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3, 436-445, 2015
Martin Wallau*, Daniela Bianchini, Camila Porto Ebersol, José Augusto dos Santos Júnior e Thiago Marques Barboza
Centro de Ciências Químicas, Farmacêuticas e de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas, CP 354, 96010-900 Pelotas – RS,
Brasil
TRULY GREEN CHEMISTRY – CHLORINE´S CHEMICAL PROPERTIES AND ITS PRESENTATION BY EXPERIMENTS
ON A MINIATURISED SCALE. Chlorine, one of the most frequent elements on earth and most important key chemicals, is
indispensable in the syllabi of school and university courses in Inorganic Chemistry. However, its toxicity and high volatility preclude
experimental demonstration of its properties in secondary and high schools and most university labs. This paper summarises the
industrial role of chlorine and presents miniaturised experiments demonstrating some of the processes used in Industrial Inorganic
Chemistry. Furthermore, experiments illustrating important concepts of Inorganic Chemistry such as Ion Bonding and Molecular
Orbital Theory are describe.
Tabela 1. Propriedades físico-químicas do cloro e a classificação dos seus perigos físicos, para saúde humana e para o meio ambiente, segundo o Sistema
Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS)
Gases sob pressão/gás liquefeito (H280) Contém gás sob pressão: pode explodir sob ação do calor
Perigoso ao ambiente aquático – Agudo/1 (H400) Muito tóxico para os organismos aquáticos
*em condições normais (0 °C, 1013 mbar); †se o símbolo do crânio com ossos cruzados se aplica, o ponto de exclamação, previsto para estas categorias não
pode ser utilizado no rótulo (ABNT NBR 14725 – 3, Anexo B.3).
A Figura 2 mostra a participação dos diversos processos eletrolí- mundial caiu ate 2012 quase pela metade. Por outro lado se observa
ticos na produção mundial,8 europeia8,18 e brasileira de gás cloro.15 Os na Ásia, principalmente no Nordeste (Japão, Coreia e China) um
dados indicam para o Brasil a predominância do Processo Diafragma crescimento significativo do consumo de gás cloro, e em 2012 estes
e o declínio mundial do Processo Amálgama, o qual também no Brasil países eram responsáveis por quase 50% do consumo mundial de
está sendo substituído pelo Processo Membrana, que atualmente é gás cloro.19 Um crescimento significativo também se observou na
responsável por mais de 60% da produção mundial de gás cloro.12 Os África e no Oriente Médio, onde o consumo de gás cloro mais que
dados mostrados para a Europa não atingem 100%, uma vez que aqui dobrou de 1,1 Mt em 199011 para 2,5 Mt em 2012.19 Na America do
outros processos, como a oxidação ou eletrólise de HCl, contribuem Sul, cujo principal produtor e consumidor de gás cloro é o Brasil,11
em até 3% para a produção de gás cloro.1,18 observou-se somente um leve aumento do consumo de 1,5 Mt em
Depois da diminuição da produção de gás cloro nos anos 80 do 199011 para 1,9 Mt em 2012.19
século passado,8,11 ela voltou a crescer mundialmente8 a partir de 1993
de forma sustentável, atingindo em 2008 uma produção mundial de Aplicação de cloro na indústria química
68 Mt,13 o que corresponde a um crescimento de aproximadamente Estima-se que 70% de todos os produtos químicos8 e 85% dos
92% entre 199111 e 2008,13 sendo o Brasil responsável por aproxima- produtos farmacêuticos15 contêm cloro ou são fabricados usando
damente 1,8% da produção mundial. A Figura 3 mostra o consumo reagentes contendo cloro em pelo menos um estágio da síntese.
