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Pare um pouco e pense em um exemplo de uma história que você goste. Aplique o esquema
de definição e analise os componentes básicos. E, em seguida, utilize também o próximo
exemplo abaixo:
Chapeuzinho Vermelho
“Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho, que tinha esse apelido pois desde
pequenina gostava de usar chapéus e capas desta cor.
Um dia, sua mãe pediu:
– Querida, sua avó está doente, por isso preparei aqueles doces, biscoitos, pãezinhos e frutas
que estão na cestinha. Você poderia levar à casa dela?
– Claro, mamãe. A casa da vovó é bem pertinho!
– Mas, tome muito cuidado. Não converse com estranhos, não diga para onde vai, nem pare
para nada. Vá pela estrada do rio, pois ouvi dizer que tem um lobo muito mau na estrada da
floresta, devorando quem passa por lá”.
(…)
E a história continua. Bem, vamos analisar juntos este trecho?
Veja que a primeira frase já introduziu a protagonista, Chapeuzinho Vermelho e explica uma
característica sua. Logo em seguida, temos o enredo: Chapeuzinho terá que ir até a casa de
sua avó. Porém, ela tem um objetivo difícil que é conseguir passar pela estrada da floresta,
muito perigosa pela presença de um lobo malvado.
Notou que em apenas 5 frases o leitor já fica curioso? Ele fica curioso porque, embora não
perceba conscientemente, já foi atraído pelo centro da história e provavelmente sem perceber
já começa a se questionar sobre como será a travessia pela floresta. O que será que vai
acontecer? Será que ela vai encontrar o lobo? Se encontrar, o que será que o lobo vai fazer?
Preste bem atenção como em pouquíssimo tempo a curiosidade foi criada. Especialmente
com crianças, temos que despertar rapidamente a curiosidade. De outro modo, ela não vai
querer ouvir ou ler. Mas não só com crianças, todos nós gostamos de histórias, mas de
histórias boas, interessantes, ou seja, histórias que despertam o nosso interesse, a nossa
curiosidade o mais rápido possível.
Conclusão e Exercício
Para contar uma história, nós temos que conhecer os elementos que a compõe. Podemos,
portanto, dividir uma história em seu enredo, personagens, problema (motivo ou objetivo) e
mudanças que conduzem à resolução do problema.
Digamos que nós vamos escrever uma história. Podemos pensar em um conto ou um
romance. Imagine que vamos começar sem saber o problema do personagem. Sem problema
praticamente não temos enredo.
Seria como começar a contar a história da Chapeuzinho Vermelho apenas falando da
Chapeuzinho. Sem problema e sem enredo, nada acontece. A história não existe ou no
máximo temos uma história como aqueles filmes suecos sem música e sem movimento.
Então, para sabermos como contar uma história, temos que ter consciência dos personagens,
mas não só dos personagens. Temos que saber qual problema o personagem (ele ou ela) vai
tentar solucionar e como a tentativa de solução afeta e muda internamente quem o
personagem é.
Um último exemplo rápido. Victor Frankl era um médico psiquiatra judeu. Em 1942 ele é preso
pelos nazistas e é mandado para um campo de concentração. Seu pai e sua mulher são
mortos, mas ele consegue manter-se vivo. Durante o período em que esteve no campo de
concentração, ele consegue encontrar sua tese central sobre o sentido da vida.
Quando vamos contar a história do Frankl, ficamos impressionados com o problema: estar
preso em um campo de concentração, passando por enormes torturas. Mas ficamos ainda
mais fascinados ao saber como ele mudou com este problema extremo: encontrou o seu
sentido para a vida e fundou a logoterapia.
É isso, queridos amigos, para saber como contar uma história, temos que saber o que é uma
história. Depois disso, temos que entender os elementos da história que estamos para contar
e captar rapidamente a atenção e curiosidade de quem nos ouve ou lê. E somente
conseguiremos fazê-lo se mostrarmos logo desde o começo o personagem e o problema
enfrentado por ele ou ela.
