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Brazilian Journals of Business 3587


ISSN: 2596-1934

Segurança Urbana: Uma Análise a partir das Diferentes Percepções dos


Moradores dos bairros da Saúde e Jardim Santo Inácio na Cidade de Salvador/BA

Urban Security: An Analysis from the Different Perceptions of Residents of the


neighborhoods Saúde and Jardim Santo Inácio in the City of Salvador/BA
DOI: 10.34140/bjbv3n5-005

Recebimento dos originais: 04/03/2021


Aceitação para publicação: 30/06/2021

Aline Pauliana Soares Ferreira Lima


Graduanda em Administração pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Instituição: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Endereço: Rua Silveira Martins - Conjunto Governador José Marcelino, 08 - Cabula, Salvador -
Bahia, Brasil
E-mail: paulianasf87@gmail.com

Lavinia Silva dos Santos


Graduada em Administração pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Instituição: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Endereço: Silveira Martins, 1641- Cabula, Salvador – Bahia, Brasil
E-mail: laviniass22@gmail.com

Angélica Olímpia de Oliveira Santos


Mestranda em Desenvolvimento e Gestão Social pela Universidade Federal da Bahia - UFBA
Instituição: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Endereço: Rua Silveira Martins - Conjunto Governador José Marcelino, 06 – Cabula, Salvador - Bahia,
Brasil
E-mail: aosantos@uneb.br

Leonardo Mitsuo Watanabe Magalhães


Graduando em Administração pela Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Instituição: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Endereço: Rua Francisco das Mercês, 640, Condomínio Intervilas, Buraquinho - Lauro de Freitas -
Bahia, Brasil
E-mail: leonardo.magalhaes.99@gmail.com

Tânia Moura Benevides


Doutora em Administração pela Universidade Federal da Bahia – UFBA
Instituição: Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Endereço: Rua Mato Grosso 586 - Edf. Solimar - Pituba
Salvador - Bahia, Brasil
E-mail: tbenevides@uneb.br

RESUMO
O presente artigo foi elaborado com o objetivo de identificar os principais fatores que impactam a
percepção de segurança urbana nos bairros da Saúde e do Jardim Santo Inácio, ambos localizados na
cidade do Salvador. Trazendo reflexões no campo da segurança pública e seus desdobramentos para
segurança urbana, tal como os fatores influenciadores para a percepção de segurança. A metodologia foi
composta por pesquisa de campo com aplicação de questionários, como instrumento de coleta de dados,

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em cada um dos bairros, sendo parte de uma pesquisa maior denominada QualiSalvador, que tem por
objetivo produzire difundir conhecimento sobre a realidade urbano-ambiental da cidade do Salvador, na
escala intraurbana, por bacia hidrográfica e por bairro, tendo como referência o Índice de Qualidade
Urbano-Ambiental de Salvador - IQUALISalvador. A Segurança Pública somente não dá conta de
analisar a segurança na escala do bairro, por tanto deve se pensar em estudar a segurança urbana, a fim
de compreender o impacto disso para a melhoria da segurança no ambiente urbano, e consequentemente,
na qualidade urbana ambiental de Salvador.

Palavras-chave: Segurança. Segurança Pública. Segurança Urbana. Salvador.

ABSTRACT
The present article was elaborated to identify the main factors that impact the perception of urban safety
in the neighborhoods of Saúde and Jardim Santo Inácio, both located in the city of Salvador. Bringing
thoughts in the field of security and its consequences for urban security, as well as the influencing aspects
for the perception of security. The methodology consisted on field research with questionnaire application,
as a data collection instrument, in each of the neighborhoods, which is part of a larger research called
QualiSalvador, that aims to produce and spread knowledge about the urban-environmental reality of the
city of Salvador, on the intra-urban scale, by river basin and by neighborhood analysis, using the
Environmental Urban Quality Index of Salvador –IQUALISalvador as a reference. Public Security, by
itself is not enough to analyze security at the neighborhood scale, therefore we should think about studying
the urban security in order to understand the impact of it on improving security in the urban environment,
and consequently, in the urban environmental quality of Salvador.

Keywords: Safety. Public Security. Urban Security. Salvador.

1 INTRODUÇÃO
Pela primeira vez na história, desde a virada do século, a maior parte da população global reside
em centros urbanos e não mais em zonas rurais. As projeções do crescimento urbano continuará
aceleradas nos próximos anos, Graham (2016) estima que, até 2050, cerca de 75% da população habitará
em cidades. Se por um lado as cidades estão em ritmo de crescimento constante, de outro a dimensão
humana vem sendo negligenciada quando se trata do planejamento urbano. E para que serve as cidades
senão para abrigar e proporcionar a convivência de seus habitantes de forma segura?
Segurança é um direito inalienável do indivíduo, sendo assegurado pelo 6º artigo da Constituição
Federal na qual observa o direito à segurança como um direito fundamental e indissociável da dignidade
humana. A Escola Superior de Guerra (ESG) entende que segurança é uma noção de garantia e
proteção contra obstáculos e ameaças, que possamexistir (BRASIL, 1988; ESG, 2009).
Dessa forma, tudo que possa interferir na tranquilidade do indivíduo, passa então, a ser
considerada uma razão de insegurança. “Segurança é a sensação de garantia necessária e indispensável
a uma sociedade e a cada um de seus integrantes, contra ameaças de qualquer natureza.” (ESG, 2009,
p.59). Buzan (2012) ao discutir segurança internacional traz ao debate a noção de segurança,
demonstrando que esta está relacionada a temas políticos cruciais, como Estado, autoridade,
legitimidade, política e soberania. O que compreende o legado histórico com as suas influências culturais

