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em Filosofia da UFMG
Filosofia e corpo
Caderno de resumos
2023
1
Organização do PET-Filosofia UFMG
2
Sumário
Programação ..........................................................................................................................8
Ademir Marcos de Resende Júnior (UFMG): “Uma cartografia da crença na
filosofia de David Hume” ................................................................................................. 16
Aline Matos da Rocha (UNB): “Oyèrónkẹ Oyěwùmí sobre di-visão e
hierarquias” .......................................................................................................................... 16
André Azzi Barreto (USP): “A racionalidade política em Platão a partir do
problema da ordem: da ordem cósmica à ordem da pólis à ordem da alma” . 17
Andrei Gonçalves Dias (UFMG): “‘Nosce teipsum’: Do amor-próprio de Hobbes
ao amor-de-si de Rousseau” ............................................................................................ 18
Antonio Martins de Oliveira (UFLA): “A consciência intencional e a
incorporação dos objetos” ............................................................................................... 18
Antônio Vinicius Ferreira da Fonsêca (UFMG): "A negação do ταυτον de
Parmênides na comédia de Epicarmo" ........................................................................ 19
Arthur de Castro Machado (UFMG): “Uma teoria composicional da mente” . 19
Arthur Stigert Christo (UFMG): “Da liberdade negativa à democracia selvagem:
recensões lefortianas sobre o conflito em Maquiavel” .......................................... 20
Bruno Daniel de Paiva (UFMG): “A noção de 'natureza humana' no Livro 1 do
Tratado de David Hume”.................................................................................................. 21
Caio Franco Assunção (UFMG): “O que há de erótico no desenho ou, a quase-
transcendentalidade do traço” .......................................................................................22
Daniel Melo Soares (UFMG): “Ética conceitual em Nietzsche” ...........................22
Daniela Fernandes Cruz (USP): “‘Por que esse corpo com essas características
é um ser humano?’ Uma introdução à análise hilemórfica das substâncias
sensíveis em Metafísica VII.17” .......................................................................................23
3
Eduardo Dias de Carvalho Filho (UFMG): “O élenchos platônico a partir do
passo 210e6 ‒ 211b5 do Sympósium” ............................................................................ 24
Gabriel Chiarotti Sardi (USP): “Divide et Impera, isomorfismo de modelos e a
continuidade teórica na ciência” .................................................................................. 24
Genilson Vasconcelos da Silva (IFPE): “Conhecimento e Motricidade do corpo
em Merleau-Ponty” ............................................................................................................25
Giullia Rezende de Oliveira (UFMG): “O negativo na Teoria estética de
Theodor W. Adorno: o feio, a dissonância e a linguagem do sofrimento” ....... 26
Helena de Lima Gualberto Elias (UFMG): “O outro pólo da intencionalidade: o
ego como substrato de habitualidades e o problema de outrem em Husserl” 27
Helena Xavier dos Santos Araújo (USP): “O estatuto da feminilidade em Lacan
e crítica de Butler” ..............................................................................................................27
Hulian Ferreira de Araujo (UFMG): “Paradoxo de Putnam” ................................ 28
Israel Alessandro Victorino de Souza Silva (UFMG): “Epistemologia das
virtudes e psicologia cognitiva: a habituação enquanto recurso pedagógico” 29
Jacques Augusto de Aguiar Morais Guimarães (UFSJ): “O problema da
psicologia racional e da liberdade transcendental nas Lições de Metafísica de
Kant” ...................................................................................................................................... 29
Jimy Davison Emídio Cavalcanti (UFPE): “Do corpo ameríndio: por um canto
selvagem da formação humana” ................................................................................... 30
João Augusto Araújo Ferreira (USP): “Hegel e as artes: crise do conceito de obra
na época moderna” ............................................................................................................ 31
João de Oliveira (UFMG): “Filosofias que nenhum Kant escreveu: o idealismo
transcendental na obra de Fernando Pessoa” ...........................................................32
João Pedro Blanco Masso (UFMG): "Reformar ou negar a moralidade?
Realismo naturalista contra Teoria do Erro"..............................................................32
4
João Pedro Blanco Milani (USP): “Força, justiça e lei: B. Pascal e o problema da
autoridade” ...........................................................................................................................33
João Victor Rezende Dias (USP): “O fazendo-se nas paixões e sentimentos: A
temática do corpo humano no pensamento cartesiano” ...................................... 34
João Vítor Leal Sant Anna (UFMG): “Panpsiquismo de Eddington”...................35
José Alesi Santiago Rocha (PUC - PR): “A inerente relação entre a cidade e a
alma dos indivíduos n’A república de Platão” ...........................................................35
Keli de Assumpção (USP): “O processo de aprendizado da linguagem como
‘Jogo de Linguagem’ nas investigações filosóficas de Wittgenstein” ................. 36
Leonardo Araújo Oliveira (UFMG): “Aspectos estratégicos da comunicação
filosófica em Kierkegaard e Nietzsche” .......................................................................37
Lígia Ranara Rocha Paes (UFMG): “O conceito de fenômeno em Kant e Hegel:
A crítica à limitação da razão especulativa”...............................................................37
Lohana Soares Passos (USP): “O Mentiroso de Russell” ........................................ 38
Lucas Taufer (UCS): “Breves notas sobre a teoria da paz em Kant” ................... 39
Lucas Vinicius Correa Rodrigues (USP): “Um percurso sobre dois mares que se
reconhecem e se distanciam: o cartesianismo e a recolocação do corpo em
Merleau-Ponty” .................................................................................................................. 40
Luciano Coutinho Paulino (FAJE): “Niilismo e política” ........................................ 41
Mariana Gonçalves de Freitas (UFMG): “O lugar da obscuridade e do silêncio
na linguagem poética: entre Mallarmé e Merleau Ponty” ..................................... 41
Maurício Cavalcante Rios (IFBA): “O relativismo epistêmico sobre a ciência”
................................................................................................................................................. 42
Maya Maia de Paiva (USP): “Imbricações da Colonialidade do Poder: raça,
gênero e cisnormatividade”............................................................................................ 43
5
Mayk Lucas da Conceição Silva (UFPE): “Notas críticas à perspectiva dialógica
para o tratamento do pluralismo lógico” ................................................................... 44
