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PAULO FARAT |

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CONCERTOS INCRÍVEIS
NO MONITOR DO B.B. KING!
Fotos: Ingresso: acervo Paulo Farat | Show: Blog O Patativa por Bernando Schmidt

Quando fiz parte


da equipe do Blues Paulo Farat é Monitor Engineer de Milton Nascimento, Ivan Lins,
Festival, nas edições Maria Betânia, Rita Lee, Fábio Jr., Ritchie, Capital Inicial, Maurício
Manieri, Guilherme Arantes, Chrystian & Ralf, Charlie Brown Jr.,
de Ribeirão Preto e do RPM, Free Jazz, Projeto SP, A Chorus Line, entre outros...

Ginásio do Ibirapuera • De 1980 até o momento • São Paulo


• Trabalho em estúdio; Vice-Versa, Maurício de Souza Produções,
(me lembro até hoje Nossoestúdio, Mosh, KLB Studios & Artmix.

E
de acordar com os
jornais e a manchete is que um belo dia, (no ano neira mais rápida possíve, pra
“Qualidade do som de 1988) surgem os concer- não interferir no tempo da passa-
tos dele no extinto Olympia, gem de som. Passagem de som???
enriquece o Blues em
em Sampa, e o recrutamento da Hahahahaha. Esquece.
São Paulo”), mesmo Gabisom para que eu e o Roberto Primeiro foi nosso cuidado extre-
com todos os mestres Marques cuidássemos das mixes mo com o piano acústico, sempre
do gênero, não de PA e Monitor. Aeeeeeeeeeeeee- um ítem que exige um bom tem-
tivemos a presença do eeeee. Bora!!! po, pra que a soma PA/Monitor
BB. Tudo bem, foram Lá fomos nós bem cedinho pro não interfira no som do instru-
sensacionais... stage, configurar o palco da ma- mento no palco, cuidado esse que
temos até hoje em todos os
festivais, com aquele dilema;
tampa aberta, tampa fechada...
Enfim tudo certo com o piano,
era a vez do Hammond!!!...
Nunca passei tanto sufoco com
tantas chaves de controle e
o John Lord na cabeça. Que
coisa difícil achar um timbre
perto das coisas que escutava
nos álbuns...
Aparentemente tudo pronto.
Depois da surra do Hammond,
chega no stage aquele malu-
co dos metais (do pescoço de
mola...hahahaha), um cara ex-
tremamente gentil, recolocando
os monitores e a banda muito,
mas muito perto uns dos ou-
tros, e dando uma checada
básica nos timbres das incríveis
2 x 15 do Gabi (aquelas com a
pintura de tinta especial ain-
da), do PA e dando um ok pra
tudo que fizemos até ali. Legal,
a hora que a banda chegar um
pouco antes de abrir a casa fina-
lizaremos tudo!!! Hahahahaha. meçar. Nenhum check antes mica e que se pausa não fosse
Conta outra. do show. E o que aconteceu música, não existiria grafia pra
Faltando meia horinha pro naqueles dias de Olympia fo- ela, foi nesse show.
show e com a casa completa- ram inesquecíveis. Mr. BB, Sem muito mais, o que ficou
mente lotada os caras chegam. um monstro de generosidade, foi nosso respeito absoluto
Primeiro o Sr. Dos teclados, entrou e arrebentou a boca do pelo mestre. Ao fim de cada
dizendo para que eu não me balão com seu Blues de verda- concerto, todas as noites (nos
preocupasse com o piano, pois de, assim como toda a banda. dias 23,24, 25 e 26 de novem-
era só uma brincadeira, pois Confesso que fiquei algumas bro de 1988) ele se dirigia ao
o lance dele era Hammond, músicas com a via da batera so- Monitor para agradecer as mi-
instrumento que ele tocava lada pra descobrir os segredos xes, antes de falar com o Ma-
há 50 anos. Não fez um acor- das levadas e grooves, o que foi nager. No último dia ele nos
de, antes de calibrar trezentas uma Universidade completa!!! chamou ao camarim para um
chaves, e no primeiro toque ali A incrível “Lucille” e a voz po- agradecimento especial e um
estava o som que eu procurei derosa no Side, e mais nada. breve papo!!!
por horas e nunca encontrei. Tudo nos monitores. Perfeitos Tem coisas na Música de Ver-
Booooora lá. Desce todo mun- ao extremo, ouvíamos o disco dade, que só o stage propor-
do do camarim, se posicionam no Stage. Se um dia eu tive a ciona!!!
nos mic e rola um vamos co- maior demonstração de dinâ- Até o próximo!!!

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LUIZ CARLOS SÁ |

VIDA DE ARTISTA

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O CORPO CHEGA NA FRENTE,
MAS A CABEÇA DEMORA UM POUCO MAIS
(Calma, pessoal, não é filme de terror)

T
O voo GOL 1821 REC/CNF ERÇA FEIRA, 21:30hs aeroporto e de lá pegar a van do
acolhe músicos e técnicos Entrego o carro na locadora hotel. Estou exausto depois de
perto do aeroporto de Con- um dia inteiro embalando caixas
exaustos, depois de um breve de mudança, saindo fora de um
fins. Para evitar perdas de voo
e corrido tour-de-force pelo – quando a partida é muito cedo apartamento mofado que deixou
nordeste, que nos recebeu acima - costumo dormir num hotel em a família inteira com alergia. A
das expectativas. Consegui - de frente ao aeroporto, mas a ma- cama é muito confortável, como
nobra necessária é deixar o car- uma batatinha chips, tomo uma
novo! – dormir um pouco ro, pegar a van da locadora até o cerveja e…
QUARTA FEIRA, 4 da manhã turnê: o 14 Bis (Sergio Magrão, chamando. Como não atender?
…Pulo da cama com o celular Hely Ferreira, Claudio Ventu- Já perdido o café da manhã - não
cantando a musiquinha chata rini e Cristiano Caldas), Gegê atino porque hotéis em regiões
que esqueci de trocar quando Lara e Carlos Alberto Xaulim turísticas insistem em encerrar
tive a boa ideia de ajustar o des- (empresários) e a turma da téc- às 10! - só me resta o mergulho.
pertador para o caso de apagar nica: Victor Moreira chefiando Minha carioquice se ressente
antes de acionar o do hotel. É Franguito (luz), Henrique (mo- da ausência de sal na pele já há
sempre assim, eu me conheço. nitor), Tirinho (PA), Eustáquio algum tempo. Para alguém que
Tomo um banho um pouco (roadie Flávio) e Lapinha (ro- cresceu salgado, isso é como tirar
mais demorado do que devia, adie 14Bis). Em Maceió nos o tempero da vida. Lá vou eu,
mereço, acordei meia hora an- juntaremos a Flavio Venturini, atravesso a rua sem lenço nem
tes do necessário justamente Guarabyra, Chico Calabro (em- documento e caio de cabeça nas
para isso. O café deste hotel – presário de Sá & Guarabyra) e ondas alagoanas. Que delícia. O
que costuma hospedar também Jasiel Araújo, nosso roadie. Se- corpo grita obrigados em série.
as tripulações das aéreas – abre remos 16 ao todo, nessa tour de
às 5 da manhã e sou um dos 4 capitais, a primeira investida QUINTA FEIRA, 18h
primeiros a chegar no salão. Às nordestina do nosso Encontro Chego ao Teatro Gustavo Leite
5:30 já estou na van, são cinco Marcado – nome desse show para a passagem de som. Sendo
minutos até o aeroporto. de velhos amigos e parceiros a primeira da tour, é a mais im-
que vem enchendo casas desde portante e toma tempo, o que
QUARTA FEIRA, 5:45 que fixamos esse formato de nos fará ficar no teatro até a
No check-in da aérea. Nosso voo cantarmos e tocarmos sempre hora do show. Os ingressos estão
tem uma escala em Brasília, mas juntos nossos maiores sucessos. esgotados desde ontem, ótimo
chegaremos a Maceió bem a começo pra nossa tour Nordeste.
tempo das ações de divulgação. QUINTA FEIRA, 10:00 Beleza de show, público feliz, nós
Na sala de embarque encontro Acordei, abri as cortinas e dei de também! O show é longo, quase
com meus companheiros de cara com o mar de Pajuçara me 2h30. Ficamos até uma da ma-

