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SINOPSE

Capítulo 1

CARLY

— Então você não sabe exatamente no que está se metendo? —


minha amiga Christina perguntou.

Um cervo vagava por entre as árvores ao longe. Você


definitivamente não estava mais em LA, Carly. Ocorreu-me pela
primeira vez que poderia haver ursos aqui. New Hampshire era
rural. Estremeci.

— Só encontrei Scottie algumas vezes — eu disse, mudando o


telefone para o meu outro ouvido. — Ele parecia muito doce. Tenho
certeza de que cuidar dele será um desafio, no entanto. Eu não vou
saber o que diabos estou fazendo. Nunca cuidei de ninguém na
minha vida, muito menos de um homem adulto.

Meu noivo, Brad, teria sido o único a cuidar de seu irmão mais
novo se pudesse. Mas como ele não estava mais aqui, senti que era
minha responsabilidade. Scottie tinha vinte e três anos e autismo
severo. Ele era não-verbal e, em muitos aspectos, infantil. O pai de
Brad, Wayne, foi o único cuidador de Scottie até ele falecer após
um ataque cardíaco no mês passado. E meu amado Brad havia
morrido há dois anos em um acidente de carro. Nas últimas
semanas, Scottie estava sob os cuidados temporários da irmã de
Wayne, Lorraine, que havia deixado claro que não queria cuidar de
Scottie por muito tempo.
Christina suspirou. — Você tem certeza disso? É uma
responsabilidade enorme.

— É o que Brad iria querer. Ele não aprovaria de forma alguma


que sua tia louca Lorraine cuidasse de Scottie. Seu pai era o
guardião de Scottie. Como Lorraine é a parente mais próxima de
Wayne, todos presumiram que ela assumiria a responsabilidade.
Mas ela não é a pessoa certa e não está interessada. Wayne
provavelmente não estava muito preocupado – ele não tinha nem
sessenta anos. Portanto, não havia outro plano B além de Lorraine.
A primeira coisa que ela fez quando liguei para saber como
estavam as coisas foi perguntar se eu poderia vir ajudar. Ela está
planejando dormir em sua própria casa a partir desta noite, o que
significa que ficarei sozinha com o Scottie. De qualquer forma, eu
tenho que ir. Já estou estacionada na frente da casa há dois
minutos e preciso entrar.

— Ok, bem, se você precisar de alguma coisa, avise. Posso


encomendar coisas e enviá-las para você.

— Obrigada. Eu agradeço, Christina. Mas não fui para Marte,


só para New Hampshire. — Eu ri. — É apenas temporário, certo?
Até que eu consiga colocá-lo em um lar supervisionado. —
Olhando para a floresta adjacente, murmurei: — Falarei com você
em breve.

— Boa sorte, Carly.

Pela pesquisa limitada que fiz até agora, eu sabia que a lista de
espera para entrar em um lar supervisionado para adultos poderia
ser longa, então temporário poderia realmente significar anos, pelo
que sabia; embora eu certamente esperasse que fosse mais cedo
do que isso.

Saindo do meu carro, caminhei até a frente da pequena casa.


Respirei fundo enquanto me preparava para bater. A cabana de
madeira era modesta, para dizer o mínimo. Brad cresceu aqui em
Woodsboro, New Hampshire, uma cidade rural da Nova Inglaterra.
Estive aqui com ele algumas vezes para visitar seu pai e irmão,
mas nunca imaginei que estaria morando aqui.

Depois que bati, Lorraine abriu a porta quase imediatamente e


soltou um suspiro exasperado. — Oh! Graças a Deus! — Ela se
afastou para eu entrar. — Por acaso você tem um desses hot spots?

Nenhum, olá? Nada de: como vai você?

— Bom ver você também, Lorraine. — Coloquei minha mala em


um canto e deixei cair minha bolsa, que fez um grande baque
quando caiu no chão.

Scottie estava andando e balançando seu tablet, apontando


para a tela.

Lorraine continuou reclamando.

— Ele está batendo nas paredes porque não temos Internet.

Ah, isso não era bom. Eu sabia que Scottie era totalmente
dependente de seus dispositivos. — O que há de errado com a
Internet?

— Eles acham que é alguma conexão externa. Eles não têm


certeza de quanto tempo levará para consertar.

Scottie continuou andando para frente e para trás, nervoso.


Com seus cabelos loiros e traços finos, ele me lembrava muito o
meu Brad – a semelhança me deixou sem fôlego. Era como ver
Brad novamente, mas na forma de uma criança adulta. Brad era
sete anos mais velho que Scottie. A mãe deles havia morrido de
câncer quando Brad tinha 18 anos e Scottie tinha 11 anos.
Portanto, a vida não tinha sido fácil para essa família por um longo
tempo. E o autismo profundo de Scottie significava que, embora
ele pudesse se comunicar simplesmente com a ajuda de aparelhos,
ele não conversava nem expressava seus sentimentos
verbalmente. Na maior parte do tempo, ele estava em seu próprio
mundo e precisava de atendimento exclusivo.

Levantei minha mão desajeitadamente para tentar chamar sua


atenção. — Ei, Scottie.

Ele praticamente empurrou um iPad na minha cara e apontou


para ele como se dissesse, não me importa quem você é, apenas
faça essa maldita coisa funcionar.

— Eu tenho um hot spot — falei. — Vou fazer funcionar para


você.

Peguei meu celular e me apressei em conectá-lo. No momento


em que fiz isso, a tela de Scottie ganhou vida e ele se conectou ao
site que estava louco para acessar. Ele rapidamente se acomodou
em um lugar no sofá.

Virei-me para Lorraine. — Não é preciso muito para agradá-lo,


hein?

Em vez de responder, ela pegou o casaco. — Você tem alguma


pergunta antes de eu sair, querida?
Ela já estava saindo? Pisquei. — Bem, você não me deu
nenhuma instrução. Achei que poderíamos nos sentar para que
você pudesse me dizer o que ele precisa, o que ele gosta de comer...
coisas assim.

— Marquei um horário no cabeleireiro achando que você estaria


aqui há meia hora, então preciso sair correndo agora — ela disse.
— Já estou atrasada e não quero perder minha hora. Mas não há
muito o que falar sobre o que dar de comer a ele. Wayne costumava
fazer um tipo de frango para ele. Era a receita da nossa mãe. É a
única coisa que o Scottie come, mas tem de ser feito de forma
muito específica. Escrevi as instruções para você ali no balcão e
deixei o suficiente para esta noite em um pote na geladeira. Fiz
aquelas costeletas há alguns dias. Mas você terá que fazer mais
para amanhã.

Eu suspirei. Para começar, eu não era a melhor cozinheira,


quanto mais fazer frango do zero para um comedor exigente.
Senhor, ajude-me. Isso ia ser um desastre. Eu estava contando com
a ideia de poder pedir comida para viagem, pelo menos nos
primeiros dias, até me organizar. Acho que isso não vai acontecer.
— Ele não come mais nada?

— Só come aquele frango no jantar. E sua sobremesa precisa


ser alinhada exatamente assim. — Ela levantou uma foto. — Eu
imprimi isso para que você pudesse ver como é feito e também
anotei neste adesivo.

Ela me entregou a imagem de um guardanapo com biscoitos e


outras guloseimas dispostas em um padrão linear.
— O que acontece se as coisas não estiverem alinhadas
corretamente?

— Ele fica chateado, joga tudo no chão.

— Ok. — Eu engoli em seco. — Bem... se o frango é o jantar


dele, o que ele come durante o dia?

— Ou mais do mesmo frango ou apenas biscoitos e pretzels.


Sua refeição principal é o jantar.

— Isso não parece muito saudável. — Eu fiz uma careta. — Sem


vegetais?

— Você poderia tentar, mas nunca tive sorte. Ele os cospe.

Suspirei, virando-me para onde Scottie estava sentado no sofá,


balançando para frente e para trás enquanto ele ouvia alguma
coisa no YouTube. Pelo menos ele estava satisfeito por enquanto.

— De qualquer forma, como eu disse, estou atrasada para meu


compromisso. É a primeira vez que tenho a chance de ir desde que
estou morando com Scottie. Tenho certeza de que você notou
minhas raízes. Você está bem?

Essa mulher não via a hora de escapar daqui.

— Acho que sim, mas posso ligar se tiver alguma dúvida?

— Claro, querida. Não hesite. Estarei sempre por perto. Moro a


apenas alguns quilômetros.

Eu soltei um suspiro. — Certo.

Antes que eu pudesse dizer outra coisa, Lorraine se foi. Parecia


que uma pedra havia sido colocada no meu peito.
Sentindo-me perdida, parei no meio da casa e olhei em volta
enquanto sons confusos soavam do tablet de Scottie. Ele devia ter
três coisas diferentes rodando em outros tantos aparelhos.

A decoração aqui era escura, desde os painéis nas paredes até


os móveis de couro marrom enrugados. Havia apenas dois quartos
na casa de um andar, em estilo cabana de madeira. Dei uma
olhada em um deles e imediatamente o reconheci como sendo o do
Scottie. Havia quadros de fotos pendurados e toneladas de
adesivos de personagens de desenhos animados que eu não
reconhecia espalhados pelas paredes, além de uma foto
emoldurada do Elton John. Estranho.

Sorri ao ver uma foto na escrivaninha de Scottie com seu irmão,


Brad. Meu Brad. Olhando para o teto, falei com meu falecido noivo.
— Eu sei que você faria o mesmo por mim. Eu amo você e prometo
mantê-lo seguro até encontrar um bom lar para ele.

Como se alguém lá em cima quisesse me desafiar nisso, olhei


pela porta para a sala de estar e vi Scottie parado em cima da
mesinha ao lado do sofá. A mesa era delicada e eu duvidava que
pudesse sustentar seu peso por muito tempo.

Corri para a sala. — Uau! Você pode querer descer daí, amigo!

Ele me ignorou. Como não falava, não pude lhe perguntar por
que havia decidido fazer aquilo.

Cerca de um minuto depois, ele finalmente pulou no chão, o


que fez a casa inteira tremer. Felizmente, ele parecia estar ileso. Se
tivesse quebrado o tornozelo ou algo do gênero, teria sido péssimo.
Limpei o suor da minha testa.
Depois que Scottie se acomodou novamente em seu lugar no
sofá, fui até a cozinha e abri a geladeira. Não havia muita coisa ali
dentro: o recipiente Tupperware que continha o frango e algumas
jarras grandes de suco de cranberry. Eu tinha que presumir que
essa era a bebida favorita do Scottie.

Eu ainda tinha muitas perguntas. Eu o levaria comigo ao


supermercado ou seria mais fácil mandar entregar as compras? A
que horas ele ia para a cama? Ele precisava de alguma coisa para
dormir à noite? Lorraine receberia uma tonelada de perguntas
minhas mais tarde, quer ela gostasse ou não.

De alguma forma, consegui passar o resto da tarde. Fiquei


sentada ao lado de Scottie enquanto ele assistia a seus vídeos ou
jogava em um aplicativo que apresentava um gato falante que
respondia a você. Quando Scottie grunhia e cantarolava na tela, o
gato fazia o mesmo. Tentei interagir com ele, mas Scottie franzia a
testa sempre que eu participava – ele não parecia apreciar meus
esforços. Tinha certeza de que, se ele pudesse falar, perguntaria
por que essa cadela idiota tinha invadido seu espaço de repente.

Quando finalmente chegou a hora de me sentar com ele para


jantar, tentei algumas coisas diferentes para incentivá-lo a sair do
sofá. Nada funcionou até que eu segurei um dos itens de
sobremesa: um biscoito Oreo. Ele pareceu entender a ideia e se
levantou para se sentar à mesa da cozinha.

Scottie imediatamente pegou um dos pedaços de frango e deu


uma mordida. A sobremesa estava alinhada exatamente como
Lorraine havia me instruído em seu bilhete.
Coloque um guardanapo quadrado no fundo. Na parte inferior,
coloque duas balas de gelatina. Na parte superior, coloque um palito
de queijo cheddar. Acima disso, coloque quatro Junior Mints. Em
seguida, na parte superior do guardanapo, coloque dois Oreos. Seus
favoritos são os com recheio duplo.

Felizmente, ela também me deixou uma lista de compras de


itens obrigatórios.

Enquanto Scottie continuava a mastigar o frango, a campainha


tocou.

A esperança floresceu em mim com a perspectiva do retorno de


Lorraine. Mas por que ela tocaria a campainha? Quando abri,
porém, meu coração disparou enquanto meu corpo se enchia de
pavor. De repente, esse dia difícil ficou muito pior.

O que ele estava fazendo aqui?


Capítulo 2

CARLY

Josh Mathers se elevou sobre mim, cheirando a couro,


especiarias e um toque de cigarro misturado com o ar frio do
outono lá fora.

— O que está acontecendo? — Eu pisquei. — Por que você está


aqui?

Ele passou por mim e entrou na sala, carregando uma mala


preta atrás de si. — Eu vim para cuidar dele.

— Desculpe?

— Eu vou ficar com Scottie — ele disse, sem fazer contato


visual. — Eu já estava planejando isso. Mas então ouvi dizer que
você estava aqui e apressou as coisas. — O idiota finalmente olhou
para mim com seus olhos castanhos penetrantes. — Você pode
voltar para La La Land.

Eu só encontrei o melhor amigo de Brad algumas vezes. E eu


meio que o desprezava, embora não o conhecesse muito bem. Mas
eu tinha um bom motivo para meu desdém. Josh era um fanfarrão
e tinha sido uma má influência para Brad na juventude. Ele era o
‘selvagem’ e estava sempre colocando os dois em apuros. Eu
também não gostava quando Brad ia visitar Josh em Chicago sem
mim. Não era que eu não confiasse em Brad. Só que eu nunca
sabia o que seu amigo poderia fazer quando os dois estivessem
bêbados. Josh Mathers não era flor que se cheirasse. A ideia de
confiar a ele o cuidado de Scottie, portanto, parecia ridícula.

— Para me substituir? Só cheguei aqui hoje — eu disse. — Mas


de qualquer forma, acho que é melhor para ele se eu ficar.

— Tenho certeza de que eles ensinaram muito a você na


faculdade de estética sobre como cuidar de homens adultos?

Colocando minhas mãos em meus quadris, bufei. — Estou


surpresa que você tenha se lembrado do que eu faço para viver.
Você certamente nunca fez um esforço para me conhecer quando
Brad estava vivo.

— Sério, Carly? — ele retrucou. — Você acha que vai ser capaz
de lidar com ele?

— Correu tudo bem até agora. — Dei de ombros.

— Você está aqui o quê, há algumas horas? Está tudo bem até
que ele tenha um acesso de raiva e você não consiga controlá-lo.
— Ele me deu uma olhada. — Ele é três vezes o seu tamanho.

Cruzando os braços, levantei minha cabeça. — A Lorraine não


disse que teve problemas para lidar com ele, e ela não é maior do
que eu.

— Ela não teria admitido nada para você se isso pudesse


desencorajá-la a vir. Ela é a guardiã dele no papel, mas está
tentando se livrar dessa responsabilidade desde o dia em que
Wayne morreu. Ela lhe disse que teve que pedir a ajuda do vizinho
na semana passada para levantar o Scottie do chão?

Eu balancei minha cabeça.


Ele assentiu. — Abe é amigo do meu pai e lhe disse que ele
ajudou. Lorraine deve ter esquecido de mencionar isso para você.

— Ela pediu para você vir aqui?

— Não. Como eu disse, venho planejando voltar para cá para


cuidar das coisas desde o funeral de Wayne. Eu só precisava
resolver algumas pendências primeiro.

— Bem, você não precisa ficar. Você obviamente tem um


emprego e uma vida em Chicago.

Seus olhos se estreitaram. — E você não tem uma vida?

— Resolvi fazer uma pausa. Minha carreira é um pouco mais


flexível. Trabalho como freelancer e só aceito trabalhos quando
quero.

Como maquiadora contratada, muitas vezes trabalhei em sets


de televisão e filmes na Califórnia. Foi em um desses sets que
conheci Brad, que havia sido roteirista de um seriado popular na
época.

— Bem, eu trabalho principalmente remotamente de qualquer


maneira — disse Josh. — Portanto, não é um problema eu estar
aqui. — Ele me encarou. — É o que Brad teria desejado.

Movendo meus ombros para trás, eu o desafiei. — Como você


sabe o que Brad teria desejado? Você discutiu esse cenário com
ele? Porque, da última vez que verifiquei, ninguém esperava que
Wayne caísse morto aos sessenta anos.

— Nós nunca discutimos isso especificamente, mas quero


dizer, vamos lá. Você só conhecia Brad há quanto tempo... dois
anos? E talvez tenha encontrado Scottie algumas vezes? Scottie
cresceu comigo por perto. Sou praticamente o irmão dele.

— Isso não é uma competição, mas já que você parece estar


fazendo disso uma, não acha que se Brad ia se casar comigo, ele
também teria me confiado o irmão dele?

Josh o encarou. — Na verdade, não. Ele provavelmente sabia


que podia contar comigo e não precisava especificar nada se algo
acontecesse. Ele sabia que eu interviria.

Eu levantei minhas mãos no ar. — Bem, acabei de desenraizar


toda a minha vida para me mudar para cá. Dirigi por todo o país.
Eu não estou indo a lugar nenhum.

Josh olhou para minhas unhas. — Como exatamente você


planeja limpar a bunda de Scottie com essas unhas, a propósito?

Olhei para minhas unhas de estilete cor de lavanda. Com toda


a honestidade, nunca pensei em ter que ajudar Scottie no
banheiro. Suponho que deveria ter me ocorrido. Mas eu ainda
tinha que aprender tudo sobre o que essa responsabilidade
implicava. Lorraine havia se esquecido de mencionar que Scottie
não era capaz de cuidar de si mesmo nessa área.

Apesar de surtar por dentro, continuei a manter minha cabeça


erguida. — Eu vou descobrir isso. — Fingiria até conseguir.

— Você provavelmente não estava pensando nisso quando


pediu para colar esses pequenos strass em suas unhas — ele
repreendeu. Antes que eu pudesse responder, Josh olhou em volta.
— Onde está Scottie afinal?
Eu apontei atrás de mim. — Ele está jantando na mesa da
cozinha.

Ele olhou por cima dos meus ombros e ergueu uma


sobrancelha. — Tem certeza disso?

Virei-me para descobrir que Scottie havia desocupado seu


lugar. Claro! Eu deveria estar de olho nele, não é? Eu não tinha
contado com a distração indesejada de Josh Mathers, o idiota
extraordinário.

Corri até a mesa.

Metade do frango de Scottie não havia sido comido e toda a


sobremesa havia acabado. Mas a pior parte foi que ele tentou se
servir de um pouco de suco de cranberry, porque eu
aparentemente esqueci de servir. Agora havia suco por todo o chão
e a porta da geladeira estava escancarada. Primeira grande lição
aprendida: não podia tirar os olhos de Scottie nem por alguns
minutos.

— Merda — eu murmurei.

— Você sabe o quê? Você tem razão. — Josh sorriu


presunçosamente. — Parece que tem tudo sob controle.

Revirei os olhos. Este homem estava aqui em questão de


minutos, e ele conseguiu me penetrar tanto que parecia que estava
rastejando.

Ouvi um zumbido vindo do quarto de Wayne, que ficava ao lado


da cozinha. Josh me seguiu até lá e encontramos Scottie deitado
calmamente na cama, assistindo a algo em seu iPad como se não
tivesse acabado de destruir a cozinha.
— Vamos lá, Scottie — eu disse, estendendo a mão. — Você
precisa lavar as mãos. Tenho certeza de que estão sujas.

Ele não se mexeu.

Josh passou por mim e se arrastou para a cama. — Vamos,


cara — disse ele com firmeza. — Hora de lavar as mãos.

Quando Scottie deu uma olhada em Josh, ele começou a rir e


quicou no colchão. Ele estava radiante, na verdade. Eu não pude
deixar de sorrir, mesmo que isso significasse que Josh claramente
tinha uma vantagem sobre mim: Scottie imediatamente gostou
dele.

O rosto de Josh se iluminou. — Você sentiu minha falta, hein?

Scottie passou o braço em volta do pescoço de Josh, colocando-


o em um estrangulamento antes de cheirar o cabelo lustroso do
homem.

— Ok, amigo — disse Josh. — Você conseguiu me cheirar bem.


É o bastante.

— Ele sempre cheira você assim?

— Ele gosta do meu cabelo. Sempre gostou.

Eu tinha que admitir, era um belo cabelo – para um idiota.


Brilhante, grosso e castanho. Tinha crescido um pouco mais do
que eu lembrava desde a última vez que vi Josh – no enterro de
Brad.

Scottie de repente agarrou Josh pelas bolas.

Meu queixo caiu. Ótimo. Eu poderia beijar você agora por isso,
Scottie.
— Não. Eu preciso disso — Josh tossiu. — Solte-as.

Cobrindo minha boca, eu ri em minha mão. Este foi


definitivamente o destaque de um longo dia.

Quando Scottie finalmente soltou o saco de Josh, ele enrolou o


braço em volta do pescoço e começou a lutar com ele até que Josh
fosse imobilizado. Josh era um cara grande, mas Scottie era ainda
maior. Depois que Josh finalmente conseguiu se libertar, ele se
levantou da cama, com o cabelo todo bagunçado.

— Lá se vai o fato de ser um homem grande e forte que


consegue lidar com ele, não é? — falei.

Josh me lançou um olhar mortal.

Carly: Um.

Josh: Zero.
Capítulo 3

CARLY

Sem aquecimento no momento, a casa estava ficando mais


gelada do que o clima entre mim e meu aparente novo colega de
quarto. Então, Josh se aventurou a ir até a loja para comprar lenha
para o fogão a lenha.

Enquanto ele cuidava disso, lutei para dar um banho em


Scottie, o que me deixou com cara de quem ganhou um concurso
da camiseta molhada. Scottie parecia pensar que a banheira era
um toboágua. Ele continuou deslizando seu corpo da parte de trás
da banheira para a frente, e cada vez que ele fazia isso, um dilúvio
de água batia em mim e no chão. Também não vamos mencionar
a rigidez que ele ficou enquanto eu lavava suas partes inferiores.

Demorou um pouco para que Scottie se acalmasse o suficiente


para ir para a cama também. Agora fazia sentido porque ele tinha
um colchão no chão, em vez de uma cama. Ele a teria quebrado,
considerando todos os saltos que gostava de fazer.

Saí do quarto de Scottie depois de acomodá-lo e sentei-me no


sofá, já exausta e me sentindo sobrecarregada. Minha primeira
noite não foi apenas um fracasso épico, mas parecia que Josh
estaria aqui para testemunhar esse desastre avançando. Ele
realmente ficará? Embora pudesse ser útil ter um segundo par de
mãos, a ideia de ele estar aqui me deixou desconfortável. Embora,
talvez ele não estivesse planejando dormir aqui? Decidi encurralá-
lo para esclarecer seus planos. Vi que ele tinha colocado o fogão a
lenha para funcionar, mas não o encontrei em lugar nenhum. Será
que ele havia ido embora de novo? Será que eu poderia ter essa
sorte?

Um minuto depois, porém, Josh veio de fora, cheirando a


cigarro.

Levantei-me e fui direto ao ponto. — Então... — Esfreguei


minhas mãos. — Como é que fica? Só há um quarto além do quarto
do Scottie. Então...

— Sim. — Ele assentiu. — Vou ficar no sofá – até você decidir


voltar para casa. O que ainda acho que seria sensato, já que você
está fora de seu ambiente.

— Eu já disse, não vou a lugar nenhum.

— Vamos, Carly. Você é uma estranha para ele. Você não


pertence a este lugar.

— Uma estranha é melhor do que uma má influência — eu


cuspi.

— Você acha que sou uma má influência para Scottie? O quê...


que vou trazer mulheres e embebedá-lo? Tire sua cabeça da
bunda, Srta. Virtuosa. Eu não faria nada para colocá-lo em perigo.
— Ele olhou para a minha camisa. — Você tomou banho com ele
ou algo assim? Por que você está todo molhada?

— Se você soubesse tanto sobre ele quanto afirma saber, teria


a resposta para isso. Ele acha que a banheira é um tobogã. — Eu
bufei. — Você fede a cigarro. Espero que não pense que vai fumar
perto dele.

Josh semicerrou os olhos. — Você sabe que Wayne fumava,


certo?

— Bem, eu não me importo. Ninguém deveria estar respirando


essas coisas.

— Estou tentando parar — ele murmurou. — Eu estava indo


muito bem até chegar em casa. Assim que aterrissei em New
Hampshire, eu simplesmente... — Ele suspirou em vez de terminar
a frase.

— Bem, tente parar lá fora – não nesta casa ou perto de Scottie.

— Você não viu que eu estava lá fora?

— Mantenha assim — eu repreendi.

Josh fingiu um sorriso. — Sabe onde não terá que se preocupar


com o meu fumo?

— Onde?

Ele cerrou os dentes. — De volta à Califórnia.

— Você se acha engraçado?

— Não estou tentando ser. — Ele inclinou a cabeça. — Você


está dizendo que eu sou?

— Como você acha que Brad se sentiria se você zombasse dessa


situação?

— Estou zombando? Parece que você escapou do Titanic. E


quanto ao Brad, ele era educado demais para lhe dizer que você
está fora de seu círculo. Ele estaria me agradecendo secretamente
por tentar lhe dar uma saída.

O som de Scottie gritando em seu quarto interrompeu nossa


briga.

Corremos para lá e descobrimos que ele havia tirado o


enchimento de um dos travesseiros. Penas voavam por toda parte.
Scottie ria histericamente, como se fosse a melhor coisa do mundo.

Que bagunça vai ser para limpar. — Ele provavelmente nos


ouviu discutindo e ficou chateado — eu disse.

— Isso mostra o quanto você sabe sobre ele — Josh retrucou.


— Ele faz merdas assim o tempo todo sem motivo.

Esse homem estava me irritando. Quanto mais ele me irritava,


mais estava determinada a provar que ele estava errado quanto ao
fato de eu ser a melhor cuidadora.

— Nada acontece sem um gatilho — eu murmurei, desapontada


comigo mesma por deixar esse cara me afetar tanto.

Josh e eu começamos silenciosamente a recolher as penas.


Encontrei um pequeno saco de lixo na cozinha para termos um
lugar para despejá-las. A cada minuto, eu xingava baixinho com o
rumo que essa situação havia tomado. O que me incomodava mais
do que tudo? No fundo, eu realmente não achava que seria capaz
de lidar com Scottie sozinha. Só não queria admitir isso. Ter outro
par de mãos aqui provavelmente era uma coisa boa. Eu só queria
que as mãos não fossem as de Josh.
Quando terminamos, parecia que tínhamos depenado uma
galinha e tentado esconder as evidências. Scottie pelo menos se
acalmou e parecia que estava prestes a cair no sono.

Josh puxou uma das cortinas que eu havia deixado aberta sem
querer. A última coisa que eu queria era que Scottie acordasse
mais cedo do que o necessário por causa do sol. Também notei um
aparelho de som estático e o liguei.

Depois que saímos do quarto, Josh e eu ficamos na sala de


estar em frente às chamas do fogão a lenha. Nós apenas olhamos
um para o outro. Por mais que eu não gostasse desse cara,
mendigos não podiam ser escolhidos. Ninguém mais se ofereceria
para ajudar.

— Eu odeio admitir isso — eu disse, engolindo um pouco de


humildade. — Mas isso pode ser mais um trabalho para duas
pessoas de qualquer maneira. Acho que seria útil trabalharmos
juntos, para que possamos aliviar um ao outro de vez em quando.

Josh ficou em silêncio. Como ele não refutou minha sugestão,


optei por presumir que isso significava que ele concordava comigo.

— Você não tem família na cidade? — perguntei. — Você não


tem que dormir aqui. Você poderia ir e vir.

Ele ergueu a testa. — Como isso vai ajudar você à noite se ele
acordar e fizer alguma coisa?

Coçando minha têmpora, eu não tinha nada a dizer sobre isso.

— Tenho dois irmãos e meu pai na cidade — acrescentou. —


Mas acho melhor eu passar a noite aqui.
— Ok — eu concedi. — Onde você vai trabalhar durante o dia?
Obviamente, não há espaço para escritórios.

— Isso não importa. Eu posso trabalhar em qualquer lugar. E


se houver uma reunião, vou apenas mover meu laptop para onde
Scottie não estiver. Eu tenho que fazer muitas ligações, mas pelo
menos estarei aqui se você precisar de mim ou se precisar ir ao
supermercado ou algo assim.

Eu sabia muito pouco sobre a carreira de Josh, apenas que ele


trabalhava no mercado corporativo.

— O que você faz mesmo? — perguntei.

— Sou um recrutador.

— O que isso implica?

— Seleciono candidatos qualificados para vagas em aberto.

— Ah, então é por isso que você foi tão rápido em me rejeitar
nessa.

Ele encolheu os ombros. — Você tem razão. Você não está


qualificada para cuidar dele sozinha. Mas, acima de tudo, eu só
estava tentando lhe dar um alívio para o seu próprio bem, Carly.

— Estou pronta para o desafio — suspirei. — Além disso,


honestamente, tudo na Califórnia me lembra Brad... nossa vida
antes de ele morrer. Preciso de uma mudança de cenário. Esta é a
casa de sua infância, mas nenhuma de nossas memórias estava
aqui. — Eu olhei para ele. — Suponho que seja o oposto para você,
no entanto.

Assentindo sombriamente, ele se afastou. Claramente Josh não


tinha planos de se abrir comigo.
Ele se aproximou e abriu a geladeira. Esfregou a barba no
queixo e logo fechou a porta. Não havia nada para ver lá dentro.

— Está vazia — eu disse. — Eu não tive a chance de ir às


compras ou pedir mantimentos.

Ele olhou para o relógio e coçou o peito. — É meio tarde de


qualquer maneira. Não preciso comer nada esta noite. Vou
aguentar até amanhã.

A tensão pairava no ar enquanto nos olhávamos. A iluminação


embutida sobre ele causava um brilho em seus olhos castanhos.
Josh era incrivelmente bonito. Não havia como argumentar sobre
isso. Seu cabelo sozinho merecia seu próprio agente de
modelagem. Seu nariz era reto, seus lábios carnudos e seu queixo
perfeitamente anguloso. Apesar de sua aparência, sempre o achei
feio por dentro.

Enquanto eu o observava, notei que os olhos de Josh caíram


abaixo do meu pescoço – e permaneceram lá.

O que estava acontecendo?

Ele estava me checando?

Não podia ser.

O cara não me suportava.

Antes que eu pudesse refletir mais sobre isso, ele avançou em


minha direção e sua mão bateu na parte superior do meu peito
inesperadamente. Então, senti o aperto de seus dedos contra
minha pele.

— Que porra é essa? — gritei, meu coração batendo fora de


controle.
— Peguei. — Seus ombros subiam e desciam enquanto ele
virava o punho e abria os dedos longos para revelar algo
inidentificável na palma da mão. — Você tinha uma aranha
nojenta rastejando em você.

Olhei mais de perto e, de fato, era uma aranha esmagada que


parecia um papai de pernas longas.

— Jesus... — eu ofeguei. — Eu não sabia o que diabos tinha


acontecido. Por um segundo, achei que você tinha me batido sem
motivo.

Ele franziu a testa. — Bem, isso é muito foda.

Olhei para a marca de sua mão vermelha na minha pele. Meus


mamilos traidores ficaram duros com a visão, que estava tão
retorcida que eu nem tentaria analisá-la.

Eu limpei minha garganta. — Odeio aranhas. Eu teria surtado


se soubesse que estava rastejando sobre mim. Obrigada. —
Passando as pontas dos dedos no local, que ainda ardia um pouco,
acrescentei: — Embora eu esteja surpresa por você não ter deixado
aqui apenas para seu próprio prazer.

Ele arqueou uma sobrancelha, parecendo menos do que


divertido. — Por que eu teria prazer nisso?

Em primeiro lugar, porque tinha provas de que ele não gostava


de mim. E eu nunca tinha entendido o porquê. Eu não tinha feito
nada para merecer isso. Também nunca tive a oportunidade de
perguntar por que ele se sentia assim. Este tinha sido um longo
dia para nós dois, então talvez eu devesse ter me contido, mas não
o fiz.
— Por que acho que você sentiria prazer em ver uma aranha
em mim? — perguntei, ainda esfregando o local que ele bateu. —
Porque nós dois sabemos que você não gosta de mim. E com base
nisso, devo dizer... estou surpresa que você esteja bem com esse
arranjo de vida.

Seus olhos se estreitaram. — Quem disse que eu não gosto de


você?

— Na verdade... você disse. — Engoli em seco, meu batimento


cardíaco acelerado.

Sua mandíbula apertou. — Eu nunca disse isso.

— Não na minha cara.

— Explique.

Eu havia guardado isso por tanto tempo. Nunca contei a Brad


que eu sabia – porque tinha muita vergonha e não queria iniciar
uma guerra entre ele e seu melhor amigo. Eu amava Brad demais.

Eu decidi apenas cuspir. — Acidentalmente, vi uma mensagem


que você mandou para Brad quando ele e eu começamos a
namorar.

O pomo de Adão de Josh se moveu. — Ok...

— O telefone dele estava no balcão enquanto ele estava no


chuveiro. Ele lhe enviou uma foto nossa. Você respondeu e disse...
— Fiz uma pausa, encolhendo-me com a memória. — Que havia
algo no meu rosto que incomodava você.

Ele piscou e desviou o olhar por um momento. — Bem,


obviamente você não deveria ter visto isso.
— Obviamente — eu murmurei, sentindo amargura no fundo
da minha garganta.

— Olha... — ele suspirou. — Eu não sabia nada sobre você. Se


tivesse conhecido você e ele acabasse ficando noivo, talvez eu não
tivesse...

— Compartilhado seus verdadeiros sentimentos? — Eu cruzei


meus braços, embora realmente quisesse socá-lo.

— Foi uma coisa idiota de se dizer. — Ele esfregou a mão no


rosto. — Eu não quis dizer isso literalmente.

— Você não quis dizer isso literalmente? — Baixei a voz,


percebendo que tinha acabado de gritar e não queria acordar
Scottie. — De que outra forma você pode não gostar de um rosto...
se não literalmente?

Josh permaneceu em silêncio enquanto olhava para o chão.

Eu realmente o peguei desprevenido. Ótimo. Ele mereceu.

— Nunca contei a Brad que vi — admiti. — Por mais que eu


odiasse você por aquela mensagem, não queria causar uma briga.
Eu sabia o quanto você significava para ele, por algum motivo
esquecido por Deus.

Josh finalmente me olhou diretamente nos olhos. — Eu nunca


deveria ter dito isso, e peço desculpas. Verdadeiramente. E por
mais que você não acredite em mim, aquela mensagem realmente
não significou nada. — Ele soltou um longo suspiro e suavizou um
pouco. — Acho que isso explica por que você nunca foi minha
maior fã. Brad me disse que você não gostou quando ele veio me
visitar, porque você não confiava em mim. Achei que era porque
você achava que eu era uma má influência. Agora sei que havia
mais do que isso.

— Eu me preocupava quando ele estava com você.

— Você não deveria. Brad é um homem adulto com vontade


própria. — Ele fez uma pausa. — Era um homem adulto. — Ele
balançou sua cabeça. — Ainda tenho dificuldade em pensar nele
no passado.

Minha garganta estava pesada. — Bem, isso é uma coisa que


temos em comum.

Josh olhou para os sapatos e enfiou as mãos nos bolsos. Então


ele se virou para a sala de estar. — Acho que devo encontrar um
cobertor ou algo para dormir.

— Deixe-me ver se há algo no armário de Wayne — eu disse,


ainda me sentindo um pouco amarga.

Josh me seguiu até o quarto onde eu dormiria, ao lado da


cozinha.

Quando abri o armário, estava cheio do chão ao teto. Todas as


roupas de Wayne ainda estavam penduradas ali. Cheirava um
pouco a mofo, então fiz uma anotação mental para limpá-lo assim
que tivesse um segundo para respirar.

— Acho que esta foi a solução de Wayne para a falta de espaço


de armazenamento nesta casa — eu disse enquanto vasculhava.
— Apenas embalar tudo aqui?

Josh acendeu uma lâmpada no canto do quarto. — Brad


continuou oferecendo para comprar uma casa maior para ele, mas
Wayne nunca quis deixar esta cabana. Foi aqui que ele guardou
todas as suas memórias com Yvonne, onde eles começaram sua
família.

— Eu posso entender isso. — Eu me virei para encará-lo. —


Eles a perderam cedo.

— Sim. — Ele balançou sua cabeça. — Foi uma época terrível,


porra.

— Você e Brad estavam no colégio quando ela morreu?

Ele assentiu sombriamente.

Eu sabia que Josh tinha a mesma idade de Brad, que teria


trinta agora se estivesse vivo. Aos vinte e oito anos, eu era dois
anos mais jovem.

Continuei a procurar por um cobertor e consegui encontrar um


pequeno xadrez no meio de todo o lixo no armário.

— Isso será suficiente? — perguntei quando entreguei a ele.


Parecia que só poderia cobrir metade de seu corpo.

— Vai funcionar — disse ele.

Peguei um dos dois travesseiros na cama. Era mais pesado do


que o esperado, cheio de penugem.

— Pegue isso também. Não preciso de ambos. — Eu o joguei


em direção a ele com força involuntária.

