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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Especialização em Direito Bancário e do Mercado Financeiro da PUC Minas


Virtual

Luana Jéssica Mendes Sampaio

Utilização de limite do cheque especial para liquidar empréstimo

São Paulo
2023
Luana Jéssica Mendes Sampaio

Utilização de limite do cheque especial para liquidar empréstimo

Trabalho de Conclusão de Curso de Especiali-


zação em Direito Bancário e do Mercado Fi-
nanceiro como requisito parcial à obtenção do
título de especialista.

São Paulo
2023
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1 Introdução

A questão da utilização do limite do cheque especial para quitar empréstimos


é um tema de relevância no cenário financeiro brasileiro, especialmente em um con-
texto em que as altas taxas de juros no país são uma realidade constante. O caso
de Marcos, envolvendo seu contrato de abertura de crédito em conta corrente com o
"Banco do Povo," exemplifica um desafio enfrentado por muitos consumidores que
recorrem a essa prática.
No referencial teórico, discute-se as complexidades do cheque especial, suas
altas taxas de juros e as implicações dos empréstimos, incluindo o uso do crédito
especial para quitar dívidas. O cheque especial, com suas taxas elevadas, represen-
ta uma opção de crédito onerosa para os consumidores, muitas vezes levando-os a
buscar alternativas para lidar com dívidas preexistentes.
Nesse contexto, é fundamental compreender as nuances legais e financeiras
que cercam essa prática. O arcabouço teórico apresentado oferece uma base sólida
para a análise do caso de Marcos, destacando a importância da proteção dos direi-
tos do consumidor e da busca por soluções equitativas no mercado financeiro brasi-
leiro.
Nas seções seguintes, examinar-se-á detalhadamente o caso de Marcos,
avaliando a legalidade das ações do Banco do Povo, a presença de cláusulas abusi-
vas, a possibilidade de intervenção do Poder Judiciário e as medidas que Marcos
pode tomar para resolver essa situação complexa, sendo que a compreensão des-
ses elementos é essencial para que os consumidores possam tomar decisões infor-
madas e proteger seus interesses no contexto das finanças pessoais e bancárias.
Diante do caso de Marcos e da análise das complexidades legais e financei-
ras relacionadas à utilização do limite do cheque especial para quitar empréstimos,
este estudo visa aprofundar a compreensão dessas questões. Os resultados espe-
rados incluem o destaque da importância da proteção dos direitos do consumidor, a
necessidade de regulamentações mais justas no setor financeiro e a relevância da
educação financeira, cujo foco principal está em conscientizar sobre as implicações
dessas práticas no contexto financeiro brasileiro, buscando promover relações mais
equitativas e transparentes entre instituições financeiras e consumidores.
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2 Desenvolvimento

2.1 Definição e natureza do cheque especial

O cheque especial é uma forma de crédito oferecida por bancos e instituições


financeiras a seus clientes, permitindo que eles saquem ou emitam cheques em va-
lor superior ao saldo disponível em suas contas correntes, sendo essencialmente
uma linha de crédito de curto prazo associada à conta bancária do cliente, que pode
ser utilizada quando o saldo da conta não é suficiente para cobrir os saques, che-
ques emitidos ou débitos autorizados (AZEVEDO, 2021).
Essa modalidade funciona como uma espécie de "empréstimo automático"
oferecido pelos bancos aos seus correntistas. Quando o saldo da conta corrente de
um cliente é insuficiente para cobrir determinadas despesas, o banco empresta au-
tomaticamente um valor pré-aprovado, permitindo que o cliente continue consumin-
do. No entanto, essa comodidade vem com um custo, pois o cliente deve pagar juros
sobre o montante utilizado. Por exemplo, se alguém tem apenas 500 reais em sua
conta e precisa pagar um boleto de 600 reais, o cheque especial entra em ação, dis-
ponibilizando os 100 reais adicionais, que devem ser devolvidos com juros quando
houver um depósito na conta.
O cheque especial difere de outras modalidades de empréstimo por sua natu-
reza automática em que o cliente não precisa fazer uma solicitação formal de crédito
nem receber um contrato detalhado com todas as taxas e encargos financeiros. Es-
sa automatização muitas vezes leva as pessoas a usarem o cheque especial sem
um planejamento prévio, o que pode resultar em custos elevados (AZEVEDO, 2021).
Como ressalta Azevedo (2021), os limites do cheque especial são definidos
pelas instituições financeiras com base em critérios básicos, como a renda média
movimentada na conta, o histórico de relacionamento com o banco e o tempo de
abertura da conta, podendo ser explicado em parte porque o cheque especial cos-
tuma ter algumas das maiores taxas de juros do mercado financeiro.
Dentre as características do cheque especial, destacam-se os seguintes pon-
tos (AZEVEDO, 2021; KOHLER, 2015):