de gás cloro nas diversas regiões do mundo em 199011 e 2012,19 Como mostra a Figura 4, aproximadamente 57% do cloro gasoso
indicando uma diminuição significativa do consumo na America produzido no Brasil é utilizado na produção de dicloroetano (DCE)
do Norte, Europa e nos estados da antiga União Soviética (CES & e óxido de propeno, os quais são utilizados principalmente na fa-
Bálticos). Enquanto em 1990 essas três regiões eram responsáveis por bricação de cloreto de vinila (Esquema 1), precursor do cloreto de
mais de 70% do consumo de gás cloro, sua participação no consumo polivinila (PVC, polyvinyl chloride), e na produção de poliuretanos
438 Wallau et al. Quim. Nova
Figura 1. Celas eletrolíticas para produção de gás cloro e hidróxido de sódio: (a) Processo Diafragma,9 (b) Processo Amálgama,10 (c) Processo Membrana
(adaptada de ref. 11 com permissão de Wiley-VCH), (d) Processo Membrana com cátodo despolarizado de oxigênio (SVK) (adaptada de ref. 11 com permissão
de Wiley-VCH)
Figura 2. Participação percentual dos processos eletrolíticos na produção Figura 3. Consumo regional de gás cloro em 199011 e 201219
mundial (1980, 1990, 2010),8 europeia (1995,8 201318) e brasileira (2004,
2007, 2010, 2013)15 de gás cloro Enquanto o PVC obtido por meio da polimerização radicalar do
cloreto de vinila contém aproximadamente 56% em massa de cloro,
(PUs, polyurethanes).15 A importância desses produtos se reflete no os PUs obtidos pela poliadição de diisocianotolueno e polipropile-
fato de que na Europa PVC e PUs constituem aproximadamente noglicol não contêm cloro nas suas formulações finais, mas o gás
18% dos plásticos que foram produzidos em 2013,20 tornando-os cloro é indispensável para obter o óxido de propileno, o qual resulta
indispensáveis no mundo atual. da reação de hipoclorito, obtido pelo desproporcionamento de gás
Cloreto de vinila, o precursor do PVC, é o 4º produto orgânico cloro com água (Esquema 2a), com propileno, seguida de uma de-
mais produzido em quantidade no mundo.21 O produto intermediário -hidroclorização em meio básico (Esquema 2b).21
DCE é obtido pela adição de gás cloro ao etileno (Esquema 1a) ou Dos produtos inorgânicos, o ácido clorídrico de alta pureza
pela oxicloração do etileno (Esquema 1b) e subsequentemente trans- obtido pela reação de cloro com hidrogênio, um dos subprodutos da
formado em cloreto de vinila pela eliminação de cloreto de hidrogênio eletrólise da salmoura, é de longe o mais importante, principalmente
do DCE (Esquema 1c).21 para aplicações na indústria Química/Petroquímica e de Alimentos.15
Vol. 38, No. 3 Química verdadeiramente verde – propriedades químicas do cloro e sua ilustração por experimentos 439
MINIATURIZAÇÃO DE EXPERIMENTOS DE e seringas descartáveis, que para este fim podem ser reutilizados
DEMONSTRAÇÃO inúmeras vezes. Mesmo que a pequena quantidade de substâncias
utilizadas neste sistema minimize os perigos, as medidas básicas de
Dificuldades no trabalho experimental com cloro em sala de segurança no laboratório devem ser tomadas, além de alguns cuidados
aula específicos durante a manipulação das seringas:36
· Evitar pressão excessiva no tubo de ensaio, o que pode expulsar
Devido não apenas à grande importância industrial do cloro, mas a rolha de borracha e projetar os reagentes e produtos do tubo;
também à sua posição na Tabela Periódica como típico representante · Observar sempre se as agulhas das seringas não estão entupidas
dos não-metais e dos halogêneos, a apresentação experimental de suas e se os êmbolos se movem facilmente;
propriedades químicas deve fazer parte do currículo tanto do ensino · Os reagentes líquidos devem ser literalmente gotejados (gota-a-
superior quanto do ensino médio e do ensino fundamental. Porém, a -gota).