Ele pegou. — Você gostou de jogar isso em mim, não é?

Eu pisquei. — Talvez um pouco.


Capítulo 4

CARLY

Uma batida me acordou na manhã seguinte. Quando saí do


quarto, vi um Josh sem camisa já na porta da frente. Suas costas
perfeitamente esculpidas, pintadas com a imagem de uma
serpente, bloqueavam minha visão de quem quer que estivesse ali.

Uma cobra. Adequado.

Eu não gostava do homem, mas não havia como negar o quão


gostoso ele era.

Sua voz profunda e matinal estava rouca enquanto ele falava.


— Posso ajudar?

— Sou a terapeuta comportamental de Scottie — ouvi uma


mulher dizer. — Eu trabalho com ele aqui uma ou duas vezes por
semana.

Josh coçou a cabeça de cabelo rebelde. — Oh. — Ele se moveu


para o lado. — Entre.

Eu peguei os olhos da morena atraente caindo brevemente em


seu peito.

Ele estendeu a mão. — Eu sou Josh. Prazer em conhecê-la.

— Lauren. — Ela sorriu quando eles se cumprimentaram.

Eu poderia jurar que ela resistiu em deixá-lo ir.


— Eu não sabia que o Scottie teria alguém vindo em casa — eu
a interrompi com os olhares.

Ela se virou para mim, parecendo me notar aqui pela primeira


vez. — Sim. — Ela limpou a garganta. — É um serviço domiciliar
que oferecemos, financiado pelo estado. Só estou trabalhando com
ele há cerca de seis meses, mas ele está em nosso programa para
adultos há algum tempo.

— Lorraine esqueceu de mencionar isso — eu disse. — O que


você faz com ele?

— Lemos juntos, resolvemos quebra-cabeças, classificamos


itens e trabalhamos no autocuidado – coisas como escovar os
dentes, vestir-se e amarrar os sapatos — disse ela. — Você deve
ser Carly?

Eu balancei a cabeça. — Sim.

— Sua tia mencionou que você viria para ficar com ele no lugar
dela. Não sabia que você era casada.

— Oh. — Olhei para Josh. — Ele não é meu marido. Ele é amigo
do irmão do Scottie, o Brad. Eu estava noiva do Brad antes de ele
falecer.

Ela sorriu para Josh, seus olhos brilhando. — Eu vejo.

Eu apostava que você via.

A última coisa que eu precisava era estar no meio de uma


paquera – ou pior – entre Josh e essa universitária.

Ela se voltou para mim. — Sinto muito pelo seu noivo. Antes
de Wayne falecer, ele costumava me contar tudo sobre ele. Ele era
produtor de cinema, certo?
— Ele trabalhou na televisão como roteirista, mas foi promovido
a produtor antes de morrer, sim.

— Desculpe. — Ela franziu a testa. — Então, vocês dois estão


aqui para cuidar de Scottie... juntos?

— Estamos compartilhando a responsabilidade agora — disse


Josh. — Até que possamos encontrar uma boa opção para um lar
permanente.

Lauren assentiu. — Isso é muito legal da sua parte.

— Scottie ainda está dormindo — eu disse. — Se eu soubesse


que você viria, eu o teria acordado.

— Tudo bem. Wayne costumava acordá-lo antes de eu chegar,


mas não me importo de acordá-lo. — Ela olhou para Josh. — Se
você precisar de alguma coisa, avise. Temos muitos recursos na
agência que podem ajudar na sua busca por colocação.

Foi interessante que ela se ofereceu para ajudá-lo e não a nós.


Era doentio o quanto esse cara era um ímã para garotas, dada sua
personalidade questionável. Mas, por outro lado, Lauren não sabia
disso ainda. Pena que Josh Mathers não vinha com uma etiqueta
de advertência cobrindo seu rosto perfeito.

Depois que ela entrou no quarto de Scottie, abaixei minha voz.


— Você pode querer colocar uma camiseta antes que eu tenha que
limpar a baba daquela garota do chão.

— Eu não estava esperando uma convidada esta manhã mais


do que você, Sunshine. — Ele olhou para o meu peito. —
Claramente.
Fechei os olhos. Eu não tinha colocado um sutiã. Talvez isso
fosse uma coisa boa de se notar antes de castigá-lo. Limpando a
garganta, cobri meu peito com os braços. — A que horas começa a
trabalhar?

— Às nove.

— Você toma café? — perguntei.

— Eu praticamente bebo o dia todo, sim.

— Eu verifiquei ontem à noite e não vi nenhuma cápsula de


café. Posso ir até o supermercado e comprar algumas, junto com
coisas para o café da manhã, aproveitando o fato de ela estar aqui
com Scottie.

Ele passou a mão pelo cabelo grosso. — Legal. Sim. Vou pular
no chuveiro enquanto você estiver fora.

Assenti e corri para o meu quarto para colocar um sutiã e uma


roupa. Escovando meu cabelo, notei que ele estava muito
comprido. Fiquei imaginando se teria a oportunidade de apará-lo
enquanto estivesse aqui, ou se acabaria parecendo a Rapunzel
quando saísse de Woodsboro.

Antes de sair, digitei o número de Josh no meu telefone e enviei


uma mensagem rápida para que ele pudesse me adicionar como
contato caso precisássemos enviar uma mensagem de texto
enquanto eu estivesse no mercado.

O ar frio do lado de fora atingiu meu rosto e foi tão bom sair
um pouco de casa. Alívio tomou conta de mim quando entrei no
meu carro. Ah, o silêncio. Parecia que eu tinha momentaneamente
retornado à minha vida – a que eu tinha antes de virar de cabeça
para baixo. Fazia menos de 24 horas, mas parecia anos desde a
última vez que me sentei neste veículo.

Enquanto descia a estrada rural, liguei para Christina para


informá-la sobre os últimos acontecimentos.

— Ei! Você ainda está viva — ela disse enquanto atendia. — Eu


estive esperando para saber de você.

— Finalmente tenho um momento livre para respirar.

— Como estão as coisas aí?

Eu explodi em gargalhadas histéricas. Não pude evitar. Foi tão


bom deixar tudo para fora. Mas Christina devia estar pensando
que enlouqueci.

— O que diabos está acontecendo com você?

— Ah, Christina. — Eu bati no meu volante. — Que confusão.

— Oh, não. Por quê? O que aconteceu?

— Por um lado... eu não estou sozinha com Scottie. Tenho um


colega de quarto inesperado.

— O quê? Quem?

— Josh Mathers.

— Josh... — Levou um momento. — O melhor amigo gostoso


pra caralho de Brad? Aquele cara? Aquele que mora em Chicago?
Aquele que você não suporta?

— Sim. Esse mesmo. Aparentemente, ele e eu tivemos a mesma


ideia de largar tudo e nos mudar para cá temporariamente para
cuidar de Scottie.
— Bem, se ele está aí, isso significa que você pode voltar para
casa?

— Não. — Suspirei. — Ainda estou fazendo isso. Mas também


não é tão simples quanto eu pensava. Logo depois de chegar aqui,
percebi que isso é mais do que um trabalho para uma pessoa só.
Não é de se admirar que a Lorraine tenha saído daqui como um
morcego do inferno quando cheguei ontem.

— Então, espere... Josh vai ficar aí permanentemente com você


e Scottie?

— No futuro previsível, sim.

— Você não disse que a casa era pequena? Onde ele está
dormindo?

— No sofá. Há apenas um quarto além do de Scottie. E é meu.

— Bem, isso é um golpe – para ele.

— Sim. Talvez eu troque de lugar com ele, mas ainda não


chegamos a esse ponto. Ainda estou em choque.

Ela riu. — Eu posso entender.

— A pior parte é que ele reconheceu que sabia que eu não era
sua maior fã. E admiti que sabia que ele também nunca gostou de
mim. Então, agora há essa tensão entre nós.

Preferi não contar a ela sobre a velha mensagem de Josh. Eu


ainda tinha muita vergonha em relação a isso e nunca contei a
ninguém, exceto Josh.
— Bem, parece que vocês têm que aprender a gostar um do
outro se vão morar juntos. — Ela fez uma pausa. — Na verdade,
agora que sei que ele está aí, talvez eu faça uma visita.

— Por quê?

— Ele é solteiro, não é?

— Sim. Mas você não quer se envolver com ele. Eu não deixaria.
Ele é um galanteador.

— Quem disse que estou interessada em um relacionamento?


O cara é lindo.

Revirei os olhos.

— Você está revirando os olhos?

Eu ri.

Conversamos por mais alguns minutos, até que cheguei ao


mercado e encontrei uma vaga para estacionar.

— De qualquer forma, é melhor eu ir. Estou na frente do


mercado e preciso pegar um café para o Sr. Zangado antes que ele
comece a trabalhar.

— Isso é muito legal da sua parte, considerando que você não


gosta dele.

— Bem, acho que ele vai ser ainda mais irritante sem cafeína.
— Eu ri. — Além disso, eu meio que preciso disso para poder lidar
com ele.

— Mantenha-me informada — disse ela.

— Você sabe que eu vou.


Depois que desliguei, saí e peguei um carrinho, quase batendo
em alguém no caminho porque estava tão perdida em minha
cabeça.

Enquanto examinava os corredores internos, decidi ser cortês


e falar com Josh.

Carly: Que tipo de café você gosta?

Ele mandou uma mensagem de volta quase imediatamente.

Josh: Qualquer tipo é bom.

Carly: Então, abóbora com especiarias?

Josh: Na verdade, não estou com vontade de vomitar hoje,


então não. Literalmente tudo menos isso. Eu odeio qualquer
coisa de abóbora.

Carly: Foi por isso que perguntei. Torrado escuro, torrado


claro?

Josh: Claro com um toque de nozes parece ser a sua praia.

Sério? Eu digitei mais rápido.


Carly: Isso era realmente necessário?

Josh: Não, mas achei engraçado.

Carly: Que bom que você se diverte. E só por isso, você está
tomando o de abóbora.

Relutantemente, joguei um recipiente de torrado escuro no


carrinho.

Josh: Ei, você sabe aonde deveria ir para tomar um café?

Carly: Onde?

Josh: Coffee Bean and Tea Leaf. Eles têm um ótimo café.
Brad me levou lá quando fui visitá-lo.

Cocei a cabeça.

Carly: Eles não têm isso aqui. Eles estão apenas na


Califórnia.

Josh: Exatamente.
Carly: Agora você está recebendo o de abóbora com uma
dose extra de abóbora, espertinho.

Josh: Tanto faz, Pumpkin1.

Carly: Além disso, a maior parte do que compro para casa


não contém glúten.

Josh: Ótimo.

Carly: Você está sendo sarcástico?

Josh: Não, quero dizer, as coisas aqui foram muito


divertidas. Sem glúten só melhora.

Carly: Pão de abóbora sem glúten para você. ;-)

Enquanto eu subia e descia pelos corredores, Josh me enviou


outra mensagem.

1
Abóbora em inglês.
Josh: Na verdade, esqueci de trazer desodorante. Você se
importa de pegar um? Eu vou reembolsar você, é claro.

Carly: Algum tipo em particular?

Josh: Qualquer coisa feita para um homem.

Carly: Cheiro de prostituto extrapicante?

Josh: Isso funciona para mim.

Carly: Atóxico ou...

Josh: Você está falando sério?

Carly: Sim!

Josh: Tóxico. Eu preciso que funcione de verdade.

Carly: Eu mesma uso limões em vez de desodorante.

Josh: Você está me sacaneando?


Carly: Não. Eu esfrego um pedaço em cada lado
diariamente.

Josh: Isso explica por que você cheira mal.

Carly: É melhor você estar brincando.

Josh: Talvez eu esteja. Talvez eu não esteja.

Carly: Os limões funcionam e são totalmente seguros.


Nenhum alumínio para entrar no meu sistema linfático e me
matar daqui a vinte anos.

Josh: Toda a merda que há para se preocupar na vida e você


está preocupada com desodorante? Você provavelmente
deveria relaxar.

Carly: Isso de alguém que suga voluntariamente o


monóxido de carbono. Eu nem deveria ter perguntado sobre o
desodorante. Está claro que você não dá a mínima para sua
saúde.

Josh: Vou querer a merda tóxica com alumínio extra, por


favor.
Carly: Desodorante tóxico para um cara tóxico. Chegando!

Josh: Limões para uma torta. ;-)

Carly: Olhe para você, tão rápido em seus dedos. Por que
você não os usa para voltar para Chicago? LOL

Josh: Brincadeira. Uma torta é uma coisa que você não é,


na verdade. Um pouco azeda, talvez..., mas definitivamente
não é uma torta.

Carly: Vou considerar sua retratação como um elogio.

Josh: Viu? Mesmo que você tenha me chamado de tóxico,


eu aceitei azedo. Quem é o maduro?

Carly: Eu vou dar isso a você.

Josh: Agora você me fez pensar onde mais você está


enfiando limões.

Eu ri enquanto pegava um desodorante masculino que estava


à venda.
Carly: Na sua bunda, Mathers. E lá se vai o seu cartão de
maduro. A propósito, estou com seu desodorante tóxico.
Estarei aqui mais uns cinco minutos se pensar em mais alguma
coisa.

Os pontinhos se moveram pela tela.

Josh: Na verdade, você pode pegar um pote de sorvete?

Carly: Por favor, não diga nada. Estarei aqui o dia todo
tentando escolher alguma coisa.

Josh: Pistache

Carly: Hum...

Josh: O quê?

Carly: É o meu favorito também.

Josh: Bem, parece que acabamos de encontrar a única coisa


que temos em comum além de Brad.
Carly: Vai ser uma longa semana. Devo pegar dois potes?

Josh: Sim. E um pouco de álcool.


Capítulo 5

CARLY

Mais tarde naquele dia, voltei para comprar roupas de cama


extras no Walmart mais próximo, que ficava a trinta minutos de
distância.

Quando voltei para casa, engasguei com a visão diante de mim.

Josh estava na mesa da cozinha em uma chamada de vídeo


enquanto Scottie estava sentado em seu colo. Josh havia arqueado
o pescoço para ver além de Scottie, cujo nariz estava enterrado em
seu cabelo. Enquanto isso, Josh estava com seu fone de ouvido e
falava como se não tivesse um homem adulto em seu colo.

Eu queria tirar uma foto, mas me contive.

Assim que Josh me notou, eu balbuciei: — Sinto muito.

A única razão pela qual eu saí de novo foi porque Lauren ainda
estava aqui. Eu tinha planejado voltar antes que ela partisse, mas
fiquei presa no trânsito.

Ele ergueu a mão como se quisesse me dizer que estava tudo


bem.

Scottie pulou do colo de Josh e foi para o sofá. Josh passou a


mão na camisa para alisar os amassados e continuou falando sem
perder o ritmo.
Quando ele finalmente desligou, balancei a cabeça com
espanto. — Você lidou com isso como um campeão.

— Eu não tinha muita escolha. Felizmente, eu havia explicado


o esquema aos meus colegas antes de vir para cá, então a maioria
deles não ficou chocada quando o viu aparecer na tela. Eles
acharam isso muito cativante. Mas desliguei minha câmera logo
depois que ele me surpreendeu.

— Você parece ter um efeito calmante em Scottie.

Ele abriu um sorriso. — Eu posso ser o favorito dele, sim.

— Definitivamente não sou eu. — Suspirei. — De qualquer


forma, você terminou?

Ele pegou o fone de ouvido e fechou o laptop. — Sim.

— Legal.

Ele olhou para a sacola que eu estava segurando. — Você pegou


tudo o que precisa?

— Sim. Algumas toalhas, um travesseiro substituto para


Scottie, um cobertor maior para você e um conjunto extra de
lençóis. Sinto muito por ter demorado tanto. — Olhei ao redor da
cozinha, sentindo-me confusa. — Eu tenho que fazer o frango dele
antes da hora do jantar. Eu sei que vou estragar tudo.

Josh passou a mão pelo cabelo. — Por quê?

Larguei a sacola e peguei a receita escrita que Lorraine havia


deixado para mim. — Dê uma olhada nessas instruções. O frango
tem de ser cozido na medida certa, o óleo tem de ser de uma
determinada marca – que, felizmente, temos no armário, pois
esqueci de comprar antes – e tenho de tomar cuidado com a
proporção de ovos e farinha. — Joguei o papel no balcão. — Caso
contrário, ele não comerá.

— É muito fácil. — Josh arregaçou as mangas. — Posso ajudar.

— Seriamente? Você cozinha?

— Isso importa? Nenhum de nós jamais fez esse frango antes.


Vamos apenas seguir as instruções. Vai ficar tudo bem.

— Ok. — Lambi meus lábios. — Sim... hum, vou colocar o óleo


para esquentar. Por que você não lava o frango e pica os peitos
para mim? — Eu imediatamente corei. Isso soou tão errado.

Ele sorriu. — Sou conhecido por dar uma boa surra na minha
vida.

— Isso foi ridículo.

— Mas você está sorrindo. E você estava corando bem antes


mesmo de eu dizer isso, então é você que tem a porra da mente
suja, Pumpkin.

— Por favor, não me diga que você vai me chamar assim?

— Isso incomoda você?

— Sim.

— Então, sim. Esse é o seu apelido. — Ele piscou. — É isso ou


Lemon Pits2. Você escolhe.

— Vou ficar com Pumpkin. — Revirei os olhos e peguei a


frigideira grande debaixo do balcão.

2
Caroços de limão.
Scottie tocou em seu dispositivo na sala de estar,
aparentemente alheio ao fato de que Josh e eu provavelmente
estávamos prestes a destruir seu jantar.

Mas, surpreendentemente, desenvolvemos um ritmo: Josh


lavou e picou o frango enquanto eu mergulhava cada peito no ovo,
farinha e migalhas de pão italiano e depois jogava no óleo quente.

Olhe para nós trabalhando juntos. Se não estávamos sendo o


epítome de uma família doméstica, porém disfuncional, eu não
sabia o que era.

Tudo correu bem até que Scottie entrou na cozinha com o tablet
na orelha e deu uma olhada no que estávamos fazendo.

Josh virou-se para ele. — Ei, amigo. Estamos fazendo seu


frango. Está animado?

Scottie saltava para a frente e para trás enquanto observava o


balcão coberto de farinha com grande interesse. Ele então saiu da
cozinha e foi direto para o meu quarto.

Eu me encolhi, esperando não ter deixado nada de fora em que


ele pudesse entrar. Então me lembrei das roupas. — Droga. Tenho
roupa suja lá dentro que dobrei mais cedo. Ele vai pular na cama
e bagunçar tudo.

— Nós dois temos frango em nossas mãos, então deixe-o em


paz — disse Josh. — Vou redobrá-las mais tarde.

Apenas quando meus nervos sobre Scottie vasculhando meu


quarto se acalmaram, ele voltou à cozinha. A próxima coisa que eu
soube foi que algo voou para dentro da minha panela de óleo. Josh
e eu pulamos para trás simultaneamente.
O quê?

Pisquei rapidamente, feliz por não ter respingado óleo quente


em mim. Scottie jogou algo na panela antes de sair correndo.

Josh agarrou a pinça e o tirou da gordura fervente antes que


pudesse se desintegrar. — Que porra é essa? — ele gritou.

Horrorizada, eu congelei.

Josh o segurou na minha direção. — Parece um pedaço de


frango de borracha.

Eu balancei minha cabeça. — Não é um pedaço de frango.

— Que diabos é isso então?

Eu quero morrer. — É uma das minhas próteses de silicone para


seios. Ele deve ter mexido em minhas coisas lá dentro e achou que
deveria ser adicionada em nosso pacote. — A inserção era de cor
nude e parecia exatamente com um peito de frango.

A expressão de Josh mudou de choque para pura diversão.


Seus ombros tremeram quando ele colocou a inserção em uma
toalha de papel. Ele se encostou no balcão. — Parece a porra de
uma galinha. — Ele segurou seu estômago enquanto mal
conseguia pronunciar as palavras através de sua risada. — Ele
estava apenas tentando ajudar.

A risada se espalhou como fogo, explodindo em mim também.


Nós dois estávamos praticamente chorando.

Eu enxuguei meus olhos. — Eu vou ter que conseguir uma


fechadura para aquela porta.

Scottie correu de volta para a cozinha.


— Scottie, nada de entrar no meu quarto! — eu disse a ele.

— Sim. Isso vai funcionar — Josh declarou sarcasticamente. —


Você pode entrar em qualquer quarto que quiser, amigo. Diga a ela
para acalmar seus peitos de galinha.

Eu dei uma cotovelada nele. — Muito engraçado.

— Você tem razão. Meu humor é meio... sem graça.

Agarrando um pano de prato, eu bati nele.

— Chicken Tits3! — ele bufou enquanto jogava o pano sobre o


ombro. — Isso é ainda melhor do que Lemon Pits!

●●●

O incidente dos seios de silicone parecia ter sido um ponto de


inflexão em nossa situação disfuncional, porque por algum
milagre, mais tarde naquela noite, nós três conseguimos nos
sentar para um jantar bastante agradável e normal. Não houve
discussão. Sem acessos de raiva de Scottie. Nada de acessos de
raiva de Josh e Carly também.

Embora o glúten pudesse me deixar enjoada, eu estava com


preguiça de fazer uma refeição separada, então por uma noite comi
o mesmo frango que todo mundo. Fizemos uma porção grande o
suficiente para servir ao Scottie por alguns dias. Eu também

3
Peitos de galinha.
preparei uma salada e batatas-doces assadas no forno para mim e
para o Josh.

Falei com a boca cheia. — Esse frango é muito bom. Não é de


admirar que ele goste dele.

— Sério? Só sinto o gosto de silicone. — Josh piscou enquanto


mastigava. — Eu devo ter pegado o ruim.

Fiz um gesto com o garfo. — Não tenho certeza se algum dia


serei capaz de superar isso.

Ele riu. — Você sabe quem teria amado tudo isso?

Parei de mastigar e sussurrei: — Brad.

Josh pareceu perdido em pensamentos por um momento. —


Ele teria descoberto uma maneira de escrevê-lo em um de seus
roteiros, sabe? Ele estava sempre à procura de material. Sempre
que algo maluco acontecia quando estávamos juntos, ele me ligava
mais tarde e dizia ‘adivinha o que entrou no programa’.

— Você já assistiu a série?

— Não toda. Mas vi talvez metade dos episódios — ele disse.

— Você viu aquele em que a personagem, Maddie, envia uma


mensagem obscena para o médico por acidente?

— Sim. Eu me lembro dessa.

Eu apontei para mim mesma. — Essa garota aqui.

— Oh, merda. — Ele riu.

— Sim. Brad achou engraçado, mesmo que eu estivesse


mortificada.
Josh suspirou. — Bem, ele teria achado o incidente da galinha
de silicone igualmente engraçado.

Meu peito apertou. — Sim. Ele teria morrido de rir. — Percebi


o que eu tinha acabado de dizer. — Eca. — Morrer. De rir.

Ficamos sentados em silêncio, observando Scottie devorar o


que restava de seu frango.

— Eu posso ver agora que teria sido realmente desafiador fazer


isso sozinha. — Eu limpei minha boca e suguei meu orgulho. —
Estou feliz por você estar aqui.

Josh hesitou, mas assentiu, parecendo um pouco surpreso


com o ramo de oliveira que eu estendi. Ele amassou o guardanapo
e o jogou de lado. — Não sei como Wayne fazia isso todos os dias,
para ser honesto.

— Acho que o amor dá força. Scottie era tudo o que lhe restava.

— E agora Scottie não tem ninguém. — Josh balançou a cabeça


lentamente. — A vida é injusta pra caralho. Lutei muito contra a
raiva nos últimos dois anos. Eu esperava que fosse ficar mais fácil,
mas realmente não ficou.

— Pensei que fosse a única.

A voz de Josh era quase inaudível. — Eu teria dado qualquer


coisa para ser eu e não ele.

Lutei contra minhas lágrimas. — Bem, isso é uma prova de sua


amizade.

Scottie interrompeu nosso momento sombrio quando ele pulou


de seu assento. Eu o levei até a pia e o ajudei a lavar as mãos antes
que ele desaparecesse em seu quarto.
— Ele realmente amava você, sabe.

Eu comecei a limpar, mas as palavras de Josh me pararam no


meio do caminho. Eu me virei para encará-lo. — Sim. Eu sei. Mas
obrigada por dizer isso.

Josh recostou-se na cadeira. — Eu não queria acreditar que ele


tinha sucumbido a você. Eu o testei muito no começo – joguei a
tentação na cara dele quando ele veio me visitar. Mas nada disso
importava. Por fim, vi o quanto ele estava comprometido. E eu o
invejava por ter encontrado esse tipo de conexão com alguém.

— Essa pode ser a coisa mais madura que você já disse,


Mathers.

— Não tenha muitas esperanças, Pumpkin. Não é uma


tendência. Acabei de ser pego em sua sopa sentimental por um
momento.

Eu sorri. — Bem, você não pode encontrar algo parecido com o


que Brad e eu tivemos se não estiver aberto a isso.

— Sim. — Ele suspirou. — Eu realmente nunca estive. Muito


ocupado me divertindo, eu acho. — Ele se levantou e começou a
limpar o resto da mesa.

Enquanto eu carregava a máquina de lavar louça, fui


novamente surpreendida por ele.

— Você já namorou alguém desde... você sabe?

— Não. — Eu balancei minha cabeça. — Sei que já se passaram


dois anos, mas não me sinto pronta.

Ele limpou o balcão. — Acho que ele gostaria que você seguisse
em frente.
— Eu sei que ele gostaria. Mas tem que parecer certo, e ainda
não parece. Talvez assim que eu passar por esse... período sabático
aqui.

Ele assentiu. — Falando nisso, provavelmente deveríamos


continuar com o processo de colocar Scottie em uma lista de
espera por um lar. Acho que nenhum de nós quer ficar aqui em
Woodsboro mais tempo do que o necessário. A terapeuta, Lauren,
deu seu número e disse que ajudaria a marcar uma reunião com
a agência para a qual ela trabalha, se quisermos.

— Interessante como ela deu o número dela e não da agência.

Ele sorriu. — Sim. Também não perdi isso.

Eu não sabia se era toda a conversa sobre Brad, ou o fato de


que eu estava me sentindo estranhamente culpada por gostar de
estar perto de Josh esta noite, mas de repente eu precisava de um
pouco de espaço.

— Por que você não faz o que precisa fazer hoje à noite? — falei
para ele. — Eu termino a limpeza.

— Eu deveria ajudar com a louça — ele insistiu.

— Não resta muito. Você teve um longo dia de trabalho e depois


me ajudou a cozinhar.

Ele levantou uma sobrancelha. — Tem certeza?

— Sim.

Ele bateu o pano de prato contra o balcão. — Na verdade, eu


adoraria tomar um banho para não ter que fazê-lo de manhã.

— Vá em frente.
Josh lavou as mãos antes de ir até sua mala no canto da sala.
Ele pegou algumas roupas e as levou para o banheiro.

Sozinha na cozinha, uma onda de emoção me atingiu. Josh


tinha me dado uma espiada em seu lado mais suave esta noite.
Falar sobre Brad realmente trouxe isso à tona. Interessante, mas
nenhuma surpresa. Brad sempre trazia o melhor das pessoas; ele
certamente sempre trouxe o melhor de mim. Ele me fez sentir
querida depois que todos os outros homens que vieram e saíram
da minha vida me decepcionaram. Eu realmente senti falta dele
esta noite.

Alguns minutos depois, eu estava colocando detergente na


máquina de lavar louça quando ouvi o que parecia ser Josh
gritando no corredor.

— Não! Solte meu pau!

Fechei a porta da máquina de lavar louça e corri para ver o que


estava acontecendo. A porta do banheiro estava aberta. Através do
vidro fosco do chuveiro, pude ver as silhuetas de dois corpos nus.
As roupas de Scottie estavam no chão ao lado das de Josh.

— Por que ele entrou aí? — Eu funguei, sufocando meu riso.

— Foda-se se eu sei! Você não estava cuidando dele?

— Ele estava quieto em seu quarto. Achei que as coisas


estavam sob controle enquanto eu terminava de lavar a louça.

— Em um segundo eu estava com os olhos fechados,


esfregando xampu no cabelo. A próxima coisa que eu sei é que a
porta se abriu e ele estava parado na minha frente, puxando minha
manivela.
Ri mais forte, incapaz de esconder isso agora.

— Quando você terminar de rir, você se importa em tirá-lo


daqui e secá-lo? Estou nu, então não posso sair agora. — Ele abriu
a porta apenas o suficiente para deixar Scottie sair. — Vá, Scottie.

— Vamos, Scottie. Deixe o tio Josh em paz — eu disse, tentando


não olhar para o corpo de Josh através do vidro. — Depois damos
um banho em você.

Finalmente capaz de tirá-lo de lá, sequei Scottie e o levei de


volta ao quarto para se vestir. Talvez ele prefira banhos de
chuveiro?

Quando Josh finalmente voltou para a sala, ele usava uma


camiseta preta e calça de moletom cinza que era um pouco
afunilada na barra. Ele cheirava incrível, como sabonete e colônia.
Tentei não admirar o quão atraente ele era, a forma como a camisa
abraçava seu peito, a forma como seu cabelo molhado caía sobre
a testa. Seus pés grandes. A protuberância se projetando através
daquela calça justa. Perceber tais coisas aconteceram mais vezes
do que eu queria admitir, e me odiava por isso. Eu atribuía isso ao
fato de que era uma pessoa solitária e seca agora que não fazia
sexo há mais de dois anos e não conseguia evitar a reação do meu
corpo.

Eu limpei minha garganta. — Sinto muito por tudo isso.

Josh passou a mão pelo cabelo. — Não é como se você pudesse


prever que ele faria isso, eu acho.
— Como Wayne lidava com o banho? Eu nem tinha pensado
em todos os problemas em que Scottie poderia se meter enquanto
estivesse desacompanhado.

Josh se ajoelhou para vasculhar sua mala. — Wayne deve ter


tomado banhos muito rápidos.

— Sim. Ou espere... — Estalei os dedos. — Acabei de pensar


em uma coisa.

Ele olhou para cima. — O quê?

— Talvez ele tenha tomado banho com o Scottie, para não ter
que se preocupar com isso. Foi por isso que Scottie entrou no
chuveiro com você. Ele achou que deveria fazer isso.

Josh passou os dentes pelo lábio inferior. — Na verdade, isso


faz muito sentido.

— Eu sei. Tanta coisa que temos que aprender, hein?

— Sim. — Ele suspirou enquanto se levantava e massageava a


parte inferior das costas. — Um dia de cada vez.

— O que está errado? — perguntei.

— Eh, aquele sofá não é o mais confortável. Fodeu um pouco


as minhas costas.

— Por que não trocamos? — eu sugeri. — Você dorme na cama


esta noite.

— Não. Não quero que você tenha o mesmo problema. Ninguém


deveria estar dormindo neste sofá. Vou à loja amanhã e encontro
um daqueles colchões de ar infláveis. Não temos espaço para muito
mais por aqui.
— Vai ser um pé no saco ter que enchê-lo todas as noites, não
é?

— Essa é a menor das minhas preocupações ultimamente,


Pumpkin.

Eu ri. — Eu acho.

Ele olhou para um DVD que eu estava segurando. — O que é


isso?

— Encontrei uma caixa de DVDs no quarto de Wayne. A


maioria deles não são rotulados. Alguma ideia do que são?

— Não. — Ele apontou para a televisão. — Mas tem um DVD


bem ali. Coloque esse aqui.

Coloquei o DVD na máquina e apertei o play antes de me sentar


no sofá ao lado de Josh. Depois de algumas interferências iniciais
na tela, passou um filme caseiro dos meninos quando eram mais
novos. Brad devia ter uns oito anos, e Scottie era um bebê que
acabara de começar a andar. A mãe deles, Yvonne, estava sentada
no chão, brincando com eles. Ela era tão bonita, com cabelos loiros
curtos e olhos grandes. Ela meio que me lembrou uma versão mais
jovem de Carol Brady de The Brady Bunch. Você podia ouvir Wayne
ao fundo, elogiando-a. Yvonne corou em um ponto. Na verdade, eu
nunca tinha visto uma filmagem dela antes – nunca percebi o
quanto Brad e Scottie se pareciam com ela também.

— Esta casa parece a mesma agora como era antes, não é? —


falei.

— Sim, você não está brincando.


Josh e eu continuamos a observar esse emocionante momento
familiar. Scottie parecia fazer mais contato visual quando bebê.
Isso me fez pensar como seu autismo surgiu e se ele nasceu com
isso ou algo mudou dentro dele um dia.

A câmera voltou para Yvonne novamente. Seu rosto ficava


vermelho toda vez que Wayne focava nela. Ela não parecia amar
ser o centro das atenções.

— Lembro-me de Yvonne como se fosse ontem — disse Josh,


hipnotizado. — Ela era basicamente uma mãe para mim.

Desviei minha atenção da tela por um momento. — Suas mães


devem ter sido amigas?

Sua expressão era fria como pedra. — Eu não tive mãe.

Meu estômago afundou. — Sua mãe faleceu?

— Não. Mas eu realmente não quero falar sobre isso. — Ele se


virou para mim com um olhar de advertência. — Ok?

— Ok — eu sussurrei.

Josh se levantou e desapareceu na cozinha. Sentei-me ali em


transe, continuando a assistir ao vídeo. Parecia que o homem que
uma vez pensei que não tinha coração tinha um monte de
sentimentos reprimidos. Provavelmente havia muito que eu não
sabia sobre Josh.
Capítulo 6

JOSH

— Quanto tempo você acha que vai demorar para colocá-lo em


um lar supervisionado? — meu irmão Michael perguntou
enquanto me entregava uma cerveja.

— Bem, eu tenho certeza de que não vou simplesmente deixá-


lo em qualquer lugar. Precisa ser o lugar certo. Então,
honestamente, não sei.

Michael era casado com sua namorada do colégio, Vanessa, e


morava a cerca de três quilômetros da casa de Wayne. Meu outro
irmão era solteiro e também morava na cidade.

Parei na casa de Michael para pegar suprimentos que eu


precisava para consertar algumas coisas na casa.

Ele abriu uma garrafa de Blue Moon. — Você vai morar naquela
casinha indefinidamente? Por que você não dorme aqui? Temos
um quarto de hóspedes.

— Carly não vai conseguir lidar com isso se algo acontecer no


meio da noite. Ele é muito grande.

— Como a tia lidou?

— Parece que Lorraine ligava para o vizinho de Abe quando as


coisas saíam do controle. Mas isso não é justo com ele.
Michael colocou um pretzel na boca. — Você nunca gostou
dessa garota Carly, certo?

Parecia estúpido agora pensar que eu já tive sentimentos


negativos em relação a Carly. A maior parte disso foi baseada na
minha impressão de seus sentimentos em relação a mim. Agora
que eu sabia que ela tinha visto aquele comentário idiota que
mandei para Brad – um que eu nem lembrava até ela mencionar,
não podia culpá-la por guardar rancor. Ela tinha todo o direito de
pensar que eu era um idiota. Mas ultimamente, eu estava gostando
dela.

— Pensei que não gostava quando Brad começou a sair com


ela. Mas depois de morar com ela na semana passada, percebo que
nunca a conheci de verdade. Na época, senti que Brad estava
apressando as coisas – você sabe, ficando noivo da primeira bunda
loira gostosa por quem ele se apaixonou na Califórnia.

— Bunda loira gostosa, hein? — Ele riu por trás de sua garrafa.
— O que você acha dela agora?

— Tudo bem. — Tomei um longo gole da minha cerveja. — Eu


ainda não a conheço muito bem. Mas você tem que respeitar
qualquer pessoa que venha de bom grado cuidar de um homem
adulto que mal conhece.

Ele sorriu. — E você acha que ela é gostosa...

Meus olhos se estreitaram. — O que importa?

— Não sei. Talvez vocês dois devam... você sabe... tentar fazer
o melhor enquanto estão presos na mesma casa?

Sua sugestão me irritou. — Que diabos você está insinuando?


Michael deu de ombros.

Meu irmão era louco. — Se você está insinuando o que acho que
está, você está louco. Eu nunca transaria com a garota do Brad.
— Dei um soco leve em seu braço. — Você é louco?

— Desde quando você tem moral, irmão?

Sua pergunta me ofendeu. Claro, eu não era bom em


relacionamentos e traí meu quinhão de namoradas no colégio.
Posso até ter roubado uma garota de um amigo ou dois no
passado. Mas Brad? Brad era diferente. Brad era da família.

Eu bati minha garrafa na mesa. — Existem alguns limites que


você não cruza. Mexer com a noiva de seu irmão de outra mãe é
um deles.

Michael examinou meu rosto. — Eu sei o que você está


pensando, Josh. Mas não seria a mesma situação do que o tio
Stone fez com o papai e a mamãe.

Um sentimento antigo e familiar de raiva se agitou dentro de


mim. Assim como sempre fiz ao mencionar a traição de minha
mãe, saí da conversa para não ter que lidar com isso.

Minha cadeira derrapou no chão quando me levantei. —


Obrigado pela cerveja. É melhor eu ir embora.

●●●

No caminho para casa, mandei uma mensagem para Carly.


Josh: Precisa de alguma coisa enquanto estou fora?

Os pontos se moveram por um tempo antes de sua resposta


chegar.

Carly: Eu preciso que você não me mate quando voltar.

O quê?

Josh: Eu não estava planejando isso. Existe uma razão para


eu querer?

