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1. MAQUIAVEL

Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio

Maquiavel era o conselheiro do príncipe de Florença,


local onde vivia. Nesse cargo ele fazia uma análise política de
como os Estados que “deram certo” funcionam e do porquê
Estados “não deram certo”. Maquiavel pertence ao
Renascimento do século XV a XVII. Nesse período começa a se
ter uma divisão da religião e da ciência.

Retrato de Nicolau Maquiavel.


Fonte: https://commons.wikimedia.org/

O texto “Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio”


possui apenas 15 páginas, e se trata de uma análise de um texto
de Tito Lívio, um historiador romano. Tito Lívio analisa a história de
Roma por três décadas, e assim como o título de Maquiavel induz,
esse autor analisa apenas a primeira dessas três décadas. Tito Lívio
era um escritor e filósofo que escreveu em meio as Guerras Civis
na época de Júlio César.

Busto de Tito Lívio.


Fonte: https://commons.wikimedia.org/

Durante o primeiro livro,


Maquiavel discute como as cidades
se iniciaram. Segundo o autor, as
cidades sempre se originaram em
razão as pessoas que moravam no
país ou por estrangeiros. Para o autor,
Roma possuía virtudes, progressos,
desenvolvimento de literatura e artes,
exercito proeminente, entre outros.
Roma possuía características de
cidades atuais, tais como as ruas,
Desenho do Coliseu, localizado em Roma.
praças, fóruns, esgoto, aquedutos, Fonte: https://freesvg.org/
teatros e estádios, como o Coliseu.

Os primeiros casos de cidades ocorrem quando os habitantes de vilas encontram dificuldade


em viver em segurança, já que por seu tamanho reduzido não conseguem resistir à eventuais
ataques. Para evitar a sua aniquilação e de suas instalações, criam-se cidades provenientes
da junção de vilas em locais de maior comodidade, pois assim a defesa do local é mais fácil.

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Maquiavel recorda que Atenas, na Grécia, precisou se juntar com vilas ao seu
entorno para se proteger de ataques de outras Polis.

O segundo caso é a fundação de cidades por estrangeiros, homens livres ou de pendentes de


outro Estado. Entram ainda nessa categoria as colônias fundadas pelas Repúblicas ou pelos
príncipes, para receber a população excedente ou para manter as novas conquistas.

Há outro tipo de cidade: a construída por um príncipe, sem o objetivo de fixar


residência, mas unicamente para expor a sua glória, como por exemplo a cidade de
Alexandria. Esse tipo de cidade geralmente não se desenvolve plenamente.

Cidade de Alexandria, no Egito, em 2017. Fonte: https://commons.wikimedia.org/

Maquiavel não tinha certeza da origem da cidade de Florença. Dizia que foi
fundada pelos soldados de Sila, o general e ditador romano, ou pelos habitantes de Fiesole,
que buscavam a Paz Otaviana. Florença se expandiu apenas pela generosidade do
príncipe.

“Uma cidade deve sua


existência a homens livres,
povos imigrantes ou só a
direção de um príncipe”.

Maquiavel se questiona se não é interessante escolher uma terra infértil para ser a
sede de uma cidade, uma vez que os habitantes terão que se unir para trabalhar e evitar
a situação de pobreza. Utiliza o exemplo da cidade de Ragusa. Entretanto, como as
pessoas estão condenadas a garantir seu destino pelo poder, é preciso que elas se fixem
em terras férteis, onde haverá o desenvolvimento da cidade.

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Maquiavel diz que um local fértil pode provocar ociosidade
nos cidadãos, e que para isso não ocorra é preciso que existam leis
que imponham uma operosidade. Segundo esse autor, cidadãos
que não possuem vigor de trabalho nessas cidades férteis são
“efeminados” e “incapazes de qualquer esforço generoso”.

De acordo com Maquiavel, as regras de países férteis


possibilitaram a formação de soldados melhores que os de países
estéreis, e se utiliza do exemplo do Egito, que possuía terras muito
férteis em razão do rio Nilo, e ainda produziu os homens mais
Fonte: https://pixabay.com/
eminentes de todos os tempos.