toxicidade aguda do cloro dificulta o seu uso, embora ele seja obtido Devido à flexibilidade do sistema Obendraufiano, a realização dos
facilmente à temperatura ambiente por oxidação de ácido clorídrico experimentos descritos nesse artigo não é limitada a um laboratório
concentrado em um aparelho de Kipp.34 Os aparelhos de Kipp pos- com infraestrutura sofisticada, portanto, podem ser realizados tam-
suem volumes de gás entre 0,5 e 2 L e, portanto, necessitam de grandes bém em um espaço aberto ou bem ventilado, como por exemplo, em
quantidades de substâncias químicas. Além disso, a evacuação total um pátio ou perto de uma janela aberta.36 Porém, deve-se mencionar
do aparelho não é possível e, assim, a quantidade residual de gás pode que na União Europeia a manipulação de gás cloro é proibida para
ser liberada durante a limpeza, elevando a sua concentração acima alunos até a 4ª série do Ensino Fundamental,3 sendo também não
dos limites estabelecidos pela legislação. Por exemplo, a liberação de recomendável no Brasil. Nas suas publicações, Obendrauf aconselhou
0,5 L de gás cloro em um laboratório de 600 m3 (20 m × 10 m × 3 m) que as pontas das agulhas fossem cortadas para diminuir o risco de
eleva sua concentração acima do limite de tolerância de 2,3 mg m-3, ferimentos. Nas aulas práticas realizadas na UFPel, foi decidido não
valor estabelecido no Anexo 11 da Norma Regulamentadora nº 15 do cortar as pontas das agulhas, o que facilita a troca e o fechamento das
Ministério de Trabalho e Emprego,7 tornando o uso do aparelho de mesmas. Mesmo assim, desde 2007 quando se começou a utilizar este
Kipp para preparação de gás cloro extremamente insalubre. Também sistema miniaturizado, não foram observados ferimentos causados
o uso de cloro liquefeito não é uma alternativa viável, uma vez que pelas pontas das agulhas.
requer um alto investimento, não somente para o produto químico Alguns dos experimentos descritos abaixo foram diretamente
em si, mas também na infraestrutura adequada como casa de gás adaptados das publicações de Obendrauf, 36,38,39 enquanto outros
separada, linhas de gás e válvulas, tornando proibitiva a realização são experimentos “clássicos” descritos em livros-texto34,40 mas
de experimentos práticos não somente em escolas de ensino médio, adaptados ao sistema miniaturizado. O efeito alvejante do cloro
mas também na maioria das universidades. gasoso foi originalmente mostrado por Obendrauf,39 colocando
pétalas ou papéis coloridos com canetinhas em uma seringa que
Princípios básicos para miniaturização de experimentos foi preenchida com cloro gasoso. Devido à importância técnica do
branqueamento de papel as pétalas e papéis marcados com tintas
Devido a estes problemas, experimentos práticos com cloro coloridas foram substituídos por papel não branqueado para mostrar
raramente são utilizados no ensino prático da química nas universi- o efeito alvejante.
dades e muito menos no ensino médio. Esta tendência não somente Embora os experimentos aqui descritos foram aplicados so-
se manifesta no Brasil, onde já não existe uma cultura forte de aulas mente no ensino superior, acreditamos que os mesmos podem ser
experimentais, mas também em países como Alemanha ou Áustria, usados também no ensino médio. Mesmo a preparação do oxigênio
onde desde os tempos de Liebig o experimento prático no laborató- singlete poderia ser aplicada, não para ilustrar a Teoria dos Orbitais
rio é uma ferramenta indispensável do Ensino de Química.35 Com o Moleculares, mas como introdução ao efeito de quimiluminescên-
objetivo de reduzir o consumo de reagentes e a geração de resíduos, cia, já conhecida pelos alunos do ensino médio na forma de bastões
manifestou-se a partir dos anos 90 uma tendência de miniaturização luminosos (glow sticks), utilizados em festas ou atividades outdoor.
de experimentos didáticos com os seguintes objetivos:36 Roesky e Möckel40 e Albertin et al.41 descrevem o aumento do efeito
· Diminuir o volume de reação e miniaturizar as reações para de quimiluminescência pela adição de luminol,40,41 fluoresceína41 ou
economizar reagentes, reduzir o tempo de reação, de preparação colorantes indantrén40 à solução básica de H2O2, permitindo assim
e de limpeza, assim como diminuir a quantidade de resíduos; uma melhor demonstração do efeito de quimiluminescência para os
· Dispensar o máximo possível o uso de suportes e uniformizar o alunos do ensino de química em nível médio e superior.41
equipamento utilizado para aumentar a mobilidade e facilitar a
memorização das condições experimentais; IMPORTÂNCIA PRÁTICA E TEÓRICA DE REAÇÕES
· Substituir a vidraria de custo elevado por equipamentos de baixo INORGÂNICAS DO CLORO E SUA REALIZAÇÃO EM
custo e fácil acesso; ESCALA MINIATURIZADA
· Utilizar sistemas fechados tanto quanto possível para possibilitar
a realização dos experimentos fora de uma capela; Síntese de gás cloro em escala miniaturizada segundo
· Separar experimentalmente e didaticamente a geração do gás e Obendrauf
a sua reação intencionada.
