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XIX Encontro de Pesquisa

em Filosofia da UFMG

Filosofia e corpo

Caderno de resumos

2023
1
Organização do PET-Filosofia UFMG

Antônio Vinicius F. da Fonseca


Arthur Stigert Christo
Beatriz Iva De Sales
Daniel Melo Soares
Eduardo Dias de Carvalho Filho
Helena de Lima Gualberto Elias
Henrique Buldrini Barreto
Israel Alessandro V. de Souza Silva
João de Oliveira
João Pedro Blanco Masso
Lucca Moreira de C. Gonzaga
Maria Eduarda de Castro
Mariana Goncalves de Freitas
Paula Silva Araújo Rocha
Raissa Cristina da Silva Miranda
Richard de Lima Gazzola

2
Sumário

Programação ..........................................................................................................................8
Ademir Marcos de Resende Júnior (UFMG): “Uma cartografia da crença na
filosofia de David Hume” ................................................................................................. 16
Aline Matos da Rocha (UNB): “Oyèrónkẹ Oyěwùmí sobre di-visão e
hierarquias” .......................................................................................................................... 16
André Azzi Barreto (USP): “A racionalidade política em Platão a partir do
problema da ordem: da ordem cósmica à ordem da pólis à ordem da alma” . 17
Andrei Gonçalves Dias (UFMG): “‘Nosce teipsum’: Do amor-próprio de Hobbes
ao amor-de-si de Rousseau” ............................................................................................ 18
Antonio Martins de Oliveira (UFLA): “A consciência intencional e a
incorporação dos objetos” ............................................................................................... 18
Antônio Vinicius Ferreira da Fonsêca (UFMG): "A negação do ταυτον de
Parmênides na comédia de Epicarmo" ........................................................................ 19
Arthur de Castro Machado (UFMG): “Uma teoria composicional da mente” . 19
Arthur Stigert Christo (UFMG): “Da liberdade negativa à democracia selvagem:
recensões lefortianas sobre o conflito em Maquiavel” .......................................... 20
Bruno Daniel de Paiva (UFMG): “A noção de 'natureza humana' no Livro 1 do
Tratado de David Hume”.................................................................................................. 21
Caio Franco Assunção (UFMG): “O que há de erótico no desenho ou, a quase-
transcendentalidade do traço” .......................................................................................22
Daniel Melo Soares (UFMG): “Ética conceitual em Nietzsche” ...........................22
Daniela Fernandes Cruz (USP): “‘Por que esse corpo com essas características
é um ser humano?’ Uma introdução à análise hilemórfica das substâncias
sensíveis em Metafísica VII.17” .......................................................................................23

3
Eduardo Dias de Carvalho Filho (UFMG): “O élenchos platônico a partir do
passo 210e6 ‒ 211b5 do Sympósium” ............................................................................ 24
Gabriel Chiarotti Sardi (USP): “Divide et Impera, isomorfismo de modelos e a
continuidade teórica na ciência” .................................................................................. 24
Genilson Vasconcelos da Silva (IFPE): “Conhecimento e Motricidade do corpo
em Merleau-Ponty” ............................................................................................................25
Giullia Rezende de Oliveira (UFMG): “O negativo na Teoria estética de
Theodor W. Adorno: o feio, a dissonância e a linguagem do sofrimento” ....... 26
Helena de Lima Gualberto Elias (UFMG): “O outro pólo da intencionalidade: o
ego como substrato de habitualidades e o problema de outrem em Husserl” 27
Helena Xavier dos Santos Araújo (USP): “O estatuto da feminilidade em Lacan
e crítica de Butler” ..............................................................................................................27
Hulian Ferreira de Araujo (UFMG): “Paradoxo de Putnam” ................................ 28
Israel Alessandro Victorino de Souza Silva (UFMG): “Epistemologia das
virtudes e psicologia cognitiva: a habituação enquanto recurso pedagógico” 29
Jacques Augusto de Aguiar Morais Guimarães (UFSJ): “O problema da
psicologia racional e da liberdade transcendental nas Lições de Metafísica de
Kant” ...................................................................................................................................... 29
Jimy Davison Emídio Cavalcanti (UFPE): “Do corpo ameríndio: por um canto
selvagem da formação humana” ................................................................................... 30
João Augusto Araújo Ferreira (USP): “Hegel e as artes: crise do conceito de obra
na época moderna” ............................................................................................................ 31
João de Oliveira (UFMG): “Filosofias que nenhum Kant escreveu: o idealismo
transcendental na obra de Fernando Pessoa” ...........................................................32
João Pedro Blanco Masso (UFMG): "Reformar ou negar a moralidade?
Realismo naturalista contra Teoria do Erro"..............................................................32

4
João Pedro Blanco Milani (USP): “Força, justiça e lei: B. Pascal e o problema da
autoridade” ...........................................................................................................................33
João Victor Rezende Dias (USP): “O fazendo-se nas paixões e sentimentos: A
temática do corpo humano no pensamento cartesiano” ...................................... 34
João Vítor Leal Sant Anna (UFMG): “Panpsiquismo de Eddington”...................35
José Alesi Santiago Rocha (PUC - PR): “A inerente relação entre a cidade e a
alma dos indivíduos n’A república de Platão” ...........................................................35
Keli de Assumpção (USP): “O processo de aprendizado da linguagem como
‘Jogo de Linguagem’ nas investigações filosóficas de Wittgenstein” ................. 36
Leonardo Araújo Oliveira (UFMG): “Aspectos estratégicos da comunicação
filosófica em Kierkegaard e Nietzsche” .......................................................................37
Lígia Ranara Rocha Paes (UFMG): “O conceito de fenômeno em Kant e Hegel:
A crítica à limitação da razão especulativa”...............................................................37
Lohana Soares Passos (USP): “O Mentiroso de Russell” ........................................ 38
Lucas Taufer (UCS): “Breves notas sobre a teoria da paz em Kant” ................... 39
Lucas Vinicius Correa Rodrigues (USP): “Um percurso sobre dois mares que se
reconhecem e se distanciam: o cartesianismo e a recolocação do corpo em
Merleau-Ponty” .................................................................................................................. 40
Luciano Coutinho Paulino (FAJE): “Niilismo e política” ........................................ 41
Mariana Gonçalves de Freitas (UFMG): “O lugar da obscuridade e do silêncio
na linguagem poética: entre Mallarmé e Merleau Ponty” ..................................... 41
Maurício Cavalcante Rios (IFBA): “O relativismo epistêmico sobre a ciência”
................................................................................................................................................. 42
Maya Maia de Paiva (USP): “Imbricações da Colonialidade do Poder: raça,
gênero e cisnormatividade”............................................................................................ 43

5
Mayk Lucas da Conceição Silva (UFPE): “Notas críticas à perspectiva dialógica
para o tratamento do pluralismo lógico” ................................................................... 44
Mônica Parreiras (UNISINOS): “O corpo do bebê entre a mãe dogmática e a
mãe hermeneuta: uma aplicação da regra de cobre” ............................................. 44
Patrícia Braz de Carvalho (UNIFESP): “Chaplin e a arte de narrar com o corpo:
A pantomima e o gestual na perspectiva benjaminiana” ..................................... 45
Paula Silva Araújo Rocha (UFMG): “Milindapañha - Noções de identidade
pessoal no registro do não-si” ........................................................................................ 45
Rafaela Beatriz De Oliveira Martins (UFU): “Os exercícios terapêuticos
Baduanjin: filosofia e prática” ........................................................................................ 46
Raíssa C. S. Miranda (UFMG): “Walter Benjamin: surrealismo e história” ...... 47
Roberta Puccini Gontijo (UFMG): “Castelo interior como refúgio de uma alma
cindida: um estudo sobre a feição marrana de Santa Teresa D’Ávila” .............. 47
Robson Farias Gomes (UNB): “Corpo Imanente: da dissecação artística de si”
................................................................................................................................................. 48
Ryam Santos das Neves (UNB): “O sentido estético e filosófico do corpo em O
Evangelho Segundo Jesus Cristo: Um diálogo entre Nietzsche e Saramago” .. 49
Sílvia de Lourdes Lemes Aguiar (UFMG): “Maturidade de Nietzsche como um
período de reconciliação com o modo metafísico de se fazer filosofia”........... 49
Thiago de Souza Salvio (UFABC): “A origem da monogamia e sua implicação
no tema da pudicitia: esboço de uma análise engelsiana” ................................... 50
Verena Than (UERJ): “Dança como a chuva cai” ..................................................... 50
Victor Angelucci de Moura Sousa (UFMG): “Sobre Modos de Apresentação:
Fregeanismo e Relacionismo” ........................................................................................ 51
Victor Garces Bordin (UFMG): “Anônimo de Jâmblico: a Natureza Humana no
seu âmbito político” ...........................................................................................................52

6
Vinícius Ferreira da Silva (USP): “Com o corpo estranho da máquina: imagem
e materialidade em Peter Tscherkassky”.....................................................................52
Vinícius Pinto Alencar (UFJF): “A questão do Sofrimento no último Nietzsche:
Dioniso contra o Crucificado” ........................................................................................53
Vitor Lucas Pereira de Menezes (UFMG): “O Debate do Cálculo Econômico
Socialista” ..............................................................................................................................53

7
Programação

8
Dia 7 de Novembro

Conferência de Abertura (9:00 - 10:40)


“Altruísmo, economia e eficiência no comércio de órgãos”
Otávio Felício Lima

Mesa I (14:00 - 15:30)


| “O outro pólo da intencionalidade: o ego como substrato de habitualidades e
o problema de outrem em Husserl”
Helena de Lima Gualberto Elias (UFMG)
| “A consciência intencional e a incorporação dos objetos”
Antônio Martins de Oliveira (UFLA)
| “Oyèrónkẹ Oyěwùmí sobre di-visão e hierarquias”
Aline Matos da Rocha (UNB)

Mesa II (14:00 - 15:30)


| “Epistemologia das virtudes e psicologia cognitiva: a habituação enquanto
recurso pedagógico”
Israel Alessandro Victorino de Souza Silva (UFMG)
| “O relativismo epistêmico sobre a ciência”
Maurício Cavalcante Rios (IFBA)
| “Divide et Impera, isomorfismo de modelos e a continuidade teórica na
ciência”
Gabriel Chiarotti Sardi (USP)

Mesa III (16:00-18:30)


| “A racionalidade política em Platão a partir do problema da ordem: da ordem
cósmica à ordem da pólis à ordem da alma”
André Azzi Barreto (USP)
| “A inerente relação entre a cidade e a alma dos indivíduos n’A república de
Platão”
José Alesi Santiago Rocha (PUC - PR)

9
| “‘Por que esse corpo com essas características é um ser humano?’ Uma
introdução à análise hilemórfica das substâncias sensíveis em Metafísica VII.17”
Daniela Fernandes Cruz (USP)
| “O élenchos platônico a partir do passo 210e6 ‒ 211b5 do Sympósium”
Eduardo Dias de Carvalho Filho (UFMG)

Mesa IV (16:00 - 18:30)


| “Notas críticas à perspectiva dialógica para o tratamento do pluralismo
lógico”
Mayk Lucas da Conceição Silva (UFPE)
| “Sobre Modos de Apresentação: Fregeanismo e Relacionismo”
Victor Angelucci de Moura Sousa (UFMG)
| “Paradoxo de Putnam”
Hulian Ferreira de Araujo (UFMG)
| “O Mentiroso de Russell”
Lohana Soares Passos (USP)
| “O processo de aprendizado da linguagem como ‘Jogo de Linguagem’ nas
investigações filosóficas de Wittgenstein”
Keli de Assumpção (USP)

Dia 8 de Novembro
Mesa V (9:00 - 10:30)
| “O lugar da obscuridade e do silêncio na linguagem poética: entre Mallarmé
e Merleau Ponty”
Mariana Gonçalves de Freitas (UFMG)
| “Filosofias que nenhum Kant escreveu: o idealismo transcendental na obra
de Fernando Pessoa”
João de Oliveira (UFMG)
| “O que há de erótico no desenho ou, a quase-transcendentalidade do traço”
Caio Franco Assunção (UFMG)

Mesa VI (9:00 - 10:30)


| “Dança como a chuva cai”
Verena Than (UERJ)

10
| “O negativo na Teoria estética de Theodor W. Adorno: o feio, a dissonância e
a linguagem do sofrimento”
Giullia Rezende de Oliveira (UFMG)
| “Corpo Imanente - da dissecação artística de si”
Robson Farias Gomes (UNB)

Mesa VII (10:30 - 12:00)


| “Castelo interior como refúgio de uma alma cindida: um estudo sobre a feição
marrana de Santa Teresa D’Ávila”
Roberta Puccini Gontijo (UFMG)
| “Força, justiça e lei: B. Pascal e o problema da autoridade”
João Pedro Blanco Milani (USP)
| “O fazendo-se nas paixões e sentimentos: A temática do corpo humano no
pensamento cartesiano”
João Victor Rezende Dias (USP)

Mesa VIII (10:30 - 12:00)


| “Walter Benjamin: surrealismo e história”
Raíssa C. S. Miranda (UFMG)
| “Chaplin e a arte de narrar com o corpo: A pantomima e o gestual na
perspectiva benjaminiana”
Patrícia Braz de Carvalho (UNIFESP)
| “Com o corpo estranho da máquina: imagem e materialidade em Peter
Tscherkassky”
Vinícius Ferreira da Silva (USP)

