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INTRODUÇÃO
Feita essa breve análise histórica à luz do artigo de Ernesto Araújo, Poggio começa
a dar a linha para o “nascente movimento conservador brasileiro” assume sua face
buckleyliana ao propor que os conservadores brasileiros têm que “harmonizar o
liberalismo guedista com o paleoconservadorismo araujista”. A diferenciação entre
“globalização” e “globalismo” ajudaria nessa operação política sob o governo
Bolsonaro. O “globalismo” seria um fenômeno mais politico que econômico.
Então, estaríamos próximos da realidade do conservadorismo norte-americano
dos anos 1950. O “nascente conservadorismo brasileiro” teria a sua Guerra Fria, o
antipetismo. A diferença é que o conservadorismo brasileiro não teve tempo de
construir um conservadorismo estilo buckleyliano. Diferente de conservadorismo
que levou Reagan ao poder, após décadas de acumulo de forças, Bolsonaro
ganhou as eleições sem que o equilíbrio buckleyliano se estabelecesse no Brasil: o
“nascente conservadorismo brasileiro” teria que trocar o pneu como carro
andando. Mas para Poggio as coisas também não estariam fáceis para o
conservadorismo de Trump, pois as redes sociais instauraram uma cacofonia que
abriu espaços para setores conservadores marginalizados semelhantes aos que
Burkley queria sanitarizar nos anos 1950. Daí a importância dos conservadores
brasileiros entenderem a história do conservadorismo norte-americano: “Se na
ausência de base intelectual própria, vamos importar o conservadorismo dos
Estados Unidos, devemos ao menos saber o que estamos importando”.
Buckleyliana
Importantes notar que o texto foi escrito em dezembro de 2018, antes da posse do
presidente eleito.
O boné usado pelo lho de Jair Bolsonaro em recente viagem aos Estados Unidos
não é a única coisa com o nome Trump que está na cabeça da família do futuro
presidente e seus assessores. A julgar por uma série de declarações, tanto antes
como após as eleições, as ideias do presidente americano também têm adornado
as cabeças dos bolsonaristas. Claro que não se trata aqui das ideias do indivíduo
Trump, que não é exatamente um intelectual, mas daquilo que ele representa.
Parte da narrativa de integrantes do futuro governo, em especial dos responsáveis
pela política externa, é que o governo deve reetir os valores da maioria da
sociedade brasileira, e esses valores seriam em grande medida conservadores. O
problema é que inexiste um conservadorismo moderno intelectualmente
organizado no Brasil, fato reconhecido até mesmo por Olavo de Carvalho, o
intelectual que mais tem tido aderência na equipe do presidente-eleito. Ou seja,
uma coisa é um sentimento conservador difuso na sociedade, outra é o
conservadorismo organizado que traduza intelectualmente esse sentimento e lhe
dê uma direção. A solução bolsonarista para a ausência de um movimento
conservador organizado no Brasil tem sido, aparentemente, importá-lo dos
Estados Unidos. Portanto, torna-se fundamental compreender a evolução do
movimento conservador naquele país – bem como que tipo de conservadorismo é
representado por Trump – se quisermos entender o que se passa atualmente em
terras tupiniquins. Antes de mais nada, a primeira questão a ser enfrentada é a
seguinte: para além da declarada admiração da família Bolsonaro ao presidente
americano, quais as razões para a nova direita brasileira buscar inspiração nos
Estados Unidos e não na Europa, berço das ideologias modernas? Creio que a
resposta passa pelo fato de que, ao contrário da direita americana, a europeia
tende a ser menos confortável com a inuência religiosa. Marine Le Pen, que se
distanciou de Bolsonaro durante a campanha, provavelmente concordaria apenas
com metade do slogan de campanha do então candidato – “Brasil acima de tudo”
– dado que compartilha com o nacionalismo representado por essa frase.