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e os debates políticos.
O crescimento urbano de forma desorganizada e desamparada, ocasiona, segundo Carbonari e
Lima (2016) uma crescente desintegração socioterritorial entre bairros e áreas centrais. As comunidades,
então, desassistidas do poder público passam a sofrer com a faltade serviços e equipamentos essenciais
para a vida urbana. Com isso gera “[...] oportunidades para o surgimento do crime organizado e da
violência dele derivada, na medida em que permite que o crime ocupe papéis que deveriam ser do Estado
e das políticas públicas.” (CARBONARI e LIMA, 2016, p.93).
Amanajás e Klug (2018) apontam que o reconhecimento do direito à cidade contrasta na realidade
urbana brasileira, a qual sofre diariamente a negação dos direitos a algumas categorias, refletindo-se
também no processo do planejamento urbano, dessa forma fatores como raça, gênero e renda são
influenciadores no processo de urbanização do território. As autoras apontam ainda que “Exclusão,
segregação, informalidade e ilegalidade são realidades enfrentadas por parte dos moradores das cidades
brasileiras e dos países em desenvolvimento.” (AMANAJÁS e KLUG, 2018, p. 30).
Pensar em uma cidade segura é pensar em um espaço urbano planejado e inclusivo, onde a
prestação de serviços públicos essenciais e as infraestruturas urbanas necessárias estão à disposição de
todos os moradores. Onde haja participação de seus habitantes em condições de igualdade. Pois, quando
há a exclusão social isso se expressa na formatação do espaço urbano.
A partir dessa discussão, o presente estudo se propôs à seguinte questão de investigação: Quais
fatores impactam na percepção de segurança pública e urbana dos moradores dos bairros da
Saúde e do Jardim Santo Inácio?
A fim de responder a tal questionamento este estudo tem por objetivo geral identificar os
principais fatores que impactam a percepção de segurança urbana nos bairros estudados. Para isso, foram
definidos os seguintes objetivos específicos: identificar a estrutura urbana dos dois bairros estudados;
analisar a percepção de segurança dos moradores da Saúde e do Jardim Santo Inácio e avaliar a
contribuição do conceito de segurança urbana para o entendimento da qualidade do ambiente intraurbano
de Salvador .
Este trabalho resulta de uma análise sobre segurança no contexto urbano, fruto da reflexão de
parte dos pesquisadores envolvidos no Projeto Qualidade do Ambiente Urbano de Salvador,
especificamente, o sub grupo QualiSeg. O projeto foi aprovado pelo Comitê deÉtica da Universidade
Federal da Bahia (UFBA), e busca, na percepção de seus moradores, identificar a qualidade do ambiente
intraurbano de Salvador na escala bairro.
Carvalho (2019) aponta que das vinte cidades mais violentas do País, dezoito se concentram nas
regiões Norte e Nordeste, sendo que o estado da Bahia possui cinco cidades neste ranking, são elas:
Simões Filho, Porto Seguro, Lauro de Freitas, Camaçari e Eunápolis, três das quais estão na região
metropolitana de Salvador (RMS) - Simões Filho, Lauro de Freitas e Camaçari. Segundo Lorran (2019)

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entre as capitais mais violentas do País, em que analisa a taxa de homicídio por cem mil habitantes,
Salvador aparece na quinta posição. O Atlas da Violência de 2019, publicado pelo Instituto de Pesquisas
Econômicas Aplicadas (IPEA), aponta que os estados federativos da União têm reduzido a taxa de
letalidade violenta, entretanto, isso não ocorre nos vários estados das regiões Norte e Nordeste, pois esses
têm se confrontado com forte crescimento nos índices de homicídio, que são influenciados por dois
elementos, a saber: a guerra entre as duas maiores facções criminosas no Brasil Primeiro Comando da
Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV) e o domínio de mercados varejistas e de novas rotas
internacionais de tráfico de entorpecentes, que afetam prioritariamente os estados do Norte e do Nordeste
(IPEA, 2019).
Com as discussões aqui propostas, espera-se amadurecer o debate sobre segurança pública e
segurança urbana, avaliando o impacto na construção de uma cidade segura, que agregue valor a noção
de qualidade do ambiente urbano na cidade do Salvador, o que torna relevante e justifica o estudo.
Os pesquisadores do projeto QualiSalvador aplicaram aproximadamente quinze mil questionários
com os moradores dos 163 bairros do município de Salvador. A pesquisa de campo ocorreu entre os anos
de 2019 e 2020, tendo como meta a aplicação de dezessete mil questionários, processo interrompido em
função da crise sanitária provocada pelo COVID-19. O projeto tem financiamento da Fundação de
Amparo à Pesquisa da Bahia (FAPESB) da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA) e
envolve três Universidades baianas – Universidade Federal da Bahia (UFBA), Universidade do Estado
da Bahia (UNEB) e aUniversidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).
O presente artigo está dividido em cinco seções. A primeira aqui apresentada é a introdução, a
segunda seção busca refletir sobre o que é segurança e seu desdobramento para segurança pública,
buscando entender o que uma cidade segura necessita, a partir de um conjunto de elementos, para ter
segurança pública e segurança urbana. A terceira seçãocompreende o percurso metodológico adotado na
pesquisa. A quarta seção faz a caracterização dos dois bairros estudados, apresentando os resultados
obtidos na pesquisa de campo, no recorte específico do QualiSeg. Por fim, na quinta e última seção, são
apresentadasas considerações finais.