Carly: Possivelmente.

Josh: Diga-me o que é.

Carly: É melhor que você veja, em vez de explicar por


mensagem.

Josh: Ótimo. Ok. Estarei em casa em alguns minutos.

Eu pensei que as coisas na casa estavam malucas do jeito que


estavam, mas, aparentemente, eu não tinha ideia de quão pior elas
poderiam ficar. Preocupava-me que a mensagem dela tivesse algo
a ver com Scottie, mas não. Quando entrei pela porta da casa de
Wayne, ele estava sentado no sofá como sempre, balançando para
frente e para trás ao som de sua música.

Então um cachorro gigantesco com a língua de fora veio


correndo em minha direção.

— Por que há um Goldendoodle nesta casa? — eu exigi quando


ele se levantou nas patas traseiras para me cumprimentar.

— Oh, essa é a raça? Eu não conseguia pensar no nome disso.

— Responda minha pergunta, Carly. Por que diabos tem um


cachorro aqui?

Ela sorriu sem jeito. — Sinceramente... não sei.

— Ok. Você vai precisar explicar um pouco melhor do que isso.

— Saí para verificar a correspondência e ele estava parado ao


lado da caixa de correio olhando para mim. Ele parecia perdido e
não tem coleira. Então ele me seguiu para dentro e eu dei a ele um
pouco de atum.

— Atum?

— É a única coisa que temos em casa que é segura para


cachorros, segundo a internet. — Ela se sentou à mesa da cozinha
e o cachorro de pelo castanho enferrujado colocou as patas
dianteiras em seu colo. Ela massageou atrás de suas orelhas. —
Eu tenho que chamar a polícia ou algo assim.

— Ou algo assim? Você ainda não ligou para eles?

— Ainda não. — Ela enterrou o nariz em seu pelo.

— Há quanto tempo ele está aqui?


— Cerca de uma hora.

Inalando lentamente para me acalmar, tentei argumentar com


ela. — Ok, a última coisa que precisamos nesta maldita casa é de
um cachorro, Carly. Eu não preciso dizer isso. Quase não há
espaço suficiente para nós três. Temos que entrar em contato com
eles agora.

Ela deu um sorriso culpado. — Vou cuidar disso.

Ela se mudou para a cozinha com o cachorro e eu a segui.

Puxei uma cadeira e me sentei. — Você não parece estar com


pressa.

Ela passou as mãos pelo do cachorro. — Ele é tão fofo e


bonitinho.

— E roubado... — eu corrigi.

Carly piscou. — Não fique bravo.

Porra.

Eu não sabia o que tinha estalado em mim nesse momento,


mas uma imagem de transar com ela passou pela minha mente.
De onde diabos isso veio?

Carly pensou que eu estava com raiva dela. E, aparentemente,


eu queria apoiá-la contra o balcão e transar com ela. Essa
constatação foi extremamente preocupante. Prefiro ficar bravo com
ela. Por que fui de irritado a extremamente excitado em um
milissegundo estava além de mim. Devia ter sido o maldito estresse
de estar aqui me atingindo.
Claro, Carly era gostosa. Não havia como negar isso. Mas ter
esse tipo de imagem vívida brotando – e ter gostado? Tudo por que
ela piscou para mim? Bilhete direto para o inferno.

O cachorro pulou no meu colo e começou a me lamber.

— Jesus... — eu murmurei, franzindo o rosto e os lábios,


tentando não deixá-lo me beijar do jeito que ele parecia querer. —
O hálito dele cheira como se ele tivesse comido a porra de um
atum.

Carly caiu na gargalhada. — Ele gosta de você.

Scottie veio atrás de mim logo depois e deu uma grande


cheirada no meu cabelo enquanto o Bafo de Atum continuava a
lamber meu rosto.

— Você é muito popular por aqui, Josh — ela brincou.

— Todo mundo gosta de mim nesta casa, menos você,


Pumpkin.

Ela riu. — Vou gostar de você se não reclamar do cachorro pelo


resto da noite.

— O resto da noite? Ele precisa sair antes disso!

Ela riu ainda mais enquanto o cachorro continuava a atacar


meu rosto com sua língua de atum.

Revirei os olhos e cravei minhas unhas no pelo do cachorro. —


Eu deveria ter ficado na casa do meu irmão.

●●●
Naquela noite, como esperado, o maldito cachorro ainda estava
conosco, sentado aos meus pés como se eu fosse seu dono por
vinte anos. Ele estava recolhendo restos do jantar que Carly havia
preparado. Pelo menos ela ligou para polícia, eu fiz questão de
observar enquanto ela fazia, mas eles não tinham recebido
nenhum relato de animal desaparecido ainda. Pensando bem, eu
não tinha nenhuma prova de que realmente havia alguém na outra
linha no telefonema que ela fez. Eu teria que confiar nela nisso.

Scottie havia comido seu frango mais cedo e já estava na cama


para dormir. Carly e eu havíamos optado por esse jantar
extraordinariamente tardio depois que ele foi dormir. Pelo menos
assim poderíamos comer em paz sem ter que nos preocupar com
o que ele estava fazendo.

Tínhamos acabado de comer a última massa sem glúten de


Carly. Eu tinha que admitir, Carly sabia cozinhar, mesmo que
afirmasse não ter muita experiência.

Eu limpei minha boca. — Isso foi muito bom – mesmo sem o


glúten.

— Qualquer coisa é melhor do que o peito de silicone frito,


certo? — Ela riu.

— Isso é verdade. — Eu ri. — Antes de vir para cá, não me


lembro da última vez que alguém me preparou uma refeição
caseira. Então essa parte foi legal.

— Essa é a única parte legal?

— Não é tão miserável com você quanto pensei que seria — eu


admiti.
— Ah, Josh. Você já sabe como encantar uma garota? — Ela
piscou os olhos como um desenho animado.

Dei de ombros. — O que posso dizer? Eu sou um cara


encantador.

Depois que me levantei para colocar meu prato na máquina de


lavar louça, abri uma das gavetas para pegar um pano de prato
para as panelas, mas encontrei dezenas de pequenos bloquinhos
de anotações. Todos tinham a mesma coisa impressa na parte
superior: Um agradecimento dos Monges de São Francisco.

Eu levantei um. — O que diabos são todos esses?

— Eu também vi isso. Acho que Wayne deve ter dado a eles


muitas doações ao longo dos anos.

— Jesus. — Eu ri. — Sem trocadilhos.

— Poderíamos escrever algo a cada minuto de cada dia e não


conseguiríamos fazer diferença com todos esses blocos de
anotações. Pensei em tirá-los para abrir espaço na gaveta, mas não
quero simplesmente jogá-los fora. Wayne obviamente os ganhou.
Então, devemos usá-los.

— Acho que sim — falei, jogando-o de volta na gaveta.

Ela suspirou enquanto se levantava e levava seu prato para a


pia. — Como foi a visita ao seu irmão mais cedo? Eu nunca
perguntei.

— Boa. Foi bom vê-lo. Já fazia um tempo.

— Ele tem filhos, certo?


— Ele e a esposa têm uma menina e um menino. Maya tem
onze anos e Max tem nove. Eles estavam na escola, então ainda
não os vi desde que voltei.

— Você disse que tem outro irmão?

— Sim. Ele é solteiro e também mora na cidade, não muito


longe do meu pai.

— Seu pai mora sozinho?

— Sim.

Tive a sensação de que ela estava ansiosa para que eu contasse


mais sobre minha família, ou seja, o que aconteceu com minha
mãe. Mas eu não estava com vontade de entrar nisso. Então mudei
de assunto virando o jogo contra ela.

— E sua família? Onde eles estão?

— É só minha mãe. Ela mora no Oregon com meu padrasto.

— Sem irmãos?

— Não.

— Em que parte do Oregon?

— Bend. Foi lá que eu cresci.

— Não era lá que ficava a última locadora Blockbuster?

— Sim. — Ela riu. — Muito boa.

— E quanto ao seu pai?

Carly hesitou por um momento. — Ele foi embora quando eu


tinha dez anos. Mudou-se para o Arizona. Casou-se novamente
com uma viúva e basicamente se tornou pai de seus filhos.
Uau.

Engoli. — Desculpe.

— Tudo bem. Eu me acostumei com a ideia de ele não estar na


minha vida. Nem todo mundo é permanente em sua vida, sabe?
Aprendi da maneira mais difícil, acho.

Deixei que suas palavras fossem absorvidas. — Essa é uma


lição que também aprendi. Algumas derrotas são muito mais
difíceis do que outras, no entanto. — Encostei-me no balcão,
organizando meus pensamentos. Parecia justo me abrir um pouco
em troca. — Na outra noite... interrompi nossa conversa quando
você me perguntou sobre minha mãe. Desculpe. Eu não queria
falar sobre isso, porque ainda é difícil para mim.

Ela assentiu, mas ficou em silêncio.

— Ela saiu de casa quando eu tinha onze anos – mudou-se para


algumas horas de distância e eu não a via muito. Ainda não vejo,
realmente, depois de todos esses anos.

A boca de Carly se curvou para baixo. Parecia que ela sentia


pena de mim, o que eu odiava pra caralho. Isso me lembrou de
como eu me sentia quando criança em eventos onde todas as
crianças tinham suas mães com elas, exceto eu. Nunca quis que
as pessoas sentissem pena de mim, principalmente porque nunca
quis chamar a atenção para o fato de minha mãe ter escolhido não
ficar. Teria sido diferente se ela estivesse morta e não tivesse
escolha. Mas para mim, não havia vergonha maior do que sua mãe
decidir conscientemente que a vida era melhor sem você.
— Ela simplesmente não queria ser mãe? — Carly finalmente
perguntou.

Era ainda mais complicado e confuso do que isso.

— Minha mãe teve um caso com o irmão do meu pai. Ela ainda
está com ele hoje. Meu pai a expulsou e ela não lutou exatamente
para permanecer em nossas vidas. Mantemos contato
ocasionalmente, superficialmente, mas não somos próximos. Ela é
egoísta e nunca fez um esforço para melhorar as coisas. — Eu
parei. — Também acho que ela fica longe porque sabe como é
doloroso para meu pai vê-la com meu tio Stone. Mas ela se recusou
a deixá-lo. Ela o escolheu em vez de nós. Essa é a versão muito
curta da história.

— Uau. Ok. — Ela assentiu com simpatia. — Agora tudo faz


mais sentido. Eu sei que você disse que Yvonne era como uma
segunda mãe para você.

— Não uma segunda mãe, minha única mãe. — Eu olhei para


baixo. — Enquanto ela estava viva.

— Desculpe. Brad nunca mencionou sua situação familiar.

— Ele provavelmente foi condicionado a não falar sobre isso,


porque foi assim que o treinei. — Olhei para ela. — Quando me
contou sobre a partida de seu pai, senti que precisava dizer algo.

— Entre meu pai e sua mãe... — Ela balançou a cabeça. —


Acho que encontramos uma terceira coisa que temos em comum.

— Você tem contado?

— Bem, há tão poucas... — Ela piscou. — Não é tão difícil de


acompanhar.
— O que são as outras duas, mesmo? — Eu arqueei minha
sobrancelha. — Não é o amor por abóbora.

Carly contou nos dedos. — Uma é a falta do Brad. A outra é o


sorvete de pistache.

— Ah. Sim — eu murmurei. — A um nunca vai mudar.

Parecia que ela ia dizer mais alguma coisa, mas já estava


cansado de falar sobre merdas tristes por enquanto.

— Bem, o jantar estava delicioso. Obrigado novamente.

— O molho era o favorito de Brad. Uma das poucas coisas que


sei cozinhar bem.

E lá vinha a maldita tristeza de novo. Uma pontada de culpa me


atingiu. Brad deveria ter sido o único a desfrutar dessa deliciosa
refeição com ela. Parecia errado sentir qualquer prazer com isso.
O momento parecia ter sido roubado. Assim como o maldito
cachorro olhando para mim com olhos arregalados. Roubado.

De repente, a culpa tornou-se insuportável. Já era tarde, mas


eu precisava de um pouco de ar e sair um pouco desta casa. Eu
precisaria levar o carro dela. Decidimos que, como apenas um de
nós saía de cada vez, não seria necessário alugar um.

Pegando meu telefone, fingi verificar a hora. — Na verdade,


tenho que sair um pouco. Scottie já está dormindo e deve ficar bem
por um tempo. Tudo bem se eu pegar o seu carro?

— Claro. — Ela inclinou a cabeça. — Para onde?

— Vou me encontrar com alguém que conheci online para


tomar uma bebida — menti. — Mas voltarei em algumas horas.
— Muito tarde?

— Sim.

Sua expressão caiu. — Ah. Ok... sem pressa. Divirta-se.

Quando entrei no carro e me afastei, não fazia ideia de para


onde estava indo. Tudo o que eu sabia era que estar de volta a
Woodsboro me fazia sentir coisas que eu não queria sentir, ‘coisas
que não sentia há algum tempo’ sobre minha mãe e sobre Brad.
Eu vinha para casa no Natal ao longo dos anos, mas essas viagens
eram sempre uma rápida estadia na casa de Michael e depois de
volta para Chicago. Dentro e fora. Mas agora, estar na antiga casa
de Brad sem ele me fazia sentir como um impostor. Sem mencionar
que o lembrete diário de que três das quatro pessoas da família
Longo já haviam partido era uma pílula difícil de engolir.

Precisando de uma maneira de abafar tudo um pouco, apenas


coloquei a música no máximo e dirigi, sem destino à vista.
Capítulo 7

CARLY

Era incrível como Josh e eu tínhamos aprendido a administrar


as coisas em apenas algumas semanas. Isso não queria dizer que
sempre nos dávamos bem; brigar parecia ser um de nossos
passatempos favoritos. Mas estávamos em um cronograma e em
um ritmo. Cuidava de Scottie o melhor que podia enquanto Josh
trabalhava durante o dia. Então ele assumia enquanto eu fazia
compras ou preparava o jantar à noite. Nem sempre era perfeito,
mas a casa e Scottie ainda estavam inteiros, então considerava
isso uma vitória.

O Goldendoodle que nomeei carinhosamente de Bubba ainda


estava conosco. Não havia pistas de onde ele tinha vindo e, para
desgosto de Josh, parecia que o cachorro continuaria morando
conosco.

Josh continuava a dormir todas as noites no colchão de ar que


comprou. Apesar de minhas muitas ofertas para revezar o quarto,
ele recusava.

Decidi aproveitar que Lauren, a terapeuta de Scottie, estava em


casa uma tarde e marquei um horário para retocar minhas raízes.
Embora eu tivesse cabelos loiros naturalmente escuros, em Los
Angeles, sempre tive mechas loiras mais claras.
O Nadine's Nest era certamente diferente do salão glamoroso
que eu frequentava em casa. Havia apenas duas cadeiras em todo
o lugar e, em vez de fotos de modelos de cabelo nas paredes, havia
alguns pôsteres de ícones dos anos 70 como Elvis e Cher. A dona
do salão, Nadine, administrava com a filha Bianca. Enquanto
Bianca fazia os destaques com papel alumínio, acabei contando a
ela toda a história de como vim parar em Woodsboro.

— Então você não tem muito tempo hoje — ela disse enquanto
pintava algumas das minhas mechas.

— Eu disse a Josh que estaria de volta às quatro.

Ela fez uma pausa. — Josh é o cara que está ajudando você a
cuidar do irmão do seu noivo?

— Sim.

— Qual é o sobrenome dele?

— Mathers.

— Ah... — Ela sorriu. — Mundo pequeno por aqui. Eu conheço


Josh Mathers.

Claro que conhecia. — Por que você fez essa cara?

— Ele namorou minha irmã no colégio. — Ela dobrou um


pedaço de papel alumínio. — Eles se formaram no mesmo ano.
Temos um apelido para ele.

— Qual?

— Dick4.

4 Significa pau, também utilizado como gíria para idiota.


Sim. Revirei os olhos. — Não muito original.

— Bem, ele tinha um pau grande e ele é um grande idiota.


Então é adequado.

Minha pele esquentou. — Ok. Eu não precisava saber disso.

— Ele traiu Nicole, na verdade. Mas isso foi há muito tempo.


Tenho certeza de que ele já mudou.

Eu já não tenho tanta. — Então você também deve ter conhecido


meu noivo, Brad Longo?

— Ah, sim. Ele era um cara doce. Fiquei muito triste em saber
que ele morreu. Não fiz a conexão quando você mencionou o irmão
com autismo, mas agora tudo faz sentido. Você era a noiva de
Brad. Uau. — Ela parou de trabalhar por um momento para olhar
para mim. — Mais uma vez, sinto muito por sua perda.

Eu odiava quando as pessoas diziam isso. Isso sempre me


trazia de volta à semana em que Brad morreu e ao terrível estado
de negação em que eu estava, um estado do qual provavelmente
ainda não havia saído totalmente.

— Obrigada.

Ela examinou meu rosto no espelho. — Como você está?

Meu peito parecia pesado. — Na maioria dos dias, vivo em


negação e tento me ocupar com trabalho ou responsabilidades.
Claro, não existe trabalho tradicional enquanto estou aqui. Estou
tirando um ano sabático disso.

— O que é que você faz?

— Eu sou maquiadora.
Seu rosto se iluminou. — Sério?

— Sim. Eu trabalho como freelancer em Los Angeles.


Principalmente em projetos de televisão e filmes.

— Isso vai soar totalmente aleatório, mas alguma chance de eu


convencê-la a fazer maquiagem de casamento aos sábados
enquanto você está aqui? Sei que não é tão empolgante quanto a
televisão, mas gostaria muito de uma ajuda. É tão difícil encontrar
alguém confiável que saiba o que está fazendo.

— Não tenho certeza. Depende se vale a pena o meu tempo.

— Seria quinhentos dólares por apenas algumas horas de


trabalho pela manhã. A maioria dos casamentos é à tarde, então
com certeza você terminaria em uma ou duas.

Seria bom ter um dinheirinho extra para gastar. — Deixe-me


falar com Josh e ver se ele estaria disposto a cuidar de Scottie nas
manhãs de sábado. Posso ligar de volta para você.

Ela sorriu. — Legal.

Após o atendimento, eu tinha uma hora de sobra antes de dizer


a Josh que voltaria.

Carly: Algum motivo para eu voltar correndo? Estou


pensando em fazer as unhas.

Josh: Sem pressa. Sem pressa.

Carly: Lauren ainda está aí?


Josh: Sim.

Ela provavelmente estava usando minha ausência para cravar


os dentes em Josh sem meus olhos curiosos.

Carly: Legal. Além disso, quando eu chegar em casa,


precisamos conversar. Eu tenho alguns nudes.

Josh: Muito interessante. Achei que você fosse um pouco


pudica para isso.

Carly: Hã?

Josh: Por acaso você está falando de nudes, nudes?

Eu rolei para cima para ver o que eu tinha escrito. Eca!

Carly: Não nudes. Notícias! Eu estava usando voz para o


texto.

Josh: Droga. Nudes soavam intrigantes.

●●●
Quando voltei para casa após o cabelereiro, uma cena
interessante estava acontecendo no sofá. Não só Scottie estava
sentado no colo de Josh durante uma chamada de Zoom, como o
cachorro estava transando com a perna de Josh.

Enquanto eu cobria minha boca de tanto rir, Josh apontou o


dedo para mim.

Quando entrei na cozinha, encontrei um pedaço de papel no


balcão de um dos blocos de notas de Wayne. Josh havia escrito
algo nele e usou um limão como peso de papel.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Quase usei este limão para o meu chá gelado. Mas então percebi
que era o último e não queria que você fedesse amanhã. Então,
talvez deva adicionar limões à próxima ida ao supermercado.

Revirei os olhos e ri, mas optei por não reconhecer o bilhete até
que Josh saísse de sua reunião de trabalho virtual.

Depois que ele encerrou a chamada – e escapou do sofá – ele


entrou na cozinha.

— Bem, aquela cena foi um colírio para os olhos — falei.

Ele suspirou. — Tenho que manter minha câmera desligada


permanentemente. Provavelmente deveria fechar as malditas
persianas também. Qualquer um que espiar esta casa terá um
show e tanto.
Peguei o bilhete que ele havia me deixado. — A propósito,
obrigada pela maneira desnecessária como você me disse que
precisávamos de limões.

— A qualquer momento. Achei que devíamos começar a usar


esses blocos de notas.

Quando o cachorro entrou, eu me abaixei para acariciá-lo. —


Bubba, você estava se divertindo um pouco demais. — Esfreguei
suas orelhas. — Seu danadinho.

Josh arqueou uma sobrancelha. — Você disse a ele que eu era


fácil, não é?

Eu ri. — Sim.

— Você procurou a polícia novamente ou secretamente espera


que eles nunca liguem para nós?

Esta última. — A última vez que ouvi, eles não tinham pistas,
mas vou verificar novamente.

— Claro que você vai. — A boca de Josh se abriu em um sorriso.


— Seu cabelo está bonito, a propósito.

Seu sorriso e elogio inesperado me aqueceram. O que estava


acontecendo comigo? Devia estar muito sozinha se eu estava
reagindo a Josh assim. Ele não tinha feito nada além de sorrir e
dizer que meu cabelo estava bonito, e eu estava virando uma pilha
de mingau. Um sorriso genuíno e um elogio dirigido a mim eram
coisas raras dele, no entanto.

— Obrigada — eu finalmente disse, limpando minha garganta.


— Encontrei uma velha amiga sua hoje.

— Quem?
— Minha cabeleireira. O nome dela é Bianca DiLoreto. Você
namorou a irmã dela no colégio.

— Oh. — Ele coçou o queixo. — A irmã de Nicole. Dificilmente


uma amiga, mas sim, tudo bem.

— De qualquer forma, ela me ofereceu um emprego como


maquiadora para casamentos nas manhãs de sábado. Essa era a
minha notícia.

— Seu nude. — Ele piscou.

— Claro. — Eu ri. — De qualquer forma, não queria aceitar sem


verificar com você, já que você teria que ficar com Scottie enquanto
eu estiver fora.

Ele não hesitou. — Isso não é problema algum.

— Mesmo?

— Você achou que eu teria um problema com isso? Seria bom


para você sair. E por que não ganhar algum dinheiro extra?

— Obrigada. — Balancei a cabeça. — Concordo.

— É bom para a sua sanidade também.

Hmm... surpreendeu-me o fato de que um homem que eu


originalmente achava que me deixaria louca estivesse preocupado
com minha sanidade. Fiquei olhando para seu rosto ridiculamente
perfeito por muito tempo enquanto refletia sobre isso.

— O quê? — ele perguntou.

— Eu continuo esperando por algo inevitável vindo de você —


eu admiti.

— Que diabos você está falando?


— Você tem sido paciente, bastante respeitoso, além de me dar
uma bronca, e bom para mim de modo geral. Não há muito o que
odiar até agora.

— Você está procurando razões para me odiar?

— De jeito nenhum. Esse processo é muito mais fácil se


estivermos nos dando bem.

— Talvez você tenha tirado conclusões erradas sobre mim


desde o início. Você já pensou nisso?

— Talvez eu tenha... sobre certas coisas. Embora, a verdade é


que estamos morando juntos há algumas semanas e nos dando
muito bem. Mas, ao mesmo tempo, ainda não sinto que conheço
você. Quem somos vivendo esta situação e quem somos fora daqui
são provavelmente duas coisas diferentes.

— Conhecer um ao outro não é uma exigência do trabalho,


Carly. Mas não tenho nada a esconder. Você pode me perguntar o
que quiser.

Perguntar a ele o que eu quiser. Esse era um convite que eu não


podia recusar. Respirei fundo e soltei a pergunta que me consumia
há anos.

— O que havia no meu rosto que incomodava você?

Os olhos de Josh se arregalaram, então caíram no chão. — Você


foi direto para a jugular aí, eu vejo.

Meu sangue estava bombeando. — Você acha que eu sou feia


ou algo assim? É por isso que você disse aquilo?

— Não — ele respondeu imediatamente. — Claro que não.


— Isso não é algo que as pessoas costumam dizer – que o rosto
de alguém as incomoda.

— Você não deveria ter levado para o lado pessoal.

— Como alguém não leva isso para o lado pessoal? É a porra


da minha cara! — gritei.

— Não significou nada, Carly, por mais difícil que seja acreditar
nisso. Eu só estava sendo um idiota. Eu gostava de criticar o Brad
sobre muitas coisas. Ele tinha acabado de começar a namorar você
e fiz um comentário idiota. Não há muito mais do que isso.

— Mas você ainda não respondeu à minha pergunta. Esse foi


um insulto muito específico. Houve um motivo para você ter
pensado em dizer isso. Só não quer admitir. — Senti minhas
bochechas queimarem de frustração. — Acabou a conversa.

Suas orelhas estavam vermelhas quando ele finalmente me


olhou nos olhos. — Quer que eu minta e diga que foi porque pensei
que você era feia só para dar uma resposta?

Coloquei minhas mãos em meus quadris. — Eu não posso


mudar meu rosto, você sabe.

— Jesus, Carly. Não era sobre o seu rosto.

Arrepios percorreram minha espinha quando ele se aproximou.

— Não era sobre o meu rosto? Então por que diabos você
mencionou meu rosto? Agora você está me confundindo.

Josh soltou um longo suspiro e olhou para o teto. — Quando


Brad me mostrou sua foto, você me lembrou de alguém de quem
não queria ser lembrado. Essa foi a única razão pela qual eu disse
o que disse.
Eu estreitei meus olhos. — Quem?

Você poderia ouvir um alfinete cair até que ele finalmente falou.

— Você me lembrou minha mãe naquela foto.

Eu pisquei. — Sua mãe?

— Você nem se parece muito com ela, mas havia algo sobre sua
expressão naquela foto – seu rosto. É por isso que eu disse aquilo.
Nunca expliquei isso a Brad. Ele apenas pensou que eu estava
sendo um idiota, tenho certeza. Ele nunca me perguntou por que
eu disse.

Minha boca caiu. — Bem, isso é um pouco... fodido.

Ele cruzou os braços. — Você acha?

Eu não sabia o que dizer. Eu o lembrei de sua mãe? Aquela que


traiu seu pai com seu tio. Aquela que o abandonou. Pelo menos
seu comentário fazia um pouco mais de sentido agora. Não saber
o que ele quis dizer me incomodou por muito tempo.

— Bem, obrigada por sua honestidade.

— Eu não poderia permitir que você continuasse pensando que


havia algo errado com seu rosto — disse ele. — Isso teria sido mais
fodido do que eu sou.

— Você não está fodido porque tem um trauma da sua mãe. E


você não precisa me dizer mais nada. Já respondeu a minha
pergunta. Podemos deixar o assunto de lado.

Ele exalou e começou a andar. — Não há muito o que contar.


Nossa mãe decidiu há muito tempo que sua vida era melhor sem
o marido e os filhos. Estar de volta a Woodsboro nunca foi fácil
para mim, mas especialmente agora que Brad se foi. Este lugar e
os Longo sempre foram minha distração da minha vida doméstica.
Sempre me senti querido aqui.

— Seu pai não lidou bem com as coisas, imagino?

Ele parou de andar e se virou para mim. — Ele fez o melhor que
pôde, mas estava sempre deprimido. Ele está melhor agora. Mas
naquela época, meus irmãos e eu tínhamos que nos virar sozinhos
na maior parte do tempo, enquanto cuidávamos dele. É por isso
que eu estava sempre aqui. Era minha fuga, minha maneira de
lidar com tudo – fingindo ser parte de outra família. Depois que
Yvonne morreu, foi um tipo de perda totalmente diferente. Foi pior
do que a partida de minha mãe, para ser sincero.

— Cada cantinho dessa casa deve ter uma lembrança para


você, né?

Ele olhou em volta e sussurrou: — Sim.

Quando seus olhos encontraram os meus novamente,


perguntei: — Eu ainda lembro você dela?

Josh balançou a cabeça. — Não. Foi apenas uma primeira


impressão estranha com base em uma foto. Você não se parece
com ela, e você não é nada como ela, acredite em mim. Você se
importa mais com aquele maldito cachorro do que minha mãe
jamais se importou conosco. E você é ótima com Scottie, mesmo
que metade do tempo não saiba o que está fazendo. Você dá o seu
melhor.

Eu ri. — Está dizendo que eu mereço um prêmio booby?


Josh me olhou de soslaio. — O que diabos é um prêmio de
booby?

— Você nunca ouviu falar disso?

— Não, mas parece interessante. — Ele estalou os dedos. —


Espere, aquele peito de silicone que fritamos era o seu prêmio?

Eu bufei. — Eu pensei que você fosse mais inteligente. Um


prêmio de booby não é realmente sobre peitos, Mathers.

— Desculpe. Só conheço um tipo de booby... muito bem, devo


acrescentar.

— É um termo para o prêmio dado ao último colocado. Como


um prêmio de consolação. Prêmio bobão.

— Ah. Bem, então sim, você definitivamente merece um prêmio.


— Ele piscou. — A pelo esforço, no entanto.

— Bem, obrigada. — Coloquei uma mecha do meu cabelo atrás


da orelha. — Eu sei que você está tentando, também. Nós
empataríamos no prêmio de booby por aqui.

Nós apenas nos olhamos por alguns momentos. — É a minha


vez de perguntar uma coisa — ele disse.

— Uh-oh. — Meu pulso disparou. — Ok.

— Por que você surtava sempre que Brad vinha me visitar em


Chicago? Era só por causa daquela mensagem ou era algo mais?

— Eu não confiava em você de jeito nenhum — expliquei. — Ele


sempre dizia que você o colocava em apuros na juventude, e eu
temia que isso se estendesse à vida adulta. Ele me contou sobre
todas as mulheres que você namorou, como ele nunca pensou que
você fosse se acomodar.

— O quanto você acha que eu sou ruim? — Josh riu. — Eu


admito, gostava de festejar. E eu gosto de mulheres. Mas nunca
tentei desviá-lo do caminho quando percebi o quanto ele estava
comprometido. No final, respeitava os sentimentos dele por você.

— Eu acredito em você agora. Mas isso não foi fácil de ver na


época.

Josh encostou-se ao balcão. — Honestamente? Viver no limite


tornou-se um pouco cansativo para mim, especialmente desde que
Brad morreu. Talvez seja depressão, mas nada mais me excita.
Nada me estimula. — Seus olhos perfuram os meus. — Eu gostaria
de poder encontrar algo que fizesse isso.

Senti meu rosto esquentar. — Como foi aquele encontro que


você teve na outra noite?

— Oh. — Josh desviou o olhar. — Não... deu certo.

— Uma pena. — Suspirei. — Talvez não seja tanto que nada


tire você do sério, mas mais o fato de que você está envelhecendo,
querendo coisas diferentes.

Ele encolheu os ombros. — Não sei o que quero. Esse sempre


foi o meu problema, mas principalmente agora que tudo na vida
parece trivial. — Ele olhou para minhas unhas e sorriu. — Você
cortou suas garras.

— Você estava certo. Eu não poderia limpar a bunda dele com


elas.
Josh caiu na gargalhada. — As coisas com as quais você nunca
pensou que teria que se preocupar, hein?

— Na verdade, falando de coisas com as quais você nunca


pensou que teria que se preocupar... eu tenho um favor a pedir.

— O quê?

— Você consideraria deixar o Scottie tomar banho com você de


agora em diante – programado, é claro? Eu dar banho nele não
está dando certo. Ele não gosta de ficar parado, e fico cheia de
água. Acho que seria mais tranquilo se ele pudesse ficar no
chuveiro com alguém. Ele claramente prefere isso, e suspeito que
seja o que ele estava acostumado a fazer. Obviamente, não é
apropriado que eu tome banho com ele.

— Tenho certeza de que falo por ele quando digo que acho que
ele adoraria isso. — Josh sorriu maliciosamente.

Eu podia me sentir corando. — Sim, bem, eu não...

— Você prefere que ele arranque meu pau.

— Basicamente, sim.

Josh olhou para mim e suspirou. — Ok. Vou levá-lo comigo.


Mas eu preciso, tipo, dez minutos para mim lá primeiro. Então vou
gritar e você pode levá-lo. Parece bom?

— Sim. Claro.

Minha imaginação correu solta sobre como Josh poderia


precisar daqueles dez minutos sozinho no chuveiro. Brad sempre
costumava se masturbar no chuveiro. Dada a situação em que
vivíamos e a falta de privacidade, presumi que o chuveiro deveria
ser o local onde Josh se masturbava. Senti um formigamento
indesejado entre as pernas ao pensar nisso, mais uma vez um
lembrete de que eu precisava me acalmar. Por alguma razão,
achava aquele visual tão excitante – achava-o tão excitante – o que
era bastante perturbador. Era extremamente inadequado ter
pensamentos sexuais sobre o melhor amigo de Brad. Mas
ultimamente eu estava cada vez mais consciente de quanto tempo
fazia que não era tocada por um homem. Se Josh fosse outra
pessoa, eu poderia ter me aproveitado de nossa situação de vida.
Mas como isso nunca aconteceria, tinha que controlar esses
pensamentos sexuais.

●●●

Depois do jantar naquela noite, Josh me ajudou com a louça


antes de se sentar com Scottie enquanto eu tomava banho.

— O banheiro está livre — anunciei quando saí, completamente


vestida, com as pontas do meu cabelo pingando na minha
camiseta.

— Alguma ideia de por que ele ouve as músicas de Elton John


tocadas ao contrário? — perguntou Josh.

Passei a mão pelos meus fios molhados. — Ele tem um


aplicativo que grava músicas e as reproduz ao contrário. É uma
loucura toda a merda que ele sabe fazer, mesmo que não fale com
a gente. — Suspirei. — Mas ele definitivamente ama Elton John.

— Demorei um pouco para perceber que ele estava ouvindo


“Can You Feel the Love Tonight?” — Josh se levantou. — De
qualquer forma, na verdade vou malhar antes de dar banho nele,
se você não se importa.

— Eu não sabia que tínhamos uma academia em casa —


provoquei.

— Só vou fazer o que puder no espaço que temos. Eu preciso


fazer alguma coisa. Frequento uma academia lá em casa. Estou
começando a me sentir mal.

Isso era cômico, considerando que ele parecia longe de estar


mal. O homem era a perfeição física e seu corpo era sólido como
uma rocha. Mas imaginava que quando você estava acostumado a
malhar e tinha que parar, você se sentia assim.

— Por que você não se matricula em uma academia em


Woodsboro? — sugeri.

— A mais próxima fica a uns trinta minutos daqui, mas talvez


eu precise, dependendo de quanto tempo ficaremos. Por enquanto,
vou apenas improvisar.

Ele estava certo. Nenhum de nós sabia quanto tempo


ficaríamos presos em Woodsboro, então precisávamos estabelecer
rotinas aqui. Fiz uma anotação mental para acompanhar o
processo de colocação de Scottie em uma lista de espera esta
semana. Josh tinha feito algumas ligações, mas até agora ninguém
respondeu. Estávamos tão ocupados nos ajustando à vida aqui
que ainda não tínhamos tido a chance de ser muito proativos com
isso.

Scottie foi para seu quarto e eu me ocupei na cozinha enquanto


Josh se exercitava. Ele começou com abdominais e depois passou
para flexões. Como a cozinha dava para a sala de estar, eu tinha
um lugar na primeira fila para assistir à sua rotina de exercícios.
O mesmo acontecia com Bubba, que havia se colocado no canto
da sala de estar. Poderia jurar que o cachorro estava babando. Não
podia culpá-lo, Bubba.

Quando Josh começou a levantar a mesa de centro para cima


e para baixo, usando-a como peso, fiquei realmente
impressionada. A forma de seus músculos mudava, dependendo
do movimento. As ondulações de seu estômago ficavam ainda mais
definidas quando ele se esforçava. Uma fina linha de pelos descia
até o V na parte inferior do abdômen. E depois havia o brilho do
suor sobre sua pele impecável... seu corpo bronzeado era como
uma obra de arte por trás de hipotéticas linhas aveludadas que eu
nunca teria o direito de cruzar. E sem falar sobre os sutis
grunhidos que tornavam muito fácil imaginar como ele poderia
soar durante o sexo.

Quando terminou, Josh pegou uma toalha para enxugar o suor


de seu corpo. Minha língua zumbiu enquanto minha boca se abriu
ligeiramente, os músculos entre minhas pernas despertando ainda
mais. Eu poderia ter apreciado aquela visão um pouco demais.

— Posso ajudar?

Sua pergunta me tirou do meu transe, mas levou alguns


segundos para registrar por que ele me perguntou isso. Ele tinha
me pegado olhando. Meu estômago caiu.

— Não — eu disse enquanto balançava a cabeça e fingia estar


ocupada na cozinha.

Filho da puta.
Depois disso, desapareci no meu quarto e não falei com ele pelo
resto da noite.
Capítulo 8

CARLY

Alguns dias depois, eu ainda não havia superado aquele


momento terrivelmente constrangedor na outra noite. Por mais
embaraçoso que tivesse sido, decidi contar a Christina durante
nossa ligação enquanto dirigia para casa depois de meu primeiro
trabalho oficial como maquiadora no salão.

Ela estava tentando me fazer sentir melhor sobre o assunto. —


Quando ele disse ‘Posso ajudar?’ talvez ele estivesse apenas
perguntando se você precisava de alguma coisa?

Isso era risível. — Eu precisava. — Balancei minha cabeça. —


Não. Foi definitivamente a sua maneira de me castigar por olhar
fixamente. Josh é um filho da puta arrogante.