Maquiavel conclui que é mais prudente escolher uma região fértil para se
estabelecer uma cidade, uma vez que as leis podem conter a ociosidade dos
cidadãos e fará com que eles treinem militarmente.

Alexandre O Grande havia pensado em construir sua cidade no Montes Atos na


Grécia, entretanto lá não havia fertilidade e os habitantes não teriam do que viver. Assim,
o príncipe construiu sua cidade em um local onde os homens se fixariam prazerosamente
pela fertilidade do solo.

Se considerarmos Enéas como o primeiro fundador de Roma, então a cidade foi


instituída por estrangeiros, porém se o fundador tiver sido Rômulo, então a cidade foi
instituída pelos naturais do país. De qualquer forma, a origem foi livre e independente.

Escultura da loba, Rômulo e Rêmo. Fonte: https://www.flickr.com/

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1. MERLEAU-PONTY

A Dúvida de Cézanne

Merleau-Ponty pertence ao grupo da Filosofia


Contemporânea que vai do século XIX ao XXI. Nasceu na
França em 1908 e faleceu em 1961 e viveu durante o
contexto de guerras. Era um filósofo focado na
fenomenologia e usa a percepção como ponto de
partida em seus estudos. Ponty enfatiza que há uma
consciência e um corpo inerentes que a análise da
percepção deve levar em conta. Seu trabalho estabelece
um reconhecimento da análise como uma corporalidade
da consciência da intencionalidade corporal,
contrastando com o dualista corpo/mente de René
Descartes. Merleau-Ponty começa um estudo da
encarnação do indivíduo no mundo, tentando superar a
alternativa de pura liberdade e determinismo, como a
diferença entre o próprio corpo e os demais corpos. Foto de Maurice Merleau-Ponty.
Fonte: https://citacoes.in/

O nome da obra de Merleau-Ponty é A dúvida de Cézanne. Paul Cézanne foi um


pintor pós-impressionista francês, que nasceu em 1839 e faleceu em 1906. Seu trabalho
forneceu as bases da transição das concepções do fazer artístico do século XX para a arte
radicalmente inovadora do século XX. Introduziu em suas obras distorções formais e
alterações de perspectivas em benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso
dos objetos. Pode ser considerado como a ponte entre o impressionismo do final do século
XIX e o cubismo no início do século XX. Cézanne não se subordinada às leis da perspectiva
e, sim, as modificava.

O pintor cultivava sobretudo a paisagem e a representação de naturezas-mortas,


mas também figuras humanas em grupo e retratos. Cézanne estudava suas paisagens
e analisava seus valores plásticos, reduzindo-as a diferentes volumes e formas.
Suas paisagens eram sutilmente geométricas.

A dúvida de Cézanne é um breve comentário sobre o ensaio estético de Merleau-


Ponty, em que trata da percepção nas obras de Paul Cézanne. A partir das pinturas desse
pintor, o filósofo apresenta reflexões sobre a visão e o visível, ou seja, a aparência e o ser.
Apresenta um discurso contributivo para o aprofundamento reflexivo sobre a arte e
compreensão da fenomenologia da percepção.

Segundo Merleau-Ponty, Cézanne desenvolveu um gênero novo de representação


de objetos no espaço. Ele foi um reinventor da natureza-morta, dando uma profundidade
espacial através de meios composicionais. O autor fala sobre a insatisfação crescente de
Cézanne com suas pinturas, suas inúmeras tentativas de representação do real através de
sua arte. Para Ponty, a liberdade solitária de Cézanne seria resultado de uma fuga do
mundo humano, onde a sua dedicação a um mundo visível representaria essa fuga.

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Ao “desobedecer” a realidade através
Merleau-Ponty se preocupa de suas representações pictóricas e dos meios
com a percepção, com o que composicionais utilizados, Cézanne procurava
um efeito em suas obras. Seu anseio é transpor
se percebe a olhar algo. O que
nas telas a percepção no momento em que ela
levou Cézanne a reproduzir se realiza. Por isso a necessidade de pontar a
seus quadros? matéria no instante em que ela toma forma, e
configura em sua espontaneidade.

