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Janeiro 2023
Os tempos de Deus
H
CURSO ON-LINE
Conselho de Redação: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 8
Severiano Antonio de Oliveira;
Silvia Gabriela Panez; A vitória da fidelidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 40
Marcos Aurelio Chacaliaza C.
Aconteceu na Igreja e
Administração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 14 no mundo
Rua Diogo de Brito, 41
De perseguidores a
02460-110 - São Paulo - SP
admrevista@arautos.org.br condenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 44
Assinatura e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 18 História para crianças... –
atendimento ao assinante:
Um incêndio na
De pequenino é que floresta
(11) 2971-9050 disciplino o pepino
(nos dias úteis, de 8 às 17:00h) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 46
Assinatura e Participação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 22
Os Santos de
Assinante (anual): .............. R$ 204,00 únicos
Prediletos de Deus cada dia
Participante (por tempo indeterminado):
Colaborador.................... R$ 40,00 mensais
Benfeitor......................... R$ 50,00 mensais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 48
Grande Benfeitor............ R$ 60,00 mensais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 24
Exemplar avulso................ R$ 17,00
Santo Alberico – Líder de O valor do tempo
Os artigos desta revista poderão ser uma rebelião monacal
reproduzidos, desde que se indique a fonte
e se envie cópia à Redação. O conteúdo das
matérias assinadas é da responsabilidade
dos respectivos autores.
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 28 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
.. 50
Três dias depois, Jesus ressuscita em glória e reagrupa os Apóstolos em torno de Si.
Contudo, completados quarenta dias o Senhor os deixa novamente. E agora? O
que esperar de uma dúzia de ignorantes (cf. At 4, 13) para constituir a Igreja e difun-
di-la por todo o orbe?
Se “a verdade é filha do tempo”, como atesta o adágio, a recíproca mostra-se ainda
eus
mais real: “o tempo é filho da Verdade”. Mais: se a História é a mestra da vida, Aquele
os de D que afirmou ser a Vida (cf. Jo 14, 6) é o Mestre da História. Destarte, a Providência
Os temp
operou a Encarnação na “plenitude dos tempos” (Gal 4, 4) e aproveitou-se da própria
estrutura do Império Romano – como que em um “revide” a Pilatos – para difundir a
Relógio de areia Boa-Nova até os confins da terra. Em resumo: o que era mais improvável aconteceu…
Foto: Gustavo Kralj
A História, pois, não é um conto de fadas, nem muito menos uma comédia. Ela se
assemelha a um drama repleto de tragédias, surpresas e superações. Nesse sentido,
encontramos na Bíblia narrações edificantes, como o episódio em que Susana, con-
denada injustamente à pena capital por adultério, é salva nos bordes da morte graças
à sua fervente oração e à intervenção inspirada de Daniel.
Ademais, iníquos julgamentos e condenações à morte continuaram recorrentes
na História da Igreja desde os primórdios do Cristianismo, até alcançar sentenças
famosas, como a de Santa Joana d’Arc, São Tomás More e as santas mártires carme-
litas de Compiègne.
Nesses casos poder-se-ia objetar que a justiça falhou, pois inocentes pereceram
pelo arbítrio dos julgadores. No entanto, eles receberam o mais perfeito sufrágio, a
saber, o que conduz ao Paraíso. Mais ainda: no Juízo Final, grande acerto de contas
em que tudo será inexoravelmente revelado, a justiça finalmente triunfará e os ím-
pios “falharão” por toda a eternidade. ²
Intervenções divinas
na existência humana
O Senhor da História não permanece indiferente perante a fúria dos
prepotentes, que se julgam os únicos árbitros das vicissitudes humanas: Deus
reduz ao pó da terra todos aqueles que desafiam o Céu com a sua soberba.
O
Salmo que acabamos de Bondoso Pai dos humildes, que têm o coração atribulado, e cura
cantar é a primeira parte severo Juiz dos soberbos as suas rupturas’. […] Com outras pa-
de uma composição que Depois do convite festivo ao lou- lavras, cura os humildes de coração,
inclui também o Salmo vor (cf. v.1), o Salmo desenvolve-se os que confessam, que se punem, que
seguinte, 147, e que o original hebrai- em dois movimentos poéticos e espi- julgam com severidade para poder
co conservou na sua unidade. Foram rituais. No primeiro (cf. v.2-6) intro- experimentar a sua misericórdia. Eis
as antigas versões grega e latina que duz-se antes de mais a ação histórica quem cura. Mas a saúde perfeita será
dividiram o cântico em dois Salmos de Deus, sob a imagem de um cons- alcançada no fim do presente estado
diferentes. trutor que está edificando novamente mortal, quando o nosso ser corruptí-
O Salmo começa com um convite Jerusalém, que recuperou a vida de- vel for revestido de incorruptibilida-
para louvar a Deus e depois enumera pois do exílio na Babilônia (cf. v.2). de e o nosso ser mortal estiver reves-
uma longa série de motivos de louvor, Mas este grande Artífice, que é o tido de imortalidade”.
todos expressos no presente. Trata- Senhor, revela-Se também como um Mas a obra de Deus não se ma-
-se de atividades de Deus, conside- Pai que Se inclina sobre as feridas nifesta apenas através da cura dos
radas características e sempre atuais; interiores e físicas, presentes no seu sofrimentos do seu povo. Ele, que
mas são de gêneros muito diferentes: povo humilhado e oprimido (cf. v.3). circunda os pobres de ternura e cui-
algumas referem-se às intervenções Demos espaço a Santo Agosti- dados, eleva-Se como Juiz severo
de Deus na existência humana (cf. Sl nho que, na Exposição sobre o Sal- em relação aos soberbos (cf. v.6). O
146, 3.6.11) e sobretudo em favor de mo 146, feita em Cartago em 412, Senhor da História não permanece
Jerusalém e de Israel (cf. v.2); ou- comentava do seguinte modo a frase indiferente perante a fúria dos prepo-
tras referem-se ao universo criado “O Senhor cura todos os que têm o tentes, que se julgam os únicos árbi-
(cf. v.4) e mais especialmente à terra coração atribulado”: “Quem não tem tros das vicissitudes humanas: Deus
com a sua vegetação e com os ani- o coração atribulado não é curado. reduz ao pó da terra todos aqueles
mais (cf. v.8-9). […] Quem são aqueles de coração que desafiam o Céu com a sua sober-
Por fim, dizendo de quem o Se- atribulado? Os humildes. E os que ba (cf. I Sm 2, 7-8; Lc 1, 51-53).
nhor Se apraz, o Salmo convida-nos não atribulam o coração? Os sober-
a ter uma dúplice atitude: de temor bos. Contudo, o coração atribulado é
Senhorio sobre a História
religioso e de confiança (cf. v.11). Nós curado, o coração repleto de orgulho e sobre a criação
não estamos abandonados a nós mes- é derrubado. Aliás, provavelmente, Mas a ação de Deus não se esgo-
mos ou às energias cósmicas, mas se derrube precisamente para que, ta no seu senhorio sobre a História;
estamos sempre nas mãos do Senhor, depois da tribulação, possa ser res- Ele é também o Rei da criação, todo
devido ao seu projeto de salvação. tabelecido, curado. […] ‘Ele cura os o universo responde à sua chamada
Reprodução
a Evangelho A
12
Ao saber que João tinha sido preso, Jesus chamado Pedro, e seu irmão André. Estavam
voltou para a Galileia. 13 Deixou Nazaré e foi lançando a rede ao mar, pois eram pescadores.
morar em Cafarnaum, que fica às margens 19
Jesus disse a eles: “Segui-Me e Eu farei de
do Mar da Galileia, 14 no território de Za- vós pescadores de homens”. 20 Eles imediata-
bulon e Neftali, para se cumprir o que foi mente deixaram as redes e O seguiram.
dito pelo profeta Isaías: 15 “Terra de Zabu- 21
Caminhando um pouco mais, Jesus viu ou-
lon, terra de Neftali, caminho do mar, região tros dois irmãos: Tiago, filho de Zebedeu, e
do outro lado do Jordão, Galileia dos pagãos! seu irmão João. Estavam na barca com seu
16
O povo que vivia nas trevas viu uma gran- pai Zebedeu consertando as redes. Jesus os
de luz, e para os que viviam na região escura chamou. 22 Eles imediatamente deixaram a
da morte brilhou uma luz”. barca e o pai, e O seguiram.
