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MONOPÓLIOS PRIVADOS
R ichard L e w in s o h n
D r . te r . p o l.
cial de determinado artigo, uma alta de preços. Santo Império já tinha recomendado proceder
contra “as numerosas grandes sociedades e di
O processo esteve muito em voga ainda no co-
versas pessoas que pretendem reunir em suas
mêço de nosso século nos mercados de matérias
mãos tôda sorte de mercadorias. . . e impor-lhes
primas, mas, com a legislação e controle mais
preços segundo sua fantasia” . M as quando o
rigoroso das Bolsas, tornou-se mais raro e sem
procurador da Câmara Imperial decidiu aplicar
grande importância econômica.
essa recomendação à maior emprêsa da época,
Aristóteles menciona ainda outra espécie a casa Fugger de Augsburgo, o próprio impera
de monopólios de mercadorias : os monopólios dor interveio e abafou o processo.
financeiros do Estado. A facilidade com que o Adam Smith tratou da questão dos mono
monopólio pode obter lucros, diz o filósofo, le pólios em diversas ocasiões, sem sistematizá-
vou diversas cidades a monpolizar o comércio
de certos artigos, com o fim de conseguir recei (1 ) A r i s t ó t e l e s , Política, l i v r o I, c a p . X I .
(2 ) M a r t i n L u T H E R , Von Kauíhandlung und W u-
tas. Havia mesmo na Administração pública da ch er (1 5 2 4 ). '
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Entrave mais freqüente do poder monopo polvo monstruoso que tudo agarra com seus oito
tentáculos. N a literatura sôbre a competição im
lista existe no caso de um produtor ou cartel de
perfeita êle se apresenta como ser muito humano
produtores controlar efetivamente o mercado
de determinado produto que, sem grande incon no fundo, agindo de acôrdo com as mesmas refle
xões e sujeito às mesmas reações que a teoria da
veniente para os consumidores, possa ser substi
utilidade marginal atribui ao “homo ceconomicus” .
tuído por outro igualmente monopolizado. Nessa
ocorrência, caracterizada paradoxalmente como O monopolizador deve respeitar também a
“competição monopolista”, cada monopolizador de capacidade do mercado. Se êle produz em ex
ve tomar em consideração o que faz o seu concor cesso o preço de monopólio baixará, seguindo a
rente potencial. N o grande domínio das maté lei imperiosa da utilidade marginal decrescente,
rias sintéticas, nos mercados virtualmente mono segundo a qual cada unidade adicional de deter
polizados por patentes ou marcas de fábrica, minada mercadoria dá ao consumidor menos sa
e também para produtos aparentemente mui tisfação que a precedente e faz, por conseguinte,
to diferentes um do outro, êsse fator representa recuar o preço. M as o monopolizador não pode,
papel de considerável importância. Por vêzes, por outro lado, restringir a seu taíante a produ
como no duopólio e no oligopólio, a competição ção para elevar os preços. Se assim fizesse atin
monopolista age no sentido moderador, mas, giria logo o ponto em que, apesar da alta exor
na maioria dos casos, êle é eliminado, sem luta bitante dos preços, diminui não somente o pro
ou depois dela,'pala constituição de um truste, duto total das vendas, mas, igualmente, o seu
por convenções formais ou por pactos tácitos para lucro. Será êle então obrigado, em seu próprio
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cipais argumentos da escola liberal contra os que nenhuma outra em medidas de racionaliza
monopólios, não importa sob que forma, é que ção técnica, porque ela não pode mais reduzir
tôda supressão ou entrave da livre concorrên as despesas por unidade pelo aumento de suas
cia reduz, tanto qualitativa como quantitativa vendas, em detrimento dos competidores.
mente, a eficácia das atividades econômicas. A questão de saber se a economia monopo
“M onopoly is a great enemy to good manage- lista, em seu conjunto, impede o abastecimento
ment”, disse Adam Sm ith. A competição esti mais abundante da população, é mais complexa.