Para os experimentos em escala reduzida o gás cloro é obtido
O sistema miniaturizado para preparação de gases de pela oxidação de ácido clorídrico com permanganato de potássio
Obendrauf mostrado no Esquema 3.
Na síntese utilizam-se aproximadamente 2 a 3 g de KMnO4 solução de nitrato de prata (0,1 mol L-1), o que leva à precipitação de
finamente pulverizado, colocado no tubo de ensaio fechado com cloreto de prata (Esquema 4), um sólido branco, em um dos tubos.34
a rolha de borracha. Esta rolha é perfurada por duas agulhas co- Para a detecção do hipoclorito, adiciona-se no outro tubo de ensaio
nectadas a duas seringas, uma pequena contendo de 1 a 2 mL de uma solução de NaOH para aumentar o pH e deslocar o equilíbrio
HCl(aq) concentrado (7 mol L-1)34 e outra maior para coleta do (Esquema 2a) para o lado direito. Assim, o hipoclorito pode ser
gás. O ácido clorídrico é adicionado gota-a-gota ao tubo de ensaio, detectado indiretamente adicionando-se uma gota de uma solução
permitindo a coleta do gás cloro formado (Figura 5). Depois da de iodeto, o que resulta na oxidação do iodeto a iodo (Esquema 5),
coleta, a seringa contendo o gás cloro é retirada e a ponta é fechada, cuja coloração castanho observada indica a presença do hipoclorito.34
introduzindo-se a agulha em uma rolha de borracha (Figura 5). O O cloreto de prata obtido na identificação do cloreto é separado por
tubo de ensaio é fechado com uma seringa pequena preenchida com filtração e estocado até o tratamento final adequado. O iodo resultante
carvão ativado (Figura 5), evitando-se assim a liberação do gás cloro da identificação do hipoclorito é reduzido com tiossulfato a iodeto
para o ambiente. Uma das vantagens da redução da quantidade de (Esquema 6) e a solução final, após neutralização, pode ser descartada
produtos químicos usados nesses experimentos pode ser observada na rede de esgoto.
na quantidade máxima de gás cloro liberada (< 500 mg) pela adi-
Cl-(aq) + Ag+ (aq) → AgCl(s)
ção de 2 mL de ácido clorídrico concentrado ao permanganato de
potássio. Está quantidade eleva a concentração de cloro a um valor Esquema 4. Detecção de cloreto por precipitação de cloreto de prata
< 0,83 mg m-3 em um laboratório de 600 m3, bem abaixo do limite
de tolerância de 2,3 mg m‑3.7 2 I-(aq) + ClO-(aq) + H2O(l) → I2(aq) + Cl-(aq) + 2 OH-(aq)
|DE0 = 0,355 V em meio básico
I2 + 2 S2O32- → 2 I- + S4O62-
cloro é coletado conforme descrito anteriormente e soprado com a aumentou sua produção anual de 7,7 Mt para 10,3 Mt entre 2002 e
seringa sobre o metal fundido,36 o qual reage em uma reação extre- 2012.44 Uma etapa importante na produção do papel é o branquea-
mamente exotérmica (DfH0 = -411,2 kJ mol-1),43 formando o cloreto mento da polpa de celulose obtida a partir da madeira, a qual ainda
de sódio (Figura 1S). Depois do experimento, adiciona-se ao tubo contém restos de lignina, resultando em uma indesejada coloração
de ensaio etanol para oxidar os resíduos do sódio (Esquema 9). A escura. A partir dos anos 20 do século passado, o principal processo
solução obtida é então neutralizada, permitindo assim que ela seja de branqueamento foi a adição de cloro gasoso a uma suspensão
descartada na rede de esgoto. aquosa da polpa. Como mostra o Esquema 13, o tratamento com gás
cloro cinde os grupos metoxi nas unidades básicas da lignina e as
2 Na(s) + 2 H3CCH2OH(l) → 2 H3CCH2ONa + H2(g)
o‑quinonas intermediárias são oxidadas formando ácidos dicarboxí-
Esquema 9. Oxidação de sódio pela reação com etanol licos, os quais podem ser lixiviados da polpa por soluções de soda
cáustica.45 Porém, o cloro também reage com o sistema aromático
Síntese de cloreto de ferro(III) segundo Obendrauf das unidades da lignina, formando compostos aromáticos clorados
(Esquema 13). Aproximadamente 10% do cloro utilizado no bran-
Ao contrário da reação com sódio metálico, que é sem impor- queamento encontra-se na forma de compostos orgânicos clorados