17
Daí em diante Jesus começou a pregar dizen- 23
Jesus andava por toda a Galileia, ensinando
do: “Convertei-vos porque o Reino dos Céus em suas sinagogas, pregando o Evangelho do
está próximo”. 18 Quando Jesus andava à beira Reino e curando todo tipo de doença e enfer-
do Mar da Galileia, viu dois irmãos: Simão, midade do povo (Mt 4, 12-23).
Guerreiros da Luz
O relato do início da vida pública do Salvador, explosão de
luz divina em meio a um mundo afundado nas trevas, enche
de esperança os corações católicos, aflitos pelo aparente
domínio do mal em nossos dias
õ Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP
Reprodução
Durante a Revolução Francesa, muitos capitularam diante da impiedade
implantada pela “nova ordem”. Entre os pouquíssimos que resistiram
com fidelidade, encontram-se as carmelitas de Compiègne.
õ Ir. Patricia Victoria Jorge Villegas, EP
H
ouve períodos na História prevalecerão contra a Igreja (cf. Mt pela guilhotina, mas também pelos
em que a Santa Igreja bri- 16, 18). Às vezes, são almas isoladas afogamentos em massa, pelos encar-
lhou diante dos homens que sofrem no anonimato da clausura ceramentos, pelas deportações, pelos
com extremo esplendor, uma dura vitimação interior; outras fuzilamentos, pela violência da po-
como uma rainha que governa firme vezes, são comunidades inteiras que pulaça e das verdadeiras chacinas”.1
e docemente os povos; em outras épo- preferem optar pela glória do martí- Embora dirigida à abolição da mo-
cas, ela se fez pequenina nos braços de rio a desertar do caminho da fideli- narquia, pode-se dizer que a instau-
seus filhos, escondendo sua sabedoria dade. Isto se deu com as carmelitas ração da república se deu às custas de
e grandeza a fim de ser conduzida por de Compiègne, durante os furores da uma autêntica perseguição religiosa.
eles, como o Menino Jesus na infân- Revolução Francesa. Esse difícil período da História
cia. Entretanto, ela deitou seus mais francesa trouxe ao até então flores-
belos fulgores quando foi perseguida
Ódio contra a Igreja cente Carmelo de Compiègne, no
pelo mundo e pelos infernos na pessoa Não há como negar que o ímpeto norte do país, um futuro incerto.
de seus filhos eleitos, radicais na en- revolucionário daqueles conturba-
trega ao bem, pois nestes momentos dos dias descarregou-se de forma
Primeira invasão do mosteiro
pôde provar a força de sua imortali- violenta contra a Igreja. Com efeito, Em agosto de 1790, a Revolução já
dade, a riqueza de sua santidade e o “a constelação de mártires de Jesus havia declarado a supressão dos vo-
heroísmo de sua fé. Cristo nunca se multiplicou tão re- tos religiosos e a Constituição Civil
Quão difícil é compreender essa pentinamente na França quanto nos do Clero. Muitos, hélas, capitularam
realidade numa civilização em que primeiros anos da Revolução. Milha- diante da “nova ordem”. Vários fugi-
a dor e o sofrimento constituem os res de cristãos pereceram, não apenas ram para o estrangeiro. Pouquíssimos
principais adversários dos homens! resistiam com fidelidade, e era contra
No entanto, a exemplo de seu Divi- estes que se voltava toda a sanha da
no Esposo, é no alto da Cruz que a A Igreja deitou seus Revolução.
Igreja forja seus verdadeiros filhos, Entre os fiéis estavam as carmeli-
suas almas prediletas, seus outros mais belos fulgores tas de Compiègne. No dia 5 de agosto
Joões que junto a Maria Santíssima quando perseguida membros do Diretório, acompanha-
permanecem de pé diante de todos dos de uma dezena de guardas, vio-
os tormentos, completando com seu na pessoa de seus laram a clausura do mosteiro pela
sangue o que falta às tribulações de primeira vez. Eles desejavam “con-
Cristo (cf. Col 1, 24). filhos fiéis, pois ferir”, numa conversa particular com
Os séculos se passam e esses elei- cada religiosa, se estavam vivendo
tos constituem uma cadeia de ouro a
então provou a força na comunidade de livre e espontâ-
sustentar a promessa do Divino Mes- de sua imortalidade nea vontade, sem constrangimento,
tre de que as portas do inferno não ou se guardavam um desejo secreto
Francisco Lecaros
Martírio das carmelitas de Compiègne - Convento de Santa Teresa, Palma de Maiorca (Espanha);
na página anterior, cena do filme “La Révolution Française. Les Années Terribles”
Reprodução
— Eu vos agradeço, cida- zinha. Todas as suas filhas es-
dão, por essa feliz resposta! – pirituais a aguardavam no Céu.
disse a religiosa. Ela as havia encorajado e agora
E, voltando-se para suas não tinha em quem se amparar,
companheiras, continuou: a não ser no Cordeiro Imolado,
— Minha querida madre e que a chamava para junto de Si
minhas irmãs, exultemos de ale- com extremos de amor.
gria no Senhor, pois morreremos
por causa de nossa santa Religião,
Holocausto aceito por Deus
nossa Fé, nossa confiança na Santa Como um verdadeiro capitão, que
Igreja Católica. é sempre o último a sair do navio,
Quanta alegria! Elas seriam real- Madre Teresa de Santo Agostinho
mente mártires, porque morreriam afinal avançou para a morte e, em
As carmelitas de Compiègne sobem ao
por “apego” à Religião. Quando fi- Céu após o martírio poucos minutos, consumou o memo-
nalmente foi pronunciada a sentença, rável holocausto de Compiègne. A
elas exultaram, apesar dos naturais profecia estava cumprida, o ofereci-
estremecimentos do instinto de con- Poucos dias após a mento encerrado. O cadafalso havia
servação; Fouquier de Tinville, sem sido o altar da imolação para aquelas
se dar conta, abria-lhes naquele dia as morte das religiosas, eleitas.
portas do Paraíso. Dez dias depois, morreu Robes-
teve fim o período do pierre e acabou o período do Terror
Rumo à guilhotina… entre na França. O sacrifício do Carmelo
cânticos de glória! Terror na França: o de Compiègne fora agradável a Deus!
