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LarCristão ANO XLVIII l Nº 182 l TrImesTrAL: OUTUBrO a DeZemBrO de 2017

PreÇO €1,90 l IVA INCLUÍDO


Directora: Raquel Pascoal

ARTIGO DE FUNDO
Três artigos sobre a Reforma
Protestante assinados por:
Manuel Alexandre Jr.,
Luiz Sayão e
Franklin Ferreira

1517 - 2017
500 anos da Reforma Protestante
Martinho Lutero e Catarina Von Bora
Ficha Técnica
Índice Ano XLVIII - N.º 182
Outubro a Dezembro de 2017

Directora
Raquel Pascoal
Da Redação..........................................................4
Coordenador Editorial
Artigo de Fundo Mário Jorge Marques
Os Baptistas e a Reforma Protestante..........................5
A Reforma e o seu impacto na cultura europeia.............7 Conselho Redactorial
A Reforma Protestante no Século XXI...........................10 editorial@livrariabaptista.com.pt
Dina Marques
Sociedade Filipa Lopes
Paula Loja
Politicamente Correto...............................................14
Propriedade
Legado da Reforma Protestante CEBAPES - Centro Baptista
Lutero e a Bíblia dos Analfabetos...........................................16 de Publicações, Unipessoal, Lda

Vidas que Inspiram Edição


Comenius..........................................................18 Departamento Feminino
da Convenção Baptista Portugues
Partilhar Vivências
A Casa de Deus.......................................................14 Redacção, Administração
e Distribição
Terra à Vista Livraria Baptista
Rua do Conde de Redondo, 31 A
Ideias práticas para uma vida mais ecológica...............20 1150-102 Lisboa
Tel. 213 531 803
Departamento Feminino - Notícias Email: vendas@livrariabaptista.com.pt
Acampamento Feminino 2017....................................22 NIF: 500 520 739

Vida Saudável Impressão


Queda de Cabelo......................................................24 Inkcopy, Lda
Estrada de Alcolombal, 115 - Armazém 9
500 Anos da Reforma Protestante 2705-833 Terrugem
Contributos da Reforma do Século XVI........................28
Paginação
Partilhar Vivências Alexandra Cunha
Sabedoria para viver................................................30 Fotografia de Capa Dreamstime
Periodicidade Trimestral
Devocional Tiragem 700 Exemplares
O amor de Deus por nós.............................................32
AssInATuRAs
Reportagem Território nacional
Viagem ao Coração da Reforma Protestante...............34 Anual (4 edições) €13,20
Anual (2X4 edições)* €20,80
O que vi, o que ouvi, escrevi... Anual (3X4 edições)* €28,40
A prenda mais desejada...........................................38 *Numero de exemplares por assinatura enviados
em conjunto para o mesmo endereço.

Mãos na Massa Anual (4 edições em formato digital) €6,00


Doce Natal..............................................................39 Europa e Resto do Mundo
Europa - Anual (4 edições) € 17,00
Brincar e Aprender Resto do Mundo (4 edições) € 22,50
Uma martelada bem forte.........................................40
Despesas de envio incluída
Testa os teus conhecimentos Preços com IVA incluído
Fé...................................................................41
Depósito Legal: 89990/95
Paixão pelos livros Registo no I.C.s.: 101374
Devocionais............................................................42
3
Da Redacção
editorial@livrariabaptista.com.pt
Graciosa
Noite
T
emos a grande alegria de lançar o número 182
A Estrela do Céu
da revista Lar Cristão no período em que se
De noite brilhou.
celebram os 500 anos da Reforma Protestante
do Século XVI. 1517 é a data convencionada Menino nasceu
para sinalizar tão importante movimento pois foi nesse Jesus já chegou.
anos que Lutero afixou as 95 teses para um debate sobre
a questão das indulgências que ultrapassou tudo o que Anjos a cantar
este monge Agostinho poderia alguma vez ter tido em “Glória nas Alturas”
mente.
Foi o anunciar
Deus às criaturas.
Assim chegámos a 2017! Com um misto de sentimen-
tos olhamos para trás e vemos pelos olhos da história Correm os pastores
a forma como o sofrimento de homens e mulheres há E mais tarde os magos.
cinco séculos nos permitiu viver num mundo em que
a Palavra de Deus está ao nosso alcance e é possível a São adoradores
todos lê-la, estudá-la e, sobretudo, saber como a estudar Levam os seus afagos.
e analisar seguindo métodos de análise dos textos origi-
Depois proclamam
nais bem como da sua gramática.
Salvação dos Céus.
Referimos um misto de sentimentos porque no presente Ecos divulgaram
século, em que temos quantos livros e ferramentas de Eis o Homem-Deus.
estudo desejarmos, muitos ainda leem a Bíblia de uma
forma errada, interpretando-a a seu belo prazer e para Que veio salvar
justificarem os seus pontos de vista teológicos. Não há outro igual.
Veio por amor
Neste revisitar do movimento da Reforma deparamo-
nos com filhos de Deus que viram a sua vida em perigo
Cantai seu Natal!!!
e que tudo fizeram para salvar a Palavra de Deus e a
fazerem chegar às mãos de todo o povo.
Cremilda Simões
Lembremos com gratidão a vida de homens e mulheres, in Jardim Regado
pecadores e imperfeitos como nós, que apesar de saber-
em as consequências da sua fidelidade a Deus se man-
tiveram fiéis à Sua Palavra. ❑

Estatuto Editorial
A Lar Cristão é uma revista de inspiração cristã evangélica e
tem como propósito valorizar e divulgar os valores cristãos
para a família e para a sociedade. Os conteúdos publicados pela
Lar Cristão estão de acordo com a “Declaração de Fé Baptista”
adoptada da Convenção Baptista Portuguesa

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ARTIGO DE FUNDO
Por: Manuel Alexandre Júnior

S
em dinheiro, sem estatuto, sem grandes meios cristãos anónimos; vozes de autênticos reformadores antes
de comunicação, a Igreja primitiva cresceu e da Reforma. Com esses heróis da fé cristã, o Evangelho foi
floresceu tanto que, em menos de três séculos, fez redescoberto, a Bíblia começou a traduzir-se e ser anunciada
abalar a estruturas sociais e religiosas do império ao povo, as heresias foram denunciadas.
romano. Mas, a partir de Constantino, ela secularizou-se e No clímax desta batalha espiritual, Martinho Lutero ergueu
corrompeu-se. O politeísmo pagão transitou para a Igreja. mais alto a sua voz, e a Reforma aconteceu. Depois de tantos
Os poderes temporal e espiritual fundiram-se, e a autoridade tormentos na busca de redenção, Lutero despertou para a
da Igreja deixou de ser Cristo e a Escritura. Esculturas de verdade do Evangelho ao redescobrir o sentido bíblico da
deusas e deuses pagãos transformaram-se em imagens de expressão: “Justificação pela fé somente”, e provocou uma
santos a ser adoradas. autêntica revolução espiritual e cultural na sociedade do seu
Os erros que arruinaram a Igreja durante a Idade Média tempo.
foram a união da Igreja com o Estado, o sacerdotalismo e a Não há dúvida que foi Lutero a chave para a Reforma
negação da autoridade bíblica. E só uma reforma completa e protestante. Mas nem ele teria sobrevivido sem a ocorrência
não cosmética a poderia resgatar, abolir essa união, destruir simultânea de três fenómenos providenciais: o acesso à
esse sistema sacerdotal, e regressar de vez à autoridade das Bíblia na língua do povo, quando a igreja se impunha como
Escrituras. senhora e dona da sua interpretação; o regresso às doutrinas
Todas as vozes que se ergueram para fazer voltar o bíblicas da justificação pela fé e do sacerdócio dos crentes; e
Cristianismo às suas origens foram violentamente o direito de cada crente a ler e interpretar por si as Escrituras.
silenciadas; vozes como Valdo, Wycliff, Huss e miríades de Ora estes três fenómenos só vingaram, porque três outros
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lhes foram favoráveis: a cultura clássica favoreceu o chegar ao cerne do Evangelho e fazer avançar a Reforma
estudo das línguas bíblicas; o trabalho de humanistas até aos limites da sua ambição maior.
como Erasmo inspirou Lutero a traduzir a Bíblia inteira em Mas, para assumirem em pleno a sua identidade e autonomia,
alemão; patriotas de afirmação nacionalista dispunham-se os Baptistas tiveram de emigrar para não sofrerem os
a confrontar a Igreja, que pensava ter a Europa nas mãos. horrores da perseguição; primeiro, da Inglaterra para a
O patriotismo de Lutero e a sua devoção às Escrituras Holanda, e depois para a América, integrados no grande
cativaram de tal modo a alma do povo alemão e seus movimento espiritual dos peregrinos.
príncipes, que as condições ideais para a Reforma da Igreja A herança comum dos Baptistas como povo de Deus
estavam finalmente criadas. remonta, pois, a princípios do século XVII como expressão
A história o celebra como um paradigma de modernidade mais completa da Reforma. A partir de 1608, afirmaram-se
e liberdade, mas também por ter posto a Bíblia acima da exemplarmente em países como a Holanda, a Inglaterra e a
Igreja, e se ter batido pela pureza do Evangelho. Para Lutero, própria Alemanha. Mas cresceram sobretudo do outro lado
“o verdadeiro tesouro da Igreja é o sacrossanto Evangelho do Atlântico. Roger Williams, por exemplo, foi missionário
da glória e da graça de Deus” (tese 62). aos índios e fundou a Primeira Igreja Baptista em solo
Só é pena que essa figura icónica do movimento protestante americano em 1638, distinguindo-se dos demais pela defesa
do século XVI não tenha levado até ao fim a reforma que dos direitos humanos, da liberdade religiosa e da separação
iniciou, mantendo intocável a união de igreja e estado, e de igreja e estado.
deixando pelo meio um integral regresso às origens. No seu movimento de consumação reformista são de
Com Lutero, outros gigantes da Reforma se distinguiram realçar doutrinas magistrais como: a autoridade suprema
na França, na Suíça e na Alemanha. Zuínglio, Hubmaier e das Escrituras; a exclusiva suficiência de Cristo para a

A herança comum dos Baptistas

“ como povo de Deus remonta,


a princípios do século XVII
como expressão mais completa
da Reforma
Calvino eram homens de alta cultura, fé convicta e coragem
indomável na defesa do Evangelho. Os grandes temas da
sua fé eram: só a Bíblia, só Cristo, só a fé, só a graça, e só
a Deus glória.
salvação; o baptismo de crentes regenerados por imersão;
a ceia do Senhor como memorial do sacrifício de Cristo
e celebração da nossa comunhão com ele; a liberdade de
consciência, pensamento, expressão e culto; a igreja local
Mas graças a Deus que o impacto da Reforma se não ficou como comunhão de fé, sujeita a Cristo, autónoma, de
por aí. À semelhança de um terramoto de efeitos sísmicos governo congregacional, em cooperação fraterna com as
em cadeia, a Reforma foi-se acertando e depurando a demais; todos os fieis como um sacerdócio real.
si mesma. Graças a uma dinâmica congregacional de Podemos, pois, dar graças a Deus por nos
separação de igreja e Estado e ao eficaz retorno às origens contarmos entre os que mais contribuíram na história para
cristãs, começou a desenhar-se na Inglaterra o movimento o grande clímax do evento sobrenatural que fez reverter o
de que brotaram os Baptistas. Cristianismo às suas primeiras origens; por nos contarmos
Representando o que de melhor se fez na Reforma, estes entre os que mais se dão pelos valores da liberdade, da
destacaram-se dos mais distintos puritanos e separatistas, justiça e do são convívio entre os povos, sem comprometer
acabando por deixar lapidarmente gravada em ouro a sua a verdade do Evangelho, proclamando nela a fé que sempre
marca identitária de absoluto retorno às matrizes originais abraçámos, e erguendo na Cruz de Cristo o monumento
do Cristianismo. Emergiram assim como povo que ousou central da glória que temos para anunciar ao mundo. ❑

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ARTIGO DE FUNDO
Por: Franklin Ferreira

A Reforma
e o seu impacto
na cultura
Europeia
O
anseio pela glória tornassem um empreendimento Johann Sebastian Bach ilustra o
de Deus conduziu puramente comum. impacto da Reforma na música.
os reformadores Nas artes, destacam-se Lucas Quase todas as obras de Bach
a afirmar um Cranach, Albrecht Dürer, Hans têm no seu princípio as letras “J.
importante princípio: a aceitação Holbein, o Jovem, Matthias Grü- J.” e, no seu final, “S. D. G.”. No
do mundo como ele é, criado e newald, Rembrandt van Rijn, início da obra, Bach pedia Jesu
sob os cuidados de Deus, mas Pieter de Hooch e Jacob van Juva! (“Jesus, ajuda!”) e, depois
corrompido pelo pecado e carente Ruisdael. Esses artistas combi- de escrever a última nota, gra-
de restauração. Eles também navam a criatividade pessoal, a vava Soli Deo Gloria! (Glória
asseveraram a noção de que experiência humana e a tradição somente a Deus!). Bach escre-
não seria necessário santificar cristã nascida da Reforma em veu música para culto e música
a arte, a música e a ciência, suas pinturas e gravuras, expres- instrumental para entretenimen-
subordinando-as a interesses sando sua fé “de uma forma que to, e os dois estilos refletem a
morais ou religiosos, pois para a teologia falada ou escrita não busca pela excelência e a glória
eles a criação seria uma esfera pode reproduzir” (John Leith), de Deus. Clement Marot e Lou-
legítima em si mesma. Assim, ao retratarem em suas obras ce- is Bourgeois, que musicaram os
o ensino da Reforma permitiu nas bíblicas, do cotidiano e pai- salmos cantados pela igreja re-
que as expressões humanas se sagens. formada em Genebra, também