tância técnica, a cloração de ferro-velho (Esquema 10) é usada na nas águas residuais.45 Estima-se que sejam gerados em torno de 7
produção industrial de cloreto de ferro(III),1 amplamente aplicado kg de compostos orgânicos clorados por tonelada de celulose na
como floculante no tratamento de água.1,8 água residual deste processo,45 ou seja, com a típica produção diária
de 1000 a 2000 t de celulose, cada planta de produção de celulose
2 Fe + 3 Cl2 → 2 FeCl3 + 399,5 kJ mol-1
libera por dia até 14 t de compostos aromáticos clorados no meio
Esquema 10. Preparação de FeCl3 pela cloração de ferro ambiente, o que corresponde a carga máxima de um caminhão. Por
este motivo, o branqueamento de celulose com o cloro elementar
Para sua preparação em escala miniaturizada,38 lã de aço é colo- foi completamente substituído nos países europeus como Suécia,
cada na abertura de um tubo de ensaio pequeno, de modo que parte Áustria e Alemanha pelo branqueamento com dióxido de cloro ou
do ferro permaneça fora do tubo de ensaio. Na chama do bico de peróxido de hidrogênio.45 No Brasil, porém, 47% da celulose ainda
Bunsen, o ferro é aquecido e o cloro, previamente coletado, é soprado são branqueadas usando-se cloro elementar.45
com a seringa sobre o metal aquecido, que reage com o gás cloro
em uma reação exotérmica (DfH0 = -399,5 kJ mol-1),43 visível como
incandescência do metal (Figura 2S). Devido ao seu baixo ponto de
fusão (≈ 316 ºC)43 o FeCl3 formado sublima nestas condições e pode
ser observado como uma fumaça marrom38 saindo do tubo de ensaio
(Figura 2S). Depois do experimento, a lã de aço é lavada com água
e pode ser descartada no lixo comum.
- O
Preparação do oxigênio singlete pela reação de Mallet O
- + H2O + Cl-
(a) Cl2 + HOO + OH-
Cl
Embora sem importância industrial, a reação de Mallet47,48 entre
cloro e peróxido de hidrogênio em solução básica, formando oxigênio
molecular e o ânion cloreto, é de grande interesse teórico e didático -
O O 1
devido à formação de dioxigênio excitado no estado singlete, per- (b) O2* + Cl-
Cl
mitindo assim, para os alunos do ensino superior, a apresentação de
conceitos importantes da Físico-Química e da Química Inorgânica.49 Esquema 14. Reação de Mallet para formação de dioxigênio no estado
No seu estado fundamental, os orbitais moleculares ocupados de singlete (adaptada das refs. 40 e 41)
mais alta energia (HOMO) do dioxigênio são os orbitais antiligantes,
degenerados 1 pg*, contendo em cada orbital molecular um elétron Para as transições (3Sg- ↔ 1Dg) e (3Sg- ↔ 1Sg+), com energias
com os spins (ms = ½) desemparelhados.50 Portanto, o spin total, de 7874 cm-1 e 13123 cm‑1, respectivamente, espera-se a emissão
(S = Sms) é igual a um e, consequentemente, a multiplicidade de de radiação na região do infravermelho com l = 1270 e 762 nm,
spin (2S + 1) é igual a três, ou seja, um estado triplete. Nos estados respectivamente. Embora proibidas pelas regras de seleção50 para
excitados energeticamente mais próximos, o HOMO do dioxigênio transições eletrônicas, as mesmas foram observadas em fase gasosa,
é ocupado por dois elétrons com os spins emparelhados, resultando com baixas intensidades, por espectroscopia no infravermelho por
em um spin total de zero, com multiplicidade igual a um, ou seja, Khan e Kasha.58 Uma alternativa à emissão direta de fótons é a
um estado singlete. emissão simultânea da energia em pares de moléculas, formados
por impactos.41,47,49,51,58 Das três possíveis emissões bimoleculares
mostradas no Esquema 15 e observadas por Khan e Kasha,58 o par
[1Sg+][1Sg+] emite na região do ultravioleta (UV) em 381 nm, en-
quanto no visível pode-se observar as emissões do par [1Dg][1Dg] e
do par [1Sg+][1Dg] no vermelho (635 nm) e no azul – verde (476 nm),
respectivamente, sendo, na observação a olho nu, a última superada
pela radiação vermelha mais intensa.