Terminado o julgamento, as dezes- sacrifício do Carmelo A perseguição, o ódio e a injustiça
seis carmelitas foram postas em uma da Revolução contra essas almas fi-
charrete e conduzidas ao cadafalso. de Compiègne fora éis terminaram se transformando em
A emoção que invadia seus corações glória para a Santa Igreja, mas tam-
levou-as a cantar, durante o percurso,
agradável a Deus! bém em sinal para os ímpios de todos
o Miserere e a Salve Regina. os tempos, que perdem seu tempo
Chegaram, afinal, à praça onde se- Madre Teresa emocionou-se por ver conspirando contra a Esposa Mística
riam executadas. A guilhotina, minis- realizadas naquela jovem as palavras de Cristo: “O Senhor, que é o Deus
tra de constantes morticínios, as espe- proféticas do sonho: “As irmãs mais das contas, não deixará de lhes dar a
rava. Bastavam três ruídos para cada novas estavam mais elevadas em gló- paga” (Jr 51, 56).
execução: o desprender da lâmina, sua ria que algumas irmãs mais antigas”.
descida e… o rolar da cabeça. Aos pés — Vá, minha filha – respondeu a
do cadafalso, todas se ajoelharam e priora.
renovaram os seus votos. Em seguida, Com uma coragem indizível, a 1
BUSH, William. Apaiser la Terreur. Su-
a religiosa mais nova da comunidade, Ir. Constância subiu os degraus do resnes: Clovis, 2001, p.27-28.
Ir. Constância, que só nesta ocasião cadafalso entoando o Salmo L audate 2
Idem, p.71-72.
tivera a oportunidade de realizar sua Dominum omnes gentes, e… logo 3
Cf. MARIE DE L’INCARNATION. Ma-
profissão perpétua, aproximou-se da tornou-se participante das “núpcias do nuscrit I. In: BUSH, William (Ed.). La re-
priora e, de joelhos, suplicou: Cordeiro” (Ap 19, 9). Foi ela a primei- lation du martyre des seize carmélites de
— Permissão para morrer, madre. ra a encontrar-se com o Divino Esposo! Compiègne. Paris: Du Cerf, 1993, p.85-86.
A
noite de 18 ou 19 de julho de ocasionado pelas intensas temperatu- Acrescia que, antes mesmo de a
64 d.C. foi palco da cena que ras sazonais e potencializado pela ma- capital ser incendiada, o governo de
marcará até o fim do mun- deira das moradias da cidade. Toda- Nero havia iniciado um período de
do o reinado do Imperador via, ninguém descartava a possibilida- verdadeira tensão. Contavam-se cin-
Nero. Um verão tórrido flagelava os de de um atentado: a quem aproveitava co anos que ele encomendara a morte
moradores de Roma, capital da potên- o crime? Sabia-se que Nero desejava de Agripina, sua mãe; mandara tam-
cia cujas vastidões se estendiam até os reconstruir os principais edifícios ro- bém degolar a própria esposa, Otávia,
limites do mundo então conhecido. manos ao estilo de Alexandria, segun- para dar seu lugar a uma concubina.
As trombetas de alarme anunciaram do um plano majestoso. Tais projetos, Tamanhas iniquidades não ajuda-
a hecatombe: um incêndio de propor- somados a outras afirmações suas e a vam a inocentá-lo dos rumores. Temen-
ções incomuns, propagado através dos alguns boatos, transformaram o impe- do sofrer algum atentado, Nero perce-
casebres de madeira amontoados pela rador no principal suspeito. beu que precisava limpar sua reputação
cidade, devastava todos os monumen- junto ao povo. Para isso, era necessário
tos, que compunham o mais expressi- encontrar um bode expiatório. E ele
vo corolário da cultura greco-latina. Eis a gloriosa escolheu os cristãos para o holocausto:
O drama perdurou cerca de cento aqueles párias da sociedade se encaixa-
e cinquenta horas, liquidando quase Roma dos Césares riam como luva no papel de culpados.
toda a urbe. Eis a gloriosa Roma dos convertida num Numa noite de agosto, dentro do
Césares convertida num teatro infer- próprio circo de Nero, local onde hoje
nal; já não há mais do que pó e cinzas. teatro infernal... se encontra a Basílica de São Pedro,
cristãos de todas as idades e ambos
Os “culpados” Qual teria sido a os gêneros foram ferozmente tortura-
Qual terá sido a faísca que detonou dos, degolados, caçados como feras e
essa catástrofe?
faísca que detonou submetidos às piores vexações morais,
Aos olhos de muitos sobreviven- essa catástrofe? tudo à luz de tochas compostas por
tes, tratava-se de um mero acidente, pessoas vivas, para saciar a sede de
Reprodução
“A última prece dos mártires cristãos”, por Jean-Léon Gérôme - Museu de Arte Walters,
Baltimore (Estados Unidos); em destaque, busto de Galério - Palácio de Galério, Gamzigrad (Sérvia)
Rosa de la Torre
õ Pe. Felipe de Azevedo Ramos, EP
ciplina era duas vezes mais importan- educação parental: permissivista, ou nossa situação pode estar ainda mais
te do que o QI para o bom desempe- seja, sem regras; autoritário, com re- grave.
nho estudantil.2 gras rigidamente impostas; e persua-
Isso se aplica também à boa per- sivo, com regras explicadas. O artigo
Para que o “pepineiro”
formance nos esportes. A mãe de evidencia que o número de crianças dê bons frutos…
Rayssa Leal, a mais jovem medalhis- suscetíveis a assistir televisão por Para concluir: como está a situa-
ta olímpica do Brasil, que contava mais de quatro horas diárias em cada ção em sua casa? Já pensou em des-
treze anos quando obteve o prêmio, grupo foi respectivamente de 20%, ligar um pouco os aparelhos eletrôni-
assim comentou sobre a conquista da 13% e 7%. Em outras palavras, as re- cos? Atividades tão humanas como
filha: “O resultado não tem a ver com gras disciplinares são mais eficazes conversar, cantar, brincar ou ler, flui-
a idade, mas são o esforço e a discipli- se aplicadas – e explanadas – com rão automaticamente…
na que fazem uma campeã”. sabedoria. De fato, assim como a planta não
Desmurget conclui que o consu- precisa apenas de podas e estacas,
“A fábrica de cretinos digitais” mo lúdico dos dispositivos digitais mas também daquilo que vem do alto
Diante da atual avalanche de dis- pelas novas gerações não só está – o sol e a chuva –, assim também o
trações, em especial provocada por exagerado, mas fora de controle. homem necessita, além da disciplina,
dispositivos eletrônicos, requer-se Ora, considerando o deficitário de- contemplar mais as coisas do Alto –
ainda mais o “tempero” da disci- sempenho dos alunos brasileiros nos o Altíssimo, o transcendente, os ele-
plina. É o que conclui o livro A fá- rankings mundiais de educação, a vados valores da vida – e menos o
brica de cretinos digitais – Os peri- brilho opaco das telas digitais. Dessa
gos das telas para nossas crianças, forma, o “pepineiro” não só crescerá
do neurocientista francês Michel Assim como a planta bem, como dará ótimos frutos. ²
Desmurget.
A obra comprova, por exemplo, não precisa apenas
que o bom desempenho escolar é in- de podas e estacas,
versamente proporcional ao tempo
1
ARAÚJO SILVA, José Pedro A. de. Da
de exposição às telas – de computa- o homem necessita, arte de educar. A escola do Caraça. Belo
Horizonte: O Lutador, 2019, p.384.
dor, de celular, de televisão, etc. –, as
quais são cada vez mais utilizadas além da disciplina, 2
Cf. DUCKWORTH, Angela L.; SELIG-
MAN, Martin E. P. Self-Discipline
para entretenimento e menos para
trabalhos escolares.
de contemplar mais Outdoes IQ in Predicting Academic Per-
formance of Adolescents. In: Psychologi-
O autor cita ainda um estudo de as coisas do Alto cal Science. Ano XVI. N.12 (dez., 2005);
2011 que analisou três estilos de p.939-944.