 Linha de crédito: O cheque especial é uma linha de crédito pré-aprovada


vinculada à conta corrente do cliente. O banco define um limite máximo de
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crédito com base no histórico financeiro e relacionamento do cliente com o


banco.
 Taxas de juros: O uso do cheque especial é cobrado com taxas de juros ge-
ralmente mais altas do que outras formas de crédito, devido à sua natureza
de curto prazo e risco associado.
 Utilização facilitada: Os clientes podem acessar o cheque especial facilmen-
te, seja por meio de saques em caixas eletrônicos, emissão de cheques ou
transferências para outras contas. Não é necessário obter aprovação do ban-
co para cada transação.
 Prazo de pagamento: O cheque especial geralmente não possui um prazo
de pagamento fixo, mas os bancos podem exigir que o cliente regularize a
conta em um determinado período de tempo ou com base em um acordo es-
pecífico.
 Limite de Crédito: Cada conta corrente tem um limite de crédito estabelecido
pelo banco, que varia de acordo com o perfil financeiro do cliente. Os clientes
não podem exceder esse limite sem a aprovação do banco.
 Custo: O uso do cheque especial incorre em custos, incluindo taxas de juros
e, às vezes, taxas de utilização. Os clientes devem estar cientes dos custos
associados ao uso do cheque especial.
 Risco financeiro: O uso imprudente do cheque especial pode levar a pro-
blemas financeiros, pois as taxas de juros são geralmente altas, tornando-o
uma opção cara de crédito. É importante usá-lo com responsabilidade.
 Aprovação prévia: Em muitos casos, os bancos oferecem o cheque especial
automaticamente aos clientes, mas os clientes também podem solicitar essa
linha de crédito.

Seu funcionamento é relativamente direto: os bancos pré-aprovam um limite


de crédito para seus clientes com base em critérios como histórico de relacionamen-
to, renda e movimentação na conta. Esse limite representa uma espécie de "rede de
segurança" que permite que os correntistas continuem suas transações mesmo
quando o saldo da conta não é suficiente. Contudo, essa comodidade não vem sem
custos, uma vez que o uso do cheque especial implica o pagamento de juros e, em
alguns casos, taxas de utilização.
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O acesso facilitado ao cheque especial é uma das suas principais caracterís-


ticas, permitindo saques em caixas eletrônicos, emissão de cheques, transferências
e até mesmo pagamentos de contas quando os fundos disponíveis na conta são in-
suficientes. Quando um depósito é feito na conta, o valor utilizado do cheque espe-
cial é automaticamente deduzido, acrescido dos juros correspondentes (BACEN,
2019).
Vale ressaltar que o uso do cheque especial no Brasil pode se tornar uma ar-
madilha financeira devido às altas taxas de juros que podem ser cobradas. Embora
algumas instituições ofereçam um período inicial sem juros, após esse período, as
taxas podem atingir mais de 213% ao ano, tornando-o uma das opções de crédito
mais caras do mercado. A falta de garantias para a instituição financeira, uma vez
que o cliente entra automaticamente no cheque especial e o dinheiro é liberado sem
garantias de reembolso, contribui para a elevada taxa de juros, refletindo a menor
confiança na capacidade de pagamento do correntista (BACEN, 2021).
As taxas de juros do cheque especial no Brasil permaneceram praticamente
inalteradas desde fevereiro de 2021, com uma média de 7,96% ao mês, de acordo
com uma pesquisa recente. Isso ocorreu em grande parte devido a uma regulamen-
tação do Banco Central, especificamente a Resolução nº 4.765 de novembro de
2019, que estabeleceu um limite máximo de 8% ao mês para a taxa de juros do
cheque especial para pessoa física, um valor adotado pela maioria das instituições
financeiras, com exceção do Banco do Brasil. Essa medida regulatória teve o efeito
de trazer maior transparência e controle aos custos associados ao cheque especial,
beneficiando os consumidores ao limitar as taxas de juros que podem ser cobradas
por essa modalidade de crédito (BACEN, 2019).

Figura 1: Taxa de juros aplicada nos principais bancos do Brasil (em 2023).

Fonte: BACEN (2023).


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Um aspecto crucial a ser compreendido é a aplicação de juros compostos na


cobrança do cheque especial. Isso significa que, a cada dia que o limite é utilizado,
os juros são calculados sobre o valor total devido até o momento, gerando um custo
considerável para o cliente. Além disso, mesmo nos casos em que os primeiros dias
são isentos de juros, a instituição financeira ainda cobra o IOF (Imposto sobre Ope-
ração Financeira) assim que o limite é utilizado, aumentando ainda mais o custo total
para o correntista (BACEN, 2021).
Portanto, embora o cheque especial possa ser uma solução para emergên-
cias financeiras, é crucial que os clientes estejam cientes dos custos envolvidos e o
utilizem com extrema cautela para evitar endividamento excessivo.