— E daí se ele estava brincando com você?

— E daí? É mortificante, é isso.

— Ainda acho que você pode estar interpretando mal por que
ele disse isso.

— Não. Acho que o lado idiota dele que eu pensei que tinha
entrado em hibernação voltou. Ele está cheio de si. Ele sabe que é
bonito. Ele me pegou olhando, e ele decidiu me desafiar. Bem
quando eu estava começando a achar que ele era legal.

— Você disse alguma coisa para ele?


— Nenhum de nós mencionou isso novamente. Eu apenas fingi
que não aconteceu, fingi deixar para lá. Conversei um pouco com
ele na manhã seguinte. E os últimos dias têm sido normais.

— Bem, então já acabou.

— Para ele, talvez. Não para mim. Ainda me sinto burra por
encará-lo daquele jeito, e ainda mais burra por baixar a guarda o
suficiente para ser pega.

— Você é apenas humana. — Ela fez uma pausa. — Você


precisa sair de casa. Fez alguma amiga aí com quem pudesse sair?

— Bem, fiz maquiagens esta manhã para um casamento e


conversei com uma das damas de honra, Lisa. Ela diz que devemos
sair para beber ou jantar alguma noite. Ela também é nova na
cidade. Então, acho que vou aceitar.

— Perfeito. Faça isso o quanto antes, por favor. — Ela suspirou.


— Para constar, não culpo você por cobiçar Josh. Eu só posso
imaginar que visão ele todo suado.

— Você não está ajudando.

— O homem parece que sabe foder, não é?

— Adeus, Christina! — Eu desliguei.

Mas sim, ele parecia.

●●●

Achei que tinha chegado ao auge do embaraço na outra noite,


mas estava errada.
Josh estava sentado à mesa, casualmente tomando café
quando entrei em casa depois de voltar do salão. O cheiro de
cigarro emanava dele. Ele não cheirava assim desde o primeiro dia
em que chegou.

— Onde está Scottie? — perguntei.

— No quarto dele — ele respondeu sem fazer contato visual.

Eu disse o óbvio. — Você cheira a cigarro.

— Deve ser a lenha. — Ele levou a caneca à boca.

— Besteira. O fogão não cheira a fumo.

— Sim. Cedi e fumei um. Problema. — Ele apontou para a


porta. — Eu fiz isso do lado de fora, enquanto ficava de olho em
Scottie pela janela.

— Você estava indo tão bem. O que aconteceu?

Ele ainda não estava olhando para mim e, em vez disso, olhou
para a frente. — Apenas humano, eu acho.

Então algo na frente dele na mesa chamou minha atenção:


pedaços de páginas rasgadas empilhadas sobre... meu diário.

Uma onda de adrenalina passou por mim. — Por que você está
com isso?

— Aparentemente é o seu diário.

— Tenho plena consciência disso. — Meu coração começou a


bater forte. — Você estava bisbilhotando no meu quarto?

Ele atirou adagas em mim. — Pense, Carly. Dos dois caras


nesta casa, quem é o mais provável de ter saqueado seu quarto?
— Você deveria estar cuidando dele enquanto eu estava no
salão — gritei.

— Deus me livre de mijar em paz. Não é ruim o suficiente eu


estar tomando banho com ele agora? Ficando com minhas bolas
puxadas?

Eu queria rir, mas esse momento estava longe de ser


engraçado.

— Scottie arrancou essas páginas?

— O caderno é laranja brilhante, como a capa do iPad.


Provavelmente chamou sua atenção. A gaveta ao lado da sua cama
estava aberta, então ele deve ter entrado lá. Presumo que seja onde
você o guardou. Admito que eu o deixei ficar no seu quarto, mas
às vezes você também. Fui ver como ele estava, para ter certeza de
que não estava fazendo nada de errado, e encontrei essas páginas
espalhadas. — Uma veia estalou em seu pescoço.

Josh estava com raiva. Por quê? Eu deveria ter sido a zangada.

— Você leu?

— Por acaso, só vi o que havia nas páginas que ele rasgou. Não
li mais nada depois que descobri o que diabos era.

Isso era mau. Começando a suar, perguntei: — Mas quanto você


viu?

Ele se levantou de seu assento e lentamente se aproximou de


mim. A cada passo que ele dava em minha direção, eu recuava.
Quando não podíamos ir mais longe, ele colocou os braços de cada
lado de mim, apoiando as mãos contra a parede. E esqueci como
respirar.
Temor. Excitação. Embaraço. Você podia escolher, eu estava
sentindo agora. Cada emoção me atingiu de uma vez.

Sua respiração roçou meu rosto. — Quanto eu realmente vi? —


Ele fez uma pausa. — O suficiente para saber que você pensa que
sou um porco do mal.

Eca. Não. Agora sua raiva fazia sentido.

Quando ele se afastou, fui até as páginas rasgadas sobre a


mesa e folheei-as.

— É a última, para referência — observou.

Li o que escrevi na outra noite.

Estou mortificada agora. Eu estava olhando para Josh enquanto


ele estava malhando, e ele me pegou. O porco do mal me flagrou!
Mas pior, que tipo de mulher verifica o melhor amigo de seu noivo
morto? Devo precisar transar. Não é sobre Josh. Eu sei. Ele é um
homem muito atraente, mas não é sobre ele. Estou só. E acho que
de repente está me atingindo. Mas eu me sinto tão culpada.

Olhei para o papel, incapaz de olhá-lo nos olhos.

— Você se sente culpada por me achar atraente?

Minha primeira inclinação foi negar que eu o achava atraente,


mas escrevi isso. Não havia como retirá-lo.

Eu finalmente olhei para cima. — É claro que me sinto culpada.


É errado.
— Não há nada de errado com a atração física. É natural e
automática. — Ele passou a mão pelo cabelo. — Mas o que está
errado... é o jeito que envergonhei você por olhar para mim. Eu só
estava brincando com você. — Seus olhos queimaram nos meus.
— Eu gostei do jeito que você estava olhando para mim, na
verdade. Então também estou um pouco fodido, viu? Também
gostei de criticar e provocar, então talvez eu seja um pouco idiota
– e um porco, como você diz. — Ele suspirou. — Desculpe se
envergonhei você. E você não é a única que se sente culpada
ultimamente. — Ele balançou sua cabeça. — Na maioria dos dias
eu me sinto culpado apenas por estar vivo, porra.

— É por isso que você fumou – porque você viu o que escrevi.
Isso chateou você.

— Talvez — ele disse enquanto voltava para seu assento. — Isso


me fez perceber o quanto você pensa que eu sou uma pessoa
horrível. Mas fiquei chateado comigo mesmo antes mesmo de ver
o que você escreveu, porque você tem agido de forma estranha
comigo, mesmo que pensasse que estava fingindo que não havia
nada de errado.

Tanto para o meu potencial de atuação. — Apesar do que escrevi


naquele diário no calor do meu constrangimento, não acho você
horrível. Nem acho que você é um porco do mal. Mas você tem seus
momentos. Nós dois os temos ultimamente. — Soltei um longo
suspiro, sentindo-me no limite. — Se eu fumasse, poderia fumar
um agora também. — Puxei uma cadeira e me sentei em frente a
ele. — Estive trancada dentro desta casa por muito tempo. O que
me lembra que vou fazer planos para sair uma noite em breve com
essa mulher que conheci hoje, para uma noite de garotas.

— Olhe para você, ganhando uma vida. — Ele sorriu.

— Tentando.

Ele assentiu. — Fico feliz em cuidar de Scottie enquanto você


sai... assim que eu voltar.

— Voltar? — Meus olhos se arregalaram. — Aonde você está


indo?

— Eu ia contar quando você chegasse em casa hoje. Tenho que


voltar para Chicago por alguns dias.

Meus músculos se contraíram. — Ah... aconteceu alguma


coisa?

— Tenho que me encontrar com um novo cliente. Meu trabalho


é noventa por cento remoto, mas ocasionalmente sou obrigado a ir
pessoalmente. Deve ser apenas por alguns dias. Estarei de volta
antes do próximo fim de semana. E então você pode sair.

— Ok... bem, obrigada por me avisar.

Era engraçado pensar que houve um tempo em que pensei que


poderia fazer isso sozinha. Agora eu não sabia como sobreviveria
alguns dias sem Josh. Eu nunca poderia admitir isso para ele, no
entanto.

— Você vai ficar bem — disse ele. — Na pior das hipóteses, se


algo acontecer, Abe está bem ao lado.

Acenando com a mão, fingi confiança. — Sim. Eu vou ficar


absolutamente bem. Sem problemas.
Josh e eu não dissemos mais nada sobre o registro do diário
naquela noite. Mas eu não seria capaz de renunciar a isso tão
facilmente. Provavelmente viria a me assombrar quando o Sr. Hyde
decidisse fazer uma aparição novamente algum dia.

●●●

Na manhã seguinte, Josh já havia saído para o aeroporto


quando acordei. Scottie ainda estava dormindo e a casa estava
estranhamente silenciosa. Seria assim se Josh não tivesse
aparecido naquele primeiro dia? Ao mesmo tempo, isso era o que
eu queria – ser deixada aqui sozinha para cuidar de Scottie, para
cometer meus erros sem uma audiência. Mas agora eu
absolutamente odiava. Ele tinha acabado de sair e eu já estava
contando os minutos até Josh voltar de Chicago.

Quando fui pegar uma caneca, notei um bilhete no balcão.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

É estranho que uma das minhas comidas favoritas seja bacon?


Você sabe, considerando que eu sou um porco e tudo. Isso faz de
mim um canibal? Brincadeirinha, Carly. (Sério.) Vejo você em alguns
dias.

Quando abri a gaveta para pegar uma pastilha de café, havia


outro bilhete.
Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Você disse a Bubba que idiota eu fui, não disse? Ele me deixou
uma surpresa na cozinha esta manhã, e pisei nela. Ele nunca fez
isso. Você o treinou bem, Pumpkin. Brincadeirinha de novo. Não
sobre a merda do cachorro, no entanto. Infelizmente, isso realmente
aconteceu.

Enquanto preparava meu café, sorri através do meu bocejo.


Mas quando abri a geladeira para pegar o creme, encontrei outro
bilhete colado na caixa.

Este quase fez meu coração parar.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Seu rosto é lindo. Desculpe-me por ter feito você duvidar disso.
Capítulo 9

JOSH

Depois de outro dia agitado no escritório, fui ao Piccadilly Pub


no centro de Chicago com alguns amigos do trabalho. Minha
mente continuou vagando para Woodsboro, porém, e
especificamente o que estava acontecendo em casa com Carly.

Na noite antes de voar para cá, ouvi o som de algo estranho


vindo de seu quarto depois que ela foi para a cama. Era Brad. A
voz dele. A princípio, pensei que estava tendo alucinações. Mas
então percebi que Carly estava ouvindo uma de suas antigas
mensagens de voz sem parar. Coloquei meu ouvido contra a porta
para ouvir e quase desabei. Isso me atingiu no estômago, e pensei
nisso um pouco mais desde então.

Ela e eu tivemos uma troca bastante intensa sobre o diário


também. A maneira como sua respiração engatou quando eu a
apoiei contra a parede não passou despercebida por mim. Então,
sim, imaginava que havia várias razões pelas quais eu não fui
capaz de parar de pensar naquela noite.

Eu me perguntei como ela estava aguentando depois dos


últimos dias sozinha com Scottie. Enviei-lhe uma mensagem do
bar.

Josh: Está tudo bem por aí?


Ela respondeu imediatamente.

Carly: Bem, acabei de tomar banho com Scottie. Então é


isso.

Ah, merda.

Josh: Hum... como diabos você conseguiu isso?

Carly: Ele está tão acostumado a tomar banho com você


que eu não consigo colocá-lo lá a menos que eu vá com ele.
Coloquei meu biquíni.

Porra. O visual que me deu.

Josh: Maneira de improvisar, Pumpkin.

Carly: Pelo menos eu tenho uma solução caso você não


volte.

Josh: Se você planeja começar a usar um biquíni em casa,


com certeza voltarei.
Eu imediatamente me arrependi disso. Era muito paquerador,
mesmo que estivesse apenas brincando. O álcool estava me
deixando corajoso.

Josh: Brincadeira, claro. Mas essa foi sua maneira de


verificar se eu voltaria?

Carly: Não consigo imaginar que você queira depois de


sentir o gostinho da liberdade novamente.

Essa era a coisa fodida. Eu sentia falta de estar em casa com


Carly e Scottie – e o maldito cachorro também. Aquilo estava
começando a parecer um lar, enquanto isso – estar em um bar frio
– parecia estranho. Essa sensação de saudade de algum lugar era
definitivamente nova para mim.

Josh: Volto amanhã.

Carly: Legal.

Josh: Então você pode ter sua noite na cidade. Embora,


apenas um aviso, Woodsboro não é tão emocionante.
Carly: Apenas estar fora será emocionante. Vou mandar
uma mensagem para minha nova amiga Lisa para confirmar.
Provavelmente será sábado à noite.

Josh: Sim. Em qualquer momento.

Carly: Como é voltar para Chicago?

Josh: Um pouco estranho. Mas estou gostando da minha


cama.

Carly: Aposto que sim!

Josh: Como está o cachorro?

Carly: Ainda aqui.

Josh: Droga, esperava que ele tivesse ido embora quando


eu voltasse. ;-)

Carly: Você não quis dizer isso.

Josh: Você está certa. Eu não quis. Estou me acostumando


a tê-lo por perto. Nunca pensei que diria isso.
Carly: Ele sente sua falta.

Josh: Ele sente falta da minha perna.

Carly: LOL

Josh: A única ação que estou tendo ultimamente. Então


talvez eu devesse apenas apreciá-lo.

Os três pontos se moveram por um tempo extraordinariamente


longo.

Carly: Nenhuma ação em Chicago? Estou surpresa.

Josh: O que você acha, ao sair do avião já teria uma mulher


pronta?

Carly: Talvez seja assim que imaginei sua vida.

Josh: Eu tive minha cota de diversão ao longo dos anos.


Mas não é tão selvagem agora quanto você imagina.
Carly: Você disse que as coisas mudaram depois que Brad
morreu. Você perdeu o interesse ou algo assim?

Minha cabeça girou um pouco. Eu já tinha bebido demais, mas


digitei as palavras mesmo assim.

Josh: Tudo mudou depois que Brad morreu, Pumpkin.


Tudo.

Carlly: Eu sei.

Josh: Também comecei a perceber que a diversão que


sempre pensei que estava tendo provavelmente era apenas
minha maneira de mascarar outros problemas. Mas isso é uma
discussão para outro dia.

Carly: Você é muito mais humano do que eu pensava,


Mathers.

Josh: O que eu era antes, um primata?

Josh: Espera... um porco? ;-)


Carly: Não, LOL. Mas é bom saber que existe alguém que
entende o que estou passando.

Meu peito apertou.

Josh: Esta é uma conversa muito profunda para se ter no


meio de um bar lotado. Eu também estou um pouco bêbado,
então provavelmente deveria parar de enviar mensagens antes
de começar a contar segredos ou algo assim.

Carly: Você não está dirigindo, está?

Josh: Não. Estou de carona.

Carly: Ok, bom. Tome cuidado.

Josh: Sim, mãe.

Carly: Isso é um pouco perturbador, sabe, depois do que


você me disse sobre minha foto lembrar você dela.

Merda.

Josh: Eu não quis dizer isso.


Carlly: Ok. ☺

Josh: Diga ao Scottie que mandei um oi.

Carly: Eu direi.

— Você está mandando mensagem para uma mulher? — meu


amigo perguntou.

Eu vacilei. — Não. Por que você pensa isso?

— Você estava sorrindo. Então apenas assumi.

Eu coloquei meu telefone virado para baixo, um pouco


decepcionado comigo mesmo. — Eu estava?

— Sim.

Jordan era meu colega de trabalho e amigo mais próximo em


Chicago. Eu ainda tinha que contar a ele sobre Carly estar em
Woodsboro comigo e nossa situação de vida. Ele pensou que eu
estava cuidando de Scottie sozinho, que era o plano original.

— Eu estava apenas verificando as coisas em Woodsboro — eu


disse.

— Não acredito que você vai ficar lá.

Tomei um gole da minha bebida. — Não é tão ruim.

— Mesmo? Você estava com medo de ir...

— Eu estava. Mas está tudo bem.


— Quem está com o cara agora enquanto você está aqui? A tia
dele?

Eu não queria entrar nisso. — É uma longa história.

Ele empurrou. — Eu tenho tempo.

— A noiva de Brad está com ele, na verdade. Ela está morando


conosco e me ajudando.

— Uau. — Seus olhos praticamente saltaram das órbitas. —


Como isso aconteceu?

— Nós dois tivemos a mesma ideia e achamos que éramos as


pessoas certas para o trabalho. Chegamos à mesma hora e
dissemos ao outro para ir embora. Nenhum de nós se mexeu.
Então, nós dois percebemos como era difícil e decidimos ficar e
ajudar um ao outro.

Jordan ainda estava processando. — Espere... você está


morando com ela?

— Sim. — Tomei outro gole da minha bebida.

— Esta é a garota que você nunca gostou, certo?

Minha garganta estava amarga. — Eu nunca a conheci de


verdade.

— E agora?

Movi meu canudo no gelo. — Eu acho que ela é... ótima, para
ser honesto. Temos nossos momentos em que brigamos, mas eu
meio que gosto deles. Faz o tempo passar mais rápido.

— Isso é uma loucura. Você tem me escondido alguma coisa.

— Não é tão louco assim. É assim que as coisas funcionam.


— O jeito que você estava sorrindo quando estava mandando
uma mensagem para ela... Tem certeza de que não há nada
acontecendo aí?

Sentindo uma onda de energia nervosa, balancei a cabeça. —


Não, claro que não. Não é desse jeito.

— Eu não julgaria você se algo estivesse acontecendo, você


sabe.

— Não há — eu rebati.

— Você não está atraído por ela?

— Isso é irrelevante. Eu não poderia fazer isso com Brad mesmo


se estivesse.

— Brad não está mais aqui, Josh.

O tapa de sua declaração machucou meu peito.

— Ele está. — Apontei para o meu coração. — Ele está aqui. —


Apontei para a minha cabeça. — E aqui. Então, não.

Eu me senti suando. Os pensamentos que tive desde que


peguei Carly me olhando com cobiça correram desenfreados em
minha mente nos últimos dias. Assim como a culpa. Já era ruim o
suficiente ter acordado encharcado e duro ontem à noite depois de
um sonho vívido onde eu estava com raiva transando com ela por
trás enquanto puxava seus longos cabelos loiros. Eu sabia que não
agiria por meus impulsos, mas os pensamentos estavam lá – um
exemplo perfeito de porque eu me ofereci para vir para cá, embora
tecnicamente não precisasse. Eu poderia ter saído disso. Mas
precisava de um fôlego da tensão.
— Respeito seus sentimentos em relação ao Brad — disse
Jordan. — Mas estou curioso – quero dizer, se você está morando
com ela e há alguma atração mútua, deve ser difícil. Viver no meio
do mato com uma mulher gostosa? Você não pode me dizer que o
limite não fica um pouco embaçado.

Se eu conhecia bem Jordan, ele continuaria insistindo até


conseguir tirar tudo de mim. Então, decidi facilitar o trabalho dele.

— Tivemos uma coisa estranha acontecendo que foi


inteiramente minha culpa. — Eu triturei um pouco de gelo.

— O que aconteceu?

Expliquei o incidente do diário e o que o motivou.

— Ela deve pensar que você é o maior idiota. — Ele riu.

Eu ri. — Ela pensou isso por muito tempo. Então nada de novo.
Acho que só confirmei.

— Ela não quer querer você... — Ele sorriu. — Mas ela quer.

— Carly não me quer. Acredite em mim. Ela só me acha


atraente. Isso não quer dizer nada.

— Claro. Diga isso a si mesmo. — Ele riu. — Não consigo


imaginar como as coisas devem ter ficado tensas depois disso.

— Foi bem antes de eu vir para cá. Acho que nós dois
precisávamos de uma pausa, e é por isso que essa viagem veio na
hora certa. Mesmo que seja apenas por alguns dias.

— Bem, então... — Ele colocou a mão no meu ombro. —


Devemos aproveitar ao máximo seu tempo aqui. Vamos para o
clube.
Jordan usaria qualquer desculpa para manter a festa. O Ivy
Club era seu lugar preferido para uma bebida antes de dormir. Eu
já senti como se tivesse bebido demais, mas...

— Sim. Claro. Por que não? É minha última noite.

Uma vez que chegamos ao clube, continuei a me sentir mal


enquanto pegava outra bebida e fingia estar interessado em uma
mulher que começou uma conversa comigo. Mas eu sabia que iria
para casa sozinho esta noite. E tudo bem.

Na volta de carro, notei que havia perdido outra mensagem de


Carly.

Carly: Boa noite, Josh.

Eu me senti mal por ela provavelmente ter pensado que eu


tinha escolhido ignorá-la. Mas não queria acordá-la mandando
uma mensagem no meio da noite.

Olhei para o telefone por vários segundos, pensando no fato de


que ela se preocupou em me enviar uma mensagem de boa noite.
Mensagens de boa noite não eram algo que eu recebia de ninguém
regularmente. Enviar uma mensagem para alguém antes de
dormir significava que você era uma das últimas coisas em que
eles estavam pensando. Isso me fez sentir... indigno. Mas também
bom – quente por dentro de uma forma que não estava
acostumado. Eu sabia que não poderíamos ser mais do que
amigos, mas me deliciei com esse sentimento por um momento.
Por mais desconfortável que essa situação me deixasse, mal podia
esperar para voltar a Woodsboro.
Capítulo 10

JOSH

Carly praticamente pulou do sofá quando entrei em casa na


noite seguinte.

— Josh! — Ela correu para me cumprimentar. — Você voltou


mais cedo.

— Sim. — Deixei cair minha mala de viagem no chão. — As


coisas no trabalho terminaram antes do previsto, então peguei um
voo mais cedo.

Ela tinha um sorriso enorme no rosto. — Não estou feliz que


você esteja aqui para me substituir ou algo assim.

— De jeito nenhum. — Eu pisquei e me inclinei para acariciar


o cachorro, que estava circulando ao meu redor para chamar a
atenção. — Ei, Buba. Seu brinquedinho está de volta.

Então fui para o sofá e me sentei, envolvendo meu braço em


torno de Scottie. Ele não teve muita reação quando entrei.

— Você sentiu minha falta, amigo?

Uma voz automática do iPad de Scottie disse: — Quero tomar


banho. — Ele pressionou o ícone de banho em seu aplicativo de
quadro de fotos.

Carly riu. — Eu acho que ele sente falta de seus banhos


masculinos nus.
— Ah, aposto que ele vai sentir mais falta dos seus biquínis.

Carly corou e colocou uma mecha do cabelo atrás da orelha. —


Estou fazendo macarrão sem glúten e aquele molho que você gosta.
Está com fome?

Porra. Eu estava com fome. Sua pergunta me lembrou do sonho


que tive ontem à noite sobre transar com ela enquanto ela me
chamava de porco do mal e puxava meu cabelo. E, claro, isso
apenas confirmou o fato de que eu era um porco do mal por ter
esse tipo de fantasia com a mulher de Brad. Eu me senti como um
saco de lixo.

Limpei minha garganta. — Estou morrendo de fome, na


verdade. Obrigado. Não comi nada além de sanduíches de
manteiga de amendoim e álcool nos últimos dias.

— Parece... nutritivo. — Ela riu.

Eu a encarei por um momento. Carly tinha molho em sua


camisa branca e seu cabelo estava todo bagunçado, mas ela ainda
parecia incrivelmente linda – de alguma forma ainda mais bonita
do que antes de eu partir. Por um momento, imaginei um mundo
onde tinha acabado de chegar em casa para esta mulher,
erguendo-a no balcão e beijando-a pra caramba. Um mundo, claro,
onde ela também não era o amor da vida do meu melhor amigo.

Precisava tirar esses malditos pensamentos da cabeça, Josh.

Havia uma maneira infalível que eu conhecia para mudar meus


pensamentos – trazer Brad à tona.

— Você estava ouvindo Brad na outra noite... antes de eu sair.


— Engoli em seco.
Carly ficou imóvel. — Como você sabia?

— Eu ouvi a voz dele vindo do seu quarto.

Suas bochechas ficaram vermelhas. — Era uma mensagem de


voz.

— Eu sei. Descobri isso. — Cocei as orelhas do cachorro. —


Você faz muito isso?

— Às vezes, isso me traz conforto. Ele sempre me apoiou. E


ouvir sua voz me lembra como era ser amada. Sinto-me muito feliz
por ter essas mensagens de voz.

— Eu não tenho nenhuma mensagem de voz dele salva. Não sei


por quê. Nós sempre trocamos mensagens de texto, eu acho. Mas
foi bom ouvi-lo novamente.

Ela se aproximou e agarrou minha manga. — Você pode ouvi-


las sempre que quiser.

Eu sorri tristemente. — Obrigado.

Carly parecia prestes a chorar. Ela limpou a garganta. — Então,


como é que foi a viagem?

— Ótima. Mas, como eu disse antes, parecia um pouco


estranho estar lá, como se fosse um peixe fora d'água em minha
própria vida.

— Tenho certeza de que me sentiria da mesma forma se


estivesse na Califórnia agora.

— Era estranho ter todo esse tempo livre em minhas mãos –


mesmo com o trabalho. Eu não era responsável por mais ninguém.
Eu não sabia o que fazer comigo mesmo.
— Eu posso imaginar.

— Eu meio que senti falta de estar de volta aqui — admiti.

Ela inclinou a cabeça. — Sério...

— Sim. Sério — eu disse.

— Bem, este é um lugar excitante — ela brincou.

Uma batida forte interrompeu nossa conversa.

Quando abri a porta, havia um policial parado ali.

Minhas mãos ficaram tensas. — Posso ajudar?

— Estou procurando por Carly Garber?

Mas que diabos?

— Sou eu — ela disse por trás.

— Oficial Allan Spencer da Polícia de Woodsboro. Parece que


finalmente localizamos o dono do cachorro que você mantém aqui.

Ah, merda.

— O quê? — A expressão de Carly caiu. — Tem certeza?

— Sim. Parece que ele pertence a uma moradora local com


demência. Seu nome é Heidi Donahue. Ela mora na Wilson Road.
Ela o levou para passear no meio da noite e não conseguia se
lembrar do que aconteceu. Sua filha está procurando por ele desde
então. A Sra. Donahue aparentemente não disse a ela que o
cachorro havia sumido até recentemente, por isso o atraso. — Ele
nos mostrou uma foto.
Carly pegou a foto dele e a examinou. — Uau. Tudo bem. Sim.
É definitivamente Bubba. — Ela olhou para o oficial. — Qual é o
nome verdadeiro dele? Você sabe?

— Hank.

Eu sufoquei o riso. — Hank?

Carly olhou para mim. Eu não poderia dizer se ela estava


prestes a rir ou chorar. — Hank — ela sussurrou.

— Sinto muito, Carly — murmurei.

— Você tem que levá-lo de volta agora? — ela perguntou ao


oficial.

— Sinto muito, senhora, mas sim.

Carly foi até o sofá onde Bubba estava sentado. Ela enterrou o
rosto em seu pelo. — Você tem que ir para casa, Bub-Hank. Eu não
sabia que esse era o seu nome. Desculpe.

— Vou deixar você se despedir — disse o policial. — Estarei lá


fora.

Lágrimas encheram os olhos de Carly enquanto ela envolvia o


cachorro com os braços. Seria pedir demais ao maldito universo
que deixasse essa mulher ficar com a única coisa que parecia fazê-
la mais feliz? Não que devêssemos abrigar um cachorro
desaparecido, mas Carly trabalhou muito por aqui para nos deixar
felizes. Ela merecia a alegria que esse cachorro tinha trazido no
pouco tempo que ele esteve aqui. Ela não tinha perdido o suficiente
em sua vida? Agora ela tinha que se despedir dele também.

Era oficial. Estar aqui estava me transformando em um idiota.


Ela fungou. — Diga adeus, Scottie. Bubba tem que ir.

Scottie balançou para frente e para trás, aparentemente alheio


à situação. Ele levou o iPad ao ouvido e colocou uma música no
volume máximo. Provavelmente era uma coisa boa não se importar
de um jeito ou de outro em circunstâncias tristes. Às vezes, eu o
invejava.

Sentei-me no sofá do outro lado do cão. — Tchau, Bubba. —


Massageando atrás de suas orelhas, acrescentei: — Vou sentir
falta de suas massagens especiais nas pernas.

O cachorro se inclinou para lamber meu nariz. Seu hálito


cheirava a biscoitos.

— Leve-o para fora, Josh — disse Carly, levantando-se de


repente.

Eu fiquei de pé. — Tem certeza?

— Sim. — Ela andou enquanto enxugava os olhos. — Não posso


me despedir de novo.

Eu balancei a cabeça. — Ok.

Depois de entregar Bubba ao policial do lado de fora, observei


enquanto ele colocava o cachorro no banco de trás do carro. Bubba
– Hank – olhou para mim da janela. Ele parecia indefeso. O maldito
cachorro estava fazendo meus olhos lacrimejarem agora. Caramba.
Acenei para ele e observei o carro sair pela estrada. Estar de volta
em Woodsboro estava me transformando em um maricas.

Quando voltei para casa, Carly estava no sofá ao lado de


Scottie, parecendo taciturna.
Ela se levantou e eu me aproximei, colocando meus braços em
volta dela e trazendo-a para perto.

Eu falei em seu cabelo. — Sinto muito.

Meu peito se apertou enquanto eu lutava contra a sensação que


abraçá-la provocava em mim. Eu não tinha pensado nisso. Parecia
a coisa natural a fazer. Mas a maneira como meu corpo reagiu
apenas confirmou meus piores medos.

Ela olhou para mim. — Não acredito que ele se foi.

Eu a encarei. — Sempre teremos boas lembranças de Bubba-


Hank. Quero dizer, o que diabos teríamos feito com ele quando
tivéssemos que sair?

— Eu estava planejando levá-lo de volta para a Califórnia


comigo — disse ela.

Porra, ela era tão doce. Eu deveria saber. — Você seria uma boa
mãe de cachorro, Pumpkin. — Eu sorri. — Por que você não
arranja um cachorro quando voltar?

— Eu provavelmente vou. — Respirando fundo, Carly olhou


para mim. — Você não cheira a cigarro. Acabei de perceber isso.

— Resisti o tempo todo em que estive fora.

Ela sorriu. — Ótimo.

Meus olhos caíram para seus lábios, e eu os forcei de volta.


Você não tem direito a isso, Josh. Tire seus malditos olhos dela.

Ela limpou a garganta. — Devemos comer.

— Sim. — Eu balancei a cabeça. — Vamos comer.


Sentamos Scottie com seu frango e sua sobremesa
perfeitamente alinhada e nos juntamos a ele à mesa. Carly nos
serviu dois pratos cheios de macarrão sem glúten com molho,
enquanto eu servia duas taças de vinho tinto.

Depois de terminarmos o jantar, peguei nossos pratos vazios


antes que ela tivesse a chance de fazê-lo e os levei até a pia.

— Você já tomou banho hoje? — perguntei a ela.

— Por quê? — Ela ergueu as sobrancelhas. — Estou fedendo?

— Não. — Eu ri. — Eu só estava me perguntando se você queria


tomar um em paz.

— Na verdade, estava na esperança de que eu pudesse terminar


sozinha esta noite.

— Porque você não vai relaxar e tomar um longo banho. Ele e


eu iremos depois.

— Isso soa divino. — Seus olhos reviraram.

Meu pau se contraiu. Porra. A maneira como ela fez isso com
os olhos... faça parar.

— Vá. — Eu a enxotei. Por favor, vá. — Eu cuido da limpeza.

Ela sorriu. — Tem certeza?

— Sim.

Depois que Carly desapareceu no banheiro, notei que ela havia


anotado algo em um bloco de notas ao lado da pia.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco


Orgulhosa de você por não fumar.

Sorrindo, fui até Scottie, que ainda estava sentado à mesa. —


Você deve ter gostado daqueles banhos de biquíni quando eu não
estava, hein, seu diabinho? Provavelmente desejando que vá
embora de novo, não é? — Balancei minha cabeça. — Brad teria
nossa cabeça em uma estaca se soubesse sobre algumas das
coisas que estão acontecendo por aqui ultimamente.

Scottie gritou, como se concordasse, embora eu tivesse certeza


de que ele estava reagindo ao seu biscoito.

Depois que enchi a máquina de lavar louça, limpei as panelas


à mão e limpei as bancadas, Carly saiu do banheiro.

Joguei o pano de prato no ombro. — Isso foi rápido.

— Foi realmente bom. Obrigada. — Ela passou a mão pelo


cabelo molhado. — Você ainda pode cuidar dele amanhã à noite?

Eu quase havia me esquecido dos planos dela de sair com


aquela nova amiga. — Com certeza. Você sabe para onde está
indo?

Ela inclinou a cabeça. — The Bar?

Ótimo. Aquele lugar era um mercado de carne. Balancei a


cabeça. — Eu conheço bem o lugar. Não há muitas opções em
Woodsboro. Mas eles têm boa música ao vivo.

— E esse é mesmo o nome – The Bar?

— Sim. Bem original, não é?

Carly levaria cinco minutos para ser abordada naquele lugar.


— Você deveria sair também... uma noite na próxima semana
ou quando quiser — ela sugeriu.

— Talvez. Faz um tempo que não saio com meus irmãos.

— Imagino que sair em Woodsboro seja muito diferente para


você do que para mim, — disse ela. — Deve ser estranho encontrar
todas essas pessoas que você conhecia quando...

Eu balancei a cabeça. — Essa é uma das razões pelas quais


ainda não o fiz. Não estou com pressa.

— Eu posso entender isso. — Ela suspirou. — Se encontro


alguém que conheço no mercado, viro para o outro lado em vez de
ir em sua direção.

— Isso é o que você gostaria de ter feito quando eu apareci aqui


no primeiro dia, aposto.

— Deus, sim.

Eu ri.

Depois de levar Scottie ao banheiro comigo para tomar banho,


ajudei-o a se vestir antes de colocar minhas roupas de dormir. Eu
definitivamente sentiria falta da minha cama em Chicago esta
noite.

Quando Scottie e eu voltamos para a sala, Carly estava sentada


no sofá com os pés para cima. Seus dedos delicados foram
pintados de vermelho. Meus olhos demoraram neles um pouco
demais.

— Você assistiu mais algum dos DVDs enquanto eu estava


fora? — perguntei.
— Não. Eu esperei por você. — Ela se sentou. — Você quer
assistir a um deles agora?

— Claro. — Sentei-me ao lado de Scottie, que imediatamente


começou a jogar em seu iPad.

Carly colocou outro DVD no aparelho. Era um vídeo de quando


Brad estava em casa no Natal. Parecia ter cerca de cinco anos, se
eu tivesse que adivinhar – provavelmente logo antes de ele
conhecer Carly. Alguém estava filmando Wayne e Brad assistindo
Scottie abrir seus presentes de Natal.

Para minha surpresa, Scottie se levantou de seu assento no


sofá e caminhou até a televisão. Ele devia ter reconhecido a voz de
Wayne. Eu pensei que ele não estava prestando atenção, mas eu
estava errado. Ele colocou as palmas das mãos espalmadas contra
a tela e gentilmente pressionou a bochecha contra o vidro.

Carly e eu paramos. Ficamos sem palavras. Havia tanto dentro


de Scottie que implorava para sair. Tanto que não sabíamos sobre
o que ele poderia compreender. Observá-lo se conectar com o que
estava na tela foi triste e bonito. Eu não sabia se ele acreditava que
eles estavam voltando, ou talvez pensasse que eles estavam
literalmente dentro da televisão. De qualquer maneira, foi muito
doloroso.

Carly mudou-se para o local ao meu lado com lágrimas nos


olhos. — Ele não entende por que eles foram embora. Ele não
entende a morte. — Ela soltou um suspiro trêmulo. — Josh, e se
ele achar que eles o abandonaram?

Porra. Meus olhos estavam começando a lacrimejar agora.


Estendi minha mão e ela a pegou.
— Não há nada mais importante do que isso – estarmos aqui
para ele agora — disse ela.

Minha voz estava tensa. — Eu sei.

Quando o DVD terminou, Scottie voltou para o sofá e voltou a


tocar em seu aparelho como se nada tivesse acontecido.

Mas Carly e eu não superamos isso tão facilmente. Ficamos em


silêncio por um longo tempo antes de eu dizer: — Não sei sobre
você, mas realmente gostaria de um pouco de sorvete de pistache
agora.

— Entre isso e perder Bubba-Hank... — ela disparou,


balançando a cabeça. — Vou pegar algumas tigelas.

— Traga o pote inteiro — eu gritei atrás dela.


Capítulo 11

CARLY

No sábado, finalmente conseguimos que a terapeuta de Scottie,


Lauren, levasse-nos ao lar coletivo de sua agência na cidade.
Lorraine concordou em cuidar de Scottie por algumas horas
enquanto estávamos fora, e eu estava me sentindo bem.
Estávamos fazendo um progresso real. Se acabássemos gostando
do lugar, tomaríamos providências para colocar Scottie na lista de
espera. Não havia muitas opções em Woodsboro e arredores, na
verdade apenas dois lugares em potencial, e planejamos visitar os
dois. Nós discutimos que o maior requisito para a eventual casa de
Scottie era que ela precisava ser local, para que Lorraine pudesse
estar por perto se algo acontecesse.