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Bach Francis Bacon

são exemplos de artistas que Se de fato produziram a ascen- não é nos contar tudo sobre to-
exerceram sua vocação tanto são da ciência moderna, é uma das as coisas, mas explicar — na
para o entretenimento quanto questão de debate, mas que eram linguagem mais comum e mais
para o culto, sem confundir nem favoráveis à ciência, isso é in- básica possível — o progresso
subordinar uma esfera à outra. discutível. Além disso, algumas da obra salvífica de Deus, em
Esses músicos se moviam entre das principais universidades eu- Cristo, através da história da
as duas esferas como âmbitos ropeias — tais como Zurique, redenção” (Horton). A crença
legítimos e divinamente ordena- Estrasburgo, Genebra, Edimbur- subjacente era que a criação se
dos. go, Leiden, Utrecht, Amsterdã, harmonizava com as Escrituras,
No campo da literatura, surgiram Oxford, Cambridge e Heidel- já que Deus era o autor de am-
o romance moderno, os estudos berg — “foram ou fundadas ou bos. Assim, sendo uma vez dado
históricos e uma variedade de restauradas por aqueles que esta- espaço à observação empírica
experimentos literários. William vam resolvidos a fazer a teologia para explorar a criação, cientis-
Shakespeare, Edmund Spencer, da Reforma influir num mundo tas como Johannes Kepler, Ro-
John Donne, George Herbert e em mudança” (Michael Horton). bert Boyle, Francis Bacon e Isa-
John Milton são alguns dos prin- Os reformadores entenderam ac Newton ganharam liberdade
cipais representantes da “Era de que a Escritura não é um ma- para seguir sua vocação.
Ouro” da literatura inglesa, fruto nual de teoria artística, literária, Os reformadores também tra-
da Reforma. musical ou política; assim, não taram com máxima seriedade o
Crendo na revelação geral de pode também ser vista como li- ensino bíblico sobre o poder ci-
Deus por meio da criação, assim vro texto de ciência. Para eles, vil e as tensões envolvidas entre
como na sua revelação espe- “tudo nas Escrituras é verdade, as esferas da igreja e do Estado
cial na Escritura, os seguidores no sentido daquilo para o que ou entre as duas cidadanias do
da Reforma abraçaram o estu- foi escrito pelo autor original, cristão. Martinho Lutero foi o
do científico do mundo físico. mas o propósito das Escrituras primeiro dos reformadores a tra-

George Herbert Johannes Althusius John Comenius


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John Milton John Calvin Albrecht Dürer Robert Boyle

tar do assunto em sua obra Da gelho conforme revelado nas ras e confiada à igreja.
autoridade secular, até que pon- Escrituras Sagradas e com vistas Assim, é espantoso “como tan-
to se lhe deve obediência. Foi a renovar a igreja. Foi também tos que acreditavam nada poder
seguido por João Calvino, que um amplo movimento de reor- contribuir para a sua própria sal-
abordou a matéria nas Institutas denação da sociedade à luz da vação puderam conduzir uma”
da religião cristã, ao tratar “da revelação de Deus em sua Pala- transformação de longo prazo
administração política”. O mais vra. Nesse campo, os reformado- “na vida pública. [...] Liberta-
surpreendente é que quase to- res enfatizaram que não se deve dos de uma piedade pessoal e
dos os reformadores articularam centralizar o poder nas mãos de introspectiva, esses protestantes
uma teologia do Estado e várias algumas poucas pessoas, mas di- deram forma ao sentimento de
obras foram lançadas em rápida vidi-lo entre poderes claramente dever público, ajudaram a lançar
sucessão nessa época: Martin separados e equilibrados, e entre reformas democráticas e direitos
Bucer, John Ponet, Christopher o maior número possível de pes- civis, e deram nova dignidade e
Goodman, Francois Hotman, soas. E os governantes devem direção à vida condigna no lar
Theodore Beza, George Bucha- sempre prestar contas ao povo, cristão” (Horton). Portanto, os
nan, Philippe de Mornay, Johan- que tem o direito e o dever de cristãos são chamados a glorifi-
nes Althusius, cuja obra Política afastar os injustos e corruptos do car a Deus em todos as esferas
tem “a distinção de ser uma das poder. Desse modo, o que se des- da criação, a partir da vocação e
contribuições centrais para o cobre nessas obras é que a verda- dos dons que o Senhor lhes tem
pensamento político ocidental” deira origem do contrato social, concedido.
(Frederick Carney), e Samuel garantidor das liberdades funda-
Rutherford. mentais do ser humano, encon- Resumido e adaptado de: Franklin
O movimento da Reforma não tra-se na Reforma protestante e, Ferreira, Pilares da fé: a atualidade
foi, portanto, somente um movi- em última análise, na mensagem da mensagem da Reforma (São Pau-
mento de redescoberta do evan- evangélica oferecida nas Escritu- lo: Vida Nova, 2017), p. 177-181. ❑

Lucas Cranach Hans Holbein Theodore Beza Rembrandt van Rijn


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ARTIGO DE FUNDO
Por: Luiz Sayão

A REFORMA PROTESTANTE

NO SÉCULO 21

A
Reforma Protestante econômicas, teológicas e espirit- bíblicas da fé cristã primeira mol-
completa 500 anos. uais decorrentes do Protestantismo daram muito da civilização ociden-
A história da Europa reescreveram a trajetória de di- tal e a reconfiguraram na Reforma
e do mundo ocidental versos povos e lhes conferiu nova Protestante, especialmente entre os
foi profundamente impactada por identidade. A história ficará marca- séculos 15 e 16.
esse grande movimento religioso. da pela reforma luterana, anglicana, Os contornos filosóficos e teológi-
As mudanças sociais, culturais, calvinista e anabatista. As raízes cos do fim da Idade Média exigiam

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uma releitura da cristandade euro- tica, para a liberdade de exame e de Nossa tradição reformada construiu
peia a partir das origens. Os refor- consciência, para a educação de to- sua teologia e seu modus operandi
madores, num momento histórico dos e para a ciência e o progresso. no ambiente da modernidade, fun-
delicado, esboçaram uma camin- O sacerdócio universal de todos os damentada na razão cartesiana. No
hada em direção ao cristianismo crentes estabeleceu a igualdade en- entanto, o pensamento filosófico
primitivo, à busca da exegese dos tre as pessoas, definiu valores que contemporâneo reorganizou o nosso
textos bíblicos originais. Rompen- impulsionaram a democracia. Sem mundo. Trata-se de uma realidade
do com a tradição católica medi- a Reforma, a Europa não seria Eu- pluralista e marcada pela experiência
eval e o domínio do latim, tiveram ropa, o Ocidente não seria o Oci- que dá significado à existência. Não
de pesquisar o texto bíblico muito dente. é mais o mundo monoteísta racional.
além da Vulgata Latina, buscando o Todavia, a Reforma não foi exata- A clássica religião proposicional deu
mais próximo do original possível. mente um movimento. Foi na re- lugar ao ambiente da narrativa mís-
O estudo do Novo Testamento Gre- alidade uma decorrência de busca tica (O sucesso de A Cabana). A ver-
go e da Bíblia Hebraica acabaram de respostas no âmbito teológico, dade, antes sistemática e aristotélica,
adquirindo prioridade na tradição moral, social e econômico do fim elaborada em um ambiente europeu,
protestante desde o início. De fato, da Idade Média. Desde Pedro Val- agora é global e principalmente flui-
a Reforma Protestante representou do (s. 12), Jerônimo Savonarola, da. A máxima cartesiana, do cogito,
um retorno à Bíblia. Sola Scriptura Jan Huss, até Lutero, Calvino e ergo sum, na qual a verdade racional
foi o grito de Lutero, acompan- Zuínglio, temos uma trajetória de é descoberta pelo indivíduo, perde
hado por Calvino, Zuínglio e out- diversas demandas de contextos espaço para um mundo intersubje-
ras referências da grande reforma distintos que conduziu uma série tivo, no qual a verdade é a preferên-
cia da comunidade.
O retorno à Bíblia teve significado


Que tremendo de-
safio. Que caminho
muito além do religioso. seguir?
A sabedoria das
Na verdade, representou um Escrituras é fasci-
nante. A Bíblia não
deslocamento de autoridade e é um livro medieval
uma libertação do indivíduo ou moderno. Nem é
pós-moderno. Mas,
sua amplitude e sua
religiosa. Essa herança construiu de movimentos na mesma direção. exposição das palavras divinas apre-
história, principalmente na Europa Era um clamor geral. A resposta sentam um texto capaz de dialogar,
Central e Setentrional, mas tam- foi o retorno às Escrituras para re- interagir e alcançar qualquer socie-
bém na América do Norte, e mais escrever a espiritualidade europeia dade e cultura. Por isso, precisamos
recentemente no Brasil e na Amé- e sua sociedade. Mas, essa não é com urgência retornar nossa atenção
rica Hispânica, fazendo-se também uma proposta estática. A Reforma para as Escrituras outra vez. Deixan-
presente em África e na Ásia. sempre afirmou uma igreja semper do nosso enfoque moderno e racion-
O retorno à Bíblia teve signifi- reformanda. Ela deve continuar. alista de apresentar o Evangelho,
cado muito além do religioso. Na Nosso ambiente europeu e ociden- precisamos fazer com que o texto
verdade, representou um desloca- tal tem hoje uma outra realidade. bíblico, a partir de sua própria men-
mento de autoridade e uma liber- Há um cenário pós-iluminista, ex- sagem, venha impactar o homem
tação do indivíduo. As Escrituras istencialista e secular. É o mundo pós-moderno secularizado.
tornam-se livro aberto, que po- pós-moderno. Não há referências, A igreja precisa ser tolerante, viva,
dem ser examinadas por todos e e o relativismo impera. A cristan- intensa, altruísta e apaixonada, além
devem ser entendidas pelo estudo dade é vista com desconfiança. É de doutrinariamente firme e porta-
sistemático. A autoridade do Livro um mundo completamente distinto dora da verdade de Deus. Que Deus
abriu caminho para a hermenêu- e novo. nos abençoe nesta grande missão. ❑

11
Acampamentos e
Conferências em 2018
9 a 13 de Fevereiro - 2ª Conferência +21

7 a 14 de Julho - Acampamento Feminino


7 a 14 de Julho - Acampamento de Homens
14 a 21 de Julho - Acampamento de Crianças
21 a 28 de Julho - Acampamento de Juniores

28 de Julho a 4 de Agosto - Acampamento Familiar 1

4 a 11 de Agosto - Acampamento Familiar 2


11 a 18 de Agosto - Acampamento de Jovens
20 a 24 de Agosto - IX Conferência Bíblica
25 de Agosto a 1 de Setembro - Acampamento de Adolescentes

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DA
SOCIEDADE
REDACçãO
Por: Dina
João Lino
Marques
- Genéve, Suiça

Politicamente
Correcto
ou a Policia do Pensamento e
os Novos Educadores do Povo?

