Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Do livro THE FIELD OF PLAY – A GUIDE FOR THE THEORY AND PRACTICE OF MUSIC THERAPY. Carolyn Bereznak
Kenny. 1989. Tradução livre de Sheila Volpi.
2
"núcleos abstratos"
2
No entanto, é hora de começar o diálogo entre os mundos, esses dois mundos dentro de
cada um de nós. É hora de começar a exploração na teoria para iniciar a fundação. Na maioria
dos casos, a musicoterapia tem olhado para uma teoria fora para se apoiar. Talvez até mesmo por
causa da nossa posição "entre os mundos", teremos algo a oferecer, aquela parte que é única em
nossa experiência como musicoterapeutas.
Colocando a questão global de lado, é importante lembrar que o objetivo principal de uma
teoria é apoiar a campo: praticantes da musicoterapia, educadores, estagiários de musicoterapia,
pesquisadores de musicoterapia, associações e, posteriormente, aqueles que recebem o nosso
serviço.
Há anos, sempre que eu pergunto a musicoterapeutas de todas essas categorias, o que
eles sentem, o que eles necessitam para apoiar o seu trabalho, suas respostas geralmente se
resume a uma “nova linguagem” para descrever a nossa experiência.
O musicoterapeuta perspicaz é cauteloso no uso da linguagem que descreve o trabalho.
Talvez esse discernimento venha da natureza não-verbal de nossa disciplina, da dimensão
estética, da importância da intuição, do fato de que a música em si é outra linguagem. Talvez nós
estejamos procurando palavras que expressam mais claramente do que as palavras usuais, a
relação entre condição humana e música, a relação da humanidade com o som.
Esta nova linguagem vai ser um tipo de jogo, uma nova criação, um outro aspecto de ser
ou dançar ou cantar entre dois mundos.
A nova linguagem deve ser tão suave e translúcida que ela pode conter um milhão de
variações. O processo de criação é o cerne do nosso trabalho e, portanto, as nossas teorias
devem representar formas dinâmicas. Sólido não pode significar estático. Claro não pode
significar fixado. E devemos "ouvir" a nossa experiência nestas formas teóricas, símbolos que
carregam temas contundentes.
Ao examinarmos as raízes de uma parte do trabalho teórico em musicoterapia nós
fazemos esta pergunta: podemos ouvir temas contundentes de experiências humanas com estas
palavras? Podemos sentir uma ordem subjacente? Como cada um de nós começa o processo de
explorar nossas próprias inclinações teóricas individuais ? Nós podemos perguntar: nossas
palavras ressoam nossa vida com a música e as pessoas em estado de transformação, cura,
humanidade, beleza, luta, resolução, decepção, alegria, amor? É assim o nosso encontro com o
homem e a música?
Volta as raízes
Porque as raizes da musicoterapia são tão firmemente estabelecidas na medicina, uma
tendência geral nos esforços na construção da teoria tem sido unir forças com teorias ou modelos
que se baseiam no campo da medicina em si e para evitar o contexto discreto de musicoterapia.
Even Ruud, em seu texto Music Therapy and Other Treatment Modalities, examina a relação da
musicoterapia com modelos médicos, modelos de comunicação e modelos de psicologia, muito
dos quais também tem suas origens na medicina.
Ruud descreve musicoterapia como estando numa “fase pré-paradigmática” de Thomas
Kuhn e incentiva o design de modelos que respeitam a natureza interdisciplinar da arte ja que
emergem da parte única da disciplina, a relação entre o homem e a música. Ruud nos orienta a
formação da teoria no campo da musicoterapia em si.
Nos últimos anos, tem havido um interesse crescente entre os terapeutas criativos e
expressivos da arte em geral, para trabalhar em direção a teorias que reflitam o processo criativo
das artes em terapia. Este interesse, em grande medida foi provocada pela falta de resultados
sólidos de pesquisa em psicoterapia, que é uma escola frequentemente abraçada por
musicoterapeuta que procuram modelos teóricos.
3
O processo da Musicoterapia
No plano teórico, Sears oferece uma abordagem do meio - uma que oferece campos,
condições, relações e auto-organização. Explícito dentro de suas três classificações são auto-
organização e relacões (relativa). Implícito são campos e condições.
Operacionalmente, este projeto/concepção quebra o dilema de construções teóricas versus
pressões para estudos de resultados aceitáveis, na concepção do behaviorismo - mudança
comportamental observável.