Depois que chegamos, Lauren nos apresentou a Julie Wilks, a


gerente do lugar. Julie então nos levou ao redor, sala por sala. Ela
explicou que todos os inquilinos tinham seus próprios quartos e
tinham funcionários 24 horas no local.

Ela apontou para uma grande sala central com uma televisão
montada na parede. — Este é o principal espaço de convivência.
Embora na maioria das vezes os homens que moram aqui prefiram
ficar em seus próprios quartos, nós os reunimos por algumas
horas todas as noites.
— A maioria dos homens que vivem aqui tem autismo? —
perguntei.

— No momento, temos seis inquilinos e cinco deles têm


autismo.

— Entendo.

Josh coçou o queixo. — Quantas pessoas estão na equipe?

— Há três pessoas de plantão a qualquer momento, 24 horas


por dia, em turnos diferentes.

— Qual é o tempo médio de espera para conseguir um quarto


aqui? — ele perguntou.

— Isso é difícil de dizer. Geralmente, só temos vagas se um dos


inquilinos se tornar problemático e precisar ser transferido, ou se
a família de alguém se mudar para fora do Estado, garantindo a
transferência do filho para outra casa em outro lugar.

Meu sangue gelou. — Então isso poderia literalmente levar


anos...

— Poderia. — Ela deu de ombros. — Mas nunca se sabe.

Josh e eu olhamos um para o outro, com os olhos arregalados.

Julie então nos levou para os fundos. De modo geral, o lugar


parecia bem cuidado e agradável. A propriedade era bastante
segura, com um quintal cercado e fechaduras triplas nas portas
externas. Com certeza haveria mais espaço aqui para Scottie do
que em casa. Só havia um problema: não era uma casa. E eu não
tinha ideia de como ele reagiria ao viver em um ambiente
totalmente novo pela primeira vez na vida.
— Eu tenho uma pergunta — falei quando entramos no prédio.
— Nosso cara tem algumas restrições alimentares muito
específicas. Por exemplo, há apenas um tipo de frango caseiro que
ele está disposto a comer no jantar. Haveria alguém aqui que
poderia fazer isso por ele, se dermos instruções?

Ela riu e balançou a cabeça. — Oh, não. Desculpe. O cozinheiro


já tem bastante desafio para encontrar algo que atenda às
necessidades de todos. Não há como ele fazer uma refeição extra
para apenas uma pessoa. Scottie teria que comer o que fosse
oferecido a ele.

A testa de Josh enrugou. — E se ele não comer?

— Suponho que ele comeria eventualmente, quando estivesse


com fome o suficiente.

— Dê-nos licença por um momento... — Josh disse enquanto


me puxava de lado. Ele baixou a voz. — Isso não vai funcionar...
por alguns motivos.

Eu balancei a cabeça. — Eu sei. A coisa do frango, e eles


disseram que têm uma política estrita de apagar as luzes sem
eletrônicos depois de um certo horário da noite. Scottie precisa de
seus dispositivos.

Josh passou a mão pelo cabelo. — Só me preocupo que não


tenhamos escolha. Todos esses lugares podem funcionar da
mesma maneira.

Depois de um momento, Julie e Lauren se juntaram a nós no


corredor.

— Está tudo bem? — Julie perguntou.


— Deixe-me perguntar uma coisa... — Eu me virei para ela. —
Se conseguíssemos arranjar alguém para fazer o frango especial
do Scottie e trazê-lo aqui, tudo bem?

Ela fez uma pausa. — Não vejo por que não. De vez em quando,
membros da família deixam comida.

Deixei escapar um suspiro de alívio. — Ok. Pelo menos é uma


opção.

Certamente teríamos que conversar com Lorraine sobre isso, já


que ela seria a única pessoa local a fazê-lo quando Josh e eu
voltássemos para nossas respectivas cidades. Se fosse preciso, eu
o faria e o enviaria em gelo seco.

Terminado o tour, Julie nos levou de volta à porta da frente.

— Bem, obrigada pelo seu tempo. Nós realmente apreciamos o


tour.

— Foi um prazer. — Ela sorriu. — Minha recomendação é


entrar na lista de espera o quanto antes. Talvez tenhamos uma
vaga mais cedo do que o esperado.

— Vamos considerar isso — disse Josh. — Obrigado.

Enquanto estávamos na calçada em frente ao local, Lauren


olhou entre nós. — O que vocês acharam?

— É uma opção — eu disse, olhando para a casa de tijolos. —


Eu não sei se alguma coisa vai parecer exatamente certa. Nenhum
lugar vai ser a casa dele.

— Ele vai se acostumar com isso — ela nos assegurou. — Todos


eles se acostumam.
Pfft. Fácil para você dizer. Visitar este lugar me fez sentir
sobrecarregada.

Josh deve ter notado minha expressão enquanto eu olhava para


a rua.

Ele colocou a mão no meu braço. — Você está bem?

— Sim — eu murmurei. — Obrigada por nos trazer aqui — eu


disse a Lauren.

— Sem problemas. Se precisarem de ajuda com a papelada da


lista de espera, avisem.

— Eu tenho o aplicativo. — Eu balancei a cabeça. — Obrigada.

Josh e eu tínhamos começado a caminhar para o meu carro


quando a voz de Lauren veio de trás.

— Ei, Josh? Posso falar com você um segundo antes de sair?

Eu congelei. Isso era sobre o quê?

Ele se virou e voltou para ela. — Claro. E aí?

Eu continuei em direção ao meu veículo. Afinal, ela não me


chamou. E eu suspeitava que sabia o porquê, dada a forma como
ela estava flertando com Josh hoje.

Engolindo o nó na garganta, fiquei ao lado do carro, esperando


por ele.

Quando a conversa rápida terminou, Josh correu de volta para


mim. — Quer que eu dirija? — ele perguntou.

Entreguei-lhe as chaves. — Claro.


Entrando pelo lado do passageiro, abstive-me de perguntar
qualquer coisa sobre sua conversa. E ele não ofereceu nada
enquanto nos afastávamos em silêncio.

Cerca de cinco minutos depois de voltarmos para casa, a


curiosidade estava me matando.

Eu cedi. — Então, sobre o que Lauren queria falar com você?

Ele olhou com um sorriso. — Você estava intencionalmente


tentando não perguntar?

— Você estava intencionalmente tentando me incomodar por


não dizer nada?

— Talvez. — Ele riu e esperou vários segundos. — Ela me


perguntou se eu queria sair alguma noite esta semana.

Eu sabia. — Uau. — Minha temperatura subiu. — Bem ousado.

— Ela é definitivamente confiante.

Eu soprei uma respiração em meu cabelo. — O que você disse?


— Meu coração acelerou em antecipação.

— Eu disse a ela que esta semana não era boa para mim, mas
talvez em outra hora.

— Então você mentiu. O que há de errado com esta semana?

— Na verdade, esta semana não é boa para mim. Acabei de


voltar de Chicago e não estou com humor para me preparar
psicologicamente para um encontro.

— Então você consideraria sair com ela... — eu disse


amargamente.
Ele encolheu os ombros. — Ela é fofa, sim. Não há química fora
do comum nem nada, mas eu não descartaria isso.

— Mas isso não é um conflito de interesses? Porque ela


trabalha com Scottie?

— Acho que pode ser. Não tenho certeza de quem estaria


policiando isso. — Ele me olhou novamente. — A menos que fosse
você.

— Por que eu faria isso? — Eu bufei.

— Então acho que não há problema...

— Certo — eu murmurei, irritada que meu sangue estava


fervendo agora. Eu não me permitiria analisar minha reação, no
entanto. Eu precisava mudar de assunto antes que ele tivesse a
chance de sentir que eu estava me sentindo confusa. — Então, se
você tivesse que classificar aquela casa, o que você daria? —
perguntei.

— C+ antes de dizer que Lorraine poderia deixar o frango. B-


depois. Você?

— Eu daria um B- também. Nós definitivamente deveríamos


olhar o outro lugar da cidade. Embora, acho que se ambos forem
aceitáveis, vai depender de qual deles tem a primeira vaga.

Depois que voltamos para casa, Lorraine voltou para a sua.


Scottie parecia bastante calmo; isso poderia não ter acontecido se
ele soubesse o que Josh e eu estávamos fazendo hoje.

Pelo resto do dia, a tensão que começou com Lauren


convidando Josh para sair só pareceu aumentar – por minha
causa.
Josh correu até o supermercado para comprar algumas coisas
de que precisávamos, e não consegui esconder meu mau humor
quando ele me mandou uma mensagem com uma pergunta
simples.

Josh: Não há mais Muff5 sem glúten. Você quer o normal?

Carly: Muffins, você quer dizer?

Josh: Sim, claro. Você geralmente entende meu senso de


humor.

Carly: Não é de se admirar que você tenha um muff em


mente hoje.

Josh: O que isso quer dizer?

Carly: Você provavelmente deveria comprar preservativos


também, muffmaster.

Josh: Alguém está um pouco chateada com a perspectiva


de eu ter um muff?

5
Aqui eles fazem um trocadilho com a palavra Muff que também significa divertimento.
Carly: Por que eu ficaria irritada?

Josh: Eu não sei. Você me diz. Você tem estado estranha a


tarde toda, desde aquela coisa com Lauren.

Carly: Não estou chateada com o seu muff. Supere a si


mesmo. Meu humor não tem nada a ver com isso.

Josh: Ok. Tanto faz. Mas você não respondeu à minha


pergunta sobre o muffin.

Carlly: Que era?

Josh: Se você queria que eu pegasse o tipo normal, já que


eles não têm sem glúten.

Carly: Ah. Não. Não se preocupe.

Josh: Sem muff para você. Entendi.

Jogando meu telefone de lado, pensei por um tempo antes de


começar a me preparar para sair com Lisa.
Enquanto eu me trocava e fazia meu cabelo e maquiagem,
continuei a me sentir incrivelmente irritada por Lauren ter
convidado Josh para sair, e ainda mais irritada comigo mesma por
ser incapaz de esconder que isso me chateava. Nada como o bom
e velho ciúme para trazer à tona sentimentos impróprios. Só havia
uma solução, que era ter uma maldita vida fora desta casa, que
era exatamente o que eu planejava fazer esta noite.
Capítulo 12

CARLY

The Bar era um lugar bem badalado, com música ao vivo,


muitas opções de comida gordurosa no cardápio e decoração
rústica em madeira. As janelas davam uma visão do tráfego na
Rodovia 106 nas proximidades. Estava barulhento e lotado quando
chegamos. Felizmente, encontramos uma mesa.

Lisa falou acima do ruído ambiente. — Na verdade, está muito


mais lotado do que da última vez que estive aqui.

Brinquei com meu canudo. — Oh, eu não sabia que você tinha
estado aqui antes.

— Apenas uma vez, mas sim.

Lisa me disse que recentemente se mudou de Minneapolis para


Woodsboro para ficar mais perto de sua irmã, que se mudou para
cá com seu noivo alguns anos antes. Embora inicialmente Lisa
tenha encarado a mudança como uma aventura, ela estava
achando a vida aqui bastante chata até agora. Definitivamente não
era o melhor lugar para estar se você fosse solteiro.

Ela era legal o suficiente, e eu deveria estar emocionada por ter


uma noite fora, mas minha mente vagou durante a nossa
conversa. Adoraria poder dizer que estava refletindo sobre
preocupações legítimas, como onde Scottie iria parar ou até que
ponto eu seria capaz de esticar minha renda limitada e ainda ter
uma vida social. Mas não. Eu ainda estava pensando sobre o fato
de que Lauren tinha convidado Josh para sair e ele estava
pensando em ir. Continuei tentando dizer a mim mesma que isso
me incomodava porque ela era a terapeuta de Scottie, mas eu sabia
que não. Aquela dor desconfortável no meu peito era ciúme. Eu
não tinha experimentado isso desde que era adolescente. Por que
agora? Por que eu estava com ciúme de um homem com quem
nunca poderia estar?

— Ele é bonitinho... — Lisa interrompeu meus pensamentos.

— Quem?

Ela inclinou a cabeça em direção ao bar. — Aquele cara ali.

Eu me virei para encontrar um homem de cabelos escuros


sentado sozinho em um dos bancos. Ele usava jeans, uma camisa
xadrez com mangas arregaçadas e botas de construção.

— Eu acho.

Alguns minutos depois, virei-me para olhar novamente e


descobri que outro cara de cabelo escuro havia se juntado a ele.
Eles pareciam estar em seus vinte e tantos ou trinta e poucos anos.

— Acho que acabei de vê-los olhando para cá — Lisa sussurrou,


com os olhos brilhando.

Eu escolhi ignorar isso, já que não estava com disposição para


nada além de uma noite casual com uma amiga. Mas suas
expectativas pareciam um pouco diferentes.

Felizmente, nossa comida chegou como uma distração, e Lisa


e eu conversamos enquanto dividíamos um prato de nachos com
nossas bebidas.
Mas antes de terminarmos, os dois homens do bar se
aproximaram.

— Esses lugares estão ocupados? — um deles perguntou.

— De jeito nenhum. — Lisa sorriu graciosamente.

Eles então se serviram dos outros dois assentos da nossa mesa.

— Como estão vocês, senhoras, esta noite? — um deles


perguntou.

— Nada mal? — respondi.

Lisa me deu um olhar compreensivo. Ela estava bastante


animada com essa reviravolta nos acontecimentos.

Aquele com as botas de construção, que Lisa dissera ser fofo,


sentou-se ao meu lado. Ele estendeu a mão. — Eu sou Neil.

Eu a peguei. — Prazer em conhecê-lo. Eu sou Carly.

— Você é casada? — ele perguntou.

— Não.

— Namorado?

Forçando um sorriso, eu repeti: — Não.

— Ok. Só não queria ser inapropriado.

— Eu aprecio você ter perguntado.

Iniciada a conversa, comecei a me afeiçoar com toda a situação.


Acontece que Neil cresceu em Woodsboro e administrava uma
construtora. Conversamos facilmente enquanto seu amigo, Rob,
conversava com Lisa.
Neil era bonito com feições clássicas. Eu não o colocaria na
mesma categoria de gostosura de Brad e Josh, mas a aparência
era apenas parte da equação. Ele parecia ter uma personalidade
agradável e realista e, o mais importante, olhos gentis.

Mas, apesar de estar gostando da companhia dele, não me senti


à vontade para lhe dar muitas informações pessoais. Por isso,
mantive minha situação atual um pouco genérica, divulgando
apenas que estava na cidade ajudando um amigo com um
problema pessoal e que ficaria aqui apenas temporariamente.

Os rapazes nos pagaram outra rodada de bebidas e mais alguns


aperitivos. Nossa festa improvisada de quatro pessoas continuou
durante a hora seguinte.

Meu celular tocou um pouco depois das 22 horas. Era uma


mensagem do Josh, então fui ao banheiro para não parecer
grosseira ao responder à mensagem.

Josh: Eu jurei que não incomodaria você a menos que fosse


absolutamente necessário, mas não consigo encontrar as
cuecas de Scottie. Ele está andando com as bolas de fora na
última hora.

Eu ri enquanto digitava.

Carly: Lavei muita roupa esta manhã. Tudo está dobrado


em uma cesta escondida no armário do meu quarto. Eu não
queria que ele mexesse as roupas como às vezes faz. Você sabe
como ele gosta de jogar tudo ao redor.

Um minuto depois, ele respondeu.

Josh: Ah! É como uma mina de ouro de roupas íntimas aqui.


Obrigado.

Carly: Você terá que vasculhar para encontrar as dele.

Josh: Presumo que não seja a tanga preta. ;-)

Carly: Não. Isso é meu.

Josh: Bem, era seu. Agora é meu.

Antes que eu pudesse descobrir como responder a isso, ele


escreveu de volta.

Josh: Brincadeirinha. Mas por que imaginei que a Miss


Organic Lemon Pits usava calcinha de vovó?

Meus olhos se arregalaram. Ai, credo!


Carly: Bom, a tanga é de algodão orgânico, então...

Josh: Ah! Eu sabia que tinha que haver algo estranho nisso.
Então, até sua bunda consome orgânicos? Coisinha exigente,
é.

Carly: OMG! Você está louco.

Josh: Minhas nozes não contêm glúten.

Carly: Josh! rindo muito

Josh: Desculpe, estou falando bobagens. Devo estar ficando


maluco de ouvir uma hora seguida de “Bennie and the Jets”
de trás para frente. Estou prestes a me sufocar até a morte
com sua calcinha.

Carly: Pode largar agora.

Josh: Quer dizer tirar do meu bolso?

Carly: Isso seria ótimo.


Josh: Talvez você conheça alguém no The Bar que vai
gostar da sua tanga de algodão orgânico.

Eu hesitei.

Carly: Na verdade, eu conheci alguém aqui. Ele é legal.

Josh não respondeu depois disso. Então presumi que ele não
iria. Mas cerca de cinco minutos depois que voltei para a mesa,
meu telefone tocou novamente. Eu olhei para baixo casualmente
para ler o texto.

Josh: Bem, isso é bom. Eu não tinha dúvidas de que não


demoraria muito.

Meus pensamentos estavam presos em sua mensagem até que


me lembrei de reorientar minha atenção para as pessoas na minha
mesa.

Quando estávamos nos preparando para sair, Neil pediu meu


número. — Eu adoraria ver você de novo — disse ele com um
sorriso.

Eu não conseguia pensar em uma razão para dizer não. Eu


sabia que precisava muito dessa distração. — Claro. Isso seria
bom.

Ele me entregou seu telefone e eu digitei meu número.


— Legal — ele disse quando o devolvi. — Ligo para você esta
semana, e talvez possamos combinar algo para o próximo fim de
semana, se não estiver muito ocupada?

— Eu não tenho planos, então deve funcionar — eu disse a ele,


embora tivesse que esclarecer isso com Josh.

— Ótimo. — Ele se inclinou e me deu um abraço que terminou


em um aperto suave. — Foi ótimo conhecê-la, Carly.

Respeitei o fato de que ele não tentou me beijar. Isso teria sido
muito cedo. — Você também, Neil.

Lisa também deu um abraço de despedida em seu candidato, e


nós assistimos da frente do bar enquanto os caras entravam em
seus respectivos carros. O cunhado de Lisa se ofereceu para ser
nosso motorista esta noite e deveria chegar a qualquer momento.

Lisa olhou para o céu noturno e suspirou. — Caralho. Imagina


se nós duas acabamos de conhecer nossos futuros maridos esta
noite?

Ela estava falando sério? Isso me deu vontade de vomitar. —


Uau. — Eu ri. — Eu acho que pode ser um pouco exagerado até
mesmo ponderar. Você gostou tanto assim de Rob?

— Honestamente? Sim — ela disse. — O que há para não


gostar? Ele é adorável e tem um ótimo trabalho como engenheiro.
Mas concordo, meu otimismo pode estar um pouco exagerado.

— Só um pouco. — Eu pisquei. — Mas estou feliz que você


gostou dele.

— Neil é realmente fofo e ele parecia superlegal também.


— Sim. Eu teria que vê-lo novamente para saber com certeza
como me sinto. Não acho que você possa realmente conhecer
alguém depois de apenas um encontro.

No entanto, eu me lembrava de saber explicitamente que Brad


era a pessoa certa desde a primeira noite em que o conheci. Mas
esse tipo de conexão instantânea provavelmente não se repetiria
para mim. Talvez por isso eu estivesse tão hesitante em declarar
que Neil era um bom partido. Seria por causa da comparação com
Brad? Ou pior, será que minha hesitação tinha a ver com os
sentimentos estranhos que eu parecia estar tendo por Josh
ultimamente?
Capítulo 13

JOSH

Não queria que ela chegasse em casa e me visse acordado, como


se eu estivesse esperando por ela. Mas não conseguia dormir
porra.

Meu telefone tocou e pensei que poderia ser Carly, mas era meu
irmão Neil. Eu devia a ele um telefonema.

— Ei, cara — respondi. — E aí?

— Eu não acordei você, acordei?

— Não. De jeito nenhum. E estou querendo ligar para você


desde que voltei, mas as coisas estão ocupadas.

— Eu sei. Michael me disse. Scottie é muito difícil, hein?

— Com certeza ele é.

— Como estão as coisas com a ex do Brad estando aí?

— Estamos nos dando bem. É o que é.

— Qual é mesmo o nome dela?

— Carly.

O telefone ficou mudo. Por um momento, pensei que tínhamos


sido desconectados.

— Você disse Carly? — ele finalmente perguntou.

— Sim. Por quê?


— Como ela é?

— Por quê?

— Apenas me responda — disse ele.

— Loira... altura média... muito bonita.

Um silêncio novamente do outro lado da linha.

— Acho que a conheci esta noite — disse ele.

Meus olhos se arregalaram. — Você conheceu Carly?

— Sim. No bar. Devo sair com ela no próximo fim de semana.


— Ele exalou. — Puta merda. Eu estava nas nuvens e precisava
falar com alguém sobre ela. Foi por isso que liguei para você.

Porra.

Porra.

Porra.

— Como diabos você não sabia quem ela era? — Eu não queria
que isso saísse tão duramente. Suavizei meu tom. — Ela não
contou o que estava fazendo na cidade? Você não somou dois mais
dois?

— Ela me disse que estava ajudando um amigo. Eu poderia


dizer que ela estava se segurando, mas pensei que talvez ela
estivesse sendo cautelosa. E eu não conseguia lembrar o nome da
noiva de Brad, então não fiz a conexão.

— Você não mencionou meu nome como seu irmão?

— Não. — Ele soltou um suspiro. — Eu disse a ela que cresci


em Woodsboro, mas nunca mencionei minha família nem nada.
— Bem, merda — eu murmurei.

— Porra de mundo pequeno, hein?

— Sim. Sério. — Engoli. — Ela concordou em sair com você?

— Você parece surpreso.

— Foi só uma pergunta, Neil.

— Sim. Como disse, no próximo fim de semana potencialmente.


Existe alguma razão para eu não sair com ela?

Eu revirei meu cérebro procurando algo que eu pudesse dizer,


mas não tinha um motivo legítimo. — Não. Quero dizer, ela é uma
ótima garota — eu respondi.

— Você não gostava da noiva de Brad. Estou um pouco


confuso.

Você não era o único. — Sim, achava que não. Mas eu realmente
não tinha base para isso. Eu nunca a conheci até esta viagem.

— Devo mandar uma mensagem para ela agora e dizer quem


eu sou?

— Ela estará aqui em breve. Eu direi a ela.

— Deixe-me saber como ela vai reagir quando você fizer isso.

— Sim, cara. Ok.

Depois que desligamos, sentei-me na beirada do sofá e segurei


a cabeça com as mãos. Este não era um cenário que eu havia
previsto – embora não fosse exagerado, considerando o quão
pequena Woodsboro era. Esta maldita situação comigo e Carly já
era complicada o suficiente, porém, sem ela namorar meu irmão.
Mas eu não tinha o direito de interferir. Carly merecia um cara
legal.

Ouvir Neil dizer o quanto gostava dela – tanto que teve que me
ligar – foi agridoce. Eu sabia que o que sentia era ciúme, mas não
havia humano melhor do que meu irmão Neil. Ele era o oposto de
mim em todos os sentidos. Ele nunca traiu as namoradas, sempre
foi respeitoso e era o mais dedicado ao nosso pai de todos nós. Ele
também parecia o menos marcado pelo abandono de nossa mãe.
Embora fosse completamente inapropriado atacar Carly, não havia
motivo para Neil se sentir culpado. Ele não era o melhor amigo de
Brad. Não havia conflito de interesse. Ele não iria para o inferno
por sair com ela, como eu teria ido.

Quando a porta se abriu, levantei-me do sofá. Tanto para não


ser óbvio sobre esperar que ela entrasse.

Carly colocou a bolsa em uma mesinha. — Ei. Estou surpresa


que você ainda esteja acordado.

— Sim, bem, estou acordado metade da noite naquele colchão


de merda de qualquer maneira. — Passei a mão pelo cabelo e tentei
parecer indiferente. — Como foi no bar?

— Foi muito bom, na verdade. — Ela se jogou no sofá e


suspirou. — Fiquei surpresa com a qualidade da comida. Eu não
esperava isso em uma atmosfera desse tipo de bar.

— Sim, a comida sempre foi boa lá.

Esperei que ela dissesse mais alguma coisa, mas ela não disse.
Carly simplesmente fechou os olhos e encostou a cabeça no sofá.
Ela tirou os sapatos, revelando aqueles dedos pintados de
vermelho que sempre me excitavam de alguma forma.

— Você parece estar de ressaca, garota festeira.

— Definitivamente já passou da minha hora de dormir. — Ela


bocejou.

— Então... conte sobre esse cara que você conheceu. — Mexi


as minhas mãos.

Ela abriu os olhos e olhou para mim. — Quero dizer, o júri


ainda está deliberando. Ele parecia legal. Mas eu realmente não o
conheço.

— Ele é um cara legal. E você pode confiar nele.

Seus olhos se arregalaram. — O que você está falando?

— Estou falando de Neil.

Sua boca se abriu quando ela se sentou ereta. — Você armou


para mim ou algo assim?

Eu tive que rir disso. — Sim, porque tive todo esse tempo para
orquestrar a armação para você enquanto eu fazia uma caça ao
tesouro pelas malditas cuecas de Scottie. — Ri de novo. — Relaxe.
Não tive nada a ver com isso.

Seu rosto ficou vermelho. — Então como você sabe o nome


dele?

— Bem, meu irmão me ligou a caminho de casa para me contar


sobre sua noitada.

— Seu irmão me viu lá?

— Não, Carly. — Puta merda. Ela não entendeu.


Então ela cobriu a boca.

Bingo. A realização finalmente atingiu.

— Oh, meu Deus. Neil é seu irmão?

— Com certeza, ele é.

Ela continuou a somar dois mais dois. — Este é o solteiro...

— Sim. Felizmente. Caso contrário, eu estaria indo para lá hoje


à noite para estrangulá-lo.

Ela apoiou a cabeça nas mãos. — Minha primeira noite fora e


eu conheci seu irmão? Quão pequena é esta maldita cidade?

— Muito pequena.

Carly se levantou e começou a andar. — Ok, isso é estranho,


Josh.

Eu concordava, mas tentei negar. — Não precisa ser.

— Eu acho que não? — Ela suspirou. — Não sei.

— Você gostou dele? — Eu me preparei para sua resposta.

— Como eu disse, mal o conheço.

— Neil não faria mal a uma mosca. Ele é a melhor pessoa que
conheço. Então você não tem motivos para não confiar nele.

— Bem, obrigada pelo depoimento, embora eu tenha que me


perguntar se é um pouco tendencioso.

— Eu não me importo que ele seja meu irmão. Se ele fosse um


idiota, eu a avisaria para ficar longe dele.

— Um idiota como você? — ela brincou.

— Bem, sim.
— Eu estou brincando.

— Não, você não está. — Eu ri.

Seu rosto ficou sério. — Eu não acho mais que você é um idiota,
Josh. Eu estava brincando. — Ela olhou para mim por um
momento enquanto um constrangimento pairava no ar.

Eu limpei minha garganta. — Bem, suponho que se você sair


com Neil no próximo fim de semana, precisará de mim para cuidar
de Scottie.

— Se você não se importar. Vou retribuir o favor, claro.

— Na verdade, ia aceitar a oferta de Lauren no próximo fim de


semana, mas se você tiver um encontro com Neil, eu reagendo.

A boca de Carly abriu e fechou algumas vezes. — Oh... eu não


sabia que você definitivamente estava saindo com ela.

Era novidade para mim também. — Sim, por que não? Não
tenho nada a perder. Não como se eu tivesse muito mais
acontecendo aqui.

Seu pescoço ficou vermelho e manchado. — Bem, se as coisas


não derem certo, você ainda terá que vê-la. Suponho que isso seria
uma desvantagem.

— Vou ter que lidar com isso, não é?

— Sim... quero dizer, se você não se importar com o


constrangimento — disse ela, com as bochechas rosadas.

— Nada realmente me incomoda.

— Ok, então, Sr. Implacável. — Ela olhou para os dedos dos


pés por um segundo. — De qualquer forma, se você quiser sair no
próximo fim de semana, é a sua vez, então posso dizer a Neil no
fim de semana seguinte.

— Podemos resolver algo entre sexta e sábado. Não precisa ser


uma situação de escolha ou não.

Ela assentiu e bocejou novamente. — Bem, estou exausta. É


melhor ir dormir. Antes que eu perceba, teremos que nos levantar
com Scottie.

— Sim. Está tarde. Boa noite.

— Boa noite, Josh. — Ela se dirigiu para seu quarto.

Nessa noite, eu me revirei e, pela primeira vez, não era o


colchão de ar que me mantinha acordado.
Capítulo 14

JOSH

Na sexta à noite, marquei um encontro com Lauren, e Carly fez


planos com Neil para sábado.

Carly ficou especialmente quieta durante toda a tarde de sexta-


feira. Percebi que o fato de sair com Lauren a deixava
desconfortável. Mas, sendo o idiota que eu era, isso era parte do
objetivo, não? Eu não tinha planos de entrar em contato com
Lauren até ter descoberto sobre Neil e Carly. Então eu precisava
de uma distração. O fato de Carly sair com meu irmão tinha me
irritado. Mas não era só isso. Eu sentia que Carly estava
começando a sentir algo por mim. Seria minha imaginação? Não
podia ter certeza. Mas se minhas suspeitas fossem verdadeiras, eu
precisava cortar o mal pela raiz.

Na sexta-feira à noite, optei por encontrar Lauren no


restaurante, embora ela tivesse se oferecido para me buscar.
Peguei emprestado o carro de Carly para ir até lá, para evitar que
ela tivesse que ver Lauren. Eu sabia que isso seria estranho.
Embora houvesse definitivamente um motivo oculto para esse
‘encontro’, não era para aborrecer Carly.

Quando cheguei ao único restaurante mexicano em


Woodsboro, Lauren já estava lá. Acenei para ela quando entrei,
sentindo-me mais faminto do que interessado em puxar conversa.
Logo de início, concluí que não estava a fim dela, embora tivesse
sido convenientemente fantástico ter esse tipo de conexão. Eu já
era um filho da puta exigente, mas ultimamente estava ainda pior.
Essencialmente, desde o momento em que me sentei à mesa, sabia
que isso não ia dar em nada.

Mas fiquei para comer. Coloquei uma fajita em minha boca e


mastiguei um pouco antes de falar. — Então você deve ter uma
paixão por serviços sociais para trabalhar na área que você
trabalha...

Lauren largou o garfo e limpou o canto da boca. — Posso ser


sincera? Adoro meus pacientes. Mas trabalhar com a população
com necessidades especiais não é algo que eu queira fazer para
sempre. É muito desgastante emocionalmente e, às vezes,
fisicamente.

Embora eu apreciasse a honestidade, sua resposta me


surpreendeu.

Mergulhei um chip em um pouco de salsa. — Você tem um bom


controle sobre Scottie e sempre parece tão enérgica. Eu apenas
presumi que você amava o que fazia.

— Eu amo Scottie e as outras pessoas com quem trabalho, mas


não necessariamente meu trabalho como um todo. É muito
trabalho e longas horas por um salário muito baixo. — Ela limpou
a garganta e mudou de assunto. — Conte-me mais sobre o que
você faz.

Passei os minutos seguintes entediando até a mim mesmo


enquanto repassava os conceitos básicos do meu trabalho e
planejava minha estratégia para sair mais cedo esta noite. Lauren
era muito atraente, e eu tinha certeza de que ela seria uma
excelente opção para esta noite, com base no modo como estava
me olhando. Mas mesmo a ideia de sexo casual e sem compromisso
não me interessava. Ou eu estava esgotado, ou tinha um problema
muito maior – e não queria pensar nisso. Mas eu sabia de uma
coisa: precisava de uma desculpa para não ir para a casa da
Lauren hoje à noite.

Com certeza, quando terminamos nossas refeições, ela me


perguntou se eu estava interessado em ‘passar’ no apartamento
dela. Então, tive que falar abertamente.

— Lauren, acho você uma garota incrível — eu disse a ela,


colocando minha margarita na mesa. — E gostei de conhecê-la
melhor esta noite. Mas quanto mais penso sobre isso, mais acho
que é melhor que continuemos amigos, considerando sua relação
de trabalho com o Scottie. — Isso era uma mentira. Uma fuga. Mas
assim foi todo esse encontro.

Seu rosto caiu enquanto ela passava a mão por seu longo
cabelo castanho. — Por que você concordou com este encontro se
é assim que você se sente?

Eu pensei que seria melhor em fingir. — Acho que só percebi


esse conflito esta noite.

Eu esperava que minha falsa desculpa fosse melhor do que


apenas admitir que não estava sentindo isso. Mas a decepção em
seus olhos me disse que ela poderia ter lido nas entrelinhas de
qualquer maneira.

O resto da noite foi estranha pra caralho, para dizer o mínimo.


●●●

Na noite seguinte, meu ‘encontro’ com Lauren era uma


memória há muito esquecida. Enquanto eu estava sentado na sala,
assistindo à TV ao lado de Scottie no sofá, meus olhos vagavam
pelo quarto de Carly. Pela porta aberta, pude vê-la se preparando
para sair à noite com Neil.

Ela não havia me perguntado sobre meu encontro com Lauren,


e estava grato por isso. Eu não queria mentir para ela e, por
enquanto, preferia que ela presumisse que tinha sido melhor do
que foi. Eu não precisava que Carly suspeitasse que eu estava
minimamente envolvido com o que estava acontecendo entre ela e
meu irmão.

Mas não pude deixar de notar como ela estava linda esta noite.
Ela usava um vestido rosa curto e tinha uma flor combinando no
cabelo. Era como uma explosão de primavera na escura e fria
Woodsboro. Mas não importava o que ela usava; ela estava sempre
muito bonita. Seu cabelo loiro tinha ficado mais comprido nas
últimas semanas e suas curvas perfeitamente posicionadas eram
a maior tentação – obrigado, sorvete de pistache. Eu tinha que me
lembrar constantemente de que não tinha nada de ter esses
pensamentos sobre a garota do Brad. O fato de ela estar saindo
com Neil era provavelmente uma bênção. Agora eu tinha o dobro
de motivos para ficar longe dela. Essa situação definitivamente
selaria o acordo.

Apesar de tudo isso, levantei-me e fui até a porta dela.

— Aonde é que vocês vão? — perguntei.


Ela largou o pincel de maquiagem. — Algum lugar chamado
Vincenzo's?

— Ah, sim, um dos melhores restaurantes em Woodsboro.

Carly se virou para mim e abriu os braços. — Você acha que


estou bem-vestida o suficiente?

Eu dei uma olhada nela, tentando não deixar meus olhos


demorarem muito em seu corpo. — Sim. Você parece bem. É um
lugar legal, mas não muito chique nem nada.

Ela encarou o espelho novamente e começou a aplicar


maquiagem nos olhos. — Você nunca me contou como foi seu
encontro com Lauren ontem à noite.

Bem, esse alívio não durou muito.

— Sim, uh... — Eu deslizei minhas mãos nos bolsos. — Foi tudo


bem.

— Tudo bem?

— Sim.

Ela fechou o tubo de rímel. — Ok, posso dizer que você não
quer entrar nisso. O que é bom. Você não me deve nenhuma
explicação.

Ela provavelmente pensou que eu estava sendo indiferente


porque fodi Lauren e não queria admitir isso. Carly parecia ter a
impressão de que eu era um prostituto. Mas saber que ela tinha
feito essa suposição sobre a noite passada não me agradou.

— Não aconteceu nada, se é isso que você está querendo saber.


Ela borrou os lábios. — Estou surpresa. Pelo modo como ela
olha para você – se joga em cima de você – teria presumido que ela
o levaria para o apartamento dela antes mesmo de servirem a
sobremesa.

Entrei no quarto dela. — Não sou tão fácil assim, você sabe. Eu
tive a oportunidade. Só não a aproveitei.

Seus olhos se arregalaram. — Você a rejeitou?

— Não gosto de levar alguém se não tenho certeza das coisas.


Não é como se ela fosse uma pessoa qualquer. Ela trabalha nesta
casa. Portanto, preciso lidar com isso com cuidado.

Carly voltou a se olhar no espelho. — Bem, isso é muito maduro


da sua parte, Mathers. Estava me perguntando desde que você
chegou em casa mais cedo do que eu esperava.

— Pensei que você estivesse dormindo quando entrei. Não


percebi que você estava prestando muita atenção — provoquei.

— Há muitos rangidos nesta casa. É difícil não acordar quando


alguém se move. Eu não estava esperando nem nada, se é isso que
você pensou.

Eu balancei a cabeça. — E não esperarei por você esta noite.


Então não se preocupe com isso. Neil não faria mal a uma mosca,
então não tenho motivos para me preocupar.

Carly afofou o cabelo. — Você estaria esperando e preocupado


de outra forma? Se fosse outra pessoa?

Merda. — Bem, sim. Eu não confio nas pessoas. Eu ficaria


desconfiado de você conhecer alguém novo enquanto está aqui, se
eu não o conhecesse. — Levantei meu queixo. — Quero dizer...
Brad gostaria que eu cuidasse de você.

— Então isso é sobre Brad? — Ela se virou para mim. — Você


se preocuparia por um sentimento de obrigação a ele?