Mônica Parreiras (UNISINOS): “O corpo do bebê entre a mãe dogmática e a
mãe hermeneuta: uma aplicação da regra de cobre” ............................................. 44
Patrícia Braz de Carvalho (UNIFESP): “Chaplin e a arte de narrar com o corpo:
A pantomima e o gestual na perspectiva benjaminiana” ..................................... 45
Paula Silva Araújo Rocha (UFMG): “Milindapañha - Noções de identidade
pessoal no registro do não-si” ........................................................................................ 45
Rafaela Beatriz De Oliveira Martins (UFU): “Os exercícios terapêuticos
Baduanjin: filosofia e prática” ........................................................................................ 46
Raíssa C. S. Miranda (UFMG): “Walter Benjamin: surrealismo e história” ...... 47
Roberta Puccini Gontijo (UFMG): “Castelo interior como refúgio de uma alma
cindida: um estudo sobre a feição marrana de Santa Teresa D’Ávila” .............. 47
Robson Farias Gomes (UNB): “Corpo Imanente: da dissecação artística de si”
................................................................................................................................................. 48
Ryam Santos das Neves (UNB): “O sentido estético e filosófico do corpo em O
Evangelho Segundo Jesus Cristo: Um diálogo entre Nietzsche e Saramago” .. 49
Sílvia de Lourdes Lemes Aguiar (UFMG): “Maturidade de Nietzsche como um
período de reconciliação com o modo metafísico de se fazer filosofia”........... 49
Thiago de Souza Salvio (UFABC): “A origem da monogamia e sua implicação
no tema da pudicitia: esboço de uma análise engelsiana” ................................... 50
Verena Than (UERJ): “Dança como a chuva cai” ..................................................... 50
Victor Angelucci de Moura Sousa (UFMG): “Sobre Modos de Apresentação:
Fregeanismo e Relacionismo” ........................................................................................ 51
Victor Garces Bordin (UFMG): “Anônimo de Jâmblico: a Natureza Humana no
seu âmbito político” ...........................................................................................................52
6
Vinícius Ferreira da Silva (USP): “Com o corpo estranho da máquina: imagem
e materialidade em Peter Tscherkassky”.....................................................................52
Vinícius Pinto Alencar (UFJF): “A questão do Sofrimento no último Nietzsche:
Dioniso contra o Crucificado” ........................................................................................53
Vitor Lucas Pereira de Menezes (UFMG): “O Debate do Cálculo Econômico
Socialista” ..............................................................................................................................53
7
Programação
8
Dia 7 de Novembro
9
| “‘Por que esse corpo com essas características é um ser humano?’ Uma
introdução à análise hilemórfica das substâncias sensíveis em Metafísica VII.17”
Daniela Fernandes Cruz (USP)
| “O élenchos platônico a partir do passo 210e6 ‒ 211b5 do Sympósium”
Eduardo Dias de Carvalho Filho (UFMG)
Dia 8 de Novembro
Mesa V (9:00 - 10:30)
| “O lugar da obscuridade e do silêncio na linguagem poética: entre Mallarmé
e Merleau Ponty”
Mariana Gonçalves de Freitas (UFMG)
| “Filosofias que nenhum Kant escreveu: o idealismo transcendental na obra
de Fernando Pessoa”
João de Oliveira (UFMG)
| “O que há de erótico no desenho ou, a quase-transcendentalidade do traço”
Caio Franco Assunção (UFMG)
10
| “O negativo na Teoria estética de Theodor W. Adorno: o feio, a dissonância e
a linguagem do sofrimento”
Giullia Rezende de Oliveira (UFMG)
| “Corpo Imanente - da dissecação artística de si”
Robson Farias Gomes (UNB)
Dia 9 de Novembro
Mesa XIII (9:00 - 10:00)
| “Do corpo ameríndio: por um canto selvagem da formação humana”
12
Jimy Davison Emídio Cavalcanti (UFPE)
| “‘Nosce teipsum’: Do amor-próprio de Hobbes ao amor-de-si de Rousseau”
Andrei Gonçalves Dias (UFMG)
13
Mesa XVII (14:00 - 15:00)
| “Conhecimento e Motricidade do corpo em Merleau-Ponty”
Genilson Vasconcelos da Silva (IFPE)
| “Um percurso sobre dois mares que se reconhecem e se distanciam: o
cartesianismo e a recolocação do corpo em Merleau-Ponty”
Lucas Vinicius Correa Rodrigues (USP)
14
Resumos
15
Ademir Marcos de Resende Júnior (UFMG): “Uma cartografia da crença na
filosofia de David Hume”
Resumo: A comunicação busca fazer uma “cartografia”, em sentido metafórico,
dos momentos em que a crença aparece nos escritos humeanos. Identifico
cinco considerações sobre a crença, que em suma, se organizam e se
complementam para responder a dúvida de Hume acerca da natureza da
crença em ideias relacionadas por causalidade. 1) A crença nas impressões
(sensações dos sentidos e sentimentos) aparece como o ponto inicial da nossa
complexa rede de fatos e eventos acreditados, por serem as percepções de
maior força que ocorrem em nossa mente. A crença em ideias, segundo passo
do esquema de Hume, ocorre porque uma ideia adquire vividez por estar
relacionada a uma impressão. Sobre a crença nas ideias, separo elas em três
momentos distintos: 2) as ideias acreditadas diretamente de uma impressão,
3) as ideias acreditadas pela memória, e 4) as ideias acreditadas a partir de
ideias da imaginação previamente acreditadas. Apesar de Hume não se
preocupar em diferenciá-las em sua exposição, vejo que cada uma delas possui
considerável peculiaridade para serem tratadas como um mesmo processo da
crença, e busco no próprio texto humeano estas particularidades que percebo
terem sido ditas pelo filósofo. As crenças do segundo momento são as que
temos a partir de nossa observação sensorial do mundo. No terceiro momento,
são as crenças a partir das cópias das impressões, isto é, a memória. As
reflexões do quarto momentos colocam na discussão a questão da crença nos
testemunhos, do porquê acreditamos em eventos e fatos não experienciados,
e a pergunta sobre em quais testemunhos podemos acreditar. Considero que
estas respostas serão completas apenas quando adentramos na investigação
sobre 5) a natureza da crença enquanto uma impressão e suas relações com
outras impressões, especialmente, os sentimentos.
16
práticas de diferenciação corporal do Ocidente. É expressivo e sintomático o
fato da modernidade eleger a visão como o órgão por excelência do
pensamento e esse sentido continuar sendo privilegiado não só na organização
social do Ocidente, mas na própria ordenação dos modos de ser e conhecer da
filosofia, a qual está repleta de metáforas, descrições e analogias que estão
ligadas à di-visão e unidade entre visão-corpo: mente-corpo, teoria, conceito,
cosmovisão, representação, perspectiva, corpus, corpo político, corpo do rei,
poder-corpo, olho do poder, os quais revelam que o nosso anátomo saber-
poder filosófico encontra seus fundamentos e suas justificativas na biologia.
Esta a qual Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí conceitua como bio-lógica. Cujo anteparo
fenomenológico e ubiquidade se fazem presentes na relação entre filosofia e
corpo, a qual este trabalho pretende nos levar a pensar como uma relação de
tela de projeção, di-visão e hierarquias.
17
Andrei Gonçalves Dias (UFMG): “‘Nosce teipsum’: Do amor-próprio de
Hobbes ao amor-de-si de Rousseau”
Resumo: Na introdução do Leviatã, Hobbes adota a máxima Nosce teipsum
como o método pelo qual ele irá investigar a natureza humana.