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nhã recebendo os fãs. viagem inaugural de avião, num será que vai dar tempo de mais
Constellation da Varig. Lembro um mergulhinho? Mas a atração
SEXTA FEIRA, 10H que na poltrona ao lado minha está também na gastronomia
Chegamos ao aeroporto de Ma- tia Dedete desfiava um terço, e acabei por dar vantagem ao
ceió. Parte da turma preferiu apavorada, e minha mãe recla- estômago, o que deixou o resto
encarar de ônibus (o nosso é po- mava: do meu corpo muito aborrecido
deroso, cama de verdade) os 500 pela falta de sal e ondas. Como
e tantos quilômetros até Natal. - Odete, para com essa rezação, que adivinhando esse conflito,
Nós outros, aeronautas convic- você está deixando o Luiz Carlos São Pedro mandou chover e
tos, vamos fazer uma escala em com medo! fiquei em paz comigo mesmo. A
Salvador – ou seja, voltar atrás - e saída do show vai ser corrida, nós
LUIZ CARLOS SÁ |

pegar o único voo possível pra De outra vez, nos anos 90, tive que moramos em BH não vamos
Natal. Meio arriscado, né? De- que encarar a plateia e pedir poder sequer atender o público
pois daquele habitual suspense desculpas pela ausência do Gua- porque temos que voltar hoje à
nas salas de embarque as parti- rabyra, adoentado, no primeiro noite mesmo a Recife para pegar
das se confirmaram e a conexão dia de uma temporada de fim o único voo direto de volta. Esca-
em Salvador foi imediata. Às 19h de semana, que enfim acabou las cansam mais que uma noite
já estamos no teatro Riachuelo, bem, com o Guararapes lotado. em claro.
confirmando o som. Show bele- Mas minhas lembranças daqui
za, plateia em delírio. Feliz Natal! remontam desde as férias de in- SEGUNDA FEIRA, 3:30 da
fância nos escorregas da praça manhã
SÁBADO, 8H do Derby às orquestras de me- O voo GOL 1821 REC/CNF
acolhe músicos e técnicos exaus-
6 Depois do café, escolher o lei-
to no buzum-maravilha. Todos
tais com seus músicos precisos
desenrolando os complicados tos, depois de um breve e corri-
a bordo, a viagem até Recife é frevos de Nelson Ferreira e cia.. do tour-de-force pelo nordeste,
curta, pouco menos de 300km. Neste terceiro show nem pre- que nos recebeu acima das ex-
Encaro de novo minha incapaci- cisamos passar o som, com os pectativas. Consegui -de novo!
dade de dormir em movimento, técnicos já tendo o mapa na – dormir um pouco. Peguei
nenhum artista-estradeiro pode ponta dos dedos. Antes do a van da locadora, aluguei o
sofrer disso! A estrada passa pela show reencontrei meu parceiro carro que vai me servir para
janela, o ar condicionado chama Nosly Marinho, um dos talen- o resto da mudança e cheguei
um cobertor, travesseiros e… che- tosíssimos cantores/composi- finalmente em casa. Nessas
gamos no hotel! tores brasileiros injustamente gigs cada dia vale por quatro
fora do mainstream do show e a impressão que a gente tem
Claudio Venturini, na poltrona business. E depois recebemos é que entrou numa máquina
do outro lado do corredor – e um público caloroso. Esse é o do tempo: para quem ficou,
sabedor da minha síndrome de nosso alimento, que faz desapa- passaram-se seis dias, para nós
Drácula desperto – dá risada: recer o cansaço e tira a vontade que fomos, uma eternidade.
de sair correndo pro hotel. Cheguei em casa, abracei minha
- Você dormiu! E muito! Eu vi! mulher e meu filho, que me
Aliviado, me sinto um DOMINGO, 9HS perguntaram como tinham cor-
novo homem, pronto a enfren- Café rápido e buzum-maravi- rido as coisas. Só tive tempo de
tar turnês sem fim… lha de novo, trechinho curto gemer um “ótimas” e me atirar
de 120km até João Pessoa. A no sofá, não sem avisá-los antes:
SÁBADO, 20H Paraíba é um celeiro musical: Zé
Que saudades eu estava desse e Elba Ramalho, Chico Cesar, - Olha: o corpo chegou.
teatro Guararapes, de Recife em Lucy Alves… põe mais gente aí! Suspirei, fechei os olhos e mur-
geral. Vim aqui pela primeira vez O Pedra do Reino é um teatraço, murei, antes de apagar:
na década de 50, passar férias não deu trabalho na acústica. É a
na casa de amigos, em minha noite de despedida do Nordeste, - Mas a cabeça ainda tá vindo aí.
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THE TOWN
MATÉRIA DE CAPA |

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SOM E LUZ Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Divulgação

D
Bruno Mars, Maroon 5, e acordo com a organização mais três com atrações de gêneros
do Festival, durante os cinco musicais diversos. No palco The
Ludmilla, Iza, FooFighters, dias, cerca de 500 mil pessoas Factory, foram apresentadas diversas
Racionais MC’s... Estes são puderam aproveitar 125 shows, nove atrações ligadas às manifestações de
apenas alguns dos nomes que ambientes, seis palcos, um musical e cultura urbana: desde música até
220 ativações, tudo entre momentos dança, passando pelos grafites. Lá,
integraram o elenco do The marcantes como a apresentação de tocaram artistas como Caio Luccas e
Town; o novo festival da Rock Ney Matogrosso, com show de luz e Wiu. O New Dance Order foi o lu-
World, empresa que nasceu pulseiras semelhantes às do show da gar da música eletrônica. Este palco
banda Coldplay, e a banda de Bruno teve a presença de Tropkillaz e Os
a partir do Rock in Rio e Gêmeos. Já na São Paulo Square,
Mars tocando “Evidências”, sucesso
administra também o mais novo de Paulo Sérgio Valle e José Augusto várias das atrações foram dedicadas
festival que acontece em São popularizada pela dupla Chitãozi- ao jazz nacional e internacional e
Paulo. O evento aconteceu nos nho & Xororó. à MPB como Hermeto Pascoal,
O público teve à disposição dois pal- Esperanza Spalding, Richard Bona,
dias 2, 3, 7, 9 e 10 de setembro cos que podem ser considerados os Hamilton de Holanda. Monica Sal-
no Autódromo de Interlagos. principais – Skyline e The One – e maso, Stanley Jordan e Ivan Lins.
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10 THE TOWN
O ESPETÁCULO DO SOM
Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Divulgação

Antes, durante e depois


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eter Racy, da Gabisom – empre- rização da Gabisom também aconte-
sa responsável pela sonorização cem no local. Mas se as semelhanças
do Festival, chegaram a de todos os palcos - comenta entre a operação do The Town e do
trabalhar em torno de 60 que os primeiros contatos a respeito Rock in Rio são muitas, o mesmo
técnicos no local apenas para do Festival chegaram em julho de não pode ser dito sobre o The Town e
o áudio sob a coordenação 2021, mas os trabalhos começaram osoutros festivais que são localizados
a se intensificar a partir do início de no Autódromo. “Em comum com
de pessoal e logística de 2023. “Há mais similaridades do outros festivais, apenas o local. Os pal-
Paulo Baptista. A equipe que diferenças em relação ao Rock in cos, estruturas, distribuição e layout
de áudio teve ainda o apoio Rio. A montagem propriamente dita dos sites foram muito diferentes.
de motoristas, equipe do iniciou no dia 22 de agosto, mas já Praticamente nada foi aproveitado de
havia uma equipe acompanhando a um festival para outro” ressalta Racy.
depósito, carregadores passagem das fibras óticas dos delays Ainda que estruturas e cenografias
e técnicos terceirizados desde o dia 18”, comenta o profissio- fossem bem diferentes das do Rock
pela produção para nal de áudio. in Rio, o princípio da sonorização
implementar a fibra ótica. Outros festivais de música com sono- permaneceu o mesmo. No palco
Palco The One

Skyline foram usados três linhas tudo (separado), ou grupos ou ção ao Rock in Rio foi o tamanho
de P.A. por lado, com oito subs apenas L&R, isso a critério de maior do palco The One, cor-
no Fly atrás do PA principal. Qua- cada Banda. A central de vídeo respondente ao palco Sunset do
tro das linhas (L & R e LL & RR) do evento se encarregou de dis- Rock in Rio, o que facilitou, de


acordo com Peter Racy, as ma-
O The One teve quatro P.A da L-Acoustics, modelos nobras para troca das bandas.
No mais, o The One teve quatro
K1 e K2, com quatro linhas de 18 elementos cada.
P.A da L-Acoustics, modelos
Este palco ainda teve duas torres de delay com 12 K1 e K2, com quatro linhas de
elementos cada. No palco Factory foram utilizados
sistemas J8 e J12 da d&b. No New Dance Order
foi usado o sistema GTO, da Outline.
“ 18 elementos cada. Este palco
ainda teve duas torres de delay
com 12 elementos cada. No
palco Factory foram utilizados
sistemas J8 e J12 da d&b. No
usaram 18 componentes d&B tribuir os sinais”, especifica Peter New Dance Order foi usado o
GSL cada. As duas linhas mais Racy.Uma das diferenças em rela- sistema GTO, da Outline.
externas tinham 12 GSL cada. Os
subs usados foram os SL-SUB.
No Chão forma empregados mais
30 SL SUB. Em cada uma das
sete torres de delay foram 16 com-
ponentes KSL d&b. O posicio-
namento das torres de delay em
relação ao palco foram definidos
pela Gabisom em conversas com
a equipe de arquitetura.
Para alimentar a parte de vídeo
com os áudios, o sinal L&R era
mandado a partir da housemix
para a central de vídeo onda havia
uma unidade móvel da Epah que
captava os splits de cada banda.
“Dependendo do caso captavam Palco New Dance Order

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THE TOWN
A APOTEOSE DA ILUMINAÇÃO
Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Divulgação

