Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo: O tratamento inadequado dos resíduos sólidos gera problemas ambientais, sociais e
econômicos em todo o Brasil. Dentre os resíduos gerados, com degradação lenta e grande
volume de ocupação em aterros devido a sua incompressibilidade, destacam-se as cascas de
coco verde. Estudos apontam que as fibras do mesocarpo apresentam potencial para diversas
aplicações. Uma delas é a adição em matrizes cimentícias. Assim, esse trabalho tem como
objetivo avaliar experimentalmente a influência da adição da fibra de coco verde em blocos de
concreto para pavimento intertravado, verificando se o produto atende aos requisitos mínimos
da NBR 9781: 2013. Foram fabricados em laboratório blocos de concreto com três traços:
blocos de referência (sem adição de fibras) e blocos com adição de 0,3% e 0,5% de fibras em
volume. Foram feitos ensaios de aspecto visual, avaliação dimensional, absorção de água e
resistência à compressão. Os resultados mostraram que a adição de fibras de coco verde em
blocos de concreto para pavimento intertravado diminui a resistência à compressão em relação
à referência. Os demais ensaios apresentaram resultado dentro do estabelecido pela norma.
Considerou-se, portanto, que a utilização da fibra de coco é possível em locais de poucas
solicitações de esforços, como passagem exclusiva de pedestres.
Abstract: The inadequate treatment of solid waste generates environmental, social and
economic issues throughout Brazil. Amongst the generated solid waste in landfills, the green
coconut shells stand out when considering slow degradation and large volume occupation due
to its incompressibility. Studies indicate great potential for several applications using mesocarp
fibres. One is its addition in concrete and cementitious composites. The aim of this paper is to
evaluate the addition of green coconut fibre in interlocking concrete pavers, and its acceptance
to the minimum requirements of NBR 9781: 2013. Three mix proportions were considered:
reference pavers (without fibre addition) and pavers with 0.3% and 0.5% of fibre addition in
volume. Geometric and visual aspects, water absorption and compressive strength tests were
performed. Results showed that the addition of green coconut fibres in interlocking concrete
1
Arquiteta e Urbanista, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo –
Campus Colatina, jessicaschaeffer.arq@gmail.com
2
Engenheiro Civil, M.Sc., Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito
Santo – Campus Colatina, rodolfo.andrade@ifes.edu.br
3
Engenheira Civil, D.Sc.,Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo
– Campus Colatina, alessandrar@ifes.edu.br
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-1
pavers decreases the compressive strength when compared to the reference paver. The
remaining tests results were within the required by the standard. It was therefore considered
that its application is possible in sites with low load-bearing capacity, such as pedestrians
pathways.
Keywords: Green coconut fibre. Concrete paver. Interlocking paver. Solid waste.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-2
1 INTRODUÇÃO
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-3
Na Região Sudeste, o Espírito Santo é responsável por cerca de 46% da
produção de coco verde (IBGE, 2017), sendo São Mateus a cidade com maior
produção no estado, com 47 milhões de unidades colhidas em 2015 (IBGE,
2015a). Já Colatina-ES, cidade onde este trabalho foi desenvolvido, no mesmo
ano foram produzidos 3,57 milhões de frutos (IBGE, 2015b).
A fibra da casca de coco verde apresenta potencial para ser utilizada em
diversas finalidades, como: substrato agrícola; embalagens; adição em
concreto não estrutural, compósitos e misturas asfálticas; mantas; objetos para
jardinagem; chapas; gabinetes ecológicos de computadores; banco de
automóveis; obtenção de papel; produção de enzimas; complementação
alimentar animal; fabricação de vassouras, cordas e capachos; suporte para
biofilme em sistema de tratamento de efluente (SBRT, 2011). As fibras,
extraídas do mesocarpo, parte fibrosa do fruto, são compostas principalmente
por celulose e lignina, que é responsável pela sustentação, força e resistência
mecânica das fibras vegetais (Martins et al., 2013) e por maior durabilidade
quando comparada a outras fibras naturais (Corradini et al., 2009).