2 REFLEXÕES SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA E SEGURANÇA URBANA


Segurança é uma sensação, com isso, múltiplos fatores vão influenciar na sua presença ou
ausência. Buzan (2012) ressalta que a ausência de uma definição universal sobre o que constitui os
estudos sobre segurança, possibilita que este se torne campo de política multidisciplinar onde discutem
diferentes perspectivas do que deveria ou não ser incluída.Esse debate envolve o Estado, buscando
avaliar o “que” ou “quem” deveria ser o “objeto de referência” da segurança; as ameaças, nas dimensões
internas e externas; a ampliação de escopo e expansão da segurança vinculada ao debate sobre uso,
ameaça e controle da força, que inclui os aspectos societais, econômicos, ambientais, saúde,

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desenvolvimento e gênero; por fim traz as relações, que trata dos fatores dinâmicos de ameaças, perigos
e urgências, trazendo a política ao centro do debate, pois esses fatores são utilizados para reforçar
discursos específicos do Estado e da política internacional.
A Escola Superior de Guerra (ESG) divide a percepção de segurança em quatro níveis:individual,
comunitário, nacional e coletivo. A segurança individual diz respeito à garantia dos direitos
fundamentais como igualdade e liberdade e asseguramento dos serviços básicos como saúde, educação,
entre outros; a comunitária procura garantir a boa convivência entre osindivíduos e grupos; a nacional
está relacionada a proteção dos direitos fundamentais; porfim, a coletiva visa o bom entendimento
entre as nações fortalecendo o apoio mútuo eeliminando atritos (ESG, 2009).
Ao tratar da segurança pública, que está explicitada na Constituição Federal no artigo 144,
verificamos que segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos. Na dimensão
constitucional a segurança pública é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade
das pessoas e do patrimônio. A ordem pública é, portanto, uma situação pacífica de convivência social,
isenta de qualquer ameaça, violência ou prática de crimes (BRASIL, 1988).
Alusivo a isso, Dias (2010) amparada pelas contribuições dos estudiosos, que foram motivados
de forma crítica pelas contradições vistas na realidade social, busca a compreensão ampliada e contextual
das questões de violência e criminalidade, baseando-se nas hipóteses trazidas pelas temáticas da
democracia e direitos humanos, defende então, a importância de um novo conceito teórico sobre
segurança pública. Frisa ainda, o quão necessário é refletir de forma independente esse tema e com o
intuito de defender o direito humano à vida, diferentemente do que se propõe as discussões circunscritas
na manutenção da segurança pública, que tem como premissa, apenas, garantir a ordem pública.
Carbonari e Lima (2016) ressaltam que a segurança pública não é de responsabilidade apenas da
justiça e da polícia, mas de diversos outros atores que precisam atuar de maneira integrada e articulada,
para que o crime e violência nem sequer ocorram. Consolidando a ideiade que a violência não é resolvida
pela repressão e sim por ações que busquem a prevenção dos delitos.
Pode-se perceber que a segurança possui amplas definições e múltiplos enfoques que podem ser
discutidos. Para este artigo, o foco foi dado em segurança como uma percepção individual que será
afetada pelo ambiente onde vive o cidadão, principalmente no contexto urbano, trazendo o que seria a
segurança urbana. Deste modo, a cidade e a qualidade do ambiente urbano, possuem forte influência
nesta percepção. Essa, por sua vez, influencia as interações dos indivíduos com os espaços públicos.
Figueiredo (2018) aborda que um dos principais fatores de isolamento das pessoas é a
insegurança, no qual preferem refugiar-se em locais privados, e por tanto, controlados. A segurança
urbana, por abranger múltiplos aspectos, não é estabelecida em um único conceito forjado, é sim uma
categoria de análise que pode sofrer influência de diferentes campos de estudo.
Carvalho (2015) defende que a segurança urbana remete a ausência de perigo ou dano, em um

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ambiente livre de qualquer inquietação ou perturbação, onde o indivíduo sente confiança no local em
que se encontra, obtendo uma sensação de bem-estar. A sensação de segurança urbana, segundo a autora
é definida através da triangulação entre o espaço físico, o comportamento humano no local e a
oportunidade da prática criminal.
Quando se trata das condições do espaço físico, Figueiredo (2018) ressalta que lugares bem
cuidados e agradáveis emitem uma maior sensação de segurança, desse mesmo modo, locais mal
cuidados ou degradados provocam uma sensação de ansiedade e medo. Rogers (apud GEHL, 2015, p.
XI) diz que “Bairros bem planejados inspiram os moradores, ao passo que comunidades mal planejadas
brutalizam seus cidadãos.” Daí a importância de prover espaços públicos bons e convidativos que possam
levar a participação dos habitantes na vida citadina.
O comportamento humano quando realizado de forma harmoniosa no âmbito da cidade contribui
para aumentar a noção de segurança, isso porque os seres humanos são sociais, então a presença de
outros, ainda que de forma indireta, transmite um sentimento maior de segurança. Gehl (2015) aborda o
fato de que pessoas nas ruas realizando suas atividades rotineiras perpassam a sensação de cidade viva e
portanto segura, o autor destaca ainda que os indivíduos moldam a cidade, depois elas os moldam, sendo
assim quanto mais humano for o ambiente urbano produzido, mais valorizada estará a dimensão humana.
Figueiredo (2018) retrata que as características do ambiente urbano podem gerar inibição ou
oportunidade para a ocorrência de crimes. Do mesmo modo, o planejamento urbano tem o potencial de
ser utilizado para minimizar ou inibir a ocorrência dos delitos. Gehl (2015) relata que é uma prática
comum entre os urbanistas misturar outros usos e habilitações como estratégia de prevenção à
criminalidade e assim aumentar a segurança ao longo dasruas, frisando que qualquer apelo para que
as pessoas caminhem ou permaneçam no espaço urbano, contribui para aumentar a sensação de
segurança.
Carbonari e Lima (2016) ressaltam que espaços segregados, somados à carência de recursos e
serviços como educação, cultura e lazer proporcionam o aumento dos indicadores de violência e
consequentemente da insegurança. Além de ocasionar o crescimento dospoderes paralelos que acabam
levando a ilegalidade. As pessoas ao se apropriarem dosespaços públicos influem, sobretudo, no direito
à segurança, garantindo a promoção da equidade e tendo assegurado os direitos coletivos como o cuidado
à vida, oportunidades iguais e na efetivação de políticas públicas que consolidem esses benefícios
(AMANAJÁS e KLUG, 2018).
Assim, é possível entender a complexidade da formação do sentimento de segurançade um
indivíduo, ainda mais quando este está exposto a um ambiente externo, nesse caso a cidade. Como já
abordado anteriormente, segurança é uma percepção individual, e, por tanto, o contexto irá impactar de
forma diferente cada pessoa. Entretanto, alguns pontos são fundamentais para que se tenha o sentimento
de segurança ou insegurança. A triangulação dosfatores como apontado por Carvalho (2015) nos traz a