2.2 Empréstimos no direito bancário brasileiro

Os empréstimos desempenham um papel fundamental no direito bancário


brasileiro, representando uma das principais formas de captação e concessão de
recursos financeiros no sistema bancário do país. Os bancos oferecem uma ampla
variedade de tipos de empréstimos para atender às diferentes necessidades de seus
clientes. Entre os empréstimos mais comuns estão o empréstimo pessoal, o emprés-
timo consignado, o financiamento imobiliário, o financiamento de veículos e o crédito
rural, apenas para citar alguns exemplos (SILVA, 2020).
O empréstimo pessoal é uma das modalidades mais flexíveis, geralmente
não exigindo um fim específico para os recursos. Com taxa média de 7,99% a.m.
(Ago/2023) clientes podem usá-lo para diversas finalidades, como cobrir despesas
emergenciais, realizar viagens, pagar dívidas, entre outros. Já o empréstimo consig-
nado é destinado principalmente a aposentados, pensionistas e funcionários públi-
cos, com a peculiaridade de que as parcelas são descontadas diretamente do salá-
rio ou benefício, o que reduz o risco para o banco e, muitas vezes, resulta em taxas
de juros mais baixas (BACEN, 2023; FEBRABAN, 2021).
Os financiamentos imobiliários e de veículos representam modalidades de
empréstimos direcionadas à aquisição de bens específicos, caracterizando-se ge-
ralmente por prazos mais longos e a necessidade de garantias específicas, como a
hipoteca em financiamentos imobiliários. No cenário atual, as taxas de financiamento
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imobiliário variam de 9,80% a 18,27% ao ano, enquanto as taxas para aquisição de


veículos abrangem uma faixa ainda mais ampla, indo de 15% a mais de 50% ao
ano, dependendo das condições e do perfil do tomador de crédito. O impacto das
taxas elevadas é evidente, já que quem opta por financiamentos de longo prazo po-
de acabar pagando quase o dobro do valor original do bem (BACEN, 2023; FEBRA-
BAN, 2021).
O empréstimo consignado é uma modalidade de crédito amplamente utili-
zada no Brasil, conhecida por suas taxas de juros mais baixas em comparação com
outros tipos de empréstimos. Com uma taxa média de 2,83% (Ago/23), esse tipo de
crédito é especialmente direcionado para aposentados, pensionistas do INSS e fun-
cionários públicos, considerados grupos de baixo risco de inadimplência, devido à
estabilidade financeira associada. Essa praticidade e segurança nas operações con-
tribuem para a sua popularidade no mercado financeiro brasileiro (BACEN, 2023;
FEBRABAN, 2021).
Já o crédito rural desempenha um papel crucial no setor agrícola, fornecen-
do aos produtores financiamento com condições especiais e taxas de juros diferen-
ciadas, permitindo o desenvolvimento das atividades agropecuárias do país. O crédi-
to subsidiado é diretamente oferecido pelos bancos públicos, principalmente o Ban-
co do Brasil e o BNDES, que oferece empréstimos em dólar com juros baseados nos
EUA (FEBRABAN, 2021).
A regulamentação e fiscalização dessa modalidade de empréstimo são reali-
zadas pelo Banco Central do Brasil (BACEN), que estabelece diretrizes para garantir
transparência, segurança e a proteção dos consumidores. A concessão de emprés-
timos por instituições financeiras envolve uma série de regras e requisitos, tanto pa-
ra garantir a segurança das operações quanto para proteger os interesses dos con-
sumidores.
Abaixo estão algumas das principais regras e requisitos aplicáveis à conces-
são de empréstimos (AZEVEDO, 2021):

 Análise de Crédito: Os bancos e instituições financeiras devem realizar uma


análise rigorosa da capacidade de pagamento do cliente antes de conceder
um empréstimo. Isso envolve avaliar a renda, histórico de crédito, dívidas
existentes e outros fatores financeiros relevantes.
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 Documentação: Os clientes geralmente devem fornecer documentos com-


probatórios de sua identidade, residência, renda e outras informações finan-
ceiras. Isso é essencial para a verificação das informações fornecidas e para
cumprir as regulamentações de prevenção à lavagem de dinheiro.
 Política de Crédito: As instituições financeiras têm políticas de crédito que
definem os critérios de elegibilidade para a concessão de empréstimos. Essas
políticas podem variar de um banco para outro e são usadas para determinar
o limite de crédito, as taxas de juros e os prazos de pagamento.
 Taxas e Custos: As instituições financeiras são obrigadas a fornecer infor-
mações claras sobre as taxas de juros, custos adicionais, tarifas e encargos
relacionados ao empréstimo. Isso é parte fundamental da transparência e da
proteção do consumidor.
 Seguro e Garantias: Em alguns casos, especialmente em empréstimos de
alto valor, pode ser exigido que o cliente forneça garantias ou contrate um se-
guro para cobrir o empréstimo em caso de inadimplência.
 Limite de Idade: Muitos bancos têm um limite de idade para a concessão de
empréstimos. Isso pode variar de acordo com o tipo de empréstimo e a políti-
ca do banco.
 Finalidade do Empréstimo: Empréstimos podem ter finalidades específicas,
como aquisição de imóveis, veículos ou educação. Em alguns casos, é ne-
cessário comprovar a finalidade dos recursos.
 Regulamentação: As instituições financeiras devem cumprir as regulamenta-
ções e leis aplicáveis, como aquelas relacionadas à proteção do consumidor,
prevenção à lavagem de dinheiro e transparência nas operações.
 Informações ao Consumidor: As instituições financeiras são obrigadas a
fornecer informações claras e detalhadas sobre os termos e condições do
empréstimo antes da assinatura do contrato. Isso inclui a taxa de juros, o va-
lor total a ser pago, o prazo de pagamento e outras informações relevantes.
 Consentimento Informado: O cliente deve dar seu consentimento informado
para a concessão do empréstimo, demonstrando compreensão e concordân-
cia com os termos do contrato.

