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CBI of Miami 2
Prevenção de Comportamentos-Problema
Felipe Lemos
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problema quando tratados tendem a ter pouco efeito de manutenção, ou seja,
há ressurgência do comportamento sem a intervenção, retornando a níveis
originais (KESTNER; PETERSON, 2016; RADHAKRISHNAN; GEROW;
WESTON, 2020; VOLKERT et al., 2009).
Mas isso não quer dizer que seremos reféns de comportamentos-
problema ou que toda pessoa diagnosticada com TEA ou Deficiência
Intelectual está fadada a desenvolver comportamentos-problema severos. Com
o desenvolvimento das tecnologias comportamentais diversos tipos de treinos
foram desenvolvidos para se sanar esse problema através de Prevenção de
Comportamento-Problema (BEAULIEU; HANLEY, 2014; FAHMIE; IWATA;
MEAD, 2016; FAHMIE; LUCZYNSKI, 2018; HANLEY et al., 2007; LUCZYNSKI;
HANLEY, 2013; REEVE; CARR, 2000; RUPPEL et al., 2021).
Muito embora tenhamos vários estudos sobre prevenção de
comportamentos-problema, temos poucos programas criados com intuito de
prevenir comportamentos-problema, de forma geral programas baseados em
análise comportamental se focam em intervenções antecedentes (FISHER;
PIAZZA; ROANE, 2011; KENNEDY, 1994; KERN; CLEMENS, 2007).
Uma das tentativas iniciais para desenvolvimento de programas
preventivos de comportamentos-problemas foi proposta por Dunlap et al.
(1990) que desenvolveram um programa para ensinar repertórios essenciais na
ausência de comportamentos-problema com objetivo de prevenir a ocorrência
desses comportamentos, ou até mesmo de prevenir a escalada. Na verdade, o
uso de comunicação para prevenir comportamentos-problema vem sendo
recomendado desde 1997 por Kaiser & Hester. Reeve & Carr (2000) relatam
que são três as possibilidades para se prevenir comportamentos-problema:
prevenção total, eliminação de precursores e minimização da possibilidade de
escalada para comportamento-problema severo.
Cooper, Heron e Heward (2019) ressaltam que o comportamento de
adultos pode ser moldado pelo comportamento-problema da criança. Em
algumas situações o professor ou cuidador podem passar a se esquivar de
oferecer demandas, ou até mesmo colocar operações estabelecedoras que
evocavam comportamentos-problema, o que dá uma falsa impressão de
melhora no comportamento. Esse comportamento de esquiva de adultos foi
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demonstrado por Addison & Lerman, (2009) e Sloman et al. (2005). Em ambos
os estudos foi possível perceber como a mudança comportamental era
reforçada pela fuga dos adultos das situações aversivas.
Em uma recente revisão sistemática sobre mando por obediência,
Rajaraman & Hanley (2020) ressaltam que cuidadores muitas vezes são
controlados pelos comportamentos-problema de seus filhos, como se fossem
reféns desses comportamentos-problema. Patterson (1980) utiliza
argumentação semelhante ao demonstrar que a criança aprende a coagir os
cuidadores através de comportamentos-problema, mantendo o controle
familiar.
Uma das ferramentas mais utilizadas para prevenção de
comportamentos-problema na análise do comportamento é o treino de
comunicação funcional (GHAEMMAGHAMI; HANLEY; JESSEL, 2020). Esse
treino consiste em um programa de reforço diferencial de respostas
alternativas, baseado na função do comportamento-problema, com uso
exclusivo de comunicação (CARR; DURAND, 1985). Podemos usar como
exemplo uma situação em que, ao identificar que um comportamento-problema
é mantido por reforçamento negativo socialmente mediado, seria possível
ensinar ao cliente uma comunicação que se leva à fuga da situação aversiva
(TIGER; HANLEY; BRUZEK, 2008). Reeve & Carr (2000) realizaram estudo
demonstrando ser possível desenvolver treino de comunicação funcional e
prevenir a escalada de comportamentos-problema severos. No entanto, é
possível que haja ressurgência de comportamentos-problema após treino de
comunicação funcional, ou após períodos de verificação após a intervenção ser
encerrada (RADHAKRISHNAN; GEROW; WESTON, 2020).
Hanley et al. (2007) testaram um pacote compreensivo de intervenção
preventiva para comportamentos-problema, com uso de treino de comunicação
funcional dentro de um pacote. O treino de habilidades preventivas com
crianças pré-escolares sem diagnósticos específicos era o foco desse pacote
de intervenção. As habilidades ensinadas nesse pacote eram: responder ao
nome; seguir instruções simples; seguir instruções de várias etapas; solicitar
ajuda; solicitar atenção de adultos ou colegas; solicitar materiais de adultos;
solicitar materiais de pares; tolerar atrasos de adultos; tolerar atrasos de pares;
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dizer obrigado; reconhecer/elogiar os outros; oferecer e compartilhar e
confortar os outros. A escolha dessas habilidades se deu porque isoladamente
eram relatadas como possíveis de se prevenir comportamentos problemas em
funções e situações diferentes. Dessa forma, o protocolo de ensino de
Habilidades de Vida Pré-Escolares, tinha como intuito ensinar previamente as
habilidades que seriam inseridas no repertório da criança caso estivessem em
tratamento. Esse mesmo protocolo, com pequenas modificações foi replicado
diversas vezes (FAHMIE; LUCZYNSKI, 2018; GUNNING; HOLLOWAY;
GREALISH, 2020; LUCZYNSKI; HANLEY, 2013; MCKEOWN; LUCZYNSKI;
LEHARDY, 2021).
Esse protocolo foi modificado em 2021 e publicado como um programa
de treinamento comportamental para gerar equilíbrio na relação de pais e filhos
por RUPPEL et al. (2021). Esse programa “Equilíbrio” tem como ponto principal
o treino de pais e a verificação do desenvolvimento da habilidade desses para
gerar momentos prazerosos com seus filhos enquanto ensinam habilidades de
comunicação funcional, de resposta de tolerância e cooperação em diversos
contextos.
No Brasil algumas iniciativas foram testadas, como o Programa de
Qualidade na Interação Familiar, consistindo em um treinamento que envolvia a
discriminação do comportamento dos pais e dos filhos, possíveis avaliações
funcionais e intervenções (WEBER; BRANDENBURG; SALVADOR, 2006). De
acordo com a pesquisa, o treinamento foi eficiente para desenvolver
habilidades dos pais, dos filhos e prevenir comportamentos-problema. Também
podemos citar o programa PROMOVE, que consta em um treinamento de
habilidades sociais de crianças com o objetivo de ensinar habilidades sociais
de forma a prevenir comportamentos-problema de crianças em casa ou na
escola (BOLSONI-SILVA; FALCÃO, 2021; FALCÃO et al., 2016).
Concluindo, os treinos de habilidades para prevenção de
comportamentos-problema passam por ensino de habilidades específicas que
se comprovam eficazes em ambientes diversos como: comunicação funcional,
responder de forma tolerante e cooperar frente à frustração de forma
imprevisível. Essas habilidades devem ser ensinadas antes de
comportamentos-problema severos se instalarem de modo a prevenir crises
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comportamentais e hospitalização de pessoas autistas e/ou com deficiência
intelectual.
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