A
ssim que o tema entrou de rompante na minha vida subi logo O que está verdadeiramente em causa é a diluição e alienação dos valores
de degrau. Sim porque para se abordar este tema tanto para judaico-cristãos em que a nossa cultura inicialmente foi baseada, para va-
apologistas do politicamente correcto como para os críticos lores totalmente antagónicos a essa identidade.
dessa postura, o primeiro passo a dar é subir a um pedestal e Vamos por partes…
assumir-se como uma autoridade em termos de ideais. Lembro-me de nos finais dos anos oitenta e princípios dos noventa do
Tive de descer o degrau, retirar o dedo acusador, deixar o florete/espada século passado a “Nova Era” ter sido a moda e tendência entre artistas,
em baixo e reflectir sobre a minha relação com o politicamente correcto, figuras públicas e actores para acabar com o cristianismo convencional.
antes mesmo de o tentar descodificar ou mesmo espiritualizar. Não mudei O objectivo era alcançar um “esperanto” religioso, dar azo ao sincretismo
de posição, mas vi-me ao espelho como pseudo “Educador do Povo”. das religiões e ao princípio de que todos os caminhos vão dar a Deus, seja
Facilmente serei um não “politicamente correcto” (prefiro a expressão lá o que o conceito Deus significasse para os diversos povos. A “Nova
não que anti… os anti não são politicamente correctos), porque melindrei Era” apresentava-se como o politicamente correcto. Celebrava a diversi-
muita gente, feri susceptibilidades familiares, criei mesmo anti-corpos, dade, a individualidade e a liberdade, valores que como direitos alienáveis
tive de cortar alguns elos para me distanciar de situações dúbias e pouco do ser humano, pareciam mais que óbvios para argumentar esse caminho.
transparentes. A Nova Era entrou de mansinho cheia de boas intenções mas com o intuito
Entendo no entanto que há algo na expressão que deturpa o sentido da claro de esvaziar o sentido do cristianismo.
mesma e que se vincula à palavra política. A palavra correcto tem tudo Parece que a sabedoria popular tem uns momentos de razoabilidade e
para ser positiva, mas o politicamente condiciona automaticamente o sen- como de boas intenções está o inferno cheio a “Nova Era” já não é nem
tido de bem comum. nova (nem nunca foi), nem referência para os novos “Trend Setters” (Defi-
A palavra inicial grega “politiká” significava assuntos públicos. Infeliz- nidores de Tendências).
mente a palavra degenerou em ciência do governo das nações (significado Sem querer fazer paralelismos redutores o politicamente correcto parece-
ainda assim com alguns pontos positivos) e continuou na sua degeneração me a “Nova Era” da “Era do Vazio”, a era em que vivemos segundo Gilles
para sentidos como esperteza, finura, maquiavelismo e modo de se obter Lipovetsky, a “Era do Abjecto” segundo a minha cosmovisão.
o que se pretende. O politicamente correcto começou por assumir que não há preto nem
Utilizando unicamente o sentido literal, a expressão é um meio para atingir branco, nem hetero nem homo, nem normal nem anormal, nem superior
um fim. Esqueçam quem o vê como uma nova arte de convivialidade, de nem inferior… princípios muito próximos das temáticas bíblicas: “Ni-
integração ou de aceitação. Infelizmente o adjectivo qualifica uma palavra sto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem
que já de si se desqualificou. O politicamente correcto é coerente, porque fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. (Gálatas 3:28)
assume como correcta e única, a sua forma de obter o que pretende. “Onde não há grego, nem judeu, circuncisão, nem incircuncisão, bárbaro,
E o que é que pretende? cita, servo ou livre; mas Cristo é tudo, e em todos”. (Colossenses 3:11).
Talvez o risco de entrar num tema politicamente incorrecto e tão dado a Parece nos propósitos muito próximo dos valores bíblicos, mas, e há sem-
acaloradas discussões esteja vinculado ao objectivo espiritual dessa inten- pre um mas, com a ausência assumida da figura de Cristo. As diferenças
ção (ou não tivéssemos uma visão espiritual do assunto). entre seres humanos são anuladas em termos espirituais em Cristo Jesus.

14
Mas essas diferenças são reais, de tal modo que são enunciadas por Paulo. bíblicos não são silenciáveis ou negligenciáveis. São “Para iluminar aos
Somos modelos únicos, diferentes, diversos e heterogéneos segundo o que estão assentados em trevas e na sombra da morte; A fim de dirigir os
beneplácito Divino (algo que a nova ordem de valores negou, eliminou nossos pés pelo caminho da paz”. (Lucas 1:79)
e contesta diariamente). Contrariamente aos polícias do pensamento eu respeito a sua existência.
No seu percurso da nova ordem mundial o politicamente correcto não Não quero que eles se silenciem e que não exprimam o que pensam. O
melindra, não susceptibiliza, não cria traumas. Sobre a capa da tolerân- facto de não concordar com eles só legitimará o meu posicionamento de
cia, da integração, do respeito e da convivialidade, camufla a acusação, a permitir que outros pensem diferentemente de mim. Isso reforça as min-
obrigatoriedade e a homogeneidade. has convicções, reconhece a luz nas trevas e procura a paz. Não procuro
O politicamente correcto assume as dores do descriminado, do segregado a eliminação, a destruição ou o silêncio da mordaça. O Cristianismo é
e justifica na lógica do olho por olho de que quem utiliza uma linguagem isso…abnegado até no seu contra-poder. Ter a voz profética quando os
que possa ferir susceptibilidades deve ser alienado, separado, humilhado valores se distanciam daquele que é a sua referência viva: Cristo Jesus.
publicamente, preso ou mesmo silenciado. Não consigo imaginar melhor conclusão que este texto publicado nas re-
Uma moral por decreto, que assume que Cristo não deve estar lá, nem os des sociais da autoria do meu amigo e irmão Nuno Soares:
valores que Ele proclama, mas que decreta uma nova ética, impositiva e “Uma vez vez aberta a caixa, permitam-me destapá-la até ao fim. Temos
absoluta. assistido, num passado mais recente, a uma lenta, porém metódica, camin-
Com essa orientação surgem os polícias do pensamento os novos educa- hada em direcção a um sistema político-social a que podemos chamar de
dores do povo. Ao estabelecer limites ao que se pode dizer e ao que não Ditadura do Politicamente Correcto. Este sistema opera segundo o princí-
pode ser debatido, ao controlar a linguagem o que se pretende é o cumprir pio da tolerância exigida às pessoas de bem de uma determinada socie-
determinadas agendas políticas e caminhos nada inocentes. dade para introduzir o seu próprio sistema alternativo de valores. A pouco
Foi esse o caminho seguido pelos regimes totalitários (Nazismo/Co- e pouco, aquilo que surge como um pedido urgente de dignidade para com
munismo) genialmente retratados na distopia de George Orwell “1984”. uma determinada causa torna-se uma obrigação a que todos têm de se
O escritor inventou mesmo uma palavra – newspeak – para retratar esse submeter sob o peso de serem tomados por irracionais, intolerantes, racis-
esforço de dominar as mentes através do controle da linguagem. O po- tas, preconceituosos, homofóbicos, ou qualquer outro valor que choque de
liticamente correcto de hoje é, com frequência, apenas a versão contem- frente contra a ideologia do Politicamente Correcto. Esse mesmo, que se
porânea do doublethink orwelliano. levanta contra as religiões, perdão, contra uma religião apenas, o Cristian-
Esta policia do pensamento, os seguidores dos novos educadores do povo, ismo, e milita de forma tão ou mais religiosa para garantir que os valores
acusa os defensores da diferença entre sexos, a diferença entre homem e dessa Fé são ridicularizados, desprezados e por fim, anulados. A religião
animais, a sexualidade original e segundo os padrões de Deus, a Criação, do Politicamente Correcto insurge-se contra as suásticas americanas do
o valor da vida tanta para o embrião como para o ancião como atentatórias século XXI, mas carrega-as de forma subliminar no seu discurso doce e
para a vida humana e como tal sujeitas ao silenciamento. vitimado, porém carregado de veneno e peçonha mortal. É por isso que
Curiosamente os defensores desta nova ética, perante o humor absurdo digo claramente que sou heterossexual, que discordo que o casamento não
e grotesco em temas como a fé, a enfermidade, a fraqueza humana, as seja exclusivamente entre um homem e uma mulher, que crianças não de-
convicções profundas e a objectificação da mulher, trata tudo isto como vem ser privadas ter um pai e uma mãe, especialmente as que são adopta-
potencialmente de mau gosto, mas legitima a sua existência devido aos das, que a educação moral e sexual das crianças é tarefa dos pais e não do
direitos alienáveis de liberdade de expressão. Estado, que não há problema nenhum que os rapazes gostem de azul e as
Os mesmos que querem retirar e destruir livros que marquem as difer- meninas de rosa ou de outra cor qualquer, que nem todos os que entram
enças e a diversidade do ser humano, são os mesmos que toleram a ja- como “refugiados” na Europa são boas pessoas e sequer refugiados da
vardice, o lixo e o degredo. Síria, que a nossa raiz cultural não é islâmica mas judaico-cristã, que a Pal-
Uma nova moral, uma nova ordem de valores, onde o policiamento vai estina nunca existiu, que Israel é dos israelitas, que o Inferno é real, que os
desde as formas de expressão em público e em privado (não esqueço a Russos não são culpados por tudo o que é mau, nem os Americanos são os
condenação e prisão efectiva de um pastor sueco porque explicou a sexu- bons da fita, e que eu tenho a liberdade para escrever e pensar o que quero
alidade do ponto de vista bíblico condenando a homossexualidade), ao sem medo que me venham impor o que quer que seja. O Politicamente
policiamento de livros, de aulas na escola, de comunicação social, de re- Correcto não me vai calar, a menos que me mate! Mas nesse caso, falarei
des sociais e opiniões contrárias aos novos inquisidores. ainda mais alto.”
Infelizmente para nós cristãos convictos a pas- Nota: Intencionalmente repeti e
sagem de Mateus 5:37 diz muito do sublinhei a expressão que dá
que deveremos assumir nas nos- título a este artigo, porque
sas convicções: “Seja, porém, uma Mentira muitas vezes
o vosso falar: Sim, sim; Não, repetida não passa a ser
não; porque o que passa VERDADE…é sempre
disto é de procedência Peçonha Mortal. ❑
maligna”.
Os valores

15
LEGADO DA REFORMA PROTESTANTE
Por: Alcir Souza - Queluz

Lutero e a Bíblia
dos Analfabetos
distorcer. A Palavra pode existir sem a

P
ara Martinho Lutero opera dei Aberta Sobre a Tradução).
sunt verba eius (as obras de Os ideais da Reforma foram rapida- igreja, mas a igreja não existe sem a Pa-
Deus são as suas palavras). E mente para além dos espaços religiosos lavra, o único tesouro capaz de prover
estas palavras libertadoras de e passaram a ser conhecidos e discuti- santidade e salvação.
Deus, poder para a salvação daquele dos nos sítios públicos, nas feiras e nas Esta centralidade da Palavra não rejeita
que crê, nunca devem estar sob o jugo casas. Isto também ocorreu graças ao as Artes, pelo contrário, confere-lhes
de poderes humanos, quer seja de au- uso da imprensa de Gutenberg, que fa- uma natureza diferente. Fiel às Escrit-
toridades e instituições religiosas ou voreceu a rápida propagação do mate- uras, Lutero defendia que nenhuma
tradições e dogmas eclesiásticos. rial produzido por Lutero. Este chegou expressão artística humana deveria ser
Lutero tinha consciência do mandato a afirmar que a imprensa era “a melhor adorada, mas isto não quer dizer que
de Jesus aos seus discípulos: pregar o e mais recente dádiva... através da qual não deveria ser produzida.
evangelho a toda criatura (Mt 28:19). Deus exerce seu poder”. Além da música, considerada por ele
Por isso, fez questão de assegurar que Mas Lutero e os seus companheiros como a viva vox evangelii, ou “a viva
a Palavra de Deus não deveria ser lida e deviam superar outro desafio, o alto voz do evangelho”, a Palavra de Deus
compreendida apenas pelo clero ou pe- índice de analfabetismo entre a popu- deveria ser anunciada através de todos
los eruditos, mas por todo o povo. lação. Na sua estratégia de comuni- os meios possíveis de comunicação.
Encorajado ainda pelo ideal renascen- cação ele reconheceu a necessidade de Ser “apresentada tão poderosa, lúcida
tista de superação das fronteiras entre aliar à palavra outro valioso recurso: a e claramente na pregação, no canto, na
o latim e a língua popular, o alemão, imagem. fala, na escrita e na pintura”. (Comen-
Lutero elaborou os seus escritos numa O uso das imagens religiosas, espe- tário Sobre o Salmo 101).
linguagem e estilo redacional que tor- cialmente nos templos, foi um tema Nesta altura entra em cena outro colab-
nasse possível a compreensão por toda bastante controverso na altura, princi- orador de Lutero, o pintor Lucas Cra-
a população, de Norte a Sul da Ale- palmente devido ao movimento icono- nach. Numa época em que a cultura e
manha. clasta promovido por outro professor a arte desempenhavam papel essencial
Para ele, a tradução da Bíblia não de- de Wittenberg, Andreas Bodenstein na manutenção dos estados alemães
veria levar em conta apenas as línguas (de Karlstadt), por volta de 1522. Esta medievais, Cranach foi um dos mais in-
originais ou a tradução latina, mas era temática, bem como a posição de Lute- fluentes cidadãos de Wittenberg. Viveu
necessário “perguntar à mãe em casa, ro sobre o assunto merecem um estudo naquela cidade entre 1504 e 1550, sen-
às crianças na rua, ao homem comum à parte. do o pintor oficial da corte a convite do
no mercado, e olhá-los na boca para ver É importante afirmar que para o refor- príncipe Frederico III.
como falam e depois traduzir; aí então mador alemão a Palavra deve ser liberta Quando chegou a Wittenberg, Martin-
eles vão entender e perceber que se está das autoridades humanas, mas também ho Lutero conheceu Cranach, e logo se
a falar em alemão com eles”. (Carta dos símbolos religiosos que a podem tornaram amigos. Lutero foi padrinho
16
Lucas Cranach