Mesa IX (14:00 - 15:30)


| “O problema da psicologia racional e da liberdade transcendental nas Lições
de Metafísica de Kant”
Jacques Augusto de Aguiar Morais Guimarães (UFSJ)
| “O conceito de fenômeno em Kant e Hegel: A crítica à limitação da razão
especulativa”
Lígia Ranara Rocha Paes (UFMG)
| “Hegel e as artes: crise do conceito de obra na época moderna”
João Augusto Araújo Ferreira (USP)
11
Mesa X (14:00 - 15:30)
| "A negação do ταυτον de Parmênides na comédia de Epicarmo”
Antônio Vinicius Ferreira da Fonsêca (UFMG)
| “Os exercícios terapêuticos Baduanjin: filosofia e prática”
Rafaela Beatriz De Oliveira Martins (UFU)
| “Anônimo de Jâmblico: a Natureza Humana no seu âmbito político”
Victor Garces Bordin (UFMG)

Mesa XI (16:00 - 17:00)


| “Uma cartografia da crença na filosofia de David Hume”
Ademir Marcos de Resende Júnior (UFMG)
| “A noção de 'natureza humana' no Livro 1 do Tratado de David Hume”
Bruno Daniel de Paiva (UFMG)
"Reformar ou negar a moralidade? Realismo naturalista contra Teoria do Erro"
João Pedro Blanco Masso (UFMG)

Mesa XII (16:00 - 18:30)


| “Ética conceitual em Nietzsche”
Daniel Melo Soares (UFMG)
| “O sentido estético e filosófico do corpo em O Evangelho Segundo Jesus
Cristo: Um diálogo entre Nietzsche e Saramago”
Ryam Santos das Neves (UNB)
| “Aspectos estratégicos da comunicação filosófica em Kierkegaard e
Nietzsche”
Leonardo Araújo Oliveira (UFMG)
| “A questão do Sofrimento no último Nietzsche: Dioniso contra o Crucificado”
Vinícius Pinto Alencar (UFJF)
| “Maturidade de Nietzsche como um período de reconciliação com o modo
metafísico de se fazer filosofia”
Sílvia de Lourdes Lemes Aguiar (UFMG)

Dia 9 de Novembro
Mesa XIII (9:00 - 10:00)
| “Do corpo ameríndio: por um canto selvagem da formação humana”

12
Jimy Davison Emídio Cavalcanti (UFPE)
| “‘Nosce teipsum’: Do amor-próprio de Hobbes ao amor-de-si de Rousseau”
Andrei Gonçalves Dias (UFMG)

Mesa XIV (9:00 - 10:30)


| “Niilismo e política”
Luciano Coutinho Paulino (FAJE)
| “Da liberdade negativa à democracia selvagem: recensões lefortianas sobre o
conflito em Maquiavel”
Arthur Stigert Christo (UFMG)
| “Breves notas sobre a teoria da paz em Kant”
Lucas Taufer (UCS)

Mesa XV (10:30 - 13:00)


| “O estatuto da feminilidade em Lacan e crítica de Butler”
Helena Xavier dos Santos Araújo (USP)
| “O corpo do bebê entre a mãe dogmática e a mãe hermeneuta: uma aplicação
da regra de cobre”
Mônica Parreiras (UNISINOS)
| “Imbricações da Colonialidade do Poder: raça, gênero e cisnormatividade”
Maya Maia de Paiva (USP)
| “A origem da monogamia e sua implicação no tema da pudicitia: esboço de
uma análise engelsiana”
Thiago de Souza Salvio (UFABC)
| “O Debate do Cálculo Econômico Socialista”
Vitor Lucas Pereira de Menezes (UFMG)

Mesa XVI (14:00 - 15:30)


| “Panpsiquismo de Eddington”
João Vítor Leal Sant Anna (UFMG)
| “Uma teoria composicional da mente”
Arthur de Castro Machado (UFMG)
| “Milindapañha - Noções de identidade pessoal no registro do não-si”
Paula Silva Araújo Rocha (UFMG)

13
Mesa XVII (14:00 - 15:00)
| “Conhecimento e Motricidade do corpo em Merleau-Ponty”
Genilson Vasconcelos da Silva (IFPE)
| “Um percurso sobre dois mares que se reconhecem e se distanciam: o
cartesianismo e a recolocação do corpo em Merleau-Ponty”
Lucas Vinicius Correa Rodrigues (USP)

Conferência de encerramento (16:00 - 17: 40)


“O corpo fenomenológico: da existência ao político”
Bruno Victor Melo

14
Resumos

15
Ademir Marcos de Resende Júnior (UFMG): “Uma cartografia da crença na
filosofia de David Hume”
Resumo: A comunicação busca fazer uma “cartografia”, em sentido metafórico,
dos momentos em que a crença aparece nos escritos humeanos. Identifico
cinco considerações sobre a crença, que em suma, se organizam e se
complementam para responder a dúvida de Hume acerca da natureza da
crença em ideias relacionadas por causalidade. 1) A crença nas impressões
(sensações dos sentidos e sentimentos) aparece como o ponto inicial da nossa
complexa rede de fatos e eventos acreditados, por serem as percepções de
maior força que ocorrem em nossa mente. A crença em ideias, segundo passo
do esquema de Hume, ocorre porque uma ideia adquire vividez por estar
relacionada a uma impressão. Sobre a crença nas ideias, separo elas em três
momentos distintos: 2) as ideias acreditadas diretamente de uma impressão,
3) as ideias acreditadas pela memória, e 4) as ideias acreditadas a partir de
ideias da imaginação previamente acreditadas. Apesar de Hume não se
preocupar em diferenciá-las em sua exposição, vejo que cada uma delas possui
considerável peculiaridade para serem tratadas como um mesmo processo da
crença, e busco no próprio texto humeano estas particularidades que percebo
terem sido ditas pelo filósofo. As crenças do segundo momento são as que
temos a partir de nossa observação sensorial do mundo. No terceiro momento,
são as crenças a partir das cópias das impressões, isto é, a memória. As
reflexões do quarto momentos colocam na discussão a questão da crença nos
testemunhos, do porquê acreditamos em eventos e fatos não experienciados,
e a pergunta sobre em quais testemunhos podemos acreditar. Considero que
estas respostas serão completas apenas quando adentramos na investigação
sobre 5) a natureza da crença enquanto uma impressão e suas relações com
outras impressões, especialmente, os sentimentos.

Aline Matos da Rocha (UNB): “Oyèrónkẹ Oyěwùmí sobre di-visão e


hierarquias”
Resumo: Este trabalho busca apresentar as discussões da filósofa iorubá
Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí em torno do problema da escolha da visão como o lugar
privilegiado do saber (poder) e da construção de di-visão, de hierarquias e de

16
práticas de diferenciação corporal do Ocidente. É expressivo e sintomático o
fato da modernidade eleger a visão como o órgão por excelência do
pensamento e esse sentido continuar sendo privilegiado não só na organização
social do Ocidente, mas na própria ordenação dos modos de ser e conhecer da
filosofia, a qual está repleta de metáforas, descrições e analogias que estão
ligadas à di-visão e unidade entre visão-corpo: mente-corpo, teoria, conceito,
cosmovisão, representação, perspectiva, corpus, corpo político, corpo do rei,
poder-corpo, olho do poder, os quais revelam que o nosso anátomo saber-
poder filosófico encontra seus fundamentos e suas justificativas na biologia.
Esta a qual Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí conceitua como bio-lógica. Cujo anteparo
fenomenológico e ubiquidade se fazem presentes na relação entre filosofia e
corpo, a qual este trabalho pretende nos levar a pensar como uma relação de
tela de projeção, di-visão e hierarquias.

André Azzi Barreto (USP): “A racionalidade política em Platão a partir do


problema da ordem: da ordem cósmica à ordem da pólis à ordem da alma”
Resumo: Este trabalho visa investigar a relação entre ordem política e ordem
da alma e ordem cósmica no pensamento de Platão, com especial interesse em
como aparecem nas obras República e Timeu. Dessa relação depende a
possibilidade de inteligibilidade do mundo, mas também, segundo Platão, a
compreensão racional da própria política, recorte que interessa à pesquisa que
se propõe. Em questão está a própria condição de possibilidade de uma
filosofia e ciência política racional e, do ponto de vista da historiografia do
pensamento filosófico, como Platão dialogou com a herança que o precedeu
para estabelecer seu próprio pensamento político, especialmente o
pitagorismo. Se existe um ordenamento que subjaz a realidade social,
apreendê-lo, compreendê-lo e explicá-lo é essencial e em Platão parece haver
a afirmação de que não apenas esse ordenamento social existe, como guarda
relação com a própria ordem cósmica, de modo que a realidade social não
pode ser explicada sem que se compreenda a relação dinâmica entre elas, seja
também para compreender seu funcionamento orgânico e sua racionalidade,
e até mesmo para aprimorá-lo a partir da reflexão, da ciência e da filosofia
política.

17
Andrei Gonçalves Dias (UFMG): “‘Nosce teipsum’: Do amor-próprio de
Hobbes ao amor-de-si de Rousseau”
Resumo: Na introdução do Leviatã, Hobbes adota a máxima Nosce teipsum
como o método pelo qual ele irá investigar a natureza humana.
Diferentemente de Skinner (1997), Missner (1977) e Sorell (2019), que
acreditam que o preceito délfico tenha apenas um papel retórico na obra de
Hobbes, este trabalho procura argumentar que a introspecção tem um papel
fundamental na metodologia de Hobbes e que Rousseau parte de uma crítica
a esse método no prefácio do Segundo Discurso para posteriormente distinguir
o amor-próprio do amor-de-si. Para argumentar sobre o papel metodológico
de “nosce teipsum”, buscou-se mostrar que a máxima aparece umem Elements
of Law como um retorno aos sentidos (senses) para dar o nome correto às
coisas do mundo. Portanto, “nosce teipsum” significa, no Leviatã, partir dos
sentidos com o intuito de definir correta e ordenadamente as paixões, os
pensamentos e o homem. Nessa interpretação, a introspecção é complementar
e não excludente ao método quasi-geométrico de Hobbes. Embora Rousseau
concorde com Hobbes que o preceito délfico seja mais importante para o
conhecimento dos homens do que os grossos livros dos moralistas, a sua
interpretação é divergente da apresentada pelo filósofo inglês. Para Rousseau,
é crucial apontar a diferença entre o natural e o artificial para mostrar que a
essência da natureza humana se encontra escondida no homem da sociedade
e, portanto, a solidão é a condição de possibilidade para reencontrar este
sentimento primevo. Este sentimento que Rousseau encontra ao meditar nas
florestas de Saint-Germain é o amor-de-si. Desse modo, argumenta-se que é
por meio de uma introspecção que volta ao sentido interior (sens intérieur),
isto é, um sentimento anterior a toda racionalidade, linguagem e olhar alheio
que Rousseau estabelece as bases de sua natureza humana.

Antonio Martins de Oliveira (UFLA): “A consciência intencional e a


incorporação dos objetos”
Resumo: Nosso objetivo nesse artigo e descrever é investigar sobre o conceito
de consciência intencional na fenomenologia de Husserl. Portanto vamos
recortar o assunto em duas obras de Husserl que são; as Investigações lógicas

18
(1900) e as Meditações Cartesianas em (1929) Embora saibamos que Husserl
apresentou seus conceitos em outros textos como nas ideias para uma Para
uma fenomenologia Pura e para uma Filosofia Transcendental (1913).Esta por
ser uma coletânea de textos esparsos. Adotamos as meditações por ser mais
didática e apropriada para o que queremos descrever. Portanto primeiramente
vamos descrever como funciona o conceito de intencionalidade e a
consciência intencional na fenomenologia de Husserl a caminho de uma
consciência intencional, para depois discorrer como se dá a relação ou o acesso
entre a consciência e a incorporação dos objetos no do mundo

Antônio Vinicius Ferreira da Fonsêca (UFMG): "A negação do ταυτον de


Parmênides na comédia de Epicarmo"
Resumo: O objetivo deste trabalho é observar como foi, provavelmente, a
recepção do pensamento de Parmênides nos fragmentos de Epicarmo. Em
Epicarmo, será dado enfoque ao conjunto de fragmentos B2, em que se
encontra o argumento do crescimento, no qual aparece a sentença “κοὔποκ᾿ ἐν
ταὐτῶι μένει” (nunca permanece no mesmo estado), que pode ser a negação da
sentença que aparece no B8 de Parmênides, onde se encontra “ταὐτόν τ’ ἐν
ταὐtῶι τε μένον” (permanecendo ambos o mesmo e no mesmo lugar). Parece,
então, que Epicarmo pegou a letra do fragmento de Parmênides e negou o
princípio de identidade que Parmênides impôs. A questão é: como esse
princípio parmenídeo é negado? Pois o fragmento de Epicarmo se encontra no
contexto de uma comédia. Meu objetivo é tentar encontrar, no B6 de
Parmênides, a possibilidade da confusão dos homens ser causada pelo
movimento. Logo, o que Epicarmo teria feito no seu argumento do
crescimento seria extrapolar esse movimento que causa confusão nos homens
para negar, levando ao absurdo de forma cômica, o princípio de identidade
Parmenídeo pela possibilidade que o próprio Parmênides parece ter colocado.
Arthur de Castro Machado (UFMG): “Uma teoria composicional da mente”
Resumo: Existe um desbalanço entre agentes com capacidades finitas de
processamento e de armazenamento de informações, e sua capacidade de
gerar/compreender um número aberto de sentenças. Uma explicação é um
mecanismo geracional que gera a informação de um número aberto de

