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DIREITO INTERNACIONAL DAS MULHERES

Karoline Schoroeder Soares


Mestranda em Direito e Justiça Social na Universidade Federal do Rio Grande.
AS ONDAS DO MOVIMENTO FEMINISTA

Primeira onda: fim do século XIX até meados do século XX.


Caracterizada pela reclamação, por parte das mulheres, dos diversos direitos que já
estavam sendo debatidos — e conquistados — por homens de seu tempo, em especial o
direito ao voto, a participação política e na vida pública.

Segunda onda: meados dos anos 50 até meados dos anos 90 do século XX.
Caracterizada pela crítica à jornada dupla/tripla de trabalho das mulheres, à diferença de
ganhos econômicos entre homens e mulheres, e à divisão sexual do sistema educacional e
do mercado de trabalho.
AS ONDAS DO MOVIMENTO FEMINISTA
Terceira onda: a partir da década de 1990.
Caracterizada por um olhar crítico das feministas sobre o próprio movimento que
integravam, realizando modificações a partir de falhas nos movimentos anteriores a fim de
expadi-lo. Ainda, surgiu o Feminismo da Diferença, onde afirmava haver diferenças entre os
gêneros feminino e masculino.

Quarta onda: a partir de 2010.


Caracterizada pela popularização da internet e sua ocupação por feministas, ocorrendo a
massificação e o fortalecimento do debate acerca das ideias do movimento, em virtude da
possibilidade de mulheres de diferentes origens, classes sociais, raças, etnias e religiões
pudessem se conhecer e se reconhecer nas pautas defendidas pelo movimento.
PRINCIPAIS EVENTOS E DOCUMENTOS HISTÓRICOS
QUE MARCARAM OS DIREITOS INTERNACIONAIS
DAS MULHERES
Declaração da Mulher e da Cidadã

Em 1791, na França, Olympe de Gouges publicou a Declaração dos Direitos da


Mulher e da Cidadã e, ao mesmo tempo, criticou a exclusão da mulher nos
documentos oficiais da Revolução Francesa.

Olympe de Gouges, pseudônimo de Marie Gouze, foi uma


dramaturga, ativista política, feminista e abolicionista
francesa de importante atuação na Revolução Francesa.
1ª Convenção dos Direitos da Mulher

Em 1848, em Seneca Falls, na cidade de Nova York, Estados Unidos, Elizabeth


Cady Stanton e Lucretia Mott organizaram a Primeira Convenção dos Direitos
da Mulheres.

Elizabeth Stanton e Lucretia Mott


marcaram a primeira onda do movimento
feminista, ambas lutavam pelo direito ao
voto e solicitavam que a mulher fosse
inserida no mercado de trabalho.
Sufrágio Feminino
Em 19 de setembro de 1893, o governador da Nova Zelândia, Lord Glasgow,
marcou a história ao assinar uma nova Lei eleitoral que tornou o país o
primeiro do mundo em que as mulheres tinham o direito de votar nas eleições
parlamentares.
Essa conquista foi o resultado de anos de
esforço das sufragistas neozelandesas
lideradas por Kate Sheppard.
Dia Internacional da Mulher
Em 1910, em Copenhague, durante o II Congresso Internacional de Mulheres
Socialistas, Clara Zetkin, membro do Partido Comunista Alemão, propôs a
criação de um Dia Internacional da Mulher.
Em 1917 determinou-se que o Dia Internacional da Mulher seria 8 de março, em
homenagem as mais de 120 mulheres que morreram em um incêndio em uma
Fábrica nos Estados Unidos.
Apenas em 1977 a Organização das Nações Unidas reconheceu oficialmente a
data como dia simbólico das mulheres.
1ª Campanha Contra a Mutilação Genital Feminina
Em 1920, no Egito, a Sociedade Egípcia de Médicos realizou a primeira
campanha contra a mutilação genital feminina.