de um dos filhos do pintor, e este foi podemos afirmar que naquele período e acabou por se tornar um dos artis-
testemunha do casamento de Lutero as artes relacionadas com a Reforma tas mais importantes do renascimento
com Katharina von Bora. acabaram por se tornar a Bíblia dos alemão.
Cranach tornou-se o pintor mais impor- analfabetos. No Atelier dos Cranach foram pro-
tante da Reforma Protestante. As suas No início da Idade Média, o Papa duzidas mais de 5.000 obras, sendo que
obras revelam o quanto a sua cosmov- Gregório Magno asseverou que “as 1.500 delas foram preservadas e hoje
isão teve o impacto dos ensinos de Lu- imagens são os livros dos leigos”. Mas podem ser consultadas num acervo
tero: a centralidade da cruz, a salvação esta afirmação tem um significado te- digital, disponível na internet.
pela graça, a verdadeira Igreja de Jesus ológico distinto do que foi dito acima. O que pode ser considerada a principal
Cristo, etc. Para Gregório, as pinturas, vitrais e es- obra reformada de Lucas Cranach, que
Em 1524, produziu o Brasão de Lutero, culturas presentes nos templos, praças foi concluída pelo seu filho, é a obra
e anos depois a famosa Rosa de Lutero e mercados serviam para apontar uma póstuma a Cruz de Cristo. Exposta
que, segundo o próprio reformador, vida a ser vivida entre a esperança e o na Igreja de São Pedro e São Paulo,
representa o compendium theologiae, temor. em Weimar esta obra busca sintetizar
ou o “sumário da teologia” luterana. Serviam para lembrar as pessoas da a história da humanidade afastada de
Pintou retratos de Martinho Lutero e necessidade da prática das boas obras Deus e a salvação que pode ser encon-
família, ilustrou a primeira edição do como caminho para a salvação: facere trada pela fé na obra redentora de Jesus
Novo Testamento em alemão (1522) quod in se est (faz o que está ao teu al- Cristo.
e da Bíblia ilustrada (1534), além de cance). As obras de Lucas Cranach não tin-
diversas xilogravuras e panfletos que Já para Lutero, as obras de arte inspira- ham valor somente pela sua função,
espalharam o pensamento da Reforma das na Reforma não tinham o poder de mas pelo seu significado. Mais do que
por toda a Alemanha. salvação, mas de proclamação. Não recursos de propaganda, revelam um
A vasta produção e distribuição dos reproduziam a teologia e interesses da artista que passou a desenvolver os
panfletos de Lutero, ilustrados por Cra- Igreja de Roma, mas o Evangelho da seus dons, talentos e criatividade para
nach, tinha como um dos objetivos a Graça, a Teologia da Cruz. Ele próprio a glória de Deus.
inclusão dos menos favorecidos nos tinha o zelo de que todas as imagens Concordo com Francis Schaeffer seg-
debates e reflexões teológicas. Deste produzidas por Carnach fossem fiéis undo o qual os cristãos devem produzir
modo, aqueles que não tinham acesso aos princípios da Reforma. E ambas, obras de arte, assim como músicas,
à leitura, ouviam as pregações e os palavra e imagem, deveriam conduzir livros, etc., não simplesmente como re-
debates, mas principalmente viam a o povo a glorificar somente a Deus. cursos evangelísticos ou doutrinários,
Reforma acontecer através das pinturas A partir de 1535, Lucas Cranach, que “mas como algo belo para a glória de
e gravuras. passou a ser conhecido como “o Vel- Deus. Uma obra de arte pode ser, em
Como Cranach retrata na sua obra O ho”, teve a companhia de seu filho, si, uma doxologia” (A Arte e a Bíblia).
Altar da Reforma (1547), a verdade do Lucas Cranach, “o Jovem”. Então com Não será este mais um legado da Refor-
evangelho foi reconquistada por Lutero 20 anos, o jovem Lucas manteve-se fiel ma Protestante que o povo de Deus
e devolvida a todo o povo. Por isso ao estilo do pai, com poucas variações, deve recuperar? ❑
17
VIDAS qUE INSPIRAM
Por: Dina Marques - Mem-Martins, Sintra

Comenius
“A arte universal
de ensinar tudo a todos”

Q
uando falamos de Reforma Protestante não podemos as melhores da Europa na época de Huss e mais tarde. A maioria
deixar de falar de Educação. É inevitável. Quando, após dos professores tinha o grau de mestre, e era motivo de orgulho para
ter sido excomungado, Lutero permaneceu refugiado no todos terem passado por aquela universidade autoridades como o
castelo de Warteburgo e aí traduziu o Novo Testamento matemático João Kepler e o pensador Giordano Bruno que também
para a língua alemã, ficou bem claro para ele que havia um grande ali lecionaram. Os Irmãos Morávios demonstravam uma dupla preo-
trabalho a fazer: ensinar as pessoas a ler de modo a que pudessem cupação com a teologia e a com a pedagogia. Com esta preocupação
ter acesso à Palavra de Deus o qual lhes havia sido negado até àquela em mente traduziram a Bíblia, do hebraico e do grego, para sua lín-
data. Em consequência disso,a criação de escolas para o ensino do gua materna, a célebre versão de Králice.
povo foi uma das ações importantes levadas a cabo especialmente É neste contexto que vai nascer uma distinta figura , um homem
por Filipe Melanchton, companheiro de Lutero. cujo trabalho atravessaria os séculos até aos nossos dias pois os seus
No contexto da expansão da Reforma Protestante encontra-se a princípios continuam a ser atuais mesmo na educação considerada
congregação dos Irmãos Morávios. Este grupo remonta ao século 15 secular. Falamos de João Amós Comenius.
com Jan Huss (1369-1415), que, para além de líder religioso, foi o Nasceu em Nivnice naquilo que é hoje a República Checa, no dia 28
primeiro reitor da Universidade de Praga. Os morávios aperceber- de Março de 1592. Os seus pais pertenciam aos irmãos Morávios que
am-se rapidamente de que a melhor
…ensinar de modo sólido, não super-


forma de preservar a unidade entre

ficialmente, de qualquer maneira, mas


os Irmãos era a educação, que se
tornou um dos aspectos mais im-
portantes daquele movimento re-
ligioso. Este apego à educação fez
para conduzir à verdadeira cultura,
com que criassem muitas escolas, aos bons costumes, a uma piedade
as quais, inclusive a Universidade de
Praga (1348), fossem contadas entre
mais profunda.”
18
preconizavam o apego às Escrituras e a prática de uma vida humilde todos. Isto incluía rapazes e meninas, homens e mulheres. Segundo a
e sem ostentação. Contudo morreram quando o filho tinha 12 anos. antropologia teológica de Comenius, o homem é a coroa da criação
Aos 16 anos matriculou-se na escola latina de Prerov onde foi um de Deus. Ora, se todos foram criados por Deus, à Sua imagem e se-
bom aluno e um exemplo para todos os seus colegas. melhança, deduz-se que todos devem ser igualmente educados. Nem
Tendo concluído os seus estudos naquela escola foi escolhido para as mulheres, nem os pobres podem ser excluídos pois isso seria uma
ser pastor e enviado para a universidade de Herbon, na Alemanha ofensa ao próprio Deus.
para fazer os seus estudos superiores. Enquanto permaneceu nesta
cidade, Comenius preparou um dicionário da sua língua materna, ❷ O ensino deve ser ministrado do modo certo para poder dar re-
Bohemicae Thesaurus, cujo conteúdo consistiu em apresentar o léx- sultados. Deduz-se que para Comenius há o modo certo e o modo
ico completo de uma gramática exata das locuções da língua checa.. errado. Há que aprender a fazer o certo.
Em 1614 Comenius regressou a Praga onde se tornou reitor da escola ❸ O ensino deve ser feito de um modo fácil para que tanto profes-
de Prerov. Aí notabilizou-se como professor competente, e o seu mé- sores como alunos não fiquem cansados.
todo de ensino incluía momentos de conversa, jogos, música e rec-
reação. Desta forma os alunos sentiam-se motivados, as aulas eram ❹ Embora o ensino seja feito de um modo fácil tem que ser pro-
muito mais agradáveis e aboliu os castigos corporais tão em voga fundo, sólido, não superficial porque tem que conduzir à verdadeira
naquela época e até há muito poucos em muitos locais do mundo, cultura, aos bons costumes e à piedade mais profunda.
Portugal incluído. “A função da escola, pois, é despertar a inteligência dos alunos. Para
Em 26 de Abril de 1616 foi ordenado pastor e dois anos depois as- que ela seja uma “verdadeira oficina de homens”, é necessária a con-
sumiu o pastorado da comunidade de Fulnek onde também dirigiu sciência de que não só o ensino é relevante, mas também a moral.
a escola. Esta é compreendida como a arte de formar costumes. No contexto
Contudo a Europa estava a ser assolada por uma terrível e cruel guer- da moral, os pais devem dar exemplos de honestidade, serem per-
ra religiosa que veio a ser conhecida por “Guerra dos Trinta Anos”. feitos guardiões da disciplina familiar, manterem os filhos longe das
Em consequência disto, e por ser Comenius um notável dirigente más companhias. Tendo em vista que os males são aprendidos com
da comunidade dos Irmãos Morávios, deram-lhe ordem de prisão e maior facilidade, as amas e os preceptores devem ser exemplos de
ele teve que fugir. A saída do seu país natal levou-o a diversos países orientação e cuidado aos jovens, já que a moral é parte integrante do
como a Polónia, a Hungria, a Suécia e Holanda pois as suas ideias ensino transformador.
sobre o ensino iam-se tornando conhecidas e ele recebeu convites Além da moral, Comenius acrescenta à educação ou ao ensino a pie-
para trabalhar em vários países. Contudo, foi na Holanda que ele se dade, definida por ele da seguinte forma:
fixou e aí permaneceu até à sua morte no dia 15 de Fevereiro de 1672. [...] é o nosso coração – impregnado pelo reto sentimento, no que
Normalmente, e devido a uma análise por vezes superficial da sua se refere à fé e à religião – saber buscar Deus em toda a parte [...]
obra, considera-se a atividade de Comenius mais como a de um segui-lo por onde quer que tenha estado, frui-lo onde quer que seja
pedagogo do que de um teólogo. Contudo essa abordagem carece de encontrado. (Comenius, Didáctica Magna)
algum rigor porque, para ele, a educação estava intimamente ligada à Nesse contexto, Comenius pontua que o modo de alcançar a piedade
relação do ser humano com Deus. é por meio da meditação das Escrituras, da oração e da perseverança
Dentre as obras que escreveu, a mais conhecida é a Didática Magna, na provação.” (Edson Pereira Lopes, O Conceito de Educação em
obra que foi escrita na sua língua materna mas que ele mais tarde João Amós Comenius. In Fides Reformata XIII, Nº2 ).
traduziu para o latim de modo a poder ser divulgada entre os aca- Como temos feito relativamente a outras figuras da história apresen-
démicos. No seu início, Comenius deixa bem claro aquilo que ele tadas na secção “Vidas que Inspiram” da nossa revista Lar Cristão de-
considera serem os objetivos do ensino: safiamos todos a a procurarem mais informação sobre este homem
Este pequeno excerto mostra-nos alguns dos pensamentos de Come- de Deus. O espaço de que dispomos é pouco para fazer um grande
nius, dentre os quais destacaremos: desenvolvimento, mas é fácil encontrar artigos e bibliografia sobre
esta figura incontornável da história de educação e do movimento da
Reforma Protestante do século XVI.
“Nós ousamos prometer uma Didática Magna, ou seja,
Desejamos concluir referindo o quanto as posições de Comenius rel-
uma arte universal de ensinar tudo a todos: de ensinar ativamente aos objetivos do ensino se encontram na ordem do dia.
de modo certo, para obter resultados; de ensinar de modo Há não muitos anos, o ensino público do nosso país era marcado por
fácil, portanto, sem que docentes e discentes se molestem alguns valores cristãos veiculados pela influência da Igreja Católica.
ou enfadem, mas ao contrário, tenham grande alegria; Contudo, esses tempos passaram e hoje os valores transmitidos na
de ensinar de modo sólido, não super- ficialmente, de escola portuguesa são maioritariamente contrários aos valores cris-
qualquer maneira, mas para conduzir à verdadeira tãos. Este facto faz com que estejam a surgir muitos projetos que
cultura, aos bons costumes, a uma piedade mais profun- visam a criação de escolas cristãs bem como o aumento de famílias
que optam pelo ensino doméstico para a educação dos seus filhos.
da […].”(Comenius, Didáctica Magna)
No fundo, estes movimentos estão a voltar ao que foi preconizado
❶ Para ele o ensino era universalista. O objetivo era ensinar tudo, a no tempo dos reformadores e tão vem teorizado por Comenius. ❑

19
TERRA à VISTA
Por: Raquel Úria – Bióloga - Graça, Lisboa

Ideias práticas
para uma vida mais
ecológica
A nossa casa comum tem sido muito negligenciada e, para começarmos a
inverter este percurso, há mudanças bem pequenas que podemos introduzir
no nosso dia-a-dia. Se podemos tratar melhor o planeta que nos foi dado
para cuidar, porque não começar hoje? Seguem-se algumas sugestões e di-
cas muito simples para uma vida mais frugal e amiga do ambiente.

 Evitar produtos descartáveis de uso único (pratos, co- cessários. Uma aventura, um mini-curso, um jantar, uma
pos, talheres...). Quando inevitáveis, preferir os de papel viagem, um dia num parque temático, no Jardim Zoológi-
ou outros materiais biodegradáveis e dizer sempre não aos co, num Museu, no Oceanário...
plásticos.  Escolher alimentos frescos sazonais e regionais. Frutos
 Dispensar as palhinhas de plástico que nos servem em e legumes da época e que não tenham feito uma longa via-
tantas refeições fora de casa (qual é o problema de se beber gem para chegarem até nós.
diretamente do copo?).  Substituir toalhetes descartáveis por panos reutilizáveis.
 Levar de casa o(s) nosso(s) próprio(s) saco(s) quando  Fazer ementas semanais e lista de compras para evitar
vamos às compras. desperdício alimentar.
 Reutilizar (caixas, frascos, latas, papéis de embrulho,  Cozinhar mais em casa, aprender a usar criativamente
fitas... tudo o que possa ter várias vidas! E quantas mais, todas as partes comestíveis dos alimentos, valorizar os res-
melhor.) tos, ter atenção à forma correta de conservação e às datas
 Oferecer experiências em vez de bens materiais desne- de validade.