Corroborando com os padrões sustentáveis de produção e consumo
definidos na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil, 2010): “[...]
produção e consumo de bens e serviços de forma a atender as necessidades
das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer
a qualidade ambiental e o atendimento das gerações futuras”, o
aproveitamento de materiais naturais na construção civil, que são tratados
como resíduos, contribui com a diminuição da extração de recursos naturais
não renováveis usados na produção de compósitos cimentícios, como areia e
brita. Ainda, o aproveitamento contribui na busca da sustentabilidade do setor
da construção civil, que é responsável por transformar o meio ambiente
construído, mas ao mesmo tempo tem condições de aproveitar resíduos de
várias industrias na grande diversidade de materiais utilizados.
Dessa maneira, este trabalho tem por objetivo utilizar a fibra da casca de
coco verde como adição no bloco intertravado de concreto nas frações
volumétricas de 0,3% e 0,5% e verificar se o produto atende aos requisitos
mínimos da NBR 9781 (ABNT, 2013), sugerindo, dessa forma, uma opção
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-4
alternativa à disposição em aterro sanitário, contribuindo para a redução do
impacto ambiental gerado por esse resíduo.
2 REVISÃO DA LITERATURA
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-5
Entretanto, podem ser observados problemas superficiais como a
quebra de peças e falhas no rejuntamento, que não exigem reforço estrutural,
apenas a troca das peças e a re-execução do rejuntamento. A manutenção
estrutural é exigida somente quando ocorre a perda do suporte da fundação.
Nesses casos, além de trocar e rejuntar as peças, é necessário reconstruir as
camadas inferiores (de Carvalho, 1998).
A incorporação de fibras ao bloco de concreto para pavimento
intertravado torna-se interessante, pois contribui para “[...] o aumento da
capacidade de deformação, o aumento da resistência ao impacto e controle de
fissuras […]” (Motta e Agopyan, 2007, p.2-3), pois melhora a ductilidade
podendo ser aplicada em material de construção que necessite de maior
tenacidade e resistência ao impacto (Soares et al., 2012). Associado a isso, as
fibras naturais por apresentarem baixo custo, grande abundância, baixa
densidade, serem renováveis e não prejudiciais à saúde, acabam tornando-se
muito atrativas em relação às fibras sintéticas (Savastano Jr, 2000).
No caso da fibra de coco, a rugosidade que existe ao longo da sua
superfície age como regiões de ancoragem evitando a ruptura total da interface
entre fibra e matriz quando submetido à compressão (Corradini et al., 2009).
Dessa forma, ao se romper a peça não apresenta destacamento das faces,
contribuindo para a durabilidade e integridade do pavimento, por não necessitar
da troca imediata da peça.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-6
García e Salcedo (2006) utilizaram o comprimento de 20 e 50 mm para
adição em concreto, com teor de fibra de 0,5 e 1,5% em relação ao volume
total para os dois comprimentos. Para evitar a degradação da fibra em meio
alcalino (pasta de cimento), trataram-nas com cal durante um período de 48
horas.
Navya e Rao (2014) estudaram a adição de fibras de coco em blocos
intertravados de concreto com percentuais de 0,1 a 0,5% e comprimento de 6
mm. A fibra foi adicionada apenas na camada superior do bloco, inicialmente
com 20 mm de espessura e, posteriormente, até 40mm. Os resultados
mostraram que quanto maior a espessura da camada de fibras, maior a
resistência à compressão e à tração.
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
3.1.2 Agregados
3.1.3 Água
A água utilizada na dosagem do concreto e no tratamento das fibras foi a
proveniente da rede pública de abastecimento de Colatina/ES, considerada
potável.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-7
3.1.4 Fibras de coco verde
3.1.5 Fôrma
3.2 Métodos
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-8
3.2.3 Dosagem do concreto
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-9
Cada molde foi preenchido em 3 camadas de mesma altura, sendo cada
uma golpeada com soquete metálico para compactação. Finalizada a última
camada, foi acrescentada quantidade suficiente da massa para completar o
molde, que foi nivelada com colher de pedreiro. Em seguida foi feita a vibração
através de golpeamento nas laterais da fôrma. Logo após, a fôrma foi coberta
com placas de vidro para evitar a perda de água. Assim permaneceu por 24
horas, quando foi feita a desfôrma.
É importante ressaltar que devido à absorção de água pelas fibras, o
concreto com adição ficou menos fluido, prejudicando a compactação e
vibração manuais do mesmo, fato descrito por Figueiredo (2005), que afirma
ser a alteração de consistência e consequentemente de trabalhabilidade devido
a geometria das fibras que possuem grande área superficial o que demanda
mais água de molhagem. Na Figura 1 é possível ver as fibras em meio ao
concreto com teor de 0,5%.
