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CDU 657.6
Triângulo da fraude
OA5.7 Obter
Como o auditor identifica fraudes entendimento do
Há três condições presentes em uma empresa quando ocorre triângulo da fraude e
uma fraude – (1) pressão, (2) oportunidade e (3) racionalização de como o auditor
–, as quais, juntas, formam o que geralmente chamamos de pode usá-lo para
triângulo da fraude (veja a Figura 5.1). Mesmo que a probabilidade identificar o risco de
distorções relevantes
de ocorrerem em fraudes em uma empresa seja maior com a
em virtude de fraudes.
presença desses elementos, eles não têm de estar necessaria-
mente no mesmo nível. Por exemplo, um alto nível de pressão em uma empresa poderia
significar que um de seus funcionários pode racionalizar uma ação fraudulenta com
maior facilidade. Cada um dos fatores do triângulo da fraude será discutido separada-
mente nas seções a seguir.
Pressão
A administração da empresa pode sentir pressão interna ou externa para alcançar
uma meta de lucros ou para manter certo nível de crescimento. As consequências por
não alcançar as metas de lucros podem ser severas (falta de pagamento de bônus, que-
da no valor das opções de ações, má avaliação de desempenho, perda do emprego). Os
administradores também podem se sentir pressionados a desviar ativos para solucio-
nar problemas financeiros pessoais, como vícios (em jogos de azar, álcool, drogas),
altas despesas médicas, dívidas de cartão de crédito e incapacidade de pagar as contas
do mês ou despesas como mensalidades da universidade dos filhos ou férias especiais
para a família.
Geralmente, usamos o termo gerenciamento de lucros para fazer referência aos esforços
da administração de fazer os lucros parecerem melhores. Pode-se considerar que alguns
desses esforços estejam dentro da estrutura de relatório financeiro aplicável; entretanto,
muitos deles não estão e acabam por resultar em distorções fraudulentas. Dependendo da
empresa, os lucros podem “parecer melhores” se a administração mantiver uma taxa
constante de crescimento todo ano (por exemplo, 10%) ou mostrar crescimento nas recei-
tas, no lucro líquido ou nos lucros por ação – LPA (earnings per share – EPS). No ambiente
Racionalização Oportunidade
Pressão
Oportunidade
Uma segunda condição, a oportunidade de cometer fraude, está presente quando um
profissional acredita que os controles internos sejam fracos, que não tenham sido ela-
borados de modo a prevenir fraudes e que podem ser burlados. Relatórios financeiros
fraudulentos geralmente ocorrem pelo fato de a administração burlar controles, por
meio: (1) do registro de lançamentos contábeis fictícios (particularmente no fim do
exercício social); (2) da mudança, de maneira imprópria, dos métodos usados para es-
timar saldos de balanço; (3) da omissão, do adiantamento ou da postergação do reco-
nhecimento de eventos que ocorreram durante o período coberto pelo relatório; (4) da
não divulgação de fatos que poderiam afetar os montantes registrados nas demonstra-
ções financeiras; (5) do envolvimento em transações complexas elaboradas para detur-
par as condições financeiras da empresa; e (6) da alteração dos registros relativos a
transações significativas e a transações incomuns.
O desvio de ativos envolve o furto de ativos da empresa por (1) desfalque no caixa, (2)
furto de ativos físicos (itens dos estoques, equipamentos) ou propriedade intelectual (re-
velando dados técnicos em troca de dinheiro de um concorrente), (3) realização de paga-
mentos de mercadorias e serviços que não foram recebidos (pagamentos a fornecedores
fictícios, subornos recebidos de fornecedores em troca da compra de itens por preços in-
flados, pagamentos a funcionários fictícios) e (4) aproveitamento dos ativos da empresa
para uso pessoal (por exemplo, como garantia colateral em um empréstimo pessoal). Esse
desvio abrange a criação de documentos falsos ou enganosos para ocultar o fato de que os
ativos estão faltando e, geralmente, leva a relatórios financeiros fraudulentos, ou seja,
quando ocorre, a empresa pode emitir demonstrações financeiras fraudulentas.
Racionalização
Profissionais que se envolvem em atividades fraudulentas podem racionalizar que a
ação é justificável. Outros têm uma mentalidade tal que os permite cometer fraudes
propositadamente e, mesmo aqueles que normalmente são honestos, podem cometer
fraude se estiverem sob pressão suficiente. Alguns exemplos de racionalização in-
cluem: “não faz mal furtar esse dinheiro porque a empresa não tem me tratado muito
bem” ou “não tem problema porque esconderemos o valor da dívida que temos por um
curto período de tempo e, então, tudo ficará bem”.
Você sabia?