A LPL já chegou em “
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or incrível que pareça o aces- nas torres de plateia tivemos um
maio com cronograma e so ao autódromo de Interla- tempo curtíssimo para entregar
gos é um pouco mais com- a luz pronta, mas demos conta e
equipamentos confirmados plicado que na Barra da Tijuca entregamos ainda respeitando o
após as primeiras reuniões (no Rio de Janeiro). Outra coisa cronograma de montagem.”, deta-
no início do ano. A empresa que impacta é que a Cidade do lha Caio Bertti, sócio da LPL com
Rock(Rio de Janeiro) é plana. Em Rafael Auricchio, Bruno Lima e
também trabalha com a Rock Interlagos temos muitos altos e os fundadores da empresa, Cesio
World no Rock in Rio e, ainda baixos(no terreno). Outra coisa Lima e Luiz Auricchio.
que o conceito dos eventos seja que impacta é que pegamos a Ci- A LPL tem experiência em eventos
no Autódromo de Interlagos, mas
bem próximo, a diferença de dade do Rock pronta. Já em Inter-
lagos começamos a montar ainda ela acaba não servindo para muita
cidade e local traz alterações finalizando as obras, o que impac- coisa pela diferença entre estes
importantes na operação da tou muito pra gente. Quando libe- outros festivais e shows e o The
Town. “Não tem nada a ver um
infraestrutura de iluminação. raram a instalação, por exemplo,
festival com outro. Principal- of House com o Paulo lebrão e tra é a forma como o trabalho
mente o The Town. Ele é uma sua equipe, que costumava ser se desenvolve. “No The Town a
cultura de evento diferente, contratada pela LPL mas que receita para o relacionamento
muito próxima do que o Rock desta vez foram contratados dire- com os artistas é a mesma do
in Rio, porém muito diferente tamente pela Rock World como Rock in Rio: começa com um
dos outros festivais, até porque fornecedora de gestão da house e-mail introdutório do Terry se
no The Town eles montaram


o posicionamento dos palcos
de uma maneira muito dife- Ele é uma cultura de evento diferente, muito
rente do que sempre foi feito próxima do que o Rock in Rio, porém muito
lá no Autódromo (em outros diferente dos outros festivais, até porque no The
eventos). Embora o The Town
tenha sido um festival aparen-
temente menor que o Rock in
Town eles montaram o posicionamento dos palcos
de uma maneira muito diferente do que sempre foi

Rio, nós utilizamos mais gente. feito lá no Autódromo (em outros eventos).
ALPL estava com mais de 150
profissionais. Houve dois ou
três turnos de trabalho depen- Mix.”, completa Caio Bertti. apresentando e apresentando
dendo de algumas funções. Nes- Entre as semelhanças com o as empresas e os profissionais.
te ano tivemos ainda o mesmo Rock in Rio está o fato de o Então o Terry manda todos os
time (do Rock in Rio) no front projeto ser de Terry Cook. Ou- detalhes do Festival e o link

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do Dropbox, que é abasteci- LPL para o The Town está a da saída, da chegada, da área
do semanalmente com novas compra de um sistema de ge- Vip e dos estandes que estavam
plantas e novas informações renciamento de tráfego de da- naquela área, de todas as torres
conforme a necessidade. Nesse dos Luminex. “É um sistema de plateia e até da housemix do
link tem o showfile do festival belga que tem poucos anos outro palco, o The One. Além
já para Grand MA 3 e Grand de lançamento. Ele é 100% disso, eu conseguia ter acesso
MA2, além de todas as plantas focado no ramo de entrete- à informação que passava por
e todas as listas. A partir daí as nimento e dá uma segurança fibra e da rede do switchers
bandas mandam as suas neces- e uma gestão tecnológica na de cada load de cada mesa de
sidades, sejam de luz no teto automação e na integração de controle. Foi um dos nossos
como de chão. A maioria é de dados entre locais. A partir da Highlights de investimento,


chão, mas algumas pediram
para que a gente conseguisse
encaixar pequenas mudanças A partir da mesa principal do Festival, na house
no teto. Foi muito menor o mix do palco Skyline, eu tinha condição de programar
desafio do teto com relação ao todos os refletores da tirolesa, da saída, da chegada,
Rock in Rio, mas houve sim,
quem customizasse a planta
de chão e teto”, relembra Caio
da área Vip e dos estandes que estavam naquela área,
de todas as torres de plateia e até da housemix
do outro palco, o The One.

Bertti.
Sempre que vai fazer um novo
evento, há novidades no mer- mesa principal do Festival, na detalha Bertti.
cado que podem ajudar um house Mix do palco Skyline, eu Entre os artistas que procura-
pouco mais no trabalho. Entre tinha condição de programar ram recursos mais direciona-
os investimentos feitos pela todos os refletores da tirolesa, dos aos shows, Caio Bertti cita
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Bruno Mars e Foo Fighters. pediram algumas configura- painel transparente com auto-
16 “O Bruno Mars trouxe alguns ções customizadas.
Caio Bertti também comemo-
mação foi apresentado como
equipamentos que ele viaja solução no festival por um ar-
em sua própria turnê. Não foi rou o prosseguimento da atu- tista nacional. E tinha um pa-
a primeira vez que a LPL teve ação da LPL no segmento de redão de luz atrás, então foi um
contato com a equipe deles. O LEDs. “Fornecemos, por exem- resultado bem bem legal”.
light designer, que é o Whitney plo, 140 metros de painéis de O empresário também apon-
Roversten, que já veio na pri- LED na torre da tirolesa da tou a importância do palco The
meira vez que a Beyoncé esteve Heineken e em outras ativa- One, colocando ele quase como
no Brasil. Acho que acho que ções para marcas como KitKat um outro palco principal. “O
eles foram os que mais trou- e Seara. Tivemos também uma The One tinha muito mais equi-
xeram equipamentos. O Dan equipe grande para os painéis pamento comparado ao palco


Sunset, no Rio de Janeiro, e os
Fornecemos, por exemplo, 140 metros de artistas nacionais criaram grandes
espetáculos. O Seu Jorge, com
painéis de LED na torre da tirolesa da um tremendo equipamento de
Heineken e em outras ativações para marcas iluminação do chão e o projeto
como KitKat e Seara. Tivemos também uma
equipe grande para os painéis de
“ do Eric Bertti muito bem executa-
do, foi muito bom. O Paulo Roda
também entregou uma cenogra-
LED extras de banda. fia gigantesca e uma iluminação
grandiosa também para o Jão. Pa-
Hadley (Foo Fighters) também de LED extras de banda. A Iza, blo vittar fez um um show grande
trouxe um kit próprio, mas era por exemplo, usou um painel com bastante extra, e o show da
da própria LPL e é um kit que transparente criado pela Light Pitty também foi ótimo no palco
estava viajando desde Curiti- designer Mariana Pitta. Foi um Skyline. Enfim, todos os artistas
ba”, destaca Bertti, completan- projeto muito bacana e auda- nacionais entregaram shows de
do que outros artistas também cioso. Foi a primeira vez que o altíssimo nível”, comemorou.
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ILUMINAÇÃO: MARI PITTA E UMA EXPERIÊNCIA

DE ILUMINAÇÃO NO THE TOWN


Reportagem: Miguel Sá | Fotos: Renata Monteiro

A
Mariana Pitta está acostumada a do a entrega dos espetáculos como
lém do projeto de iluminação
trabalhar como parte da equipe da propriamente dito - com a um todo. Foi uma experiência
LPL, inclusive na última edição criação e execução deles para desafiadora e gratificante, contri-
os shows - como diretora técni- buindo para o sucesso técnico e
do Rock in Rio, desta vez, na
ca, coordenou todos os detalhes artístico dos shows. Ver o público
primeira edição do The Town, técnicos de luz, cenografia, estru- desfrutar das apresentações e sen-
ela aprofundou a parceria com a turas, maquinárias e led, desde tir o impacto visual e emocional
diretora Drica Lara iniciada no os projetos até a montagem e des- que criamos foi incrível”, comemo-
montagem. “Trabalhei em estreita rou a light designer, que detalhou
show de Ludmilla, no Rock in colaboração com artistas e equipes sua experiência para a Revista
Rio, atuado como light designer e de criação, criando momentos, am- Backstage.
diretora técnica dos artistas Wiu, pliando, através da luz, a potência
dos shows e trazendo efeitos de Fale um pouco como surgiu a par-
no Palco Factory, Iza, no Skyline e iluminação para complementar a ceria com Drica Lara, a diretora
Matuê, no The One. estética visual desejada., garantin- dos três shows
Esses projetos foram, de fato, Em relação à operação dos sho- gente os briefings e objetivos
resultado de uma parceria in- ws, eu estive mais envolvida na específicos que você recebeu
crível com a talentosa diretora parte de projeto e acompanha- ao criar o design de luz para
Drica Lara. Tudo teve início mento. Para cada um dos sho- os shows de Wiu, Matuê e
com o trabalho no Rock in Rio ws, a LABe, nossa empresa de Iza para o festival The Town?
de 2022, onde tive a oportuni- projetos para o entretenimen- Quais foram os desafios?
dade de criar o design de luz e to, designou um programador Certamente, a criação do de-
direção técnica para o show da e operador. Minha responsa- sign de luz para estes shows
Ludmila a convite dela. Des- bilidade principal foi liderar a foi uma tarefa desafiadora, es-
cobrimos que tínhamos uma parte criativa, desenvolver os pecialmente porque os shows
grande afinidade artística e designs de iluminação, coor- do Matuê e da Iza ocorreram
uma abordagem semelhante denar todos os detalhamentos durante o dia. O briefing prin-
para a criação de experiências técnicos e acompanhar de per- cipal que recebemos para essas


visuais memoráveis em shows
ao vivo. A partir desse encon-
tro, fechamos nossa parceria Certamente, a criação do design de luz para
para colaborar no festival The estes shows foi uma tarefa desafiadora, especialmente
Town. Trabalhar com a Drica porque os shows do Matuê e da Iza ocorreram durante
tem sido uma jornada incrível,
e nossa parceria tem permitido
que exploremos novas dimen-
o dia. O briefing principal que recebemos para essas
apresentações era bastante direto: ‘faz a luz aparecer’
criando uma experiência visual marcante.

