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A ESSENCIA DA BHAGAVAD GITA – DIÁRIO DE BORDO

Grato a todos pela oportunidade de estudarmos a Bhagavad Gita! Grato


especialmente ao Guilherme pelo convite e a proposta de focar na
ESSÊNCIA. Aqui vou tentar registrar as informações e temas que eu estimo
serem relevantes para a proposta do trabalho que fui convidado – Diário de
Bordo:
1º momento:
Apresentações – Guilherme, Goura, Bhagavad Gita
2º momento:
A Bhagavad Gita analisada
em diferentes etapas de
conhecimento, dedicada a
diferentes tipos de pessoas,
ou de necessidades:
Instruções genéricas:
orientam todos os tipos de
pessoas (especialmente os
seres humanos) num entendimento de realidade favorável ao
progresso (em todos os aspectos);
Lições secretas: instruções que apresentam a realidade da alma, o
Brahman, ou energia espiritual. Atrai as pessoas que desejam saber
mais do que “viver” bem na matéria, seja ela grosseira (mundo dos
encarnados) ou sutil (mundo dos desencarnados); também
apresenta o aspecto energético de Deus, ou da transcendência, que
basicamente difere da matéria.
Ensinamentos mais secretos: Instruções que apresentam o conceito
Paramatma (Super Alma) de Deus. Conceito de “Providência Divina”,
“Deus Conosco”, Onipresença, Inteligencia Maior que Liga a Tudo e a
Todos (palavras usadas pelos participantes);
Instruções secretíssimas: se fala do relacionamento com a Pessoa de
Deus. Descrição e detalhe de Bhakti Yoga.
O maior de todos os Segredos: se fala sobre as doçuras, ou prazeres,
ou gostos da relação amorosa com a Pessoa Suprema.
3º momento
Algumas dúvidas e comentários que surgiram durante essa apresentação:
Quais são os aspectos de Deus apresentados na Bhagavad Gita (Cultura
Védica)?
São 3: Brahman (energia), Paramatma (Deus local, com uma função
específica na realidade material), Bhagavan (a Pessoa)
Nesta apresentação tratou-se de desenvolver o entendimento desses
aspectos. Foi possível compartilhar percepções dos participantes a
respeito da percepção individual de Deus ou da transcendência. Foi
comentado que a percepção individual que cada um tem é motivada
por interesses (expectativas) de satisfação muito profundos da alma
(de todos os seres vivos) que foram apresentadas, basicamente,
como 3:
Satisfação em existir: explica a busca por saúde, permanência,
pertinência e outros aspectos da constatação do ser de existir;
Satisfação no propósito: compreende a necessidade e
satisfação que os seres têm no conhecimento; se percebe na
descoberta, no aprendizado, no entendimento de
posicionamentos de si e dos demais ou das coisas;
Satisfação no prazer: compreende a busca de prazer na
interação com os outros ou com as coisas; abrange o conceito
de felicidade mais completo dos 3 aspectos de busca de
satisfação, porque necessita do apoio do propósito e da
constatação de existência, que pavimentam o caminho rumo
ao prazer.
É interessante notar que eventualmente, uma pessoa pode focar na
satisfação de propósito que inclui a constatação da própria existência,
porém não focar na busca de prazer. Um exemplo: um filósofo que
dedica sua vida ao conhecimento e, de certa forma, desenvolve
indiferença aos prazeres envolvidos na relação com as coisas ou
outros seres, justamente porque não interessa essa satisfação pelo
prazer.
Outro exemplo é de uma pessoa que busca prazer e que necessitará
algum tipo de filosofia (propósito) que corrobore sua busca e que
naturalmente constata sua própria existência como buscador. A
pessoa que busca prazer pode-se dizer que é mais “completa” em sua
busca. Porém percebemos que determinadas pessoas que buscam
prazer onde não existe verdadeiro prazer, apenas uma ilusão que
mascara experiencias de condicionamentos miseráveis, não são tão
completas assim, ao contrário, parece que lhes falta conhecimento
para estarem livres dessas buscas frustrantes.
A solução para esta contradição está em que o buscador é motivado
por 3 distintas realizações da realidade – vida, conhecimento, prazer.
Todas as 3 são encontradas nos diversos caminhos de transcendência
que encontramos no mundo. Alguns caminhos anulam alguns desses
aspectos. Enquanto que aqueles que promovem o prazer, se são