Quando ouvimos
falar em perseguição,
lembramos dos
mártires que
entregaram suas
vidas em fidelidade
à Fé Católica
Reprodução
Líder de uma
rebelião monacal
O Espírito Santo não age em conformidade com o espírito do mundo
e, para santificar as almas, suscita a oposição aos costumes do tempo.
Queiram os homens ou não, a mão de Deus está ali.
O
s recém-chegados eram alguns pensavam que a rigidez na multidões e revigoraram uma era
objeto de comentários em forma de vida dos monges não era um histórica.
toda a região. Por certo, problema, mas o remédio para a so-
tratava-se de religiosos. ciedade e para a Igreja.
A crise na Igreja e o estopim
Mas a que Ordem pertenciam? Nin- A imensa maioria das pessoas, de uma santa rebelião
guém o sabia. Alguns mais informa- porém, admirava em silêncio aquilo Ao longo de sua existência duas
dos afirmavam serem monges revolta- que via ser heroísmo, virtude e santi- vezes milenar, a Igreja passou por
dos que, descontentes no seu mosteiro, dade. Hesitava em aplaudir, porque se inúmeros momentos difíceis. Entre-
resolveram fundar uma nova casa com sentia compelida a imitá-lo, mas não tanto, a crise que ela atravessou em
outro regulamento, tendo ali se fixado. possuía a coragem necessária para torno do ano 1000 parecia indicar que
Eles mesmos levantaram os muros de trilhar a mesma via. a Esposa Mística de Cristo – imortal
sua moradia. Trabalharam com ardor, Quem eram esses homens que pro- por promessa divina – entrara em
interrompendo a tarefa apenas para os vocavam apreciações tão díspares? agonia. Os escândalos e os abusos
momentos de oração. Um grupo de monges guiado por multiplicavam-se por toda parte, pro-
Aqueles homens suscitavam opi- varões intrépidos que, em fins do sé- vocados, muitas vezes, por eclesiásti-
niões bem diversas a respeito de si. culo XI, decidiram fazer uma revol- cos e pastores indignos de seu cargo e
Uma parcela do povo e das autori- ta… santa! Eles fundaram a Ordem negligentes com suas ovelhas. O edi-
dades religiosas os criticavam por Cisterciense, arrastaram atrás de si fício do Catolicismo estava minado
suas maneiras e costumes, pelas na sua própria estrutura hierárquica.
vestes que adotaram, pela austerida- O Espírito Santo, porém, não
de das normas. Era, segundo se di- Um grupo de monges deixou de engendrar almas santas
zia, uma disciplina demasiadamente naquele período. Assim, o século que
rígida, uma concepção estreita da guiado por varões se seguiu à crise viu florescer diver-
Fé, inadequada para um mundo em intrépidos decidiu sos movimentos religiosos sedentos
evolução. Julgavam-nos fadados ao de uma vida mais perfeita. Uma bri-
desaparecimento. fazer uma santa sa de fervor e de virtude percorreu a
De outra parte, havia quem admi- Europa.
rasse a radicalidade daquele pugilo. revolta, que arrastou Esses sentimentos animaram um
Não fora dito pelo Salvador que a monge beneditino, que se tornaria
porta da salvação é estreita (cf. Mt
multidões e revigorou conhecido pelas próximas gerações
7, 14) e que no Céu só entram os que uma era histórica como São Roberto de Molesme, a
fazem violência (cf. Mt 11, 12)? Sim, iniciar uma reforma no seio de sua
Sumário
local onde pudessem continuar sua conjunto, a Mãe de Deus lhes apa- da Ordem preservou até os nossos
“rebelião”. receu portando “em suas mãos um dias sua memorável devoção maria-
Encontraram-no próximo de Di- manto branco e resplandecente, que na: “Maria, Rainha dos Anjos, era a
jon, no vale do Saône, e ali se estabe- impôs sobre a cabeça do estupefato luz do santo abade Alberico”.3
leceram no dia 21 de março de 1098. abade”.2 Assim, as vestes níveas dos A ele é atribuído o costume de in-
O lugar era desabitado e pantanoso, cistercienses passaram a simbolizar vocar Maria enquanto “Senhora”.4 Na
repleto de juncos, chamados cistels sua vida de perfeição, e o povo, em piedade medieval, os fiéis dirigiam-
pelos medievais. Por isso a nova aba- sua admiração, começou a chamar -se mais frequentemente à Mãe Deus
dia, construída com afinco pelos re- aqueles homens austeros de “mon- como “a Virgem”. Alberico, entretan-
ligiosos, logo passou a ser conhecida ges brancos”. to, quando pregava aos seus monges
como Cîteaux – Cister, em português. Foi Alberico também quem ob- no capítulo A chamava de “minha
Tendo vivido ali por um ano, Ro- teve a proteção pontifícia para o Senhora”.
berto recebeu ordens de voltar a Mo- mosteiro de Cister e instituiu os ir- Quantas vezes a comunidade pre-
lesme, conforme decisão de um lega- mãos conversos, ou irmãos leigos, os senciou o abade falar d’Ela como uma
do pontifício. À frente de Cister ficou quais, apesar de viverem na comuni- criança encantada por sua mãe! Aque-
Alberico, com a missão de continuar dade, não professavam os votos. la feliz expressão tornou-se comum
a fervorosa revolta. entre os monges brancos, sendo-lhes
Quem primeiro invocou a costume repetir: “A Senhora de Albe-
O abade dos monges brancos Virgem como “Nossa Senhora” rico nos ajudará!” E a Senhora de Al-
Santo Alberico ocupou o abaciado As narrativas históricas cister- berico logo Se tornou Nossa Senhora
durante dez anos. Período tremen- cienses conservaram poucos traços de Cister, para ser hoje, nos lábios de
do, no qual a penúria de alimentos e biográficos sobre ele, mas a tradição qualquer alma aflita, Nossa Senhora.
a escassez de vocações sacudiram a
comunidade. As provações, contudo,
A última e maior prova
não abalaram em nada sua fé. Certa noite Nossa No outono de 1108, Alberico adoe-
Insaciável de radicalidade, este ceu gravemente e tudo parecia indicar
monge “rebelde” decidiu renovar a Senhora apareceu a que a santa rebelião fora vã: os mon-
indumentária. Naquele tempo, o há- Alberico e impôs-lhe ges brancos haviam causado admira-
bito de cor negra se tornara universal. ção no medievo, mas atraíram poucos
Alberico, porém, determinou que seus um manto branco, seguidores. Cister era como uma pra-
religiosos trajassem um hábito de lã
branca, cujo tecido, de qualidade infe- que passou a ser o
rior, era mais conforme à regra de São
Bento e à pobreza evangélica.
símbolo do ideal
Conta-se que numa noite, enquan- cisterciense
to ele e os outros monges rezavam em
Sumário
ça sitiada que se renderia por falta de A radicalidade de Santo Alberico,
combatentes. E Alberico sabia dis- todavia, está em inteira confor-
so. A reforma teria sido realmen- midade com o ensinamento de
te desejada por Deus? Nosso Senhor Jesus Cristo, o
Quando Alberico fechou qual disse que não veio abo-
os olhos para esta vida no lir a Lei, mas dar-lhe pleno
dia 26 de janeiro de 1109, cumprimento (cf. Mt 5, 17).
certamente havia vencido a As recriminações dirigi-
última e maior prova: acre- das à seita farisaica, tida
ditar que, apesar de todas por radical, se deviam à
as aparências em contrário, sua hipocrisia, pois seus
sua obra vingaria. Essa cer- membros não viviam o que
1
ORIGINES CISTERCIEN- Antuerpiæ: Ioannem Meur- ris: François-Xavier Guibert, de Citeaux. Barcelona: Her-
NES. Les plus anciens textes. sium, 1643, t.II, p.755. 1998, t.V, p.28. der, 1981, p.217.