A Organização das Nações Unidas (ONU)


informou que, até 2030, cerca de 86
milhões de meninas poderão estar sujeitas
à prática considerada mutilatória pelas
principais organizações e relatórios de
saúde e direitos humanos internacionais.
Sufrágio Feminino nos Estados Unidos
Em 1920, os Estados Unidos da América ratifica a 19ª Emenda Constitucional,
dando às mulheres o direito ao voto no país.

Apesar da aprovação, nem todas as mulheres


tiveram o acesso garantido ao voto. As negras,
por exemplo, foram praticamente excluídas da
ação conquistada por sufragistas brancas, que
se distanciaram de ativistas negras através de
divisões na conciliação entre gênero e raça.
O voto feminino negro foi de fato validado
apenas em 1964, com a Lei de Direitos Civis.

Mulheres protestam em 1916, em Chicago, pelo direito ao voto nos Estados Unidos.
Direito à férias anuais
Em 1945, na Irlanda, 1500 lavadeiras fizeram greve no país pelo período de três
meses, ao fim conseguiram obter o direito de ter duas semanas de férias
anuais.
Eleanor Roosevelt na Assembleia Geral da ONU
Em 1946, Eleanor Rooselvet reivindica, por meio de um discurso feito na
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, que as mulheres tenham
maior envolvimento em assuntos nacionais e internacionais.

Como chefe da Comissão dos Direitos


Humanos, ela foi fundamental na
formulação da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, adotada e
proclamada pela Assembleia Geral das
Nações Unidas em 10 de dezembro
1948.
Declaração Universal dos Direitos Humanos

Artigo 1
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.
São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos
outros com espírito de fraternidade.

Artigo 2
1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades
estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja
de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza,
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra
condição.
Dia de consciência na luta pelo fim da violência
contra as mulheres
Em 1960, na República Dominicana, as irmãs Mirabal, Pátria, Minerva e Maria
Teresa foram assassinadas por protestarem contra a ditadura de Rafael
Trujillo. O assassinato transformou-as em um símbolo da resistência popular e
do feminismo.

Em 1999, a Assembleia Geral das


Nações Unidas definiu a data de
25 de novembro como "Dia
Internacional pela Eliminação da
Violência contra a Mulher".
1ª Conferência Mundial da Mulher
Em 1975, no México, foi realizada a Primeira Conferência Mundial da Mulher,
pela ONU, dando início a “Década da Mulher”.

O principal objetivo da Conferência da


Cidade do México era trazer a atenção
internacional para as necessidades das
mulheres, unindo esforços e estratégias
coletivas para a promoção do
empoderamento e avanço da situação
feminina.
Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas
de Discriminação contra as Mulheres (CEDAW)
Em 1979 foi aprovado um dos mais importantes instrumentos internacionais
de proteção às mulheres até hoje.
A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra
a Mulher, de 1979, é o primeiro tratado internacional que dispõe amplamente
sobre os direitos humanos da mulher.
São duas as frentes propostas: promover os
direitos da mulher na busca da igualdade de
gênero e reprimir quaisquer discriminações
contra a mulher nos Estados-parte.
Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra
as Mulheres
Em 1993 foi aprovada a Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as
Mulheres pela Assembleia Geral da ONU.
Este foi o primeiro instrumento internacional a apresentar de forma explícita
uma definição sobre a violência contra as mulheres, sendo um dos mais
importantes instrumentos internacionais de proteção às mulheres até hoje.

Reconhecimento da "necessidade urgente da aplicação universal para as


mulheres dos direitos e princípios no que diz respeito à igualdade, à
segurança, à liberdade, à integridade e à dignidade de todos os seres
humanos".
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência contra a Mulher
Em 1994, foi adotada a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e
Erradicar a Violência Contra a Mulher, no âmbito da OEA, sendo o marco
normativo mais relevante para o avanço dos direitos humanos das mulheres
regionalmente, pois determina que a violência contra a mulher é, na verdade,
uma violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais,
viabilizando todo um conjunto de mudanças que vieram a se concretizar nos
continentes americanos.
Igualdade de Gênero
Em 2015, a Igualdade de Gênero foi colocada como uma das metas a serem
atingidas na Agenda 2030, nos objetivos de desenvolvimento sustentável
estabelecidos pela ONU.
ODS 5. Igualdade de Gênero
Alcançar a igualdade de gênero e
empoderar todas as mulheres e meninas
Marcha das Mulheres
Em 2017, entre três e cinco milhões de mulheres participaram da Marcha das
Mulheres.