19
sentenças a partir de uma base finita. Esse mecanismo possibilita a
computabilidade da informação porque permite ao agente armazenar e
processar apenas essa base finita. Há uma semelhança estrutural entre o
funcionamento desse mecanismo e o de uma teoria formal. Uma teoria formal
é um constructo teórico composto por axiomas e regras que funciona como
metalinguagem que codifica aspectos sintáticos relevantes de seu sistema alvo
em uma linguagem de paráfrase. Essa teoria é capaz de decodificar o
significado de um número aberto de sentenças via composicionalidade. A
semelhança então é meramente estrutural? Há pelo menos três interpretações
possíveis sobre o que uma teoria formal diz. Defenderei uma interpretação
psicológica: uma teoria formal fornece um modelo interno de como agentes
decodificam sentenças em tempo real e de maneira online. Esse processo é
realizado via módulo linguístico, um corpo discreto de informações
encapsuladas e uma gama de operações que atuam sobre essas informações.
Esse módulo só é sensível a informação sintática e atua apenas sob
informações que não envolvem acesso a tudo o que o agente sabe. Ele também
age de maneira incrivelmente rápida, subpessoal e mandatória. Dessa forma,
uma teoria formal explica como o próprio agente manipula o veículo
linguístico, que é uma sentença da linguagem do pensamento – em última
instância, uma estrutura neural. Uma vez que agentes linguísticos são capazes
de gerar/compreender um número aberto de pensamentos, o pensamento
detém as mesmas exigências da linguagem: é preciso um mecanismo gerativo.
E esse mecanismo é o próprio módulo linguístico. Dessa forma, uma teoria
formal fornece uma teoria composicional da mente.

Arthur Stigert Christo (UFMG): “Da liberdade negativa à democracia


selvagem: recensões lefortianas sobre o conflito em Maquiavel”
Resumo: Na primeira parte de seu livro Discursos sobre a Primeira Década de
Tito Lívio, ao avaliar as razões que engendraram a grandeza da república
romana, Maquiavel insere a sua célebre distinção entre os dois humores da
cidade, nomeadamente, o desejo dos grandes de dominar e o do povo de
recusar a opressão. Aplicando esse modelo ao caso de Roma, o secretário
florentino identifica nos tumultos da plebe o fator essencial de produção da
liberdade, na medida em que ensejaram o desafogo do humor popular e a
20
institucionalização do conflito, resultando na criação de boas leis. Ao
empreender a sua interpretação da obra maquiaveliana - e conferindo especial
atenção aos desdobramentos do argumento supracitado - Claude Lefort opera
um duplo movimento: ao passo que traz à superfície o sentido dos escritos do
filósofo renascentista, também depura a sua própria concepção de filosofia
política. Com efeito, creio ser lícito afirmar que as teses articuladas pelo autor
francês em Le Travail de l'œuvre Machiavel (O Trabalho da obra Maquiavel)
servem de substrato para suas formulações posteriores sobre a democracia
moderna, contidas sobretudo nas coletâneas de ensaios Pensando o Político e
A invenção democrática. Apoiando-me nos aportes teóricos de Newton
Bignotto, Helton Adverse e outros comentadores, buscarei aqui cotejar certos
elementos das obras de Maquiavel e de Lefort, tendo como objetivo principal
destacar as continuidades existentes entre a noção maquiaveliana de conflito
e a perspectiva lefortiana acerca da natureza constitutiva da sociedade
democrática.

Bruno Daniel de Paiva (UFMG): “A noção de 'natureza humana' no Livro 1


do Tratado de David Hume”
Resumo: Em sua obra Tratado da Natureza Humana, David Hume centraliza a
noção de ‘natureza humana’ como objeto de estudos de sua filosofia. Para ele,
vários debates filosóficos infindáveis são solucionados, positivamente ou com
a suspensão do juízo, ao estipularmos um novo fundamento forte para as
ciências. Entretanto, apesar da centralidade do conceito no Tratado, presente
inclusive em seu título, Hume não nos oferece sua definição precisa. Sendo
assim, o objetivo desse projeto é justamente uma tentativa de entendimento
de o que Hume entende por natureza humana. No entanto, para a consecução
desse trabalho, precisamos direcionar nossa atenção para a metodologia de
Hume no Tratado, ou seja, para a sua Introdução. Acreditamos que a
metodologia humeana no Tratado possui esses dois aspectos; a) as intenções e
os objetivos de Hume ao realizar a sua filosofia e b) a sua filosofia
experimental, aplicando o método experimental de raciocínio em assuntos
morais.

21
Caio Franco Assunção (UFMG): “O que há de erótico no desenho ou, a quase-
transcendentalidade do traço”
Resumo: No livro Memórias de Cego, Jacques Derrida explora a impossibilidade
de uma vinculação direta entre a visão e o desenho. O autor afirma fazer parte,
pois, de uma tradição que, com Baudelaire, liga o desenho e o ato de desenhar
à memória. Sendo o presente dos olhos inacessível, a origem do desenho
aponta, portanto, para a falta, para um contínuo e impossível exercício de
restituição. Por oposição a esta falta, o traçamento sempre carrega consigo este
desejo. A partir destas considerações presentes na obra de Derrida, pretendo
explorar a dimensão erótica, da falta e do desejo, que reside no traço (trait), na
origem do desenho e também da escrita. Para comentar a origem do desenho,
me concentrarei no trecho de Memórias referente à “Dibutade ou A origem do
desenho”. Já para abordar a origem da escrita, recorrerei à obra Eros, o doce-
amargo de Anne Carson, que trata deste tema sobretudo na poesia lírica e no
Fedro de Platão. Relacionando as duas obras, pretendo investigar em que
medida o tema da falta e do desejo aponta para nossa experiência da
temporalidade e que permite, por sua vez, pensarmos na promessa derridiana
de uma quase-transcendentalidade do traço que é anterior, desse modo, tanto
ao desenho como à escrita.

Daniel Melo Soares (UFMG): “Ética conceitual em Nietzsche”


Resumo: Nietzsche avalia negativamente a moralidade hegemônica cristã de
sua época e, logo em seguida, propõe aos filósofos do futuro, que criem novos
valores. Em outras palavras, para ele, nosso vocabulário moral precisa ser
radicalmente modificado e cabe a filosofia dar conta dessa tarefa. Tal projeto
nietzschiano e nomeado de “reavaliação de todos os valores” e, em minha
pesquisa, busco compreende-lo como um projeto amplo de ética conceitual
operado sobre os próprios conceitos éticos hegemônicos. Para tanto,
considero os dois principais momentos de tal projeto: (1) a genealogia e (2) a
criação de valores, considerando o primeiro enquanto uma engenharia reversa
conceitual e o segundo enquanto uma engenharia conceitual de novo ou
reengenharia. Abordo, também, outras questões como: quem seriam os
responsáveis por tamanha e tão grave modificação? O que sustenta a avaliação

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negativa da moralidade hegemônica? O que Nietzsche considera como
conceitos? Utilizo, em especial, o comentador e, também, filósofo da
engenharia conceitual Matthieu Queloz.

Daniela Fernandes Cruz (USP): “‘Por que esse corpo com essas
características é um ser humano?’ Uma introdução à análise hilemórfica das
substâncias sensíveis em Metafísica VII.17”
Resumo: O livro VII da Metafísica é conhecido como “o tratado do ser”, uma
vez que sua motivação é a busca por uma resposta à pergunta “o que a
substância (οὐσία)?”. Após extensa investigação, Aristóteles afirma, em seu
capítulo último, que “a substância é a forma” (Met. VII.17 1041b7-8). O contexto
em que a afirmação surge, porém, é digno de atenção. Entre outras
peculiaridades do capítulo em questão, após anunciar que a investigação em
VII.17 seria empreendida a partir de uma nova estratégia (1041a6-7), Aristóteles
importa um modelo investigativo de descoberta da essência pela causa a partir
de uma estrutura triádica - isto é, retoma um modelo de demonstração
científica, originalmente desenvolvido em Segundos Analíticos II.8-10, e o
aplica a um caso omisso no tratado de origem: o caso das substâncias sensíveis.
Assim, em Met.1041a32-b8, Aristóteles descreve-nos o caso dos itens que, à
primeira vista, não seriam passíveis de análise por demonstração científica, e
apresenta seu método para torná-los aptos a esse tipo de investigação.
Segundo essa metodologia, é necessário que o item seja antes desarticulado
(1041b1) – isto é, descrito em termos da matéria que o constitui e de sua forma.
Somente após a apresentação dessa análise hilemórfica, Aristóteles conclui
afirmando que a substância de um item é a sua forma. Desse modo,
poderíamos nos perguntar em que medida a introdução da análise hilemórfica
possibilita a Aristóteles alcançar um resultado satisfatório em sua investigação
sobre a substância, bem como nos questionarmos quanto ao sucesso dessa
empreitada aristotélica – uma vez que essa questão é alvo de divergência entre
os intérpretes. Assim, nosso objetivo com a presente comunicação é explorar
a análise hilemórfica das substâncias sensíveis em Metafísica VII.17, mapeando
as principais dificuldades e objeções apresentadas pela literatura secundária.

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Eduardo Dias de Carvalho Filho (UFMG): “O élenchos platônico a partir do
passo 210e6 ‒ 211b5 do Sympósium”
Resumo: O discurso de Sócrates, no diálogo Sympósium, é proferido após cinco
discursos de seus convivas no simpósio, os quais são: Fedro, Pausânias,
Erixímaco, Aristófanes e Agatão. No passo 210e6 ‒ 211b5 da obra, o discurso de
Sócrates, a partir da evocação de Diotima, elenca tudo aquilo que a Beleza não
é para, só então, dizer aquilo que a Beleza seria. O objetivo deste estudo é
mostrar como esse passo, ao dizer aquilo que a Beleza não é, constitui uma
refutação de cada uma das concepções sobre o belo presentes nos discursos
proferidos anteriormente. Para isso, serão analisadas as teses de cada um
desses cinco discursos, de modo a identificar como as concepções sobre o belo
de cada um deles são retomadas nesse passo da obra. Essa relação entre os
discursos dos convivas e as suas refutações nos permite observar um modo
singular como Platão aplica o élenchos na dinâmica do Sympósium.

Gabriel Chiarotti Sardi (USP): “Divide et Impera, isomorfismo de modelos e


a continuidade teórica na ciência”
Resumo: No decorrer do debate sobre o realismo científico, alguns
antirrealistas, tal como Léo Tolstói e Larry Laudan, criaram um desafio cético
para os realistas, questionando, com base na história da ciência, a crença
realista de continuidade entre as teorias do passado, atuais e futuras; esse
desafio ficou conhecimento como o argumento da metaindução pessimista.
Stathis Psillos ofereceu uma réplica a este argumento que ficou conhecida
como realismo seletivo ou divide et impera, alegando que, através de um
minucioso exame, podemos encontrar elementos teóricos de continuidade
entre teorias passadas e atuais, assegurando, por analogia, que as teorias
futuras também possuirão elementos de continuidade com as atuais. A
questão posta é que o argumento divide et impera de Psillos foi formulado,
primordialmente, como uma estratégia para ser tanto uma defesa quanto um
ataque em relação ao antirrealismo científico, na medida em que consegue
apresentar uma forma de resistência ao desafio proposto da metaindução
pessimista e oferecer uma versão de realismo mais cauteloso, substantivo e
coerente com suas aspirações e princípios. Em suma, segundo o autor, se

24
conseguirmos identificar os elementos de permanência nas mudanças
teóricas, inviabilizaremos grande parte da força da metaindução pessimista e,
simultaneamente, evidenciando que a estratégia realista seletiva reflete com
mais rigor a história da ciência do que as crenças antirrealistas. Todavia,
mesmo que se admita que o divide et impera se trate de uma ferramenta
interpretativa que elucida importantes questões da história da ciência
(embora existam fortes objeções à sua aplicação), sua aceitação não implica,
necessariamente, a adoção do realismo científico (seja seletivo ou não) como
postura metacientífica. Na presente comunicação, argumentarei que existem
formas de antirrealismo, tal como o empirismo construtivo de Bas van
Fraassen, que não sofrem nenhum revés com a aceitação da continuidade
teórica na história da ciência. O empirismo de van Fraassen se mostra como
uma interessante opção antirrealista que aceita a possibilidade de
continuidade na ciência (mas sem incorrer na aceitação do conceito de
verdade aproximada das teorias) na medida em que admite, de acordo com
sua interpretação específica da natureza da ciência, que as teorias são famílias
de modelos, isto é, estruturas de linguagens que visam contemplar as
aparências da realidade – o que torna extremamente concebível aceitar que,
como veremos, em mudanças teóricas alguns elementos estruturais (ou até
modelos) permaneçam. A consequência final a ser extraída dessa análise é que
o divide et impera de Psillos é uma forma de ataque contundente circunscrito
a um grupo de antirrealistas bem delimitado chamados de descontinuístas ou
críticos historicistas – e não para os antirrealistas em geral.