— Não exatamente. Eu considero você uma amiga agora. Eu


estaria cuidando de você de qualquer maneira.

— Meu rosto não incomoda mais? — ela provocou.

Meu estômago apertou. — Não, Carly. — Eu olhei para ela. —


Não.

— É bom saber.

Eu abaixei minha cabeça por um momento. — Acho que nunca


vou superar essa.

— Provavelmente, não. — Ela piscou.

— Talvez eu mereça.

Seus saltos estalaram quando ela se moveu em minha direção.


— Não seja tão duro consigo mesmo. Estou brincando. Eu superei
isso, de verdade. Especialmente depois que você explicou o motivo
por trás disso. — Ela fez uma pausa e cheirou o ar. A expressão
dela mudou.

Besteira. Pego.

— Você fumou.

— Eu fumei alguns minutos atrás.

— Por que, Josh? — Ela franziu a testa. — Você estava indo tão
bem.
Agora eu definitivamente tinha que mentir. Não podia admitir
que o encontro dela com meu irmão estava me assustando. Não
podia admitir que o encontro da noite passada tinha sido uma
farsa total, principalmente para o benefício dela. E eu certamente
não podia admitir que seus lábios estavam me implorando para
beijá-los agora, o que me fez realmente precisar de outro cigarro.

— Eu simplesmente tive uma recaída. Acontece.

— Bem, você sempre pode voltar, certo?

Suspirei. — Isto é o que eu faço.

Ela fez uma pausa e parecia estar examinando meu rosto. —


Você está bem com isso? Eu saindo com seu irmão?

Sua pergunta me fez suar. Porra. Ela podia ver através de mim.
— Por que você perguntaria isso? É claro que estou. Pareceu que
não estava?

— Na verdade, não. Mas posso ver como isso pode ser um pouco
estranho para você. Porque moramos juntos, sabe? Primeiro, você
está morando com a noiva do seu melhor amigo, e agora está
morando com uma garota que seu irmão está saindo?

— Você não é uma garota. E se sair com Neil faz você feliz,
mesmo que seja um pouco estranho, eu preciso engolir isso.

Ela mordeu o lábio. — Posso ser honesta sobre algo? — ela


perguntou.

— Claro.

— A coisa da Lauren...

Eu fiquei tenso. — E daí?


— Fiquei chateada com o seu muff. — Ela riu nervosamente. —
O que quero dizer é que me incomodou quando ela convidou você
para sair e quando você saiu com ela ontem à noite. — Ela desviou
o olhar e se abraçou. — A princípio, pensei que fosse por causa do
conflito de interesses... porque ela é a terapeuta de Scottie, mas
não tenho tanta certeza. — Os olhos de Carly encontraram os
meus. — Acho que é mais nisso que eu queria acreditar.

— O que mais poderia ser? — minha pergunta foi quase


inaudível. No meu íntimo eu sabia a resposta.

— Acho que estou... — Ela hesitou.

Meu coração disparou. — O quê?

— Eu acho que estou me apegando a você ou algo assim... é


confuso, talvez?

Suas palavras espelhavam meus próprios sentimentos, mas eu


não disse nada enquanto ela estava lá, ficando cada vez mais
vermelha.

— Não me interprete mal, sei que você e eu... nós nunca


poderíamos... você sabe. Por causa de Brad. Mas acho que essa
coisa toda de morar junto... mexeu um pouco com a minha cabeça.
E qualquer um novo que entrasse na mistura agitaria as coisas.
Acho que estava sendo meio egoísta. — Ela exalou. — Desculpe.

Agora teria sido um ótimo momento para dizer a ela que ela não
estava sozinha, que eu estava tendo todos aqueles mesmos
sentimentos e mais alguns. Mas admitir a verdade ainda era como
trair Brad. Digamos que confessasse ter sentimentos por ela.
Então, o quê? Eu não poderia fazer nada sobre isso. Então escolhi
guardar tudo para mim. Eu precisava continuar fazendo isso até
que esse arranjo de vida chegasse ao fim – quando isso
acontecesse. Enquanto Carly e eu tínhamos um compromisso para
visitar a outra casa de grupo na cidade em breve, ainda não
tínhamos ideia de quanto tempo levaria para conseguir uma
colocação para Scottie.

— Entendo, Carly. Nós dois passamos por muita coisa. Ainda


estamos passando por muita coisa.

Ela assentiu, olhando para os pés. — Às vezes, acho que você


é o único que realmente sabe como estou me sentindo – porque os
últimos dois anos foram um borrão.

Suas palavras penetraram minha alma, lembrando-me o quão


sozinho eu me sentia, até ela.

— Você já consultou um terapeuta? — perguntei.

— Não, mas provavelmente deveria.

— Eu considerei isso — admiti.

— Mesmo?

— Sim. Não apenas por causa da dor, mas por causa da culpa.

Ela inclinou a cabeça. — Culpa sobre o que especificamente?

Muitas coisas. — Você sabe que eu deveria ir para Tahoe com


ele naquele fim de semana, certo?

Seus olhos se arregalaram. — Não. Eu não sabia.

— Sim. Ele me convidou para ir com ele e seus amigos de


trabalho naquela viagem, e eu até reservei uma passagem. Mas
cancelei no último minuto porque estava concorrendo a uma
promoção no trabalho e descobri que precisava fazer uma
apresentação para promover a mim mesmo. Decidi que viajar
naquele fim de semana seria muito estressante. Eu disse a ele que
iria na próxima vez. — Fechei meus olhos.

— Então você acha que se estivesse com ele, talvez o acidente


não tivesse acontecido...

— Claro. Tenho certeza de que não teria. Eu poderia estar


dirigindo, ou uma pequena mudança no itinerário poderia ter
evitado tudo.

Ela colocou a mão no meu braço. — Sinto muito, Josh. Eu não


fazia ideia. Eu não deveria estar com ele porque era uma viagem
de caras. Mas certamente tive pensamentos como, e se eu
estivesse – ele ainda estaria aqui? Ou e se eu tivesse pedido para
ele não ir? Coisas assim.

Eu balancei minha cabeça. — De qualquer forma, é inútil


pensar nisso. Você não pode mudar o passado.

— Não, você não pode. Mas é importante falar sobre as coisas


que assombram você. Deixá-las sair é a única chance no inferno
que temos de superá-las.

— Não há como superar isso — eu corrigi. — Apenas contornar


isso.

— Isso é verdade, sim — ela sussurrou.

Eu me forcei a dar alguns passos para trás. — Bem, consegui


arruinar o clima para você esta noite.

— Você não arruinou. Eu aprecio saber que não estou sozinha.


— Ok. Chega de conversa triste, no entanto. Vá se divertir. Mas
não se surpreenda se você voltar para casa e descobrir que o
sorvete de pistache sumiu.

Ela sorriu. — Vá em frente. Vou comprar mais esta semana. —


Ela se aproximou e enfiou o dedo indicador no meu peito. —
Melhor isso do que fumar.

— Concordo. — Eu sorri. — Na verdade, Scottie e eu temos


grandes planos esta noite. Então isso vai me manter distraído.

— Oh, sim? — Ela ergueu a sobrancelha. — Diga.

— Bem, primeiro vamos ouvir Elton John de trás para frente.


Isso deve consumir uma boa hora ou mais.

— Diversão...

— Então vamos aquecer um pouco de frango que você fez ontem


à noite, e vou fazer molho de mostarda e mel para acompanhar.

— Isso parece muito gostoso.

— Então, para o nosso banho masculino, vou tocar seu outro


favorito, The Wiggles, no alto-falante Bluetooth.

— Ele vai adorar isso. — Ela riu. — O que mais?

— Depois de toda essa empolgação, acho que vou esperar que


ele durma bem para que eu possa devorar aquele sorvete de
pistache em paz.

— Parece uma boa maneira de terminar a noite.

Na verdade, uma boa maneira de encerrar a noite seria tê-la


aqui também. Eu me amaldiçoei silenciosamente. Eu tinha que
parar de ter esses malditos pensamentos.
— Vai pegar seu carro ou ele vem buscar você? — perguntei.

— Eu disse a ele que preferia dirigir. Gosto de poder vir para


casa sempre que quiser.

— Faz sentido.

Carly olhou para o relógio. — Na verdade, estou um pouco


atrasada.

— A culpa é minha. Vou sair do seu caminho.

— Estou feliz que você veio falar comigo, Josh.

Precisava parar de ser tão legal comigo. Você não estava


ajudando.

Ela saiu para a sala onde Scottie estava sentado no sofá. —


Seja bom para o tio Josh — ela disse, beijando sua bochecha.

Ele a ignorou e continuou jogando em seu iPad.

Ela vestiu o casaco e pendurou a bolsa no ombro. — Bem, vejo


você mais tarde. Se surgir alguma coisa, basta enviar uma
mensagem.

— A única maneira de incomodar você é se a casa pegar fogo e,


felizmente, não vou cozinhar nada, então devemos ficar bem.

— Ok. — Ela riu. — Tchau.

A porta se fechou atrás dela, e olhei para ela por alguns


momentos enquanto ouvia o som de seu carro ligando. Eu me
sentia vazio quando me aventurei na cozinha e encontrei um
bilhete que ela havia deixado no balcão.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco


Deixei uma surpresinha na geladeira.

Animado, abri a geladeira. Na prateleira havia uma pequena


assadeira coberta com papel alumínio. Havia outro bilhete
anexado ao topo.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Fiz o seu novo favorito esta tarde, pão de abóbora! Não critique
até experimentar, Mathers.

Um sorriso se espalhou pelo meu rosto enquanto eu retirava o


papel alumínio, pegava um garfo e dava uma mordida.

Era surpreendentemente bom – não muito doce, úmido e ela


ainda tinha adicionado gotas de chocolate. Ultimamente eu estava
começando a gostar de muitas coisas que nunca imaginei que iria
gostar.

Depois de algumas mordidas, coloquei o pão de abóbora de


volta na geladeira e me juntei a Scottie na sala, onde ele ainda
estava jogando em seu iPad.

— Somos só você e eu esta noite, cara.

Ele me agarrou pelos cabelos, puxando-me em sua direção para


dar uma boa cheirada enquanto uma montagem de comerciais dos
anos 80 passava em seu dispositivo. Essa era outra coisa dele:
jingles antigos.
— Sabe, acho que você pode ter a ideia certa. Viver essa vida
simples – sem mulheres, sem complicações. Apenas um bom
frango, música e sono. E repetir. — Dei-lhe um tapa de brincadeira
no joelho. — Não é uma vida ruim, cara.

Ele me olhou nos olhos por alguns segundos. Isso sempre foi
raro. Como um presente, realmente – não apenas porque aqueles
olhares eram poucos e distantes entre si, mas porque através de
seus olhos familiares, pude visitar Brad novamente. Por um breve
momento, meu melhor amigo ganhava vida através de Scottie.

— Deus, você se parece tanto com Brad. Talvez seja ele vindo
para me lembrar exatamente por que não devo me importar com o
que Carly está fazendo agora.

Enquanto Scottie voltava sua atenção para seus jingles,


continuei a falar com ele.

— Eu me pergunto o quanto você pode entender, às vezes. Algo


me diz que é muito mais do que pensamos. Há tanta coisa que eu
provavelmente deveria explicar a você sobre a vida, mas talvez seja
melhor se você não souber. Às vezes, a ignorância também é uma
bênção. — Olhei para o teto. — Vou dar um exemplo. Eu gostaria
de não saber que Carly está em um encontro com Neil agora. Não
saber disso seria incrivelmente fabuloso.

Scottie e eu nos divertimos muito nessa noite. Concentrar toda


a minha atenção nele foi uma grande distração. Em vez de apenas
seguir os movimentos como normalmente fazia, reservei um tempo
para estudá-lo, aproveitando cada momento e tentando me
envolver com suas nuances às vezes bizarras da melhor maneira
possível.
Jantamos, tomamos banho e até deixei que ele segurasse o
secador no meu cabelo, o que parecia que ele adorava. Tudo estava
indo muito bem até que tive a brilhante ideia de bombear meu
colchão de ar antes que Scottie fosse para a cama. Normalmente
eu fazia isso depois que ele dormia, mas resolvi arriscar. Então fui
usar o banheiro apenas para voltar e encontrar a cama vazia.
Scottie devia ter pensado que era um balão gigante e fez um grande
buraco nele.

Ótimo. Eu provavelmente poderia descobrir uma maneira de


consertá-lo, mas agora não tinha as ferramentas. Eu estaria
dormindo no sofá duro de novo esta noite.

Eu balancei minha cabeça. — Não consigo nem ficar com raiva


de você, Scottie, porque a culpa é minha.

Ele balançou para frente e para trás no sofá.

Scottie geralmente ia para a cama por volta das 22h, então,


quando o relógio bateu dez, coloquei-o em sua cama com todos os
seus dispositivos. Então fiquei com ele ali um pouco.

Depois que ele começou a cochilar, deixei-o sozinho e fechei a


porta. Meu plano era abrir aquele pote de sorvete de pistache.
Talvez o empilhasse em cima de um pão de abóbora.

Assim que me dirigi para o freezer, porém, ouvi a porta da frente


se abrir.
Capítulo 15

CARLY

— Por que você voltou tão cedo? — perguntou Josh.

— Não é tão cedo. Estive fora por algumas horas.

— Eu sei. Só pensei que você ficaria por mais tempo.

Joguei minha bolsa em uma mesinha. — Como foi esta noite?

— Eu não deveria estar perguntando isso a você?

Tirando meu casaco, falei: — Conte-me como Scottie foi


primeiro.

— Bem, nós nos divertimos muito. Ele já apagou, mas não


antes de abrir um buraco no meu colchão de ar.

Olhando para o canto da sala, notei a borracha sem vida no


chão. — Oh, não! Como isso aconteceu?

— Sei lá. Isso é o que eu ganho por tentar ser eficiente. Eu o


enchi antes, depois saí da sala e voltei e estava esvaziado. Não
encontrei a bomba.

— Merda. Desculpe. — Cobri minha boca. — Eu não deveria


rir, mas é meio engraçado.

Josh deu de ombros. — Não é nada demais. Vou tentar


consertá-lo amanhã ou apenas comprar um novo. Foi minha culpa
montar antes de ele dormir. Isso é como pedir encrenca. — Ele
suspirou. — Você se divertiu?
— Foi muito bom. E você estava tão certo sobre seu irmão. Ele
é um amor. — Apertei meus lábios, sem saber o quanto eu queria
contar. Não queria que nada chegasse ao Neil. Mas também não
estava a fim de adoçar nada.

Aparentemente, Josh podia ver isso em meu rosto. — Parece


que tem um mas aí em algum lugar — ele disse.

— Como eu disse, nós nos divertimos muito. — Eu hesitei. —


Não sei se foi falta de química física ou se simplesmente não estou
pronta, mas...

Ele estendeu as palmas das mãos. — Você não precisa explicar.

— Eu sei que não preciso explicar — eu disse. — Mas eu quero.


Tenho certeza de que ele vai dizer algo para você.

— Você pode confiar que não vou dizer a ele nada que você não
queira.

— Seu irmão é um ótimo partido. Nossa conversa foi honesta e


interessante. Ele é voltado para a família e é tudo o que uma
mulher pode querer, pelo que posso dizer. Não houve uma única
coisa errada em nosso encontro. Mas ainda assim... parecia que
algo estava faltando. Às vezes, você não consegue identificar o que
é.

Josh assentiu. — Estou ouvindo você.

Sua resposta curta me fez pensar se ele estava se segurando.

— Você acha que estou sendo muito exigente?

— Não, e você também não deveria se importar com o que eu


penso. Você tem que seguir seu coração. Neil é um menino grande.
Tenho certeza de que ele perceberia se você não estivesse sentindo
isso totalmente.

— Tudo o que eu conseguia pensar durante o jantar era que


esse homem ia fazer alguém muito feliz algum dia.

— Só não vai ser você...

Eu olhei para minhas unhas. — Acho que não, não.

— Como você deixou as coisas com ele?

— Ele perguntou se eu estaria interessada em sair de novo, e


disse a ele que não queria enganá-lo e não me sentia pronta para
mais nada. Pedi desculpas por desperdiçar seu tempo esta noite,
e ele foi muito gentil com isso. — Eu balancei minha cabeça. —
Talvez eu só esteja quebrada, Josh. Porque não há nada de errado
com seu irmão. Eu só...

— Você não pode escolher por quem se sente atraída ou com


quem tem química. Esse é o ponto principal, Carly.

— Eu sei. Eu me sinto péssima por desperdiçar o tempo dele.

Josh estalou os dedos. — Eu tenho uma solução para isso.

— Oh, sim?

— É verde com nozes – e mais frio do que sua atitude em relação


ao meu irmão esta noite.

— Josh! — Chutei o ar, fingindo que era ele.

— Estou brincando, Pumpkin. Relaxa.

Por que eu amo quando ele me chama assim agora? Eu o segui


até a cozinha e me encostei no balcão enquanto ele abria o pote de
sorvete.
— Estou surpresa que você ainda não comeu tudo — eu disse.

— Bem, Scottie tinha outros planos para mim esta noite, então
você está com sorte.

Josh preparou duas tigelas cheias. Ele me entregou uma, e eu


suspirei em êxtase depois que dei a primeira lambida.

— Isso era exatamente o que eu precisava — falei com a boca


cheia.

Josh deu uma grande mordida. — Meu irmão não comprou a


sobremesa para você?

— Eu não estava com fome na hora, mas de repente estou


morrendo de fome. — Meu coração deu um salto. Isso podia ser
uma metáfora para a atração física que sentia por Josh agora, em
vez de seu irmão. Eu deveria ir direto para o inferno neste
momento.

— Acho que nós dois acertamos em cheio em nossos encontros


neste fim de semana — disse ele, enfiando o sorvete na boca. —
Mais sorte da próxima vez, eu acho.

— Você deveria ficar na cama esta noite — eu disse a ele,


lambendo as costas da minha colher. — Sério. Não me importo de
dormir no sofá.

— Eu não posso fazer isso com você.

Limpei o sorvete do canto da boca e tentei reunir coragem para


dizer o que estava pensando. — Então durma na cama... —
murmurei. — É grande o suficiente. Eu nem vou notar você lá.

Ele coçou a nuca. — Estou tentando descobrir se isso é um


insulto ou não.
— Não é! — Eu ri. — Mas, pelo amor de Deus, passamos por
tanta coisa nessas últimas semanas. Nós dois somos adultos.
Podemos dividir a cama.

— Não sei. — Ele desviou o olhar, mas parecia estar


considerando isso. — Veremos...

Sua hesitação foi porque ele sabia que eu estava atraída por
ele? Oh, não, ele achava que estava tentando sugerir algo? Tudo em
mim dizia que era uma má ideia esclarecer minhas intenções, ou
a falta delas, mas eu tinha que me explicar melhor, ou não
conseguiria dormir esta noite.

— Eu não quero que você pense que estou esperando alguma


coisa engraçada... — Ugh. Isso não saiu certo.

Seus olhos se arregalaram. — Coisa engraçada?

— Sim, você sabe...

— Não, eu não sei. Defina coisa engraçada. — Ele bufou. — Isso


é como um prêmio de booby?

— Josh...

Sua expressão ficou séria. — Eu sei. Você está apenas sendo


doce em oferecer.

— Acho que estou paranoica por causa dessa coisa toda do


diário. Você leu o que escrevi sobre achar você atraente.

— Para seu desgosto, você me acha um porco atraente — ele


zombou com um aceno de cabeça.

— Eu não quero que você pense que estou esperando por algo,
ou que eu iria lá. Sei que seria errado e não tenho intenção de...
— Jesus. Pare enquanto você está ganhando, Carly. Eu sei que
você não estava insinuando nada, ok? Não foi por isso que hesitei.
É apenas o princípio disso, sabe? Mesmo que no final seja apenas
uma cama, deitar-me ao seu lado ainda é... deitar ao seu lado. E
acho que me sinto estranho fazendo isso quando... ele não pode.

Ok, então isso era sobre Brad. — Eu entendo — murmurei. Eu


precisava apenas ir para a cama e escapar do constrangimento que
eu havia criado. — Bem, acho que vou dormir. Adoraria tomar um
banho, mas tenho medo de acordar Scottie.

— Ele tem um sono muito pesado. Acho que você vai se sair
bem.

— Ok. Serei rápida.

Uma vez no chuveiro, passei xampu no cabelo, repreendendo-


me novamente por sugerir que Josh dividisse a cama comigo esta
noite. Como ele poderia não achar que isso era um exagero? Uma
parte de mim só queria alguém para dormir ao lado, aquela
sensação de peso na cama, de segurança. Mas eu ainda precisava
verificar minha cabeça por pensar que era uma boa ideia com
Josh.

Apesar do que havia dito sobre tomar um banho rápido, levei


meu doce tempo debaixo d'água, hesitando em enfrentar Josh
novamente. Eventualmente, eu me forcei a sair e me vesti.

Ele estava no sofá, navegando na internet em seu telefone


quando saí do banheiro. Balançando as pernas rapidamente, ele
não parecia estar pronto para dormir tão cedo. Fui direto para o
meu quarto sem dizer nada a ele. Isso parecia mais seguro.
Cerca de quinze minutos depois de me deitar, eu ainda estava
ruminando quando o ouvi na porta.

Sua voz era baixa. — A oferta ainda está aberta?

Eu parei, então me virei para encará-lo. — Sim.

— Aquela porra de sofá é como uma pedra. Tentei por alguns


minutos e desisti.

— Há muito espaço aqui. — Eu deslizei.

Josh colocou o travesseiro no lugar, afofou algumas vezes e


deitou-se. Eu imediatamente me afastei dele, porque parecia a
coisa certa a fazer.

As coisas ficaram serenas por um minuto.

— Você sempre dorme bem na ponta da cama assim? — Sua


voz cortou a escuridão. — Se eu tossir, você vai cair.

Eu estava praticamente balançando para o lado. — Eu só


estava tentando dar um pouco de espaço a você.

— Qual tamanho que você acha que eu tenho? Há mais de um


metro e meio entre nós. Você pode se dar ao luxo de dormir como
uma pessoa normal.

— Sim. — Voltei um pouco para ele. — Tudo bem. Você tem


razão.

— Esta cama é incrivelmente confortável — disse ele. — Você


tem vivido uma boa vida.

Seu telefone tocou.

— Merda — ele murmurou.

— Quem é?
— É Neil. Ele está apenas checando – provavelmente me
sondando para obter informações sobre sua reação ao encontro.
Responderei a ele pela manhã.

Eu me virei para ele e me inclinei sobre meu cotovelo. — Você


deveria responder agora. Caso contrário, ele vai pensar em algo
ruim.

— Ok, sim. Vou apenas dizer a ele que estou na cama com você
— ele brincou.

— Você não acha que isso não vai acabar muito bem? — eu
brinquei.

— Tenho certeza que não. — Ele riu.

— Sim, talvez melhor esperar.

Quando virei de costas para ele novamente, pude senti-lo


mexendo nos lençóis e ajustando o travesseiro.

— Droga... — ele gemeu. — Agora que sei como esta cama é


confortável, você pode ter dificuldade em se livrar de mim.

Um longo momento de silêncio se passou. Então ele sussurrou:


— Obrigado pelo pão de abóbora.

— Você gostou? — perguntei, colocando minhas mãos sob


minha bochecha.

— É muito bom, sim. Acho que você pode estar me convertendo.

Ele soltou um bocejo alto e eu me recostei. Eu estava quase


dormindo quando ele falou de novo.

— Eu nunca perguntei por que você começou a maquiar. Como


você entrou nisso?
— Essa é uma pergunta aleatória — murmurei.

— Sim, bem, é assim que eu ajo quando estou com a mente


ligada.

Eu sorri, minhas costas ainda voltadas para ele. — Eu adorava


maquiar a minha mãe na juventude. Continuei praticando até a
adolescência e percebi que era algo em que eu era muito boa.
Então, em vez de me forçar a fazer algo que não me interessava
depois da faculdade – eu tinha me formado em artes visuais – fui
para a faculdade de cosmetologia e me tornei ainda melhor nisso.
Gosto principalmente de fazer com que as pessoas se sintam mais
confiantes em relação a si mesmas.

— Embora, em Hollywood, você tenha uma boa referência para


trabalhar, imagino?

— Sim, mas não trabalho apenas com celebridades. Eu


também sou voluntária. Também fiz maquiagem em abrigos para
sem-teto – mulheres que desejam voltar ao mercado de trabalho.

— Isso é legal. Veja? Eu não sabia disso sobre você. Ainda bem
que perguntei.

— As coisas que você aprende quando começa a fazer


perguntas aleatórias à uma da manhã, hein?

— Isso mesmo... — Ele suspirou e pareceu pensar por um


momento. — Você é uma boa pessoa, Carly.

Meu coração acelerou. — Como você sabe disso?

— Você não estaria aqui se não fosse.

— Acho que isso também faz de você uma boa pessoa.


— Eu não iria tão longe. — Ele riu. — De qualquer forma, com
o colchão de Wayne como minha testemunha, eu, neste momento,
retiro oficialmente qualquer coisa negativa que já disse sobre você.

— Ah... além do meu rosto, tem mais coisas que eu não sei?

— Não importa. Seriam todas mentiras.

— Bem, então eu retiro chamando você de porco do mal.

— Você pode querer manter esse. Não posso dizer que seja
totalmente impreciso.

— Eu não acredito nisso.

— Isso é porque você não consegue ver dentro da minha cabeça


ultimamente, Pumpkin.

Espere, o quê? Aqueles pensamentos ofensivos eram sobre mim


ou algo mais?

Josh parou de balbuciar depois disso e, eventualmente, sua


respiração tornou-se rítmica. Ouvi-lo me acalmou. Mas embora
houvesse um bom espaço entre nós, percebi que podia sentir o
calor de seu corpo atrás de mim.

E agora eu me encontrava um pouco excitada. Refiz meus


passos pelos eventos do dia. Eu me sentia péssima por ter
desperdiçado o tempo de Neil, e pior ainda por ter desejado tanto
voltar para casa e ver Josh. Agora, com ele do outro lado da minha
cama, eu me sentia ainda mais culpada por estar desfrutando
dessa sensação de calor e segurança.

●●●
Na manhã seguinte, aprendi uma dura lição. Às vezes, mesmo
quando você tem as melhores intenções e tenta fazer tudo certo, a
vida ainda fode com você.

Apesar do fato de ter adormecido intencionalmente de costas e


com bastante espaço entre mim e Josh, quando acordei, não
estava apenas de frente para ele, mas meu nariz estava a apenas
alguns centímetros do dele. Eu podia sentir sua respiração na
minha pele enquanto ele dormia. Eu praticamente podia prová-lo
e não tinha vontade de me afastar. Esta era a única maneira que
eu poderia experimentar estar tão perto dele.

Então, em vez de me afastar, aproveitei a oportunidade para


olhá-lo em paz, para apreciar o quão bonito ele era – a maneira
como seu cabelo castanho caía sobre a testa, a aspereza de seu
queixo, seu perfume masculino. Essa observação silenciosa foi
realmente pacífica – até que seus olhos se abriram.

Eu vacilei, empurrando para trás. Quem diabos acordava


assim? Seus olhos geralmente não piscavam e se abriam
gradualmente ou algo assim? Os dele se abriram de uma só vez.

— Ei... — Sua voz estava grogue. — Assustei você?

— Não, uh... — Lambi meus lábios. — Eu só estava esperando


você acordar.

— Você estava me observando enquanto eu dormia?

— Sim. Acho que sim.

Josh assentiu e lentamente se levantou da cama.

Eu estava esperando o ridículo, ou pelo menos uma resposta.

Mas ele não disse nada.


Eu observei seus músculos se moverem enquanto ele se
espreguiçava, sua camiseta subindo apenas o suficiente para a
serpente sexy tatuada em suas costas me provocar.

Ele saiu do quarto e se dirigiu para a cozinha.

Eu me demorei na cama para não ter que encará-lo por um


tempo. Depois de alguns minutos, pude ouvi-lo levantando Scottie.
A água foi aberta no banheiro, então ele devia ter decidido pelo
banho masculino agora.

Acabei arrastando minha bunda para fora da cama muito mais


tarde do que o normal.

Scottie e Josh estavam sentados na sala, ambos com os cabelos


molhados. Scottie estava fazendo algo em seu iPad enquanto Josh
trabalhava em seu laptop.

— Bom dia. — Acenei. — Você tomou banho cedo...

— Sim, Scottie acordou com uma pequena surpresa.

— Ah.

Scottie não costumava ter acidentes à noite, mas


ocasionalmente acontecia.

Aproximei-me para fazer um café e vi um bilhete que Josh havia


deixado para mim.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

“Somebody's Watching Me” de Rockwell tocou enquanto eu


tomava banho com Scottie.

Coincidência? ;-)
Capítulo 16

JOSH

A noite passada foi, sem dúvida, o melhor sono que tive em


anos – ainda melhor do que aquelas noites em Chicago em minha
própria cama. Apesar da culpa que sentia por dormir ao lado de
Carly, não pude deixar de desejar fazer isso de novo esta noite.

Quando finalmente mandei uma mensagem de volta para Neil


esta manhã, ele perguntou se eu toparia um brunch. Carly se
ofereceu para cuidar de Scottie, então concordei. Achei que seria
mais fácil responder pessoalmente a quaisquer perguntas que ele
tivesse sobre Carly. Além disso, eu não o tinha visto desde que
cheguei a Woodsboro, então já era hora de fazer isso.

Neil já tinha escolhido um assento no canto do Old Mill Diner


quando cheguei. Ele levantou a mão e sorriu quando me viu. Um
sentimento inquietante se desenvolveu em meu estômago. Eu
sabia o que era: a já conhecida culpa que já havia sentido muitas
vezes.

— Oi. — Sentei-me.

— Oi, cara. É bom ver você.

— Como vai? — perguntei.

Ele olhou para baixo em seu copo. — Já estive melhor.


A garçonete colocou uma caneca na minha frente e me serviu
um pouco de café. Eu balancei a cabeça em agradecimento.

— O que aconteceu ontem à noite? — perguntei a Neil, fazendo-


me de bobo.

— Ela não contou?

Eu hesitei. — Ela disse que se divertiu...

Ele riu. — Mas...

Eu permaneci vago. — Bem, ela me contou como terminou a


noite.

— Sim. Ela não estava no clima. Ou pelo menos foi o que eu


entendi quando ela disse que não queria sair de novo. — Neil
sacudiu um pacote de açúcar. — É uma merda. Eu realmente
gostei dela. — Ele mexeu o café. — Mas está tudo bem. É o que é.
A perda é dela.

Balancei a cabeça. — Você merece uma mulher que o valorize,


meu caro. Eu sempre digo que você é o melhor partido que existe.

Ele olhou pela janela. — Talvez eu precise sair de Woodsboro.


Minhas opções aqui são limitadas.

— Você ficaria surpreso, irmão. A grama nem sempre é mais


verde. Não tenho certeza se realmente apreciei Woodsboro até essa
viagem mais recente para casa.

— Interessante. Sempre achei que você odiava isso aqui.

— Eu odiava.

— O que mudou?
— Não tenho certeza. — Eu balancei minha cabeça. — Talvez
esteja apenas mais maduro agora e possa apreciar todas as coisas
que costumava dar como certo, como tomar café da manhã com
meu irmãozinho. — Eu pisquei.

Neil e eu tínhamos apenas um ano de diferença. Ele tinha vinte


e nove anos contra os meus trinta, enquanto Michael era dois anos
mais velho que eu.

Ele tomou um gole de seu café. — Não estou acreditando nisso.

— Por quê?

— Tive uma sensação ontem à noite. — Ele olhou nos meus


olhos. — E eu quero que você seja honesto.

— Uma sensação sobre o quê? — Engoli o café rápido demais e


quase queimei a garganta.

— Você e Carly...

Agora eu quase me engasguei com isso. — Não há nada


acontecendo — eu insisti. — Se é isso que você quer dizer.

— Tem certeza? Não vou ficar bravo se for verdade. Eu


entenderia.

— Nada está acontecendo — eu repeti. — Por que você pensaria


isso?

— Foi o jeito que ela se iluminou quando falou sobre você. Isso
me fez pensar se o desinteresse dela era menos sobre mim e mais
sobre você.

Eu ri, minha culpa aumentando. — Não sei do que você está


falando.
— Ok, agora eu sei que você está mentindo.

— Por quê?

— Seu olho se contraiu. Isso sempre acontecia quando você


mentia para mim quando éramos crianças.

Estava quente neste maldito lugar ou era só eu? Cerrando os


dentes, falei: — Talvez eu só esteja desconfortável porque você está
fazendo suposições sobre mim e a namorada do meu melhor
amigo.

— Josh, se você não pode ser honesto comigo, com quem diabos
poderá ser? Quer me dizer que você está morando com a Carly e
nada aconteceu durante todo esse tempo?

Olhei-o diretamente nos olhos. — Nada aconteceu. Nem mesmo


quando dormimos na mesma cama na noite passada.

Seus olhos eram como pires. As palavras me escaparam antes


que eu pudesse pensar melhor.

— Oookay. Espere um pouco. — Neil esfregou as têmporas. —


O que você disse? Ontem à noite? Depois que ela voltou para casa
do encontro comigo?

— Sim, mas não tem nada a ver com isso. Scottie furou meu
colchão de ar e o sofá parece uma pedra. Então ela insistiu que eu
dormisse na cama. Ela ficou do lado dela, e eu, do meu. Nada de...
gracinhas. — Ri do meu uso daquele Carlyismo.

Ele levantou uma sobrancelha. — Nada de gracinhas?

— Sim. — Enxuguei minha testa. — Se algo fosse acontecer,


certamente teria sido nessas circunstâncias. Mas não há nada,
então... — Balancei minhas pernas ansiosamente.
— Você acha que dormir ao lado da garota do seu amigo morto
equivale a nada acontecendo? Você está se enganando. Talvez
nada tenha acontecido ontem à noite, mas está fadado a acontecer
eventualmente. — Ele balançou sua cabeça. — Eu sabia que algo
estava acontecendo.

— Você está errado, Neil. Se algo estivesse acontecendo entre


mim e ela, eu nunca teria dito que você deveria sair com ela. Eu
não compartilho.

Ele se recostou na cadeira e cruzou os braços. — Acho que você


esperava que eu tirasse o seu fardo – que é o fato de você estar
caidinho pela noiva do Brad e não saber o que diabos fazer a
respeito.

Revirei os olhos. — Você está inventando histórias agora.

— Ei, rapazes.

Nossas cabeças se viraram em uníssono. Meu pai tinha


acabado de chegar.

— Oi. — Levantei-me para abraçá-lo. — Eu não sabia que você


estava vindo.

— Neil me convidou.

— Estou feliz. Eu deveria ter pensado nisso.

Meu pai sentou-se à minha frente, ao lado de Neil. Ele olhou


entre nós. — Rapaz, é raro eu ver vocês dois juntos. O Sr. Cidade
Grande finalmente nos agraciando com sua presença.

— Sinto muito, pai. Eu sei que tenho sido um filho de merda.


Ele franziu a testa. — Quem disse isso? Eu só estou brincando.
Estou muito orgulhoso de você, especialmente pelo que o trouxe
de volta à cidade. Brad tem sorte de ter um amigo como você,
cuidando das coisas quando não pode estar aqui.

Neil bufou.

Idiota. Eu olhei para ele.

— O que diabos é tão engraçado? — meu pai perguntou.

Ele sabia que eu estava dividindo a casa com a Carly no último


mês. Achei que deveria me antecipar ao Neil para que pudesse,
pelo menos, dar uma visão semiprecisa da situação.

— Neil parece pensar que eu tenho uma queda pela noiva de


Brad.

— Oh. — Ele inclinou a cabeça. — Há alguma verdade nisso?

— Não em um sentido sério.

Papai semicerrou os olhos. — Que diabos isso significa?

— Eu a acho atraente – como qualquer homem de sangue


quente acharia. E acho que ela é uma ótima pessoa. Mas dar em
cima dela é outra coisa completamente diferente.

Neil interrompeu: — Viu? Isso é mais honestidade do que você


me deu. A verdade está começando a aparecer. — Ele se virou para
meu pai. — Eu fui a um encontro com ela ontem à noite, pai.

Papai piscou confuso. — O que você disse?

— Sim, ela me desiludiu facilmente. Mas você deveria ter visto


como o rosto dela se iluminou quando ela estava falando sobre
como o Josh é bom com o Scottie. Não é de se admirar que ela não
tenha se interessado por mim.

A garçonete voltou e colocou uma caneca na frente do meu pai.

— Café? — ela perguntou.

Ele assentiu. — O que mais há para viver? Obrigado. — Então


ele se virou para Neil. — Estou confuso. Como você acabou em um
encontro com ela?

— Eu a conheci na semana anterior no The Bar e não sabia


quem ela era. Ela também não tinha ideia de que eu era irmão de
Josh. — Ele apontou para mim. — Depois que eu descobri tudo,
esse ainda me incentivou a sair com ela. Então saí e
imediatamente me senti como uma terceira roda.

— Ele está exagerando — insisti.

— Está? — Papai riu. — Ou você está apenas em negação,


porque tem medo do que significaria se você tivesse sentimentos
por ela?

Ele havia tocado um ponto sensível ali.

