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Murray Schafer

Criação e Imrovisação Musical II


Profa Dra Consiglia Latorre
ICA-UFC
Murray Schafer (1933-2021)
— Compositor, educador musical e ensaísta canadense
— Autor de livros a respeito de ecologia acústica,
educação musical e outros temas. Livros traduzidos
para o português pela Profa Dra Marisa T. Fonterrada:
— Ouvido pensante
— Afinação do mundo
— Educação Sonora
— OuvirCantar
— Vozes da Tirania: Templos do Silencio
— Em a Afinação do Mundo, ele discute o conceito de paisagem sonora,
defendendo a ideia de que ela pode ser aperfeiçoada e propondo que seja
replanejada a partir de um novo jeito de ouvir, criterioso, que pode ser
ensinado na escola pública.
— A questão da formação musical é tema de Ouvido Pensante, no qual ele se
recusa a elaborar um método ou um sistema de ensino a ser seguido,
propondo múltiplas abordagens de como a música pode ser inserida e
praticada na sala de aula e atuar de forma ativa na formação do cidadão.
— Em Educação Sonora, Schafer propõe 100 exercícios de refinamento da escuta
e de criação musical , bastante diferentes do que , em geral , se encontram no
ensino de música tradicional. Também orienta pedagogos , professores e
alunos para que eles possam desenvolver projetos que melhorem o entorno
sonoro de sua comunidade.
— Ouvircantar traz exercícios que podem nos auxiliar na busca por reaprender a
ouvir e a escutar.
— Seu livro mais recente publicado no Brasil é Vozes da tirania, em que mais uma
vez defende a construção de um futuro mais humanista, voltado ao bem-estar,
respeitoso para com o meio ambiente e, por consequência, menos caótico.
Os três eixos norteadores do pensamento de Schafer
— Relação som/ambiente- Aperfeiçoamento da escuta _
Acredita na qualidade da audição, na relação equilibrada
entre homem e ambiente e no estímulo à capacidade
criativa; Apresenta uma nova visão sobre o universo da
música e o universo sonoro em geral, mostrando a sua
ideia de paisagem sonora, sugerindo uma nova maneira
de escutar.
— Confluência das artes - Diálogo entre as linguagens
— Relação Arte/Sagrado - A importância de mitos e rituais
para a vida humana
— Paisagem Sonora é um conceito que se caracteriza
pelo estudo e análise do universo sonoro que nos
rodeia. Uma paisagem sonora é composta pelos
diferentes sons que compõe um determinado
ambiente, sejam esses sons de origem natural,
humana, industrial ou tecnológica.
— Conforme Murray Schafer a paisagem sonora equivale
qualquer porção do ambiente sonoro vista como um
campo de estudos. O termo pode referir-se a
ambientes reais ou a construções abstratas, como
composições musicais.
Projeto Paisagem Sonora Mundial
World Soundscape Project (WSP) – Projeto Paisagem Sonora Mundial – na
tentativa de unir arte e ciência no desenvolvimento de uma
interdisciplinaridade chamada Projeto Acústico. Os objetivos eram:
1) realizar um estudo interdisciplinar a respeito de ambientes acústicos e
seus efeitos no homem;
2) modificar e melhorar ambientes acústicos;
3) educar estudantes, pesquisadores e público geral;
4) publicar materiais que servissem de guia a estudos futuros.

— https://www.youtube.com/watch?v=-YEAEBSiBYA&t=351s
— Entrevista de Raymond Murray Schafer.

— https://www.youtube.com/watch?v=e_-zWOydMsI
— R. Murray Schafer and Soundscape
“A paisagem sonora pós-industrial” aborda as transformações e
impactos da Revolução Industrial e Elétrica no ambiente sonoro.
Uma multidão de novos sons passam habitar o ambiente acústico,
muitas informações sonoras ao mesmo tempo tornam a razão
sinal/ruído de um por um. A paisagem sonora pós-industrial se
torna lo-fi (baixa fidelidade) em comparação a paisagem sonora
rural, que M. Schafer define como hi-fi (alta fidelidade).