Genilson Vasconcelos da Silva (IFPE): “Conhecimento e Motricidade do


corpo em Merleau-Ponty”
Resumo: No presente artigo tem-se como finalidade principal abordar os
principais aspectos da noção de corpo próprio desenvolvida por Merleau-
Ponty, tendo como base o seu texto da Fenomenologia da Percepção, onde será
mostrado que a motricidade do corpo assim concebido é constitutiva do
processo do conhecimento. Esta posição é um redirecionamento da tradição
cartesiana na medida em que o sujeito do conhecimento não é centrado no
sujeito pensante – “cogito” – mas sim no corpo - “corpo-sujeito”.

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Giullia Rezende de Oliveira (UFMG): “O negativo na Teoria estética de
Theodor W. Adorno: o feio, a dissonância e a linguagem do sofrimento”
Resumo: O objetivo geral da pesquisa é analisar a articulação dialética da
negatividade na obra de arte, concebida por Theodor Adorno como essencial
para a linguagem e postura crítica do âmbito estético-artístico, focalizando os
aspectos do feio, da dissonância e da linguagem do sofrimento como formas
de expressão do que a arte busca fazer emergir, ou seja, o conteúdo reprimido
pela sociedade administrada. Este trabalho explora a antinomia entre a
manifestação de uma alteridade radical e o aspecto de “coisa” na arte,
convergindo para exigência extrema de sua conformação, cuja excelência
resulta na eclosão da expressividade e suas consequências. A arte, ao
reconhecer a necessidade de negar dialeticamente seu caráter cultural,
encontra afinidade com o elemento lúdico. Essa afinidade é essencial porque,
sem certa configuração regressiva, infantil e sensivelmente ingênua, a arte se
reduz a uma cultura impositiva diante de tudo que lhe resiste (TE 67). Essa
situação-limite culmina na concepção de uma linguagem da arte que enuncia
o que é incapaz de ser revelado ou anunciado, ou seja, a figuração do não-
figurável. Os componentes dissonantes não podem permanecer subjugados
em uma articulação falsa de positividades, sendo-lhes necessário surgir e se
manifestar. O indissolúvel deve ser anunciado e comunicado como tal, mesmo
em meio a uma atmosfera de aporia. É fundamental conceder ao negativo, feio,
dissonante e doloroso, sistematicamente reprimidos nas profundezas da lógica
de circulação de valores, especialmente de troca, um mínimo de justiça,
permitindo-lhe se manifestar e denunciar toda a arquitetura ilusória de
positividades. No primeiro eixo, há uma pretensão de demonstrar como o
conteúdo recalcado historicamente é sublimado em imaginação e forma,
defendido pela arte como sua causa, não mais para integrá-lo e suavizá-lo ao
se contrapor ao belo, mas sim para denunciar o mundo que o gera de acordo
com sua imagem. No segundo, analisamos como a dissonância exprime uma
negatividade pungente, ao traduzir em sua articulação formal as contradições
decorrentes de uma esfera social positiva repressora. O derradeiro item
demonstra como a linguagem do sofrimento está intrinsecamente ligada à
evidenciação da hipertrofia da racionalidade esclarecida, revelando como o
capitalismo tardio mina as possibilidades tanto de satisfação substantiva

26
quanto de expressão da dor. Essa última análise versa como a linguagem se
associa a um ímpeto utópico da arte de fazer falar o não-idêntico, o que escapa
às malhas da racionalidade fundada no pensamento classificatório.

Helena de Lima Gualberto Elias (UFMG): “O outro pólo da intencionalidade:


o ego como substrato de habitualidades e o problema de outrem em Husserl”
Resumo: Por meio deste trabalho buscamos delinear as condições de
emergência da pergunta por outrem em Husserl. Para tanto, explicitaremos o
ideal de evidência fenomenológico, que parece insuficiente para reivindicar
algo que extrapole o aparecer na consciência, além de restar sempre a
pergunta de como seria possível falar em termos de uma intersubjetividade
transcendental. Perseguiremos a constituição da esfera do próprio do ego
transcendental, assim como evidenciaremos a emergência do ego como
substrato de habitualidades. Como acreditamos, há na IV Meditação
Cartesiana a coparticipação dos métodos estático e genético, de maneira que
Husserl desloca as fronteiras habituais entre sensibilidade e espontaneidade,
e menciona um modo de conhecer – retroativo –, em que o mobilizado é a
constituição do ego para si mesmo na unidade de uma história (Hua I, 109).
Além disso, exporemos o que consideramos ser os fios condutores das
Meditações Cartesianas, os passos preliminares que culminam na autoexegese
da consciência, uma observação tal do ego monádico, que permite que
também a partir da atividade de posição e explicitação do ser, possa-se
identificar uma habitualidade do eu (Hua I, 101). Na busca por saber objetivo a
partir da atividade de autointerpretação é que se dá a pergunta por outrem,
afinal, como seria possível a partir de uma autointerpretação em sentido pleno
– que mostra antes como o ego se constitui como ser próprio –, surgir uma
autoexplicitação em sentido alargado – que mostraria como a partir do ser
próprio do ego –, seria possível constituir o outro, o objetivo (Hua I, 119).

Helena Xavier dos Santos Araújo (USP): “O estatuto da feminilidade em


Lacan e crítica de Butler”
Resumo: O problema de pesquisa deste trabalho surgiu de um interesse em
compreender o gênero como performance na psicanálise, tema de recorrentes

27
debates contemporâneos, tanto na clínica psicanalítica quanto na teoria
filosófica. Este trabalho busca especificamente uma possível aproximação
entre a concepção de gênero da teoria Queer, principalmente, o gênero como
performatividade butleriano, e o conceito de semblante lacaniano. Para
compreender essa concepção, seria necessária uma reflexão crítica sobre a
ontologia de gênero como (des)construção imitativa, além de buscar as
possibilidades de distinção entre “parecer” e “ser”, radicalizando a dimensão
cômica da ontologia sexual parcialmente empreendida por Lacan (Butler,
2020). Para demonstrar a aproximação entre esses dois conceitos,
demonstrarei modos de interpretá-los a partir das críticas traçadas por Butler.
Primeiramente irei reconstruir a principal crítica butleriana do estruturalismo
de Lévi-Strauss (na qual Lacan se utiliza), em seguida, irei aprofundar essa
crítica demonstrando uma diferença de interpretação do conceito de
contradição na dialética para justificar essa diferença. Em um segundo
momento, reconstruirei a segunda crítica butleriana a Lacan, em sua
interpretação do conceito de mascarada. Depois definirei o conceito de
semblante lacaniano, e sua possível aproximação com a performatividade
butleriana. Por fim, apresentarei debates contemporâneos sobre o tema.

Hulian Ferreira de Araujo (UFMG): “Paradoxo de Putnam”


Resumo: O paradoxo de Putnam é um argumento avassalador contra o
realismo metafísico, entendida como a tese de que noções como referência e
verdade, em contextos teóricos, dizem respeito a entidades e a estados de
coisas independentes de nossa mente. Buscarei nesta comunicação expor suas
motivações, a saber, o paradoxo de Skolem no contexto da axiomatização da
teoria de conjuntos e a sua extensão para este argumento, que tem por
conclusão a subdeterminação semântica, i.e., a presença de interpretações
não-pretendidas para nossas teorias e que solapariam a tese realista com
respeito ao emprego das noções de referência e verdade nas teorias. Por fim,
almejo indicar algumas respostas realistas para lidar com o problema, em
especial a proposta por David Lewis onde, a partir da distinção metafísica
entre propriedades naturais e não naturais, poderíamos, a princípio, separar e
garantir no ponto de vista das teorias as suas interpretações pretendidas.

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Israel Alessandro Victorino de Souza Silva (UFMG): “Epistemologia das
virtudes e psicologia cognitiva: a habituação enquanto recurso pedagógico”
Resumo: O objetivo da pesquisa é analisar as obras "o ensino de filosofia
enquanto problema filosófico", "por que os alunos não gostam da escola?" e
"cultivating good minds", escritos respectivamente pelo professor e doutor em
filosofia da educação Alejandro Cerletti, pelo psicólogo cognitivista Daniel T.
Willingham e pelo epistemólogo das virtudes Jason Baher.l, em busca de
respostas para os problemas educacionais da contemporaneidade, seja na
docencia filosófica, seja nas escolas de forma geral e de refletir sobre questões
conceituais postas na área de estudo e seus impactos na formação docente e
no processo de produção de conhecimento. Entretanto, não basta
problematizar, é necessário que se busquem soluções e respostas sejam
postuladas. Este é o trabalho da obra de Willingham, que dedica a vida a aplicar
seus estudos de neurociência e psicologia cognitiva no âmbito educacional,
tendo em vista a compreensão do processo de produção de conhecimento e
simplificações deste. Para o autor, assim como para a epistemologia das
virtudes, conhecer demanda prática e o exercício de algumas funções
cognitivas que podem ser aprimoradas a medida que repetimos, criamos,
pensamos, analisamos etc. Sendo assim, as ideias dos dois últimos autores
podem ser basicamente resumidas em um importante conceito filosófico: o de
habituação, uma vez que, é comprovado cientificamente que o processo de
habituação aprimora nossos pensamentos e funções executivas a medida que
o uso da memória de trabalho torna-se menor com as repetições e fluidez
progressiva que advém da prática. Consequentemente, adequar o ensino e
preparar e ensinar os alunos direcionando-os à habituação, quando
corretamente aplicado e de forma crítica, torna-se uma excelente ferramenta
pedagógica para o desenvolvimento da autonomia, incentivo de perguntas e
aprimoramento de funções cognitivas vinculadas ao pensamento crítico.

Jacques Augusto de Aguiar Morais Guimarães (UFSJ): “O problema da


psicologia racional e da liberdade transcendental nas Lições de Metafísica
de Kant”
Resumo: A filosofia Metafísica de Kant exige de seus apreciadores uma certa

29
maturidade de análise, pois, requer dos mesmos o conhecimento da relação que
o filósofo possuía com esta matéria, que veio a se tornar central em suas Críticas
e Lições. As traduções mais recentes trazem um novo feixe de luz interpretativo
desta relação fascinante e ao mesmo tempo controversa que Kant possuía com
a Metafísica. Muito além de compreendermos o grau de relação pessoal de Kant
com a Metafísica, pretendo neste trabalho discutir como nas Lições de
Metafísica, as seções que tratam da Psicologia apresentam questões que estão no
coração da Crítica da Razão Pura. Dito isto, nosso propósito aqui é investigar a
primeira seção das Lições de Metafísica sobre psicologia racional, que trata do
problema da liberdade transcendental, explicitando o seu caráter crítico. Visto
que as Lições datam terem sido expostas no fim de 1770, explicitar toda visão
Metafísica pré-crítica Kantiana vislumbra-se como um labor necessário e
fundamental para um melhor aproveitamento destas que serão obras relevantes
para a Filosofia, a saber, tanto a Crítica da Razão Pura e a Crítica da Razão Prática.
Não obstante, tratar especificamente da psicologia racional nesta comunicação
é expor um tema relevante para o contexto pós-moderno de nossa sociedade, o
conceito da liberdade transcendental.
Jimy Davison Emídio Cavalcanti (UFPE): “Do corpo ameríndio: por um
canto selvagem da formação humana”
Resumo: A pesquisa, de natureza teórico-especulativa, objetivou especular
uma relação entre formação humana, pensamento ameŕindio, e
espiritualidade. Teve o conceito ameríndio de corpo (VIVEIROS DE CASTRO)
como elemento articulador transversalizante, que foi tomado como
perspectiva para pensar uma figura outra de formação humana. Teoricamente,
a pesquisa se vinculou, de um lado, ao multinaturalismo perspectivista de
Viveiros de Castro, tendo Ailton Krenak e Davi Kopenawa como
interlocutores, e, de outro lado, a filosofias da educação que se inspiram nas
filosofias da diferença. Para alcançar seu objetivo, ensaiam-se três
movimentos: caracterizamos o conceito de corpo na filosofia ameríndia e
identificamos suas potências; mapeamos as consequências ontológicas,
epistemológicas e cosmológicas para os corpos que entram em encontro,
confronto e desencontro; delineamos uma figura de formação humana a partir
dos corpos ameríndios em diferentes relações. O percurso metodológico da
pesquisa se fez como um ensaio especulativo, numa aliança entre o conceito
30
de alterocupação, de Alexandre Nodari, e a noção experiência, de Jorge
Larrosa. A investigação nos permitiu concluir que, nos mundos ameríndios, o
Outro tem um lugar e um potencial (trans)formativo indispensável. O que, na
formação humana, pode ser traduzido como a imagem de uma Educação com
o Outro.