A liberdade criadora de Cézanne é


revelada por intermédio do sentido que o
artista dava aos seus personagens, às
figuras de seus quadros e ao mundo que
ele via. É esse um dos temas abordados
nos últimos momentos do texto. A reflexão
sobre a liberdade criadora compreende o
ápice filosófico da obra, pois acrescenta
um discurso que se esboça numa mescla
que inclui dados sobre a vida de
Leonardo Da Vinci, e considerações
acerca da Psicanálise.

Fonte: https://www.rawpixel.com/

Em suma, na obra A dúvida de


Cézanne está expressa a busca
incansável desse artista em pintar as
características do visível, em busca
incessante em expressar o que ao
mesmo instante que é percebido,
escapa aos nossos sentidos: o fugidio. A
relação efêmera entre a visão e o visível,
num processo interminável, que provoca
a investigação à sua própria obra.

Fonte: https://www.flickr.com/

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3. DJAMILA RIBEIRO

O que é lugar de fala?

Djamila nasceu em 1980 e ainda está em atividade. É uma filósofa contemporânea,


feminista negra, escritora e acadêmica brasileira. Se tornou um nome conhecido quando
se fala em ativismo negro no Brasil, tudo isso sob um espectro popular. É conhecida como
“filósofa pop”, já que alguns de seus feitos englobam uma presença em diversos meios de
comunicações populares.

Iniciou o contato com a militância ainda


na infância. Uma de suas influências foi seu
próprio pai, estivador, militante e comunista, que
mesmo com pouco estudo formal, era culto. Aos
18 anos se envolveu com a ONG Casa da
Cultura da Mulher Negra, e passou a estudar
temas relacionados a gênero e raça. Graduou-
se em Filosofia pela Escola de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas da Universidade Federal de
São Paulo em 2012.

Djamila Ribeiro.
Fonte: https://www.flickr.com/

O nome de sua obra é “O que é lugar de fala?”, lançado


em 2017. “O lugar social não determina uma consciência
discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos
socialmente nos faz ter experiências distintas e outras
perspectivas”. Essa frase faz parte de seu livro, no qual apresenta
um panorama histórico sobre as vozes que foram historicamente
interrompidas. A partir disso, é possível questionar quem tem
mais chances de falar e ser ouvido na sociedade.

Ao analisar a população brasileira, vemos que as minorias


ainda ocupam poucos espaços políticos, e por
consequência são menos ouvidas. Djamila explica que essa
Capa do livro “O que é local de fala?”
hierarquia estruturada na sociedade faz com que as
Fonte: bhny.com/
produções intelectuais, saberes e vozes desses grupos sejam
tratadas de modo inferior, fazendo com que as condições
estruturais os mantenham em um lugar silenciado.

O livro “O que é lugar de fala?” tem como objetivo oferecer visibilidade a sujeitos
cujos pensamentos foram desconsiderados durante muito tempo. Ao tratar de assuntos
específicos como racismo e machismo, pessoas negras e mulheres, possuem,
respectivamente, lugar de fala, podendo oferecer visões diferentes das pessoas que não
vivenciam essa realidade.

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O lugar de fala não se trata de calar ninguém, mas de abrir espaço para que diversas vozes
sejam ouvidas.

Fonte: https://www.flickr.com/

O livro traz, em sua essência, a consciência do papel do indivíduo nas lutas, criando
uma lucidez de quando você é o protagonista ou coadjuvante no cenário da discussão.
Traz uma liberdade para cada grupo se reconhecer e entender em qual espaço se
encontra conforme o processo de organização, e falar com propriedade a partir dele.

Local de fala e representatividade não são a


mesma coisa. Representatividade significa
representar com efetividade e qualidade um
segmento ou grupo o qual quer se representar.
Quando as camadas marginalizadas da
sociedade se sentem representadas em espaços
sociais e políticos, exercem o seu lugar de fala.

Geralmente discursos valorizados quase sempre vêm


de pessoas brancas, principalmente homens.

Ao tentar entender por que isso acontece, vemos que a


desigualdade é também resultado de uma estrutura social
que ajuda a perpetuá-la, inclusive por meio da legislação,
como ocorreu contra a população negra por muitos anos.