3.2.5 Ensaios
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-10
resistência à abrasão. Todos os ensaios foram realizados nessa pesquisa,
exceto o de resistência à abrasão, que é facultativo.
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-11
aspecto liso e homogêneo por ser a camada mais profunda da compactação e
sofrer o devido confinamento da fôrma. Diante desse cenário, sugere-se que as
peças possam ser assentadas com a face inferior voltada para cima,
garantindo a planicidade do pavimento.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-12
Tabela 2 – Ensaio de absorção de água
Referência 0,3% de fibras 0,5% de fibras
Corpo de prova
(%) (%) (%)
CP 01 3,57 4,17 4,54
CP 02 3,62 4,38 5,01
CP 03 3,71 4,91 4,63
CP 04 3,86 4,25 4,51
CP 05 3,79 4,78 4,35
CP 06 4,19 - 4,17
Média 3,79 4,50 4,54
Fonte: Elaborado pelos autores (2017)
Figura 4 – Blocos após o ensaio de resistência à compressão: (a) referência e (b) com 0,5% de
fibra de coco
(a) (b)
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-13
O Gráfico 1 mostra a resistência média à compressão aos 28 dias de
cada traço e seus respectivos desvios padrões. A partir do gráfico, foram
extraídas as informações para o cálculo da resistência característica estimada
à compressão considerando o Coeficiente de Student, de acordo com a NBR
9781 (ABNT, 2013). Para a referência, a resistência característica foi de 36,6
MPa, valor superior ao mínimo exigido pela norma. Para o teor de 0,3% de fibra
obteve-se 27,5 MPa e para o teor de 0,5%, 31,4 MPa, representando um
decréscimo em relação à referência de 25% e 14%, respectivamente.
5 CONCLUSÕES
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-14
aumento na ductilidade do concreto com adição de fibras, pois os blocos com
fibras tiveram uma ruptura menos brusca na compressão, mantendo as faces
entre fissuras unidas, mesmo após a ruptura completa. Tal fato corrobora para
a utilização em pavimentos intertravados.
A avaliação dimensional e o ensaio de absorção de água apresentaram
resultados dentro da norma tanto para o traço referência quanto para os traços
com adição de fibras de coco verde. Já a avaliação de aspecto visual, apenas
os blocos de referência apresentaram resultado dentro do estabelecido pela
norma. As fibras de coco absorveram parte da água do emassamento do
concreto, tornando a massa menos fluida. Isso dificultou a compactação
manual, o que acabou gerando irregularidades nas faces laterais e superiores
do bloco, prejudicando o aspecto visual dos mesmos.
Embora o resultado de resistência característica à compressão dos
blocos com adição de fibra não tenham atingido o mínimo estabelecido pela
norma, considera-se que sua utilização seja possível em locais de baixas
solicitações de esforços, como passagem exclusiva de pedestres. Ressalta-se
que a capacidade mínima à compressão de 35 MPa da NBR 9781 (ABNT,
2013) considera a presença de veículos leves e comerciais de linha, não sendo
o foco deste trabalho, que é produzir blocos para uso em locais de baixa
solicitação. Dentre diversas normas internacionais consultadas, a Draft
Standard do Sri Lanka (Baskaran e Gopinath, 2011) faz distinção entre
diferentes tipos de classe de carregamento, reservando a última para uso
exclusivo de pedestres, e sugerindo uma capacidade mínima de 15 MPa.
Dessa forma, pode-se concluir que o aproveitamento da fibra de coco verde em
blocos para pavimento intertravado é uma alternativa viável para a destinação
do resíduo, contribuindo para a diminuição dos impactos ambientais causados
pelo mesmo.
REFERÊNCIAS
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-15
content/uploads/2012/08/ManualPavimentoIntertravado.pdf>. Acesso em: 12
abr. 2017.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-16
<http://www.scielo.br/pdf/rbeaa/v18n12/a10v18n12.pdf>. Acesso em: 26 ago.
2016.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-17
http://ijera.com/papers/Vol4_issue8/Version%206/F48063438.pdf>. Acesso em:
12 abr. 2017.
Revista Mundi Engenharia, Tecnologia e Gestão. Paranaguá, PR, v.3, n.2, maio de 2018
80-18