Em 2002, o Congresso dos Estados Unidos investigou o setor de telecomunica-
ções sobre a prática de reconhecimento de receitas de capacidade de fibras ópti-
cas por meio do swap. Empresas como a Qwest e a Global Crossing trocavam
quantidades iguais de capacidade de linha de transmissão, sendo que cada uma
As pessoas nos dizem todos os tipos de coisas. Os anúncios de televisão nos dizem
para comprar seus produtos; amigos nos dizem quanto tempo estudam. Porém, deve-
mos acreditar em tudo que nos dizem? A tarefa do auditor é acreditar nas demonstra-
ções realizadas pela administração somente se evidências as confirmarem, ou seja, deve
adotar uma abordagem de “ver para crer” em vez do “acredito em qualquer coisa que me
disserem” ao obter evidências. Por exemplo, a empresa declara que o lucro líquido
aumentou este ano porque as despesas operacionais foram reduzidas. Se isso for verda-
deiro, o auditor deve verificar que as despesas operacionais, como um percentual das
receitas, estão mais baixas no ano corrente do que no anterior. Se, contudo, o lucro lí-
quido tiver aumentado em virtude de um ganho de ocorrência única proveniente da
venda de um edifício, as evidências deverão indicar o verdadeiro motivo do aumento.
O ceticismo profissional é fundamental: o auditor precisa procurar evidências em vez
de acreditar em cada explicação dada pela administração.
Você sabia?
Kevin Hall e Rosemary Meyer (sócio e gerente da KPMG, respectivamente) foram
investigados pela SEC por conduta profissional inadequada na auditoria da U.S.
Foodservice (USF).
Hall e Meyer descobriram inúmeros exemplos nos quais a USF reconhecera
receitas que não deveria ter reconhecido. Porém, embora tenham obtido e revisa-
do evidências que documentavam essas transações impróprias, eles não agiram
sobre elas. Em alguns casos, as transações foram identificadas nos papéis de tra-
balho como exceções de auditoria que exigiam ajustes, mas as exceções foram,
subsequentemente, cobertas com corretor líquido (“branquinho”).
Hall e Meyer ignoraram os “sinais vermelhos” das evidências de auditoria.
Segundo a acusação da SEC, eles “confiaram inadequada e repetidamente em
representações formais da administração para confirmar representações anterio-
res, embora evidências objetivas contradissessem tais demonstrações”. Hall e
Meyer não cumpriram as Normas de Auditoria Geralmente Aceitas por “não
exercer o zelo profissional devido; não manter uma atitude de ceticismo profis-
sional; não obter evidências competentes suficientes; substituir evidências
competentes por representações formais da administração...” (ênfase do autor).
A USF é a maior distribuidora dos Estados Unidos de alimentos para restauran-
tes, escolas, hospitais e hotéis. Nos anos que esteve sob investigação, uma parte
significativa de seus lucros foi baseada em bônus inflados de fabricantes. A empre-
sa pedia enormes quantidades de alimentos de grandes fabricantes como a Sara Lee
Corp., a Kraft Food Inc., a Georgia-Pacific Corp. e a Nestlé S.A., as quais concorda-
vam em pagar bônus à USF que variavam de 8,5 a 46% das compras.
De acordo com as regras contábeis, os bônus devem ser registrados como redu-
ções nos custos dos estoques quando estes forem pagos. A USF registrava os valores
dos bônus antes de os estoques serem pagos e os inflava muito, medida que permi-
tia aos executivos alcançar as metas de lucros e conseguir bônus.* A quantidade de
estoques pedida era muito maior do que o que a empresa conseguiria vender. As-
sim, ela teve que alugar espaço extra de armazém e caminhões-frigorífico para ar-
mazenar os estoques e, finalmente, reduzir o seu preço (em alguns casos, para
menos do que o preço original) para conseguir se livrar deles.
Segundo a SEC, a USF inflava os lucros usando os pagamentos dos bônus para
reduzir o custo das compras quando recebia o aviso do fornecedor, em vez de quando
*
N. de R.T.: Nesse caso, bônus de remuneração ou de salários.
tâncias, e a lista não está necessariamente completa; o auditor pode identificar fatores
de risco de fraude adicionais para um cliente de auditoria. Consulte os Quadros 5.2 e
5.3 para ver uma lista dos fatores de risco de fraude de distorções provenientes de rela-
tórios financeiros fraudulentos e de distorções relacionadas ao desvio de ativos.