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ideia de três pilares fundamentais que guiam a percepção, porém esses mesmos pilares também são
influenciados por outros fatores, que o ajudam a compor ou não um ambiente urbano seguro.
Gehl (2015), Carbonari e Lima (2016) e Amanajás e Klug (2018) irão apontar outros fatores que
contribuem para que haja uma percepção de cidade segura. Desta forma, é possível inferir que a
segurança urbana se relaciona diretamente com o convite às pessoas à participação da vida citadina.
Uma cidade viva é aquela que possui bons equipamentos e infraestrutura, onde há espaço públicos
de qualidade para circulação e lazer, nos quais as pessoas possam estabelecer uma interação social; onde
o tráfego seja planejado e democrático, prevenindo acidentes e priorizando os pedestres; que tenha
policiamento qualificado, a fim de manter a ordempública; e que tenha sustentabilidade social, para que
os mais diversos grupos sociais tenhamo direito de fazer parte desse cenário e sejam capazes de reduzir
as desigualdades sociais. As discussões dispostas, levam a construção da figura 1, apresentada a seguir,
na qual sãoordenados os três pilares básicos que influenciam a sensação de segurança urbana. Ressalta-
seque, tais fatores, possuem confluência entre si e estão intimamente coligados.

Figura 1 - Três pilares básicos que influenciam a sensação de segurança urbana

Fonte: Elaboração própria (2020).

O uso da cidade gera movimento no espaço urbano e reforça a sensação de segurança, pois a
segurança é uma condição essencial para que as pessoas possam percorrer o espaço da cidade,
desenvolvendo cidades funcionais e convidativas (GEHL, 2015). Isso pode ser estimulado através de
condições propícias a permanência no espaço público como as que serão descritas a seguir.
Espaços públicos, bons e convidativos, para que a população se sinta estimulada a participar da
vida citadina podem ser agregados com ruas pavimentadas, parques públicos, locais para encontros,
revitalização de prédios e ruas. Todos esses fatores influenciam a qualidade do espaço urbano e, por sua
vez, influenciam na vida urbana de seus habitantes.
Gehl (2015) ressalta a importância da vida ao longo das ruas, áreas urbanas que estimulam uma
diversidade de funções, proporcionam múltiplos usos dos seus espaços. As pessoas em suas rotinas
diárias passam a utilizar as áreas livres para lazer, entretenimento, prática de atividades e uma série de

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outras funções que não seja somente o deslocamento urbano. Com isso a cidade viva, torna-se também
uma cidade valorizada pelas pessoas, e, portanto, cuidada, reforçando a sensação de segurança no local.
A Infraestrutura é o conjunto de serviços básicos indispensáveis para o bom funcionamento de
uma cidade, como rede de água, telefone, internet, energia, saneamento, entre outros. Magalhães e
Carvalho (2018) abordam que as infraestruturas fazem parte dos elementos que sustentam a cidade,
portanto, devem ser tratadas como direitos fundamentais, visto que são vitais para a sobrevivência
da raça humana. Visão também reforçada por Graham (2016) ao observar que a população urbana é
cada vez mais sustentada por vastos e complexos sistemas estruturais e tecnológicos. Sua importância é
tamanha que quando há conflitos internacionais ou guerras, as infraestruturas urbanas se tornam alvos
principais, justamente por ser o pré-requisito para existência da civilização moderna. “Esses sistemas
podem ser facilmente atacados e transformados em agentes de terror instantâneo, de caos debilitante ou
até de desmodernização.” (GRAHAM, 2016, p.346).
Equipamentos urbanos são bens de utilidade pública, destinados à prestação de serviços
necessários ao funcionamento da cidade. Implantados mediante autorização do poder público, podem ser
de iniciativa pública e/ou privada. Escolas, postos policiais, hospitais, creches, transporte coletivo, entre
outros são alguns dos elementos que retratam a vida citadina tornando-a convidativa ao lazer em cidades
mais belas e funcionais, logo, propiciando qualidade de vida (MANFIO, 2015).
Tráfego planejado requer ações que estabeleçam um trânsito democrático e seguro, priorizando a
segurança dos pedestres através da utilização de placas, sinalização e vias organizadas, estimulando
diferentes tipos de transportes como bicicletas, metrô e coletivos. Gehl (2015) defende que toda a
movimentação urbana deve ser baseada na premissa dos pedestres, inclusive nas soluções para o tráfego
de automóveis. Sendo a capacidade de livre trânsito dos indivíduos um fator fundamental para que a
cidade seja funcional e propicia às pessoas.
Outro aspecto importante neste contexto, a qualificação policial, prerrogativa fundamental para
que este profissional possa desenvolver suas atividades com segurança. Para tanto, são necessários
treinamento e capacitação além de boas condições para o serviço com a oferta de equipamentos de
qualidade, a fim de torná-lo apto a assumir sua função de preservação da ordem pública, proteção às
pessoas, controle da violência, realização deinvestigações e repressão ao crime. No tocante a formação,
Poncioni (2014) reforça que o trabalho policial para além do cumprimento da lei requer controlar
inúmeras e diversasocorrências com as quais se deparam no seu cotidiano. Vale ressaltar que as políticas
e métodos que envolvem essa formação não são suficientes para retratar as múltiplas situações que o
policial é exposto no desenvolvimento das suas atividades laborais, ficando a seu cargo manter o
equilíbrio para elaborar normas e estratégias que serão aplicadas em uma situação de tensão.
Ainda neste contexto atividades sociais e de lazer através de ações promovidas por entidades
públicas e/ou privadas para estimular movimentos socioculturais e proporcionar entretenimento à