Diferentemente de Skinner (1997), Missner (1977) e Sorell (2019), que
acreditam que o preceito délfico tenha apenas um papel retórico na obra de
Hobbes, este trabalho procura argumentar que a introspecção tem um papel
fundamental na metodologia de Hobbes e que Rousseau parte de uma crítica
a esse método no prefácio do Segundo Discurso para posteriormente distinguir
o amor-próprio do amor-de-si. Para argumentar sobre o papel metodológico
de “nosce teipsum”, buscou-se mostrar que a máxima aparece umem Elements
of Law como um retorno aos sentidos (senses) para dar o nome correto às
coisas do mundo. Portanto, “nosce teipsum” significa, no Leviatã, partir dos
sentidos com o intuito de definir correta e ordenadamente as paixões, os
pensamentos e o homem. Nessa interpretação, a introspecção é complementar
e não excludente ao método quasi-geométrico de Hobbes. Embora Rousseau
concorde com Hobbes que o preceito délfico seja mais importante para o
conhecimento dos homens do que os grossos livros dos moralistas, a sua
interpretação é divergente da apresentada pelo filósofo inglês. Para Rousseau,
é crucial apontar a diferença entre o natural e o artificial para mostrar que a
essência da natureza humana se encontra escondida no homem da sociedade
e, portanto, a solidão é a condição de possibilidade para reencontrar este
sentimento primevo. Este sentimento que Rousseau encontra ao meditar nas
florestas de Saint-Germain é o amor-de-si. Desse modo, argumenta-se que é
por meio de uma introspecção que volta ao sentido interior (sens intérieur),
isto é, um sentimento anterior a toda racionalidade, linguagem e olhar alheio
que Rousseau estabelece as bases de sua natureza humana.
18
(1900) e as Meditações Cartesianas em (1929) Embora saibamos que Husserl
apresentou seus conceitos em outros textos como nas ideias para uma Para
uma fenomenologia Pura e para uma Filosofia Transcendental (1913).Esta por
ser uma coletânea de textos esparsos. Adotamos as meditações por ser mais
didática e apropriada para o que queremos descrever. Portanto primeiramente
vamos descrever como funciona o conceito de intencionalidade e a
consciência intencional na fenomenologia de Husserl a caminho de uma
consciência intencional, para depois discorrer como se dá a relação ou o acesso
entre a consciência e a incorporação dos objetos no do mundo
19
sentenças a partir de uma base finita. Esse mecanismo possibilita a
computabilidade da informação porque permite ao agente armazenar e
processar apenas essa base finita. Há uma semelhança estrutural entre o
funcionamento desse mecanismo e o de uma teoria formal. Uma teoria formal
é um constructo teórico composto por axiomas e regras que funciona como
metalinguagem que codifica aspectos sintáticos relevantes de seu sistema alvo
em uma linguagem de paráfrase. Essa teoria é capaz de decodificar o
significado de um número aberto de sentenças via composicionalidade. A
semelhança então é meramente estrutural? Há pelo menos três interpretações
possíveis sobre o que uma teoria formal diz. Defenderei uma interpretação
psicológica: uma teoria formal fornece um modelo interno de como agentes
decodificam sentenças em tempo real e de maneira online. Esse processo é
realizado via módulo linguístico, um corpo discreto de informações
encapsuladas e uma gama de operações que atuam sobre essas informações.
Esse módulo só é sensível a informação sintática e atua apenas sob
informações que não envolvem acesso a tudo o que o agente sabe. Ele também
age de maneira incrivelmente rápida, subpessoal e mandatória. Dessa forma,
uma teoria formal explica como o próprio agente manipula o veículo
linguístico, que é uma sentença da linguagem do pensamento – em última
instância, uma estrutura neural. Uma vez que agentes linguísticos são capazes
de gerar/compreender um número aberto de pensamentos, o pensamento
detém as mesmas exigências da linguagem: é preciso um mecanismo gerativo.
E esse mecanismo é o próprio módulo linguístico. Dessa forma, uma teoria
formal fornece uma teoria composicional da mente.
21
Caio Franco Assunção (UFMG): “O que há de erótico no desenho ou, a quase-
transcendentalidade do traço”
Resumo: No livro Memórias de Cego, Jacques Derrida explora a impossibilidade
de uma vinculação direta entre a visão e o desenho. O autor afirma fazer parte,
pois, de uma tradição que, com Baudelaire, liga o desenho e o ato de desenhar
à memória. Sendo o presente dos olhos inacessível, a origem do desenho
aponta, portanto, para a falta, para um contínuo e impossível exercício de
restituição. Por oposição a esta falta, o traçamento sempre carrega consigo este
desejo. A partir destas considerações presentes na obra de Derrida, pretendo
explorar a dimensão erótica, da falta e do desejo, que reside no traço (trait), na
origem do desenho e também da escrita. Para comentar a origem do desenho,
me concentrarei no trecho de Memórias referente à “Dibutade ou A origem do
desenho”. Já para abordar a origem da escrita, recorrerei à obra Eros, o doce-
amargo de Anne Carson, que trata deste tema sobretudo na poesia lírica e no
Fedro de Platão. Relacionando as duas obras, pretendo investigar em que
medida o tema da falta e do desejo aponta para nossa experiência da
temporalidade e que permite, por sua vez, pensarmos na promessa derridiana
de uma quase-transcendentalidade do traço que é anterior, desse modo, tanto
ao desenho como à escrita.
22
negativa da moralidade hegemônica? O que Nietzsche considera como
conceitos? Utilizo, em especial, o comentador e, também, filósofo da
engenharia conceitual Matthieu Queloz.
Daniela Fernandes Cruz (USP): “‘Por que esse corpo com essas
características é um ser humano?’ Uma introdução à análise hilemórfica das
substâncias sensíveis em Metafísica VII.17”
Resumo: O livro VII da Metafísica é conhecido como “o tratado do ser”, uma
vez que sua motivação é a busca por uma resposta à pergunta “o que a
substância (οὐσία)?”. Após extensa investigação, Aristóteles afirma, em seu
capítulo último, que “a substância é a forma” (Met. VII.17 1041b7-8). O contexto
em que a afirmação surge, porém, é digno de atenção. Entre outras
peculiaridades do capítulo em questão, após anunciar que a investigação em
VII.17 seria empreendida a partir de uma nova estratégia (1041a6-7), Aristóteles
importa um modelo investigativo de descoberta da essência pela causa a partir
de uma estrutura triádica - isto é, retoma um modelo de demonstração
científica, originalmente desenvolvido em Segundos Analíticos II.8-10, e o
aplica a um caso omisso no tratado de origem: o caso das substâncias sensíveis.
Assim, em Met.1041a32-b8, Aristóteles descreve-nos o caso dos itens que, à
primeira vista, não seriam passíveis de análise por demonstração científica, e
apresenta seu método para torná-los aptos a esse tipo de investigação.
Segundo essa metodologia, é necessário que o item seja antes desarticulado
(1041b1) – isto é, descrito em termos da matéria que o constitui e de sua forma.
Somente após a apresentação dessa análise hilemórfica, Aristóteles conclui
afirmando que a substância de um item é a sua forma. Desse modo,
poderíamos nos perguntar em que medida a introdução da análise hilemórfica
possibilita a Aristóteles alcançar um resultado satisfatório em sua investigação
sobre a substância, bem como nos questionarmos quanto ao sucesso dessa
empreitada aristotélica – uma vez que essa questão é alvo de divergência entre
os intérpretes. Assim, nosso objetivo com a presente comunicação é explorar
a análise hilemórfica das substâncias sensíveis em Metafísica VII.17, mapeando
as principais dificuldades e objeções apresentadas pela literatura secundária.