sões criativas no design de luz
e na produção de espetáculos.
to a execução para garantir que apresentações era bastante di-
Foi você quem operou os sho- a visão criativa fosse realizada reto: ‘faz a luz aparecer’ criando
ws diretamente ou foi respon- com sucesso no palco. uma experiência visual mar-
sável mais pelo projeto e acom- cante e impactante juntamente
panhamento? Poderia compartilhar com a com a cenografia, mesmo sob

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a luz do dia. Para criar estes um volume de cor por dentro tos visuais específicos de seus
projetos nunca me desliguei de cada iceberg. Trabalhamos sets, como telas de LED, es-
do curto tempo que teríamos muito em conjunto com a ce- truturas com grandes formas
para a montagem, das facilida- nografia para chegarmos no geométricas e cenografia, de
des e agilidades que precisaria melhor material para obtermos forma a compor a experiência
ter para essas trocas de palco o resultado esperado, translúci- visual. Foi aí que decidimos
e dos orçamentos para equi- do, mas não transparente. usar, para o show da Iza, o led
pamentos e estruturas extras. Já para os shows de Matuê e transparente em uma atuação
Começamos considerando a es- Iza, que ocorreram durante conjunta com a luz. Criamos
tética e o estilo musical de cada o dia nos palcos The One e grandes planos verticais de luz
artista. No caso de Wiu, que Skyline, enfrentamos o desa- e led que proporcionaram uma
se apresentou à noite no pal- fio de fazer a luz brilhar sob o atmosfera surpreendente com
co Factory, a ênfase estava na sol. Para estes artistas, traba- efeitos mágicos e movimentos
criação de um ambiente envol- lhei o mapa de extras onde os suaves entre as estruturas.
vente e dinâmico. Um mapa de equipamentos de luz fossem Em todos os casos, o objetivo
luz que ressaltasse a cenografia visualizados de frente, como era criar uma sinergia perfeita
imponente e que a mesma fosse “paredes” atrás dos artistas, entre a música, a iluminação e
se modificando através da luz, gerando visualização das len- a atmosfera geral do show.
usando uma variedade de cores tes de cada aparelho. Criamos
e efeitos para complementar assim contrastes e ataques que De que forma os palcos in-
sua performance. Solicitamos destacaram os artistas em meio fluenciam nesses projetos, tan-
extras de movings spot para à luz natural. Além disso, traba- to em termos de equipamento
pontuar os volumes de gelei- lhamos em estreita colaboração como de concepção?
ra da cenografia, assim como com a direção criativa e suas Cada palco possuía caracterís-
ribaltas e parleds que faziam equipes para integrar elemen- ticas únicas, como tamanho,
disposição, acessos e requisi- no espaço disponível e que as Além disso, as possibilidades
tos técnicos específicos, que peças sejam menores devido de instalação de equipamento
influenciaram diretamente na aos acessos. Dependendo das adicional de luz variam de um
concepção e na execução dos condições de entrada e saída palco para outro. Em alguns ca-
nossos projetos. O tamanho do de equipamentos, podemos sos, podemos ter mais liberda-
palco é um fator importante. ter que ajustar o design de luz de para adicionar elementos ex-
Em palcos maiores, como o para garantir que a montagem tras, como telas de LED, efeitos
Skyline, temos mais espaço e desmontagem ocorram de especiais ou equipamentos de
para instalar equipamentos de maneira eficiente e segura. Isso projeção, enquanto em outros
iluminação elaborados, como é particularmente importante palcos, devido às limitações
trusses, motores e varas, o que em festivais, onde os horários técnicas ou de tempo, podemos
nos permite criar uma gama são rigorosos e cada minuto precisar nos concentrar em so-
mais ampla de efeitos e designs. conta. Aproveitamos o máxi- luções mais práticas. Tivemos
Ao mesmo tempo, este palco mo do equipamento oferecido que levar muito em conside-


também abriga os maiores sho-
ws do Festival e isso precisa
de muita atenção e trabalho Isso é particularmente importante em festivais,
conjunto com o festival para onde os horários são rigorosos e cada minuto conta.
compatibilizar todos os shows Aproveitamos o máximo do equipamento oferecido nos
de cada dia. No caso da Iza,
tínhamos o Bruno Mars como
headliner e com um extra con-
riders, sem alterá-los e inserimos apenas os aparelhos
importantes para a concretização de nossos desejos
específicos para cada artista.

siderável ocupando uma gran-
de área.
Palcos menores, como o Fac- nos riders, sem alterá-los e inse- ração os espaços de backstage
tory, podem exigir um plane- rimos apenas os aparelhos im- para abrigar nossas estruturas
jamento mais cuidadoso para portantes para a concretização sem maiores problemas.
garantir que nossa iluminação de nossos desejos específicos A grande maioria de meus ex-
se encaixe harmoniosamente para cada artista. tras de luz foram inseridos no

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show em forma de estruturas mais precisa. Para cada um dos elementos estivessem perfeita-
pré-montadas, testadas no ba- shows, tivemos tempo adequa- mente sincronizados e coreo-
ckstage e colocadas no palco do para projetar e aprovar as grafados.
apenas no momento do show, estruturas de luz e os equipa-
possibilitando a retirada de mentos extras com a equipe Que diferenças e semelhanças
tudo em menos de 15 minutos. do festival. Isso foi crucial para você percebeu em compara-
O tempo de montagem e des- garantir que nossos designs ção ao Rock in Rio?
montagem é sempre crítico em fossem viáveis e atendessem às Os dois festivais são pareci-
um festival. Cada minuto é va- necessidades técnicas e estéti- dos devido a produção ser do
lioso, nossa equipe deve ser al- cas de cada apresentação. No mesmo grupo. Aprovação de
tamente eficiente para garantir caso dos shows de Iza e Matuê, projetos, credenciamentos,
MATÉRIA DE CAPA |

que a iluminação, e os demais tivemos um prazo estendido possibilidades de atuação nos


itens extras do artista, estejam para a programação de luz. palcos, acessos de cargas, tudo
prontos para cada apresenta- Utilizamos recursos como o isso segue um caminho pareci-
ção e sejam desmontados sem estúdio 3D do próprio festival, do nos dois casos. Já a minha
atrasos incluindo estruturas, além de estúdios externos, para atuação foi maior agora pois
cenografia e backline. realizar testes e ensaios virtuais. ao invés de um único show
Isso nos permitiu criar uma como responsável pela ilumi-
Poderia compartilhar deta- programação de luz altamente nação e pela direção técnica,
lhes sobre o cronograma de precisa e detalhada, alinhada desta vez foram três, em três
planejamento para os proje- com os movimentos da ceno- palcos diferentes e com três
tos de iluminação dos shows? grafia, coreografia e até mesmo equipes diferentes do festi-
Quanto tempo você teve para com o conteúdo de LED. Para val. No The Town participei
22 projetar cada apresentação e o show de Wiu, que aconteceu apenas com minha empresa
se houve tempo para ensaios durante a noite, contamos com LABe, respondendo por estes
e testes? Além disso, houve al- a colaboração do atual ilumi- três clientes Wiu, Matuê e Iza.
guma necessidade de montar nador do artista, com quem Algo mais que gostaria de co-
algum desses shows em outro trabalhamos para incorporar mentar?
local, semelhante ao que foi a luz cenográfica que desempe- Eu (LABe) e Drica Lara (Neon)
feito com Ludmilla no Polo de nhou um papel significativo no percebemos que estamos crian-
Cine e Vídeo? espetáculo. do um formato de trabalho
O cronograma de planejamen- Especificamente para o show interessante para o mercado
to para os projetos de ilumina- da Iza, houve a necessidade do entretenimento. O trabalho
ção dos shows foi um processo de montar um estúdio em São em conjunto, desde o princípio
minucioso e estratégico. Tive- Paulo, onde pudemos realizar da criação de um espetáculo,


faz com que todos os itens este-
jam alinhados com o conceito
Especificamente para o show da Iza, houve criativo. Minha experiência
a necessidade de montar um estúdio em como arquiteta e cenógrafa,
São Paulo, onde pudemos realizar ensaios além de iluminadora, me fez
detalhados do conteúdo de LED, movimentos
da cenografia, luz e coreografia.
“ ter uma visão ampla, poden-
do tomar decisões adequadas
para cada projeto que junte
iluminação, cenário, led, som
e estruturas, trazendo comigo
mos a vantagem de contar com ensaios detalhados do con- grandes empresas parceiras
uma antecedência satisfatória teúdo de LED, movimentos para projetos e execução e pos-
para cada projeto, o que nos da cenografia, luz e coreogra- sibilitando a compatibilização
permitiu um planejamento fia. Esse processo foi essencial prévia de tudo e maior asserti-
mais detalhado e uma execução para garantir que todos os vidade nas montagens.
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MATÉRIA DE CAPA |