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população, podem ser realizadas em praças, academias ao ar livre, quadras, campos de futebol e teatro
possibilitando a humanização das cidades, dado que seus múltiplos movimentos incentivam a união de
diferentes comunidades, a diminuição da violência, o ambiente preservado, a mobilidade nas cidades
entre outros (AMANAJÁS e KLUG, 2018).
Salientamos que a sustentabilidade social tem como objetivo a melhora da qualidadede vida
das pessoas, visando reduzir a desigualdade social e integrando diferentes grupos sociais, para garantir
as mesmas oportunidades de ocupação dos espaços de maneira democrática e acessível, bem como,
promover a atuação dos diferentes grupos nos atosdecisórios para a construção de uma sociedade justa,
buscando abrandar a diferença social, que se estabelece, entre a riqueza e a pobreza (SAVI e
HESPANHOL, 2017).
Amanajás e Klug (2018) defendem que é necessário que o espaço urbano propicie a formação de
estruturas socioculturais que visem a inclusão social e o respeito à diversidade. As práticas culturais estão
intimamente ligadas a formação da identidade pessoal e o senso de pertencimento dos indivíduos ao local
em que vivem. Essas iniciativas socioculturais podem corroborar com o acesso à educação e ao
engajamento político, razões fundamentais para que a população tenha consciência de exercer as
transformações da sua comunidade, promovendo assim, a sustentabilidade social no contexto urbano.
Tendo em vista os fatores dispostos e a complexidade da segurança urbana, pode-se entender que
os pontos abordados são extremamente relevantes, mas não esgotam a discussão para a consolidação de
um conceito sobre segurança urbana. Busca-se nessa etapa da pesquisa, levantar dados e conceituações
em diferentes campos do conhecimento para circunscrever uma categoria de análise, buscando a
maturação de um conceito. Sabendo que, com a evolução dos estudos e a constante mutação dos
padrões de vida, outros fatorespoderão vir a compor segurança urbana e serão então agregados a este
conceito.

3 METODOLOGIA
O presente estudo deriva do projeto QualiSalvador, que tem por objetivo geral produzir e difundir
conhecimento sobre a realidade urbano -ambiental da cidade do Salvador, na escala intraurbana, por
bacia hidrográfica e por bairro, tendo como referência o Índice de Qualidade Urbano-Ambiental de
Salvador - IQUALISalvador. A consecução desse objetivo se dá no contexto de uma rede que envolve
instituições de pesquisa, entes governamentais e organizações da sociedade civil na perspectiva de
incorporar visões e demandas diferenciadas sobre a problemática urbano-ambiental, como também
viabilizar a troca e disseminação de conhecimento, além de fundamentar a ação dos distintos entes que
lidam e intervém. Fazem parte desta pesquisa diversos grupos de distintos campos. Neste trabalho
apresenta-se um recorte da pesquisa de um subgrupo denominado QUALISeg, que tem como objetivo
refletir sobre segurança, segurança urbana, e a sua contribuição no indicador referente ao