23
Eduardo Dias de Carvalho Filho (UFMG): “O élenchos platônico a partir do
passo 210e6 ‒ 211b5 do Sympósium”
Resumo: O discurso de Sócrates, no diálogo Sympósium, é proferido após cinco
discursos de seus convivas no simpósio, os quais são: Fedro, Pausânias,
Erixímaco, Aristófanes e Agatão. No passo 210e6 ‒ 211b5 da obra, o discurso de
Sócrates, a partir da evocação de Diotima, elenca tudo aquilo que a Beleza não
é para, só então, dizer aquilo que a Beleza seria. O objetivo deste estudo é
mostrar como esse passo, ao dizer aquilo que a Beleza não é, constitui uma
refutação de cada uma das concepções sobre o belo presentes nos discursos
proferidos anteriormente. Para isso, serão analisadas as teses de cada um
desses cinco discursos, de modo a identificar como as concepções sobre o belo
de cada um deles são retomadas nesse passo da obra. Essa relação entre os
discursos dos convivas e as suas refutações nos permite observar um modo
singular como Platão aplica o élenchos na dinâmica do Sympósium.
24
conseguirmos identificar os elementos de permanência nas mudanças
teóricas, inviabilizaremos grande parte da força da metaindução pessimista e,
simultaneamente, evidenciando que a estratégia realista seletiva reflete com
mais rigor a história da ciência do que as crenças antirrealistas. Todavia,
mesmo que se admita que o divide et impera se trate de uma ferramenta
interpretativa que elucida importantes questões da história da ciência
(embora existam fortes objeções à sua aplicação), sua aceitação não implica,
necessariamente, a adoção do realismo científico (seja seletivo ou não) como
postura metacientífica. Na presente comunicação, argumentarei que existem
formas de antirrealismo, tal como o empirismo construtivo de Bas van
Fraassen, que não sofrem nenhum revés com a aceitação da continuidade
teórica na história da ciência. O empirismo de van Fraassen se mostra como
uma interessante opção antirrealista que aceita a possibilidade de
continuidade na ciência (mas sem incorrer na aceitação do conceito de
verdade aproximada das teorias) na medida em que admite, de acordo com
sua interpretação específica da natureza da ciência, que as teorias são famílias
de modelos, isto é, estruturas de linguagens que visam contemplar as
aparências da realidade – o que torna extremamente concebível aceitar que,
como veremos, em mudanças teóricas alguns elementos estruturais (ou até
modelos) permaneçam. A consequência final a ser extraída dessa análise é que
o divide et impera de Psillos é uma forma de ataque contundente circunscrito
a um grupo de antirrealistas bem delimitado chamados de descontinuístas ou
críticos historicistas – e não para os antirrealistas em geral.
25
Giullia Rezende de Oliveira (UFMG): “O negativo na Teoria estética de
Theodor W. Adorno: o feio, a dissonância e a linguagem do sofrimento”
Resumo: O objetivo geral da pesquisa é analisar a articulação dialética da
negatividade na obra de arte, concebida por Theodor Adorno como essencial
para a linguagem e postura crítica do âmbito estético-artístico, focalizando os
aspectos do feio, da dissonância e da linguagem do sofrimento como formas
de expressão do que a arte busca fazer emergir, ou seja, o conteúdo reprimido
pela sociedade administrada. Este trabalho explora a antinomia entre a
manifestação de uma alteridade radical e o aspecto de “coisa” na arte,
convergindo para exigência extrema de sua conformação, cuja excelência
resulta na eclosão da expressividade e suas consequências. A arte, ao
reconhecer a necessidade de negar dialeticamente seu caráter cultural,
encontra afinidade com o elemento lúdico. Essa afinidade é essencial porque,
sem certa configuração regressiva, infantil e sensivelmente ingênua, a arte se
reduz a uma cultura impositiva diante de tudo que lhe resiste (TE 67). Essa
situação-limite culmina na concepção de uma linguagem da arte que enuncia
o que é incapaz de ser revelado ou anunciado, ou seja, a figuração do não-
figurável. Os componentes dissonantes não podem permanecer subjugados
em uma articulação falsa de positividades, sendo-lhes necessário surgir e se
manifestar. O indissolúvel deve ser anunciado e comunicado como tal, mesmo
em meio a uma atmosfera de aporia. É fundamental conceder ao negativo, feio,
dissonante e doloroso, sistematicamente reprimidos nas profundezas da lógica
de circulação de valores, especialmente de troca, um mínimo de justiça,
permitindo-lhe se manifestar e denunciar toda a arquitetura ilusória de
positividades. No primeiro eixo, há uma pretensão de demonstrar como o
conteúdo recalcado historicamente é sublimado em imaginação e forma,
defendido pela arte como sua causa, não mais para integrá-lo e suavizá-lo ao
se contrapor ao belo, mas sim para denunciar o mundo que o gera de acordo
com sua imagem. No segundo, analisamos como a dissonância exprime uma
negatividade pungente, ao traduzir em sua articulação formal as contradições
decorrentes de uma esfera social positiva repressora. O derradeiro item
demonstra como a linguagem do sofrimento está intrinsecamente ligada à
evidenciação da hipertrofia da racionalidade esclarecida, revelando como o
capitalismo tardio mina as possibilidades tanto de satisfação substantiva
26
quanto de expressão da dor. Essa última análise versa como a linguagem se
associa a um ímpeto utópico da arte de fazer falar o não-idêntico, o que escapa
às malhas da racionalidade fundada no pensamento classificatório.
27
debates contemporâneos, tanto na clínica psicanalítica quanto na teoria
filosófica. Este trabalho busca especificamente uma possível aproximação
entre a concepção de gênero da teoria Queer, principalmente, o gênero como
performatividade butleriano, e o conceito de semblante lacaniano. Para
compreender essa concepção, seria necessária uma reflexão crítica sobre a
ontologia de gênero como (des)construção imitativa, além de buscar as
possibilidades de distinção entre “parecer” e “ser”, radicalizando a dimensão
cômica da ontologia sexual parcialmente empreendida por Lacan (Butler,
2020). Para demonstrar a aproximação entre esses dois conceitos,
demonstrarei modos de interpretá-los a partir das críticas traçadas por Butler.
Primeiramente irei reconstruir a principal crítica butleriana do estruturalismo
de Lévi-Strauss (na qual Lacan se utiliza), em seguida, irei aprofundar essa
crítica demonstrando uma diferença de interpretação do conceito de
contradição na dialética para justificar essa diferença. Em um segundo
momento, reconstruirei a segunda crítica butleriana a Lacan, em sua
interpretação do conceito de mascarada. Depois definirei o conceito de
semblante lacaniano, e sua possível aproximação com a performatividade
butleriana. Por fim, apresentarei debates contemporâneos sobre o tema.
28
Israel Alessandro Victorino de Souza Silva (UFMG): “Epistemologia das
virtudes e psicologia cognitiva: a habituação enquanto recurso pedagógico”
Resumo: O objetivo da pesquisa é analisar as obras "o ensino de filosofia
enquanto problema filosófico", "por que os alunos não gostam da escola?" e
"cultivating good minds", escritos respectivamente pelo professor e doutor em
filosofia da educação Alejandro Cerletti, pelo psicólogo cognitivista Daniel T.