fidedignos (realmente encaminham a transcendência), necessitam
apoiar-se em bases de conhecimento e de autorrealização do ser.
Por isso é fundamental estabelecer a situação de SAÚDE, como
definida na Essência da Bhagavad Gita, como a busca de prazer, que
necessita de apoio de todo o conhecimento e de dicas de percepção
de si mesmo que estão incluídos nesse diálogo entre Sri Krishna e
Arjuna.
Eu tenho uma percepção de Deus e todos aqui têm uma percepção de
Deus, com isso posso concluir que somos nós que concebemos a Deus
A definição de Deus que a Bhagavad Gita trata de trazer é do Ser
Supremo que não depende de nenhum outro ser para sua existência,
propósito e prazer. Enquanto que os seres vivos, criaturas, sim
necessitam. Poderia se argumentar que existem vários processos ou
pessoas que vivem, e muito bem, sem cultivar conhecimento desse
Ser Supremo, então como se pode afirmar que somos dependentes
dEle? A resposta esta na constatação de aspectos dEle que permitem
a experiencia mínima da existência (a satisfação mais primária). Se Ele
não existe, então nem seus aspectos mais “externos” deveriam ser
importantes para nós. Por exemplo: eu posso ter minha concepção
pessoal do Tempo, mas Ele age para mim e para outros da mesma
forma – transforma a matéria que está em mim e a meu redor. Outro:
eu posso ter minha concepção particular da Natureza Material, mas
Ela tem leis que estão, estiveram e estarão ali, independentes da
minha existência.
A conclusão é que a própria percepção da Pessoa Suprema depende
de Ele dar condições para ser percebido por nós, isto é, até na
concepção de Deus, dependemos dEle e não Ele de nós.
Se Deus está se divertindo com tudo, Ele é sádico?
“Fique sabendo que todos os estados de existência — sejam
eles em bondade, paixão ou ignorância — manifestam-se por
Minha energia. Num certo sentido, Eu sou tudo, mas Eu sou
independente. Eu não estou sob a influência dos modos da
natureza material, mas eles, ao contrário, estão dentro de
Mim.” (BG 7.12)
Para entender o que é independência é necessário entender o que é
dependência: a dependência surge do apego. Apego significa que
minha realidade depende daquilo a que estou apegado. Para nós é
difícil separar e entender Amor sem relacionar essa palavra tão ampla
(Amor) com apego. Mas tome o exemplo de um pai que ama seu filho,
buscando sua felicidade na infância e que tem seu papel (de pai)
frustrado quando o filho chega a adolescência; para esse pai, se seu
apego for pelo papel de pai, ele terá sua realidade agitada pela
quebra que seu filho está tentando fazer; caso o amor do pai seja pelo
filho, estima-se que, se houver algum apego ao papel, o que gera a
frustração naquele encontro com o adolescente, o amante (o pai) se
desapega do papel em prol da felicidade do filho, no sentido de
buscar um novo posicionamento do adulto diante do adolescente;
esse novo posicionamento, motivado pelo amor, vai buscar prover ao
objeto do amor (o adolescente) exemplo, condições e orientações
que permitam ao jovem se desenvolver no que o amante (o pai)
considera apropriado para a felicidade do amado (o adolescente).
Portanto, o apego é diferente do Amor, apesar de poderem coexistir.
Isto explica o Amor de Deus que permite que todas suas criaturas
perambulem por todo o Universo sem se relacionar com Ele,
considerando-o em alguns casos, uma energia, ou aspecto dessa
realidade, mas não uma Pessoa. E que possam, inclusive, tomar
caminhos que as distanciem de qualquer noção de divindade. É claro
para todos que mesmo para os que não queiram dar-se conta da
presença dEle, há uma vontade maior que impele a todos, como por
exemplo, o Tempo e o Karma. O Tempo e o Karma são a demonstração
de afeto da Pessoa Suprema para aqueles que não querem se
relacionar amorosamente com Ele. Assim como um pai amoroso
permitirá que seu adolescente “quebre” a cara. E entendendo
também que a natureza eterna da alma permite “quebrar” a cara
muitas vezes, eternamente, se é do desejo dessa alma. A liberdade é
um sintoma do Amor desse Pai.

Se Deus é todas as coisas, o que significa “Amar a Deus sobre todas as


coisas”?
Próximo encontro, dia 13/05/2023, 5ª feira, as 19h.

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