Para Bolzano (2014), a concessão de empréstimos envolve um processo rigo-


roso de análise, documentação e cumprimento de regulamentações para garantir
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que as operações sejam conduzidas de forma responsável e transparente, prote-


gendo tanto as instituições financeiras quanto os consumidores. O cumprimento
dessas regras e requisitos é fundamental para garantir a estabilidade e a integridade
do sistema financeiro.
As taxas de juros e os custos associados aos empréstimos bancários no Bra-
sil são elementos cruciais a serem considerados pelos consumidores ao buscar fi-
nanciamento ou crédito. O país tem uma das taxas de juros mais elevadas do mun-
do, o que pode resultar em custos significativos para quem recorre a empréstimos.
As taxas podem variar de acordo com o tipo de empréstimo, o histórico de crédito do
cliente e a instituição financeira escolhida (FEBRABAN, 2021).

Figura 2: Spread bancário entre 2011-2022 no Brasil

Fonte: BACEN (2023).

Em geral, os empréstimos pessoais e consignados tendem a oferecer taxas


de juros mais baixas, uma vez que são garantidos por salários ou benefícios previ-
denciários, reduzindo o risco para os bancos. Por outro lado, o uso de cartões de
crédito e cheque especial frequentemente envolve taxas de juros substancialmente
mais altas, tornando essas opções de crédito mais onerosas para os consumidores
(SILVA, 2020).
Além das taxas de juros, os custos associados aos empréstimos podem inclu-
ir tarifas, seguros, impostos e outros encargos, que variam de acordo com a institui-
ção financeira e o tipo de empréstimo, sendo fundamental que os consumidores
compreendam completamente todos esses custos antes de contratar um emprésti-
mo, garantindo uma decisão financeira informada e consciente (SILVA, 2020).
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Vale ressaltar que o BACEN regula e supervisiona as operações de crédito no


país, estabelecendo diretrizes para garantir a transparência e a proteção do consu-
midor. Contudo, é responsabilidade dos clientes conhecerem os termos e condições
dos empréstimos, bem como comparar as ofertas disponíveis no mercado para en-
contrar a opção mais adequada às suas necessidades financeiras. Dessa forma,
eles podem minimizar os custos e tomar decisões financeiras mais assertivas (KOH-
LER, 2015).

2.3 Limites e restrições do cheque especial

Os limites e restrições do cheque especial desempenham um papel importan-


te na gestão das finanças pessoais e na relação entre os bancos e seus clientes.
Quando se trata de estabelecer limites de crédito no cheque especial, várias consi-
derações entram em jogo (BOLZAN, 2014).
Os bancos determinam o limite de crédito do cheque especial para cada clien-
te com base em uma série de critérios, como renda mensal, histórico de relaciona-
mento com a instituição e tempo de abertura da conta. Esses limites são estabeleci-
dos visando equilibrar a disponibilidade de crédito com a capacidade de pagamento
do cliente, a fim de evitar riscos excessivos (BOLZAN, 2014).
Todavia, é fundamental entender que o uso do cheque especial não é ilimita-
do. Uma vez que o limite é atingido, não é possível continuar realizando transações
que excedam esse valor sem incorrer em cobranças adicionais. Além disso, os juros
e, em alguns casos, taxas de utilização podem ser substanciais, tornando o cheque
especial uma opção de crédito cara (BOLZAN, 2014).
Para evitar situações de endividamento excessivo, é essencial que os clientes
estejam cientes dos limites de crédito estabelecidos pelos bancos e que usem o
cheque especial com responsabilidade, preferencialmente apenas em situações
emergenciais. Entender as restrições e os custos associados ao cheque especial é
parte fundamental da educação financeira, permitindo que os consumidores tomem
decisões informadas e evitem armadilhas financeiras (BOLZAN, 2014).
As condições contratuais para o uso do cheque especial são estabelecidas
em um contrato entre o cliente e a instituição financeira. Essas condições podem
variar de um banco para outro, mas geralmente incluem os seguintes aspectos (BA-
CEN, 2021; BOLZAN, 2014):
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 Taxa de Juros: O contrato deve especificar a taxa de juros aplicável ao uso