Na próxima lição (em breve), falaremos sobre como prender a atenção do leitor.
Mas ainda tem mais! Se você está querendo escrever sua própria história, certifique-se das
questões tratadas no texto. Para facilitar, faça estas 4 perguntas:
1) – O que acontece? Que eventos tem que acontecer para o protagonista superar os desafios
que está enfrentando?
2) – A quem acontece? Qual é a pessoa afetada pelos eventos? Tenha em mente, com clareza,
quem é o protagonista da história, ou seja, saiba quem é a pessoa em busca de um objetivo
difícil.
3) – Qual é o objetivo do protagonista? Todas as boas histórias apresentam desde o começo um
objetivo inevitável, que o protagonista tem que lidar.
4) – Como o protagonista muda? Quais são as mudanças que acontecem ao personagem central?
O que ela aprende com as experiências do problema central e com os objetivos que almeja?
Como prender a atenção do ouvinte
Esta é a nossa 2° Lição do Curso Contador de Histórias Grátis. Nesta lição, temos um objetivo
bem específico que é ajudar você a prender a atenção do seu ouvinte ou leitor, ao contar uma
história. E, por incrível que pareça, muitas e muitas pessoas não sabem fazer isso! Felizmente,
não é uma tarefa tão difícil. Acompanhe o nosso texto que, ao final, você saberá como captar,
atrair e manter a atenção na contação de histórias.
Conclusão e Exercício
Para contarmos bem uma história não devemos apenas dizer os fatos em uma ordem
cronológica. Temos que entender o modo pelo qual estes fatos afetam o nosso personagem
central, na busca de seu objetivo ou na busca da resolução do problema. Temos que nos
lembrar que as emoções são um estado de consciência básico e comum e que nos atinge
antes (e possivelmente mais) do que a lógica, do que o pensar.
Por isso é tão importante saber o que o personagem sente e transmitir para quem está
disposto a conhecer a nossa história quais são os sentimentos e porque o protagonista sente
desse jeito em cada um dos momentos vivenciados por ele ou ela.
Devemos nos lembrar que para escrever uma nova história ou para recontar uma história já
criada, nós temos que treinar. Se você está escrevendo uma nova história, tem que ter
disposição para escrever e reescrever caso as versões primeiras não fiquem de acordo. Do
mesmo modo, se você vai contar uma história para outras pessoas, tenha em mente que
talvez você possa ir aperfeiçoando os detalhes, com o intuito de saber o que funciona e o que
não funciona.
E, finalmente, vamos às perguntas que devemos conduzir:
– O seu leitor ou ouvinte sabe o que o protagonista sente e quais são as suas expectativas?
– O que especificamente tem que acontecer para que o protagonista atinja os seus objetivos?
– Tudo (ou quase tudo) o que acontece na narrativa afeta o seu protagonista em cada um dos
momentos da trama?
– Há reação do protagonista frente às experiências que ele está vivenciando? A reação,
lembre-se, pode ser externa (um ato, um gesto, uma ação) ou interna (um sentimento, um
pensamento, uma crença, uma ideia).
– O seu leitor ou ouvinte consegue perceber a relação existente entre os eventos externos e
as reações do seu personagem central?
– Se você está criando um personagem em primeira pessoa, todas (ou quase todas) as
situações refletem o ponto de vista do protagonista?
Os objetivos do personagem
Continuando o nosso Curso de Contador de Histórias Grátis, vamos falar agora sobre a importância
de entender que cada personagem tem um objetivo, tem um propósito, tem uma missão,
assim como eu e você, assim como todos nós.
Se vamos contar uma história, seja ela fictícia ou real, nós temos que imediatamente captar o
que o personagem quer, qual o seu alvo, qual a sua meta, senão, corremos o risco de criar
uma história tão parada que não despertará o interesse do nosso ouvinte ou leitor. Em uma
história com um personagem sem objetivo nós teremos, simplesmente, uma história sem
sentido. E é até significativo observar que sentido também quer dizer direção, propósito,
mira.