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O lugar de fala descontrói a ideia do ponto de vista universal para mostrar que
pessoas diferentes têm experiências de mundo diferentes, e uma não pode falar pela
experiência da outra.

A noção de lugar de fala expõe que decisões que afetam toda a população são
muitas vezes tomadas privilegiando um pequeno grupo.

O lugar de fala muitas vezes é confundido com o monopólio da compreensão e da


legitimidade discursiva, ou seja, como se só mulheres pudessem entender e falar sobre
feminismo.

O lugar de fala não se trata de


calar algum grupo, mas sim abrir
espaço para vozes além deles.

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4. BERKELEY

Três diálogos entre Hylas e Philonous

Berkeley nasceu na Irlanda em 1685 e faleceu em 1753. Fez parte


da filosofia moderna do século XVI a XVII. Foi um filósofo idealista cuja
principal contribuição foi o avanço de uma teoria que ele chamou de
“imaterialismo”. Essa teoria nega a existência da substância material,
e em vez disso, supõem que os objetos familiares como mesas e
cadeiras são apenas ideias na mente daqueles que os percebem,
como resultado, os objetos não podem existir sem serem percebidos.

Retrato de George Berkeley.


Fonte: https://commons.wikimedia.org/

No livro “Três diálogos entre Hylas e Philonous” os pontos de


vista de Berkeley foram representados por Philonus (do grego:
amante da mente), enquanto Hylas (do grego: matéria)
incorporou os oponentes de Berkeley, em particular John Locke.

Retrato de John Locke.


Berkeley também é conhecido por sua crítica à Fonte: https://commons.wikimedia.org/
abstração, uma importante premissa em seu
argumento para o imaterialismo.

Os Diálogos se dão em três manhãs consecutivas, provavelmente no pátio de uma


universidade, entre dois personagens. Hylas representa um leigo suficientemente educado e
mais ou menos atualizados nas teorias científicas e filosóficas e que acredita na existência do
mundo material. Philonous representa o ponto de vista de Berkeley.

O livro seria o debate entre a Matéria e a Inteligência Universal. O local dos diálogos
e as idades das personagens não são indicados com clareza, porém a descrição das flores
indica que seria em um jardim fechado.

O Diálogo 1 concentra-se em mostrar que não há


objetos dos sentidos nem nada parecido, fora da
mente. As coisas “corpóreas” são ideias e a crença na
substância material implica na negação da realidade
das coisas sensíveis. O autor quer dizer que se ele não
está vendo um objeto, então ele não existe.

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O objeto fundamental do Diálogo II é a “causa” das ideias e ele é construído para
mostrar que somente Deus explica o mundo sensível: as substâncias materiais nada
explicam e a sua existência é uma impossibilidade.

Berkeley começa ajustando suas contas com Descartes e Locke primeiro, e depois
com os materialistas, dizendo que não há explicação fisiológica possível para as “ideias”.
Esta pretensa explicação admite necessariamente a hipótese inconcebível da matéria
atuar sobre o espírito. O cérebro, de qualquer forma, é um complexo de ideias e não pode
por si ser a causa de outras ideias; a única explicação admissível para a existência das ideias
é uma mente infinita.

Descartes, filósofo francês segue a linha do racionalismo, enquanto Locke segue


a linha do empirismo.

O Diálogo III trata de uma miscelânea (mistura) de objeções que podem ser
levantadas à doutrina exposta.

Nos dois primeiros diálogos, de modo geral, Philonous interroga e Hylas responde; no
terceiro diálogo a situação se inverte.

Com o seu texto, Berkeley propõem convencer os intelectuais londrinos de que,


longe de serem extravagantes e malucas, as teses intangíveis são válidas e obedecem ao
bom senso.

Nesses diálogos, dois personagens se chocam, Hylas, defensor da doutrina


materialista (contrária à de Berkeley) e Philonous, para quem só existem mentes e ideias. Em
três entrevistas, Philonous-Berkeley vai convencer Hylas do mérito de suas teses filosóficas.
Hylas, acredita na existência da matéria e chama Philonous de cético. Philonous responde
que Hylas é mais cético de que na medida em que se acredita na existência da matéria. A
questão é então quem é o mais cético.