João Augusto Araújo Ferreira (USP): “Hegel e as artes: crise do conceito de


obra na época moderna”
Resumo: Segundo a orientação hegeliana, em seus Cursos de Estética, a arte na
época moderna encontra-se impossibilitada de realizar-se a partir do conceito
de obra, isto é, enquanto uma totalidade em si mesma encerrada. Nesse
sentido, o resultado único da arte romântica, característica da época moderna,
encontra-se firmada no cristianismo, não somente em seu círculo religioso,
mas enquanto conteúdo das produções artísticas a partir da Idade Média. O
limite esclarecido por Hegel de que a arte moderna só pode ser realizada em
seus fins particulares, e não mais como uma obra acabada, abre espaço para o
deslocamento do lugar divino das artes ao mundano, especialmente nos
dramas de Shakespeare e nos quadros de gênero da pintura holandesa do
século XVII. Com isso, tudo tem espaço nas representações da arte romântica,
tanto o mais elevado quanto o mais insignificante. Walter Benjamin, ao passo,
dará aval à argumentação hegeliana ao falar do conceito de perda da aura da
obra de arte – algo que Hegel entenderá como depois do belo – especialmente
em seus comentários à fotografia das mulheres dos pescadores em New Haven.
Rancière, por exemplo, atribuirá a Winckelmann e a Hegel a sistematização da
história da arte como um processo que implica a perfeição, tendo em vista a
arte clássica e a decadência, cuja expressão é a arte moderna. Portanto, este é
um primeiro diagnóstico de uma tendência, que será ressaltada nas teorias
artísticas do século XX, de abandono da esfera da “bela aparência”, ou seja, a
época em que o conteúdo da obra de arte retém-se em sua própria
interioridade e deixa de ser a necessidade mais alta do espírito. Dito isso, tem-
se um esforço de apreender, em que medida, a influência da estética hegeliana
torna-se determinante para pensar os rumos da arte contemporânea, tomando
como porta de entrada a época moderna.

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João de Oliveira (UFMG): “Filosofias que nenhum Kant escreveu: o
idealismo transcendental na obra de Fernando Pessoa”
Resumo: O trabalho pretende investigar as influências da filosofia
transcendental de Immanuel Kant nos escritos de Fernando Pessoa, visto a
explícita presença do filósofo em sua criação literária e filosófica. Bem como,
não limitando as relações entre Kant e o escritor português às citações diretas
encontradas nos cadernos pessoanos ou em sua obra heterônima, almeja-se
traçar as concepções metafísicas dos principais heterônimos e semi-
heterônimos (“eus” pessoanos) - Álvaro de Campos, Alberto Caeiro, Ricardo
Reis, Bernardo Soares e Antônio Mora - enquanto assimilações, concordâncias
ou recusas ao idealismo transcendental. Entre “eus” pessoanos que passaram a
vida a mastigar Kant e heterônimos que assumiram um compromisso crítico
em relação à metafísica, evitando as ilusões transcendentais, e, ainda, outros
em que a intuição fora posta como a única representação necessária, excluindo
em absoluto o pensamento na formação do conhecimento, percebe-se as
diversas posições filosóficas de Fernando Pessoa e seu polimorfo
posicionamento frente ao idealismo kantiano. Tal investigação não busca
circunscrever toda a poética e prosa de Pessoa no sistema de Kant, mas,
justamente, de revelar possíveis presenças do filósofo prussiano e os
movimentos de ruptura e desvinculação do escritor.

João Pedro Blanco Masso (UFMG): "Reformar ou negar a moralidade?


Realismo naturalista contra Teoria do Erro"
Resumo: A Teoria do Erro Moral propõe que a moralidade, para configurar-se
como tal, compromete-se com algo inexistente, de modo que as afirmações
morais de primeira ordem – como “matar é errado”, “matar é certo” ou “não se
deve matar” – são generalizadamente falsas. Em sua versão mais conhecida,
encabeçada por John Mackie e sustentada por alguns de seus principais
seguidores, como Richard Garner, Richard Joyce e Jonas Olson, a Teoria
localiza o erro da moralidade na noção de que o dever moral possui uma
autoridade inescapável, que segundo alegam, só pode ser explicada a partir de
razões categóricas – precisamente o que defendem como inexistente. Para
provarem o ponto, teóricos do erro apresentam exemplos hipotéticos cujo

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objetivo é suscitar no usuário moral a intuição de que o discurso moral
ordinário está comprometido com uma aplicação universal e não pode ser
legitimamente ignorado, e compreendem tal legitimidade em termos de
racionalidade – como se violar os deveres morais fosse agir de maneira
irracional. Desse modo, esta pesquisa pretende analisar a possibilidade de uma
explicação alternativa para a peculiar autoridade da moralidade. Mais
especificamente, investiga-se a alternativa anti-racionalista típica do realismo
externalista, que nega que para ter um dever moral é necessário que um agente
tenha razões para cumpri-lo e explica a ilegitimidade da violação dos deveres
apelando para o ponto de vista externo. Em outras palavras, busca-se explicar
as intuições suscitadas pelo teórico do erro pela compreensão de que a
legitimidade de autoridade moral é dada pela perspectiva dos usuários morais,
que possuem razões para garantir a manutenção da moralidade na medida em
que ela protege alguns de seus mais importantes interesses, tanto de ordem
particular quanto de ordem coletiva.

João Pedro Blanco Milani (USP): “Força, justiça e lei: B. Pascal e o problema
da autoridade”
Resumo: As aparentes lacunas que contornam os fragmentos de Pascal
reduzem-se a uma explicitação da condição do que é o humano inserido no
âmbito da finitude permeado por dois infinitos: Deus e o nada. Neste sentido,
o movimento de algumas passagens parece contrair-se no interior de uma
problemática fundamentalmente antropológica - por exemplo, é Deleuze
quem nos diz que o cerne do famoso fragmento sobre a aposta da existência
ou não-existência de Deus é menos teológica que antropológica. O problema é
deslocado: tem-se não mais a preocupação de ler Pascal apenas como um
apologista radical da religião cristã, mas a possibilidade de defrontar-se com
um pensador que se insere em questões que escapam deste domínio para nos
conduzir a outros, que se desvelam no campo político e ético. Nossa
apresentação visa debater tais problemáticas mantendo o diálogo com ao
menos dois pensadores - diálogo lateral, visto que serão mencionados tendo
como centro da discussão sobretudo Pascal: Espinosa e Derrida. De fato, estas
conjunções podem parecer erráticas ou arbitrárias; contudo, veremos que ela
se torna possível e útil para pensarmos as relações fundamentais estabelecidas
33
entre os conceitos de Força, Lei e Justiça. Com Espinosa, vemos que a crítica
efetuada no Tratado teológico-político direcionada aos teólogos mobiliza
noções incontornáveis para se pensar as relações que se podem efetuar
enquanto autoridade – através da leitura do texto bíblico, da linguagem de
modo geral e do poder confundindo-se nela. Por outro lado, Derrida nos será
fundamental para analisarmos a concepção de fundamento místico da
autoridade, que aparece em sua leitura da obra pascaliana – sabe-se que a
experiência da justiça absoluta em Pascal é conflituosa por se colocar como
impossível: ela não é localizável. Entender os possíveis desdobramentos nas
discussões contemporâneas sobre poder e política é uma de nossas intenções
ao estabelecer estas relações.

João Victor Rezende Dias (USP): “O fazendo-se nas paixões e sentimentos: A


temática do corpo humano no pensamento cartesiano”
Resumo: A pesquisa busca investigar a temática do “corpo humano” no
pensamento cartesiano a partir das relações de sentimentos e paixões
estabelecidas entre a alma e o corpo, pretendo mostrar que o conhecimento
que a alma, enquanto substância pensante, possui do corpo (não enquanto
corpo geométrico, mas enquanto SEU corpo), não se esgota em pura
obscuridade e confusão, mas, antes, aponta para um conhecimento contínuo
e privilegiado dessa extensão a qual está unida, a partir, de um lado, das
sensações, centrando a discussão no problema da “passividade da alma” em
sua faculdade de sentir, apresentado tanto nas Meditações, quanto no Tratado
das Paixões da Alma, e na noção de “ensinamentos da natureza”, apontado na
Meditação Sexta; e de outro, das paixões, em especial sobre o conflito que
ocorre entre as forças motrizes do corpo e a vontade da alma, com ênfase,
sobretudo, no modo peculiar que Descartes emprega na palavra “experiência”
e em certa “educação” do corpo por parte da racionalidade da alma, exposto
na segunda metade da Parte I do Tratado das Paixões. Assim, pretende-se
investigar o registro do ser humano à luz da união substancial pelo ato
presente de suas relações, de modo que o conhecimento sobre o corpo
humano, como união viva, se faz continuamente.

34
João Vítor Leal Sant Anna (UFMG): “Panpsiquismo de Eddington”
Resumo: Neste artigo, traçar-se-á um breve panorama exegético acerca das
concepções panpsiquistas de Sir Arthur Eddington, expressas em sua obra
“The Nature of Physical World”, de 1928. Para tanto, serão abordados seus
posicionamentos concernentes ao seu entendimento de ciência, os quais
implicam a defesa dessa visão metafísica. À princípio, uma sucinta
apresentação de dados biográficos e contextuais do autor e de sua obra serão
introduzidos. Posteriormente, deter-meei mais detalhadamente no seu
sistema de pensamento, o qual pode ser estruturado por alguns eixos
temáticos fundamentais. Dentre esses pilares, evidenciam-se suas noções de
‘Pointer Readings’ e ‘World-Building’, as quais operam de modo a esclarecer a
natureza das ciências exatas e apontar a limitação do conhecimento físico
oriundo delas. Outrossim, a acusação de circularidade na Física e a
consequente evocação do argumento da natureza intrínseca serão
contemplados. Por fim, visando fornecer um quadro mais minucioso da
filosofia de Eddington, defenderei a tese de que a sua versão pampsiquista
possui um caráter idealista. A título de contraste, irei expor uma outra versão
panpsiquista que se coloca como uma espécie de fisicalismo expandido.
Mediante um esforço comparativo, demonstrarei que esta última
compreensão é caracterizada, em certa medida, por Galen Strawson, em seu
seminal artigo “Physicalist Panpsychism” e dispensa a força motriz do
pampsiquismo de Eddington a qual faz irromper os mais agudos anseios
existenciais. Esse motor é a dimensão espiritual (refiro-me assim por
motivações “didáticas”, porque a visão de Eddington é essencialmente monista
e não admite, por conseguinte, dualidade entre espírito e matéria), a qual,
apesar de, em última instância, ser inescrutável, desempenha papel sine qua
non no alívio das tensões entre misticismo e ciência, fato que não tem
relevância no micropsiquismo bottom-up que irei descrever com base em
minhas leituras de Strawson, mas é crucial para a teoria do astrofísico.

José Alesi Santiago Rocha (PUC - PR): “A inerente relação entre a cidade e a
alma dos indivíduos n’A república de Platão”
Resumo: A pólis platônica fulgura como um sistema político idealizado, onde

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a cidade é determinada em analogia com o ser humano, como um organismo
vivo, cujos cidadãos desempenham papel político importante para que se
chegue à justiça. Nesta pesquisa, será abordado como o entendimento de uma
sociedade justa para Platão, passa pela alma, na qual está a força vital do
homem. Para tal, aborda-se como a influência socrática estabelece relação
com a teoria da melhor forma de governo, haja vista que Sócrates era tido por
Platão como o cidadão mais sábio da cidade, e a sua morte orquestrada pela
democracia ateniense influencia as elaborações políticas do Filosofo da
Academia. O cerne da questão, porém, se dá em como a estrutura da alma e os
ofícios que cada indivíduo deve desempenhar de acordo com sua estrutura
anímica faz com que a cidade seja segura para os seus cidadãos, mas acima de
tudo: Justa. Por fim será demonstrada a figura do Rei filósofo, como o
governante por excelência da cidade, pois estaria sempre voltado para o Bem,
não se deixando levar pelas paixões e arbitrariedades na vida política.

Keli de Assumpção (USP): “O processo de aprendizado da linguagem como


‘Jogo de Linguagem’ nas investigações filosóficas de Wittgenstein”
Resumos: A tese central que perpassa as Investigações Filosóficas de
Wittgenstein, e que buscamos analisar em nosso trabalho, é a de que existe um
determinado "treinamento" ou “adestramento” do sujeito, que ocorre a partir
da reiteração de comportamentos no aprendizado social da linguagem. A
partir dessa ideia, veremos como a descrição observacional linguística é
afetada por esse “adestramento” e como esse treinamento da linguagem se
constitui. Veremos que, pouco a pouco, o treinamento se configura como uma
bagagem teórica e experimental subjetiva do sujeito, determinada por sua
inserção no mundo e sociedade, que irá impactar diretamente a forma com
que o mundo é descrito linguisticamente. Sendo assim, buscaremos mostrar
como essa mudança de pensamento da lógica do Tractatus Logico-
Philosophicus — em que havia um foco na relação entre denominação e
objeto — passa a priorizar o fenômeno da linguagem a partir de suas práticas
comunicativas e de seus contextos comunicativos e sociais.