Conclusão e exercício
Para concluir, vamos pensar juntos nas questões que devemos ter em mente quando vamos
analisar como contar ou criar uma história:
Se todos os protagonistas tem que ter um objetivo, um propósito, uma meta, vamos nos
perguntar primeiro:
1) – Qual é o objetivo externo do personagem? O que ele quer mais do que tudo? O que o
motiva em sua ação?
Lembre-se que o objetivo tem que ser específico. Por exemplo, querer um amor é
inespecífico. Que tipo de amor? Uma relação amorosa? Se sentir amado pela família, pelos
amigos?
2) – Qual é o objetivo interno do personagem? Por que ele quer tanto o seu objetivo externo?
Pense no objetivo interno como o sentido da sua motivação pela busca externa. Por exemplo,
a busca pelo amor de um homem mais velho pode ser uma representação inconsciente,
edípica, para que uma mulher consiga entender e reconhecer a relação conturbada que teve e
tem com o pai ausente.
3) Para realizar ambos os objetivos o que o personagem terá que enfrentar como problema ou
obstáculo? O que ele terá que superar? O que o personagem vai sentir? Medo? Raiva?
Desespero? Vazio…?
Para criar curiosidade e interesse, temos que fazer com que quem está nos ouvindo ou lendo
consiga se identificar com o personagem. E a identificação acontece especialmente na
dimensão das emoções. Para atingir o seu grande objetivo, qual vai ser o sentimento principal
que o personagem terá que lidar ou quais serão as emoções principais?
4) Qual é a verdade ou segredo que o personagem escondeu – dos outros ou de si – e que
explica quem ele é e porque tem estes objetivos em especial?
Em uma boa história, temos que nos surpreender frequentemente. No filme utilizado aqui
como exemplo, A Origem, podemos ver como personagem central escondeu de seus amigos
uma importante verdade, que os coloca em perigo que é o da sua relação com sua mulher e o
modo como os dois viveram antes de sua morte. Esta verdade vai sendo desvelada aos poucos
durante a narrativa.
A ideia central aqui é que, ao criar ou contar uma história, você saiba qual é a história
pregressa do personagem. Mas, claro, não é necessário criar ou memorizar uma biografia
extensa e interminável. Precisamos ter em mente apenas os aspectos da vida pregressa do
nosso personagem que afetam diretamente a história que estamos contando.
Podemos ver isto claramente no filme A Origem. Ficamos sabendo sobre a verdade do
personagem apenas no que diz respeito à sua relação com sua esposa, relação passada e
anterior ao momento da narrativa mas que afeta diretamente o seu desenrolar. Não ficamos
sabendo de outros aspectos como relação com os pais ou trabalhos anteriores ou como foi a
sua vida no segundo grau.
O escritor criou a história e também criou este background anterior – da relação com a esposa
e os filhos – mas ele não criou o que era irrelevante para a narrativa do filme. Para chegarmos
neste ponto – de expandir a história mas somente até o ponto da necessidade – podemos nos
fazer ainda duas perguntas:
a) Que evento específico causou o seu problema ou o seu medo?
b) Que evento criou a necessidade do objetivo externo e interno?
As motivações internas do protagonista
Esta é a 5° Lição de nosso Curso de Contação de Histórias Grátis. Na Lição anterior, falamos da
importância de passarmos adiante os objetivos, internos e externos, dos personagens e, em
especial, do protagonista. E que, para fazê-lo, nós temos que ter em mente a história
pregressa sobre os tópicos que vão ser importantes na narrativa.