Paris: Du Cerf, 1998, p.55-56. 3
GOBRY, Ivan. Les moines 4
Cf. RAYMOND, OCSO, M. 5
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUI-
2
BOLLANDUS, SJ, Ioannes. en Occident. Cîteaux. Pa- Tres monjes rebeldes. La saga NO. Suma Teológica. II-II,
Acta Sanctorum. Ianuarii. q.24, a.7.
Uma encruzilhada na
História da França
Nos momentos em que se decide o futuro de um país,
a boa preparação, somada a um gênio enérgico e altivo,
pode garantir as conquistas necessárias. A atuação do
“Grand Condé” na Batalha de Rocroi destaca-se
Francisco Lecaros
M
uitas ocasiões houve o levaria à morte em pouco tempo. O cos, a França via, ademais, erguer-se
na História em que o homem de sua confiança, o Cardeal a sombra ameaçadora da maior força
futuro de uma nação, Richelieu, estadista que se mostrara bélica de então, os temidos tercios
ou mesmo do mundo, irredutível diante das grandes po- espanhóis, invencíveis havia mais de
se decidiu em função de uma alma tências da época, também nada pôde cem anos, que se dirigiam contra ela
aparentemente débil, mas que car- quando a doença – esse inimigo mui- comandados por um experiente ofi-
regava em si a promessa de grandes tas vezes enviado pelo próprio Deus cial, Don Francisco de Melo. Se não
realizações. – bateu às suas portas e, já no ano an- fosse tomada alguma medida drástica,
Assim, a bela França do início do terior, entregara a alma ao justo juízo em pouco tempo a filha primogênita
século XVII deveu todos os faustos divino, e o título de primeiro-ministro da Igreja sucumbiria sob os piquetes e
e esplendores de Luís XIV a um jo- ao seu protegido, o Cardeal Mazarino. arcabuzes da infantaria inimiga.
vem que não completara sequer vinte Enfraquecida por tal instabilidade O monarca francês, vivendo seus
e dois anos: Luís II de Bourbon, Du- política, combatida em todos os flan- últimos dias, não temeu colocar todo
que d’Enghien e Príncipe de Condé, o seu exército sob a direção de um
dito o Grand Condé. E isso aconteceu militar relativamente inexperiente,
graças a uma batalha… Luís XIII não e lançou uma cartada desesperada:
nomeou Luís, Duque d’Enghien,
Um grande perigo para a França temeu nomear como como chefe de sua armada. Nesse
Corria o ano de 1643. A Euro- comandante do seu momento, o destino da França esta-
pa vivia a Guerra dos Trinta Anos, va nas mãos de um moço de vinte e
conflito religioso profundamente exército um moço de um anos… Mas quem era o jovem ao
amalgamado com assuntos políticos, qual o rei confiava suas tropas?
a propósito do qual rios de sangue vinte e um anos, em
já haviam corrido em boa parte do
A juventude de Luís II de Bourbon
continente.
cujas mãos recaía o Luís, filho de Henrique II de Con-
O monarca francês, Luís XIII, en- destino da França dé e de Carlota Margarida de Mont-
contrava-se enfermo, de um mal que morency, nasceu em 8 de setembro de
1
HENRI ROBERT. Os grandes 3
Idem, p.59. 5
HENRI ROBERT, op. cit., P. (Ed.). Collection intégra-
processos da História. Por- 4
Cf. PALADILHE, Dominique.
p.67. le et universelle des orateurs
to Alegre: Globo, 1961, v.IV, Le Grand Condé. Héros des 6
Cf. BOSSUET, Jacques-Bénig- sacrés. Paris: Ateliers Catho-
p.54. guerres de Louis XIV. Paris: ne. Oraison funèbre du Prin- liques du Petit-Montrouge,
2
Idem, p.56. Pygmalion, 2008, p.37. ce de Condé. In. MIGNE, J.- 1846, t.XXV, col.1309.
Incomparável
solicitude materna
Solução de um problema angustioso, como a cura de um
enfermo já desenganado pelos médicos; pronta intervenção
para livrar alguém de um pequeno transtorno da vida cotidiana.
A variedade das intervenções de Dona Lucilia não deixa de
surpreender seus devotos.
õ Elizabete Fátima Talarico Astorino
“ Á
guas torrenciais jamais seu insondável amor àqueles que nela na cidade de Caieiras (SP), envia-nos
apagarão o amor, nem rios confiam, é dar pronto atendimento um interessante relato de como ela
poderão afogá-lo” (Ct 8, 7). aos seus pedidos. foi sempre atendida por esta caridosa
Quão bem aplicáveis a mãe em momentos de necessidades.
Dona Lucilia são essas palavras! Ela,
Acidente grave, Em setembro de 2018 seu espo-
que passou sua vida amando a Deus extraordinária cura so, tenente do Corpo de Bombeiros,
no próximo, deixaria de fazê-lo após Desejosa de manifestar sua gra- sofreu um acidente ao combater um
transpor os umbrais da eternidade? tidão a Dona Lucilia, Da. Cristiane incêndio num edifício da área central
Pois bem, uma das formas de mostrar Ramos Soares Carneiro, residente de São Paulo. Ele e outros integrantes
da equipe ficaram presos no terceiro
andar. Quando afinal foi resgatado,
tinha queimaduras, internas e exter-
nas, em cerca de 20% do corpo. Dada
a gravidade da situação, foi entubado
e conduzido à UTI da Unidade de
Queimaduras do Hospital das Clíni
Reprodução
de pequenos
problemas da
vida cotidiana
À esquerda, Da. Helsi Carrera junto
a um quadro de Dona Lucilia; à direita,
Benjamín ao lado da estampa de
Dona Lucilia que foi encontrada entre
seus papéis
cas. Ali permaneceu quase um mês, a gravidade da situação era tal que Lucilia se compraz em acorrer so-
sendo submetido a dolorosos trata- não estava clara nem para os próprios licitamente em auxílio inclusive de
mentos, como o de desbridamento da médicos. pessoas que lhe pedem a solução de
pele. Aflita perante tão terrível pers- pequenos problemas da vida coti-
Da. Cristiane não cessava de rezar pectiva, Da. Cristiane compreendeu diana.
pela sua recuperação. Conta ela: “Em que somente do Céu poderia receber Tal é o caso de Da. Helsi Carrera,
dado momento, pedi a Dona Lucilia ajuda, e consagrou seu filho nascitu- do Peru.