20
 Restaurar/consertar (móveis, roupa, sapatos...) - Preferir  Não comprar produtos de beleza ou higiene que conte-
sempre produtos de qualidade que possam durar mais anos nham microesferas (presentes em muitos exfoliantes e géis
e investir em recuperá-los (ou doá-los se estiverem ainda de banho) e que vão diretamente contaminar rios e oceanos.
bons) em vez de comprarmos produtos de fraca qualidade  Nunca atirar cotonetes ou outros produtos com plástico
que vão parar ao lixo ao fim de poucas utilizações. para a sanita (não devia ser necessário escrever esta, de tão
 Não comprar roupa que sabemos que vamos usar ape- óbvia).
nas uma ou duas vezes. Mesmo para cerimónias, escolher  Congelar os alimentos para evitar que se estraguem.
peças versáteis que possam ser adequadas a outros contex- Quase tudo pode ser congelado e manter as suas proprieda-
tos (ou alugar). des intactas: aquele restinho de cebola picada que não usá-
 Optar por transportes públicos sempre que possível. mos, uma clara que sobrou de uma receita, as fatias de pão
 Trocar o carro pela bicicleta ou andar a pé nos percursos que cortámos a mais e não chegámos a comer, os legumes
mais curtos. frescos que temos no frigorífico e não vamos conseguir co-
zinhar brevemente, fruta...
 Desligar os interruptores quando se sai de uma divisão
para outra ou sempre que a iluminação artificial seja des-  Fazer compotas, doces e chutneys para conservar ali-
necessária. mentos.

 Evitar deixar equipamentos elétricos em standby por-  Comprar só o que é necessário. Mais do que reciclar,
que continuam a consumir energia. precisamos de reduzir.

 Requisitar livros na biblioteca em vez de os comprar e/


ou participar em iniciativas de troca de livros usados. São desafios para todos nós.
 Optar por produtos de limpeza ecológicos. Uma boa forma de começarmos um novo ano. ❑

21
NOTÍCIAS

ACAMPAMENTO
U
ma vez mais real-
izou-se em Água de
Madeiros o Acam-
pamento Feminino,
pela terceira vez em simultâneo
com o Departamento de Ho-
mens.
Uma vez mais passámos uma se-
mana extraordinária de aprendi-
zagem da Palavra de Deus,
reflexão, repouso e muito con-
vívio. E como gostávamos que
muito mais irmãs tivessem po-
dido estar connosco!
O tema deste ano foi “Vidas que
inspiram”, e a irmã Catarina
Jacobson, missionária em Sevil-
ha, dirigiu o estudo bíblico. Com
o seu entusiasmo tivemos opor-
tunidade de abordar tópicos im-
portantes para todas aquelas que
desejam viver vidas segundo a
vontade de Deus, que inspirem
todos os que as rodeiem.
De acordo com o tema procurá-
mos lembrar pessoas que tiveram
impacto na nossa vida e ao longo
da semana fomos compondo um
coração grande cheio de peque-
nos corações que representavam
pessoas que nos influenciaram
em diversas áreas como a sal-
vação, o amor, etc.
E dado que estamos a falar em
vidas que inspiram procurámos
ter entre nós alguém que pela sua
22
FEMININO 2017
idade e ministério desenvolvido Guarda que, para além de pas- dades tradicionais: a festa dos
ao longo da vida pudesse ser tor da Igreja de Vieira de Leiria amigos secretos que originou
uma inspiração para todas. Deste durante bastantes anos, também tanta animação, os workshops
modo esteve connosco a irmã D. foi Director do Acampamento dirigidos pela irmã Raquel de
Lídia Oliveira que, numa entre- Baptista logo no início do seu Jesus nos quais este ano apren-
vista que lhe fizemos, nos falou estabelecimento em Água de demos a fazer sabonetes, e o cor-
do ministério que desenvolveu Madeiros. al que ensaiou dois hinos com
com o seu marido, o pastor João Quando temos um tema que os quais enriquecemos o nosso
Rosa de Oliveira. Foi um tempo nos leva a falar de pessoas que culto de encerramento.
muito agradável, alegre e diver- foram uma inspiração, corremos As nossas palavras são pobres
tido, pois, como sempre acon- o risco de nos centrarmos nos para agradecer a Deus o tempo
tece nestes casos, a irmã D. Lídia seus feitos. Para evitar essa id- passado no Acampamento bem
também contou alguns episódios eia, ao longo da semana fomos como para agradecer a todos os
que nos levaram a dar algumas pintando um mural no qual se que colaboraram: Os dirigen-
gargalhadas! lia: “O nosso alvo é Cristo” Heb. tes Raquel e Daniel Pascoal,
Os Homens, por sua vez, dado 12:2a. Este, colocado mesmo na a dirigente do louvor, Esther
que a pessoa que eles desejavam parede frontal do salão mantin- Amorim, a pianista, Sara Almei-
entrevistar não se podia deslo- ha-nos focados em Deus, Aquele da e os responsáveis pelo estudo
car, foram visitar alguém cujo para cuja glória as nossas ações bíblico, Catarina Jacobson para
ministério também foi uma bên- devem convergir! as mulheres e pastor Pedro Jorge
ção para muitos: o pastor Ilídio E não faltaram as outras ativi- para os homens. ❑

23
VIDA SAUDáVEL
Por: Sofia Duarte - Farmacêutica - Sto Tirso

Queda de cabelo
AlopéciA AndrogenéticA
O cabelo é tão importante
atualmente como a sua perda
O cabelo tem uma grande importância no quotidiano do ta-se do processo natural de renovação capilar. O cabelo
ser humano não só por estar relacionado com a person- vive por ciclos:
alidade de cada um mas também por estar intimamente Anagénese: fase de crescimento ativa que dura entre 2
ligado à beleza e subsequentemente influenciar a comu- a 6 anos.
nicação interpessoal. Desta forma torna-se importante Catagénese: fase de transição. Dura 1 a 2 semanas e
destacar algumas curiosidades sobre as propriedades do corresponde à fase em que o crescimento do cabelo pára.
cabelo: Telogénese: fase de repouso: dura 2 a 3 meses, findos
 Solidez: um cabelo pode suportar um peso de 50 a 100 os quais os cabelos começam a cair, empurrados por
g. Uma cabeleira, suporta até 12 toneladas. novos fios em crescimento.
 Elasticidade: a extensibilidade máxima é de 20-30% Estas três fases coexistem em todas as pessoas sendo que
nos cabelos secos e de 100% nos cabelos molhados a cada momento há sempre cabelos em crescimento, re-
 Poder de absorção: o cabelo contém pouca quanti- pouso e queda.
dade de água mas consegue absorver até 1/3 do seu Desta forma percebe-se que perder cabelo é normal, mas
peso em água ou em vapor. Se for um cabelo danificado, quando a queda é acentuada pode estar-se perante um
é muito mais poroso e pode conseguir absorver muito quadro de alopécia.
mais quantidade de água demorando mais a secar. A Alopécia é uma doença dermatológica inflamatória
 Plasticidade: o cabelo pode deformar-se fácil e tempo- crónica comum que afecta os folículos pilosos e define-
rariamente, se associarmos tração, calor ou humidade. se pela perda parcial ou total dos pêlos ou cabelos. Ver-
 Eletricidade: devido à queratina dos cabelos, o cabelo ifica-se que há mais folículos pilosos em queda do que
está carregado negativamente. Daí que um champô mui- em fase de crescimento, pondo em causa a renovação
to detergente ou a fricção o eletrifiquem facilmente. É capilar. A alopécia androgenética é a forma mais comum
importante utilizarmos os condicio-
nadores que normalmente têm carga
positiva e ajudam a neutralizar as car-
gas negativas do cabelo, controlando
a eletricidade estática.

Dos 100 mil a 150 mil cabelos que


possuímos, em média, todos os dias
perdemos entre 50 a 100 cabelos. Tra-
24
de perda de cabelo em ambos os sexos. É classificada Então o que pode ser feito para
como sendo uma alopécia não cicatricial e caracteriza- combater este problema?
se pela perda progressiva do diâmetro, comprimento e
pigmentação do cabelo. Os principais factores de risco É simples! Para além de ser feita uma hidratação diária
deste distúrbio são: factores genéticos, fatores hormo- do cabelo, é importante utilizar um champô anti-queda
nais e fatores biológicos. Dentro dos fatores biológicos é diariamente (o rótulo deve indicar que o mesmo pode
importante realçar situações como: microinflamação do ser utilizado diariamente). Ao champô pode ser asso-
folículo piloso, flora bacteriana alterada, stress, hiperpla- ciado um tratamento tópico, ampolas ou loções, ou até
sia benigna da próstata e cancro da próstata. a toma de suplementos alimentares que normalmente
Ao contrário dos outros tipos de alopécia, a queda de possuem cistina, proteínas do complexo B, espirulina,
cabelo na Alopécia androgenética é definida por um pa- extrato de serenoa repens, zinco, ferro, entre outros; por
drão tal como demonstra na figura abaixo. Este padrão é um período de 3 meses. ❑
diferente para cada género, sendo que o mais comum no
género masculino é o padrão NorwoodHamilton (figura
Cortar o A haste do cabelo está morta.
da esquerda), onde se verifica uma recessão da linha Por esse motivo, sempre que
frontal do cabelo, principalmente num padrão triangular cabelo cortamos o cabelo não sentimos
e posteriormente um afinamento no vértice. O padrão fortalece-o e qualquer tipo de dor. A formação
do cabelo dá-se no bulbo piloso,
mais comum no género feminino é o padrão de Ludwig estimula o na raiz pelo que tudo o que faze-
(figura da direita), caracterizado por uma diminuição crescimento? mos à haste não vai influenciar o
difusa da região centro-parietal com manutenção da crescimento do cabelo.

linha de cabelo frontal. Embora estes padrões sejam car-


acterísticos de cada género, não são exclusivos dos mes-
mos, podendo ser verificados em ambos os sexos.
A única coisa que pode acontecer é
Sem tratamento, a Alopécia Androgenética é uma con- dormir partirmos facilmente o cabelo, pois
dição progressiva, tendo uma taxa de redução do núme- com o cabelo quando molhado o mesmo fica dis-
ro de cabelos de 5% por ano. Atualmente existem várias tendido a 100%. Com os movimen-
molhado provoca tos que fazemos durante o sono
estratégias terapêuticas tanto farmacológicas como não e que não controlamos podemos
queda de
farmacológicas que deverão ser aconselhadas consoante por tração, puxar e partir o cabelo,
a evolução da patologia mas uma coisa é certa: não há cabelo? principalmente se ele se encontrar
danificado ou quebradiço.
cura.
25
26
27
500 ANOS DA REFORMA PROTESTANTE
Por: Tiotóneo Cavaco - Lisboa

Contributos da Refo
Deus e De
m 1521, após a sua excomun-

E
no Evangelho, este sim a pedra de toque
hão pelo papa Leão X e da da interpretação bíblica.
proclamação do Edito de Em segundo lugar, a sua soteriologia
Worms pelo imperador Car- baseia-se na «boa Teologia»: a theolo-
los V que o proscrevia do Sacro Império gia crucis ou a Teologia da Cruz. Logo
Germânico, Martinho Lutero já estava naDisputa de Heidelberg em 1518 – no
absolutamente convencido da centrali- ano a seguir à publicitação das 95 teses
dade da Escritura para a vida do crente contra as indulgências – Lutero já tinha
e da Igreja. Esta certeza resultava de um uma noção muito clara do que devia e do
longo processo ao qual não era estranho que não devia ser a teologia e a tarefa do
o acompanhamento espiritual mas tam- teólogo. Certamente em reação a muito
bém o incentivo que lhe tinha sido dado do que se afirmava no seu tempo, Lutero
desde cerca de uma década antes pelo preferia a Teologia da Cruz, aquela em
seu mentor João Staupitz (1460-1524), su- que Cristo se manifesta no sofrimento,
perior e depois vigário-geral dos monges à Teologia da Glória – theologia gloriae
agostinhos no Império. –, a qual procura encontrar Deus através
Foi pela leitura e estudo profundo da das obras. Estes dois paradigmas não tin-
Sagrada Escritura que Lutero veio a de- ham uma aplicação meramente intelec-
senvolver a sua soteriologia, na qual os tual, quase metafísica, mas muito mais
conceitos de Fé e de Graça se revelaram que isso uma aplicação espiritual e mes-
absolutamente fulcrais, conceitos es- mo pastoral. O que escolher? Um Cristo
ses radicados na sua Teologia da Pa- exaltado pelas palavras, por elaborados
lavra. Para Lutero, Palavra de Deus é a pensamentos de requintada teologia, mas
Escritura mas acima de tudo é a Eterna ausente do contacto das pessoas, remeti-
Segunda Pessoa da Trindade, o Cristo, do para as celas esconsas dos mosteiros e
o Ungido. Embora Lutero rejeitasse por mera moeda de troca de uma lucrativa in-
completo qualquer outra autoridade venção medieval? Ou um Cristo exposto
acima da Escritura – nomeadamente o na cruz, exaltado na pregação do Evan-
conceito católico-romano de que a Es- gelho mas ao serviço do povo, afinal o
critura tinha sido estabelecida pela Igreja, único mediador entre o Pai e os crentes?
logo que deveria ser interpretada por ela É a forte rejeição por Lutero do modelo
– não chegou tão longe quanto outras da teologia vigente, que tão sofisticadas
tendências da Reforma que desprezaram elucubrações tinha produzido no pen-
o ensino dos Pais da Igreja. Segundo o samento teológico tardo-medieval, que o
reformador, a autoridade primordial das levava a afirmar que a verdadeira teolo-
Escrituras não estava no cânone mas sim gia tinha de ser essa teologia da humil-