Por exemplo, se eu vou contar a história de um grande músico, será relevante saber tudo sobre
o que foi a música para o protagonista desde o início, com suas relações de amizade e de amor
moldadas e unidas à sua paixão verdadeira. Não precisamos criar ou saber tudo a respeito do
protagonista, como o seu time de futebol ou os seus programas de TV favoritos. Como o tópico
central será a música, a história pregressa vai estar ao redor desta temática também.
Certa vez vi uma pequena biografia do Villa Lobos e a história contava as exigências extremas
que tinha sido feitas por seu pai para ele estudar com toda a dedicação. Exemplos singulares
ajudam a pintar o quadro: Villa Lobos tinha que falar qual era a nota que um passarinho
estava emitindo em sua janela e, se errasse, era punido severamente.
Portanto, ao criar ou contar uma história, tenha consciência dos elementos da história do
personagem relacionados à narrativa. Em outras palavras, desenvolva a história pregressa
sempre tendo em vista o que vai afetar a própria contação.
Conclusão
Uma forma de questionar as motivações internas é entender o porquê e o para quê dos
comportamentos do personagem. Como vimos no exemplo do facebook, ao nos
questionarmos sobre:
– Por que Mark Zuckenberg criou o facebook?
– Para que ele o criou?
Com as respostas nós podemos chegar às motivações internas. Ele pode ter criado para
superar as suas dificuldades de relacionamento (o filme começa com um encontro com uma
garota que dá errado), ou seja, a sua finalidade poderia ser superar o seu próprio bloqueio e
ajudar as outras pessoas a fazê-lo.
Se você pegar alguns filmes e alguns romances de qualidade verá que a história é tecida a
partir destas perguntas. Se não for um filme bom isto pode ficar escondido ou ser uma
motivação tão sem sentido que não prenderá a atenção de ninguém.
Portanto, analise as histórias que você encontra sempre e procure encontrar os objetivos
internos e externos bem como as motivações mais profundas e que afetam diretamente o que
acontece. E quando for contar uma história, criada ou não por você, considere de ter claro em
sua mente as questões que abordamos nessa lição para que você consiga criar a curiosidade
em que está té ouvindo ou lendo e, igualmente, manter a atenção até o final.
Toda história deve ser específica
Continuando o nosso Curso de Contador de Histórias Grátis, na Lição de hoje vamos falar
sobre um ponto importantíssimo para contar ou criar uma história que seja cativante para o
nosso público: a especificidade. Pessoas que sabem contar histórias sabem como entreter e
explicar utilizando detalhes que são fundamentais para a narrativa. De outro modo, tudo fica
vago, abstrato e desinteressante.
Vamos imaginar juntos uma cena cotidiana na qual alguém está nos contando algo que
aconteceu. A pessoa diz: O João não veio trabalhar. Imediatamente surge a questão: Por que
ele não veio? A resposta poderia ser: porque ele está doente. E outra pergunta: Qual é a
doença ou ele está doente de que? A resposta poderia ser: ele está gripado.
Apenas neste pequeno diálogo, notamos que o narrador não contou o mínimo necessário da
notícia. Quer dizer, no nosso cotidiano, ao contarmos algo a alguém estamos trazendo uma
narrativa para quem nos ouve – ou lê – e um aspecto fundamental e até primário é falar de
forma específica.
Voltando ao pequeno diálogo anterior. Se pessoa já falasse: João não veio trabalhar hoje
porque está doente. Pegou uma gripe forte, está com febre mas já foi ao médico e deve
retornar em quatro dias.
Dizendo desta forma, estamos sendo específicos, estamos indo direto aos detalhes e até não é
necessário para o ouvinte perguntar mais sobre o que está acontecendo. Em qualquer
história, temos que fazer o mesmo.
Perguntas básicas como:
– Porque?
– Quando?
– Onde?
– Para que?
– De quem?
– Com quem?
Ajudam-nos a elaborar todas as especificidades necessárias para contar bem uma história.