OPORTUNIDADE
A oportunidade de cometer fraudes pode estar presente nas seguintes situações:
1. A natureza dos negócios ou das operações da empresa fornece oportunidades para que haja relatórios financei-
ros fraudulentos, os quais incluem:
• T ransações significativas com partes relacionadas a entidades que não tenham sido auditadas ou que tenham
sido auditadas por outra empresa
• Forte presença financeira ou capacidade de dominar certo setor
• Ativos, passivos, receitas ou despesas baseados em estimativas significativas
• Transações significativas, incomuns ou complexas
• Operações estrangeiras significativas
• Uso de intermediários comerciais sem uma justificativa clara
• Contas bancárias significativas em paraísos fiscais
b
b
2. O monitoramento ineficiente da administração pode incluir:
• Domínio da administração por uma única pessoa ou um pequeno grupo
• S upervisão ineficiente do Conselho de Administração sobre o processo de geração de relatórios financeiros e
sobre os controles internos
3. A empresa possui uma estrutura organizacional complexa ou instável. Alguns sinais disso incluem:
• Dificuldade em determinar quem possui interesses de controle na empresa
• Alta rotatividade da alta administração, do conselho jurídico ou de membros do Conselho de Administração
4. Componentes dos controles internos são deficientes em algum dos seguintes aspectos:
• Monitoramento inadequado dos controles
• Alta rotatividade do pessoal da contabilidade, da auditoria interna ou de TI
• Ineficiência dos sistemas contábil e de TI
RACIONALIZAÇÃO
O profissional pode racionalizar que a ação seja justificável pelos seguintes motivos:
1. Comunicação ineficiente dos valores éticos da empresa ou valores éticos inadequados
2. Participação administração não financeira (por exemplo: área jurídica da empresa) na seleção de princípios ou
estimativas contábeis significativos
3. Histórico de violação de leis de valores mobiliários, processos judiciais movidos contra a administração ou Con-
selho de Administração alegando fraude ou violações de leis ou regulamentações
4. Interesse excessivo da administração em manter ou aumentar o preço das ações da empresa
5. Compromissos da administração com analistas ou credores para alcançar previsões de lucros agressivas
6. A administração deixar de corrigir deficiências materiais nos controles internos em um espaço de tempo razoável
7. Uso, pela administração, de meios inapropriados para minimizar os lucros divulgados para fins tributários
8. Baixo moral entre os membros da alta administração
9. Nenhuma distinção entre as despesas pessoais do(s) proprietário(s) e da empresa
10. Disputas entre acionistas em uma empresa de capital fechado
11. Justificativa da administração de práticas contábeis inapropriadas com base na imaterialidade
12. Relação desgastada entre a administração e o auditor atual ou predecessor, o que pode incluir:
• Disputas frequentes com o auditor sobre questões relativas à contabilidade, à auditoria ou aos relatórios
• D
emandas não razoáveis feitas ao auditor no que diz respeito ao tempo para concluir a auditoria ou para
emitir o relatório de auditoria
• Restrições sobre os auditores, limitando seu acesso a pessoas ou a informações
• Comportamento dominador ao lidar com o auditor (AU 316)
b
• Mudanças nos planos de remuneração ou benefícios
• Promoções ou remuneração inconsistentes com as expectativas.
OPORTUNIDADE
1. Às vezes, os ativos são mais sujeitos a desvios. As circunstâncias em que isso pode ocorrer incluem:
• Processar grandes quantias de dinheiro
• Ter itens de estoque de tamanho pequeno e de alto valor ou demanda
• Ter ativos facilmente conversíveis (por exemplo, títulos de dívida ao portador, diamantes ou chips de computador)
• Ter ativos fixos de tamanho pequeno e facilmente comercializáveis
2. Controles internos inadequados sobre ativos podem deixá-los mais sujeitos a desvios. Fraquezas nos controles
internos podem ocorrer nas seguintes situações:
• Falta de segregação de funções
• Supervisão inadequada das despesas da alta gestão
• Supervisão inadequada dos funcionários responsáveis por ativos
• Seleção inadequada de candidatos a funções com acesso a ativos
• Manutenção inadequada de registros de ativos
• Sistema inadequado de autorização ou aprovação de transações no ciclo de compras
• Salvaguarda física inadequada de ativos
• Reconciliações de ativos incompletas
• Falta de documentação de transação no momento adequado
• Falta de férias obrigatórias para funcionários
• Compreensão inadequada das funções de TI
• Controle de acesso inadequado sobre registros computadorizados
RACIONALIZAÇÃO
1. O fato de a empresa não dar a devida importância à necessidade de monitorar os riscos relacionados ao desvio
de ativos
2. O fato de a empresa ignorar os controles internos sobre o desvio de ativos, burlando controles sobre deixar de
corrigir deficiências conhecidas nos controles
3. Comportamentos de funcionários que indicam descontentamento ou insatisfação com a empresa
4. Mudanças no comportamento de funcionários que possam indicar que ativos foram desviados
5. Tolerância de pequenos furtos (AU 316)