28
orma do Século XVI
eus somente
dade, da submissão, mesmo da servidão. não era tida como uma capacidade que quer méritos pessoais embora a vontade
Percebe-se assim ao longo dos trabalhos partisse de o próprio ser humano, nem humana pudesse e devesse cooperar para
teológicos de Lutero a sua crescente uma obra mesmo que tivesse origem a obter não só aceitando-a mas também
aversão por qualquer atitude ou pen- meramente no intelecto. A Fé passava praticando boas obras. Mais do que isso,
samento que centre no homem qualquer a ser entendida exclusivamente como anatemizava todos aqueles que ensinas-
capacidade natural e que dê à razão atrib- resultado do trabalho do Espírito Santo sem que esta graça preveniente não fosse
utos de discernimento que só podem ser sem a cooperação de qualquer esforço necessária e ainda os que defendiam que
encontrados em Deus e na Sua graça. de natureza humana: daí a Sola Fide. A o ser humano não tinha capacidade para
É neste contexto de sólida erudição mas justificação, enquanto tal, teria assim de se preparar para receber a justificação ou
também de forte ligação à Escritura ocorrer num momento em concreto, não que eram incapazes de resistir à graça
que se encontra e se enquadra o grande transformando a natureza pecaminosa do que lhe era oferecida.
tema de toda a Reforma do século XVI: ser humano – este continuava a ser peca- Ora, esta visão contratava em absoluto
ajustificação. E é aqui que a rutura se dor – mas libertando-o das consequên- com a Sola Gratia dos reformadores.
manifesta ainda mais evidente quando cias e da punição a que essa condição in- Rompendo com a tradição escolástica
em confronto com os conceitos vigentes evitavelmente o levaria. A vida humana desenvolvida nos quatro séculos anteri-
à época. A justificação tinha-se tornado era assim tida pelos reformadores como ores, a Reforma proclamava então que
num complexo caminho para alcançar a uma peregrinação, desde a justificação a Graça era ação benévola de Deus ex-
salvação, assente num elaborado sistema imputada até à justificação real que ocor- clusivamente (João 1:14-17). Rejeitava-se,
de méritos. Em contraponto, os reforma- reria quando, à semelhança de Cristo, o pois, qualquer capacidade do homem de
dores vêm fazer da justificação uma leitu- crente ressuscitasse. iniciativa ou de cooperação para alcançar
ra de caráter mais jurídico ou forense, Não foi pacífico, porém, o debate em torno o favor de Deus e usufruir dos méritos de
tratando a justificação como o decreto da operacionalização do modo pelo qual Cristo.
de absolvição pronunciado por Deus, no se pensava ser alcançado o favor de Deus. O corolário de todas as grandes afir-
qual se declara justificado o ser humano, Embora o conceito de Graça tivesse sido mações da Reforma tornou-se simbolica-
embora não o tornando justo de imediato, transversal ao discurso teológico de to- mente o Soli Deo Gloria. Embora radi-
por causa da sua condição pecaminosa e dos os reformadores seria preciso esperar cada na Escritura (I Timóteo 1:17), esta
natureza humana. Mas sem um sistema até à realização do Concílio de Trento expressão parece ter tido as suas primei-
de méritos como se processaria então (1545-1563) para que se clarificasse a ras expressões nas composições de João
essa justificação? Com base na Escrit- diferença fundamental entre o pensar Sebastião Bach (1685-1750), que embora
ura, a Reforma passava a afirmar que o reformador e o católico-romano relati- tenha vivido cerca de dois séculos depois
ser humano era declarado justo através vamente a este tema crucial. Declarava do início do movimento da Reforma, se
da fé, a qual era facultada pela graça de o Concílio, em resposta à perspetiva dos tornou, no campo artístico, como um dos
Deus (Efésios 2:8-9). Desde Lutero, mas reformadores, que qualquer ser humano seus principais símbolos. Estava assim
passando também por Ulrico Zuínglio só podia buscar Deus com «graça preve- consubstanciada a ideia de que toda a
(1484-1531) ou por João Calvino (1509- niente», a qual na tradição de Agostinho criação tinha como único propósito dar
1564), é importante perceber que a Fé (354-430) era conferida à parte de quais- glória a Deus e somente a Ele! ❑

29
PARTILhAR VIVêNCIAS
Por: Lidia Oliveira - Queluz, Lisboa

Sabedoria
para viver
“Porque o Senhor dá sabedoria e da sua boca vem
o conhecimento” (Provérbios 2:6)

A
palavra de Deus, quan- riquezas e das coisas efémeras acabam na prisão.
do lida e praticada, é que não têm tempo para pensar Em Eclesiastes diz: “Quem ama
a chave para alcançar- no fim para que vivem. O nosso o dinheiro nunca se farta dele”.
mos sabedoria para Deus diz a esses: “louco, esta O futuro do rico não o deixa dor-
viver. Nela encontramos ajuda noite te pedirão a tua alma e o que mir. Quando casei, e fomos morar
para identificar os problemas e tens preparado para quem será?” para Valença, impressionava-me
aprender a lidar com eles. Vivemos numa era em que a força muito, com o frio insuportável
A sabedoria é a técnica de utili- dominante é o dinheiro. Para lidar que faz lá no inverno, um homem
zação dos nossos conhecimentos com ele é preciso muita sabedo- que estava toda a noite de pé na
e o nosso poder de discernimento ria. Ele pode escapar por entre os porta da sua loja com medo de ser
para praticar o que aprendemos dedos como a areia fina. Quem roubado.
na Palavra. gasta mais do que tem acaba na Cá em Portugal, as pessoas têm
A capacidade de olhar para a vida miséria e passa por problemas de trabalhar muito pela sua sobre-
sob o ponto de vista do Senhor, terríveis. Quem tem ambição des- vivência. Para poderem ter uma
que é infinitamente sábio, é que medida e ganância trabalha noite vida digna e terem casa, alimen-
nos dá o verdadeiro entusiasmo e dia sem descansar para ver au- to, vestuário e tudo o mais que é
para viver em paz com Deus e mentar a sua conta. Tenho visto preciso para uma família, é uma
com o nosso próximo. Só a sua que, a certa altura da sua vida, a luta. A maior parte dos empre-
palavra dá discernimento para pessoa fica doente e já não pode gos agora exige especialização. A
pensarmos sensatamente. Temos gozar o prazer de ter dinheiro e às pessoa tem de passar um terço da
de pensar nas coisas que têm vezes está tão doente que já nem sua vida a estudar para ter as ha-
valor à luz da eternidade. Muitos pode comer. Outras vezes, o din- bilitações necessárias e assim tem
estão tão ocupados na busca das heiro foi ganho com corrupção e de estudar e trabalhar ao mesmo

30
tempo. Por isso, uma vida sem fé caído. …O fruto da sabedoria é a glória de Deus e para o bem dos
e confiança em Deus fica privada semelhança com Cristo em tudo, seus semelhantes.
da sua maior força que é Deus, e sobretudo no amor.” Alguém pode dizer: ela fez isto
que com a sua sabedoria ensina a Nesta expressão de amor lembro porque tinha dinheiro. Há tantos
viver com coragem para enfrentar a vida de Maria Gilbert Colgate. que têm dinheiro e gastam-no
as grandes agruras da vida e dar Esta mulher foi extraordinária no para si. Não o usam para a obra
paciência para as pequenas lutas. amor ao Senhor e ao próximo, de Deus e para o bem do próxi-
Podem-se satisfazer as necessi- cheia de verdadeira sabedoria. mo. Estes exemplos dos que gas-
dades das pessoas, mas nunca se Era uma pessoa de cultura supe- tam as suas vidas para o Senhor e
podem satisfazer os seus desejos. rior e uma grande benfeitora. O para os que precisam são para nós
Uma senhora escreveu: sou rica nome do marido, Gilbert Colgate, imitarmos, pois a Sua obra faz-
de saúde e fui sempre rica porque ficou escrito com letras de ouro se muitas vezes com os que têm
nunca desejei nada que não pre- nos anais da igreja pelas suas pouco e se põem ao Seu dispor
cisasse. A sabedoria também é muitas boas obras. A sua esposa inteiramente.
a tranquilidade de espírito com era igual. As sociedades bíblicas, À medida que vou envelhecendo
contentamento, para que os dias a obra missionária, os colégios, e preparando a alma para a glória

...uma vida sem fé

“ e confiança em Deus fica


privada da sua maior
força que é Deus
se tornem mais cheios de signifi-
cado.
Na nossa intimidade com o nosso
Deus tornamo-nos dispostos a
as universidades, os seminários,
a construção de templos, as bib-
liotecas, as obras de beneficência
em geral, mereciam dela uma es-
futura, desejo ter uma meditação
constante sobre aquilo que dá des-
canso e paz às nossas almas, que
é a visão pela fé da Sua glória.
aprender, reverentes, perante a sua pecial atenção. A preparação para Muitos destes exemplos de en-
imensa grandeza, reconhecendo a o ministério pastoral era para ela trega já estão com o Senhor face
nossa pequenez, pois Ele nos en- uma prioridade, porque sentia a face, mas a sua vida espiritual
sina a viver sabiamente. a necessidade de pastores bem foi como água viva, um poço
O escritor J. Packer escreveu: “A preparados. Para os pobres der- que nunca seca e que enche as
verdadeira sabedoria não se har- ramava bênçãos a mãos cheias. vidas dos que querem viver com
moniza com ilusões consolados e Era também uma hábil conselhei- sabedoria.
falsos sentimentos. Muitos vivem ra das pessoas da sua igreja, e até
no mundo dos sonhos. A verda- os pastores vinham falar com ela Sabedoria é o nome próprio de
deira sabedoria torna-nos mais pedindo-lhe conselhos. Cristo. Nele estão ocultos todos
alegres, mais piedosos, mais per- A nossa ilustre irmã dormiu no os tesouros da sabedoria. Suas
spicazes em relação à vontade de Senhor com plena certeza do chagas, sua missão, suas palavras
Deus e mais resolutos em fazê-la. gozo celestial. Toda a sua vida foi são a expressão da mais elevada
Ficamos menos aflitos e menos vivida em perfeita consagração sabedoria. Esta é um rio que jor-
perturbados perante as coisas es- ao Senhor, ao seu serviço e à hu- rou da fonte profunda do Seu Es-
curas e dolorosas deste mundo manidade. Fez o que pôde para a pírito. ❑

31
DEVOCIONAL
Por: Filipa Lopes - Graça, Lisboa

O amor de Deus
por nós
amar-nos num momento e deixar de nos amar no

A
o conhecermos Deus conhecemos o
Seu amor. Refletir sobre o Seu amor é, outro. Podemos saber qual é a sensação de termos
entre muitas coisas, firmarmo-nos no
facto de que o Seu amor é uma promes-
sa e, como todas as outras, esta também não fal-
hará.
O amor Deus não é apenas um atributo, é quem Ele
é, 1João 4:8 diz-nos que “Aquele que não ama não
conhece a Deus, pois Deus é amor”. Ser amor é a
natureza de Deus, Ele não precisa de se lembrar
de nos amar, faz parte da Sua natureza amar-nos e
proteger-nos, isto traz-nos grande consolo e sosse-
go. Somos nós que precisamos de nos lembrar de
Lhe mostrar o nosso amor.
No Antigo Testamento a palavra amor é “checed”
e aparece 241 vezes, para podermos traduzir esta
palavra de forma fidedigna precisaríamos de três
palavras: força, firmeza e amor.
A grande força de Deus traz-nos encorajamento.
Ela pode parecer distante ou inalcançável, mas na
verdade é a Sua força que está a sustentar o Seu
amor por mim e ninguém o poderá forçar a desistir
de nós, tal como nos diz João 10:27-28, “As min-
has ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço,
e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; ja-
mais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha
mão.” Deus diz-nos que a Sua força é maior do
que qualquer outra coisa e que ninguém nos vai
arrancar da Sua protecção. Ele é omnipotente e
ninguém pode mudar isso.
A firmeza de Deus por nós diz-nos que Ele nunca
irá mudar de ideias acerca de nós, isto é, não vai