Por incrível que pareça, até autores renomados e que escrevem para a TV, para filmes ou
ficaram consagrados com seus romances podem vir a deixar passar detalhes. São os furos ou
buracos que não são propositais e prejudicam no entendimento. No caso da TV, é muito
comum vermos este tipo de falha nos finais das novelas. Por ter criado tantos personagens, o
autor se perde e não consegue especificar o que aconteceu com cada um.
A importância dos detalhes
Psicologicamente, podemos compreender que qualquer narrativa possui em si elementos de
linguagem que nos fazem imaginar ou conceber as cenas de forma concreta. Por serem
imagens, quando mais detalhes, melhor e mais fácil será a imaginação.
Imagine o começo de uma história:
“Em um belo lugar, um homem disse para um estranho que não estava se sentindo bem…”
Claro que podemos começar a imaginar a cena, mas fica difícil. É como se tivéssemos que
completar o que foi narrado com informações nossas. E embora uma grande parte da
imaginação caiba ao receptor, não é este tipo de narrativa que será considerada a melhor
prática.
Comecemos de novo:
“Na bela praia de Copacabana, um senhor de estatura baixa e gordo, disse para um sorveteiro
que estava com indigestão…”
Do mesmo modo que no outro início, cada um de nós irá imaginar a praia de um jeito (a partir
de suas lembranças) e irá criar um rosto e características para o sujeito que está passando
mal. Porém, alguns detalhes já foram apresentados e isto facilita em muito.
Para você não ter dúvidas sobre a importância dos detalhes ao contar uma história, chegue
para um grande amigo ou amiga sua e diga. Eu me apaixonei!
Quantas e quantas perguntas vão surgir, não é mesmo?
Todas as perguntas listadas anteriormente – quando, onde, por quem, de forma – irão
aparecer instantaneamente. Faça o teste e você verá.
Portanto, toda história está nos detalhes específicos que afetam uma pessoa (ou
personagem).
Se em nossa vida particular, no nosso cotidiano, nós temos a grande tendência de evitar
conflitos, nas histórias os conflitos são essenciais, pois é através deles que há movimento,
mudança, transformação. Uma história sem conflito assim como uma história sem detalhes
específicos (ver Lição anterior) é uma história desinteressante.
Evidentemente, a presença do conflito não acontece apenas nos filmes. Também encontra-se
presente em romances, contos de fada, mitos e em toda narrativa que pode ser considerada
de qualidade.
Imagine Romeu e Julieta em uma nova versão em que tudo dá certo e eles não tem o grande
conflito entre suas famílias. Poderia ser até mais desejável, mas nós, como leitores, queremos
que o conflito esteja lá para que possamos sentir as dificuldades enfrentadas pelos
personagens, como no famoso conceito de catarse.
Se pegarmos o tema do Romeu e Julieta, veremos que toda comédia romântica, no cinema,
quer seja excelente quer seja por demais açucarada, tem uma estrutura que é basicamente
esta: o casal se conhece – há um conflito por algum motivo – o casal se reconcilia. E o que
aconteceria se tirássemos o conflito. Absolutamente nada, pois não teríamos uma história
para contar.
O que significa o conflito em uma história?
Conflito vem, etimologicamente, de conflictu, confligere. Fligere significa lutar, bater. Conflito é,
portanto, lutar com algo ou com alguém. Porém, apesar de utilizarmos esta palavra aqui no
nosso Curso de Contação de História, isto não significa que toda e qualquer história terá que
ter cenas violentas, brigas, discussões.
A ideia do conflito em uma história vai muito mais na direção de um impasse, de uma
dificuldade, de um problema que tem que ser resolvido. Em alguns casos, podemos pensar no
conflito como a luta do personagem principal para lidar com um inimigo ou inimiga.
Por exemplo, no famoso filme O Diabo veste Padra, vemos como a protagonista vivida nas telas
pela Anne Hathaway tem que lidar com a sua chefe, vivida por Meryl Streep. O conflito entre
as duas e o conflito entre as perspectivas da personagem da Anne entre ser ela mesma e ser o
que os outros esperam dela (a metáfora de estar na moda) é o que move toda a trama.