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Leonardo Araújo Oliveira (UFMG): “Aspectos estratégicos da comunicação
filosófica em Kierkegaard e Nietzsche”
Resumo: Diversas aproximações já foram realizadas entre as filosofias de
Kierkegaard e Nietzsche, mesmo que o dinamarquês não possa ter lido o
alemão, em função de ter falecido antes que Nietzsche tenha iniciado sua
produção, e por outro lado, que Nietzsche não se refira a Kierkegaard em
qualquer trecho de sua produção, inclusive nos póstumos, a não ser em uma
carta a George Brandes, quando diz que pretende ler o pensador dinamarquês
no futuro. Essa carta, no entanto, é uma resposta a uma sugestão de leitura que
o próprio brandes faz a Nietzsche, já apontando para uma afinidade intelectual
entre os dois. Assim, essa aproximação é efetuada desde o século 19 e se
estende pelo século 20 com ainda mais vigor: a partir de temas/conceitos como
temporalidade (instante e eternidade), cristianismo (cristandade, Cristo),
repetição (retomada e retorno), indivíduo (soberano e singular), modernidade
e padronização (rebanho e multidão). A presente proposta de aproximação
consiste em realizar alguns apontamentos acerca do problema da
comunicação filosófica, envolvendo os temas do estilo e da forma de
apresentação de argumentos. Ambos os autores dominam diversificadas
formas de expressão, e em muitos momentos, compartilham especificidades
estilísticas: aforismos, parábolas, paródias, ensaios, ficções, textos
dissertativos, autobiografias intelectuais e até prefácios para livros não
escritos. Além disso, no interior dessas formas, os autores se destacam pelo uso
do humor, pela dinâmica dos antagonismos e paradoxos, pelo jogo de se
ocultar e se mostrar (com ou sem pseudônimos), pelo desenvolvimento de
personagens e sobretudo pela reflexão sobre a própria produção. A partir desse
último elemento - a prática de autocomentário, sobretudo em suas respectivas
autobiografias intelectuais (“Ponto de vista de minha obra como escritor” e
Ecce homo” -, abordaremos duas questões: a escrita como comunicação de
estados afetivos e o distanciamento da noção de “Sistema” em filosofia.

Lígia Ranara Rocha Paes (UFMG): “O conceito de fenômeno em Kant e


Hegel: A crítica à limitação da razão especulativa”
Resumo: Com a publicação da Crítica da Razão Pura em 1781 deixamos de

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tatear às cegas e iniciamos um projeto consistente que estabelece os limites e
as possibilidades do enfrentamento à natureza a partir da definição de um
caminho seguro para uma ciência. Esse caminho se traduz por uma revolução
no modo de pensar que modificou a forma que os pesquisadores da natureza
se dirigiam a essa última. No entanto, essa revolução traz diversas
consequências para a tradição histórico-filosófica, a exemplo da limitação da
razão especulativa, da cisão entre sujeito e objeto e da separação do mundo
em sensível e inteligível, tendo como central na filosofia crítica, a distinção
entre fenômeno e númeno. Delimita-se como objetivo desta apresentação
discutir o conceito de fenômeno na CRP bem como na Fenomenologia do
Espírito. Hegel, em semelhança com Kant, compreende o interior do
fenômeno como sendo incognoscível, dele nada sabemos. Porém, o motivo
dessa opinião diverge gravemente entre ambos os autores. Segundo Hegel,
dele nada conhecemos porque “no vazio nada se conhece”, pois sendo ele o
além da consciência, não tem ninguém ali para testemunhar seus atributos.
Para Kant, esse limite enfrentado pela coisa-em-si é um limite das nossas
capacidades subjetivas, de forma que a razão seria limitada. É tendo em vista
essas divergências que a presente apresentação se questiona: qual a relação
teórica existente entre o arcabouço conceitual kantiano, a saber a relação
entre fenômeno e coisa-em-si, com a exposição dialética hegeliana, na
fenomenologia do espírito?

Lohana Soares Passos (USP): “O Mentiroso de Russell”


Resumo: “Esta frase é falsa”, é uma proposição contraditória por si. Ora, se a
afirmação é falsa, logo a proposição é verdadeira. Por outro lado, se a afirmação
for verdadeira, a proposição é falsa. A tabela de verdade falha, pois o
argumento fica contraditório. “Esta frase é falsa” ou é verdadeiro e falso ao
mesmo tempo ou nem é verdadeira e nem falsa, já que sua referência é circular.
Nisto podemos dizer que se resume o paradoxo do mentiroso, de Eubulides de
Mileto, que é completamente vazio de valor de verdade. Mas e se a contradição
não for em si uma falha, mas uma condição verdadeira? Para tanto, usarei a
teoria dialeteísmo de Graham Priest para analisar o Paradoxo do Barbeiro e
defender que o nível de contradição provocado por um paradoxo é, na
verdade, uma condição válida, uma vez que a paraconsistência é algo presente

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na realidade material e que não necessariamente trivializa uma
argumentação.

Lucas Taufer (UCS): “Breves notas sobre a teoria da paz em Kant”


Resumo: A finalidade deste ensaio é apresentar uma introdução à teoria da paz
como descrita na obra de Immanuel Kant. Partindo de uma provocação
lançada por Habermas ao revisitar o texto no ensejo dos duzentos anos da
publicação de À paz perpétua, nos dedicamos aqui a expor dois momentos do
exercício argumentativo kantiano sobre o constitucionalismo internacional,
aqueles que concernem, respectivamente, à sua teoria da história e à sua teoria
da paz. Os esforços da tentativa estão dispendidos em quatro breves seções. Na
primeira delas, apresentamos a provocação de Habermas que motivou nossa
investigação. Depois, expomos as teses kantianas sobre a história e o progresso
da humanidade. Seguimos nossas observações em sua teoria da paz
propriamente dita, especialmente nos aspectos que envolvem a discussão
sobre as cláusulas e instituições que visam à sua garantia. Finalmente,
sintetizam-se as reflexões pretendidas por este ensaio, na tentativa de discutir
a teoria kantiana da paz como trazendo em seu próprio desenvolvimento a
questão do direito internacional, considerando que este seja erigido tomando
como princípios fundamentais os direitos civis conjuntamente aos direitos
humanos, e, portanto, consolidando-se nas possibilidades de um
constitucionalismo que tenha a paz enquanto seu horizonte de efetivação. Na
segunda subseção da segunda seção de seu texto A constitucionalização do
direito internacional ainda tem uma chance?, Habermas (2016) aprofunda sua
reflexão sobre a teorização de um estado pacífico no que importa às relações
internacionais como um estádio a vir a ser implicado pelo adágio kantiano da
moralidade, a saber, o da possibilidade de conformação da liberdade com uma
legislação racional e universal, no qual se estatui que “o objetivo de abolir a
guerra é um mandamento da razão” e que “a razão prática faz valer, em
primeiro lugar, o veto da moral contra matar e ser morto de forma sistemática”
(HABERMAS, 2016, p. 170). É preciso mencionar que esse texto habermasiano,
publicado originalmente em 1995, tem por objetivo revisitar justamente a
teoria kantiana da paz nos 200 anos da publicação de À paz perpétua e, a partir
de tal intento, direcionar os limites que constringem e as oportunidades que

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ainda se fazem presentes a partir desta clássica obra do filósofo iluminista.
Entretanto, a retomada do texto de Kant por Habermas pretende, recuperando
o “núcleo inovador” da “ideia de um estado cosmopolita” enquanto
pressuposto fundamental para uma teoria satisfatória do direito internacional
contemporâneo, superar também os “daltonismos” com os quais o autor da
Crítica da razão prática visualizou o problema, os quais impingem limitações
que notadamente se fazem presentes na tentativa de atualização de sua
proposta. Seja como for, as provocações lançadas pelo filósofo alemão
chamam nossa atenção para a teoria kantiana da paz, evidentemente
salientando as possibilidades de fundamentação de uma teoria do direito
internacional, mas também detendo nossas observações em como esta
proposta acabou por ser concebida no próprio sistema kantiano de
compreensões de fenômenos pertencentes ao mundo da prática, sobretudo à
história. Neste sentido, esperamos demonstrar quais são e como se articulam
os fundamentos referidos pensar e discutir um constitucionalismo
internacional contemporâneo.

Lucas Vinicius Correa Rodrigues (USP): “Um percurso sobre dois mares que
se reconhecem e se distanciam: o cartesianismo e a recolocação do corpo em
Merleau-Ponty”
Resumo: A questão sobre a relação do corpo-alma, encontra-se, em grande
parte, na história da filosofia. Contudo, este “debate” se desdobrou em distintas
concepções. Configura-se em Descartes uma perspectiva subjetivista do corpo,
onde há avaliações depreciativas referentes aos sentidos e uma exaltação da
mente [alma], mas sobretudo há uma grande distinção destas substâncias e de
suas características. A partir das investigações e instaurações de Descartes,
haverá diversos pensadores, da modernidade ao mundo contemporâneo, que
buscaram respostas para as supostas “manchas” da dualidade. Dentre os
diversos, destaca-se Merleau-Ponty, um filósofo que acusa, sem
necessariamente depreciar, a história da filosofia por circunscrever-se no
dualismo instaurado por Descartes, dessa forma averiguando exceder estas
clivagens. Para tal, Ponty reformula noções como o corpo e a percepção [que é
o objeto com que o corpo se ocupa]. Assim sendo, neste artigo, tentamos

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evidenciar brevemente a partir dos juízos e noções do conhecimento obscuro
sobre o corpo e a exterioridade no cartesianismo, uma relação de resposta
arrojada e contemporânea de Merleau Ponty, que surge com a ressignificação
e com a recusa das clivagens do mundo moderno.

Luciano Coutinho Paulino (FAJE): “Niilismo e política”


Resumo: A pesquisa versa sobre a temática do niilismo e a sua relação com a
política. A partir de uma compreensão histórica do conceito, o niilismo é aqui
compreendido como um fenômeno civilizacional de dissolução dos valores
éticos e morais da tradição ocidental. Essa conclusão é possível mediante a
reconstrução histórica do termo niilismo pelo pesquisador italiano Franco
Volpi. Seguindo esse raciocínio, é observada uma crise na fundamentação
ética, que por sua vez funciona como parâmetro para a organização social e
política de um povo. Diante das relações entre o niilismo e o agir político
humano na contemporaneidade, destaca-se a análise política de Carl Schmitt
acerca dos efeitos do niilismo na sociedade. A contextualização das relações
entre uma possível resposta aos efeitos do niilismo na política, tem como pano
de fundo uma leitura do filósofo Simom Critchey ao perceber um suposto
“Cripto-schmittianismo” na política ocidental moderna, que tem como marco
histórico, delimitado por Critchley, o governo de G. W. Bush nos Estados
Unidos da América.

Mariana Gonçalves de Freitas (UFMG): “O lugar da obscuridade e do silêncio


na linguagem poética: entre Mallarmé e Merleau Ponty”
Resumo: Mallarmé é um poeta claramente obscuro. Esse trabalho surge da
pergunta: quais as motivações para tamanha obscuridade? O distinto estilo de
Mallarmé viria de simples elitismo ou de uma vontade de se apartar dos
demais escritores de sua época? De uma simples pretensão? Aqui, parto de
uma hipótese. A obscuridade de Mallarmé emerge da busca pelo que Merleau-
Ponty identifica como linguagem autêntica. A poética mallarmeana parece
almejar uma palavra realmente expressiva e para fazê-lo, o poeta se lança a
uma linguagem que é sobretudo alusiva, dimensionada pela sugestão, marcada
pela experimentação. Mallarmé retira as palavras do seu uso comum e as

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transporta para um âmbito autônomo, refundando, assim, a própria
linguagem. Busco aproximar o que é descrito por ele em “Crise de Verso” à ideia
merleau-pontiana da função do poeta: a de “sacudir o aparelho da linguagem”
para então arrancar dele um novo som. Essa reinvenção é alcançada por meio
de recursos inusitados, incomuns, e para o leitor, obscuros. Trata-se de uma
reinvenção feita a golpes, um fazer poético que Manuel Bandeira chamou de
“colisão de palavras”. Do estranhamento que essa colisão nos causa, emerge a
possibilidade da própria poesia. Coloco em diálogo sobretudo os textos
“Linguagem Indireta e as vozes do silêncio” de Merleau-Ponty e ”Crise de
Verso” - escrito por Mallarmé em resposta aos críticos de seu estilo obscuro.
Argumento que há uma motivação de interesse filosófico por trás da poética
peculiar de Mallarmé e busco encontrá-la numa aproximação entre esses dois
autores.

Maurício Cavalcante Rios (IFBA): “O relativismo epistêmico sobre a ciência”


Resumo: Neste trabalho, temos como objetivo investigar o desacordo entre
Filosofia e Sociologia do Conhecimento Científico em torno da noção do
relativismo. Esse desacordo orbita ao redor da Tese da Igual Validade e da Tese
do Construcionismo Forte, compreendendo que Epistemologia e Filosofia da
Ciência refletem imagens sociais de suas épocas. David Bloor (2011) declara
que é hábito dos filósofos antirrelativistas confundir a Tese da Igual Validade
e a Tese do Construcionismo Social Forte com o relativismo da Sociologia do
Conhecimento Científico. Justificando que esse debate situa-se entre
Epistemologia, Filosofia da Ciência e Sociologia do Conhecimento Científico,
uma vez que há diferentes atribuições sobre a formação de crenças para o
conhecimento científico, o problema desse artigo é o seguinte: se os
argumentos relativistas de David Bloor (2011) criticam posturas
epistemológicas antirrelativistas, então o relativismo do Programa Forte
endossa o relativismo epistêmico? Para respondermos esse problema,
partimos da seguinte hipótese: se as Teses do Programa Forte se dirigem a
diversos modos de se conhecer, então seu relativismo é epistêmico.