que meu marido pudesse pelo menos ro a Dona Lucilia. Era o dia 24 de junho de 2022, So-
sair da UTI e passar para um quarto, Com trinta e sete semanas de lenidade do Sagrado Coração de Je-
o que facilitaria o contato com a fa- gravidez, durante uma consulta roti- sus. O turno de trabalho de Da. Helsi
mília”. Dona Lucilia superou todas neira, foi comunicado ao casal a ne- se encerraria às dezoito horas, dei-
as suas expectativas: apenas dois dias cessidade de realizar o parto naquele xando-lhe um tempo muito apertado
depois de feito o pedido, seu esposo mesmo dia, tendo em vista as condi- para, findo o expediente, buscar uma
não só saiu da UTI, como recebeu ções que Miguel apresentava. Conta amiga e irem juntas à Santa Missa.
alta. “Este foi o primeiro grande mi- a mãe: “Foram momentos de grande Saiu apressada, entrou no carro e
lagre de Dona Lucilia em benefício aflição. Fiquei cerca de oito horas partiu. Tudo corria muito bem até ser
de minha família”, conclui Da. Cris- recebendo insulina para estimular detida, numa rotatória, por um tre-
tiane, cheia de gratidão. sua movimentação, mas ele não cor- mendo engarrafamento de trânsito!
respondia. Por fim, o médico decidiu Nenhum carro avançava um metro
Mais uma vez, iniciar um parto cesáreo”. sequer. Não teve ela outro recurso se-
ela não desamparou Ora, contra todas as expectativas, não começar a assistir à Missa trans-
Em 2021, na jubilosa espera do Miguel chorou forte ao nascer e não mitida ao vivo, pela internet…
nascimento de Miguel, seu segundo precisou de nenhum apoio respiratório Telefonou para sua amiga para
filho, Da. Cristiane sentiu-se abala- nem intervenção cirúrgica. Foi direta- comunicar que demoraria mais do
da ao receber o diagnóstico de que mente para os braços da mãe. Assim que o previsto. Esta a aconselhou a
ele nasceria com síndrome de Down, conclui Da. Cristiane: “Logo com ele pedir o auxílio dos Anjos. Da. Helsi
possivelmente agravada com uma nos braços agradeci de todo coração à começou a rezar, mas logo lhe veio
cardiopatia. Como se isso não bastas- Dona Lucilia por esse grande milagre à mente a figura de Dona Lucilia.
se, constatou-se também que o bebê que era o de ele ter nascido bem”. “Claro que sim! Como não iria eu
já demonstrava uma queda no cres- recorrer a ela?”, relata Da. Helsi. E
cimento, e o exame de cardiotoco in-
Abrindo os caminhos rumo ao dirigiu-lhe esta filial prece: “Mãe-
dicava que a movimentação dele não Sagrado Coração de Jesus zinha, ajude-me! Tire-me daqui!
era a esperada na idade gestacional A exemplo de Nossa Senhora, a Abra-me o caminho para que eu
em que se encontrava. Em resumo, mais complacente das mães, Dona possa chegar à Missa em honra ao
tença confirmou a decisão cautelar to, mas sem resultado. Sua situação Resolvida esta primeira aflição,
e a parte contrária não apresentou se agravava cada vez mais, chegando foi possível obter o diagnóstico do
recurso”. ao ponto de a criança perder o fôlego mal-estar com outro especialista, o
Nessa rápida solução do problema, e desmaiar. qual receitou alguns medicamentos.
Dr. Sampel reconhece a intervenção Assim relata Da. Izabel o desfecho Em poucos dias a bebê se recuperou
de Dona Lucilia. do caso: “Ficamos desesperados, mas totalmente.
pouco depois ela voltou do desmaio. * * *
Uma súplica feita com fé Eu tinha lido um texto que contava al- Ao tomarmos conhecimento de
Da. Izabel Bispo de Oliveira Mou- guns milagres de Dona Lucilia. Então mais alguns dos inumeráveis favores
ra, de Rondonópolis (MT), narra me apeguei a ela e pedi que fizesse alcançados do Bom Deus por Dona
também como Dona Lucilia atendeu com que a tosse da menina p arasse, Lucilia, em benefício daqueles que
sua prece. Sua bisneta, com apenas uma vez que o médico não havia ain- lhe pedem ajuda e socorro, não he-
oito meses de idade, teve uma incon- da acertado com o remédio. Pedi com sitemos em recorrer a ela nas situa-
trolável crise de tosse. Foi logo levada fé! E a partir daquele momento ela ções difíceis da vida, sejam elas quais
ao médico e tomou o remédio prescri- não tossia mais como antes”. forem. ²
1 2
Fotos: Ronny Fischer
3 4 5
México – A devoção a Nossa Senhora, o Santo Rosário e o escapulário do Carmo foram os temas tratados no encontro
Um dia com Maria, realizado na Cidade do México no dia 13 de novembro. O programa constou da celebração da Santa
Missa, renovação da consagração à Santíssima Virgem e imposição do escapulário (foto 1), bem como de diversas
palestras (foto 2). Dois dias depois, um retiro pregado na Paróquia Três Ave-Marias, em Aguascalientes, reuniu os
coordenadores e participantes do Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações da região (fotos 3, 4 e 5).
Fotos: Leandro Souza
Mairiporã (SP) – No dia 26 de novembro, Dom Sérgio Aparecido Colombo, Bispo de Bragança Paulista,
administrou o Sacramento da Crisma a vinte e cinco fiéis da Paróquia Nossa Senhora das Graças, confiada pela
diocese aos Arautos do Evangelho. A cerimônia ocorreu na Igreja São Judas Tadeu, e contou com a presença de
diversos concelebrantes, de membros dos Arautos e dos padrinhos e familiares dos crismandos.
1 2
Estados Unidos e Canadá – No dia 5 de novembro se realizou a solene consagração à Santíssima Virgem, segundo
o método de São Luís Maria Grignion de Montfort, da primeira turma do curso ministrado em inglês pelo Pe. Michael
Carlson, EP, na Plataforma de Formação Católica Reconquista, dos Arautos do Evangelho. As cerimônias presenciais,
das quais participaram fiéis vindos de diversos estados de ambos os países, ocorreram na Igreja do Bom Pastor em
Miami (foto 1), Estados Unidos, e na Paróquia São João Paulo II em Montreal, Canadá (foto 2).
3 4 5
Portugal – Entre as atividades realizadas no país, destacam-se o retiro pregado pelo Pe. Carlos Werner Benjumea, EP,
entre os dias 7 e 9 de outubro na cidade de Braga (fotos 1 e 2); o Sacramento da Crisma administrado por Dom Nuno
Manuel dos Santos Almeida, Bispo Auxiliar de Braga, na casa dos Arautos do Evangelho em Guimarães (fotos 4 e 5),
no dia 29 de outubro; e a Comunhão reparadora do primeiro sábado do mês, organizada pelos Arautos na Igreja da
Santa Cruz, em Braga, no dia 4 de novembro (foto 3).
Colômbia – No dia 8 de outubro a Igreja de Nossa Senhora de Fátima, em Tocancipá, acolheu o Encontro Nacional
do Apostolado do Oratório Maria Rainha dos Corações. Nas fotos acima, aspectos diversos da programação, que
incluiu uma apresentação musical e a celebração da Santa Missa.
Fotos: Urbano Ngoka
1 2 3
Moçambique – Dom Piergiorgio Bertoldi, Núncio Apostólico no país, administrou o Sacramento da Crisma na casa
dos Arautos do Evangelho em Maputo, no dia 29 de outubro (foto 3). O dia 1º de novembro esteve dedicado à visita
aos doentes, para levar-lhes conforto espiritual e o Sacramento da Unção do Enfermos (fotos 1 e 2).