Willingham e pelo epistemólogo das virtudes Jason Baher.l, em busca de
respostas para os problemas educacionais da contemporaneidade, seja na
docencia filosófica, seja nas escolas de forma geral e de refletir sobre questões
conceituais postas na área de estudo e seus impactos na formação docente e
no processo de produção de conhecimento. Entretanto, não basta
problematizar, é necessário que se busquem soluções e respostas sejam
postuladas. Este é o trabalho da obra de Willingham, que dedica a vida a aplicar
seus estudos de neurociência e psicologia cognitiva no âmbito educacional,
tendo em vista a compreensão do processo de produção de conhecimento e
simplificações deste. Para o autor, assim como para a epistemologia das
virtudes, conhecer demanda prática e o exercício de algumas funções
cognitivas que podem ser aprimoradas a medida que repetimos, criamos,
pensamos, analisamos etc. Sendo assim, as ideias dos dois últimos autores
podem ser basicamente resumidas em um importante conceito filosófico: o de
habituação, uma vez que, é comprovado cientificamente que o processo de
habituação aprimora nossos pensamentos e funções executivas a medida que
o uso da memória de trabalho torna-se menor com as repetições e fluidez
progressiva que advém da prática. Consequentemente, adequar o ensino e
preparar e ensinar os alunos direcionando-os à habituação, quando
corretamente aplicado e de forma crítica, torna-se uma excelente ferramenta
pedagógica para o desenvolvimento da autonomia, incentivo de perguntas e
aprimoramento de funções cognitivas vinculadas ao pensamento crítico.
29
maturidade de análise, pois, requer dos mesmos o conhecimento da relação que
o filósofo possuía com esta matéria, que veio a se tornar central em suas Críticas
e Lições. As traduções mais recentes trazem um novo feixe de luz interpretativo
desta relação fascinante e ao mesmo tempo controversa que Kant possuía com
a Metafísica. Muito além de compreendermos o grau de relação pessoal de Kant
com a Metafísica, pretendo neste trabalho discutir como nas Lições de
Metafísica, as seções que tratam da Psicologia apresentam questões que estão no
coração da Crítica da Razão Pura. Dito isto, nosso propósito aqui é investigar a
primeira seção das Lições de Metafísica sobre psicologia racional, que trata do
problema da liberdade transcendental, explicitando o seu caráter crítico. Visto
que as Lições datam terem sido expostas no fim de 1770, explicitar toda visão
Metafísica pré-crítica Kantiana vislumbra-se como um labor necessário e
fundamental para um melhor aproveitamento destas que serão obras relevantes
para a Filosofia, a saber, tanto a Crítica da Razão Pura e a Crítica da Razão Prática.
Não obstante, tratar especificamente da psicologia racional nesta comunicação
é expor um tema relevante para o contexto pós-moderno de nossa sociedade, o
conceito da liberdade transcendental.
Jimy Davison Emídio Cavalcanti (UFPE): “Do corpo ameríndio: por um
canto selvagem da formação humana”
Resumo: A pesquisa, de natureza teórico-especulativa, objetivou especular
uma relação entre formação humana, pensamento ameŕindio, e
espiritualidade. Teve o conceito ameríndio de corpo (VIVEIROS DE CASTRO)
como elemento articulador transversalizante, que foi tomado como
perspectiva para pensar uma figura outra de formação humana. Teoricamente,
a pesquisa se vinculou, de um lado, ao multinaturalismo perspectivista de
Viveiros de Castro, tendo Ailton Krenak e Davi Kopenawa como
interlocutores, e, de outro lado, a filosofias da educação que se inspiram nas
filosofias da diferença. Para alcançar seu objetivo, ensaiam-se três
movimentos: caracterizamos o conceito de corpo na filosofia ameríndia e
identificamos suas potências; mapeamos as consequências ontológicas,
epistemológicas e cosmológicas para os corpos que entram em encontro,
confronto e desencontro; delineamos uma figura de formação humana a partir
dos corpos ameríndios em diferentes relações. O percurso metodológico da
pesquisa se fez como um ensaio especulativo, numa aliança entre o conceito
30
de alterocupação, de Alexandre Nodari, e a noção experiência, de Jorge
Larrosa. A investigação nos permitiu concluir que, nos mundos ameríndios, o
Outro tem um lugar e um potencial (trans)formativo indispensável. O que, na
formação humana, pode ser traduzido como a imagem de uma Educação com
o Outro.
31
João de Oliveira (UFMG): “Filosofias que nenhum Kant escreveu: o
idealismo transcendental na obra de Fernando Pessoa”
Resumo: O trabalho pretende investigar as influências da filosofia
transcendental de Immanuel Kant nos escritos de Fernando Pessoa, visto a
explícita presença do filósofo em sua criação literária e filosófica. Bem como,
não limitando as relações entre Kant e o escritor português às citações diretas
encontradas nos cadernos pessoanos ou em sua obra heterônima, almeja-se
traçar as concepções metafísicas dos principais heterônimos e semi-
heterônimos (“eus” pessoanos) - Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo
Reis, Bernardo Soares e Antônio Mora - enquanto assimilações, concordâncias
ou recusas ao idealismo transcendental. Entre “eus” pessoanos que passaram a
vida a mastigar Kant e heterônimos que assumiram um compromisso crítico
em relação à metafísica, evitando as ilusões transcendentais, e, ainda, outros
em que a intuição fora posta como a única representação necessária, excluindo
em absoluto o pensamento na formação do conhecimento, percebe-se as
diversas posições filosóficas de Fernando Pessoa e seu polimorfo
posicionamento frente ao idealismo kantiano. Tal investigação não busca
circunscrever toda a poética e prosa de Pessoa no sistema de Kant, mas,
justamente, de revelar possíveis presenças do filósofo prussiano e os
movimentos de ruptura e desvinculação do escritor.
32
objetivo é suscitar no usuário moral a intuição de que o discurso moral
ordinário está comprometido com uma aplicação universal e não pode ser
legitimamente ignorado, e compreendem tal legitimidade em termos de
racionalidade – como se violar os deveres morais fosse agir de maneira
irracional. Desse modo, esta pesquisa pretende analisar a possibilidade de uma
explicação alternativa para a peculiar autoridade da moralidade. Mais
especificamente, investiga-se a alternativa anti-racionalista típica do realismo
externalista, que nega que para ter um dever moral é necessário que um agente
tenha razões para cumpri-lo e explica a ilegitimidade da violação dos deveres
apelando para o ponto de vista externo. Em outras palavras, busca-se explicar
as intuições suscitadas pelo teórico do erro pela compreensão de que a
legitimidade de autoridade moral é dada pela perspectiva dos usuários morais,
que possuem razões para garantir a manutenção da moralidade na medida em
que ela protege alguns de seus mais importantes interesses, tanto de ordem
particular quanto de ordem coletiva.