mula o z ê lo ; o monopólio acarreta a preguiça Os cartéis são constituídos para regular e li
— tal é a proposição básica. Ela é essencial mitar a oferta. Sua arma principal na luta para
mente técnica, sem preconceitos de ordem moral a manutenção ou para a elevação dos preços são
e social; se fôsse sempre válida constituiria, sem as restrições da produção e das vendas. E ’ fato
dúvida, um argumento dos mais fortes para negar incontestável que, sob o domínio dos monopó
tôda razão de ser aos organismos e às tendências lios, uma parte importante da capacidade de pro
monopolistas. dução fica inutilizada. «
A tese sempre estêve muito em voga, prin M as seria mais elevada a exploração da
cipalmente entre os economistas norte-america capacidade no regime da livre concorrência ?
nos ( 5 ) . Na maioria das vêzes, entretanto, a dis Em alguns casos, pode-se acreditar que sim e
cussão fica nas generalidades. Com efeito, as admitir que, sem as restrições monopolistas, uma
provas concretas não são numerosas no que con produção maior seria vendível a preços que dão
cerne às restrições qualitativas. Entre elas figu
aos produtores uma base de existência. M as
ra em primeiro lugar a aquisição das patentes feita
paremos nssse ponto e, antes de tirar conclusões
na intenção de não as utilizar imediatamente para
mais gerais, olhemos o reverso da medalha.
não pôr em perigo o capital investido em um
processo menos eficiente. O inventor, bem ou A exploração da capacidade é noção rela
mal remunerado, torna-se involuntàriamente cúm tiva, cuja significação real depende da própria
plice do monopólio, enquanto os consumidores capacidade; e essa, ademais, não é uma gran
ficam privados de usar uma inovação útil. deza fixa. Durante a grande crise econômica
os “techocratas” da Columbia University preten
Os casos dêsse gênero são talvez mais fre
deram que se pudesse multiplicar a capacidade
qüentes do que o público julga (G )v Todavia,
de produção e essa afirmação tem sido confirma
seria exagerado tirar daí a conclusão generalizante da, pelo menos parcialmente, pelas experiências
de que os monopólios são um obstáculo ao pro da guerra. Por outro lado a capacidade, em sua
gresso técnico. N ão se poderá negar que nas situação presente, já é em grande parte o resul
indústrias em que as tendências monopolistas são tado de uma economia monopolista e não é ab
particularmente acentuadas, como a indústria solutamente certo que fôsse tão grande sem a
química e a de eletricidade, o progresso técnico fôrça expansionista dos trustes.
foi notável. Causa e 1efeito são aqui recíprocos. A pro
Embora as emprêsas monopolistas não se
dução em massa, á estandardização, a organiza
jam forçadas a oferecer aos consumidores, no
ção racional da distribuição, necessitam gran
mais curto prazo, todo melhoramento possível
des unidades comerciais e industriais e favore
no produto acabado, elas têm todo interesse em
cem gr&ndes unidades administrativas e finan
aplicar as inovações técnicas que íeduzam^ suas ceiras. N ão é possível racionalização sem con
despesas de produção. A empresa que possui um centração e esta cria condições monopolistas,
monopólio absoluto é até mais interessada do
quando não forçosamente monopólios efetivos.
Ela provoca o nascimento do oligopólio e mes
(5 ) B ruce W . K n i g h t , “ Prices under M on op o
ly ” , in E con om ic Principies and Problem s, trabalho ed i
mo do duopólio, os quais, em suas repercussões
tado por W alter E . Spahr, 4.a edição, N . Y ork 1940 econômicas, não diferem de muito do monopólio
vol. I, págs. 3 9 7 -4 0 1 . — F r a n k P . G R A H A M , Social
puro.
G oals and E con om ic Institutions, Princeton, 1 1942, p. 65.
(6 ) T em p ora ry N ational E con om ic C om m ittee, O motivo da racionalização também influi
In vestigation o i C oncentration o i E con om ic P ow er ^
Final R e p o r t and R ecom m en dation . 77.° Congresso, 1. por vêzes na formação dos cartéis. Sob a livre
Sessão. Scnate D ocu m en t n.° .35, W ashington 1941, concorrência as emprêsas tendem a atingir o II-
págs. 36, 357-380.