Conflito, portanto, não quer dizer uma gerra, literalmente falando. Conflito, em uma narrativa,
é o que podemos chamar de a luta dos opostos, a luta entre duas perspectivas díspares.
Steve Jobs, um dos criadores da Apple, é conhecido por sua habilidade de criar apresentações
persuasivas. No livro Presentation Secrets of Steve Jobs, podemos ler uma ideia bastante
curiosa sobre como, em cada apresentação, ele elaborava uma narrativa, cujo centro era a
criação de um conflito com um inimigo ou problema e, posteriormente, dava a resolução para
o problema.
Sei que este exemplo pode parecer extrapolar o nosso Curso, mas é um exemplo fantástico
para a ideia de um conflito. Por exemplo, no lançamento do Ipad 1, ele claramente coloca a
situação:
Já tínhamos os notebooks (telas grandes) e o Iphone (tela pequena). Será que seria possível
encontrar uma tela entre os dois dispositivos? Ele cita a tentativa dos netbooks. Porém, os
netbooks eram muito ruins em todos os aspectos, como um notebook péssimo. O inimigo,
então, seria os netbooks por apresentarem uma solução insatisfatória.
Entretanto, o suspense foi criado. Será que seria possível criar algo entre um notebook e um
Iphone? E, depois de vários suspenses, ele apresenta o Ipad, na época uma grande inovação.
Me lembrei desse exemplo, porque no livro Presentation Secrets of Steve Jobs, o
autor, Carmine Gallo, coloca que Steve Jobs sempre tinha um inimigo contra o qual lutar e a
partir do qual criar suas apresentações. Às vezes era a IBM, às vezes era a Microsoft e às vezes
era um produto específico como o caso dos netbooks.
Utilizando a ideia de um inimigo, de algo contra o qual lutar, ele conseguia criar história
cativantes para quem o estava ouvindo.
Conclusão e Perguntas
A fim de criar ou contar uma boa história, você deve estar consciente dos conflitos que
movem a narrativa. Perguntas como as seguintes podem te ajudar a aclarar os suspenses e os
conflitos:
– Qual é a conflito específico entre isto e aquilo que realmente é importante?
– O seu leitor ou ouvinte consegue perceber qual é o conflito principal? Os conflitos não
precisam ser necessariamente abertos e expostos, mas se forem escondidos, há a necessidade
de dar dicas ou pistas para que se possa perceber.
– O conflito força o personagem a mudar ou buscar a mudança?
A partir de agora, você também poderá passar a perceber – como eu – que toda boa história
apresenta um conflito, um problema, uma dificuldade a ser enfrentada, talvez vencida e que
quase toda história tem um antagonista, um vilão ou vilã, um inimigo a ser combatido ou
conquistado.
Causa e efeito
Continuando o nosso Curso Contador de Histórias Grátis, hoje vamos falar sobre mais um
aspecto importante em toda e qualquer história que é a relação entre causas e efeitos.
Embora as histórias captem a nossa curiosidade pela emoção, a nossa natureza racional
também exige que a narrativa tenha lógica.
Não vamos entrar aqui em uma discussão filosófica sobre lógica, sobre causas e efeitos, pois
esta não é a nossa intenção. Para os nossos objetivos, basta saber que uma história,
basicamente, é uma concatenação de eventos internos e externos. Para que esta
concatenação nos desperte interesse, ela tem que ter coerência, tem que ter uma ordem que
faça sentido.
Conclusão
Ao contar, recontar, criar ou recriar uma história tenha em mente que as dificuldades são
inerentes à narrativa. Uma história de felicidade eterna não será nada interessante. Afinal,
estamos falando de narrativas e não de um comercial de margarina.