Fotos: Maria Cecilia Maia
Andrea Sánchez
1 2 3
Guatemala – Por ocasião do mês do Rosário, a Imagem Peregrina do Imaculado Coração de Maria visitou, no dia 4
de outubro, o Asilo Hogar Margarita Cruz Ruiz (fotos 1 e 2) e o Hospital Herrera Llerandi (foto 3), ambos situados na
Cidade da Guatemala.
Paraguai – A Paróquia São Miguel, em Asunción, comemorou no dia 29 de setembro a festa de seu padroeiro
com uma procissão animada pelos Arautos do Evangelho, e a celebração da Santa Missa, presidida pelo
Cardeal Adalberto Martínez Flores, Arcebispo Metropolitano.
Peru – Entre os dias 5 e 9 de outubro os Arautos realizaram uma Missão Mariana na cidade de Ayaviri, localizada
no Departamento de Puno, a quase quatro mil metros acima do nível do mar. A Imagem Peregrina do Imaculado
Coração de Maria foi recebida com grande entusiasmo na catedral, nos institutos religiosos, instituições públicas e
residências, bem como em diversas comunidades rurais.
religionenlibertad.com
localizado no Estado norte-america- Além dos quinhentos crimes de
no de Minnesota. Os criminosos pi- ódio – que incluem atos de vandalis-
charam frases obscenas e mensagens mos, roubos, incêndios e até agres-
satânicas em uma imagem de Nosso sões e ataques contra fiéis e clérigos
Senhor, uma cruz, duas lápides e cin- – cometidos em dezenove países do
co paredes de um memorial. continente, o relatório destaca a falta
Dom Robert Emmet Barron, Bispo de transparência e censura da mídia Adoração Noturna em Barcelona
de Winona-Rochester, diocese onde em relação a esses delitos, o número recebe novos membros
se encontra o cemitério, manifestou alarmante de estereótipos negativos No dia 19 de novembro a Paróquia
seu repúdio a tal profanação e se dis- contra os cristãos, e a improficiência Santa Teresinha do Menino Jesus,
pôs a colaborar com a polícia local na das autoridades para lidar com tais em Barcelona, acolheu mais de qui-
identificação dos responsáveis, para atentados à liberdade religiosa. nhentos adoradores do Santíssimo
que respondam por seus atos perante Sacramento e seus familiares, para
a justiça.
Mais de quatro mil cristãos foram a tradicional vigília anual celebrada
assassinados na Nigéria em 2022 na Solenidade de Cristo Rei. Na oca-
Um relatório divulgado pela sião, foram recebidos setenta e cinco
Intersociety – Sociedade Interna- novos membros da Adoração Notur-
cional para as Liberdades Civis e o na, em sua maioria jovens. Durante a
Estado de Direito – mostra o quanto cerimônia, presidida por Dom Javier
a Nigéria tem sido assolada por uma Vilanova Pellisa, Bispo Auxiliar,
Reprodução
Reprodução
deputados espanhóis que financiaram sua confecção.
A petição feita desde 2019 só obteve a aprovação em 2022. Os
deputados esperam que a iniciativa seja o marco para uma nova tra-
dição na câmara, que permita tornar presentes ali as raízes cristãs Presépio exposto na sede do Parlamento Europeu,
da Europa. em Bruxelas
Ceará ganha igreja dedicada pelos Arautos do Evangelho, com o dados que selaram a decisão no dia 30
a Nossa Senhor das Graças objetivo de auxiliar as paróquias me- de novembro, apenas na França são
Inspirado no encanto que lhe pro- nos favorecidas e as entidades bene- produzidas mais de seis bilhões de
duziu a Basílica de Nossa Senhora do ficentes ligadas à Igreja. baguetes por ano.
Rosário, em Caieiras – que visitou
por ocasião da ordenação presbiteral
Baguete francesa torna-se Mais uma igreja incendiada
de seu filho, o Pe. Inácio de Araújo Patrimônio Imaterial no Chile
Almeida, sacerdote dos Arautos do da Humanidade Na madrugada do dia 10 de no-
Evangelho e superior da associação A gastronomia francesa conquistou vembro, mais um templo católico
em Roma –, o Sr. Inácio Alves de Al- a admiração de milhares de pessoas ao tornou-se alvo de ataques vandáli-
meida, de setenta e sete anos, ideali- redor do mundo, e um de seus maio- cos no Chile. Desta vez, foi incen-
zou a construção de uma igreja dedi- res símbolos recebeu recentemente diada uma capela dedicada a São
cada a Nossa Senhora das Graças no da UNESCO o título de Patrimônio José, na Diocese de Temuco, além
município de Graça, Ceará. Imaterial da Humanidade: a baguete de uma igreja na mesma localidade.
A Missa de inauguração do tem- artesanal. Segundo o Administrador Diocesa-
plo, celebrada no dia 27 de novembro, A declaração foi causa de grande no, Pe. Juan Andrés Basly Erices, o
foi presidida por Dom Edimilson Ne- contentamento para os franceses, so- local de culto ficou completamente
ves Ferreira, Bispo de Tianguá, e con- bretudo para os profissionais que tra- destruído.
celebrada pelo Pe. Inácio Almeida. balham artesanalmente na fabricação Esses ataques se dão em meio ao
A nova igreja foi erguida com a desta iguaria, pois eles garantem que conflito com os indígenas mapuches,
colaboração do Fundo de Ajuda Mi- receberão mais reconhecimento por que vem causando inquietude na re-
sericórdia, projeto fundado em 2005 parte dos consumidores. Segundo os gião chilena da Araucânia.
Um incêndio na floresta
Nem o guepardo, nem o elefante conseguiram; o leão não ajudou
em nada; a girafa, egoísta, permaneceu indiferente; o castor só
pensou em si. A andorinha… seria capaz de fazer algo?
õ Alexis Lourdes Rodrigues
maior ligeireza que suas asas lhe con- não percebiam minha presença e ago-
feriam, pairou em cima da floresta em ra até sabem como me chamo?!
chamas; balançou-se uma, duas, três, — Gabriel, já está na hora de
quatro, cinco vezes, até sair toda a água levantar.
que guardava entre suas peninhas. Re- Era um mero sonho! Mero não…
petiu a operação dezenas de vezes, de- provavelmente continha algum recado.
dicando todas as energias de seu ser. Ele abriu os olhos, beijou a mãe e
— “Espere e você verá”… O que antes mesmo de rezar quis lhe con- Depois de tantas tentativas frustradas
pode ela fazer mais do que nós? – es- tar a história com luxo de detalhes. dos outros animais, a andorinha soube
carneceu o elefante. Da. Margarida, admirada por ver o vencer por sua confiança em Deus!
ção de Jesus. Vítima de incom- 16. São Marcelo I, Papa (†309). São
preensões, viu-se obrigada a re- Dâmaso o define como um ver-
nunciar ao cargo de superiora e dadeiro pastor. Ferozmente hos-
passou trinta e dois anos como tilizado por apóstatas que se re-
simples irmã. São Carlos de Santo André Houben cusavam a aceitar as penitências
Reprodução
do à sua grei e assíduo à oração São Tiago, eremita (†séc. VI).
noturna. Por penitência, viveu durante
20. São Fabiano, Papa e mártir longo tempo dentro de um sepul-
(†250 Roma). cro, na Palestina.