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PALCO SÃO PAULO SQUARE


UM FESTIVAL DE JAZZ NO TERRITÓRIO POP
Reportagem: Miguel Sá | Fotos: The Town | Divulgação

N
O palco São Paulo Square foi um caso este palco, a Gabisom pro- depoimento para a Revista Backs-
a parte no The Town. Mais dedicado a porcionou o sistema de P.A. tage sobre o que enc0ntrou por lá
gêneros musicais como o jazz, a música em line array Meyer Sound e sua relação com os músicos.
MICA, com nove elementos por “O Stanley ele veio exclusivamen-
instrumental brasileira e a MPB, o te para o The Town, mas se ele foi
lado, mais três subs Meyer 1100 -
espaço teve um investimento grande LFC por lado. Os consoles de P.A. depois para Brasília fazer um outro
no festival paulistano apresentando e monitor foram as Yamaha CL5. show, mas ele já estava vindo aqui
As caixas de monitor no palco para somente para o The Town.
nomes de peso como Ivan Lins,
foram as Meyer Sound MJF-212A. Com o Stanley, eu trabalho com
Hermeto Pascoal, Esperanza Spalding, Jerubal Liash é o responsável pelo ele há 22 anos que eu que faço as
Jonathan Ferr, Hamilton de Holanda, áudio do maior festival de jazz e turnês do Stanley tanto no Brasil
Richard Bona, Stanley Jordan, Banda blues do Brasil, o Rio das Ostras como América do Sul. O Caso do
Jazz & Blues Festival. Ele atuou no Bona foi o seguinte: eu o conheci
Mantiqueira e Monica Salmaso entre som do guitarrista Stanley Jordan e em 2004 lá no festival de Rio das
diversas outras atrações. do baixista Richard Bona e deu um Ostras e dei todo o auxílio para o
técnico que veio com ele, que do Bona, que a gente fez a par- lasse sobre o nosso querido
era o Daniel e agora, há uns tir das oito horas da manhã, Ivan Conti. Preparamos um
dois meses, o Bona me ligou foi até o meio-dia também. vídeo com a introdução do
me convidando para fazer o Tivemos todo esse tempo aí de partido alto na bateria. Então
P.A. porque ele e o Daniel passagens de som. O tempo foi a gente congelava a imagem e
lembraram de mim e o Daniel mais do que necessário.. a banda entrava com o trio to-
não poderia vir. “Trabalho com o Stanley há cando partido alto com a ima-
“Com relação ao Stanley Jor- muito tempo e preparamos gem do mamão frisada. Foi
dan, que tocou nos dias 7 e uma homenagem ao Ivan Con- muito bacana isso merecido.
9, fizemos a passagem de som ti, o Mamão (baterista do Azi- Era o Stanley, o Dudu Lima
no The Town no dia 6, no dia


anterior ao show. No caso do
Bona, o show foi dia 10 Fi- Preparamos para que, durante o show, o Stanley
zemos a passagem de som do falasse sobre o nosso querido Ivan Conti. Preparamos
Bona no mesmo dia às 8 horas um vídeo com a introdução do partido alto na bateria.
da manhã. Esse foi o show que
finalizou o palco. A passagem
de som do Stanley foi só uma
Então a gente congelava a imagem e a banda entrava
com o trio tocando partido alto com a imagem do
mamão frisada. Foi muito bacana.

passagem (mesmo com dias de
show) porque ali era tudo ex-
clusivo. Não houve necessida-
de de fazer uma segunda. Ela muth que costumava fazer as e o Mamão tocando juntos
foi das 14 horas até às 18:00. turnês de Stanley Jordan no há 22 anos, então a gente já
Tivemos 4 horas para nós. Brasil). Preparamos para que, era uma família e fizemos essa
Nem há essa necessidade. A durante o show, o Stanley fa- homenagem”.

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RITUAL DE LUZES
BANDA GHOST EM SÃO PAULO
Na cultura pop,
determinados artistas
e bandas conquistam David atua no som de igrejas e sonorização de congressos
patamares de admiração e no Brasil e Estados Unidos há 40 anos. Recentemente, ser-
veneração, sendo cultuados vido como diretor de mídia, liderou cerca de 70 voluntários
no sentido mais literal desse nas equipes de produção de som, vídeo, iluminação, digital
termo. No palco, recebem signage, transmissão e cenografia.
um “valor de culto” que

N
transcende expectativas Nesta conversa, vários aspec- aos espetáculos – e aos elementos
e percepções, enaltecidas tos serão abordados sobre o de composição integrantes dessas
por elementos visuais, tais primeiro show da atual turnê manifestações artísticas, culturais,
como a iluminação, que latino-americana da banda sueca promocionais. As aspas não indicam
potencializam ainda mais Ghost, com enfoque nos ritos e ri- princípios morais ou institucionais;
tuais de luzes, repletos de surpresas diferente disso, potencializam o sen-
certas sensações produzidas
e fascínio. tido de virtude, mesmo que imensu-
apenas na singularidade Possíveis reflexões sobre “valores” rável para algo destacado ou associa-
do espetáculo. na atualidade também se aplicam do a alguma estima ou predileção. E
Aspecto da “Re-Imperatour – Latin American Tour 2023” da banda sueca Ghost – Espaço Unimed (São Paulo) (20/09/2023). Fonte: Cezar Galhart

esse enaltecimento, apoiado nos da concepção do filósofo, profes- mas em relações afetivas e poten-
pensamentos do filósofo italiano sor, historiador e crítico de arte cialmente ritualísticas que confe-
Giorgio Agamben (n. 1942), po- francês Georges Didi-Huberman rem aos protagonistas – artistas
dem desencadear mecanismos (n. 1953) em um entrelaçamen- e fãs – um sentido de unidade e
que fomentam formas de sacra- to singular de tempo e espaço integração, que atingem outros
lização, inclusive no contexto da surgindo uma relação dialética patamares de idolatria.
cultura pop. que une observador e elemento Nesse contexto que se destaca
Trata-se de um fenômeno rela- observado – plateia e “palco” o show da banda sueca Ghost,
tivamente recente, originado -, proporcionando sensações realizado no Espaço Unimed na
no âmbito da pós-modernidade sugeridas, percepções e interpre- cidade de São Paulo no dia 20
e nas condições tecnológicas tações ocorridas pela existência de setembro de 2023. Primeiro
atualmente propícias, pois ante- de determinadas forças que, nes- show da “Re-Imperatour – Latin
riormente a isso, a maior preo- se acontecimento visual único, American Tour 2023” (com mais
cupação ainda residia quase que


exclusivamente na produção so-
nora, que também tinha limita- Nesse contexto que se destaca o show da
ções técnicas e específicas. Com
a produção visual, o espetáculo
banda sueca Ghost, realizado no Espaço
surge como um meio de produ- Unimed na cidade de São Paulo no dia 20 de
ção de vínculos, no entendimen-
to de interação e integração dos
setembro de 2023. Primeiro show da
“Re-Imperatour – Latin American Tour 2023”

artistas aos públicos, surgindo a
estética dos shows musicais.
Ainda se atribuído aos produtos
derivados nesse processo, deter- estreitam um “poder do olhar” um show na capital paulista,
minados espetáculos se configu- e que ainda podem produzir um além de apresentações em Bue-
ram em acontecimentos únicos, “valor de culto”, não restrito à nos Aires e Santiago), trata-se da
e assim também se aproximam veneração e devoção artística, quarta passagem no Brasil – a

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Tobias Forge na personificação do Papa Emeritus IV - show da banda sueca Ghost – Espaço Unimed (São Paulo) (20/09/2023). Fonte: Thales Beraldo

primeira em 2013 com shows no tes bandas das últimas décadas. àquelas de proteção respiratória
Rock In Rio, São Paulo e Curiti- Se em algum momento houve (“de gás”) projetadas e fabricadas
ba; a segunda no ano seguinte, dúvidas e questionamentos, hoje em resina pelo artista ucraniano
com shows em São Paulo e Rio se apresenta em um dos mais Bob Basset. As identidades dos
de Janeiro; e em 2017, com sho- impressionantes espetáculos mu- músicos são indicadas em fóruns
ws em Porto Alegre e São Paulo. sicais. A banda é complemen- e blogs sobre a banda, mas serão
Formada em 2008 e centrada no tada por músicos identificados omitidos neste texto (uma vez
compositor, vocalista e multi-ins-


trumentista sueco Tobias Forge,
Ghost (que chegou a ser refe- A banda é complementada por músicos
renciada também como Ghost identificados como “Nameless Ghouls”, com trajes
B.C.) tem uma discografia com- pretos alinhados ao estilo Steampunk e máscaras
posta por cinco álbuns e quatro
EPs, cuja sonoridade, predomi-
nantemente associada ao Heavy
similares àquelas de proteção respiratória (“de gás”)
projetadas e fabricadas em resina pelo artista
ucraniano Bob Basset.