— Ok... — Eu olhei entre os dois. — Deixando de lado o dilema


óbvio, Brad era um cara ótimo e honesto. Assim como Neil – e você,
pai. Eu, por outro lado? Carly merece algo melhor, alguém que não
tem um histórico de merda com mulheres. Tudo isso e, sim, Brad
estaria revirando no túmulo se eu alguma vez me aproximasse
dela.

— Como você pode saber disso? — meu pai perguntou.

— Isso é um fato. Há milhões de mulheres no mundo, e tenho


que ir atrás da dele? — eu exalei. — Vamos lá.
Neil cutucou meu pai com o cotovelo e anunciou: — Eles
dormiram na mesma cama ontem à noite...

Cerrei os dentes. — Você tinha que falar isso?

— Sinto muito — ele murmurou.

— Não, você não sente — eu fervi.

— Mas que diabos? — Papai deixou escapar. — Eu pensei que


você disse que não estava acontecendo nada.

— Eu gostaria de estar gravando isso. — Neil riu. — As reações


do papai são muito divertidas.

— Meu colchão de ar furou e eu não tinha outro lugar para


dormir — expliquei. — Foi inocente.

— O que foi inocente? — uma voz perguntou.

Eu me virei para encontrar meu irmão Michael, que tinha


chegado elegantemente atrasado. Evidentemente Neil o havia
convidado para se juntar a nós também.

— Acabei de dizer ao papai que Josh dormiu na mesma cama


que a noiva de Brad ontem à noite.

Michael ficou boquiaberto quando se sentou ao meu lado. —


Eu sabia. Eu disse que algo ia acontecer. Essa coisa toda é uma
bomba-relógio.

Neil virou-se para ele. — Você sabia sobre isso?

— Ok, sério. — Joguei meu guardanapo na mesa. — Vocês


estão todos malucos. Não aconteceu nada! Meu maldito colchão de
ar tinha um buraco, então ela se ofereceu para me deixar dormir
na cama com ela. É uma cama bem grande, com bastante espaço
para nós dois.

— Talvez nada tenha acontecido do seu ponto de vista — disse


meu pai. — Mas você deveria pensar se ela sente algo por você. E
se você acha que sim, pode reconsiderar a ideia de dormir na cama
dela novamente. Se você está falando sério sobre não querer dar
em cima da garota de Brad, não deveria enganá-la.

— Eu não a estava enganando... — eu defendi. — Eu estava


tentando dormir um pouco em uma cama que não parecia uma
pedra. Ponto.

Eu não sabia nada sobre os verdadeiros sentimentos de Carly


por mim, além do fato de que ela me achava atraente e não me
odiava mais. Então, por outro lado, ela estava olhando para mim
esta manhã quando acordei. Resumindo, o que papai disse
ressoou em mim. Não havia nenhuma boa razão para dormir ao
lado de Carly, não importava o quão bom pudesse ser – por causa
do colchão.

— Quer saber? — Soltei um suspiro exasperado. — Você tem


toda a razão. Vou comprar outro colchão de ar assim que sair
daqui. Isso resolverá o problema. — Tomei um gole do meu café.
— Agora, talvez vocês, tolos, saiam de cima de mim.

— Exatamente quanto tempo você vai morar com ela? — papai


perguntou.

— Nenhum de nós sabe. Podem ser dias, semanas ou anos.


Essa é a natureza do cenário da lista de espera. Mas estamos
colocando-o na lista de espera para ambos os lares na cidade. Só
temos que visitar o segundo para ter certeza de que está tudo bem.
O gerente da casa está doente, então ainda não conseguimos
entrar para ver.

— Você sabia que eu saí com Carly ontem à noite, Michael? —


Neil sorriu.

Aqui iríamos nós outra vez.

O queixo de Michael caiu. — De jeito nenhum. O que estou


perdendo? Como isso aconteceu?

Enquanto Neil recontava a história mais uma vez, eu me perdi


em minha cabeça. Fiquei feliz por ter vindo a este brunch, porque
falar sobre isso e ver suas reações me ajudou a perceber que
decisão estúpida de dormir na cama de Carly na noite passada
tinha sido.

Agora eu precisava desfazer o estrago.

●●●

Quando entrei em casa naquela tarde, Carly estava dançando


com Scottie na sala de estar. O iPad dele estava tocando música
clássica – Canon em Ré Maior – e os dois estavam se balançando
nos braços um do outro.

Nenhum dos dois me notou entrar, então coloquei meu novo


colchão de ar no chão com cuidado e fiquei observando por um
momento. Foi lindo. Era incomum que Scottie interagisse com
qualquer um de nós daquela maneira.

Carly finalmente me notou e recuou. — Ah, oi. — Sua mão se


moveu para seu peito. — Não vi você entrar.
— Eu não queria me intrometer...

— Nós estávamos apenas dançando.

— Eu pude ver isso. — Sorri.

— A ideia foi do Scottie. Ele me pegou pela mão e me conduziu.


Foi uma coisa muito estranha. Não entendi muito bem, mas não
sei se me interessa saber por que ele fez isso. Foi incrível.

Eu baguncei o cabelo de Scottie. — Você é tão espontâneo e


complicado.

O momento definitivamente acabou, quando Scottie se afastou


de mim para se sentar no sofá.

— Eu me sinto mal agora por interromper.

— Tudo bem — disse ela. — Como foi o brunch com Neil?

— Foi bom. Meu outro irmão, Michael, e meu pai também


apareceram. É sempre bom conversar com eles.

— Então... — Carly saltou na ponta dos pés. — Você falou com


Neil sobre mim?

— Você pode ter sido o assunto uma ou duas vezes, sim.

Ou mil malditas vezes.

Ela se encolheu. — Será que ele acha que eu sou uma vadia
total?

— De jeito nenhum, Carly.

— Ótimo. Eu estava preocupada sobre isso. — Ela olhou para


a porta, onde deixei cair a caixa que trouxe para casa. — Vejo que
você comprou um novo colchão de ar?
— Sim. Achei melhor do que monopolizar sua cama.

— Eu realmente não me importei.

Tentando passar a imagem sem ser direto, encontrei seus


olhos. — Acho que esta é uma solução melhor a longo prazo.

Ela assentiu e olhou para baixo. — O que você quiser.

Se eu não a conhecesse melhor, pensaria que ela estava


desapontada. Eu não queria que ela pensasse que eu não gostava
de dormir ao lado dela, então tentei fazer uma piada. — É só que
o colchão inflável é tão atraente. A maneira como a coisa toda se
achata no chão toda vez que eu me mexo? A sensação de borracha
contra a minha pele? Você não pode vencer isso.

— Você merece, Josh. — Ela sorriu, mas não alcançou seus


olhos.

Preocupava-me tê-la ofendido. — Eu aprecio você compartilhar


comigo ontem à noite, no entanto.

Ela assentiu e se virou.

●●●

As coisas podiam ter parecido normais nessa noite durante o


jantar e a rotina de dormir de Scottie, mas eu sabia melhor. Carly
estava mais quieta, uma estranha tensão ainda pairava no ar. Mas
disse a mim mesmo que ela ficar ofendida com a situação da cama
era melhor do que eu perder o controle, estragar tudo e fazer algo
que eu nunca poderia retirar.
Depois que Carly tomou banho, ela foi para o quarto sem dizer
boa noite. Isso era completamente diferente dela.

Eu a parei antes que ela fechasse a porta atrás dela. — Ei,


Carly...

Ela congelou e se virou para mim. — Sim?

— Você tem certeza de que está bem? Você esteve quieta a


maior parte do dia de hoje. E você costuma dizer boa noite antes
de ir para a cama.

Carly se fez de boba. — Se estou quieta, não é intencional.

Besteira. — Isso não tem a ver comigo ter escolhido não dormir
aí de novo, tem?

Seu rosto ficou rosa. — Não, claro que não. Por que você
pensaria isso?

— Jura por Bubba-Hank.

— O quê?

— Jura pelo nosso ex-cachorro.

Seus olhos se arregalaram e ela me deu um olhar horrorizado.


— Eu não farei tal coisa.

Ela então se virou e escapou para seu quarto, batendo a porta.

Eu não sabia o que era pior: o fato de ter usado a vida de


Bubba-Hank como um peão para fazer Carly dizer a verdade, ou o
fato de ela estar realmente brava comigo.
Capítulo 17

CARLY

Enquanto preparava meu café na manhã seguinte, notei um


bilhete no balcão.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Rosas são vermelhas.

Violetas são azuis.

Sonhei que estava me engasgando com um limão.

E pensei em você...

Olhei para Josh. Ele sorriu por trás de sua caneca de café.

— Você realmente sonhou com isso? — perguntei.

— Estranhamente, eu sonhei.

Apertei a cafeteira. — Talvez fosse um simbolismo.

— Simbolismo?

— Você estava se sentindo culpado depois de usar Bubba-Hank


para me enganar ontem à noite. Você sabia que eu nunca juraria
pela vida dele.

— Acho que sei como arrancar qualquer coisa de você, hein?


Essa é uma ferramenta muito poderosa.
É claro que meu comportamento de ontem teve tudo a ver com
o fato de Josh ter decidido não dividir a cama comigo novamente.
Meu olhar fixo o assustou – eu sabia disso. Eu tinha analisado isso
até as últimas entranhas ontem, mas prometi seguir em frente
hoje. Simplesmente, eu já havia superado isso. Eu tinha que
superar.

— Scottie ainda está na cama? — perguntei.

— Sim. Shh... — Josh colocou o dedo indicador sobre os lábios.


— Ele não costuma dormir até tão tarde, mas tenho certeza de que
não vou acordá-lo.

Quando meu café ficou pronto, servi minha caneca até onde ele
estava sentado. — Olha, faz um favor, Josh?

— O quê?

— Apenas esqueça tudo sobre ontem, ok? Tudo o que me irritou


acabou. Não estou mais com aquele humor esquisito.

— Feito. — Ele mordeu seu bagel. — O assunto foi oficialmente


descartado. — Seu próximo comentário me pegou desprevenida,
no entanto. — Por que você não sai e faz algo por si mesma hoje?

— De onde veio isso?

— É que já passou da hora. Além daquela única ida ao


cabeleireiro e às unhas, você não tirou nenhum tempo para si
mesma. Vá fazer compras ou algo assim.

Peguei a outra metade de seu bagel sem glúten e dei uma


mordida. — Você vai me dar dinheiro para essa maratona de
compras, garotão?
— Sim, na verdade. — Ele enfiou a mão na carteira e pegou um
maço de dinheiro. — Aqui...

— Uau. — Eu levantei minha palma. — Oh, meu Deus, Josh.


Eu estava brincando. Você está louco? Eu não vou pegar seu
maldito dinheiro!

— Pegue. Você não está trabalhando muito agora.

— Isso não significa que você me deve dinheiro.

— Eu sei. Mas Carly, a única razão pela qual consigo trabalhar


tão bem quanto trabalho, sem interrupção, é porque você cuida de
Scottie durante o dia. Se eu fosse o único aqui, como planejei
originalmente, não teria como continuar fazendo meu trabalho.
Então veja isso como uma vingança por me ajudar a permanecer
empregado durante tudo isso. Pegue o dinheiro e compre algo
legal. Faça uma massagem. Ou coloque longas unhas de volta em
seus dedos. Sério. Apenas divirta-se. — Ele estendeu o dinheiro.
— Não aceito não como resposta.

— Bem, droga. Não preciso que me diga duas vezes, Sugar


Daddy. — Peguei o dinheiro e coloquei no meu sutiã. — Obrigada.

— Você pode me agradecer comprando um sorvete de pistache


no caminho de volta.

— Pode deixar.

A tarde foi abençoada. Uma vez fora, percebi que isso era muito
mais necessário do que eu imaginava. Fiz exatamente como Josh
sugeriu. Eu fui ao shopping e tive um dia de menina. Comecei me
deliciando com um café e um donut de coco na praça de
alimentação, que desfrutei em paz enquanto rolava no meu
telefone. Depois, visitei algumas lojas de departamentos e
experimentei várias roupas. Eu precisava de um maiô novo que
fosse um pouco mais modesto do que meu biquíni, já que
planejava começar a levar Scottie ao YMCA para que ele pudesse
nadar na piscina coberta.

Decidi fazer várias tarefas ao mesmo tempo conversando com


minha amiga Christina ao telefone no provador enquanto
experimentava vários maiôs. Eu tinha acabado de informá-la sobre
os últimos acontecimentos em casa, incluindo a noite em que Josh
e eu dividimos a cama.

Ela tinha uma teoria interessante. — Ele pagou porque se sente


culpado por ter falado sobre seus verdadeiros sentimentos ontem
à noite.

— Ele deveria se sentir culpado. Ele sabia que eu nunca juraria


pela vida daquele cachorro. — Suspirei. — Pensei que ele insistir
para que eu saísse hoje foi bom, no entanto. Não vou me apegar
muito sobre isso.

— Posso perguntar uma coisa? — ela indagou.

— Pode... — Tirei minha calça.

— Se ele tentasse algo sexual, você seria receptiva?

Meu corpo formigava só de pensar nisso. Puxando minha


camisa sobre a cabeça, falei: — Não serei eu quem iniciará nada.

— Não foi isso que perguntei. Minha pergunta era: se ele desse
o primeiro passo, você o impediria?

Não, eu não impediria. Mas eu não estava pronta para admitir


isso. — Não sei.
— Isso é um sim. — Ela fez uma pausa. — Uau. Nunca pensei
que você fosse chegar a esse ponto.

Sua reação imediatamente me fez questionar meu caráter. —


Você está me julgando?

— Não, não foi isso que eu quis dizer. Estou feliz que você se
permitiu deixar de lado a culpa.

— Nada vai acontecer de qualquer maneira — eu informei a ela,


um pouco alto demais. — Porque Josh não me vê dessa forma. Ele
sabe que eu o acho atraente, o que continua a ser embaraçoso para
mim. Mas ele nunca deu a entender que me acha sexualmente
atraente ou tem sentimentos além desse vínculo que temos por
causa de Scottie. Portanto, não vou especular sobre uma situação
imaginária.

— Eu não chamaria de imaginário dormir na mesma cama. Isso


realmente aconteceu, e acho...

— Vamos deixar pra lá, ok? — Eu desabotoei meu sutiã. —


Escute... vou desligar e experimentar alguns desses maiôs. Vou
mandar fotos para você para saber sua opinião.

— Ok. O que você está procurando?

— Modesto. Estou procurando maiôs porque vou começar a


levar Scottie para nadar. Não preciso impressionar ninguém lá. Só
tenho um biquíni aqui comigo, que usei para tomar banho com
Scottie. Não pergunte.

Ela riu. — Não vou tocar nisso.

— Ok. Fique perto do telefone.


Desliguei e vesti o primeiro, um preto com uma faixa
transparente na parte de cima.

Apoiei o telefone de uma forma que me permitiu ver todo o meu


torso no visor. Ajustei o cronômetro para tirar uma foto e enviei
para Christina.

Christina: Quem sabia que havia um maiô adequado para


um funeral?

Carly: Então você não gosta?

Christina: Talvez compre esse e guarde até os 80 anos. Mas


não vou deixar você usá-lo.

Carly: Eu disse que queria algo conservador.

Christina: Esse é simplesmente deprimente. Pelo menos


escolha uma cor vibrante se for usar um maiô de velhinha. As
velhinhas de verdade na piscina se vestem mais gostosas do
que isso.

Carlly: Ok. Ponto tomado. Aguarde o próximo.


Tirei o preto e vesti um vermelho vivo. Embora a cor fosse mais
excitante, não gostei a forma como este se encaixava. Era
confortável, mas não tinha enchimento no peito. Eu não era tão
pequena na parte de cima, mas sempre apreciei um pouco de
impulso.

Configurei o cronômetro para tirar uma foto novamente e enviei


com uma mensagem:

Carly: Esse me deixa muito plana?

Cerca de um minuto depois, meu telefone finalmente tocou.

Josh: Defina plana.

Minha primeira inclinação foi me perguntar por que ela não


entendeu minha pergunta, mas logo percebi que esse era o menor
dos meus problemas.

Eu tinha enviado a Josh a minha foto no maiô vermelho! Eu


perdi uma mensagem dele sobre comprar creme azedo no caminho
para casa, então quando cliquei na mensagem mais recente para
enviar a foto, era dele, não de Christina.

Eu não conseguia digitar rápido o suficiente.

Carly: OMG. Isso não era para você.


Josh: Droga. Sério?

Carly: Christina está me aconselhando sobre roupas de


banho. Acabei de clicar na mensagem errada.

Josh: Então você não quer minha opinião?

Carly: Não. Você não achou estranho eu mandar uma foto


minha de maiô?

Josh: Eu não sei. Pensei que era legal... como se talvez você
valorizasse minha opinião sobre essas coisas.

Carly: Prefiro ser pega morta a mandar uma foto nada


lisonjeira de mim mesma em um maiô!

Josh: Você acha que está mal?

Carlly: Sim.

Josh: Que outras opções temos?

Carly: Não há NÓS neste processo.


Josh: Isso não é divertido.

Suspirei e digitei.

Carly: Tem um preto, mas Christina disse que parecia um


maiô de funeral.

Josh: O que aconteceu com seu biquíni?

Carly: Quero algo mais modesto para vestir quando levar


Scottie ao Y.

Josh: Eu costumava trabalhar lá no ensino médio. Se você


levar Scottie à tarde, são todos idosos. Mas suponho que você
pode causar ataques cardíacos em seu biquíni, então talvez
você esteja no caminho certo. Enfim, estou aqui se quiser
minha opinião.

Carly: Obrigada.

Josh: E respondendo a sua pergunta, aquele maiô vermelho


deixou você plana.
Ele estava falando sério? Bem quando pensei que estávamos
nos dando bem, ele teve que ir e estragar tudo. Por que ele sempre
fazia isso?

Então meu telefone tocou novamente.

Josh: PLANA6

Engraçada

Canhota

Autêntica

Difícil

Sorri de orelha a orelha.

Carly: Você é tão pateta, Josh. Não sabia que você sabia que
eu era canhota.

Josh: Você come com a direita e escreve com a esquerda.


Tecnicamente, você é ambidestra. Porra, eu deveria ter usado
isso para A.

Carly: E você é observador.

6
A palavra no original é FLAT, e ele usa adjetivos que começam com essas letras.
Josh: Mau, pateta e observador. Tenho certeza de que você
pode pensar em mais alguns adjetivos para mim. Não tenho
certeza se quero conhecê-los, no entanto.

Carly: LOL

Josh: Você ia chegar em casa e me chutar nas bolas quando


pensou que eu estava chamando você de plana, não é?

Carly: Eu não teria chutado suas bolas. Mas poderia ter


colocado um pouco mais de pimenta na sua massa esta noite.

Josh: Falando em jantar, eu faço.

Carly: Você cozinha, Mathers?

Josh: Eu sei que você pensa que sou bom apenas no frango,
mas há outra coisa em que sou especialista em fazer.

Carly: Bem, isso eu tenho que ver.

Experimentei pelo menos mais dez maiôs antes de finalmente


escolher um.
Quando entrei em casa naquela noite, não pude acreditar em
meus olhos. O carpete da sala tinha marcas recentes de aspiração,
e Scottie estava sentado calmamente no sofá com o cabelo
molhado, o que significava que eles já haviam tomado banho. O
aroma de algo absolutamente delicioso enchia o ar.

— Algo cheira bem — eu disse enquanto entrava na cozinha,


colocando as compras no balcão. — O que você está fazendo?

Josh tinha um pano de prato sobre o ombro enquanto lavava


algumas coisas na pia. — Está no forno. Você não tem permissão
para espiar até que esteja pronto. Scottie já comeu seu frango. Dei
a ele um jantar mais cedo para que pudéssemos comer em paz.

— Não sei o que fiz para merecer tudo isso — eu disse.

— Bem, estou meio que compensando você com antecedência.

— O que você quer dizer?

Ele fechou a torneira e se virou para mim. — Depois que você


saiu esta manhã, descobri que tenho que me encontrar com um
cliente em Chicago esta semana. Então, pense nisso como um pré-
pagamento por você ter que segurar o forte sozinha por alguns
dias.

O pavor me encheu. Eu odiava quando ele ficava fora. Mas


seriam apenas alguns dias. Eu poderia fazer isso. — Oh, tudo bem.
Isso é bom. — Sorri e tentei não deixar transparecer minha
decepção.

— Você acabou comprando um maiô?

— Comprei. — Eu sorri.

A sobrancelha de Josh se levantou. — Bem?


— Depois de experimentar muitos, decidi pelo vermelho...
porque me deixa plana.

— Legal. — Ele piscou.

Eu ficava arrepiada sempre que Josh piscava para mim, mais


uma vez um sinal de que precisava transar com alguém que não
fosse Josh. Não ajudava o fato de ele estar ficando mais bonito a
cada dia que passava, com o cabelo crescendo e o visual de homem
das cavernas, sem barba. Eu curti, e isso continuou a ser um
problema.

O jantar misterioso de Josh era enchilada de frango, e estava


bem saboroso. Foi bom sentar para comer uma refeição caseira
preparada por outra pessoa, especialmente quando Scottie já
estava de banho tomado, alimentado e satisfeito no sofá.

Depois de comer, Josh e eu nos juntamos à Scottie na sala de


estar. Olhei por cima do ombro de Scottie enquanto ele percorria
as fotos em sua biblioteca do iPad, muitas das quais eram imagens
distorcidas de seu próprio rosto, cortesia de um aplicativo de
alteração de rosto. Mas então apareceu a foto de um pênis gigante.

Não era o do Scottie – eu já tinha visto o dele. E o pequeno


pedaço de torso bronzeado e rasgado que também havia aparecido
na foto era uma revelação definitiva de quem era o pênis. De quem
quer que fosse, era bem grande.

Oh, meu Deus. Eu me atrapalhei com minhas palavras


enquanto olhava para Josh. — Hum...

Ele estreitou os olhos. — O quê?


— Você está... ciente de que há uma foto sua completamente
nu no iPad de Scottie?

— Pode repetir?

Tirada de um ângulo torto, a foto do pau de Josh podia ter sido


tirada acidentalmente. Scottie sempre tinha um de seus
dispositivos com ele – mesmo no banheiro – então ele devia ter
pressionado o botão da câmera durante um de seus banhos
masculinos.

— Scottie, dê isso para mim por um segundo. — Peguei o


aparelho. — Vou devolver. Não se preocupe.

Surpreendentemente, Scottie deixou passar sem lutar, e eu o


entreguei a Josh.

Ele o observou com um olhar vazio em seu rosto. Não consegui


ler sua expressão quando ele clicou nele.

— Você está envergonhado? — perguntei, sem saber o que


dizer.

Depois de um momento, ele devolveu o dispositivo a Scottie. A


foto tinha sumido. Não que eu esperasse uma segunda olhada...

— Não sei. Eu tenho algo para me envergonhar? — ele


perguntou, suas orelhas ficando vermelhas.

Engoli em seco. — De jeito nenhum. — Certamente que não.

— Eu meio que gosto de controlar quando envio fotos de pau


para o mundo. Como diabos não sabia que ele tinha tirado uma
foto do meu pau?

— Ele é muito furtivo.


Josh soltou um suspiro. — Pelo menos nós encontramos antes
que alguém percebesse – como o pessoal do serviço social.

— Oh, Deus. — Cobri minha boca. — Eu nem tinha pensado


nisso. Você pode imaginar?

Josh se levantou e cutucou Scottie. — Acho que você já causou


dano suficiente por um dia, cara. Vamos levá-lo para a cama. Já
passou da sua hora de dormir de qualquer maneira.

Era tarde, mas eu não estava nem perto de dormir.


Especialmente porque Josh iria me deixar sozinha com Scottie por
alguns dias.

Ele voltou para a sala e esfregou o estômago duro. — Você tem


espaço para a sobremesa?

— Sempre há espaço para o pistache.

Josh foi até a cozinha e voltou com duas tigelas, entregando


uma para mim. Tínhamos começado uma tradição todas as noites
de assistir a um dos DVDs de Wayne, na maioria das vezes
enquanto comíamos sorvete. Eram tantos DVDs que levaríamos
várias semanas para ver todos eles. Isso me lembrou um
calendário do Advento; nunca sabíamos que surpresa teríamos.
Uma noite era um DVD dos meninos quando eram mais jovens.
Em outra noite, era apenas Wayne fazendo vídeos aleatórios de
veados na floresta. Um jovem Josh também apareceu em alguns
deles.

Eu tinha acabado de me acomodar no sofá com minha tigela de


sorvete, pronta para nossa próxima surpresa quando tive um rude
despertar. Em vez de belos e loiros meninos Longo, animais ou
cenas idílicas de família, um conjunto de peitos grandes e
balançantes saltava para cima e para baixo na tela. Tínhamos
colocado um filme pornô.

Josh olhou para mim. — Bem, acho que sabemos como Wayne
gostava de relaxar algumas noites.

Minha colher tilintou quando coloquei meu sorvete na mesa. —


Isso não foi rotulado?

Ele balançou sua cabeça. — A maioria deles não é. — Ele


pressionou stop no DVD e ejetou o disco do player. Ele então deu
uma olhada mais de perto. — Oh, espere. Ele tem um P escrito em
Sharpie neste. Quem diabos sabia que significava pornografia?

— Acho que precisamos ficar atentos a eles.

— Eu definitivamente... — Ele tossiu com uma piscadela. — ...


manterei eles em boas mãos.

— Tenho certeza de que você vai. — Peguei minha tigela


novamente e coloquei uma grande colherada em minha boca. —
Rapaz, esta casa está cheia de surpresas esta noite.

Josh gargalhou. — Esta noite trouxe a você a letra P: fotos de


pênis e pornografia.

Eu quase cuspi meu sorvete. Precisava dessa risada.

Se Christina estava certa, e Josh tinha me mandado para fora


de casa mais cedo enquanto ele limpava e cozinhava para nos
distrair da tensão muito real que havia construído desde que
compartilhamos a cama na outra noite, então o universo estava
brincando conosco. Em vez de uma distração, Josh
acidentalmente me mostrou seu pau e colocou um pornô para
terminar a noite.

Quando esvaziei minha tigela, levantei-me. — Sabe como você


sabe quando é a sua deixa para dormir? Tenho certeza de que o
filme pornô de Wayne era para mim. — Fui até a cozinha e coloquei
minha tigela na pia. — Boa noite — falei.

— Tenha grandes sonhos de peitos saltitantes, Carly — Josh


respondeu do sofá.

Eu levantei meu dedo indicador. — Ela definitivamente não era


plana.

Ele riu. — Ela não era. Acho que Wayne era um homem de
peitos.

Balancei a cabeça e ri.

Quando me deitei na cama, pude ouvir Josh bombeando ar em


seu colchão. Apesar do meu melhor humor hoje, eu não tinha
exatamente parado de analisar por que ele escolheu não dormir ao
meu lado novamente. Senti falta daquele peso do outro lado do
colchão agora. Mas apreciei o limite que ele estabeleceu,
especialmente porque eu me encontrava com mais tesão do que
nunca esta noite. Porque, bem... fotos de pênis e pornografia.
Capítulo 18

JOSH

Posso ter me voluntariado para esta viagem a Chicago para


encontrar um cliente. Com a recente tensão crescendo na casa de
Woodsboro, pensei que alguma separação entre mim e Carly
poderia ser necessária para clarear minha cabeça.

Mas enquanto estava sentado aqui, sozinho em meu


apartamento depois de um longo dia de trabalho, eu me arrependia
de minha decisão.

O silêncio nesse lugar era ensurdecedor. Eu não gostava mais


de morar sozinho como antes. Eu sentia falta de ter alguém com
quem dividir um pote de sorvete – ou mesmo alguém com quem
tomar banho. Obrigado, Scottie. Eu nunca tinha percebido até o
meu período em Woodsboro o quão solitária minha vida tinha sido.
Trazer uma mulher para casa para fazer sexo e nada mais, como
costumava fazer, estava muito longe de realmente desenvolver
uma conexão com alguém que ia muito além do sexo. Ou, no caso
de Carly, parado antes do sexo. Tínhamos uma conexão que era
inegável. Se nasceu de nossa luta semelhante após a perda de
Brad ou de outra coisa, não tinha certeza. Mas eu realmente sentia
falta de estar em casa agora. Lar. Eu pensei que Chicago era meu
lar, mas não parecia nada com isso no momento. Esta era a
primeira vez na minha vida que eu realmente desejava estar de
volta a Woodsboro.
Peguei o bilhete que Carly me deixou antes de vir para cá. Ela
colocou no balcão ao lado de uma fatia de pão de abóbora para eu
comer no caminho para o aeroporto.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Fotos de pênis, pornografia... e abóbora! Tenha um voo seguro.

Incapaz de resistir por mais tempo, peguei meu telefone e


mandei uma mensagem para ela.

Josh: Como vão as coisas por aí?

Carly: Foi um dia difícil.

Josh: Por que você não me mandou uma mensagem?

Carly: Eu não queria incomodar você com meu desabafo


quando está ocupado com o trabalho.

Meu pulso disparou.

Josh: O que aconteceu?


Carly: Eu levei Scottie para a piscina. Mas ele teve um
colapso enquanto esperávamos o final da prova de natação. Ele
não conseguia entender por que tivemos que esperar.

Eu imediatamente liguei para ela.

Ela atendeu depois de um toque. — Oi. — Ela soou abatida.

— Achei que seria mais fácil conversar. Diga-me o que


aconteceu.

— Sim... — Ela suspirou. — Não consegui tirá-lo do chão. Ele


estava chutando e gritando. Quando a natação do último ano
acabou, eu não queria recompensar seu comportamento deixando-
o entrar. Então, acabamos voltando para casa.

— Cara, isso é péssimo. Lamento que isso tenha acontecido.


Mas foi uma boa decisão para lhe dar uma lição. Caso contrário,
ele continuaria fazendo isso para conseguir o que quer.

— Vou tentar de novo amanhã.

Eu me deitei. — Você é um soldado.

— Bem, cuidar dele é meu trabalho em tempo integral agora.


Não posso simplesmente desistir quando as coisas ficam difíceis.

— Isso não é verdade. Você sempre tem outra opção. Muitas


pessoas não voltariam para a piscina depois disso. É por isso que
você é um soldado.

Ela soltou uma longa expiração que parecia me penetrar. Eu


podia sentir sua tensão daqui. Eu deveria ter estado lá hoje.

— Enfim, como está Chicago? — ela perguntou.


— Realmente pacata.

— Ninguém tirando fotos aleatoriamente do seu pau?

— Ainda não, não. Mas a noite é uma criança.

Ela riu. — Você tem sorte que ele não usou o filtro de Andy
Warhol em seu pau e o duplicou centenas de vezes.

Eu gargalhei. Scottie adorava usar aquele filtro. — Você acabou


de me dar uma ótima ideia para cartões de Natal.

Ela riu. — Aposto que você vai dormir como um bebê esta noite,
hein?

— Eu planejo isso. Depois do dia que você teve, provavelmente


você também irá.

— Não sei. Não tenho dormido muito bem, por mais exaustivos
que sejam os dias.

— Achei que você dormia bem no geral — eu disse.

— Não ultimamente... — Houve uma longa pausa. — Eu dormi


melhor na noite em que você estava deitado ao meu lado, na
verdade.

Fechei os olhos, tentando resistir à satisfação que queria me


permitir sentir. — Eu dormi muito bem naquela noite também —
admiti.

— Eu entendo por que você se sentiu culpado, Josh. Mas essa


é a única razão pela qual você decidiu não o repetir?

A distância física entre nós me deixou mais confiante para me


abrir.
— Não, esse não foi o único motivo — eu exalei. — Só estou
tentando proteger você, Carly.

— De quê?

— De mim — eu retruquei.

— Você não é tão perigoso — ela insistiu.

— Eu acho que você sabe para onde dormir na mesma cama


todas as noites acabaria levando. Você acha que eu tenho tanta
força de vontade? Sou um cara cheio de tesão e de testosterona
que não transa há muito tempo. Não confio em mim mesmo com
você.

Seu silêncio me fez lamentar o que acabei de admitir. Eu fiz


soar como se eu fosse tentado por qualquer uma. Mas não era
nada disso. Era ela. Ela me fazia sentir assim. Ela me tentava.

— E se eu dissesse que não me importo com as consequências?


— ela disse.

— Eu não acreditaria em você.

— Eu entendo o dilema – porque você e eu nunca poderemos


ficar juntos. E certamente não estou querendo recriar o que tive
com Brad ou começar algo novo agora. Na verdade, não consigo
mais imaginar meu futuro. Não espero encontrar novamente o que
ele e eu tivemos. Mas, ultimamente, eu simplesmente...

— O quê? — cutuquei avidamente.

— Eu tenho desejado contato físico. Já faz muito tempo. Eu


nem quero dizer sexo. Basta entrar em contato. E a noite em que
você dormiu perto de mim foi o mais perto que cheguei de ter isso
de volta.
Eu estava desejando a mesma coisa e muito mais. Mas eu
precisava colocar um limite em minha franqueza agora. Eu me
recusava a admitir o quanto havia adorado estar deitado ao lado
dela. Era melhor que ela presumisse que se tratava apenas de
sexo.

Ela falou novamente antes que eu pudesse imaginar uma


resposta. — Sinto muito se isso é demais agora.

— Demais como? Você está sendo honesta. O que é muito mais


do que tenho sido. Eu é que estou fazendo você se sentir
inadequada porque tenho dado a impressão de que não estou
sendo impactado ultimamente, e você é a única que está se
sentindo assim. Esse não é o caso. — Quando minhas paredes
começaram a desmoronar, puxei meu cabelo. — Eu queria fazer
mais do que apenas me deitar ao seu lado. Você não tem ideia de
como você é linda.

— Sério? Porque pensei que você odiasse meu rosto.

Eu congelei.

Depois de um segundo, ela riu. — Desculpe. Eu não pude


resistir. Totalmente brincando.

— Eu mereci isso, porra. — Eu suspirei de alívio. — Mas você


quer a verdade?

— Sim...

— Eu sempre achei você linda, mesmo quando mandei aquele


comentário idiota para o Brad. Nunca pensei que você não fosse
bonita. E passar esse tempo com você – ver que sua beleza é muito
mais do que o que está do lado de fora – tem sido uma experiência
que eu acho que não mereço. — Fiz uma pausa, pensando se
deveria continuar. — Eu nunca seria capaz de tomar o lugar dele,
Carly. E mesmo que você tenha dito que não é isso que você está
procurando, não tenho certeza se acredito em você. Talvez seja
assim que você se sente hoje. Mas não vejo você se sentindo assim
para sempre. Você merece mais do que sexo barato com um cara
que não sabe o que fazer. Você merece um parceiro.

— Você tem razão. Eu mereço mais. Só não sei se quero. Minha


alma foi sugada de mim no dia em que ele morreu, Josh. Não a
encontrei desde então. Eu não quero sentir nada.

Porra. Suas palavras espelhavam tudo o que eu tinha


experimentado nos últimos dois anos, tentando arduamente não
sentir nada. Exceto que eu estava sentindo algo ultimamente. Pela
primeira vez em muito tempo... por causa dela.

— Eu vou deixar você ir — ela disse abruptamente. — É tarde


e sei que você tem que trabalhar amanhã.

Eu não queria desligar, mas sabia que quanto mais tempo


ficasse ao telefone, mais perigoso seria. Eu provavelmente estava
prestes a dizer coisas das quais me arrependeria. Se estivéssemos
fisicamente juntos, eu poderia ter feito algo de que me
arrependeria.

— Ok. Boa noite, Carly.

— Boa noite, Josh — ela disse e a linha ficou silenciosa.

Depois disso, por mais que eu ansiasse pela minha cama esta
noite, o sono me evitou. Eu não podia acreditar que tinha admitido
tudo isso para ela.
Em vez de lutar contra a insônia, sentei-me, peguei meu
telefone e enviei uma mensagem impulsiva.

Josh: Você estará por perto amanhã à noite? Estou de volta


à cidade por alguns dias.

Ela respondeu imediatamente.

Naomi: Claro que sim. Adoraria ver você. Faz muito tempo.
Capítulo 19

JOSH

Dois dias depois, voltei para New Hampshire. Embora eu


devesse ter chegado em casa na hora do jantar, meu voo atrasou
devido ao mau tempo, e tinha dito a Carly para não me esperar
para jantar ou esperar por mim. No entanto, consegui pegar um
voo em uma companhia aérea diferente, o que finalmente me
trouxe para casa por volta das onze.

Eu sabia que Carly não estaria me esperando tão cedo, mas


não queria assustá-la se ela já estivesse dormindo. Então, ouvi
atentamente enquanto usava minha chave para abrir a porta. A
casa estava silenciosa, então presumi que ela e Scottie estivessem
na cama. Gentilmente empurrei minha mala para um canto da
sala antes de espreitar minha cabeça no quarto de Scottie. Suas
costas subiam e desciam enquanto ele dormia profundamente, e
sua máquina de ruído estava ligada. Eu realmente queria ver
Carly, então decidi espiar em seu quarto também, esperando vê-la
dormindo como Scottie.

Não foi isso que encontrei.

Quando espiei pela fresta de sua porta entreaberta, estremeci


com a visão diante de mim. Com as pernas abertas, ela se
contorcia enquanto expelia respirações curtas e irregulares. Não
precisava ser um gênio para descobrir o que estava acontecendo.
Puta merda.