Em nossas histórias, a dinâmica do que “o que pode dar errado, vai dar errado” tem que estar
presente, pois só assim nossos personagens conseguirão superar os obstáculos que tem que
enfrentar para conseguir obter o que querem ou precisam.
Em suma, sem problemas não há nenhuma história.
Casualidades e causalidades
Quando passamos a analisar o modo como uma história é construída e contada, vamos ver que
toda boa história tem que ter uma relação entre casualidades e causalidades. Estas duas palavras,
embora parecidas no som e na grafia, significam questões muito diferentes em uma narrativa.
Neste texto, vamos analisar as diferenças e entender os motivos que levam à construção pela
autor ou contador de histórias de pistas casuais, escondidas e camufladas, que vão se revelando
com o tempo como causas relevantes para as consequências enfrentadas pelos protagonistas e
outros personagens, a fim de provocar a curiosidade quem está lendo ou ouvindo.
Esta é mais uma Lição de nosso Curso de Contador de Histórias Grátis.
Casualidade e causalidade
Para não confundir as duas palavras, fica mais fácil se associarmos casualidade com acaso
e causalidade com causa (e consequência). Se encontramos um velho amigo em uma esquina por
acaso, sem querem estamos falando de uma casualidade. Se a causa do encontro foi uma ligação
prévia, vamos dizer que a causa do encontro foi uma ligação, portanto, uma causalidade.
Em uma história, como já vimos em uma lição anterior, tudo tem que ter nexo: os eventos
tem que estar enquadrados em uma dinâmica de causa e efeito, em uma lógica causal. Porém,
ainda que isso seja verdadeiro em todos os casos, ao contar ou criar uma nova história, muitos
elementos tem que parecer como se fossem por acaso.
Por exemplo, esses dias estava vendo um filme com a seguinte sinopse:
Uma bem sucedida mulher está chegando perto dos quarenta anos. Apesar de todo o seu sucesso
profissional, ela está solteira e sentindo que o tempo está curto para engravidar.Em um dia – por
acaso – sua irmã diz que estava lendo uma reportagem em uma revista sobre mulheres que se
dispunham a ser barrigas de aluguel. A ideia é mencionada e esquecida por um tempo, mas
depois retorna como uma alternativa para a falta de parceiro e dificuldade de adotar.
Contudo, é por causa dessa menção da irmã que ela vai em busca da realização de seu sonho
e, na verdade, a história gira em torno da relação da protagonista que quer ser mãe e a garota
que aceita ser barriga de aluguel.
O que é importante notarmos aqui nessa lição é que todo e qualquer evento em uma história
tem sentido, ou seja, é inserido por uma razão, por uma causa. Mas não precisa parecer uma
casualidade, melhor, se parecer como se fosse um acaso, uma casualidade.
Se a possibilidade de encontrar uma barriga de aluguel não fosse importante na narrativa, o
autor não teria colocado na história, porque se tivéssemos um elemento estranho ficaríamos
esperando algo mais daquele elemento. Se fosse um elemento sem sentido, teríamos uma
digressão, o que poderia prejudicar a qualidade da trama.
É como esse texto que você está lendo. Se eu começar a falar sobre pensão alimentícia
durante dois ou três parágrafos, você vai começar a pensar – “Uai, mas que isso tem a ver com
uma lição sobre contação de histórias?” A coesão e a coerência devem estar presentes não só
em textos dissertativos ou argumentativos, mas também nos textos narrativos.
Portanto, um bom contador de histórias é aquele que consegue passar para o seu leitor ou
ouvinte os eventos que vão causar consequências como se fossem por um acaso, como se
fossem aleatórios, a fim de trazer suspense e surpresa.
Pistas casuais
Podemos entender melhor a casualidade, o acaso, através do conceito de pistas. Imagine um
romance policial no qual há uma assassinato e o detetive – junto de você – tem que descobrir
quem é o culpado. Quem vai criar a história terá que dar pistas para que as pessoas
descubram quem é o assassino, como ele cometeu o assassinato e porque.