João Pedro Blanco Milani (USP): “Força, justiça e lei: B. Pascal e o problema
da autoridade”
Resumo: As aparentes lacunas que contornam os fragmentos de Pascal
reduzem-se a uma explicitação da condição do que é o humano inserido no
âmbito da finitude permeado por dois infinitos: Deus e o nada. Neste sentido,
o movimento de algumas passagens parece contrair-se no interior de uma
problemática fundamentalmente antropológica - por exemplo, é Deleuze
quem nos diz que o cerne do famoso fragmento sobre a aposta da existência
ou não-existência de Deus é menos teológica que antropológica. O problema é
deslocado: tem-se não mais a preocupação de ler Pascal apenas como um
apologista radical da religião cristã, mas a possibilidade de defrontar-se com
um pensador que se insere em questões que escapam deste domínio para nos
conduzir a outros, que se desvelam no campo político e ético. Nossa
apresentação visa debater tais problemáticas mantendo o diálogo com ao
menos dois pensadores - diálogo lateral, visto que serão mencionados tendo
como centro da discussão sobretudo Pascal: Espinosa e Derrida. De fato, estas
conjunções podem parecer erráticas ou arbitrárias; contudo, veremos que ela
se torna possível e útil para pensarmos as relações fundamentais estabelecidas
33
entre os conceitos de Força, Lei e Justiça. Com Espinosa, vemos que a crítica
efetuada no Tratado teológico-político direcionada aos teólogos mobiliza
noções incontornáveis para se pensar as relações que se podem efetuar
enquanto autoridade – através da leitura do texto bíblico, da linguagem de
modo geral e do poder confundindo-se nela. Por outro lado, Derrida nos será
fundamental para analisarmos a concepção de fundamento místico da
autoridade, que aparece em sua leitura da obra pascaliana – sabe-se que a
experiência da justiça absoluta em Pascal é conflituosa por se colocar como
impossível: ela não é localizável. Entender os possíveis desdobramentos nas
discussões contemporâneas sobre poder e política é uma de nossas intenções
ao estabelecer estas relações.
34
João Vítor Leal Sant Anna (UFMG): “Panpsiquismo de Eddington”
Resumo: Neste artigo, traçar-se-á um breve panorama exegético acerca das
concepções panpsiquistas de Sir Arthur Eddington, expressas em sua obra
“The Nature of Physical World”, de 1928. Para tanto, serão abordados seus
posicionamentos concernentes ao seu entendimento de ciência, os quais
implicam a defesa dessa visão metafísica. À princípio, uma sucinta
apresentação de dados biográficos e contextuais do autor e de sua obra serão
introduzidos. Posteriormente, deter-meei mais detalhadamente no seu
sistema de pensamento, o qual pode ser estruturado por alguns eixos
temáticos fundamentais. Dentre esses pilares, evidenciam-se suas noções de
‘Pointer Readings’ e ‘World-Building’, as quais operam de modo a esclarecer a
natureza das ciências exatas e apontar a limitação do conhecimento físico
oriundo delas. Outrossim, a acusação de circularidade na Física e a
consequente evocação do argumento da natureza intrínseca serão
contemplados. Por fim, visando fornecer um quadro mais minucioso da
filosofia de Eddington, defenderei a tese de que a sua versão pampsiquista
possui um caráter idealista. A título de contraste, irei expor uma outra versão
panpsiquista que se coloca como uma espécie de fisicalismo expandido.
Mediante um esforço comparativo, demonstrarei que esta última
compreensão é caracterizada, em certa medida, por Galen Strawson, em seu
seminal artigo “Physicalist Panpsychism” e dispensa a força motriz do
pampsiquismo de Eddington a qual faz irromper os mais agudos anseios
existenciais. Esse motor é a dimensão espiritual (refiro-me assim por
motivações “didáticas”, porque a visão de Eddington é essencialmente monista
e não admite, por conseguinte, dualidade entre espírito e matéria), a qual,
apesar de, em última instância, ser inescrutável, desempenha papel sine qua
non no alívio das tensões entre misticismo e ciência, fato que não tem
relevância no micropsiquismo bottom-up que irei descrever com base em
minhas leituras de Strawson, mas é crucial para a teoria do astrofísico.
José Alesi Santiago Rocha (PUC - PR): “A inerente relação entre a cidade e a
alma dos indivíduos n’A república de Platão”
Resumo: A pólis platônica fulgura como um sistema político idealizado, onde
35
a cidade é determinada em analogia com o ser humano, como um organismo
vivo, cujos cidadãos desempenham papel político importante para que se
chegue à justiça. Nesta pesquisa, será abordado como o entendimento de uma
sociedade justa para Platão, passa pela alma, na qual está a força vital do
homem. Para tal, aborda-se como a influência socrática estabelece relação
com a teoria da melhor forma de governo, haja vista que Sócrates era tido por
Platão como o cidadão mais sábio da cidade, e a sua morte orquestrada pela
democracia ateniense influencia as elaborações políticas do Filosofo da
Academia. O cerne da questão, porém, se dá em como a estrutura da alma e os
ofícios que cada indivíduo deve desempenhar de acordo com sua estrutura
anímica faz com que a cidade seja segura para os seus cidadãos, mas acima de
tudo: Justa. Por fim será demonstrada a figura do Rei filósofo, como o
governante por excelência da cidade, pois estaria sempre voltado para o Bem,
não se deixando levar pelas paixões e arbitrariedades na vida política.
36
Leonardo Araújo Oliveira (UFMG): “Aspectos estratégicos da comunicação
filosófica em Kierkegaard e Nietzsche”
Resumo: Diversas aproximações já foram realizadas entre as filosofias de
Kierkegaard e Nietzsche, mesmo que o dinamarquês não possa ter lido o
alemão, em função de ter falecido antes que Nietzsche tenha iniciado sua
produção, e por outro lado, que Nietzsche não se refira a Kierkegaard em
qualquer trecho de sua produção, inclusive nos póstumos, a não ser em uma
carta a George Brandes, quando diz que pretende ler o pensador dinamarquês
no futuro. Essa carta, no entanto, é uma resposta a uma sugestão de leitura que
o próprio brandes faz a Nietzsche, já apontando para uma afinidade intelectual
entre os dois. Assim, essa aproximação é efetuada desde o século 19 e se
estende pelo século 20 com ainda mais vigor: a partir de temas/conceitos como
temporalidade (instante e eternidade), cristianismo (cristandade, Cristo),
repetição (retomada e retorno), indivíduo (soberano e singular), modernidade
e padronização (rebanho e multidão). A presente proposta de aproximação
consiste em realizar alguns apontamentos acerca do problema da
comunicação filosófica, envolvendo os temas do estilo e da forma de
apresentação de argumentos. Ambos os autores dominam diversificadas
formas de expressão, e em muitos momentos, compartilham especificidades
estilísticas: aforismos, parábolas, paródias, ensaios, ficções, textos
dissertativos, autobiografias intelectuais e até prefácios para livros não
escritos. Além disso, no interior dessas formas, os autores se destacam pelo uso
do humor, pela dinâmica dos antagonismos e paradoxos, pelo jogo de se
ocultar e se mostrar (com ou sem pseudônimos), pelo desenvolvimento de
personagens e sobretudo pela reflexão sobre a própria produção. A partir desse
último elemento - a prática de autocomentário, sobretudo em suas respectivas
autobiografias intelectuais (“Ponto de vista de minha obra como escritor” e
Ecce homo” -, abordaremos duas questões: a escrita como comunicação de
estados afetivos e o distanciamento da noção de “Sistema” em filosofia.