32
sido esquecidas por alguém (um familiar, um ami- que aprenda mais acerca da Sua natureza e pessoa.
go…), mas na relação que temos com Deus nunca É ao buscarmos o Seu “Chesed” que acharemos
seremos abandonadas/esquecidas. Hebreus 13:5, a graça e a misericórdia que precisamos para os
“Contentai-vos com as coisas que tendes; porque momentos mais difíceis. Deus chama-nos e pede-
ele tem dito: de maneira alguma te deixarei, nunca nos que nos abriguemos Nele e nós fazemos quase
jamais te abandonarei.” Para além desta promessa sempre o contrário quando escolhemos o isola-
tão viva em Hebreus nós sabemos, também através mento. “Vinde a mim, todos os que estais cansa-
da Bíblia que a única vez que Deus se afastou de dos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mateus
um filho foi do Seu próprio filho ao entregá-lo à 11:28) é um pedido que não podemos ignorar.
morte na cruz e isto é muito importante, porque O amor de Deus por nós é sacrificial e está total-
mostra-nos que foi porque “Deus se afastou do Seu mente descrito em João 3:16, “Porque Deus amou
Filho que nunca se afastará de nós! O nosso amado ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho uni-
e fiel salvador foi desamparado para que nós nun- génito, para que todo o que nele crê não pereça,
ca fossemos desamparados. Nós que merecíamos mas tenha a vida eterna”, o amor de Deus por nós
o abandono, fomos acolhidos, perdoados e unidos é consolador, Isaías 66:13, “Como alguém a quem
inseparavelmente à Sua pessoa.” ( Elyse Fitzpat- sua mãe consola, assim eu vos consolarei…” nesta
rick) metáfora consoladora, Deus aproxima-se de nós de
O Seu amor é firme e certo, não muda. O que é que forma fantástica para nos dar um vislumbre claro
Ele quer então de mim? Quer que eu o conheça, de como é o Seu amor. Eu amo consolar os meus
filhos, mostrar-lhes que estou ali
para o que precisarem e que que-
ro ajudá-los. O nosso Pai é assim
e muito mais! É bom lembrar
que este amor consolador pode
chegar até nós nas mais variadas
formas: durante uma oração,
quando Ele faz com que a nossa
mente se encha da Sua palavra
e nós vemos a nossa dúvida/
aflição/preocupação respondida,
através de outros cristãos (das
suas palavras e orações, não nos
esqueçamos que Deus deu-nos a
Igreja para nos sustentar, forta-
lecer, encorajar e consolar).
Um bom exercício e que vou
deixar aqui como desafio é
descobrirmos as formas como
o amor de Deus se manifesta
em nós e até nós. Algumas pas-
sagens bíblicas que sugiro para
lermos, meditarmos e parafrase-
armos são: Salmos 17:7; Salmos
23:6; Salmos 31:7-8; Salmos 16;
Salmos 21; Romanos 8; 2Corín-
tios 1:3; 2 Tessalonicenses 2:16-
17; 2Tessalonicenses 3:3.

Que Deus vos abençoe! ❑


33
REPORTAGEM
Por: Júlia Abrantes / Dina Marques

Uma viagem ao coração


da Reforma Protestante

téria, pastores com obra publicada: Luís Sayão, Frank-

A
partir do momento em que alguém se in-
screve numa viagem, começa a alimen- lin Ferreira e Jonas Madureira. Oriundos do Brasil,
tar expectativas. Esta viagem, relativa às qualquer um deles foi muito bom, quer a meditar sobre
comemorações dos 500 anos da Reforma, a Bíblia, quer a falar da história da Reforma. Souberam
tinha como expetativa básica aprender mais sobre o criar bons momentos espirituais, de reflexão e oração.
tema, adquirindo mais alguns conhecimentos. A ma- A guia portuguesa e os líderes do grupo fizeram um
téria é complexa, envolve espiritualidade e religião, bom trabalho com inteligência e humor, o que permitiu
poder e política, história e nações, muitos pensadores haver um bom ambiente.
e homens de ação. Uma outra condição essencial para que uma viagem re-
Para aprender é condição necessária que haja quem en- sulte bem é que o grupo dos viajantes, constituído, neste
sine bem. Esta viagem contou com três Mestres na ma- caso, por 82 pessoas - 6 portugueses, 2 americanos e

34
os restantes brasileiros- tenha obje-
tivos comuns e se identifique com
o tema em causa. Vindos de várias
Igrejas e denominações, o grupo,
com vários pastores incluídos, foi
coeso e interessado, entrosando-se
bem e colocando perguntas perti-
nentes.
Tendo estas premissas básicas, fo-
camos agora a viagem e os muitos
quilómetros feitos ao longo de seis
países: Itália, França, Alemanha,
Republica Checa, Áustria e Suíça.
Vimos muita paisagem de uma Eu-
ropa central abastada, com montes,
campos, vales, rios e povoações,
tudo muito bonito e ordenado. Nas
cidades e lugares de destino, vimos Igreja do Castelo Wittemberg Porta onde Lutero afixou as suas
igrejas, museus, estátuas e jardins. 95 teses.
A informação era muita, os nomes Foi na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, (1517), que era a igreja
desfilavam uns atrás dos outros. da universidade onde Lutero ensinava, e por onde entravam os doutores,
Como seguíamos um percurso que ele resolveu afixar 95 temas (as teses) que considerava dignos de um
geográfico, de país para país, de debate académico sobre a questão das indulgências. Contudo estas teses,
escritas em latim, foram traduzidos para o alemão e impressas. Em duas
cidade para cidade, por vezes era semanas tinham-se espalhado pela Alemanha e em dois meses difundidos
necessário relacionar os assuntos pela Europa, dando origem a um movimento que se tornou imparável.
e ordená-los de forma cronológica
para não nos baralharmos, socor- Monumento a
rendo-nos para tal da preciosa ajuda Martinho Lutero
dos nossos mestres, sempre prontos em Worms
a esclarecer.
Os nomes e movimentos mencio-
nados foram muitos mais do que
inicialmente se pensava. Desde
logo, porque não houve uma só
Reforma, mas “quatro Reformas”,
que depois deram origem a várias
igrejas e denominações: Luterana Pormenor do
monumento
(Alemanha e Escandinávia), tendo - Lutero em
por figura principal Lutero e ainda Worms diante de
Melanchthon; Reformada ou Cal- Carlos V, quando
vinista (Genebra na Suíça e Fran- foi intimado a
ça), com Calvino, Zuínglio, Farel, retratar-se.
Knox; Anglicana (Inglaterra), com
Thomas Cranmer; Anabaptista e
a ala radical, que se localizou na Após ter sido excluído e banido pelo papa, Lutero queimou a bula papal de
Suíça, perto de Zurique e chegou à excomunhão, obras de teologia e livros de direito canónico. Não podendo
suportar este desrespeito, o imperador Carlos V convocou uma assembleia
Holanda. em Worms (1521), onde é dado um dia a Lutero para se retractar. Quando
Graças à Reforma, esta Europa, regressou no dia seguinte, Lutero afirmou que não negava nada do que
tornada rica e culta, vem a registar tinha escrito a não ser que pelas Escrituras lhe provassem que estava errado.

35
uma taxa de alfabetização bastante Após a audiência Worms, Lutero não ficou à espera da condenação e já
elevada nos anos seguintes à Refor- se encontrava numa carruagem a caminho de Wittenberg quando foi “rap-
ma. Isso vai ter implicações ao tado” pelos soldados do Príncipe eleitor Frederico “o Sábio” da Saxónia que
o levaram para o Castelo de Warteburgo. Aí, em reclusão, Martinho Lutero
nível do próprio desenvolvimento começou a sua obra de tradução do Novo Testamento, o que fez em 11 se-
económico dos países, como defen- manas. Algum tempo depois, (1522) alertado para os perigos que a Reforma
dem livros como “A ética Protes- estava a enfrentar em Wittenberg, Lutero deixou o seu refúgio e regressou
tante e o Espírito do Capitalismo” àquela cidade.
de Max Weber, que reconhece o pa-
pel do protestantismo na criação da Castelo de Wartburg
- local onde Lutero
riqueza. O mesmo se veio a passar esteve escondido e
com os países nórdicos que vieram traduziu o NT em 11
igualmente a beneficiar deste movi- semanas.
mento da Reforma.
As várias visitas feitas e o conheci-
mento transmitido pelos Mestres,
tudo o que foi visualizado, permite
interpretar melhor agora o que se lê
sobre a Reforma e sobre este perío-
do tão importante da História e dos Quarto de Lutero no
Protestantes. A Reforma foi pre- castelo de Wartburg
ponderante no mundo que se desen-
volveu a partir daí, não só porque
combateu o obscurantismo e os
graves erros religiosos como as in-
dulgências, a venda de benesses aos
mais ricos e poderosos, mas porque
tornou a sociedade mais justa, mais
esclarecida e com maior acesso ao
conhecimento. A Reforma tem as-
Genebra - Nesta cidade
sim uma forte relevância religiosa e
podemos ver um monu-
espiritual, mas tem ainda um forte mento muito significa-
impacto social, no melhoramento tivo, o Muro dos Refor-
da vida das pessoas e na sua alfa- madores. Aqui estão
betização. Estes foram homens de representados os vários
reformadores das diver-
visão, guiados por Deus.
sas reformas que ocor-
Como foi frisado pelo Pastor Jo- reram no século XVI por
nas Madureira, a Idade Média não toda a Europa. Parte central do Muro dos Reformadores em
foi uma época só de trevas, pese Em Genebra destaca- Geneve - Suiça
embora o peso da Inquisição. O se a figura de Calvino,
(1536). De regresso
conhecimento produzido nas Uni-
a França de onde se
versidades, as disputas académicas, tinha exilado devido à
já tinham lugar nessa época, mas perseguição naquele
ficavam restritos a certos meios. A país, Calvino tem que
Reforma veio democratizar o con- parar em Genebra que
vivia grande agitação
hecimento e impulsionar o ensino
religiosa. Aqui é desa-
público, tendo como objetivo fazer fiado por Guilherme
chegar esse conhecimento, através Farel a ficar na cidade
da leitura da Bíblia, ao maior núme- e ajudar no movimento
ro possível de pessoas. Foi uma da reforma protestante.
Igreja protestante de St. Pierre em Genebra

36
Reforma num sentido global, não Estrasburgo - A situação
só religioso, mas social, educacion- conturbada fez com que
al, económico, cultural e político. Calvino fosse expulso de
Genebra, (1538), o que o
Como dizia o Pastor Jonas teve o deixou de certa forma feliz
seu foco na maneira de enxergar o pois podia ir para Estrasbur-
mundo, da reconstrução, da restau- go com os seus livros e dedi-
ração através da Palavra. car-se à escrita. Engano seu!
De fazer notar que nesta viagem Aí conheceu Martin Bucer e
começou a pregar numa ig-
de comemoração dos 500 Anos de reja de refugiados franceses
Reforma, os protestantes que viaja- Igreja protestante de S. Tomé em Estrasburgo que existia naquela cidade.
ram não se sentiram em romagem - França Foi um período feliz durante
ou em peregrinação aos lugares o qual Calvino escreveu, e
ou às representações materiais da em que o seu contacto com
Martin Bucer desenvolveu
Reforma. Ninguém foi à procura nele competências pasto-
de nada santificado ou santificável. rais que ele não possuía e
Ao longo dos tempos, tal como Lu- que lhe viriam a ser úteis no
tero sempre defendeu, o protestant- seu ministério. Desafiado
ismo tem dado a Deus toda a glória, por Farel e Bucer voltaria a
Genebra (1541), onde viria
considerando sempre que a nossa a morrer em 1564. Não se
força está na Sua Palavra. Sola fide sabe onde está sepultado
(somente a fé); Sola scriptura (so- Medalhão com a esfinge de Martin Bucer, na pois esse foi o seu expresso
mente a Escritura); Solus Christus Igreja de S. Tomé em Estraburgo desejo no leito de morte.
(somente Cristo); Sola gratia (so-
mente a graça); Soli Deo gloria
(glória somente a Deus).
Acreditando pela fé que estes ho-
mens pecadores foram homens
ao serviço de Deus, não podemos
deixar de admirar a sua luta tenaz
e o seu trabalho abnegado, sendo
esta uma nota muito positiva desta
viagem: a tomada de maior con-
sciência do papel destes homens Placa na margem do rio Limmat em Zurique
na história da Igreja e do plano de que assinala a execução por afogamento do Estatua de Zuinglio em
Deus para a humanidade. ❑ reformador Felix Manz em 1527. Zurique - Suiça

Zurique - Esta cidade está intimamente ligada à figura de mento foi na Páscoa de 1525, quando em vez de celebrar
Zuínglio e ao movimento Reformador que veio a ser de- a eucaristia tradcional catolica, colocou o pão em pratos
nominado por Reforma Radical. Sacerdote, como Lutero, de madeira sobre a mesa e um jarro de vinho e os os fiéis
Zuínglio tinha, porém, um temperamento diferente que o puderam participar não só do pão, mas também do vinho
tornava mais cauteloso e menos ousado em afrontar a ig- e toda a celebração é realizada não em latim, mas sim em
reja instituída. Contudo o seu encontro com a Palavra de alemão suíço.
Deus, através do Novo Testamento traduzido do grego por Contudo, havia um grupo radical que desejava uma rotura
Erasmo fez com que ele reconhecesse que os ensinos de mais rápida e profunda com a Igreja de Roma. Estes pas-
Roma eram contrários àquilo que a Palavra de Deus di- saram à ação retirando e destruindo as imagens das igre-
zia (1516). Assim, através da sua pregação e lentamente, jas e recusando-se a baptizar crianças, sito veio a originar
foi mudando o ensino que ministrava na Igreja. Dois mo- grandes tumultos que fez com que fossem perseguidos e
mentos importantes marcaram o movimento: O primeiro expulsos. Contudo, às escondidas, rebaptizavam os adul-
foi quando Zuínglio deixou de pregar nas leituras pre-de- tos e foi este acto que levou à prisão e execução (1527),
terminadas por Roma e avisou que iria começar a fazer do reformador radical Felix Manz no rio Limmat, tendo o
sermões expositivos e que começaria pelo Evangelho seg- grupo passado a ser denominado de “anabaptistas” que
undo Mateus, versículo a versículo (1519). O segundo mo- significava literalmente “rebaptizadores”.