As pistas, entretanto, ficam sem graça se estiverem muito na cara, se forem óbvias demais,
porque deste modo poderíamos descobrir sem esforço. Com isso, quem vai criar ou contar a
história policial terá que dar pistas casuais, pistas que estão na cena do crime como que por
um acaso e, na maioria das vezes, passam até despercebidas se não estivermos alertas.
Com isso, podemos ver a dinâmica de qualquer história – não apenas da história policial –
através de um esquema simples:
– Pistas casuais – outros eventos – desvelamento das pistas como importantes causas
Na nossa terminologia:
– Casualidades – outros eventos – revelação das casualidades
Conclusão e perguntas
– Analise se existe algum evento em sua história que não seja importante de uma forma ou de
outra para a concatenação dos fatos. Se você analisar tudo e encontrar algo que seja mais
prolixidade e digressão do que relevante, simplesmente corte o trecho e foque no que afetar
de modo direto a condução da narrativa.
– Veja se as relações entre causas e efeitos não são imediatas, quer dizer, o leitor quer e
aguenta um pouco de suspense entre os acontecimentos: este é um dos fatores que vai
prender a sua atenção.
– Reveja as pistas e se coloque na posição de quem está do outro lado. Será que as pistas são
suficientes para eliciar a imaginação e até permitir que o leitor ou ouvinte descubra a
verdade? Afinal, um leitor ou ouvinte atento pode antever o que está para acontecer e isso
não significa que a história estará mal contada. O ponto a ser observado, aqui, é que mesmo
leitor ou ouvinte menos atento tem que reconhecer – ainda que não tenha total consciência
disso – as pistas que estão sendo dadas.
Na última lição, antes da conclusão, vamos falar sobre flashbacks e forewards, dois termos em
inglês que são consagrados na área, especialmente do cinema, e que são também muito
importantes para que as digressões não sejam digressões de fato.
O tempo na narrativa
Finalizando o nosso Curso de Contador de Histórias Grátis, hoje, na última Lição, vamos falar
sobre o Tempo na Narrativa. Existe um livro excelente do filósofo Paul Ricoeur chamado Tempo
e Narrativa. Eu o estudei em meu mestrado e gostaria de deixar aqui como uma indicação para
leituras complementares ao nosso Curso. O capítulo mais interessante, em minha opinião, é o
último capítulo, quando Ricoeur fala do conceito de identidade narrativa.
Quando nós vamos responder à pergunta – quem sou – (ou quem é o nosso personagem
principal), vamos ter que contar uma história, estabelecer uma narrativa que será,
inevitavelmente, ligada ao tempo. Em suma, toda narrativa desenrola-se no tempo e tem uma
dinâmica própria de estabelecer o tempo.
Assim, é comum que a história seja contada no ritmo do passado, presente e futuro, mas nem
sempre. Algumas histórias terão o que vamos chamar de Flashbacks e Foreshadowing, além
dos chamados sub-plots. Não temos uma tradução correta ou exata para estes termos em
inglês, tanto é que é comum vermos as pessoas falando de Flashbacks em filmes, novelas e
séries ao invés de um termo qualquer traduzido.
A seguir, vamos explicar cada um destes termos e vamos entender como estes elementos
podem vir a ser importantes na nossa criação ou contação de histórias quando a narrativa não
é linear (passado – presente – futuro) ou quando precisamos voltar no tempo para informar
sobre algum aspecto relevante na trama ou até antever um acontecimento futuro, a fim de
despertar a curiosidade de nosso leitor ou ouvinte.
Psicólogo Clínico e Online (CRP 04/25443), Mestre (UFSJ), Doutor (UFJF), Instrutor de
Mindfulness (Unifesp), Coach e Presidente do Instituto Felipe de Souza. Como Professor no site
Psicologia MSN venho ministrando dezenas de Cursos de Psicologia, através de textos e
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