37
tatear às cegas e iniciamos um projeto consistente que estabelece os limites e
as possibilidades do enfrentamento à natureza a partir da definição de um
caminho seguro para uma ciência. Esse caminho se traduz por uma revolução
no modo de pensar que modificou a forma que os pesquisadores da natureza
se dirigiam a essa última. No entanto, essa revolução traz diversas
consequências para a tradição histórico-filosófica, a exemplo da limitação da
razão especulativa, da cisão entre sujeito e objeto e da separação do mundo
em sensível e inteligível, tendo como central na filosofia crítica, a distinção
entre fenômeno e númeno. Delimita-se como objetivo desta apresentação
discutir o conceito de fenômeno na CRP bem como na Fenomenologia do
Espírito. Hegel, em semelhança com Kant, compreende o interior do
fenômeno como sendo incognoscível, dele nada sabemos. Porém, o motivo
dessa opinião diverge gravemente entre ambos os autores. Segundo Hegel,
dele nada conhecemos porque “no vazio nada se conhece”, pois sendo ele o
além da consciência, não tem ninguém ali para testemunhar seus atributos.
Para Kant, esse limite enfrentado pela coisa-em-si é um limite das nossas
capacidades subjetivas, de forma que a razão seria limitada. É tendo em vista
essas divergências que a presente apresentação se questiona: qual a relação
teórica existente entre o arcabouço conceitual kantiano, a saber a relação
entre fenômeno e coisa-em-si, com a exposição dialética hegeliana, na
fenomenologia do espírito?
38
na realidade material e que não necessariamente trivializa uma
argumentação.
39
ainda se fazem presentes a partir desta clássica obra do filósofo iluminista.
Entretanto, a retomada do texto de Kant por Habermas pretende, recuperando
o “núcleo inovador” da “ideia de um estado cosmopolita” enquanto
pressuposto fundamental para uma teoria satisfatória do direito internacional
contemporâneo, superar também os “daltonismos” com os quais o autor da
Crítica da razão prática visualizou o problema, os quais impingem limitações
que notadamente se fazem presentes na tentativa de atualização de sua
proposta. Seja como for, as provocações lançadas pelo filósofo alemão
chamam nossa atenção para a teoria kantiana da paz, evidentemente
salientando as possibilidades de fundamentação de uma teoria do direito
internacional, mas também detendo nossas observações em como esta
proposta acabou por ser concebida no próprio sistema kantiano de
compreensões de fenômenos pertencentes ao mundo da prática, sobretudo à
história. Neste sentido, esperamos demonstrar quais são e como se articulam
os fundamentos referidos pensar e discutir um constitucionalismo
internacional contemporâneo.
Lucas Vinicius Correa Rodrigues (USP): “Um percurso sobre dois mares que
se reconhecem e se distanciam: o cartesianismo e a recolocação do corpo em
Merleau-Ponty”
Resumo: A questão sobre a relação do corpo-alma, encontra-se, em grande
parte, na história da filosofia. Contudo, este “debate” se desdobrou em distintas
concepções. Configura-se em Descartes uma perspectiva subjetivista do corpo,
onde há avaliações depreciativas referentes aos sentidos e uma exaltação da
mente [alma], mas sobretudo há uma grande distinção destas substâncias e de
suas características. A partir das investigações e instaurações de Descartes,
haverá diversos pensadores, da modernidade ao mundo contemporâneo, que
buscaram respostas para as supostas “manchas” da dualidade. Dentre os
diversos, destaca-se Merleau-Ponty, um filósofo que acusa, sem
necessariamente depreciar, a história da filosofia por circunscrever-se no
dualismo instaurado por Descartes, dessa forma averiguando exceder estas
clivagens. Para tal, Ponty reformula noções como o corpo e a percepção [que é
o objeto com que o corpo se ocupa]. Assim sendo, neste artigo, tentamos
40
evidenciar brevemente a partir dos juízos e noções do conhecimento obscuro
sobre o corpo e a exterioridade no cartesianismo, uma relação de resposta
arrojada e contemporânea de Merleau Ponty, que surge com a ressignificação
e com a recusa das clivagens do mundo moderno.
41
transporta para um âmbito autônomo, refundando, assim, a própria
linguagem. Busco aproximar o que é descrito por ele em “Crise de Verso” à ideia
merleau-pontiana da função do poeta: a de “sacudir o aparelho da linguagem”
para então arrancar dele um novo som. Essa reinvenção é alcançada por meio
de recursos inusitados, incomuns, e para o leitor, obscuros. Trata-se de uma
reinvenção feita a golpes, um fazer poético que Manuel Bandeira chamou de
“colisão de palavras”. Do estranhamento que essa colisão nos causa, emerge a
possibilidade da própria poesia. Coloco em diálogo sobretudo os textos
“Linguagem Indireta e as vozes do silêncio” de Merleau-Ponty e ”Crise de
Verso” - escrito por Mallarmé em resposta aos críticos de seu estilo obscuro.
Argumento que há uma motivação de interesse filosófico por trás da poética
peculiar de Mallarmé e busco encontrá-la numa aproximação entre esses dois
autores.
42
Maya Maia de Paiva (USP): “Imbricações da Colonialidade do Poder: raça,
gênero e cisnormatividade”
Resumo: Na América Latina, os estudos decoloniais têm elaborado uma teoria
crítica à modernidade eurocêntrica revelando sua indissociabilidade da
colonialidade, que é instaurada, sobretudo, a partir da invasão das Américas.
Nessa perspectiva, o pensador Aníbal Quijano propõe o conceito-chave de
“colonialidade do poder” com o objetivo de analisar o capitalismo global
vinculando-o à modernidade/colonialidade e à classificação da racial das
populações do mundo. Essa proposta reformula as críticas ao sistema de poder
global a partir de uma perspectiva dos povos colonizados e do impacto do
empreendimento colonial em todos os aspectos de suas vidas. No entanto, o
feminismo descolonial aponta que a noção de colonialidade do poder é
incapaz de reconhecer o real impacto do gênero nesse sistema, naturalizando
sua suposta universalidade e a dominação generificada dos corpos. O foco
deste trabalho é justamente analisar de que forma o pensamento de María
Lugones, filósofa argentina autora do termo “feminismo descolonial”, revela a
artificialidade das categorias sexo e gênero e seus impactos na regulação dos
corpos colonizados através da naturalização da heterossexualidade
compulsória, do dimorfismo sexual, do binarismo de gênero e do apagamento
das experiências pré-coloniais. A colonialidade do gênero é sua proposta
complementar à colonialidade do poder, evidenciando que a classe,
generificação e racialização dos corpos são mecanismos imbricados que
organizam a violência, a dominação e a exploração colonial até o tempo
presente. A perspectiva de Lugones reúne contribuições dos feminismos
negros dos EUA e do Sul Global ao pensamento decolonial para também
revelar práticas e saberes que resistem à colonialidade de gênero e nos
apontam saídas desse Cistema, nos interessando, por fim, aproximá-la do
transfeminismo brasileiro a partir da noção de cisnormatividade, apresentada
por viviane vergueiro, que nomeia alguns dos mecanismos já reconhecidos
pela argentina.
