeira seja
dependente da orientação da pélvis. A flexão do tronco aumenta substancialmente quando
a distância de tarefa é sob tensão (WHISTANCE et al. 1995).

3
A adaptação da postura para a distância de tarefa aumentada é caracterizada através
da flexão aumentada da região lombar (flexão de tronco) e aumenta a flexão do quadril,
considerando a inclinação pélvica aumentada. Fato que não pode ser observado tendo em
vista as condições da avaliação com os trabalhadores uniformizados.
Embora tenha havido alguma inclinação pélvica posterior associada à redução de
lordose, a alta carga imposta pela flexão dianteira pode explicar em parte porque a posição
não foi percebida como significativamente mais confortável. O desconforto nesta posição
também pode ser explicado pela postura como um todo por ser mais flexionada em um
lado do que do outro, resultando uma posição assimétrica.
Enquanto que a distância de tarefa sob tensão resulta em menos flexão de pescoço,
isto também requereu mais flexão do tronco, mais inclinação pélvica e mais flexão de
quadril. Isto sugere que uma distância de tarefa ideal deveria ser um compromisso entre as
duas distâncias de tarefa, reduzindo a flexão do pescoço e a cifose torácica enquanto que
ao mesmo tempo reduzir-se-ia a flexão de tronco e dos quadris.
Um fato que deve ser aprofundado é o estudo sobre a cintura escapular. Na
causuística do médico do trabalho da empresa as dores mais freqüentes são as dores no
ombro e punho depois as dores cervicais e lombo-sacral.

4 - Conclusão
A primeira constatação foi que o trabalho em pé estático, movimentos repetitivos
dos membros superiores e tronco com postura inadequada.
A prevalência de algia da amostra estudada foi ombro, punho, coluna cervical e
coluna lombo-sacra.
Com o intuito de amenizar e tentar excluir as possíveis dores, deve-se concretizar
um estudo ergonômico, procurando melhorar posto de trabalho e com um exame médico
fazer uma análise antropométrica e dinamométrica, possibilitando saber qual as
capacidades físicas dos trabalhadores e adotar ações de melhoria na qualidade de vida.

5 - Referências
BRIDGER. R. S.; ORKIN. D.; HENNEBERG. M. A quantitative investigation of lumbar
and pelvic postures in standing and sitting: intelTelationships wilh body position and hip
muscle length. Internarional Journal of Industrial Ergonomics. 9, 235-244, 1992.
HALL, Susan. Biomecânica Básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.
HAMILL, Joseph; KNUTZEN, Kathlenn, M. Bases Biomecânicas do Movimento Humano.
São Paulo: Manole, 1999.
INRS: Institut National de Recherche et de Sécurité. Ergonomie et Prévention, Paris, 1993.
KAMEL, J. A.; SANT’ANNA, A.A.S.; GUIMARÃES, J.H. D. Análise Ergonômica de
Posto de Trabalho de um Encarregado de Testes de Bombas Industriais.
SANTOS, N.; DUTRA, A.R.A.; FIALHO, F.A.P.; PROENÇA, R.P.C.; RIGHI, C. R.
Antropotecnologia, a ergonomia dos sistemas de produção. Curitiba: Gênesis, 1997.
STUART-BUTTLE, C. muscular-esquelético, pesquisa sobre desconforto, indústria de
aves, vigilância médica, monitoramento. UFSC. Disponível em:
http://www.eps.ufsc.br/~moro/resumos.htm, Acesso em: 05/04/2001.
UFSC. Ergonomia. Disponível em: http://www.reitoria.ufsc.br/prpg/posgrad/index.html,
Acesso em: 05/04/2001.

4
WHISTANCE, R. S.; ADAMS, L. P.; VAN GEEMS, B. A.; BRIDGER, R. S. Adaptações
de postura para modificações de banca de trabalho em pé dos trabalhadores. Ergonomics,
Cidade do Cabo. África do Sul. v.38, n.12, 2485-2503, 1995.
WISNER, A. Por dentro do tabalho. Ergonomia: método & técnica, São Paulo: FTD,
1987.

1 2 3

Figura 1: Postura de todos os funcionários das posições do setor de “pendura”, posição 1.


Figura 2: Seção de pendura de frangos, com 8 posições.Figura 3: Funcionário com braço
elevado segurando frango e pendurando-o na nória

Você também pode gostar