A marcha das mulheres foi uma


manifestação, em 21 de janeiro de 2017,
em Washington, para promover os
direitos das mulheres, reformas na
imigração e direitos LGBTQIA+ e abordar
as desigualdades raciais, assim como
questões trabalhistas e ambientais.
Eventos semelhantes ocorreram no
mundo inteiro.
Alyne Pimentel vs Brasil
Organização Mundial de Saúde (OMS), na 10ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID10),
definiu como mortalidade materna a morte de uma mulher durante a gestação ou até 42 dias após o
término da gestação, devida a qualquer causa relacionada com ou agravada pela gravidez ou por
medidas em relação a ela, porém não devida a causas acidentais ou incidentais.

No ano de 2002, Alyne (1974-2002) esperava o seu segundo filho, estava


gestante de seis meses e sentiu um mal-estar, ocasião em que procurou
atendimento médico na unidade de saúde pública mais próxima da sua
residência, contudo, não obteve nenhum auxílio eficiente.
Posteriormente, retornou para atendimento médico e notou-se ausência de
batimentos cardíacos do bebê, momento em que se constatou que havia
ocorrido a morte fetal. Alyne foi submetida rapidamente a realização de um
parto induzido, entrou em coma vindo a falecer dias depois.
Alyne Pimentel vs Brasil
Em 2008, a mãe de Alyne Pimentel, Maria de Lourdes da Silva Pimentel, com o
auxílio de organizações não governamentais, apresentou comunicação
individual contra o Estado brasileiro perante o Comitê CEDAW, com base no
artigo 2º, alínea “c”, e do artigo 12, da Convenção sobre a Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação contra as Mulheres (ONU, 1979).
Diante da violação aos direitos à saúde e à vida, a ineficiência de prestação de
saúde e jurisdicional, o Comitê CEDAW recebeu a denúncia realizada por Maria
de Lourdes.
Alyne Pimentel vs Brasil
O Comitê CEDAW entendeu que o falecimento de Alyne foi em decorrência de
uma morte materna, e indicou ao Estado brasileiro que a fim de que não haja
mais classificação errônea das causas de morte de mulheres, notifique os
órgãos competentes determinando que as mortes maternas sejam
relacionadas como tal.

O Comitê CEDAW entendeu que o Estado


brasileiro violou as obrigações de acesso à saúde e
à justiça, pois a prestação dos serviços médicos
foi inexperta e irresponsável, além de indicar que o
Estado brasileiro faço um monitoramento contínuo
das instituições médicas.
Marie Curie
Marie Curie (1867-1934) é bem conhecida pelos seus trabalhos sobre a
radioatividade e por ser a primeira pessoa a receber dois Prêmios Nobel em
duas áreas científicas diferentes.
Em 1898, em colaboração com seu marido, Pierre Curie, ela descobriu os
elementos químicos radioativos, polônio e rádio.
Em 1903, ela dividiu com Pierre e Henry Becquerel o prêmio Nobel de física.
Oito anos depois, em 1911, ela ganhou o prêmio Nobel de química.
Também foi a primeira mulher a obter o doutorado em física na França, além
de ser a primeira mulher a ter seus restos mortais depositados no Pantheon,
construído para homenagear os “grandes homens” da França. Depois, outras
cinco mulheres receberam a mesma homenagem.
Marie Curie
Marie Curie é um símbolo feminista, sem ter sido militante feminista. Seu
envolvimento na universidade volante foi motivado principalmente pela
oposição à dominação russa, muito mais do que pela proibição do ingresso de
mulheres nos cursos universitários.
“Você tem que agir como se fosse possível
transformar radicalmente o mundo. E você
tem que fazer isso o tempo todo.”
- Angela Davis

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