43
Mayk Lucas da Conceição Silva (UFPE): “Notas críticas à perspectiva
dialógica para o tratamento do pluralismo lógico”
Resumo: A obra “The dialogical roots of deduction” representa um marco
contemporâneo para filosofia da lógica e da matemática. Neste trabalho,
Catarina Dutilh-Novaes propõe-se a pensar disciplinas formais desde a sua
perspectiva dialógica e, com isso, busca mostrar o espelho de práticas
dedutivas a partir do modelo "Prover-Skeptic". O método utilizado pela autora
chama-se "filosofia sintética", ele consiste na reunião de descobertas de várias
disciplinas para corroborar teses filosóficas. Diante disso, Dutilh-Novaes tenta
resolver alguns problemas filosoficamente relevantes, como por exemplo o do
pluralismo lógico. Porém, acreditamos e tentamos defender nesta
apresentação que o seu modelo do provador e do cético não explica e não
comporta algumas questões filosoficamente relevantes, bem como a sua
perspectiva dialógica é insuficiente para abarcar a magnitude de problemas
filosóficos mais robustos referentes ao cenário de lógicas emergentes. Assim
sendo, teceremos críticas a autora a partir de problemas contemporâneos,
como a questão dos desacordos profundos e da revisão da lógica.
44
que o desenvolvimento de tais pressupostos são norteadores na clínica
psicanalítica com bebês, e em nosso projeto de prevenção e detecção do
sofrimento psíquico por meio do corpo.
45
principais noções reducionistas presentes no texto budista paracanônico
Milindapañha. Tal exposição se articula buscando explicitar os principais
elementos que definem e coordenam a formulação da noção do que hoje
chamamos de reducionismo, além de explorar a possibilidade da identidade
pessoal apenas como uma denominação ou designação convencional.
Também são levadas em consideração as consequências desse tipo de
formulação, principalmente no que diz respeito a elementos como
continuidade pessoal e responsabilização moral dentro do escopo da teoria do
não-si conforme apresentada na obra em questão
47
da subjetividade, mas sim com a viagem do sujeito em direção ao mais puro e
recôndito interior – onde Deus se manifesta. Nessa perspectiva, este trabalho
busca compreender como as raízes judaicas de Santa Teresa de Jesus
influenciam a construção do castelo interior – isto é, as sete moradas
percorridas pela alma para alcançar a comunhão com o divino. Para tanto,
analisa-se a genealogia da família paterna de Teresa – entrelaçada ao tribunal
inquisitorial de Toledo e à ambição tipicamente ibérica pela limpeza de
sangue –, relacionando-a à obra Castelo Interior e ao fenômeno do
marranismo. A partir deste estudo, observa-se que Teresa – afligida, por toda a
vida, pelo peso de resguardar a honra católica da família – vive um dissenso
interior justificado pelo constante temor de se trair, de transparecer à
sociedade em que se insere o outro oculto em si. Eis o motivo pelo qual valoriza
a introspecção, visualizando-a como meio de garantir a preservação do
segredo. Assim, percebe-se que Teresa constrói o castelo interior enquanto
refúgio da intimidade – alternativa espiritual ao recolhimento que, no mundo
concreto, foi-lhe negado.
48
imprecisões identitárias daquele ou daquilo que performa, destacando os
processos críticos de uma Representação ou Transcendência em dança tanto
no pensamento mendiano quanto em sua recepção da filosofia deleuzo-
guattariana. Deste modo, pretendo defender a tese ontoperformativa de que
aquele que dança a si e devém-obra no contato de si consigo mesmo-outro
possui características tanto pessoais, como argumenta a TDI, quanto im-pré-
pessoais e singulares, como sugerem os filósofos franceses, em especial em
suas discussões sobre o corpo artístico em “O que é a Filosofia?” (2010).
49
da metafísica, sobretudo, da metafísica schopenhaueriana, com a ajuda da qual
ele desenvolve sua teoria da arte. Contudo, o período intermediário de sua
produção marca um rompimento com a metafísica e inaugura a ideia de que
uma cultura superior deve ser edificada sob a base de uma visão não mais
ficcional/estética, mas antes científica e naturalista do mundo. Embora
Nietzsche se mantenha fiel à compreensão científica da realidade, no seu
período de maturidade ele parece ensaiar um retorno qualificado à metafísica.
A forma como Nietzsche concilia o retorno da especulação na filosofia com sua
visão científica da realidade é algo que tentaremos responder neste estudo.
50
reaparecendo na espuma, mais vivos do que as ondas, e entre elas e como elas,
brilhando e variando ao sol. Isto já é dança?”. Paul Valéry, em sua Filosofia da
Dança, questiona se o que os animais fazem – quando brincam, jogam,
perseguem uns aos outros, olham para o céu – já seria dançar. Sua resposta
parece ser imediata: se entreter não é dançar. Para o filósofo, dançar é “coisa
séria” e estritamente humana. Tal resposta nos apresenta uma dificuldade:
como entender, portanto, as inúmeras vezes em que vemos o mundo "dançar"?
O “jeroky”, a dança ritual dos Guarani, como o próprio nome já diz, é inspirada
em “oky”, a chuva. De fato, a dança humana muitas vezes tem sua origem nos
movimentos das ondas, pássaros, fogo, serpentes, da montanha impassível,
dos ventos. A questão ainda parece que precisa ser repetida “isto já é dançar?”.
Proponho, então, uma apreciação e reflexão sobre as danças: originárias,
contemporâneas, humanas e não humanas.
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Vinícius Pinto Alencar (UFJF): “A questão do Sofrimento no último
Nietzsche: Dioniso contra o Crucificado”
Resumo: A presente pesquisa se propõe a analisar a temática do sofrimento no
pensamento de Friedrich W. Nietzsche (1844-1900), especialmente a partir da
perspectiva exposta pelo autor no Fragmento Póstumo da primavera de 1888,
14 [89]. Tal perspectiva apresentada pelo filósofo em seu texto, sugere que o
problema do sofrimento se encontra em seu sentido. Com isso, nossa
problemática gira em torno da tentativa de perceber de que maneira se dá a
formulação do sentido do sofrimento enquanto um problema e como o
valor/sentido ofertado ao sofrimento influencia no modo com que a vida é
avaliada por meio da tensão entre os simbolismos de Dioniso e do Crucificado.
Buscamos concluir que nem o sofrimento e nem a vacuidade da vida são
empecilhos que devam ser superados metafisicamente, mas que, devem ser
compreendidos como partes integrantes da vida. E é por esta compreensão,
que não nega o caráter absurdo e sofredor da vida, mas que os acolhe, que
conseguiremos amá-la incondicionalmente e vivê-la inteiramente,
vislumbrando a possibilidade de uma nova cosmovisão.
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principal objetivo perscrutar seus principais argumentos, classificando-os de
modo claro. Como os resultados mais relevantes da pesquisa, tem-se a
constatação de que o debate foi crucial para o desenvolvimento de uma noção
neoliberal de mercado, distinta da noção neoclássica antes predominante,
enquanto um grande processador de informações que é a mediação necessária
da modernidade, sem a qual toda sociedade complexa e moderna encontra sua
ruína. Do mesmo modo, assinalou-se a contribuição do debate sobre o cálculo
socialista para a elaboração da doutrina neoliberal inicial presente no
programa da Sociedade Mont Pelerin (SMP). Por fim, identificou-se que esse
debate enseja o advento de muitos modelos detalhados de sociedade socialista
que dão conta de responder à pergunta de como alocar recursos numa
sociedade não capitalista e que ao mesmo tempo preenchem as lacunas
deixadas por socialistas precedentes no concernente a seus modelos de
sociedade emancipada.
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