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IQUALISalvador, uma vez que esse grupo discute o conceito de Qualidade Urbano- Ambiental de
Salvador, que é caracterizado pelo conjunto de propriedades, naturais e sociais, fruto da interação ou
relações entre homem e natureza no espaço urbano, com repercussão (positiva ou negativa) nas condições
de vida. Essa qualidade se expressa de forma objetiva (sendo relativa às condições de elementos da
natureza como também à estrutura socioeconômica, a infraestrutura e serviços urbanos), e subjetiva
(referente à ação cidadã e à percepção sobre a qualidade do ambiente) – compondo um quadro amplo do
que pode ser definido como qualidade do ambiente urbano podendo inspirar ou não, segurança e bem
estar (QUALISALVADOR, 2020).
Inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica, o que, segundo Gil (2010), consiste na consulta
de conteúdos já publicados para fundamentar com subsídios de teóricos o trabalho a ser desenvolvido.
Para este artigo buscou-se publicações dispostas em indexadores como Scielo, Catálogos de Teses e
Dissertações Capes, Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõesda USP, além de materiais impressos,
tais como, livros e artigos. Essa pesquisa teve por objetivo entender como a segurança urbana é discutida
nas publicações brasileiras, nos mais diversos campos de pesquisa, indo desde a segurança pública até
os debates sobre arquiteturae urbanismo. Buscou-se trazer novas reflexão sobre a categoria de análise.
Foi utilizado também o levantamento de dados primários, através do banco de dadosdo projeto
QUALISalvador, coletados mediante pesquisa de campo o que, de acordo com Minayo (2007),
representa uma conexão entre pesquisador e o objeto de estudo permitindo a construção de novos saberes
de grande relevância para a pesquisa social. Buscando identificar no conjunto dos 163 bairros da cidade
do Salvador, um bairro que possuísse boa percepção desegurança pelos seus moradores, em contraponto
a outro bairro que estivesse com uma baixa percepção de segurança, para a partir daí, confrontar a
estrutura e o contexto no qual estão inseridos os moradores.
A cidade de Salvador é, para fins de análise, dividida em três eixos, que se iniciam no Porto da
Barra e que representam os grandes vetores de crescimento. São eles: subúrbio ferroviário, miolo e orla
oceânica. O vetor orla oceânica, conhecido como vetor orla concentra os mais valorizados
empreendimentos imobiliários para fins comerciais e residenciais. O vetor meio, conhecido como
miolo de Salvador, e o vetor Subúrbio Ferroviário concentram a maior parte da população carente de
Salvador (HITA, 2017).
Considerando essa estruturação foram escolhidos os dois bairros. O primeiro, Saúde, localizado
no início do vetor Orla, mais especificamente no Centro Histórico, e o segundo, Jardim Santo Inácio,
localizado no vetor miolo. A escolha se deu a partir dos seguintes critérios: a) ter finalizado levantamento
de dados com percentual de respondentescorrespondendo ao definido no protocolo da pesquisa; e b) ter,
na divisão de eixos, o maior e/ou menor indicador de percepção de segurança.
Após extração dos dados, foram selecionados os bairros apontados. O primeiro no vetor orla –
Saúde - com 98% dos questionários aplicados para a amostra definida e com melhor percepção de

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segurança para o vetor. O segundo no vetor miolo – Jardim Santo Inácio


- com 100% dos questionários aplicados para a amostra definida e com pior percepção de
segurança, no respectivo vetor e no total de resultados até o presente estágio da pesquisa paraa cidade
de Salvador. Esse resultado se alinha com o que diz Hita (2017) ao caracterizar os respectivos vetores.
Os dados desses bairros foram coletados no ano de 2019. Os domicílios de aplicação do
questionário foram escolhidos segundo amostra aleatória estratificada com reposição,definida através da
utilização de método estatístico e com georreferenciamento.
Os dados levantados foram extraídos e tabulados no Excel para produção do quadro e dos gráficos
apresentados nesse artigo, na busca por estabelecer correlações entre as variáveis estudadas para
descrever a percepção da população de cada bairro em relação aos fatores que as influenciam na
percepção de segurança pública e na percepção de segurança urbana.
Esta pesquisa, possui então o caráter descritivo, o qual “têm como objetivo primordial a descrição
das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre
variáveis” (GIL, 2008, p. 28). Busca então descrever o fenômeno em cada bairros estudados, numa
tentativa de encontrar elementos que melhor expliquem os conceitos em análise e ajude na reflexão sobre
a segurança urbana e sobre a qualidade do ambiente urbano.

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS


Nas análises dos resultados apresenta-se os resultados da pesquisa circunscritos aos dois bairros,
inicia-se com a breve caracterização dos mesmos e finaliza-se trazendo reflexões sobre segurança pública
e segurança urbana nos bairros estudados.

BREVE CARACTERIZAÇÃO DOS BAIRROS


O bairro da Saúde, localizado no início do vetor orla da cidade do Salvador, aparecena Figura
2, apresentada a seguir, na coloração em laranja, contando com uma área total de 0,28 km² e cerca de 6,2
mil habitantes. A Saúde inicia sua história no século XVII a partir da construção e inauguração da Igreja
Nossa Senhora da Saúde e Glória, datada de 1724 marco zero do bairro e ponto de partida para que
fossem erguidas as primeiras casas daquele local, onde mais tarde receberiam moradores ilustres e
intelectuais da época, realidade que começoua mudar a partir da década de 70. Os moradores desse bairro
desfrutam de um ambiente agradável que conta com bares, restaurantes, igrejas, espaço cultural
oferecendo uma vida aprazível tanto para os seus moradores, quanto para os seus muitos visitantes, já
que é um bairro com potencial turístico e está localizado no Centro histórico. Em sua estrutura, o bairro
conta com áreas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC) (SANTOS,
et al, 2010).
As famílias pesquisadas são chefiadas em sua maioria por mulheres (66,33%). No tocante à

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raça/etnia há a predominância de pretos (33%) e pardos (32%). Os que se auto declararam brancos
representam apenas 14%. No quesito escolaridade encontra-se 24,68% com escolaridade até o
Fundamental II, 53,06% até o ensino médio e 21,42% com ensino superior.
No vetor miolo está localizado o bairro do Jardim Santo Inácio, que aparece na Figura 2,
apresentada a seguir, na coloração em azul e que conta com área de 0,37 km² e cerca de 9 mil moradores.
Situado na parte oeste da cidade de Salvador, o bairro faz divisa com os bairros de Mata Escura e
Calabetão e está ladeado pelo rio Azaca, afluente do rio Camurujipe.O menor em extensão territorial,
entre os três citados, abriga 8.670 habitantes. O bairro foi criado a partir do financiamento da Caixa
Econômica Federal (CEF), com o propósito de construir um conjunto habitacional para atender a
crescente demanda por moradia, na década de 1980. Para além da construção do conjunto habitacional,
a CEF foi responsável pela construção de casas e alamedas, viabilizando uma melhor mobilidade dos
moradores deste bairro com as comunidades vizinhas. (SANTOS, et al, 2010)
As famílias pesquisadas são chefiadas em sua maioria por mulheres (62,04%). No tocante à
raça/etnia a predominância entre pardos (35%) e pretos (35%). Os que se autodeclararam brancos
representam 6%. No quesito escolaridade encontra-se 44,42% com escolaridade até o Fundamental II,
48,14% até o ensino médio e 7,40% com ensino superior.A localização dos bairros está apresentada no
mapa da Figura 2, a seguir.