do cheque especial. As taxas de juros do cheque especial são frequentemen-
te mais elevadas do que em outras modalidades de crédito, e é importante
que o cliente esteja ciente desses custos.
 Limite de Crédito: O contrato deve estabelecer o limite máximo de crédito
disponível no cheque especial para o cliente. Esse limite é pré-aprovado pela
instituição financeira e pode variar com base na renda e histórico de relacio-
namento do cliente com o banco.
 Prazo de Pagamento: O contrato deve indicar o prazo em que o valor utiliza-
do do cheque especial deve ser pago. Geralmente, o pagamento é devido as-
sim que houver um depósito na conta corrente do cliente.
 Custos Adicionais: Além dos juros, o contrato pode incluir informações so-
bre possíveis custos adicionais, como taxas de utilização do cheque especial
ou outros encargos.
 Responsabilidades do Cliente: O contrato pode estabelecer as responsabi-
lidades do cliente em relação ao uso do cheque especial, incluindo a obriga-
ção de manter a conta em boas condições e não exceder o limite de crédito.
 Direitos e Recursos do Banco: O contrato também pode detalhar os direitos
e recursos que o banco possui em caso de inadimplência por parte do cliente,
como a possibilidade de cobrança judicial ou de inclusão do nome do cliente
em órgãos de proteção ao crédito.
 Cancelamento ou Alterações: O contrato pode estabelecer as condições
sob as quais o banco pode cancelar ou modificar os termos do cheque espe-
cial, bem como como o cliente será notificado sobre essas alterações.

Como destaca Silva (2020), é fundamental que o cliente leia e compreenda


todas as condições contratuais antes de utilizar o cheque especial. A transparência
nas informações é fundamental para garantir que o cliente tome decisões financeiras
informadas e esteja ciente dos custos e das obrigações associadas ao uso dessa
modalidade de crédito. Caso haja dúvidas, é recomendável procurar esclarecimen-
tos junto ao banco ou a um profissional financeiro.
O uso do cheque especial no Brasil pode ter um impacto financeiro significati-
vo devido aos custos associados a essa modalidade de crédito. Os números refle-
tem uma realidade que afeta milhões de brasileiros. De acordo com dados do Banco
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Central do Brasil, a taxa média de juros do cheque especial para pessoa física em
setembro de 2021 estava em torno de 121,2% ao ano, um valor muito superior às
taxas de juros de outras modalidades de crédito, como empréstimos pessoais e fi-
nanciamentos imobiliários (BACEN, 2021).
Para ilustrar o impacto financeiro, considere o seguinte exemplo: se alguém
utilizasse R$ 1.000,00 do limite de cheque especial por um ano a uma taxa de juros
de 121,2% ao ano, os custos financeiros chegariam a cerca de R$ 1.212,00 apenas
em juros, totalizando uma dívida de R$ 2.212,00. Isso demonstra como o cheque
especial pode se tornar rapidamente uma armadilha financeira (BACEN, 2021).
Com isso, é importante considerar que o uso constante do cheque especial
pode levar à formação de uma dívida crescente, uma vez que os juros são calcula-
dos sobre o saldo devedor acumulado, muitas vezes em regime de juros compostos.
Para evitar o impacto financeiro negativo, os consumidores que utilizem o cheque
especial devem ter extrema cautela e apenas em situações de emergência.
Portanto, buscar alternativas de crédito mais acessíveis, como empréstimos
pessoais ou consignados, pode ser uma opção mais econômica a longo prazo. A
educação financeira e o entendimento das taxas de juros e custos associados são
cruciais para tomar decisões financeiras informadas e evitar a acumulação de dívi-
das onerosas.