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Maya Maia de Paiva (USP): “Imbricações da Colonialidade do Poder: raça,
gênero e cisnormatividade”
Resumo: Na América Latina, os estudos decoloniais têm elaborado uma teoria
crítica à modernidade eurocêntrica revelando sua indissociabilidade da
colonialidade, que é instaurada, sobretudo, a partir da invasão das Américas.
Nessa perspectiva, o pensador Aníbal Quijano propõe o conceito-chave de
“colonialidade do poder” com o objetivo de analisar o capitalismo global
vinculando-o à modernidade/colonialidade e à classificação da racial das
populações do mundo. Essa proposta reformula as críticas ao sistema de poder
global a partir de uma perspectiva dos povos colonizados e do impacto do
empreendimento colonial em todos os aspectos de suas vidas. No entanto, o
feminismo descolonial aponta que a noção de colonialidade do poder é
incapaz de reconhecer o real impacto do gênero nesse sistema, naturalizando
sua suposta universalidade e a dominação generificada dos corpos. O foco
deste trabalho é justamente analisar de que forma o pensamento de María
Lugones, filósofa argentina autora do termo “feminismo descolonial”, revela a
artificialidade das categorias sexo e gênero e seus impactos na regulação dos
corpos colonizados através da naturalização da heterossexualidade
compulsória, do dimorfismo sexual, do binarismo de gênero e do apagamento
das experiências pré-coloniais. A colonialidade do gênero é sua proposta
complementar à colonialidade do poder, evidenciando que a classe,
generificação e racialização dos corpos são mecanismos imbricados que
organizam a violência, a dominação e a exploração colonial até o tempo
presente. A perspectiva de Lugones reúne contribuições dos feminismos
negros dos EUA e do Sul Global ao pensamento decolonial para também
revelar práticas e saberes que resistem à colonialidade de gênero e nos
apontam saídas desse Cistema, nos interessando, por fim, aproximá-la do
transfeminismo brasileiro a partir da noção de cisnormatividade, apresentada
por viviane vergueiro, que nomeia alguns dos mecanismos já reconhecidos
pela argentina.

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Mayk Lucas da Conceição Silva (UFPE): “Notas críticas à perspectiva
dialógica para o tratamento do pluralismo lógico”
Resumo: A obra “The dialogical roots of deduction” representa um marco
contemporâneo para filosofia da lógica e da matemática. Neste trabalho,
Catarina Dutilh-Novaes propõe-se a pensar disciplinas formais desde a sua
perspectiva dialógica e, com isso, busca mostrar o espelho de práticas
dedutivas a partir do modelo "Prover-Skeptic". O método utilizado pela autora
chama-se "filosofia sintética", ele consiste na reunião de descobertas de várias
disciplinas para corroborar teses filosóficas. Diante disso, Dutilh-Novaes tenta
resolver alguns problemas filosoficamente relevantes, como por exemplo o do
pluralismo lógico. Porém, acreditamos e tentamos defender nesta
apresentação que o seu modelo do provador e do cético não explica e não
comporta algumas questões filosoficamente relevantes, bem como a sua
perspectiva dialógica é insuficiente para abarcar a magnitude de problemas
filosóficos mais robustos referentes ao cenário de lógicas emergentes. Assim
sendo, teceremos críticas a autora a partir de problemas contemporâneos,
como a questão dos desacordos profundos e da revisão da lógica.

Mônica Parreiras (UNISINOS): “O corpo do bebê entre a mãe dogmática e a


mãe hermeneuta: uma aplicação da regra de cobre”
Resumo: Este artigo tem por objetivo partir da relação triádica Eu-Tu
desenvolvida por Gadamer que abarca os três modos do Eu se relacionar com
o Tu, para fazermos a intersecção dessa relação com o posicionamento
materno frente ao corpo do bebê enquanto um corpo próprio, tal qual
preconizou Merleau-Ponty, e que fundamenta nossa tese. Nossas
considerações terão suporte na terceira forma da díade Eu-Tu por aportar a
importância do reconhecimento materno de um saber que advém do corpo do
bebê enquanto lugar da palavra e palco de suas dores e sofrimentos.
Abordaremos também a Regra de Cobre, na sua aplicabilidade como forma de
retirar a mãe de uma posição dogmática apoiada na cientificidade que
objetifica o corpo do bebê, para localizá-la em uma posição hermenêutica,
como requisito fundamental para o reconhecimento de um corpo próprio na
condição de operador de passagem para o próprio corpo. Por fim, mostraremos

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que o desenvolvimento de tais pressupostos são norteadores na clínica
psicanalítica com bebês, e em nosso projeto de prevenção e detecção do
sofrimento psíquico por meio do corpo.

Patrícia Braz de Carvalho (UNIFESP): “Chaplin e a arte de narrar com o


corpo: A pantomima e o gestual na perspectiva benjaminiana”
Resumo: No pequeno ensaio intitulado Chaplin (escrito entre 1928 e começo de
1929), Walter Benjamin comenta que The Circus [br: O Circo], lançado em 1928,
é o primeiro filme em que Chaplin se encontra mais velho, e que a velhice trouxe
a ele uma visão geral mais clara acerca dos seus objetivos. O filósofo expõe o seu
caráter de amadurecimento em relação aos filmes anteriores, inclusive em
relação a The Gold Rush [br: Em Busca do Ouro], de 1925, – último longa-
metragem anterior ao supracitado –, o qual também tece comentários no ensaio
A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica, de 1936. O que
caracteriza este amadurecimento em The Circus não nos é informado
claramente no breve e pouco conhecido ensaio. No entanto, Carlitos, o notório
pequeno vagabundo, acompanhou o amadurecimento de Chaplin, e Benjamin
observa tal transformação na última cena do filme. Assim, o objetivo desta
comunicação é apresentar, a partir da exposição desta cena, como um dos
maiores comediantes de todos os tempos se relaciona com as técnicas
cinematográficas através da pantomima e do gestual; assim como também,
sincronicamente, incorpora a própria técnica por meio da efusão dos disruptivos
movimentos mecânicos na composição do personagem. O filósofo alemão cita
Fourier nas Passagens: “A cada paixão corresponde um órgão do corpo humano”
(2008, p. 685); e ao pensarmos a própria filosofia benjaminiana como uma
filosofia corpórea, podemos vislumbrar, a partir da premissa apresentada – a
saber, da corporeidade e gestualidade de Carlitos –, as possíveis percepções que
levaram o proeminente teórico crítico a tanto se admirar por nosso eterno
“pequeno companheiro” [“the little fellow”], como também nomeou Chaplin.

Paula Silva Araújo Rocha (UFMG): “Milindapañha - Noções de identidade


pessoal no registro do não-si”
Resumo: Esta comunicação retende expor, com certo detalhamento, as

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principais noções reducionistas presentes no texto budista paracanônico
Milindapañha. Tal exposição se articula buscando explicitar os principais
elementos que definem e coordenam a formulação da noção do que hoje
chamamos de reducionismo, além de explorar a possibilidade da identidade
pessoal apenas como uma denominação ou designação convencional.
Também são levadas em consideração as consequências desse tipo de
formulação, principalmente no que diz respeito a elementos como
continuidade pessoal e responsabilização moral dentro do escopo da teoria do
não-si conforme apresentada na obra em questão

Rafaela Beatriz De Oliveira Martins (UFU): “Os exercícios terapêuticos


Baduanjin: filosofia e prática”
Resumo: O objetivo deste trabalho é apresentar a filosofia e os benefícios do
qigong conhecido como Baduanjin (Pa Tuan Chin). Sobre a filosofia,
destacaremos a cosmogonia taoísta descrita no diagrama Taijitu que inclui os
centros de energia do corpo humano conhecidos com dantien ou campos de
cinábrio. O qigong Baduanjin, também é conhecido como AS Oito Peças do
Brocado, largamente difundida e praticada. Diz a tradição foi criado pelo
general Yue Fei (1103 – 1142 AEC) que, vendo a situação de adoecimento dos
soldados criou os exercícios com base em seus amplos conhecimentos de
técnicas de treinamento e de medicina tradicional chinesa. Seu objetivo é o
reequilíbrio completo do corpo, tanto interna, quanto externamente,
promovendo o bem-estar físico e espiritual, por meio de oito exercícios. Seu
nome é decorrente da arte de realizar delicados trabalhos sobre a seda, pois
considera-se que o trabalho com a energia vital, realizado a partir dos oito
exercícios, é extremamente delicado e resultam em grande harmonia.
Consideramos importante observar que a beleza e a harmonia que resultam
do trabalho dos brocados não devem servir de parâmetro para se impor que a
prática dos exercícios do ba duan jin devam ter por objetivo a aparência
exterior de beleza e harmonia; estes são resultados interiores, por isso, estão
na escola Nei dan, isto é, a prática do cultivo do qi internamente. São
comprovados os benefícios do qjong que envolve a melhora relativa corporal
e vantagens para a saúde. Resultam em benefícios como aumento de
concentração, qualidade do sono, fortalecimento imunológico entre diversas
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outras vantagens eficazes. O qjong traz consigo uma longevidade que envolve
corpo e mente, assim como a união destes potencializa e aprimora, resultados
do corpo elevando a mente em um nível mais alto de consciência e
despertando uma força vital.

Raíssa C. S. Miranda (UFMG): “Walter Benjamin: surrealismo e história”


Resumo: O trabalho em questão visa estabelecer uma ponte entre o texto
acerca do conceito de história de Walter Benjamin e o seu texto, da década de
20, sobre o surrealismo. No primeiro, o autor apresenta uma perspectiva que
estabelece contra considerações da história e de sua temporalidade sob a ideia
do progresso. Nesse sentido, Benjamin suscita um conceito que se distancia
radicalmente dessa temporalidade vazia que é marcante nessas perspectivas
burguesas sobre a história. Na lide com o texto Sobre o conceito de história,
levamos em consideração a leitura de Michael Lowy e Jeanne Marie Gagnebin.
A tese do trabalho é a de que o texto final e inconcluso de Walter Benjamin
sobre a história, é grandemente iluminado a partir do conceito que este herda
dos surrealistas, o conceito de pessimismo organizado. Deste modo, o seu
ensaio Surrealismo: Último Instantâneo da Inteligência Europeia, é base que
tomamos para as considerações finais que Benjamin trabalha sobre a história,
seu sentido e sua temporalidade cheia de aqui-e-agora.

Roberta Puccini Gontijo (UFMG): “Castelo interior como refúgio de uma


alma cindida: um estudo sobre a feição marrana de Santa Teresa D’Ávila”
Resumo: Para Teresa D’Ávila, há um mundo interior dentro de nós. A primeira
doutora da Igreja nasce em 1515, quando, ao lado da exploração do Novo
Mundo, a Coroa espanhola – desejosa de obter uma nação espiritualmente
homogênea, a serviço da centralização do poder –, operacionaliza a Inquisição
no continente europeu. Em sua história, contrastam-se a adoção da Fé Católica
e a ascendência judaica. Porém, indo na contramão da apologia da ortodoxia
religiosa própria de seu tempo, em vez de assimilar a pura doutrina, concebe
uma nova mística cristã no Castelo Interior, ao retirar Deus dos píncaros
celestiais e ao encará-Lo como habitante do cerne da alma. Para a doutora da
Igreja, o progresso espiritual não se dá com a procura pelo divino no exterior

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da subjetividade, mas sim com a viagem do sujeito em direção ao mais puro e
recôndito interior – onde Deus se manifesta. Nessa perspectiva, este trabalho
busca compreender como as raízes judaicas de Santa Teresa de Jesus
influenciam a construção do castelo interior – isto é, as sete moradas
percorridas pela alma para alcançar a comunhão com o divino. Para tanto,
analisa-se a genealogia da família paterna de Teresa – entrelaçada ao tribunal
inquisitorial de Toledo e à ambição tipicamente ibérica pela limpeza de
sangue –, relacionando-a à obra Castelo Interior e ao fenômeno do
marranismo. A partir deste estudo, observa-se que Teresa – afligida, por toda a
vida, pelo peso de resguardar a honra católica da família – vive um dissenso
interior justificado pelo constante temor de se trair, de transparecer à
sociedade em que se insere o outro oculto em si. Eis o motivo pelo qual valoriza
a introspecção, visualizando-a como meio de garantir a preservação do
segredo. Assim, percebe-se que Teresa constrói o castelo interior enquanto
refúgio da intimidade – alternativa espiritual ao recolhimento que, no mundo
concreto, foi-lhe negado.