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mite de sua capacidade, mas os preços não per mente metais, eram produzidas em um só local
mitem às meno(s eficazes dentre elas ampliar e e por uma única emprêsa. M as à medida que se
melhorar sua aparelhagem. Um as constroem, foi cavando a terra, mais jazidas foram apare
mas as instalações das outras tornam-se antiqua cendo, e destruindo os antigos monopólios.
das e obsoletas. A capacidade total aumenta em A evolução da indústria do radium constitui
ritmo menos acentuado do que nas indústrias que a êsse respeito exemplo típico. Quando êsse me
se acham protegidas por cartéis, salvo no caso das tal foi descoberto, a única jazida conhecida se
jovens indústrias altamente especulativas. encontrava na Boêmia e os minérios de urânio
Com as reservas exigidas por um julgamen que o contêm, antes considerados de nenhum
to geral sôbre as questões tecnológicas, diversas valor, alcançaram preços fabulosos. Depois de-
para cada indústria, poder-se-á então dizer que, algum tempo o monopólio foi rompido pela des
na livre concorrência, a capacidade efetiva de coberta de radium nos Estados U n id os; mas es
produção é mais restrita em relação às possibi sas jazidas logo se esgotaram. Então o Congo-
lidades técnicas, mas a exploração da capacida Belga tornou-se o único fornecedor de radium e
de é mais ampla do que no regime monopolista. uma companhia anglo-belga, a União Mineira
No fim de contas, a produção, no regime em do Alto-Katanga, enfeixou por longos anos ver
que preponderam as empresas ou organizáções dadeiro monopólio mundial. Em 1930 ricas ja
monopolistas, não é menor, sendo provàvelmente zidas foram descobertas no Canadá. Em segui
mais. elevada, do que seria em uma compétição da a um período de duopólio os dois produtores,
sem entraves. a União Mineira e a Eldorado Gold Mines L td .,
proprietária das jazidas canadenses, formaram em
IV . BASES DO M ONOPÓLIO 1938 um cartel e dividiram o mercado mundial
na relação de 6 0 % : 40% . A guerra acarretou
Um julgamento sôbre os organismos mono
a dissolução do cartel em 1941 (8 ) e depois o
polistas não pode basear-se unicamente no grau
preço do radium, apesar do aumento de consu
de monopolização (monopólio puro, duopólio,
mo, baixou consideràvelmente.
oligopólio) e muito menos em suas formas de
Enquanto os monopólios mundiais de re
organização (holding, união de interêsse, gentle-
cursos naturais se têm tornado raríssimos, os
merís agreement, e t c .) (7 ). E ’ preciso indagar
monopólios nacionais dêsse gênero são ainda
também qual a base do poder monopolista em
freqüentes. Em todos os países de industriali
cada caso. Em geral a resposta não sèrá difícil,
zação incipiente, ocorre que uma emprêsa única
mas freqüentemente, em vsz de uma causa única,
detém efetivamente o monopólio quer de um quer
encontraremos um conjunto de fatores e circuns
de outro produto mineral, pelo simples fato de
tâncias que permitirão a uma ertiprêsa ou a uma
não haver outras. Às vêzes as condições de tra
associação de emprêsas o domínio do mercado.
balho ou de transporte dão à emprêsa monopolista
Dêsses fatores distinguiremos cinco principais:
posição inatacável em face da concorrência es
1.° recursos naturais trangeira. N a maioria dos casos, dado que a pro
em grande parte em patentes, ou seja, em direi peito, de grande significação para a formação dos
tos de exclusividade concedidos e garantidos pe preços e manutenção da livre concorrência. Ela
lo Estado. Por essa razão o Estado tem o dever toca nos velhos problemas sempre atuais da ren
de se ocupar com a maneira pela qual êsses da territorial e notadamente da renda urbana.
direitos são utilizados. O monopólio estabelecido por meio de
O comércio de licenças tornou-se meio de acordos entre particulares, industriais ou comer
subjugar indústrias inteiras, como foi o caso da ciantes do mesmo ramo ou de ramos vizinhos, é
Já nos referimos ao abuso da não utilização das ção e das medidas administrativas no domínio