Por exemplo, em sua articulação de experiências na auto-organização, Sears lista seus
elementos de auto-organização:
1. Música proporciona a auto expressão;
2. Música proporciona esforços compensatórios para o indivíduo deficiente;
3. Música proporciona oportunidades para recompensa socialmente aceitável e não
recompensa;
4. Música proporciona o reforço do orgulho em si mesmo. (p.33)
Talvez o item mais dramático nesta lista é o item 3. Este item foi o mais prontamente aceito
pelos defensores da pesquisa comportamental e reflete um desenvolvimento significativo na
interface entre o pouco de teoria que este campo teve, a prática clínica e resultados de estudos.
Esta tendência para o behaviorismo parece ser o resultado da necessidade da profissão para
sobreviver e criar estruturas de prestação de contas em um sistema médico da época, geralmente
evitado as teorias estéticas de dimensão de auto-organização interna, desenvolvimento, auto-
suficiência e autonomia.
Além disso a lista de Sears levanta a questão: “auto-expressão” e “socialmente aceitável”
são mutuamente compatíveis? Essa é uma característica do estilo da Sears de ambigüidade e de
paradoxo. Na análise final ele estimula mais questões e envolve o leitor num processo de auto
exame.
Na própria análise final de Sears, ele deve ter tido uma noção das consequências desta
exposições criativas. Isso se reflete nas declarações finais do seu artigo sobre o processo:
uma formulação teórica como esta pode sofrer destinos diversos: pode passar para historia
tendo recebido pouca consideração. Pode ser examinado e considerado em falta, mas porque
o estudo foi necessário, resultam em uma formulação diferente, mais adequada da teoria.
Finalmente, pode ser de bastante interesse e valor e ser posta à prova na prática e nae
pesquisa e ser modificada, melhorada e expandida. Felizmente, o destino último virá a
acontecer. Em qualquer caso, os processos em musicoterapia ocorrem por envolvimento único
(grifo do autor) a experiência individual dentro da estrutura, experiencia na auto-organização e
experiência no relacionamento com os outros (Gaston, p 44).
Bonny em alguns dos trabalhos mais atuais usa o termo “presença sonora5” e ”envelope
6
sonoro ” (em conversa particular). Bonny descreve este fenômeno com um
recipiente seguro ou campo sonoro em que as pessoas sentem apoio no processo de cura.
Bonny era, ao mesmo tempo, membro da comunidade de Gaston. Quando se tornou claro
que a Musicoterapia poderia seguir o caminho das ciências do comportamento, Bonny rompeu
com esta corrente de desenvolvimento da Musicoterapia e tomou sua pesquisa na direção da
consciência e da espiritualidade. Os trabalhos mais recentes desenvolvimentos por Bonny
representam seu retorno à medicina e uma integração de seus estudos de consciência no
contexto médico. Sua “presença sonora” é um sistema projetado para hospitais, trazendo-a de
volta a um círculo completo em medicina.
Os termos “presença sonora” e ”envelope sonoro” são similares ao conceito de “ambiente”
de Sears. Música proporciona um campo seguro para mudança, crescimento e recuperação.
Ambos, Sears e Bonny são ambientalistas, neste sentido.
Outros fragmentos da teoria estão disponíveis para dar suporte ao conceito de campo ou
ambiente na literatura da Musicoterapia.
Kenny (1985) oferece uma descrição de “ambiente” no artigo intitulado: “Music: A Whole
Systems Approach”. Seu contexto é a improvisação musical clínica.
Música pode tornar-se alguma coisa rara, evocativa ou consoladora. Pode se tornar uma
outra paisagem para ela (a criança em terapia), aquela em que ela será capaz de
encontrar mais do que os limites do seu próprio ser ... torna-se uma paisagem, segura e
fértil de experiência na qual ele se sinte acelerado numa responsta comunicativa - uma
nova corrente emocional começa a fluir, nutrindo, uma nova consciencia do self e da
capacidade expressiva (1967, p.56).
5
Do original em inglês “sound presence”
6
Do original em inglês “envelope of sound”
7
Este modelo proporciona um papel fuído para o terapeuta, um quadro que pode incluir
diferentes niveis de participação, um processo criativo e orgânico decorrentes de, e um
desenvolvimento através da natureza mutável da totalidade (p.6).
Organização e auto-organização
7
Do roiginal em inglês “A Psychiatrist’s Experiences with Music as a therapeutic Agent”.
8
aberto para explorar e embarcar com os ritmos do terapeuta, que, idealmente, irá refletir padrões
saudáveis.