Figura 2 -Localização dos bairros da Saúde e Jardim Santo Inácio na cidade do Salvador

Fonte: Elaboração própria (2020).

Os dois bairros apresentam similaridades em relação ao tamanho, etnia e característicade famílias,


que são chefiadas por mulheres, mas apresentam diferenças significativas em relação à população. O
bairro da saúde tem uma população que representa 72% da população do Jardim Santo Inácio, o que pode
significar um adensamento populacional. Também se diferenciam no nível de escolaridade, pois no
Jardim Santo Inácio 92,56% da população possui escolaridade máxima no ensino médio, enquanto na
Saúde esse número cai para77,74%.

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Figura 3 - Caracterização da população da Saúde e Santo Inácio

Fonte: Elaboração própria (2020).

Essa breve caracterização contribui para a reflexão sobre segurança pública e segurança urbana
nos bairros estudados, servindo de base para o entendimento das análises expostas no tópico a seguir.

REFLEXÕES SOBRE SEGURANÇA PÚBLICA E SEGURANÇA URBANA NOS BAIRROS DA


SAÚDE E JARDIMSANTO INÁCIO
Nessa fase de análise de dados, o aspecto a ser apresentado diz respeito ao que motiva a
construção deste artigo – a percepção de segurança nos bairros estudados. Ao tabular e analisar esses
dados verificou-se que 53% da população do bairro da Saúde sentem-se segurosa qualquer dia e horário
e 17% sente-se mais ou menos seguros, apenas durante o dia. Assim, 70% da população apresenta algum
tipo de percepção – forte ou moderada – de segurança.Em relação ao bairro Jardim Santo Inácio os
resultados apontam que 24% da população sente-se seguros a qualquer dia e horário, 18% sente-se mais
ou menos seguros, apenas durante odia e 56% não se sente seguros. Assim 42% da população apresenta
algum tipo de percepção
– forte ou moderada – de segurança, entretanto esse resultado dista-se 14% da percepção de não
segurança, conforme gráfico 1.

Gráfico 1 - Você se sente seguro no seu bairro? (Percepção de segurança)

Fonte: Elaboração própria (2020).

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No segundo aspecto analisado “em sua opinião qual o principal problema de segurança no seu
bairro?”, os moradores da Saúde elencaram as seguintes categorias: roubo a transeunte aparece em
primeiro lugar com 56%, seguido por não tem problema de segurança com 18% e roubo a residência
com 18%. No bairro Santo Inácio a primeira alternativa que aparece também é roubo a transeunte com
37%, seguido pela alternativa “outros” que aparece com 26%, em terceiro lugar aparece homicídio doloso
com 23%.
Na saúde a opção de roubo a veículo aparece com 4%, em seguida as opções de roubo a casa
comercial, homicídio doloso, outros e não sei responder que pontuam 3% cada. Apenas1% aponta rouba
a ônibus. No Jardim Santo Inácio não tem problema de segurança aparece como 7% das respostas, a
opção sem informação conta com 4%, acompanhado pelas opções de roubo seguido de morte, roubo a
ônibus e não sei responder que pontuam 1% cada.
A análise permitiu identificar, que quando se trata de crimes contra o patrimônio (roubos) o
bairro da Saúde aponta o percentual de 72% das respostas, enquanto o JardimSanto Inácio aponta
38% referente a essas alternativas. Entretanto, quando consideramos os crimes contra a vida (homicídios)
a saúde aponta apenas 3% enquanto o Jardim Santo Inácio apresenta 24% dos resultados.
Pode-se inferir, então, que a prática criminal apresenta comportamentos diferentes nos bairros
estudados, quando se leva em consideração o número de ocorrências em cada um deles.

Gráfico 2- Na sua opinião qual o principal problema de segurança no seu bairro?

Fonte: Elaboração própria (2020).

Questionados sobre o que poderia trazer segurança para seu bairro, policiamento foi citado por
50% dos moradores da Saúde, investimentos sócio educacionais por 11%, qualificação policial para 10%.
A categoria combate ao tráfico de drogas foi apresentada por 9% dos moradores, enquanto outros 3%
citaram trabalho/emprego.
Dos residentes no Jardim Santo Inácio 60% entendem policiamento como fator mais relevante
para o alcance da segurança no bairro, seguidos por investimentos sócio educacionais com 10%,

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investimentos em infraestrutura no bairro com 9%, combate ao tráfico de drogas com 7%. Além de
todos os pontos mencionados anteriormente os moradores do bairro apresentam trabalho/emprego como
o último ponto de relevância para o alcance da segurança com 6%.

Gráfico 3- O que poderia trazer segurança no seu bairro?

Fonte: Elaboração própria (2020).