São Sebastião, mártir Santa Rafaela Maria do
29. IV Domingo do Tempo
(†séc. IV Roma). Sagrado Coração
Comum.
São Vulstano, Bispo (†1095). 23. São Mainbodo, eremita Beata Villana de Bottis, lei-
Religioso beneditino nomeado (†séc. VIII). Natural da Irlanda, ga (†1361). Mãe de família que,
Bispo de Worcester, Inglaterra, fez-se peregrino e eremita. Se- abandonando a vida frívola que
associou os hábitos monásticos gundo a tradição, foi morto por levava em Florença, Itália, fez-se
ao zelo pastoral. ladrões. terciária dominicana e destacou-
21. Santa Inês, virgem e mártir -se pela assídua meditação sobre
24. São Francisco de Sales, Bispo
(†séc. III/IV Roma). Cristo crucificado, pela austeri-
e Doutor da Igreja (†1622 Lyon -
dade de vida e pela caridade para
Beata Josefa Maria de França).
com os pobres.
Santa Inês, virgem (†1696). Beata Paula Gambara
Religiosa agostiniana descalça Costa, viúva (†1515). Terciária 30. São David Galván, presbíte-
do convento de Beniganim, franciscana de Binaco, Itália, su- ro e mártir (†1915). Por defender
Espanha, favorecida com o dom portou com paciência a violên- a santidade do Matrimônio, foi
do conselho. cia de seu esposo, levando-o à preso e fuzilado sem prévio jul-
conversão. gamento, durante a perseguição
22. III Domingo do Tempo
Comum. mexicana.
25. Conversão de São Paulo,
São Vicente, diácono e mártir Apóstolo. 31. São João Bosco, presbítero
(†304 Valência - Espanha). São Poppo, abade (†1048). (†1888 Turim - Itália).
São Gaudêncio, Bispo (†c. 418). Recusou um vantajoso casamen- Beata Luísa Albertoni, viúva
Convertido por Santo Eusébio to e tornou-se beneditino em (†1533). Após a morte do esposo,
de Vercelli, de quem foi discípu- Saint-Thierry, França. Por suas tornou-se terciária franciscana e
lo e companheiro no exílio. De virtudes, o Imperador Santo se dedicou às obras de caridade,
volta à Itália, foi sagrado Bispo Henrique confiou-lhe a direção e acolhendo os pobres em seu pró-
de Novara. a reforma dos mosteiros reais. prio palácio.
D
os objetos comuns que Mas o que é o tempo? Sobre ele Ser substancial que dá sentido a tudo,
usamos no dia a dia, dissertaram incansavelmente insig- alheio ao “tic-tac” do relógio: Deus.
poucos – talvez mesmo nes filósofos e homens de ciência, na Embora seja efêmero, o tempo não
nenhum outro – nos su- tentativa de explicitar sua natureza, deixa de ser também sublime. Recor-
gerem considerações tão peculiares sem conseguir mais do que descrever demos que o Eterno quis encarnar-
como o relógio. seus acidentes. Segundo alguns, de -Se, irrompendo no tempo para redi-
De aparência simples, trata-se, en- tudo quanto se pode conhecer, nada mir aqueles que, pela desobediência,
tretanto, de um aparelho complexo é tão ignorado; outros dele se utiliza- fizeram de cada segundo nesta terra
que, com as mais diversas formas e ta- ram para formular complexas teorias um gemido e uma lágrima a ser verti-
manhos, faz parte de nosso mobiliário quânticas e siderais, embora perma- da no cálice da justiça.
e conveniências, orna tanto insignes necessem sem levantar por completo Nessa perspectiva, percebemos
monumentos públicos quanto lares sin- seu véu de mistério. claramente que o grãozinho da am-
gelos. É forçoso reconhecer que, seja O Doutor Angélico o define como a pulheta de nossa vida não é simples
como seja e em qualquer lugar onde medida da duração das criaturas con- areia ou matéria ignóbil. Pelo contrá-
se encontre, dificilmente passamos in- tingentes, sujeitas à geração e à cor- rio, cada segundo comprado com o
diferentes à poderosa atração do “tic- rupção.1 Podemos assim afirmar que, Sangue Redentor é pó de ouro; cada
-tac” ligado ao movimento contínuo de para cada um de nós em particular, o instante transcorrido na terra pode
agulhas e pêndulos, sobretudo quando tempo nada mais é do que um instan- determinar nosso destino eterno atra-
a elegância e a arte os emolduram. te entre duas eternidades, abrangendo vés de atos de virtude, ainda que pe-
Contudo, sem desmerecer o apa- o intervalo entre nosso nascimento e quenos, ou de infidelidades.
relho mecânico, parece falar mais à nossa morte. Com preclara inteligência adverte-
alma humana o fluxo dos cristaizi- E porque mil anos, se compara- -nos uma sentença comumente atri-
nhos que escoam até seu esgotamento dos à eternidade, não passam de um buída ao famoso dramaturgo inglês
no relógio de areia. Talvez porque ele piscar de olhos (cf. Sl 89, 4), o tempo William Shakespeare: “O tempo é
evoque, como nenhum outro tipo de parece uma mera ilusão, um simples muito lento para quem espera, muito
relógio, a fugacidade do tempo… e fugaz reflexo da vida sempiterna do rápido para quem teme, muito longo
para quem sofre, muito curto para Paremos um instante neste come- do mundanismo, do egoísmo e da
quem goza; para quem ama, porém, o ço de ano e nos perguntemos: como vergonhosa mesquinhez. Pelo contrá-
tempo é eternidade”. administramos tão precioso dom que rio, que cada milésimo de nossa exis-
É eternidade… De fato, das três recebemos de Deus? Se formos since- tência constitua um brado de guerra
virtudes teologais a caridade é a ros conosco mesmos, provavelmente contra o mal, uma labareda de amor a
única que permanecerá quando par- constataremos que, como sentenciou Deus, uma entrega de holocausto em
tirmos desta vida (cf. I Cor 13, 13). Paul Claudel, “não é o tempo que nos seu altar. ²
Assim, os mínimos momentos vivi- falta, nós é que faltamos ao tempo”.
dos longe do amor a Deus são tempo Não permitamos que o áureo pó do
perdido, que nos será ineludivelmen- tempo seja levado infamemente pelo 1
Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Te-
te cobrado. vendaval da banalidade, da p reguiça, ológica. I, q.10, a.4, ad 3.
A ssim como
como uma nuvenzinha surgida
no horizonte levou Elias a anunciar
uma chuva torrencial, a vista dos Magos
te e do Ocidente, fascinados pelo fulgor de
Cristo. A espada de dor que Ela aceitara
com plena adesão e ardor, ao penetrar em
foi suficiente para que o espírito profético sua alma a havia alargado quase infinita-
da Mãe de Deus previsse o nascer de um no- mente, permitindo-Lhe amar cada um des-
vo Israel, não mais formado com base nos ses novos filhos com apreço indizível. Conso-
vínculos de sangue, mas nos laços muito lidava-se sua vocação à Maternidade uni-
mais sólidos da fé. versal, fundamento da missão de Medianei-
Percebia Ela que seu Coração materno, ra de todas as graças.
todo votado ao cuidado de seu Divino Filho,
abria-se para uma multidão de novos fi-
lhos, irmãos de Jesus, que viriam do Orien- Mons. João Scognamiglio Clá Dias, EP