2.4 Utilização do cheque especial para liquidar empréstimos

O uso do cheque especial para liquidar empréstimos é uma prática que gera
discussões legais e financeiras importantes. Em muitos casos, os bancos podem
tentar utilizar o limite do cheque especial de seus clientes para pagar dívidas sem o
devido consentimento, o que levanta questões éticas e legais. É essencial compre-
ender que o limite do cheque especial é, na verdade, um empréstimo pré-aprovado,
disponível para o cliente utilizar conforme sua necessidade e conveniência (AZEVE-
DO, 2021).
Dados revelam que essa prática pode ser mais comum do que se imagina. No
Brasil, onde as taxas de juros do cheque especial estão entre as mais elevadas do
mundo, os consumidores podem se tornar vítimas desse uso indevido por parte das
instituições financeiras. Muitos clientes podem não estar cientes das implicações
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financeiras e legais dessa prática, o que torna fundamental que estejam devidamen-
te informados sobre seus direitos e deveres (MEIRELLES, 2021).
De acordo com a legislação brasileira, o uso do limite de cheque especial pa-
ra liquidar empréstimos sem o consentimento do cliente é considerado ilegal. Isso
ocorre porque coloca o consumidor em uma situação de onerosidade, uma vez que
ele pode estar pagando taxas de juros substancialmente mais altas do que as ofere-
cidas em empréstimos convencionais. Nesse contexto, é possível argumentar que,
em casos de utilização indevida do cheque especial para quitar empréstimos, o cli-
ente tem direito à restituição do valor utilizado indevidamente em dobro, conforme
previsto em dispositivos legais que protegem o consumidor (KOHLER, 2014).
Nesse contexto, Meirelles (2021) concorda plenamente com a ideia apresen-
tada. O uso do cheque especial para quitar empréstimos, embora possa ser uma
estratégia tentadora para as instituições financeiras, levanta sérias questões legais e
éticas em relação aos direitos dos clientes, enfatizando que a transparência e a pro-
teção dos consumidores são princípios fundamentais em qualquer sistema financeiro
saudável.
Para Bolzan (2014), os clientes devem estar plenamente cientes de seus di-
reitos e deveres ao utilizar o cheque especial e devem buscar orientação jurídica se
sentirem que foram prejudicados por essa prática, levado em conta que a legislação
brasileira prevê mecanismos de proteção aos consumidores, e o uso indevido do
limite de cheque especial para quitar empréstimos pode ser considerado uma viola-
ção desses direitos.
Dados do Serasa reforçam a preocupação mencionada, destacando que 8 em
cada 10 pessoas utilizaram fontes de crédito, mesmo sem a capacidade previsível
de pagamento da dívida. Essa tendência se intensificou, principalmente após a pan-
demia da COVID-19, que resultou em muitos casos de desemprego e na busca por
meios alternativos de sobrevivência. Esse cenário revela que a utilização indevida
de recursos financeiros, como o limite de cheque especial, pode ser mais dissemi-
nada do que se imagina, prejudicando consideravelmente a situação financeira dos
clientes e enfatizando a necessidade de regulamentações e fiscalizações eficazes
para proteger os consumidores (MEIRELLES, 2021).
Para utilizar o cheque especial na quitação de empréstimos de forma ade-
quada, é necessário seguir uma série de passos e atender a requisitos específicos.
Inicialmente, o cliente deve entrar em contato com a instituição financeira que con-
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cedeu o empréstimo, buscando informações detalhadas sobre a viabilidade dessa


operação, processo que envolve esclarecer as condições, os custos associados e
obter um entendimento completo de como a transação será conduzida. Em seguida,
o cliente precisa verificar se possui limite de cheque especial suficiente para cobrir o
valor total da dívida do empréstimo (AZEVEDO, 2021).
Caso o limite seja insuficiente, é importante negociar com o banco para au-
mentá-lo ou considerar alternativas. Uma vez confirmada a viabilidade, é crucial for-
malizar todos os acordos em um contrato ou termo de quitação, que deve ser assi-
nado tanto pelo cliente quanto pela instituição financeira, cujo documento deve
abordar detalhes como o montante a ser quitado, as condições de pagamento, as
taxas de juros aplicáveis e outras informações relevantes. Por fim, o cliente deve
cumprir todas as obrigações legais e financeiras estabelecidas no contrato, incluindo
o pagamento das parcelas do cheque especial nos prazos acordados, bem como o
monitoramento constante das movimentações e dos custos financeiros envolvidos
na operação. Essa abordagem cuidadosa ajuda a garantir uma utilização adequada
do cheque especial na quitação de empréstimos (SILVA, 2020).

2.6 Análise do caso de Marcos

No caso apresentado, Marcos firmou contratos com o Banco do Povo, inicial-


mente adquirindo uma conta corrente com um limite de cheque especial de R$
5.000,00 e, posteriormente, contratando um empréstimo pessoal de R$ 100.000,00
com a instituição. Para obter condições mais favoráveis no empréstimo, foi obrigado
a adquirir um seguro residencial junto ao banco. Entretanto, a perda de emprego
levou Marcos a deixar de pagar as parcelas do empréstimo, resultando em um saldo
devedor de R$ 116.000,00 financiado através de seu cheque especial, gerando sur-
presa devido ao limite deste último não ter sido solicitado.
Este cenário suscita preocupações quanto à transparência e legalidade das
práticas do Banco do Povo, bem como à possível existência de cláusulas contratuais
abusivas. A situação de Marcos sugere a necessidade de uma análise mais apro-
fundada das circunstâncias, incluindo a possibilidade de revisão contratual, questio-
namento do seguro residencial e busca de reparação pelos danos sofridos.
Abaixo será realizada uma análise com base nos seguintes pontos:
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2.6.1 Licitude da conduta do banco

A licitude da conduta do banco no lançamento do saldo devedor na conta cor-


rente de Marcos e no financiamento por meio do limite do cheque especial está inti-
mamente ligada às cláusulas contratuais estabelecidas entre as partes. No caso
apresentado, as cláusulas contratuais foram citadas pelo gerente do banco, desta-
cando que o não pagamento de qualquer parcela do empréstimo acarreta o venci-
mento automático de todas as parcelas vincendas, permitindo ao banco cobrar a
totalidade da dívida acrescida de encargos e penalidades contratuais e legais.
Essas cláusulas, em princípio, autorizam a prática realizada pelo banco, des-
de que esteja em conformidade com os termos contratuais acordados entre as par-
tes. No entanto, é importante ressaltar que, mesmo dentro dos limites lícitos e con-
tratuais, a atuação das instituições financeiras deve ser pautada pela transparência
e pelo respeito aos direitos do consumidor. Portanto, a licitude da conduta do banco
respaldada no contrato afronta as normas de Direito do Consumidor, tornando-as
ilegais.
A licitude da conduta do banco deve ser avaliada em conjunto com a possibi-
lidade de revisão das cláusulas abusivas contratuais à luz da legislação consumeris-
ta vigente.