O segundo aspecto a ser destacado é o que aponta Hita (2017), o bairro da Saúde está no vetor
Orla, especificamente no Centro Histórico, considerado como o que concentra os mais valorizados
empreendimentos imobiliários, sendo um bairro turístico e o Jardim Santo Inácio no vetor Miolo de
Salvador, que concentra uma população carente, revelando o que GRAHAM (2016) aponta que o medo
das diferentes violências, na ordem social dominante, levam a construção de enclaves fortificados para
residências, trabalho, lazer e consumo, retroalimentando a segregação espacial e a discriminação social.
A segregação espacial e a discriminação social de uma cidade desencadeiam processos de mudanças
sociais que viabilizam a violência e o medo no contexto urbano. As comunidades e bairros mais
vulnerabilizados sofrem com a ausência do Estado e a imposição da criminalidade.
Assim, é preciso identificar outros fatores que possam contribuir para as diferentes percepções de
segurança, não só na dimensão – segurança pública – mas também trazendo para o debate da segurança
urbana. Nesse sentido, analisando o tripé – Criminalidade e violência, utilização do espaço pelas pessoas
e a qualidade desse espaço junto aos dados levantados pelo QUALISalvador, foi possível extrair
elementos sobre infraestrutura,equipamentos urbanos e sobre a qualidade do espaço urbano, conforme
Quadro 1 apresentado a seguir:

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Quadro 1 - Caracterização urbana dos bairros segundo respostas dos moradores

Fonte: Elaboração própria (2020).

Assim, é possível observar em como estão estruturados os dois bairros estudados de acordo com
as respostas obtidas pelos moradores. Com relação a infraestrutura, os doisbairros a caracterizaram como
boa, somente distanciaram na coleta de lixo, onde o bairro da Saúde possui todos os dias, enquanto no
Jardim Santo Inácio não há essa coleta diária. Quando tratado os equipamentos urbanos, ambos bairros
possuem a maior parte dos componentes perguntados. Porém, quando questionados se os moradores
deixavam de utilizar as praças por motivos de segurança, os residentes da Saúde disseram que não
deixavam de utilizar por esse motivo, em contrapartida os do Jardim Santo Inácio não utilizavam as
praças por se sentirem inseguros. Esses dados indicam que novas análises, referente os aspectos de
urbanização, poderiam trazer melhores contribuições para avaliação dos referidos bairros.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Compreender segurança urbana como um direito do indivíduo é o ponto de partidapara a
construção do ambiente urbano humanizado. A relação entre o estilo de vida do indivíduo e o ambiente
externo possuem interligações tão fortes que em determinados pontos é praticamente impossível
dissociá-los, o que reforça a necessidade de espaços urbanos com qualidade e propícios ao bom convívio
entre os habitantes, que proporcionem o acesso a toda sua população e possibilite a equidade entre os

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mesmos.
É necessário pensar em segurança nos mais diversos aspectos da vida, para além somente da ação
policial, que quando ocorre no final do processo é de forma repreensiva. A segurança urbana procura
justamente dar todo amparo para que não ocorra a prática criminal, e que passe então, a se utilizar o
caráter preventivo na população, contribuindo para que ela desfrute e reconheça a qualidade do ambiente
urbano.
Esse estudo teve como objetivo identificar os principais fatores que impactam apercepção de
segurança urbana nos bairros estudados, levantado o debate sobre segurança pública e agregando os
conhecimentos provenientes da segurança urbana. Foi necessário entender o contexto no qual a
população da Saúde e do Jardim Santo Inácio estão inseridos, através da caracterização dos mesmos e da
localização em que estão, referente aos vetores da orla para o bairro da saúde e o vetor miolo para o
bairro Jardim Santo Inácio. Assim, foi possível compreender as respostas obtidas através da pesquisa de
campo, na qual, a população da Saúde apresentou 70% de alguma percepção de segurança – forte ou
moderada -, enquanto a população do bairro Jardim Santo Inácio apresentou apenas 42% da mesma.
A percepção da prática criminal apresentou diferentes comportamentos nos bairros estudados,
quando se levou em consideração o número de ocorrência nas respostas. Enquanto o percentual de crimes
contra o patrimônio na Saúde foi de 72%, maior que do Jardim Santo Inácio com 38%; quando se tratou
de crimes contra a vida o Jardim Santo Inácio apresentou um percentual de 24%, muito superior aos
3% detectados para essa mesma categoria naSaúde. Porém, apesar de apresentarem comportamentos
diferentes com relação a percepção desegurança e a criminalidade, os moradores de ambos os bairros
possuem visões convergentes ao tratar dos itens que poderiam levar maior segurança, ficando em
primeiro lugar, na visão dos moradores, o policiamento ostensivo, seguido por investimentos
socioeducacionais, combate a drogas entre outros.
É importante também destacar as condições de caracterização urbana dos bairros, que já traz a
variável segurança pública interferindo no uso do espaço urbano, o que reforça o posicionamento de Gehl
(2015) quando ressalta que a qualidade da infraestrutura urbana permite a “vida” ao longo das ruas, com
áreas urbanas que estimulam uma diversidade de funções e proporcionam múltiplos usos dos seus
espaços.
É preciso que a organização e gestão das cidades viabilizem a utilização das áreas livres para
lazer, entretenimento, prática de atividades e uma série de outras funções que não seja somente o
deslocamento urbano, como também adverte Gehl (2015). A cidade viva, torna-se também uma cidade
valorizada pelas pessoas, e, portanto, cuidada, reforçando a sensação de segurança no local.
Assim, é preciso ampliar as investigações sobre segurança urbana - incluindo no seu cerne a
questão de segurança pública - dado potencial dessa categoria de análise ampliar a percepção de
segurança no contexto urbano. Uma cidade segura não é a que oferece melhor policiamento ostensivo,

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ainda que essa seja a percepção da população. É, sim, aquela que viabiliza, a partir dos seus elementos
estruturantes, a melhor percepção de segurança e consequentemente de qualidade urbana e ambiental.

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