O ambiente silencioso da paisagem sonora hi-fi permite o ouvinte


escutar mais longe, a distancia, a exemplo dos exercícios de visão
a longa distancia no campo. a cidade abrevia essa habilidade para
a audição (e visão) a distancia, marcando uma das mais
importantes mudanças na história da percepção.
— O Ouvido Pensante
— Na apresentação desse livro, segundo a tradutora
Marisa Trench de O. Fonterrada, a filosofia de Schafer
poderia ser resumida numa só palavra, “ephitah” que
significa “abra-te”, que nos sugere abrir os ouvidos
para perceber os diversos sons existentes no mundo.
Shafer nos diz: Os ouvidos de uma pessoa verdadeiramente
sensível estão sempre abertos. Não existem pálpebras nos
ouvidos. Assim, explica que os ouvidos estão sempre
expostos a todo tipo de som captando todos os sons do
ambiente em diferentes direções.
A função desta limpeza de ouvido é propiciar uma escuta
consciente, na qual o aluno/ouvinte pode escolher e analisar
as propriedades daquele som e analisar a sua
funcionalidade naquele ambiente. Inclusive refletindo a
cerca dos benefícios ou malefícios causados pelos sons que
ouviu.
— Para isto, Schafer explica e propõe exercícios de escuta
para os seguintes conceitos relativos ao som: ruído,
mescla, tom, silêncio, timbre, amplitude, melodia,
textura, direcionalidade, ritmo e outros, até chegar ao
conceito de Paisagem Sonora (soundscape em inglês)
que exprime uma escuta de todos os sons presentes
no mesmo ambiente, como se fosse pintado uma
quadro de uma paisagem dada, porém , aqui a
percepção visual do quadro em questão seria
substituída pela percepção sonora.
— O que Schafer coloca é que é necessário fazer uma limpeza
nos ouvidos para que possamos apreciar o mais sensível
da música e perceber os mais variados tipos de sons que
estão ao nosso redor, como: escutar os sons dos pássaros,
o balançar das plantas, o barulho das águas, o vento ao
roçar nas folhas das árvores, sons esses que passam
desapercebidos pelo homem.
https://www.youtube.com/watch?v=pL8yo81KaWg
— Schafer no Brasil
— Sua primeira visita ao Brasil foi em 1990, ocasião em
que ministrou dois cursos, um no Rio de Janeiro e
outro em São Paulo, ambos patrocinados pela
Fundação Vitae. Em 1992, ele voltou, dessa vez
ministrando cursos no Rio de Janeiro, em São Paulo,
Londrina e Porto Alegre. Retornou ainda em 1998, em
2004 para o XIV Encontro Internacional do Foro
Latino-americano de Educação Musical (Fladem) e em
2011 para o lançamento do livro Educação Sonora,
tendo participado de encontros e workshops.
— Projeto Caminhos sonoros – Mairiporã 2011 –
encontro com Murray Schafer

— https://www.youtube.com/watch?v=3ZYIIf5bA2U&t=
8s
Murray Schafer é um compositor com preocupações que vão
além do mundo da criação musical e chegam a profundas
questões pedagógicas

— A atividade didática de Schafer objetiva aguçar os ouvidos e


estimular a criatividade. Os sons do ambiente recebem atenção
especial e passam a fazer parte do estudo musical. O autor tenta
definir o conceito de música (que se modificou durante a história),
baseado nas ideias dos compositores contemporâneos.
— Sugere que a nova “orquestra” seja o universo sônico e que os
novos músicos sejam qualquer um ou qualquer coisa que soe. Tal
definição faz com que toda teoria e prática da música mereçam
ser reconsideradas.
— O ambiente sônico se modificou durante a história. Seus sons
podem ser classificados em três categorias: sons naturais, sons
humanos, sons de utensílios e tecnologia.
— Nas culturas primitivas predominavam os sons naturais. Nas
culturas medieval, renascentista e pré-industrial; predominavam
os sons humanos. Nas culturas pós-industriais, até os dias de
hoje, predominam os sons de utensílios e tecnologia. Sendo
assim, a educação musical deve dar atenção à predominância
destes sons, observando-os e estudando-os mais
detalhadamente.
A ideia de Schafer sobre educação musical concentra-se em desenvolver o potencial criativo,
conscientizar os alunos sobre os sons ambientais e encontrar uma ligação entre todas as
artes.

Seu ensino se diferencia da educação musical tradicional porque não é direcionado


somente a alunos com muita aptidão para a música.

Schafer mostra que suas atividades não precisam de recursos elaborados, apenas poucos
sons, poucas vozes, sendo possíveis não somente em países desenvolvidos, mas também
em realidades como a da educação musical brasileira.

Schafer vê a música como um assunto expressivo, porém, a grande importância conferida


à teoria, à técnica e à memorização, pode tornar o ensino da música apenas um acúmulo
de conhecimentos, faltando a autonomia que as atividades de criação e improvisação
propõem.

Deve-se pensar no ensino da música como um processo criativo que exercita a percepção
e a análise de suas próprias criações. No ensino criativo o papel do professor é criar
problemas e estimular os alunos a encontrarem as respostas. Por tal razão, a aula de
música deve enfatizar a improvisação e a composição.
— Seu trabalho em educação musical tem se concentrado principalmente
em três campos:

— 1. Procurar descobrir todo o potencial criativo das crianças, para que


possam fazer música por si mesmas;

— 2. Apresentar aos alunos de todas as idades os sons do ambiente e


tratar a paisagem sonora do mundo como uma grande composição
musical, da qual o homem é o principal compositor; e fazer
julgamentos críticos que levem à melhoria de sua qualidade;

— 3. Descobrir um nexo ou ponto de união onde todas as artes possam


encontrar-se e desenvolver-se harmoniosamente.”
— Por uma “educação sonoro-musical”
— Suas propostas seriam mais bem classificadas como propostas de
educação sonoro-musical, ao invés de propostas de educação musical,
uma vez que seu foco é essencialmente a qualidade da escuta, seja ela
musical ou não.

— Poderíamos dizer que o que ele propõe deveria anteceder e permear o


ensino de música por promover um despertar para o universo sonoro,
por meio de ações muito simples, capazes de modificar substancialmente
a relação homem x paisagem sonora.

— Para ele, qualquer coisa que soe pode transformar-se em música, e,


dessa maneira, o simples bater de um martelo ou o tilintar de talheres
durante um jantar podem ser música, isto é, se os sons forem
organizados e intencionalmente utilizados. “A intenção faz a diferença”,
explica Schafer.
Muito obrigada

Profa Consiglia Latorre

consiglialatorre@ufc.br

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