2.6.2 Cláusulas abusivas no contrato

As cláusulas 3.6, 4.3 e 5.8 do contrato celebrado entre Marcos e o "Banco do


Povo" apresentam indícios de abusividade. A cláusula 3.6, que prevê o vencimento
antecipado da dívida em caso de inadimplemento, carece de clareza em relação aos
encargos e penalidades que seriam aplicáveis nessa situação. A ausência de trans-
parência quanto a esses aspectos pode tornar essa cláusula potencialmente abusi-
va, uma vez que não permite que o consumidor compreenda plenamente as conse-
quências de seu inadimplemento.
A cláusula 4.3, que autoriza o aumento unilateral do limite do cheque especial
pelo banco, também levanta questões sobre sua validade em contratos de consumo.
A possibilidade de a instituição financeira, sem consulta ou autorização do cliente,
ampliar o limite do cheque especial até o montante do saldo devedor lançado na
conta corrente pode ser interpretada como uma prática abusiva e ilegal que desequi-
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libra a relação contratual em favorecimento do banco gerando onerosidade excessi-


va ao consumidor.
Já a cláusula 5.8, que permite modificações unilaterais pelo banco, para alte-
rar os termos e condições do contrato sem a necessidade de autorização do cliente
pode ser questionada quanto à sua conformidade com os princípios da boa-fé e
equidade nos contratos de consumo.
Sendo assim, diante dessas cláusulas que possuem características abusivas,
é essencial a reavaliação da legalidade e validade desses dispositivos contratuais à
luz do CDC. A proteção dos direitos do consumidor e a revisão de cláusulas abusi-
vas são elementos-chave em transações financeiras e contratos de consumo.

2.6.3 Possibilidade de conhecimento de ofício

A possibilidade de o Magistrado conhecer de ofício a abusividade de cláusu-


las contratuais é uma importante ferramenta de proteção dos direitos dos consumi-
dores e está prevista no CDC brasileiro. Isso significa que, mesmo que o consumidor
não questione diretamente a validade de uma cláusula contratual, o Juiz pode, por
sua própria iniciativa, analisar e declarar a abusividade de cláusulas que considere
prejudiciais aos direitos do consumidor, cuja prerrogativa é especialmente relevante
em contratos de consumo, nos quais a vulnerabilidade do consumidor é mais evi-
dente.
A razão por trás dessa possibilidade é garantir a efetividade do CDC, que tem
como um de seus principais objetivos a proteção do consumidor contra práticas abu-
sivas por parte de fornecedores de produtos ou serviços. A abusividade em cláusu-
las contratuais pode se manifestar de diversas formas, incluindo a criação de dese-
quilíbrios excessivos entre as partes, limitações indevidas aos direitos dos consumi-
dores e falta de transparência.
No caso de Marcos, em que o contrato com o "Banco do Povo" apresenta ca-
racterísticas de cláusulas abusivas, é plausível que o Juiz, ao analisar a ação judicial
cabível, possa identificar e declarar de ofício a abusividade dessas cláusulas, de
forma que essas sejam contrárias aos princípios de equidade e boa-fé que regem os
contratos de consumo. Essa medida visa garantir que os consumidores estejam pro-
tegidos contra práticas contratuais injustas e desleais, mesmo que eles não tenham
o conhecimento técnico para identificar tais abusos por conta própria. Portanto, a
18

aplicação do CDC nesse contexto é fundamental para a justiça nas relações de con-
sumo.

2.6.4 Contratação do seguro residencial

A contratação do seguro residencial juntamente com o empréstimo por Mar-


cos levanta questões importantes quanto à transparência e à onerosidade dessa
imposição por parte do Banco do Povo. A venda casada, prática que obriga o con-
sumidor a adquirir um serviço ou produto adicional, muitas vezes sem seu pleno
consentimento, é considerada abusiva e ilegal pelo CDC brasileiro. No caso de Mar-
cos, se a contratação do seguro residencial foi imposta como condição para obten-
ção do empréstimo, isso pode configurar uma venda casada.
A jurisprudência brasileira tem se posicionado de forma a reconhecer a abusi-
vidade da venda casada, protegendo os direitos dos consumidores. Em situações
semelhantes, em que a imposição de serviços adicionais é considerada excessiva-
mente onerosa ou desprovida de transparência, os tribunais têm amparado os con-
sumidores na busca pela anulação desses contratos. Sendo assim, Marcos possui
fundamentos legais e jurisprudenciais para questionar a contratação do seguro resi-
dencial junto ao empréstimo e buscar a anulação desse contrato, caso se comprove
a prática de venda casada ou condições desvantajosas para o consumidor.
É importante destacar que a legislação e a jurisprudência estão do lado do
consumidor quando se trata de práticas abusivas como a venda casada. A transpa-
rência e a equidade nas relações de consumo são princípios fundamentais, e os
consumidores devem estar cientes de que têm o respaldo legal para combater práti-
cas abusivas por parte das instituições financeiras.