2 O2*([1Sg+][1Sg+]) → 2 O2([3Sg-][3Sg-]) + hn (381 nm)
2 O2*([1Sg+][1Dg]) → 2 O2([3Sg-][3Sg-]) + hn (476 nm)
2 O2*([1Dg][1Dg]) → 2 O2([3Sg-][3Sg-]) + hn (635 nm)
42. Substance identifier CAS: 7782-50-5; HTTPS://scifinder.cas.org; 47. Mallet, L.; C. R. Acad. Sci., Paris 1927, 185, 352 (apud ref. 58).
acessada em Agosto 2014. 48. Adelhelm, M.; Habekost, A.; Chem. Unserer Zeit 2008, 42, 200.
43. CRC Handbook of Chemistry and Physics; Haynes, W. M., ed.; 91a ed., 49. Schweitzer, C.; Schmidt, R.; Chem. Rev. 2003, 103, 1685.
CRC Press: Boca Raton, 2010. 50. Atkins, P.; de Paula, J.; Atkins´ Physical Chemistry, 8a ed., Oxford Uni-
44. Associação Brasileira de Celulose e Papel (BRACELPA), Conjuntura versity Press: Oxford, 2006.
BRACELPA, setembro 2013 em http://bracelpa.org.br/bra2/sites/default/ 51. Albrecht, S.; Brandl, H.; Zimmermann, T.; Chem. Unserer Zeit 1998,
files/conjuntura/CB-058.pdf, acessada em Dezembro 2014. 32, 251.
45. Offermanns, H.; Dittrich, G.; Steiner, N.; Chem. Unserer Zeit 2000, 34, 52. Clennan, E. L.; Pace, A.; Tetrahedron 2005, 61, 6665.
150. 53. Gorman, A. A.; Rodgers, M. A. J.; Chem. Soc. Rev. 1981, 10, 205.
46. O Assessor 1 do manuscrito apontou acerdatamente ao fato, que a 54. DeRosa, M. C.; Crutchley, R. J.; Coord. Chem. Rev. 2002, 233 – 234,
oxidação mais lenta obervada para o papel umedecido com água 351.
destilada não prova que a oxidação pelo cloro elementar é mais lenta, 55. Pryor, W. A.; Houk, K. N.; Foote, C. S.; Fukuto, J. M.; Ignarro, L. J.;
uma vez que em meio neutro ainda existe hipoclorito em pequena Squadrito, G. L.; Davies, K. J. A.; Am. J. Regul. Integr. Comp. Physiol.
concentração, produzindo um alvejamento mais lento. Por isso ele 2006, 291, R491.
sugeriu realizar o branqueamento também com papel umedecido com 56. Kanofsky, J. R.; Chem.-Biol Interactions 1989, 70, 1.
uma solução aquosa ácida. Assim a observação de um alvejamento 57. Perussi, J. R.; Quim. Nova 2007, 30, 988.
mais lento indicaria realmente para o cloro um poder alvejante menor 58. Khan, A. U.; Kasha, M.; J. Am. Chem. Soc. 1970, 92, 3293.
enquanto a ausência de um alvejamento mostraria que somente o
hipoclorito e não o cloro elementar seria o alvejante ativo.