Metal e ao Rock’n’Roll, mesmo
que também incluindo outros
elementos de vários gêneros mu-
sicais, atrai fãs devotos e plateias como “Nameless Ghouls”, com que eventuais mudanças podem
heterogêneas, promovendo essa trajes pretos alinhados ao estilo acontecer, como de fato já ocor-
como uma das mais importan- Steampunk e máscaras similares reram, no decorrer das turnês).
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30 Aspecto da “Re-Imperatour – Latin American Tour 2023” da banda sueca Ghost – Espaço Unimed (São Paulo) (20/09/2023). Fonte: Cezar Galhart

Fundamental apontar que a produ- mo tempo inédito e sintomático, arquitetura gótica, cujas abertu-
ção artística dessa banda combina como também nostálgico e singular. ras eram simuladas por rotundas
diversas manifestações – musicais, A iluminação cênica, imponente retro iluminadas com imagens
cênicas, culturais, místicas – evi- e brilhante (em todos os sentidos) que alternavam motivos sagra-
denciadas no espetáculo, sugeri- tem sido, desde 2018, conduzida dos, profanos e apocalípticos (no
das pelas canções e apropriadas pelo Lighting Designer brasileiro Bis), e estruturas de iluminação
pela plateia. Esta, particularmen- Erich Bertti, com um currículo cênica verticais acompanhando
te, além de uma heterogeneidade invejável, de projetos do festival os elementos cenográficos, com-
que compreende gerações de SWU a artistas e bandas como plementares e protagonistas de
admiradores a curiosos pontuais, Motörhead, Paul McCartney, momentos únicos, celebrados
também evidencia uma legião Joss Stone, Seu Jorge, Racionais e inspirados por estéticas do ex-
de fãs que se caracterizam, com MC’s, entre outros. Para a atual pressionismo alemão e o melhor
maquiagens, trajes, fantasias,


adereços – personagens, perso-
nas, cosplayers. A iluminação cênica, imponente e brilhante
Mesmo com problemas de logís- (em todos os sentidos) tem sido, desde 2018,
tica posteriormente revelados, o conduzida pelo Lighting Designer brasileiro Erich
show foi iniciado com um atraso Bertti, com um currículo invejável, de projetos do
de aproximadamente quinze mi-
nutos, preenchido com o moteto
festival SWU a artistas e bandas como Motörhead,
Paul McCartney, Joss Stone, Seu Jorge,

sacro “Miserere mei, Deus”, do Racionais MC’s, entre outros.
sacerdote e compositor italiano
Gregorio Allegri (1582-1652).
Instaurava-se naquele momento turnê, a concepção do espetá- estilo Old School.
uma “aura”, na dupla distância culo, liturgicamente roteirizada Na atual turnê, continuação da
que o conceito do pensador ale- pela sequência de canções, mar- turnê “Imperatour” iniciada no
mão Walter Benjamin (1882-1940) cações e ritos teatrais, cenografia ano passado, a iluminação cênica
propôs, com um resgate ao mes- reproduzindo vitrais similares à se destaca não somente pelas
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32 Aspecto da “Re-Imperatour – Latin American Tour 2023” da banda sueca Ghost – Esço Unimed (São Paulo) (20/09/2023). Fonte: Cezar Galhart

combinações, formas e dinâmi- Tobias Forge. primeira revelava uma atmosfera


cas esfuziantes, mas uma estru- Na sequência, “Rats” e “Faith” mais sombria e tematizada com o
tura treliçada imponente centra- (do quarto álbum, Prequelle, de ocultismo, com luzes dinâmicas
lizada e que cobre a maior parte 2018) e “Spillways” (também de e versáteis em formas e matizes
do palco, em formato de estrela. Impera), mostraram conexões (com predominância de verme-
Traves verticais em backlighting sonoras e visuais mais céleres, lhos e azuis), a segunda trouxe
e sidelighting; refletores LEDs di- envolventes e estimulantes. A uma ambientação mais calma,
recionados ou distribuídos, com combinação das texturas em alinhada à redenção proposta
fachos abertos ou mais fechados; downlighting, sidelighting e das pela narrativa lírica.
diversos outros instrumentos de contraluzes produzem densidade Na continuidade, “Ritual” (do
iluminação posicionados para e profundidade ao espetáculo, primeiro álbum, Opus Epony-
Limelight; dois canhões segui- expandindo a percepção do es- mous de 2010), “Call Me Little
dores: no todo, uma trama de paço cênico, que não se reduzia Sunshine” (Impera), “Con Clavi


luzes mais intensas ou suaves que
proporciona narrativas visuais e
“semióticas narrativas”, capazes A combinação das texturas em downlighting,
de impressionar e surpreender. sidelighting e das contraluzes produzem
Na abertura, as canções “Impe-
rium” e “Kaisarion” (ambas de densidade e profundidade ao espetáculo, “
Impera, último álbum lançado expandindo a percepção do espaço cênico, que
em 2022), apresentadas com não se reduzia ao palco, somente.
predominância de luzes azuis
e amarelas em fachos intensos
e definidos, tais como raios so- ao palco, somente. “Cirice” e Con Dio” (também do Opus) e
lares invadindo um presbitério “Absolution” (essas duas do ex- “Watcher In The Sky” (Impera)
hipotético, espaço de condução celente álbum Meliora, de 2015) intercalaram momentos distin-
regido pelo Papa Emeritus IV, produziram contrastes sonoros e tos da banda, como também
atual persona interpretada por visuais impactantes. Enquanto a interações com diferentes faixas
Aspecto da “Re-Imperatour – Latin American Tour 2023” da banda sueca Ghost – Esço Unimed (São Paulo) (20/09/2023). Fonte: Cezar Galhart

de fãs, criando uma ponte em to a um solo de sax executado pelo espetáculo magnífico, recomendá-
um distanciamento temporal e Papa Nihil -, “Mary On A Cross” vel para ser experienciado por di-
sonoro. Como consequência, a (do EP Seven Inches of Satanic versas vezes. Também memorável,
iluminação cênica, predominan- Panic de 2019), “Mummy Dust” o show é de fato uma homenagem
temente simétrica e sincronizada (Meliora) e “Respite On The Spi- aos fãs e às referências sugeridas.
com as divisões rítmicas, ilus- talfields” (Impera) apresentaram Um acontecimento para ser visto,
trou com maestria as evoluções uma versatilidade ímpar, tanto apreciado e vivenciado. Toda e
e intensões dos temas musicais pela justaposição de canções de qualquer descrição é insuficiente,
e textuais. diversos momentos da banda, como tentativa de transmitir todas
A combinação da emblemática como pela entrega de cenas des- as sensações e percepções de uma
e viral “Year Zero” (do álbum lumbrantes. obra que ultrapassa o visual, trans-
Infestissumam de 2013) com a Para o desfecho de uma celebra- pondo o imaginário, o místico, o
belíssima e comovente balada ção ritualística, o bis, apresentado litúrgico, evocando ancestralidade
“He Is” (Meliora) propuseram um após uma “negociação” com a pla- e frescor com dimensões iguais,
sentido de unidade que conectou teia (que exigiu três canções), com proporcionado uma experiência
toda a plateia em um momento as ótimas “Kiss The Go-Goat” estética fascinante, aurática.
de comunhão, integração e êxtase, (também do EP Seven Inches), Abraços e até a próxima conversa!!!
celebrado ecumenicamente, no “Dance Macabre” (Prequelle) e
campo das sensações. A diversi- “Square Hammer” (do EP Popes- P.S.: este texto é dedicado aos
dade de cores – com variações das tar de 2016). Tobias Forge, caris- meus sobrinhos Thales Beral-
cores quentes, tais como verme- mático e aglutinador, ainda fez do e Jéssica Tokarski; aos meus
lhos e amarelos, para as cores frias, agradecimentos diversos à equipe amigos Marcos, Lorena e Victor
azuis, violetas, verdes – proporcio- técnica, à plateia e à banda Cryp- Hoffmann; à fã Nicolle Ribeiro.
nava combinações dramáticas, ao ta, impossibilitada de realizar o Dedicado muito especialmente à
mesmo tempo em que os efeitos show de abertura pelos problemas minha Amada Mãe, que na sua
sugeriam texturas delicadas e su- supracitados. eclética e sábia preferência musi-
tis. Para finalizar o rito principal, Erich Bertti, em mais uma pro- cal, também fã e apreciadora da
“Miasma” (Prequelle) – com direi- dução exuberante, concebeu um banda Ghost.