PRIMEIRO DIÁLOGO

Hylas define como cético alguém que nega a existência real de coisas
sensíveis ou afirma que nada pode ser conhecido sobre elas. Para Hylas,
a existência real é a existência de algo fora da mente.
Coisas sensíveis são as sensações dos cinco sentidos, t amanhos,
movimentos, a solidez das coisas que podemos perceber.
Para Philonous, as coisas sensíveis são existem fora da mente.
Começa por lidar com o primeiro grupo de qualidades: quente -frio,
odores e sabores.
Seu primeiro argumento consiste em notar o caráter agradável ou
desagradável dessas sensações. O segundo argumento é que essas coisas
aparecem de maneira diferente para pessoas diferentes.

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O Philonous muda para sons e cores e nota que o sentimento é s empre
íntimo com sua mente e não externo a ela. Em conclusão , esse primeiro
grupo de qualidades nada mais é do que sensações na mente.
Para o outro grupo de qualidades (figura, tamanho, movimento e
solidez), Philonous afirma que os mesmos argumentos que usou anterior-
Mente funcionam.
Ele acrescenta que não se pode separar a percepção das qualidades do
segundo grupo da percepção das q ualidades do primeiro grupo : eles estão
relacionados uns aos outros.
Portanto, se as primeiras são sensações simples que existem na
mente, então o são as últimas .
Philonous também apresenta dois argumentos para mostrar que a
noção de algo que existia fora da mente é uma noção incompreensível :
a impossibilidade de perceber essa coisa; e o fato de que uma ideia não
pode se parecer com nada além de outra ideia.
Ao fim do primeiro diálogo, Hylas reconhece que nada pode ser
conhecido sobre a “ matéria” entendida como algo externo à mente, e que
esse conceito é incompreensível.
George Berkeley

SEGUNDO DIÁLOGO

Hylas afirma que Philonous está na mesma posição que ele: um


cético, o que Philonous nega. Se Hylas teve que concluir que não temos
conhecimento das verdadeiras propriedades das coisas, é porque ele
postulou que as coisas sensíveis realmente existem fora de n ós : não
podemos saber tais coisas.
Se mudarmos nossa concepção, não cairemos no ceticismo.
Para Philonous, uma coisa sensível existe realmente na medida
em que é perc ebida.
Temos, portanto, a certeza de que as coisas que percebemos realmen-
te existem e são como nos parecem.
Berkeley se opõe à ideia de uma existência “absoluta”, no sentido
de algo que exista fora de nós: uma coisa “material” ou substância mate-

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Rial fora de nossa mente.
A partir disso, Berkeley tira um argument o que deve provar a
existência de Deus.
Não somos a causa de todas as ideias que estão em nós, então preci-
samos de um espírito que as causa: Deus. Berkeley então distingue suas
próprias concepções das de Malebranche.
Finalmente, Hylas tenta em vã o mostrar que a matéria ocupa uma
espécie de posição intermediária entre Deus e nós.
George Berkeley