Robson Farias Gomes (UNB): “Corpo Imanente: da dissecação artística de si”


Resumo: Este artigo consiste em um estudo cênico-teórico acerca das inter-
relações entre dança e filosofia, em especial a partir do diálogo entre a Teoria
da Dança Imanente (TDI) e a Filosofia da Diferença de Gilles Deleuze e Félix
Guattari. A TDI, criada pela pensadora do corpo e da dança Ana Flávia Mendes,
enfoca a discussão corpóreo-sensorial na feitura em artes da cena em três
dimensões, a saber: (i) metodológica; (ii) epistêmica e; (iii) ontológica. Neste
contexto, discorrerei a respeito desta última no que tange à des-re-feitura do
si enquanto sujeito-obra em dança em próprio processo de diluição des-re-
subjetiva. Dito de outro modo, especificamente investigarei como os estudos
ontológicos a partir do ato de dissecação artística do corpo em dança imanente
urdem processos transcriativos de si para além de uma essencialização do
sujeito ou daquilo que se é ou se possa vir-a- ser em cena. Sob influência do
pensamento francês contemporâneo, a TDI indica uma performance artística
em movimento na qual o corpo dialoga consigo mesmo-outro na criação de
uma dança própria, pessoal, subjetiva e idiossincrática. No entanto, em
estudos teórico-analíticos e artístico-poéticos, viso apontar os conflitos e

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imprecisões identitárias daquele ou daquilo que performa, destacando os
processos críticos de uma Representação ou Transcendência em dança tanto
no pensamento mendiano quanto em sua recepção da filosofia deleuzo-
guattariana. Deste modo, pretendo defender a tese ontoperformativa de que
aquele que dança a si e devém-obra no contato de si consigo mesmo-outro
possui características tanto pessoais, como argumenta a TDI, quanto im-pré-
pessoais e singulares, como sugerem os filósofos franceses, em especial em
suas discussões sobre o corpo artístico em “O que é a Filosofia?” (2010).

Ryam Santos das Neves (UNB): “O sentido estético e filosófico do corpo em


O Evangelho Segundo Jesus Cristo: Um diálogo entre Nietzsche e Saramago”
Resumo: A presente pesquisa versa sobre o sentido filosófico e estético do
corpo feminino na obra O Evangelho Segundo Jesus Cristo de José Saramago.
Mediante um recorte narrativo, buscamos interpretar a crítica saramaguiana
à postulação moral sobre o corpo feminino, personificado de forma erótica
através da personagem Maria Madalena. Na pesquisa, evocamos o conceito de
moral cristã para Nietzsche, compreendida como um estatuto de falseamento
e aniquilação da afirmação da vida. A análise concentra-se no âmbito teórico-
filosófico da Epistemologia do Romance (ER), sobretudo os estudos de Estética
que se faz presente na teoria. Desse modo, temos em vista a realização de uma
análise de cunho literário e filosófico, baseadas nas reflexões nietzschianas e
saramaguianas. Assim, através deste escopo, buscamos construir uma reflexão
crítica e filosófica à concepção cristã das obras da carne enquanto atos
pecaminosos e diabólicos, de modo que vejamos o romance referido como
crítico à moralidade corpórea originadas pelos efeitos punitivos do
Cristianismo.

Sílvia de Lourdes Lemes Aguiar (UFMG): “Maturidade de Nietzsche como


um período de reconciliação com o modo metafísico de se fazer filosofia”
Resumo: O período de juventude de Nietzsche pode ser interpretado como um
momento em que se reconhecia a legitimidade da filosofia especulativa, na
medida em que se buscasse, através da atividade cognitiva, a produção da ficção
conceitual com fins edificantes. Esse período é marcado por uma forte influência

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da metafísica, sobretudo, da metafísica schopenhaueriana, com a ajuda da qual
ele desenvolve sua teoria da arte. Contudo, o período intermediário de sua
produção marca um rompimento com a metafísica e inaugura a ideia de que
uma cultura superior deve ser edificada sob a base de uma visão não mais
ficcional/estética, mas antes científica e naturalista do mundo. Embora
Nietzsche se mantenha fiel à compreensão científica da realidade, no seu
período de maturidade ele parece ensaiar um retorno qualificado à metafísica.
A forma como Nietzsche concilia o retorno da especulação na filosofia com sua
visão científica da realidade é algo que tentaremos responder neste estudo.

Thiago de Souza Salvio (UFABC): “A origem da monogamia e sua implicação


no tema da pudicitia: esboço de uma análise engelsiana”
Resumo: O objetivo deste trabalho é explicitar a tese materialista de Friedrich
Engels (1820-1895) sobre a ‘monogamia’, em ‘A origem da família, da
propriedade privada e do Estado: em conexão com as pesquisas de Lewis H.
Morgan’ enquanto produto histórico de uma organização social, formada
gradativamente e entendida enquanto ‘família’. O autor em questão chega a
conclusão desta importante obra, pela continuação da pesquisa de Marx logo
após seu falecimento, através do legado manuscrito. Isto é feito pelo estudo de
Ancient Society (1877) do antropólogo norte-americano mencionado no
subtítulo referido acima. Deste modo, constatar-se-á que, de acordo com essa
perspectiva, a família instituída tal como amiúde é naturalizada de maneira
acrítica, nem sempre foi homogênea nas diversas formas de sociedade que
existiram, mas emerge consubstancialmente pelo desenvolvimento das forças
produtivas ao longo do tempo e como uma comarca de dominação do poder
patriarcal. Seguiremos a hipótese engelsiana a fim de compreender sob essa
ótica a questão da pudicitia na Roma antiga, e, não menos importante,
indicaremos um viés crítico a despeito dessa concepção em pauta.

Verena Than (UERJ): “Dança como a chuva cai”


Resumo: “Não conheço nada que dê a ideia de jogo mais alegremente livre do
que as travessuras dos botos que se veem à distância, emergindo,
mergulhando, vencendo um navio na regata, passando por sua proa e

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reaparecendo na espuma, mais vivos do que as ondas, e entre elas e como elas,
brilhando e variando ao sol. Isto já é dança?”. Paul Valéry, em sua Filosofia da
Dança, questiona se o que os animais fazem – quando brincam, jogam,
perseguem uns aos outros, olham para o céu – já seria dançar. Sua resposta
parece ser imediata: se entreter não é dançar. Para o filósofo, dançar é “coisa
séria” e estritamente humana. Tal resposta nos apresenta uma dificuldade:
como entender, portanto, as inúmeras vezes em que vemos o mundo "dançar"?
O “jeroky”, a dança ritual dos Guarani, como o próprio nome já diz, é inspirada
em “oky”, a chuva. De fato, a dança humana muitas vezes tem sua origem nos
movimentos das ondas, pássaros, fogo, serpentes, da montanha impassível,
dos ventos. A questão ainda parece que precisa ser repetida “isto já é dançar?”.
Proponho, então, uma apreciação e reflexão sobre as danças: originárias,
contemporâneas, humanas e não humanas.

Victor Angelucci de Moura Sousa (UFMG): “Sobre Modos de Apresentação:


Fregeanismo e Relacionismo”
Resumo: A apresentação será uma introdução e breve discussão acerca de uma
querela em filosofia da linguagem e da mente contemporânea, a saber, qual a
natureza dos modos de apresentação e, conjuntamente, da significância
cognitiva de representações. Serão apresentadas as teorias fregeana e
relacionista e algumas de suas variedades, como por exemplo os relacionismos
formal e semântico e as teorias fregeanas de François Recanati e Gareth Evans.
Tais variedades lidam de maneira diferentes com os casos de Frege e com o
problema de Frege. Isso implica em uma concepção diferente de qual é o papel
da significância cognitiva na explicação racionalizante (rationalizing) do
comportamento de agentes. Tendo em vista que um dos principais objetivos de
se postular modos de apresentação, qua tipos teóricos que determinam
significância cognitiva, é dar conta dos distintos tipos de comportamento dos
agentes, a conclusão da apresentação será um esboço de argumento contra o
relacionismo. Será argumentado que as teorias relacionistas constroem o
fenômeno da significância cognitiva gerando uma tensão no que tange o papel
explicativo que ela usualmente desempenha. Serão utilizados os casos de
indexicalidade essencial, identificação demonstrativa e auto-referência (ou
auto-identificação) para exemplificar essa tensão.
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Victor Garces Bordin (UFMG): “Anônimo de Jâmblico: a Natureza Humana
no seu âmbito político”
Resumo: Tomando o fragmento 6.1 dos fragmentos anônimos presentes no
capítulo XX do Protréptico de Jâmblico como o principal na síntese da teoria
antropológica e política do Anônimo, buscamos por meio desta pesquisa
mostrar em que medida a natureza humana está para a efetivação da boa lei na
pólis. Dessa forma, esperamos evidenciar como aos homens é impossível viver
sem leis e justiça, fazendo que por necessidade os homens busquem viver juntos.
Assim, quando não se dá dessa forma, este estado (de anomia) lhes é causa das
piores dores e do maior dano do que quando isolados. Portanto, a vida na
ilegalidade, a saber, aquela que é contra sua disposição natural, torna pior todas
as coisas que são as melhores, e então, que seria melhor que elas estivessem
ausentes do que presentes quando utilizadas para fins tortos e desmedidos.

Vinícius Ferreira da Silva (USP): “Com o corpo estranho da máquina:


imagem e materialidade em Peter Tscherkassky”
Resumo: O presente trabalho se propõe a cotejar o que significa a imagem e sua
relação com a materialidade a partir da obra cinematográfica de Peter
Tscherkassky, sobretudo em “Dream work” e em “Outer space”. Para tanto,
retoma-se a reflexão sobre cinema presente em Walter Benjamin e em Theodor
W. Adorno, atentando-se para a desauratização e a incorporeidade da imagem.
Esta interessa em particular: um corpo para a imagem significa sua força para
afetar outros corpos, para transformar a sensibilidade. O que o diagnóstico
frankfurtiano revela, entretanto, é a impotência da imagem, a partir da
reprodutibilidade técnica e da massificação da arte, bem como, para Benjamin,
a possibilidade virtual do surgimento de outra forma de reflexão estética. Os
trabalhos de Peter Tscherkassky, em razão de sua nova relação entre técnica e
humano, imagem e máquina, corpo e movimento, apresentam uma forma de
resistência, de criação de outra relação com o cinema e com seu corpo. Isso se
dá em virtude de como aqui o ser humano se insere negativamente, como
interferência na imagem já circulada, veiculada, descorporificada. Enquanto
erro e enquanto problema, o ser humano retorna à imagem, incorpora-se na
imagem e é por ela incorporado.

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Vinícius Pinto Alencar (UFJF): “A questão do Sofrimento no último
Nietzsche: Dioniso contra o Crucificado”
Resumo: A presente pesquisa se propõe a analisar a temática do sofrimento no
pensamento de Friedrich W. Nietzsche (1844-1900), especialmente a partir da
perspectiva exposta pelo autor no Fragmento Póstumo da primavera de 1888,
14 [89]. Tal perspectiva apresentada pelo filósofo em seu texto, sugere que o
problema do sofrimento se encontra em seu sentido. Com isso, nossa
problemática gira em torno da tentativa de perceber de que maneira se dá a
formulação do sentido do sofrimento enquanto um problema e como o
valor/sentido ofertado ao sofrimento influencia no modo com que a vida é
avaliada por meio da tensão entre os simbolismos de Dioniso e do Crucificado.
Buscamos concluir que nem o sofrimento e nem a vacuidade da vida são
empecilhos que devam ser superados metafisicamente, mas que, devem ser
compreendidos como partes integrantes da vida. E é por esta compreensão,
que não nega o caráter absurdo e sofredor da vida, mas que os acolhe, que
conseguiremos amá-la incondicionalmente e vivê-la inteiramente,
vislumbrando a possibilidade de uma nova cosmovisão.

Vitor Lucas Pereira de Menezes (UFMG): “O Debate do Cálculo Econômico


Socialista”
Resumo: O assim chamado debate do cálculo econômico socialista diz respeito
a um conjunto de querelas teoréticas cujos primórdios datam da primeira
metade do século XX. Pode-se dividir em dois grandes grupos aqueles que
participam do debate, o grupo dos neoliberais, composto por pensadores
como Ludwig Mises, Lionel Robbins e Friedrich Hayek, e o grupo dos
socialistas, no qual se inserem Karl Polanyi, Otto Neurath e Oskar Lange. Os
principais tópicos que se encontram em disputa no debate em questão são:
acerca da possibilidade de uma sociedade socialista alternativa à sociedade
capitalista; qual o melhor meio de alocar recursos escassos numa economia
complexa, pelo mercado ou pelo planejamento?; qual organização social
proporciona maior bem-estar; sobre a possibilidade de comparar custos e
benefícios no âmbito da produção na ausência de preços monetários. O
presente trabalho já concluído é um estudo sobre esse debate e teve como

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principal objetivo perscrutar seus principais argumentos, classificando-os de
modo claro. Como os resultados mais relevantes da pesquisa, tem-se a
constatação de que o debate foi crucial para o desenvolvimento de uma noção
neoliberal de mercado, distinta da noção neoclássica antes predominante,
enquanto um grande processador de informações que é a mediação necessária
da modernidade, sem a qual toda sociedade complexa e moderna encontra sua
ruína. Do mesmo modo, assinalou-se a contribuição do debate sobre o cálculo
socialista para a elaboração da doutrina neoliberal inicial presente no
programa da Sociedade Mont Pelerin (SMP). Por fim, identificou-se que esse
debate enseja o advento de muitos modelos detalhados de sociedade socialista
que dão conta de responder à pergunta de como alocar recursos numa
sociedade não capitalista e que ao mesmo tempo preenchem as lacunas
deixadas por socialistas precedentes no concernente a seus modelos de
sociedade emancipada.

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