37
O qUE VI, O qUE OUVI, ESCREVI...
Por: Adriana Sabino - Queluz, Lisboa

A prenda
mais desejada
meu filho mais novo

O
Este episódio lembrou-me de
tem um hábito, que imediato o profeta Eliseu e a
é comum a muita “prenda” original que um dia
gente, e que me in- escolheu receber da parte de
comoda bastante: Elias. Antes de ser arrebatado,
ele gosta de roer o profeta Elias perguntou a
as unhas. Depois de muitas tentativas Eliseu, seu discípulo: “Pede-
para o tentar demover de o fazer e de- me o que queres que eu te faça,
pois de inúmeros apelos nesse sentido, antes que seja tomado de ti”
decidi jogar a “cartada final” e fiz-lhe (II Reis 2:9). Elias tinha sido
uma proposta irrecusável (e desesper- usado por Deus para operar
ada também). Disse-lhe: “- Se parares milagres tremendos, pelo que
de roer as unhas, dou-te uma prenda… certamente poderia fazer algo
a prenda que tu escolheres!” Ao ouvir “enorme” por Eliseu, como
isto, os olhos dele começaram a brilhar dar-lhe riquezas ou saúde. No
muito e um sorriso rasgado confirmou entanto, Eliseu não pediu aq-
a sua satisfação plena perante o que uilo que seria de esperar pela
acabara de ouvir. “A-prenda-que-tu- lógica humana, mas escolheu
escolheres” eram as palavras que ecoa- algo que Elias considerou uma
vam no ar. Eram também as palavras que me arrependi de ter “coisa dura”: - Peço-te que haja sobre mim dobrada porção de
dito, logo no segundo seguinte a tê-las pronunciado. Porém, “o teu espírito.” Aquilo que Eliseu mais desejava era continuar a
prometido é devido”. E assim foi. Os dias foram passando e servir a Deus, dando seguimento ao grande ministério de Elias,
o meu filho teve a força de vontade de parar de roer as unhas. bem ciente, na sua humildade, de que para isso necessitava
Chegado o dia da recompensa, perguntei-lhe o que queria que do poder do Espírito Santo de Deus. Não ía ser fácil, é certo.
eu comprasse. Confesso que estava com receio da resposta (e Porém, Eliseu fez a melhor escolha e Deus respondeu ao seu
dos muitos euros que isso poderia representar), porém, a sua pedido, dando-lhe a “herança” desejada. Eliseu teve um minis-
escolha foi surpreendente. A prenda escolhida, de entre todo tério tremendo, tendo sido usado por Deus para operar muitos
o universo de prendas possíveis, foi aquilo de que ele mais e poderosos milagres. Para ele, o Senhor era aquilo que de mais
gosta – e que poucas vezes lhe compro - mas que não é nada precioso possuía, era o seu tesouro.
de muito valioso: um saquinho de rede com queijinhos “Baby- Que a nossa primeira escolha possa ser sempre a dedicação das
bel”. Achei a sua escolha amorosa, pois eu podia dar-lhe algo nossas vidas a Deus, para que possamos usufruir do gozo de
muito mais valioso, porém, os queijinhos são o que há de mais sermos usados pelo poder do Seu Espírito para desenvolver-
valioso para ele. mos ministérios que honrem e dignifiquem o Senhor. ❑
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MãOS NA MASSA!!

DOCE NATAL!
Com a chegada do Natal começamos logo a recordar as delícias gastronómicas que fazem
parte das nossas recordações da infância e ficamos à espera da consoada ou do almoço de Na-
tal para nos deliciarmos com elas.
Deixamos aqui duas receitas com as quais pode adoçar a sua época natalícia!

FILHOSES DE ABÓBORA

É grande a variedade de fritos de Natal que de Norte a Sul do país são preparados e sem os quais “não há natal”!
As filhoses são dos mais simples e testemunham a cultura rural de uma população pobre que vivia do que culti-
vava. Para muitos, a consoada consistia em comer batatas com couves e bacalhau e depois passar a noite a fritar e
comer as filhoses.
As filhoses de abóbora são deliciosas, saborosas e macias, e comem-se um pouco por todo o país!

INGREDIENTES

• 1 Kg de abóbora
• 2 ovos (Facultativo)
• Raspa de 2 laranjas
• 10g de fermento de padeiro
• 400g de farinha
• 1,5dl de sumo de laranja
• 3 colheres de sopa de aguardente
• Sal q.b.
• Canela em pó q.b.
• Açúcar amarelo para polvilhar
• Óleo para fritar

PREPARAÇÃO

1. Coza a abóbora com água e sal e escorra bem.


2. Triture a abóbora.
3. Dissolva o fermento no sumo de laranja e acrescente-o à abóbora mexendo sempre.

4. Acrescente os ovos, a aguardente, a farinha e a raspa das laranjas. Se estiver muito mole acrescente um pouco
de farinha, mas com cuidado. Se tiver farinha a mais as filhoses ficam duras quando arrefecem.
5. Retifique o sal, Tape e deixe levedar cerca de uma hora. Quando a massa começar a fazer bolhas está pronta.
6. Frite a massa em óleo bem quente, ponha a escorrer em papel absorvente e passe por açúcar e canela.

NOTA: Para avaliar a consistência da massa tire uma colher. A massa deve cair da colher em pedaços, de forma arrendada.

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BRINCAR
DA REDACçãO
E APRENDER
Por: Ana
DinaNunes
Marques
Reinaldo - Tremes, Santarém

Uma martelada
bem forte!
“T
ruz, truz, truz, truz…”, nunca nin- e não pelas coisas boas que fazemos. E a partir
guém tinha ouvido um bater da desse dia, espalhou-se uma enorme agitação por
porta tão forte naquela cidade, todo o lado e a vida do Lutero não ficou nada
mas a verdade é que se ouvia por fácil, apesar dele ter escrito a verdade.
todo o lado. E de repente, começou a sentir-se E assim que acabou de ler, a mãe apagou a luz
um grande burburilho e muita agitação: “Olhem! e disse que no dia seguinte contava o resto da
Olhem! Ele está a afixar tantas coisas na porta da história. “Não!!” gritaram o Daniel e a Sara. Mas
igreja.” “Afixar? Aquilo para mim é mesmo pre- naquela noite, a história ficaria por ali. Havia
gar, até tem um martelo na mão!” E estava mes- muito mais para contar, nos restantes dias.
mo a martelar. Naquele dia, o monge Martinho
Lutero mudou para sempre a história da igreja, 1. Este ano comemoramos 500 anos da Reforma
escreveu o que ninguém acreditava, mas que a Protestante. O que sabes sobre a Reforma Prot-
Bíblia dizia; que somos salvos pela fé em Jesus, estante?
2. Martinho Lutero foi
um dos reformadores
mais importante. Con-
heces o nome de mais
algum?
3. A Reforma Prot-
estante dá muita im-
portância à Bíblia e ao
que Deus diz. Porque
é que podemos confiar
na Bíblia, tal como os
reformadores confi-
aram?
4. Com a ajuda dos
teus pais, escreve um
texto ou faz um de-
senho sobre a Reforma
Protestante. ❑

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TESTA OS TEUS CONhECIMENTOS


1. Abraão teve fé para deixar a sua terra à 9. em que cidade é que Paulo curou o
ordem de deus, mas para onde lhe foi dito homem coxo de nascença?
para ir?
não lhe listra Jericó Antioquia damasco
Canaã Jerusalém egipto
foi dito
10. Que posição de autoridade tinha
2. Quem é que, pela fé, recusou ser chama-
Crispus?
do filho da filha de Faraó?
sumo Chefe da
Arão Moisés Benjamim José Centurião Governador
sacerdote sinagoga

3. Quem é que confiou em Deus e fez o 11. A quem se dirigia Paulo quando escreveu
caminho da Babilónia para Jerusalém sem as palavras “Combati o bom combate, aca-
proteção de soldados? bei a carreira, guardei a fé.”

ezequiel esdras Ageu Mardoqueu tito timóteo tiago Filemon

4. Quem é que levou a Paulo notícias da fé e


12. A palavra fé aparece mais vezes no
amor dos tessalonicenses?
velho ou no novo testamento?
Barnabé silas onésimo timóteo
velho testamento novo testamento

5. Quem é que pela fé ofereceu melhor sac-


rifício do que Caim? 13. Que parte da armadura de um soldado
surge em efésios como ilustração da fé?
leão enoque Abel sete
escudo espada Couraça Capacete
6. Quem disse a Jesus “Aumenta a nossa fé”
A os Marta e os 14. Quem tentou afastar sérgio Paulo da
samaritana apóstolos Maria fariseus sua fé?

7. A fé de Abrão foi contada como o quê? nero diótrefes Fígelo elimas


Boas
Justiça vida verdade
obras
15. “ora a fé é o fundamento das coisas que
8. Quantos crentes foram baptizados no se esperam” encontra-se em que livro da
Pentecostes? Bíblia?

3000 5000 10000 30000 Gálatas tiago Hebreus romanos

41
PAIXãO
DA REDACçãO
PELOS LIVROS
Por: Paula
Dina Marques
Loja - Sete-Rios, Lisboa

Tempo
InegocIável
T
odos os anos, no começo de um Novo Ano, costuma-
mos fazer alguns votos que desejamos honrar. No en-
tanto, com o passar do tempo e o corre-corre diário,
facilmente esquecemos o prometido.
Passar mais tempo diário com Deus é um dos desejos que
acalentamos mas que por vezes acabamos por negligenciar.
Olhando para o exemplo de Jesus, o Filho, que era o próprio
Deus feito homem, vemos alguém que, embora cheio de com-
promissos diários, nunca pôs em segundo plano a sua comun-
hão com Deus, o Pai.
Jesus tinha uma vida intensa de pregação, Ele pregava horas se-
guidas para as multidões, ia de cidade em cidade, satisfazendo
as necessidades físicas e espirituais das pessoas que o seguiam.
Jesus tinha família, amigos com quem sociabilizava, mas nunca
desprezou o tempo com o Pai. Muitas vezes, afastava-se das
multidões e dos seus discípulos e atravessava o mar da Galiléia
para ficar a sós com o Pai. Jesus sabia que o tempo com Deus
o fortalecia dando-lhe vigor para continuar humildemente de-
baixo da soberana vontade de Deus.
ESSE TEMPO ERA INEGOCIÁVEL para Jesus!
Desejo que no começo de um Novo Ano o nosso tempo com
Deus não fique no esquecimento, ou seja relegado para seg-
undo plano, mas que seja um tempo inegociável para cada um
de nós.
Por isso, aqui vão duas boas propostas de devocionais que o
vão ajudar a criar a disciplina de um tempo diário de comun-
hão com Deus, estudo da Sua Palavra e oração.

AS MINhAS SUGESTõES N
42
devocionais
para 2018
Dia a dia com
O Pão Diário
Corrie Ten Boon
Edição Comemorativa dos 500 anos da Reforma Prot-
Este devocional é
estante
uma coletânea de 366
meditações basea-
Para comemorar os 500 anos da Reforma Protestante o
das no relacionamento
editor seleccionou textos sobre os 5 Pilares da fé evan-
de Corrie com Deus.
gélica. Somente a Escrituras, Somente Cristo, Somente
Neste devocional Corrie
a Graça, Somente a Fé, Somente a Deus a Glória, com
compartilha sobre como
o propósito levar o leitor a reviver o retorno no século
o Senhor trabalhou no
XVI, da Igreja às Escrituras.
seu coração no período
mais tenebroso da sua
Este devocional contém:
vida e também durante
365 meditações, com reflexões especificas sobres as 5
os anos de ministério
Solas no mês de Outubro.
depois do campo de
concentração nazi.
Introdução com
As inspiradoras mensa-
destaque na história e
gens encorajam a buscar
princípios da Reforma
a presença de Deus e a
do Século XVI.
crescer em fé, mesmo no meio das adversidades da vida.
Artigo sobre os “Efei-
Este devocional contém:
tos da Reforma Protes-
- 366 meditações;
tante na sociedade”
- biografia da autora, que contextualiza as mensagens
tornando-as mais significativas;
Editor:
Publicações Pão
Editor: Publicações Pão Diário
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2ª Conferência +21
9 a 13 de Fevereiro de 2018
In...DECIsõEs!
Os dias presentes estão marcados pela abundante relatividade que não
facilita as escolhas: Em quem acreditar? No que acreditar? Porquê acreditar?
Com quem assumir compromissos? Que igreja frequentar? Onde trabalhar?

Contamos contigo em Fevereiro.


Prelectores:
Franklin Ferreira
David Cerqueira
Pedro Girão

Inscrições: www.acampamentobaptista.com.pt
informações: geral@acampamentobaptista.com.pt ou 965054936

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