33
SOM NAS IGREJAS
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34 SOM NAS IGREJAS


COMPRESSÃO
E
Em nossa última coluna, Assim, como grande parte do noro permaneça inalterado.
iniciamos a análise do que fazemos no áudio, a ideia Ratios entre 2:1 e 3:1 – Compres-
não é lhe dar uma fórmula a são Moderada. Alteram um pouco
compressor que retomaremos ser seguida a ferro e fogo, mas sim dos transientes, sem descaracterizar
agora. Vamos considerar os proporcionar os traços largos de o envelope sonoro.
ajustes do compressor, com um esboço, em cima dos quais você Ratios entre 3:1 e 4:1 – Compres-
base no efeito que queremos deve experimentar quando estiver são Média. Passam a alterar mais
passando o som ou treinando com dos transientes. podendo já alterar
proporcionar aos ouvintes. gravações, e avaliar como incorpo- um pouco do ataque do envelope,
Para isto, dividimos a rar estes conceitos na sua caixa de do nível geral de sinal e inclusive a
compressão em leve, média e ferramentas técnicas. sua tonalidade.
Ratios abaixo de 2:1 – Compressão Ratios de 4:1 a 10:1 – Compressão
pesada. Estou generalizando, Leve. Comprimem de forma suave Pesada. A compressão vai se tornan-
visando estimular o e transparente, permitindo que a do cada vez mais pesada, alterando
raciocínio, ok? expressiva maioria do envelope so- o envelope da dinâmica, e o sinal
perde as características originais Threshold. Ele pode ser útil na para cima e ele subirá acima das
de ataque entre outras. proteção das caixas, para evitar bordas dela. Mas quanto mais
Ratios de 20:1 a ∞:1 – Limiter picos que levem à distorção esticarmos a lona, aumentando
Permitem que cada vez menos numa transmissão ou gravação, a sua compressão, menos a ca-
do sinal passe pelo Threshold, mas não é porque está ativado beça do nosso amigo conseguirá
até alcançar o ∞:1 em que não que se pode forçar o nível cada subir. Para finalizar a analogia,
passa nada. vez mais alto! Isto até permite substituímos a lona por uma
dar a impressão de que o sistema laje de concreto – coitado! A
E qual a utilidade prática des- de som rende mais, mas ocorre laje exemplifica o ∞:1 do Limi-
sas taxas de compressão? ao custo de potencial dano às ter, pois não importa se o cama-
Entre outras coisas, a Com- caixas e distorção digital. rada subir com energia infinita,
pressão Leve e imperceptível é A compressão é um conceito ao chegar na laje ela não cederá,
útil para economizar potência que pode ser difícil de assimilar. limitando a altura alcançada
no seu sistema. Imagine o que Para torná-la mais compreensí- pelo nosso amigo à altura dela.
acontece quando a banda faz o vel, ilustrei acima, uma analogia Vamos para algumas considera-
sinal de entrada crescer, simul- dada pelo mestre Pat Brown em ções conceituais. Assim como
taneamente, em 20 canais. Se seus workshops. Imagine que o na equalização, desejamos que
você conseguiu aplicar compres- sinal que enviamos ao compres- a atuação do compressor (ex-
são leve nesses canais, ela pode sor fosse um camarada pulando cetuando a compressão pesada
poupar o seu sistema de precisar numa cama elástica com suas para fins artísticos) não chame
produzir (e poupar os ouvidos subidas sendo os picos de sinal. atenção para si. Ele deve pro-
da congregação de suportar) A imagem transparente do ca- porcionar um efeito coerente
10 a 20dB a mais, sem que seja marada no fundo é sempre na com a música e, a menos que o
percebida uma diferença no mesma altura, representando o estilo musical contemple isto,
conteúdo individual de cada voz sinal de entrada enviado pelo ele não deve distorcer excessiva-
e instrumento. instrumento. Agora, vamos esti- mente a dinâmica do envelope
A Compressão de Média a Mo- car uma lona por cima da cama original do sinal. O que seria
derada indo além dos bene- elástica que será o nosso com- essa dinâmica? As variações na-
fícios da compressão leve, vai pressor. Enquanto os pulos do turais e musicais da voz ou ins-
segurando cada vez mais dos nosso amigo não atingirem o trumento. Portanto, usamos o
picos, proporcionando um som limiar da superfície inferior da compressor para segurar picos
de nível mais uniforme, sem lona, ele sobe livremente. Mas sonoros que vêm muito acima
descaracterizar a naturalidade


dos envelopes sonoros. Os picos
são contidos, proporcionando A Compressão de Média a Moderada indo
conforto aos ouvintes, mas sem além dos benefícios da compressão leve,
gerar alterações na sonoridade
das vozes e instrumentos.
vai segurando cada vez mais dos picos,
A Compressão Pesada tem efei-
to agressivo sobre o envelope
proporcionando um som de nível mais
uniforme, sem descaracterizar a

original. É útil quando se altera naturalidade dos envelopes sonoros.
intencionalmente o sinal por
motivos artísticos ou quando
o sinal que vem do palco é de assim que a cabeça dele bater na do nível médio do instrumento.
nível extremamente inconsis- lona, ela exercerá uma pressão Deixar um compressor atuando
tente. Essa compressão altera, contrária à energia com que ele direto como Limiter, com limiar
inclusive, a tonalidade do sinal. subiu, empurrando-o de volta baixo, terá o efeito de achatar as
A Compressão Tipo Limiter para baixo. Se a lona estiver ondas do sinal. Isto dá uma im-
garante que o nível não passa- frouxa (compressão leve), a ca- pressão de que o som está mais
rá do ponto determinado no beça dele conseguirá empurrá-la forte, mas sacrifica a dinâmica

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SOM NAS IGREJAS | www.backstage.com.br

da sonoridade natural da voz ou pelo som dos outros canais da streaming, este problema será
instrumento, aproximando o mix. Este efeito é positivo, mas bem mais facilmente percebido
formato da curva sonora ao de no som ao vivo é preciso traba- por quem usa fones.
36 uma onda quadrada. E por não lhar com cuidado, pois ao usar Outro problema que pode sur-
existirem as rampas naturais uma compressão muito pesada gir é quando a compressão é
inclinadas entre os picos e vales e deixar o canal bem para frente usada num subgrupo ou master
de sinal, as ondas quadradas na mix, no caso de canais cap- sem a compressão dos canais es-
obrigam os drivers e falantes nas tados por microfones, os sons tar bem ajustada. Por exemplo,
caixas a passarem quase instan- mais suaves evidenciados pela se numa banda com baixo, tecla-
taneamente da posição máxima compressão podem não ser os do e violão, o sinal do baixo não
à mínima, não permitindo que do instrumento mas, sim, refle- estiver adequadamente compri-
“respirem”. O resultado é ace- xões que o microfone captou mido no canal, e aplicarmos
lerar o seu aquecimento e em do som amplificado. Isto pode compressão no subgrupo dos
caso de superaquecimento estes sujar o som do canal e até causar instrumentos, quando a mix de
podem ser destruídos. uma microfonia rápida e forte, instrumentos chegar mais forte
O compressor também nos per- sem muito aviso prévio. No no compressor do subgrupo por
mite trazer um instrumento caso de instrumentos captados causa de uma maior energia pro-
mais para frente na mix, pois em linha, não há tanto risco duzida pelo baixo, o compressor
se garantimos que as suas passa- de microfonia (com violões, atuará como deve, baixando o
gens mais fortes não “estourem” por exemplo, pode haver), mas nível na taxa de compressão que
ou que ele fique muito mais poderá elevar ruídos de fundo determinamos. Mas por atuar
alto que os outros elementos como hum e chiado. Embora na mix no subgrupo, o compres-
da mix, teremos segurança para nem sempre seja perceptível no sor não atuará só no sinal do
deixar o fader do seu canal mais PA, porque as caixas projetam baixo e, sim, sobre toda a mix
elevado do que poderíamos o som do alto e este se mistu- dos instrumentos endereçados
sem compressão. Isto faz que os ra com a acústica e os sons da ao subgrupo. Daí, ao compri-
seus sons mais suaves, com seus congregação, se além do PA a mir a mix de instrumentos, em-
detalhes, passem a ser ouvidos mesma mix for enviada para a purrando o nível do sinal para
na mix sem serem “enterrados” gravação ou disponibilizada no baixo, em proporção à energia
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SOM NAS IGREJAS | www.backstage.com.br