TERCEIRO DIÁLOGO

Esse diálogo começa com o desespero de Hylas, que foi forçado ao


ceticismo. Ele espera, no entanto, poder refutar a posição de Philonous ,
assim como Philonous refutou a sua.
Berkeley então se dirige a si mesmo todas as mais de 20 objeções
que podem ter sido levantadas contra a sua filosofia. Apesar dessas
objeções não serem apresentadas em uma ordem clara, elas podem ser
agrupadas por temas : o primeiro grupo de objeções diz respeito à noção
de substância.
Berkeley concluiu que existe apenas um tipo de substância: a espi-
ritual. Todo o resto são ideias que existem na mente.
O segundo grupo de objeções diz respeito ao que significa “existir”.
O terceiro grupo de objeções diz respeito às ciências naturais.
A ciência se baseia na ideia de que o mundo material existe independe n-
temente de nossa mente. É baseado em um preconceito metafísico.
O último grupo de objeções diz respeito à questão de saber se o Deus
que é a causa do mundo, de acordo com Berkeley, é perfeito o suficiente
suficiente para ser o Deus cristão.
Se Deus é a causa de nossas ideias, ele é a causa de nossa dor e de
de nossas más ações, o que parece implicar em uma imperf eição.
Depois de responder a essas objeções, Berkeley termina com uma
descrição das vantagens de seu “imaterialismo” e sobre o “materialismo”.
Ele alerta contra os erros que levam a rejeitar o imaterialismo.
No final do diálogo, entendemos que Philonous não é o cético que
parecia ser no primeiro diálogo: ele não afirma que não podemos saber
nada sobre o mundo, pelo contrário, ele estabelece a realidade de nossas
percepções.
No final do diálogo, entendemos que Philon ous não é o cético que
parecia ser no primeiro diálogo: ele não afirma que não podemos saber
nada sobre o mundo, pelo contrário, ele estabelece a realidade de nossas
percepções.
O mundo de Berkeley não é o mundo de uma substância material
desconhecida para nós, não é um mundo no qual Deus está ausente.

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Deus está imediatamente em co ntato com os espíritos que percebem as
ideias.
Nem o ceticismo nem o ateísmo podem triunfar, o caminho está aber-
to para o bom senso e a religião, que devem prevalecer sobre a filosofia
abstrata.
George Berkeley

Fonte: philosophicos

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5. ESPINOSA

Ética
Espinosa nasceu em 1632 e faleceu em 1677. É um filósofo
holandês, de origem sefardita portuguesa, nascido de uma família
que havia fugido da inquisição lusitana. Pertence ao grupo da
filosofia moderna (séc. XVI a XVII) e é racionalista.

Retrato de Baruch de Espinosa.


Fonte: https://commons.wikimedia.org/

Foi um dos primeiros pensadores do Iluminismo e da crítica bíblia


moderna, incluindo das modernas concepções de si mesmo e do
universo, ele veio a ser considerado um dos grandes racionalistas
da filosofia do século XVII.

Bíblia Hebraica
Fonte: https://commons.wikimedia.org/

Ele desenvolveu ideias controversas a respeito da autenticidade da Bíblia Hebraica


e da natureza do Divino. Autoridades religiosas judaicas emitiram o mais alto grau de
punição dentro do judaísmo contra Espinosa, levando o autor a ser expulso da comunidade
judaica.

Espinosa defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber,
a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores
constituem modalidades ou modificações.

A obra Ética foi publicada postumamente no ano de sua morte. O trabalho se opôs
à filosofia do dualismo mente-corpo de Descartes e ganhou o reconhecimento de Espinosa
como um dos pensadores mais
importantes da filosofia ocidental.
A Ética ou Ética demonstrada à maneira dos
geômetras, geralmente referida apenas como
Nele, Espinosa escreveu a última
Ética de Espinosa, é considerada a principal
obra-prima latina indiscutível, e uma na
obra do filósofo.

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qual as concepções refinadas da filosofia medieval são finalmente voltadas contra si
mesmas e totalmente destruídas.

“O fato é que Espinosa se tornou um


ponto de teste na filosofia moderna,
de modo que realmente pode ser
dito: Você é um Espinosista ou nem
mesmo é um filósofo”.

Retrato de Hegel.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/

A obra sendo vincadamente sistemática propõe-se tratar todos os campos de


investigação da filosofia dividindo-se em cinco partes (sobre Deus, a mente, as paixões, a
escravização do homem em relação a estas e a possibilidades da sua liberação delas) que
correspondem a um percurso que partindo das questões mais fundamentais da metafísica,
e passando pela teoria do conhecimento, chega por fim à ética com o objetivo preciso de
formular uma teoria da felicidade humano.

Proposição XXXII
A vontade não pode ser chamada de livre, mas somente causa necessária.