2.6.5 Prazo prescricional

No que diz respeito ao prazo prescricional aplicável ao caso de Marcos, é


fundamental destacar que, de acordo com o artigo 206, § 5º, I, do Código Civil, esse
prazo é de 5 anos. Em se tratando de cobrança de valores indevidos, esse período
começa a ser contado a partir do momento em que Marcos teve ciência do aumento
do limite do cheque especial e do lançamento do saldo devedor em sua conta cor-
rente.
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2.6.6 Natureza da relação e dispositivos legais aplicáveis

A natureza da relação estabelecida entre Marcos e o Banco do Povo é con-


sumerista, pois envolve um consumidor, Marcos, sendo ele um consumidor dos pro-
dutos e serviços prestados pela instituição financeira, o banco, sendo, portanto, For-
necedor desses produtos e serviços. A Súmula n. 297 do STJ corrobora que o CDC
é plenamente aplicável, uma vez que visa à proteção dos direitos dos consumidores
em transações com as instituições financeiras.
Adicionalmente, as operações bancárias são regulamentadas pelo Banco
Central, que estabelece diretrizes e normas específicas para garantir a segurança e
a transparência nessas transações. Portanto, uma série de dispositivos legais se
aplica a essa relação, como os artigos 2º e 3º do Código de Defesa do Consumidor
que define e conceitua a relação entre Marcos e o banco, bem como o artigo 39, in-
ciso I, também do CDC sobre as práticas abusivas, também o artigo 51 do mesmo
Código que versa sobre cláusulas contratuais abusivas e, por fim, verificada a exis-
tência de cobrança indevida é cabível a aplicação do disposto no artigo 42, parágra-
fo único, do CDC, que prevê a restituição em dobro dos valores pagos..

2.6.7- Medidas que podem ser adotadas e eventuais pretensões

As medidas a serem adotadas no caso reside na possibilidade de ingresso de


ação judicial para a revisão do contrato celebrado entre Marcos e o Banco do Povo,
com especial atenção à identificação das cláusulas consideradas abusivas, como as
mencionadas, podendo requer a sua anulação para restabelecer o equilíbrio contra-
tual e proteger os direitos de Marcos como consumidor. Adicionalmente, o pedido de
reconhecimento de prática abusiva em relação a contratação do seguro residencial
configurando a prática de venda casada.
Outrossim, Marcos ainda poderá pleitear por restituição dos valores e indeni-
zação pelos danos sofridos devido às práticas abusivas e à utilização indevida do
cheque especial. O objetivo do ajuizamento da ação é garantir relações contratuais
justas e transparentes.
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3 Conclusão

Diante das circunstâncias apresentadas, a conduta do Banco do Povo, ainda


que respaldada pelo contrato, afronta a legalidade, bem como a presença de cláusu-
las contratuais abusivas, em especial, as cláusulas relacionadas ao aumento unilate-
ral do limite do cheque especial e às modificações unilaterais geram desigualdade
na relação contratual, ocasionando vantagens indevidas ao banco, infringindo os
direitos de Marcos como consumidor. Além disso, a contratação compulsória do se-
guro residencial deve ser analisada sob a ótica da proibição da venda casada e da
onerosidade excessiva.
No referencial teórico, viu-se que o cenário financeiro brasileiro é marcado pe-
la complexidade das altas taxas de juros no cheque especial, que impactam consi-
deravelmente os consumidores. Além disso, a questão dos empréstimos e do uso do
crédito especial para quitar dívidas destaca a necessidade de compreensão das prá-
ticas bancárias e dos direitos dos consumidores. O desafio principal consiste em
proteger os consumidores contra práticas abusivas, enquanto eles buscam soluções
financeiras adequadas às suas necessidades.
Ademais, ingressando-se com a medida judicial cabível respeitando o prazo
prescricional de 5 (cinco) anos, em vias judiciais, é possível que o Magistrado reco-
nheça de ofício a abusividade das cláusulas presente no contrato, bem como analise
a possibilidade de anulação da contratação do seguro residencial praticada pelo
banco em razão da prática abusiva de venda casada.
Não obstante, se pleiteará a restituição em dobro dos valores cobrados inde-
vidamente, conforme prevê o artigo 42, parágrafo único, do CDC.
Por fim, analisando os dados fáticos e teóricos, se trata de um caso relativa-
mente comum no cotidiano brasileiro. Infelizmente, muitas relações contratuais entre
consumidores e instituições bancárias há possibilidade de estar eivada de práticas
abusivas e ilegalidades por falta de boa-fé e transparência da Instituição, bem como
pela hipossuficiência de conhecimento do consumidor resultando em uma relação
desequilibrada e onerosa.
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4 Referências

AZEVEDO, M. Concentração e Competição no Mercado de Crédito Doméstico. Re-


vista de Administração Contemporânea. Brasília, v. 24, n. 5, p. 380 -399, 2020.

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