do baixo, ele acabará baixando, dele bem alto e o tempo rápido 1 e o baixo no canal 10. Nos
na mesma intensidade, o som para segurar apenas os picos que parâmetros do Sidechain do
do violão e do teclado, que não escaparam da compressão nos canal do baixo, você escolhe
haviam subido assim e não pre- canais e subgrupos. o sinal do canal 1 para ativar
cisavam ser comprimidos. Na Considerando as possibilidades o compressor. Todas as vezes
prática, isto faz o som destes de variação dos níveis que vem que o sinal do bumbo passar
dois “inocentes” poder até su- do palco numa grande quanti- do limiar, o compressor atua-
mir da mix enquanto o baixo dade de canais, é bem possível rá reduzindo o nível do sinal
estiver tocando mais forte. que algo que foi inicialmente do baixo para que os sons
Outro caso semelhante ocorre ajustado acabe não sendo com- mais detalhados do bumbo
com o compressor na master. A primido ou sendo comprimido tenham chance de aparecer
rigor, a voz do vocal do líder de demais. As consoles digitais nos sem serem mascarados ou en-
louvor vem em primeiro plano. ajudam neste sentido com re- cobertos pelos sons do baixo
Se ele não estiver devidamente cursos para visualizar de forma que ocupam a mesma faixa
comprimido, quando for soma- simplificada a atuação do com- de frequencias. Além disto,
do (mixado) com os instrumen- pressor na própria tela de mixa- você poupa o seu sub ou suas
tos na master, o compressor gem. O ideal é que se ajuste na caixas de precisarem reprodu-
atuará sobre ele potencialmente passagem de som o limiar dos zir o dobro de energia com as
baixando o nível dos instrumen- compressores de todos os canais mesmas frequencias ou evitar
tos. Se não houver um equilí- para atuarem minimamente que elas gerem comb filter.
brio na mix, o inverso também sobre o nível médio de sinal. Embora este tema tenha sido
pode acontecer, os instrumen- Durante a apresentação, isto dividido em duas colunas (sen-
tos muito fortes podem ativar proporcionará uma referência do esta a segunda), é impor-
a compressão na master empur- visual de que, sim, o nível vindo tante notar que não se pode
38 rando a voz ou vozes para baixo. do palco continua coerente com ignorar o conteúdo da pri-
Enquanto o primeiro caso não é o que foi ajustado e quando for meira. O resultado audível da
natural, ele é menos preocupan- necessário, o compressor atuará compressão, a atuação sobre
te que o segundo caso em que se sobre os picos mais fortes. Se o o envelope sonoro, resulta
perde a voz guia para a congre- nível que vem do palco subir tanto da taxa de compressão
gação. Aliás, existem aplicações muito, você verá a atuação mais comentada aqui, quanto dos
em rádio onde se programa um pesada do compressor e se ele ajustes do Attack e Release
compressor para baixar a músi- baixar muito (pela mudança de vistos na primeira parte. Se o
ca de fundo quando entra a voz um efeito de guitarra, timbre tempo do ataque estiver mui-
do apresentador. de teclado, ou músico inseguro, to longo no canal da caixa,
Para evitar estas situações, apli- por exemplo) você verá que o por exemplo, a taxa de com-
que primeiro a compressão ade- compressor parou de atuar. pressão que determinamos
quada nos canais de entrada. nem atuará sobre o som prin-
Se a sua console oferece com- SIDECHAIN E DUCKING cipal produzido pelo impacto
pressão nos subgrupos, pode-se Mencionei, há pouco, a técnica da baqueta...
aplicar depois uma compressão usada nas rádios para baixar Espero que estas dicas e exem-
de moderada a média para “co- a música de fundo quando o plos tenham lhe ajudado a
lar” os elementos mixados no apresentador começar a falar. compreender mais dessa fer-
grupo. Esta compressão atuará No som ao vivo, os compresso- ramenta versátil que é a com-
sobre os picos de um ou outro res dotados de entrada Side- pressão. Agora é mão na mas-
instrumento que sobressaírem chain nos permitem usar um sa, para se familiarizar com
em relação aos demais deixando recurso parecido. Um exemplo a resposta do compressor ou
o nível sonoro do grupo mais clássico é fazer o Ducking do compressores que você tem à
uniforme, homogêneo ou “cola- sinal do baixo quando entra o mão. Boa sorte, e até a pró-
do”. E se for aplicar um Limiter som do bumbo. Digamos que xima quando prosseguiremos
na master, deixe o Threshold o seu bumbo esteja no canal com o tema da dinâmica.
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A HISTÓRIA E FUNCIONAMENTO
DOS COMPRESSORES ANALÓGICOS
Cesar Portela atua sempre ligado à eletrônica do áudio profissional. Os mais de trinta anos de
carreira o levaram também a dar consultoria em estúdios de gravação e mixagem famosos no
Brasil, como S de Samba, Baticum, Panela Produtora, Lógico Music, Som Max e outros. Projetista
restaurador, consultor e professor membro da Audio Engineering Society.

O
Caro leitor. s compressores de áudio se te, o controlado por FET (Field
dividem em cinco tipos bá- Effect Transistor) e o Voltage
Este mês vou falar
sicos de funcionamento. Os Controlled Amplifier ( VCA).
sobre a História mais conhecidos são: Vari MU
e funcionamento (controlado por válvula), o Óptico UM POUCO DA HISTÓRIA
dos compressores (controlado por uma fotocélula ), As primeiras transmissões de
de áudio. Compressor com diodos em pon- voz foram de uso militar para
instalações militares e gover-
namentais. Naquele momen-
to não havia a necessidade
de uma melhor qualidade
de som, tampouco controle
automático do ganho do mi-
crofone. O importante era a
compreensão clara da men-
sagem. Com a abertura de
emissoras de radio para fins
comerciais, surgiu à neces-
sidade de melhor qualidade
do áudio. Podemos imagi-
nar como seria desagradável
uma transmissão de voz sem
um processamento dinâmico
automático, o que até então
não existia. Só dependia da
habilidade do operador em
controlar o ganho do micro-
fone manualmente.
O primeiro compressor de
áudio foi projetado no inicio
dos anos 30 pela Telefunken.
O equipamento modelo U3
foi usado oficialmente pela
primeira vez em 1936, na
cerimônia de abertura dos
Foto 1: primeiro limitador de pico para uso em emissoras comerciais: o modelo 110A
jogos olímpicos em Berlin,
para controlar o nível do PA.
Infelizmente não encontrei RCA lança o modelo RCA- nho manualmente em tempo
imagens do modelo U3. Pou- -96ª. Ambos eram grandes, real.
cas unidades foram produzi- pesados e de funcionamento Em 1940 na Europa a Te-
das e não deve ter sobrado simples. Basicamente elimi- lefunken lançava a próxi-
nenhuma. navam excessos da modula- ma geração de compressores
Em 1937 a Western Electric ção. Naquela época foi um de áudio, o U13 e depois o
lançou o primeiro limitador salto tecnológico. O limita- U73, que foi o primeiro com-


pressor de ponte de diodos.
Em 1940 na Europa a Telefunken lançava Dizem alguns historiadores
que o U73 é a gênese dos
a próxima geração de compressores de áudio, compressores modernos. Do
o U13 e depois o U73, que foi o primeiro outro lado do atlântico na
compressor de ponte de diodos. Dizem alguns
historiadores que o U73 é a gênese
“ década de 50, a RCA produ-
ziu BA-6A. O compressor /
Limitador, considerado revo-
dos compressores modernos. lucionário na época, foi um
item essencial para o bom
de pico para uso em emis- dor resolvia o problema dos funcionamento de qualquer
soras comerciais: o modelo operadores de áudio que não emissora ou estúdio de grava-
110A (foto 1). Em seguida a mais precisavam ajustar o ga- ção. Tornou-se praticamente

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AC em DC. O sinal já con-


vertido em voltagem é usa-
do para controlar o circuito
de ganho. Os compressores
que usam diodos em ponte
(como o NEVE 33609) são
mais rápidos que os óticos e
tem menor distorção que os
controlados por FET (como
o 1176).
Entre o final dos 60´s e ini-
cio dos 70´s começam a apa-
Foto 2: compressor Limitador BA-6A recer os compressores com
resposta rápida. Os controla-
um padrão para cor tes de optical cell T4. Na década dos por FETs da Urei (clássi-
discos, melhorando sensivel- de 60 tornou-se frequente cos 1176) e o EMT 156, con-
mente a relação sinal ruído o compressor por ponte de trolado por Pulse Width Mo-
dos produtos. Hoje o com- diodos. Tratava-se do uso de dulation (PWM). O uso do
pressor Limitador BA-6A é diodos configurados como PWM não se tornou tão po-


pular com o controlado por
FET. A partir de meados dos
Na década de 60 tornou-se frequente o anos 70, David Blackmer,
compressor por ponte de diodos. Tratava-se da DBX, desenvolveu o Vol-
tage Controlled Amplifier (
do uso de diodos configurados como uma ponte “ VCA) no formato Black Can
retificadora para converter o sinal (montados com componen-
42 de áudio AC em DC. tes discretos dentro de uma
lata). Mais um grande salto
foi dado pela engenharia ele-
um modelo histórico com uma ponte retificadora para trônica em favor da indústria
alto valor financeiro (foto 2). converter o sinal de áudio do entretenimento. A apli-
Em 1958 a Teletronix lança
o LA-2ª, ainda usando o cir-
cuito totalmente valvulado,
mas com alguns componen-
tes modernos pra época. Por
exemplo, os diodos retifica-
dores de silício e a sofisti-
cada Foto Célula T4 (foto
3). O compressor Limitador
com controle baseado em
foto célula trouxe a capacida-
de de preservar a impressão
dinâmica até quando usado
em situação extrema. Com a
popularização dos transisto-
res, a empresa lança o LA-3.
Um compressor totalmente
transistorizado. Porem usan-
do a bem sucedida electro Foto 3: Foto Célula T4
do em formato de circuito
integrado pela THAT® nos
compressores, também possi-
bilitou maior acesso ao equi-
pamento. Desde os anos 90 é
possível cada vez mais encon-
trar equipamentos de cus-
to aceitável como consoles
equipados com compressores
em todos os canais.
Os compressores / Limita-
dores continuam usando es-
sas consagradas tecnologias.
Nada eficiente apareceu des-
de então. Mas acho que nem
precisa... Desde o Vari MU
até o VCA , os projetistas só
têm melhorado seus projetos
com o aumento das facilida-
des através dos anos. Imagine
quanto custou para a RCA
desenvolver o Limiter BA-
-6A nos anos 50 ?
Na segunda parte do artigo
vou descrever em detalhes o
funcionamento e caracterís-
Black Can feita pelo David Blackmer instalada na placa de um DBX 165A
ticas de cada um dos 5 tipos
cação do VCA foi gigantes- trolados usados em Broad- de compressores. Embora o
ca. Após isso foram criados cast. Muitos fabricantes de conceito seja o mesmo, a di-
consoles com Total Recall consoles como ferença entre as topologias e
por exemplo. Nos anos 80 o MCI, Sony e Yamaha apenas suas particularidades promo-
projetista Bob Orbam criou para citar alguns, também vem grandes mudanças no
os compressores multibanda aproveitaram essa tecnolo- resultado. Coisas do mundo
híbridos digitalmente con- gia. O uso do VCA fabrica- analógico.

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