Demonstração
A vontade, assim como o intelecto, é somente um certo modo do pensar; pelo que
cada volição não pode existir nem ser determinada a agir se não for determinada por outra
causa, está por uma outra e assim sucessivamente.
Se se supuser que a vontade é infinita, ela deve também ser determinada por Deus
a existir e a agir, não enquanto ele é uma substância absolutamente infinita, mas enquanto
possui um atributo que exprime uma essência infinita e eterna do pensamento.
Por conseguinte, seja qual for o modo por que se conceba a verdade, a saber, como
finita ou infinita, ela carece de uma causa pela qual seja determinada a existir e a agir; pelo
que se lhe não pode chamar causa livre, mas somente necessária ou forçosa

Corolário I
Que Deus não efetua coisa alguma por liberdade de vontade.

Corolário II
Que a vontade e o intelecto estão para a natureza de Deus na mesma relação que
o movimento e o repouso, e, de maneira geral, todas as coisas naturais que determinadas
por Deus a existir e a agir de certo modo.

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Com efeito, a vontade, como tudo o mais, carece de uma causa pela qual seja
determinada a existir e agir de certo modo.
E, embora de uma vontade dada, ou de um intelecto dado, resulte uma infinidade
de coisas, nem por isso, contudo, se pode dizer que Deus age pela liberdade da sua
vontade, como se não pode dizer, tendo em vista que do movimento e do repouso resultam
certas coisas, que Deus age pela liberdade do movimento e do repouso.
Por conseguinte, a vontade não pertence mais à natureza de Deus do que as
restantes coisas naturais, e está para a natureza divina na mesma relação que o movimento,
o repouso e tudo o mais que mostramos resultar necessariamente da mesma natureza está
determinada por existir e a agir de certo modo.

Proposição XXXIII
As coisas não podiam ter sido produzidas por Deus de maneira diversa e noutra
ordem do que a que têm.

Demonstração
Com efeito, todas as coisas são resultantes necessárias da dada natureza de Deus, e
são determinadas pela necessidade da natureza de Deus a existir e a agir de certo modo.
Pelo que, se as coisas tivessem podido ser de outra natureza ou determinadas a agir
de modo diverso, de tal sorte que fosse outra a ordem da Natureza, Deus também poderia
ser, por conseguinte, de natureza diferente do que é presentemente, e, portanto, essa outra
natureza também deveria existir, e consequentemente, poderia haver dois ou mais deuses,
o que é um absurdo.
Pelo que as coisas não podiam ter sido produzidas de maneira diversa e por outra
ordem.

Escólio I
Já que acabo de mostrar, mais claramente que a luz do meio-dia, que não existe
absolutamente nada nas coisas em virtude do que se diga que são contingentes, quero
agora em poucas palavras o que entenderemos por contingente, e antes disso por
necessário e por impossível.
Diz-se que uma coisa é necessária, quer em razão da sua essência, quer em razão
da essência, quer em razão da causa.
Com efeito, a existência, seja do que for, resulta necessariamente ou da perspectiva
essência e definição, ou de uma dada causa eficiente.
Por estas razões se diz também que qualquer coisa é possível, a saber: ou porque a
respectiva essência ou definição envolve contradição, ou porque não existe qualquer
causa externa que seja determinada a produzir tal coisa.
Não há, porém, outra razão para se dizer que qualquer coisa é contingente a não
ser a carência do nosso conhecimento.

Escólio II
Do que precede resulta claramente que as coisas foram produzidas por Deus em
suma perfeição, visto resultarem necessariamente de uma natureza que é dada como a
mais perfeita.

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Considerações finais de Espinosa

• Se Deus não fosse perfeito, então Ele não existiria.


• Deus define as coisas, pois é a maneira correta delas acontecerem.
• As decisões de Deus foram estabelecidas desde toda a eternidade pelo próprio
Deus.
• Há um destino determinado por Deus.
• O poder de Deus é a sua própria essência.
• Deus é único. Existe e age somente pela necessidade da sua natureza. É a causa
livre de todas as coisas. Tudo existe em Deus e dele depende de tal maneira. Nada
pode existir sem ser concebido sem ele. Tudo foi predeterminado por Deus, não por
livre arbítrio, mas pelo que é certo.
• Deus é o determinante do porquê cada coisa acontece.
• Os homens julgam as coisas de maneira pequena.

Índice de edição antiga com a divisão em cinco Partes


Fonte: https://commons.wikimedia.org/

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