O principio de “iso” esta em conformidade com os principios de organização, contudo, é
questionável em termos de “auto-organização”. Esta é uma questão altamente controversa entre
musicoterapeutas e toca em questões de intervençao versus direito para se expressar, ou ainda
mais especificamente, “conformidade versus expressão”.
Como nós temos demonstrado, parece haver um paradoxo fundamental na cultura geral
sobre essa questão em musicoterapia. Sears salienta auto-organização, operacionalmente ainda
configura uma entrada para o reforço positivo para a expressão apenas socialmente aceitável.
Sears ainda afirma: “experiência em auto-organização inquieta respostas interiores que só
podem ser inferidas a partir do comportamento e tem a ver com as atitudes, interesses, valores e
apreciações, de uma pessoa com o seu significado para ela mesma (Gaston, p.39).
Sears falou de “respostas internas”, mas operacionalmente, os pacientes foram
recompensados apenas para “respostas socialmente aceitáveis” na economia simbólica.
O dilema da unicidade
A ironia da obra de William tem a ver com a clareza que ele expressa em termos do
processo criativo, o valor da acomodação da expressão individual ao sistema externo. O campo
da musicoterapia, talvez acomodado um pouco na sua própria singularidade, a fim de estabelecer
uma base de aceitação para a prática. Contudo, neste processo, talvez alguns dos elementos
essenciais da musicoterapia estiveram desvalorizados, num resultado natural de um processo de
consenso. Um destes elementos foi o processo criativo.
O contexto em que para observar e para alterar estas acomodações surge como uma
tendência teórica de organização/auto-organização.
Wheeler, um dos membros do Simpósio de Nova Iorque expressa esse dilema em sua
apresentação para num artigo do simpósio:
Primeiro é que as pessoas são variáveis; cada pessoa traz seu conjunto de
características para a situação. O segundo elemento é que a música é complexa; uma
música é composto de diferentes melodias, harmonias, ritmos, timbres, dinâmicas, etc.
E terceiro, o processo de terapia significa que, em qualquer momento especifico da
terapia, Certas coisas são exercidas e individuais apenas para aquele momento
(Proceedings from the International Symposium on Music in the Life of Man, 1982,
Wheeler, p.1).
9
Resumo
Esta revisão exploratória tem estudado algumas das raízes históricas do movimento
teórico no campo da musicoterapia. Pode não haver uma teoria abrangente e bem fundamentada.
Contudo, há tendências para a teoria, que constituem as sementes para o crescimento teórico
neste campo. Neste estudo são observadas tendências para :
Talvez o primeiro seja o menos explorado dos elementos. Condições são consideração
importante em qualquer campo. "Quais condições o terapeuta coloca no campo sendo e agindo
(ou por ser e agir) quem ele/ela é no contexto do som?"
Ha muitas outras perguntas sobre o elemento condição. A expressão sonora pode ser
entendida para expressar as condições as quais ajuda a definir o campo. É importante considerar
estas “condições” mesmo antes do inicio da relação terapêutica, uma vez que eles podem
constituir PISTAS não verbais no campo. Que condições trazem o cliente para o campo?
Condições representam pontos fortes e limitações. Condições determinam o que é aceito ou
rejeitado no campo.
Atenção para o “campo” é um outro fator significativo. Isto é a “sound presence” de Bonny
e “envelope of sound”, “environment” de Sears, “resource pool” de Kenny e “landscape” de
Nordoff and Robbins. Isto é o recipiente para a mudança, o contexto de apoio.
Ambos, música e sistema humano são abstratos e sensoriais e ambos são sistemas
relacionais. Eles operam em interação com partes do seu próprio sistema e com muitos outros
sistemas. Isto é um contexto para crescimento e mudança. Portanto, é fundamental olhar para o
aspecto das “relações” criadas na interação entre o homem e a música.
O aspecto da organização é igualmente significativo. Organização é consistentemente um
é tema de preocupação teórica entre musicoterapeutas. A pessoa organiza a música ou a música
organiza a pessoa? Quando e onde cada um é apropriado?
Diálogo
Agora que nós conseguimos descobrir alguns marcos no caminho para a teoria da
musicoterapia, a questão permanece: o que fazemos com estes pedaços de informação?
A primeira tarefa é envolver-se na análise crítica. Seria difícil argumentar o ponto que a
musicoterapia é inerentemente um esforço “criativo”. Nós podemos observar praticantes que
parecem fixos ou sem criatividade. Nós poderiamos, em alguns momentos, nos sentir um pouco
10