Eu estava com tanto tesão o dia inteiro, e voltar para casa para
isso era pura tortura. Ela estava tão concentrada no que estava
fazendo que nem me ouviu entrar. Fiquei ali parado, igualmente
chocado e excitado – não chocado por ela estar gozando, mas
chocado por ter tido a sorte de testemunhar isto.

Suas pernas inquietas farfalharam contra os lençóis, e meu


pau inchou. Assistir e ouvir Carly dar prazer a si mesma foi a coisa
mais linda que experimentei em muito tempo. Linda e tão
excitante.

Excitante demais para resistir.

Eu queria desesperadamente entrar. Pela primeira vez em


muito tempo, decidi jogar a cautela ao vento e me permitir acessar
as profundezas do meu desejo. Mesmo que por apenas uma noite,
eu precisava disso. E ela claramente precisava disso também.

— Carly...

Ela se encolheu ao som da minha voz e juntou os joelhos.

— Tudo bem. Sou só eu. Não pare — eu disse.

Ela se apoiou nos antebraços, mas não falou.

— Por favor, não pare, Carly. Estava linda.

Seu peito subia e descia enquanto ela olhava para mim, seus
olhos nebulosos apesar de sua expressão atordoada.

— Continue fazendo o que estava fazendo — repeti, meu próprio


peito arfando, incapaz de conter o desejo crescendo dentro de mim.
Carly não se mexeu enquanto eu caminhava em direção à
cama.

Ela estava vestindo uma camiseta, mas agora eu podia ver mais
claramente que ela estava sem calcinha.

— Abra as pernas de novo.

Para minha agradável surpresa, Carly entrou na brincadeira,


lentamente abrindo as pernas e exibindo sua linda e brilhante
boceta. Notei que ela tinha uma pista de pouso fina. Minha boca
salivou, tão tentado a abaixar meu rosto e prová-la.

Ajoelhando-me diante dela no colchão, levantei minha camisa


sobre minha cabeça. — Tudo bem?

Ela assentiu.

— Deite-se de novo — eu exigi. — Relaxe.

Carly fez o que eu disse, descansando contra a cabeceira, seu


travesseiro atrás dela. Ela continuou a olhar para mim.

Minha voz era gutural. — Você estava pensando em mim?

Ela olhou para mim sem expressão, então assentiu e lambeu


os lábios.

— Ótimo. — Corri minha mão pelo meu torso. — Eu estive


pensando em você o dia todo, também.

Carly engoliu em seco, ainda olhando para mim, mas sem dizer
uma palavra.

— Eu quero ver você gozar. Mas quero que olhe para mim
enquanto faz isso. Ok?

Ela assentiu novamente.


— Volte para o que você estava fazendo quando entrei.

Carly hesitou antes de deslizar a mão de volta entre as pernas.


Ela moveu os dedos em um movimento circular sobre seu clitóris.
Enquanto ela olhava para mim, eu podia ouvir o som de sua
umidade. Meu pau estava duro como pedra enquanto eu
imaginava como seria deslizar dentro daquela boceta linda e
molhada agora.

— É isso. Não tire os olhos de mim, Carly.

Ela não tirou, e foi a experiência mais sexy da minha vida. Um


olhar de luxúria encheu seus olhos, e eu estava ficando viciado no
desejo que podia ver neles. A única coisa mais gostosa do que ceder
poderia ser negá-la.

— Você quer minha boca em você? — eu murmurei.

Ela fechou os olhos e assentiu.

— Eu quero provar você tão loucamente, mas também quero


saborear esse sentimento, fazer você querer ainda mais. Mantenha
seus olhos em mim, Carly — eu sibilei. — Olhe para mim.

Ela abriu os olhos novamente enquanto circulava seu clitóris


mais rápido.

— Aposto que você consegue gozar só de olhar para mim, não


é? Isso é o quanto você está excitada. Eu adoro isso.

Eu pairei sobre ela, abaixando-me até que minha boca


estivesse a poucos centímetros da dela. Quando seus lábios se
separaram, precisei de tudo em mim para não tomar sua boca com
a minha. Mas me abstive, com medo do que aquele ato íntimo
poderia causar. Em vez disso, babei inadvertidamente, e um pouco
da minha saliva foi parar em sua boca. Ela colocou a língua para
fora para recebê-la e engoliu. Meu pau doía ao imaginá-la fazendo
o mesmo com meu esperma.

Recuei e coloquei minha mão na fivela do meu cinto. — Você


quer ver o resto de mim?

— Sim — ela ofegou.

Essa foi a primeira palavra que ela conseguiu pronunciar


durante todo esse tempo.

Enquanto sua respiração acelerava, tirei o cinto, jogando-o de


lado, e abri o zíper da calça jeans antes de puxar meu pau inchado
pela abertura.

Minha ponta estava molhada quando comecei a me acariciar.


Era um milagre que eu ainda não tivesse gozado em minha calça.

Os olhos de Carly se fixaram firmemente em meu pau enquanto


ela massageava seu clitóris.

— Nada de me tocar esta noite. Quero que você queira ainda


mais da próxima vez — falei entre dentes enquanto bombeava meu
pau na minha mão.

— Você é cruel — ela respirou.

— Você não tem ideia. — Eu sorri. — Você pensou que me


odiava antes. Apenas espere.

Ela gemeu. — Porra.

— Você gosta do meu pau, não é?

Ela se esfregou mais rápido e assentiu.


Eu me empurrei sobre seu corpo. — Você quer isso dentro de
você?

Carly mordeu o lábio inferior e assentiu.

— Diga.

— Eu quero você dentro de mim — ela murmurou.

— O que você quer dentro de você?

— Eu quero seu pau dentro de mim. — Ela riu um pouco. —


Seu grande pau.

— Isso é tão sexy vindo de sua boca doce, Pumpkin. — Passei


minha língua sobre meu lábio inferior. — Só por isso, eu deveria
deixar você montar meu rosto até você gozar. — Eu me puxei com
mais força. — Você gostaria disso?

— Sim.

— Próxima vez.

— Você é mau... — Ela ofegou enquanto continuava a esfregar.

— Porco do mal... — Eu sorri diabolicamente para ela.

— Isso é tortura — ela respirou.

Ela entendeu errado – era eu quem estava sendo torturado


aqui. Não havia nada que quisesse mais do que prová-la, mas me
masturbar com o quanto ela me queria era excepcionalmente
intenso. O olhar em seus olhos me fez sentir como se ela fizesse
qualquer coisa por mais. E enquanto eu estava começando com
isso, jogar este jogo também foi minha desculpa para não cruzar o
limite.
— Você é um idiota — disse ela enquanto olhava para mim e
movia os dedos ao longo de seu clitóris.

— Continue falando assim se você quiser se foder esta noite —


eu gemi.

— Você é o maior idiota.

— Você me quer na sua bunda? — Eu me acariciei com mais


força. — Foi isso o que você disse? Você me deixaria, não é? Você
me deixaria foder sua bunda, se eu quisesse...

Ela mordeu o lábio inferior e assentiu. — Talvez.

Eu quase gozei, então parei de me sacudir por um momento


para encontrar minha compostura.

Ela empinou os quadris enquanto inseria dois dedos em sua


boceta, bombeando-os para dentro e para fora. Isso quase acabou
comigo de novo. Eu tive que fechar meus olhos para não gozar,
apertando todo o meu corpo para me impedir de perdê-lo.

— Faz tanto tempo para você. Aposto que sua boceta é quase
tão apertada quanto sua bunda. Onde você me quer primeiro?

Ela apontou entre as pernas com a mão desocupada. — Aqui.

— Você quer minha boca ou meu pau aí?

— Ambos — ela murmurou.

— Carly... — Seu nome escapou da minha boca quase


ininteligivelmente... desesperadamente.

— Josh... — Ela suspirou, fechando os olhos.

— Olhe para mim, Carly. Eu quero que você goze para mim.
Não tire os olhos de mim. Quero vê-la gozar.
Seus olhos queimaram nos meus. Em todos os meus anos de
aventuras sexuais, nunca havia jogado esse jogo antes. Havia algo
incrivelmente erótico nessa lenta tortura. Eu nunca quis nada
mais na minha vida do que gozar profundamente dentro de Carly
agora. Mas eu não faria isso. Em vez disso, aproveitaria cada
segundo enquanto ela atingia seu ponto ideal e olhava nos meus
olhos, nenhum de nós se tocando.

— Vamos, baby — eu murmurei. — Goze para mim.

Seu corpo começou a tremer quando ela soltou um grito


silencioso, revirando os olhos.

Quando soube que sua mão havia terminado seu trabalho, eu


a alcancei enquanto me masturbava com mais força. Tomando
seus dedos em minha boca, eu os lambi até limpá-los, seu gosto
me levando ao limite quando gozei em jatos longos e quentes no
lençol abaixo. Meu peito subia e descia enquanto tentava
recuperar o fôlego.

Quando saí do transe em que estava, finalmente olhei para


baixo. Ela ainda estava olhando para mim com os olhos vidrados.
E merda... eu fiz uma bagunça.

— Onde estão os lençóis sobressalentes? — perguntei, ainda


ofegante.

Ela apontou para a esquerda. — No closet.

Saí da cama e acendi a luz dentro do closet para pegar um novo


lençol de cima. Enrolando o lençol sujo em uma bola, joguei-o no
canto do quarto antes de me enfiar de volta em minha calça e
deslizar minha camisa sobre minha cabeça.
Carly continuou deitada lá, flácida e saciada, esperando meu
próximo movimento.

Sentei-me na beira da cama e me inclinei para beijar o topo de


sua cabeça suavemente. — Durma um pouco.
Capítulo 20

CARLY

Que diabos foi a noite passada?

Isso era tudo que eu conseguia pensar enquanto estava deitada


na cama na manhã seguinte. O que eu diria a ele? — Obrigada por
NÃO me foder da melhor maneira?

Quando pude ouvir que Josh tinha acordado Scottie, tomei isso
como minha passagem para dormir. Embora não estivesse
realmente dormindo. Eu estava obcecada. Eu não tinha ideia de
como a noite passada mudaria nossa dinâmica daqui para frente.

Finalmente criei coragem para me vestir e aparecer na cozinha.

— Bom dia... — eu disse enquanto pegava uma caneca do


armário. Josh estava na sala, assistindo à TV ao lado de Scottie.
Eu nem tinha certeza se ele tinha me ouvido, já que ele não
respondeu.

Mas enquanto esperava o café coar, de repente senti o calor de


seu corpo atrás de mim. Um arrepio percorreu minha espinha,
uma combinação de nervosismo e excitação. Eu claramente ainda
estava sensibilizada com o que tínhamos feito juntos ontem à noite
– e com a ideia do que não fizemos.

— Já tomou café? — perguntei.

— Não.
— Você quer um?

— Sim, isso seria ótimo — disse ele com uma voz grave.

Peguei outra caneca, mas ela escorregou de minhas mãos,


estilhaçando-se no chão.

— Merda! — Abaixei-me para limpar os pedaços.

— Tudo bem. Eu cuido disso, Carly.

— Não, deixe-me — eu falei. — É minha culpa. — Corri em


busca de vassoura e pá de lixo, e não olhei para ele enquanto
limpava os pedaços de cerâmica do chão.

Josh se ajoelhou e agarrou meu pulso. — Pare.

— O que foi?

— Você está agindo como se estivesse em uma corrida contra o


tempo.

— Eu não quero que Scottie pise nisso.

— É por isso que você está agindo assim?

— Talvez não — admiti, levantando-me lentamente.

Ele se levantou e colocou a mão no meu queixo. — Não


precisamos falar sobre isso, Carly.

— Não?

— Não, não precisamos. Isso não precisa significar nada.

Essa provavelmente era a atitude certa a se tomar, mas não me


agradou. Não importava o que eu disse a mim mesma, isso
significou algo para mim. Significou muito. Eu gostaria que não.
Ainda assim, eu joguei junto. — Você sabe o quê? Você tem
razão. Não precisa significar nada. Acho que só estava nervosa com
o que você poderia me dizer esta manhã. Ou o que devo dizer a
você.

— Que tal não dizermos nada? Aconteceu. Nós dois estávamos


com tesão. Experimentamos, mas não passamos dos limites. Não
precisa haver uma narrativa em torno disso. Foi uma experiência
que compartilhamos. E acabou.

Uau. Embora houvesse algo muito maduro nessa atitude, ainda


parecia frio. Então me lembrei que era com Josh Mathers que eu
estava lidando. Esse tipo de coisa não era grande coisa para ele.
Sexo – ou o que quer que tivéssemos feito ou não – não era grande
coisa para ele. Ele teve muitas parceiras e muitas experiências
sexuais. E nós não tínhamos realmente nos tocado, então foi ainda
menos significativo.

Antes que tivéssemos a chance de discutir mais, a campainha


tocou.

— Vou atender — disse ele, parecendo ansioso para o indulto.

Quando Josh abriu a porta, Lauren estava lá, e devo dizer que
a conversa entre eles foi ainda mais estranha do que aquela que
tive com Josh esta manhã. Eu quase tinha esquecido que ela viria
trabalhar esta semana depois que ele aparentemente a dispensou
após o encontro. Era a primeira vez que a agendavam aqui desde
então. Talvez ela tivesse tirado uma folga intencionalmente.
Imaginava que isso fazia duas na casa agora que tinham sido
dispensadas por Josh. Ou pelo menos foi assim que me senti
quando ele sugeriu que esquecêssemos a noite passada.
Lauren cumprimentou Scottie e o levou para seu quarto. Josh
e eu fomos mais uma vez deixados sozinhos. Não ajudava que ele
parecesse tão bom esta manhã. Seu cabelo era uma bagunça sexy
e despenteada. E toda vez que eu olhava para sua boca, via a
imagem dele lambendo meus dedos depois que eu tive um
orgasmo. Eu tive que apertar os músculos entre minhas pernas
para me impedir de ficar excitada novamente. Meu maior problema
era talvez que a noite anterior não tivesse sido suficiente para mim;
eu precisava de mais e duvidava que isso fosse acontecer. Josh
não apenas foi meticuloso em não me tocar, mas sua declaração
esta manhã praticamente selou o acordo.

Achei que ele não fosse tocar no assunto de novo, mas um


pouco depois ele se encostou no balcão ao meu lado. — Sinto
muito, Carly. Não falar sobre isso é a saída mais fácil, porque não
sei como lidar com isso de outra forma.

— Eu sei — murmurei. — Eu também não.

— Eu me sinto tão culpado, e nós nem transamos. Eu ainda


levei as coisas longe demais com você ontem à noite.

— Eu também me sinto culpada. — Essa era a verdade. Eu me


sentia culpada, mas sentia muitas coisas além disso. Sentia culpa
por não me sentir mais culpada. Eu estava desenvolvendo
sentimentos reais por Josh, não apenas sexuais, e não sabia o que
fazer com eles, especialmente porque tinha certeza de que eram
unilaterais.

— Tive um encontro enquanto estive em Chicago — anunciou


ele.

Meu estômago afundou.


— Bem, não foi realmente um encontro — continuou ele. — Foi
mais como um encontro fracassado. Fui ao apartamento de uma
garota que eu via de vez em quando antes de vir para Woodsboro.

Eu queria vomitar. Ele tinha transado com alguém logo antes


de voltar? Logo antes de se envolver comigo? Ou ter mexido com
minha cabeça. — Eu não quero ouvir mais nada — eu disse a ele,
sentindo-me enjoada.

— Sinto muito, mas preciso colocar isso para fora — ele


insistiu.

Eu balancei a cabeça com relutância.

— Depois que desliguei o telefone com você na outra noite,


mandei uma mensagem para a Naomi para combinarmos algo. Eu
precisava de uma distração depois de nossa conversa. Parecia que
estávamos passando dos limites — ele exalou. — Mas quando
cheguei à casa dela, não tive interesse. Depois de alguns drinques,
nós nos beijamos. Ela queria ir para o quarto dela e eu
simplesmente... não queria. Eu não conseguia parar de pensar em
você, tudo o que disse para mim no telefone. E percebi que a estava
usando na tentativa de esquecer tudo. Então deixei o apartamento
dela. Disse a mim mesmo que, quando voltasse para Woodsboro,
deixaria claro para você novamente que nada poderia acontecer
entre nós. Mas, obviamente, quando encontrei você... perdi o
controle. — Ele fez uma pausa. — Mesmo com a culpa, não me
arrependo. Mas não vou deixar isso acontecer de novo.

— Achei que você se sentiria assim. — Eu olhei para o chão.

Sua mão encontrou meu queixo e trouxe meus olhos para


encontrar os dele. — Fale comigo. Você não concorda?
— Eu não sei como me sentir, Josh — falei, abatida demais
para me explicar. Não fazia sentido me abrir se ele havia
descartado mais alguma coisa. Isso só me faria parecer tola.

— Se você fosse qualquer outra pessoa, isso não seria grande


coisa — disse ele. — Poderíamos ser amigos com benefícios
enquanto estivássemos aqui ou algo assim, certo? Mas você não é
qualquer uma. Você foi o amor da vida de Brad. Como eu poderia,
em sã consciência, continuar mexendo com você desse jeito?
Mexendo com o seu coração? Eu passei a me importar com você.
— Ele fez uma pausa. — Eu sei que você pensa que está quebrada
e diz que não quer um futuro com ninguém além de Brad, mas
você não é o tipo de garota que quer dizer isso – ficar bem apenas
com sexo. Eu quero que você tenha tudo. Eu quero que você seja
feliz com alguém novamente algum dia. Só não pode ser eu. Nunca
pode ser eu. — Seus olhos brilharam. — Fazer sexo com você...
definitivamente significaria algo para mim. E não tenho o direito
de sentir nada disso. Porque eu não sou ele. Se cruzarmos essa
linha, nunca mais poderemos voltar. E não quero que se arrependa
quando sairmos daqui.

O olhar em seus olhos era sincero. Ele estava cuidando de mim.


E talvez ele tivesse sentimentos por mim que fossem além do
sexual. Era uma droga que, apesar de ele fazer muito sentido, eu
ainda me sentisse rejeitada. Eu gostaria de poder ver as coisas de
forma mais lógica, mas não conseguia.

Ele puxou o cabelo. — Carly, eu só...

— O quê?

— Estou tão fodido.


— O que você está falando?

— Mesmo além de você ser a ex do Brad, eu não sou a pessoa


certa para você. — Ele hesitou. — Tenho certeza de que sofri um
grande trauma pelo que aconteceu com minha mãe. Tive
problemas de confiança com mulheres por causa do que ela fez
com meu pai. Acho que é por isso que eu era do jeito que era,
jogando em campo daquele jeito, nunca deixando ninguém chegar
perto de mim.

Não ousei dizer uma palavra que pudesse impedi-lo de


continuar.

— O fato de ela ter trocado meu pai pelo irmão dele? Que meu
tio fez isso com meu pai? Eu nunca poderia perdoá-lo. Então, como
diabos eu poderia me perdoar por ir atrás da garota do meu irmão?
Porque Brad era meu irmão em tudo o que importava. Estou
contando isso porque preciso que você entenda que eu sou o
problema aqui, ok? Isso não tem nada a ver com você. Eu sinto
que uma parte de você pensa que sim. — Ele balançou sua cabeça.
— Você é incrível pra caralho, Carly, e o homem que ficar com você
um dia vai ser um bastardo sortudo.

Estendi minha mão e ele a pegou. Eu precisava respeitar o que


ele sentia. Não queria aumentar seu trauma. Eu deveria estar aqui
ajudando no que parecia ser uma situação impossível com Scottie,
não criando outra situação impossível para Josh.

Nesse momento, com nossos dedos entrelaçados, prometi fazer


o que fosse preciso para me concentrar na tarefa que tinha em
mãos, que era levar Scottie para um lar e voltar ilesa para a
Califórnia.
Capítulo 21

CARLY

Nas semanas seguintes, Josh e eu parecíamos ter esquecido o


que aconteceu naquela noite no meu quarto. Mesmo que eu ainda
fantasiasse sobre isso, tentei esconder a memória vívida cada vez
mais longe.

Então, as coisas estavam em terreno estável novamente.


Estávamos progredindo com a situação de Scottie também, pois
finalmente pudemos visitar o segundo lar e o achamos pelo menos
tão bom quanto o primeiro – talvez até melhor. Scottie estava agora
em duas listas de espera, o que significava que o período de espera
havia começado oficialmente.

O inverno frio estava em pleno andamento agora em New


Hampshire. Em uma terça-feira de dezembro, estávamos
esperando nossa primeira grande tempestade de neve da
temporada. Tínhamos acabado com os pellets para o fogão a lenha
que aquecia parcialmente a casa, e todos na área pareciam ter tido
o mesmo problema, porque nenhuma loja nas proximidades tinha
pellets disponíveis. Josh finalmente encontrou um lugar no oeste
de Massachusetts que os tinha, mas ficava a algumas horas de
distância.

Ele partiu cedo, mas a neve começou antes do que o previsto e


fiquei apavorada com a possibilidade de ele dirigir de volta nela. A
última vez que tive notícias dele, ele tinha conseguido colocar os
pellets no porta-malas e no banco de trás do meu carro e estava
voltando para New Hampshire. Mas isso foi há várias horas. Ele já
deveria estar em casa.

Então, além de me preocupar se Josh estava bem na estrada,


meu maior pesadelo aconteceu. Perdemos energia, o que
significava que Scottie não tinha acesso à Internet. Ele sempre
fazia birra quando não conseguia acessar seus sites de streaming.
Felizmente, lembrei-me do meu estoque de velas. Eu tinha
proativamente colocado alguns fósforos ao lado delas embaixo da
pia. Usei a lanterna do meu telefone enquanto acendia três,
colocando uma na cozinha e outras em cada lado da sala.

Sem Internet, Scottie começou a andar. Tentei ligar para Josh


de novo, mas o telefone caiu direto na caixa postal. Ele perdeu o
sinal ou algo ruim aconteceu? Era difícil não imaginar o pior.
Afinal, Brad havia morrido dirigindo de Lake Tahoe para casa na
neve. Seu carro derrapou em um caminhão que se aproximava. Eu
ainda tinha um trauma sobre a maneira como ele morreu e não
conseguia tirar os pensamentos horríveis da minha mente, mesmo
nos dias em que não fui acionada. Mas Josh estar nessa
tempestade de neve foi meu maior gatilho até agora.

Scottie estava entrando em pânico total, pulando para cima e


para baixo com tanta força que a casa tremia.

— Amigo, sinto muito. Prometo que vamos recuperar a energia.


Só não sei quando.
Eu sabia que ele provavelmente não conseguiria entender
minha explicação. Ainda assim, tentei ao máximo argumentar com
ele, só por precaução.

— Jogue com seus aplicativos. Por favor? Jogue com seus


aplicativos por enquanto. Prometo que teremos a Internet de volta.
— Continuei apontando para os ícones dos jogos baixados em seu
dispositivo. Mas é claro que ele não tinha interesse em nada além
de entrar na Internet agora.

Lágrimas escorriam pelo meu rosto quando ele começou a


chutar e gritar. Eu nunca me senti tão impotente. — Sinto muito,
Scottie. Eu também odeio isso.

Eu poderia ter dado a ele meu telefone, mas estava prestes a


morrer, e isso só o deixaria furioso de novo. Além disso, eu
precisava de toda a carga da bateria caso Josh tentasse nos ligar.
Se alguma coisa acontecesse com Josh, eu não tinha certeza se
conseguiria sobreviver.

Talvez eu não devesse ter sido tão rápida com o pensamento


negativo, mas as condições de nevoeiro lá fora não estavam
ajudando minha causa. Para piorar a situação, Abe e sua esposa,
que moravam na casa ao lado, nem sequer estavam em casa. Eles
estavam na Flórida por duas semanas. Caso contrário, eu poderia
pelo menos ter ido até lá com Scottie, para não ficar sozinha
quando ele se jogasse no chão, chutando e gritando, e não
conseguisse levantá-lo. Mas eu estava realmente por minha conta.
Lorraine não quis dirigir até aqui com esse tempo. De qualquer
forma, ela não poderia fazer muito para me ajudar. Scottie
continuaria a se descontrolar até que a energia voltasse. Tudo o
que eu podia fazer era rezar. E rezei muito. Pela segurança de Josh.
Pela sanidade do Scottie. Pela minha sanidade.

Pelo menos uma de minhas orações foi atendida quando Scottie


finalmente parou de protestar e se interessou por um de seus
aplicativos. Ele se sentou no sofá e começou a brincar com ele,
como se seu acesso de raiva tivesse um botão mágico para desligar,
e eu de alguma forma o tivesse apertado.

A casa estava ficando mais fria a cada minuto. Peguei meu


casaco e o joguei sobre os ombros antes de pegar o cobertor com o
qual Josh dormia e colocá-lo sobre Scottie. Aconcheguei-me ao
lado dele no sofá e comecei a rezar novamente pelo retorno seguro
de Josh. Minhas mãos tremiam enquanto eu tentava o telefone
dele pelo que parecia ser a enésima vez.

— Por favor, Deus. Traga-o para casa em segurança — eu


sussurrei.

Eu não era uma pessoa religiosa e me sentia uma espécie de


fraude pedindo ajuda a Deus quando não o reconhecia
diariamente. Mas em tempos de dificuldade, parecia gravitar em
direção à oração – o que devia significar que eu sabia que alguém
lá em cima estava ouvindo.

Quando a porta se abriu de repente, uma onda de adrenalina


me atingiu. Estava tão escuro que não consegui distinguir
imediatamente quem era.

— Carly?

Eu me levantei do sofá. — Josh! — Minha voz falhou.

Ele passou os braços em volta de mim, envolvendo meu corpo.


— Oh, meu Deus. Você está bem? — ele perguntou.

Comecei a chorar. — Eu estava tão preocupada com você.

— Comigo? Eu estava enlouquecendo por você estar sozinha


em casa com Scottie e sem eletricidade. Meu telefone morreu, mas
ouvi no rádio que metade de New Hampshire está fora do ar.

— Eu estava com tanto medo de que você tivesse sofrido um


acidente.

Ele se afastou para olhar para mim, suas mãos envolvendo meu
rosto. Eu mal conseguia distinguir sua expressão à luz das velas.
Josh pressionou sua testa suavemente contra a minha e apenas
respiramos juntos por alguns segundos. Eu suspeitava que ele
entendia por que surtei tanto.

— Oh, cara — ele sussurrou. — Sinto muito que você estava


com medo.

Com seu rosto tão perto do meu, eu ansiava que ele me


beijasse.

— Eu não sabia que você pensaria que algo tinha acontecido


comigo — disse ele, passando o polegar ao longo da minha
bochecha. — Eu não podia ligar para você e estava vindo devagar.
Por isso demorei tanto.

— Josh...

— O quê, baby?

O som do baby rolando em sua língua me deu frio na barriga.

— Estou tão feliz que você está em casa.

Ele falou no meu cabelo. — Eu também.


Passei as últimas semanas tentando negar meus sentimentos
por ele, mas tudo veio à tona esta noite.

Ele finalmente me soltou e se virou para Scottie, ainda sentado


calmamente no sofá. — Como ele está tão quieto?

— Tivemos uns bons noventa minutos de grandes surtos antes


que ele se acalmasse e decidisse apenas jogar com seus
aplicativos.

Josh esfregou as costas de Scottie. — Isso deve ter sido muito


difícil.

— Foi..., mas eu lidei com tudo. Eu estava mais preocupada


com você do que com qualquer outra coisa.

Josh pegou minha mão e me sentei ao lado dele, nossos dedos


entrelaçados. Foi um gesto simples, mas muito íntimo.

— Sinto muito por ter assustado você. Eu só posso imaginar o


quanto isso lembrou você da noite em que Brad... — Sua voz
falhou.

— Sim. Deve ser por isso que exagerei. Mas não era apenas
sobre o meu trauma... não sabia o que faria se algo acontecesse
com você.

Seus olhos brilharam à luz das velas. — Quando Scottie


finalmente conseguir uma vaga e seguirmos caminhos separados,
quero que você saiba que não vou me arrepender de nada dessa
experiência, Carly. É difícil acreditar que eu estava com medo
disso.

Eu apertei sua mão. — Eu não teria conseguido sem você.

— Da mesma forma, Pumpkin.


Uma súbita explosão de luz nos tirou de nosso momento
reservado.

A eletricidade estava de volta!

Ele olhou ao redor. — Puta merda!

— Talvez a palavra mágica tenha sido Pumpkin o tempo todo!


No segundo em que você disse isso, as luzes se acenderam.

Scottie começou a rir histericamente e a pular no sofá. Ele ficou


muito feliz e imediatamente se conectou ao YouTube.

Josh bateu palmas. — Acho que precisamos comemorar com


um pouco de Elton John ao contrário e uma garrafa de vinho. O
que você acha, Carly?

— Isso soa absolutamente divino.

Josh saiu para descarregar os pellets do meu carro. Ele


reabasteceu o fogão e acendeu uma nova chama.

Enquanto eu me deleitava com a paz de saber que tudo estava


bem novamente, pensei em como a vida podia ser inesperada. Eu
sempre desejei ter um ambiente familiar. Por ter vindo de um lar
desfeito e ser filha única, sempre me senti sozinha, apesar dos
esforços de minha mãe. A única exceção verdadeira foi o tempo
que passei com Brad. Mas aqui, com essa família improvisada, eu
me sentia longe de estar sozinha. Pelo menos por enquanto.

À noite, antes de dormir, encontrei um bilhete de Josh ao lado


da minha cama.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco


Nem todos os heróis usam capas. Alguns são loiros e usam
metades de limão. Não sei se eu conseguiria lidar com o Scottie sem
eletricidade por noventa minutos. Eu teria vontade de estourar meus
miolos. Você foi incrível segurando o forte esta noite, Pumpkin.
Capítulo 22

CARLY

Uma semana depois, as pilhas montanhosas de neve deixadas


para trás por aquela tempestade estavam finalmente começando a
derreter em Woodsboro.

Tínhamos tido um alívio do clima ruim, mas aqui dentro da


cabana, não havia alívio dos sentimentos que eu havia
desenvolvido por meu colega de quarto.

Josh estava se exercitando na sala de estar em uma tarde,


enquanto Scottie jogava em seu iPad. Decidi fazer uma ligação
para minha amiga Christina.

Com a voz baixa, sentei-me na cama e contei a Christina sobre


um cara novo que eu havia conhecido algumas noites atrás
quando saí com minha amiga da cidade. Lisa tinha chegado com
Rob, o cara que ela conheceu na primeira vez que saímos juntas.
Rob era agora o namorado de Lisa e havia levado seu amigo, Mitch.
(Eu me certifiquei de confirmar que Mitch não era, de fato, parente
de Josh.) Mitch terminou a noite me convidando para sair, e eu
deixei as coisas abertas para essa possibilidade.

Ontem ele me mandou uma mensagem perguntando se eu


queria voltar ao The Bar para um encontro oficial com Rob e Lisa.

— Estou pensando nisso — eu disse a ela.

— Qual é a sua hesitação?


Eu estava olhando para a minha hesitação. No momento, ele
tinha vindo para fazer flexões na soleira da porta do meu quarto.
Minha hesitação tinha uma linha fina e perfeita de pelos que descia
até seu V e ainda era muito proibido para mim. Minha hesitação
era sexy pra caramba.

Eu não havia contado a Christina sobre a sessão de


masturbação mútua em que Josh e eu havíamos nos envolvido
naquela noite. Ela teria devorado esse detalhe picante, mas eu
estava guardando esses detalhes a sete chaves. No entanto, ela
sabia que ele e eu havíamos conversado sobre nossa atração um
pelo outro e que Josh havia fechado a porta para que nada
acontecesse.

Decidi que precisava de um pouco mais de privacidade para


desabafar hoje. — Espere — eu disse, agarrando meu casaco. —
Josh, vou ao mercado comprar mantimentos.

Ele deu um passo para o lado e enxugou o suor da testa. —


Pegue mais sorvete, e acabaram os ovos.

— Ok.

Quando entrei no meu carro, Christina riu em meu ouvido. —


Vocês dois são tão... domésticos.

— Essa é uma palavra para isso. — Eu ri. — Fodidos é melhor.

— Eu poderia dizer que você não queria falar na frente dele. E


aí?

— Sim. Não posso falar sobre Josh na frente de Josh. Eu só


queria poder me livrar desses sentimentos por ele. Eu sei que é
isso que está me impedindo de ir a esse encontro.
— É uma droga, mas você precisa dar uma chance a esse Mitch.
Você não sabe quanto tempo vai ficar em Woodsboro. Pode levar
anos até que o Scottie consiga um lar. Você não pode ser
celibatária por tanto tempo. Se Josh deixou claro que não há
futuro para vocês dois, você precisa seguir em frente. Mas você já
sabe disso.

— Sim. — Liguei o carro e desci a longa e sinuosa estrada que


saía da área arborizada em que morávamos.

— Josh deve estar saindo com alguém, não é? — ela perguntou.

— Bem, isso é que é estranho. Não que eu saiba. Ele geralmente


está em casa trabalhando ou fazendo compras para nós. E ele fica
em casa todas as noites. Eu praticamente sei onde ele está a
qualquer momento. Não há tempo que eu possa identificar quando
ele pode estar se encontrando com alguém.

— Isso deve ser difícil – um homem viril como ele não fazendo
sexo regularmente?

Algo estava errado comigo, porque assim que ela disse isso,
minha mente foi para Josh em cima de mim e senti que estava
ficando molhada. Meu corpo ficou sensível até mesmo ao
pensamento de algo sexual com ele.

— Você tem razão. Preciso me forçar a seguir em frente. A


última vez que ousei sair em um encontro foi um desastre
completo, no entanto, acabou sendo o irmão de Josh e tudo.

— Ah, isso mesmo. — Ela gargalhou. — Quais são as chances


disso?

— Muito altas em Woodsboro!


— Isso provavelmente é verdade.

Conversamos por mais alguns minutos até que cheguei ao meu


destino.

Suspirei. — Estou na mercearia. Eu vou deixar você ir.

— Vá pegar o sorvete do seu homem.

— Claramente, eu não tenho um homem. Caso contrário, não


me sentiria tão frustrada agora.

●●●

Depois que fui ao mercado ontem, mandei uma mensagem para


Mitch e concordei com o encontro duplo. Tínhamos decidido esta
noite, e Josh iria cuidar de Scottie, embora ainda não tivesse
contado a ele exatamente com quem eu estava saindo.

Mas quando ele me fez uma pergunta direta, não pude mais
negar meus planos.

Josh pegou uma garrafa de água com gás na geladeira e a


abriu. — Então, você vai com Lisa e o namorado dela?

— Sim. — Eu parei. — E um de seus amigos.

Josh parou no meio do gole. — Ah... então, é um encontro.

— Sim. Um encontro.

Ele assentiu e tirou um fiapo da camisa. — Bem, isso é bom.

As coisas ficaram calmas depois disso. Josh foi para um canto


da sala de estar, tirou a camiseta e começou a se exercitar com
afinco. Como sempre, não pude deixar de observar seu corpo
reluzente em ação. No entanto, eu nunca mais ficaria olhando.

O assunto do meu encontro desta noite só voltou à tona quando


Josh e eu estávamos limpando tudo depois do jantar do Scottie.

— O que sabe sobre esse cara que você vai encontrar? — Josh
perguntou enquanto limpava um prato.

— Só que ele é amigo de Rob, e ele foi muito legal da última vez
que jantei com eles. Ele simplesmente estava lá da última vez. Ele
é professor de biologia.

— Ah, então você já o conheceu antes.

— Sim.

— Qual o nome dele?

— Mitch Ramos. Você o conhece?

Josh balançou a cabeça. — O nome não soa familiar. Ele é


daqui?

— Na verdade, não tenho certeza.

— Você não sabe de onde ele é?

— Acho que nunca perguntei a ele. De onde ele é não importa


muito para mim, mas vou perguntar a ele esta noite. De qualquer
forma, eu me sinto bastante segura, já que estarei com Lisa e Rob.

Ele grunhiu. — Hum...

Eu inclinei minha cabeça. — Mais alguma pergunta?

— Não. — Sua mandíbula ficou tensa. — Acho que não.

Ele se virou e se concentrou na limpeza da cozinha.


— Você está bem? — perguntei.

— Sim — ele exalou. — Estou bem. Por que você pergunta?

— Você está agindo um pouco estranho.

Ele limpou o balcão vigorosamente. — Deve ser sua


imaginação.

Eu balancei a cabeça, sentindo-me idiota por desejar que ele


admitisse que estava com ciúme. Rapidamente mudei de assunto,
deixando escapar a primeira coisa que me veio à mente enquanto
o observava limpar. — Seu cabelo cresceu muito, Josh. Sua barba
também. Mas está bonito.

— Isso combina com estar preso na floresta.

— Em seu trabalho, há algum problema com a barba?

— Eles não dão a mínima, desde que eu traga negócios para


eles.

— Ótimo. É assim que deve ser.

Ele finalmente parou de limpar e se virou para mim. — Eu


queria perguntar... você vai para casa no Natal?

— Para o Oregon?

— Ou isso ou a Califórnia?

— Eu não estava planejando isso.

— Você pode, se você quiser. Não tenho nenhum problema em


tripular o navio aqui com Scottie se você quiser ver sua mãe.

Eu não tinha vontade de estar em outro lugar que não fosse


Woodsboro no Natal. Nos dois natais que Brad e eu passamos
juntos, nós nos separamos para ver nossas famílias, então nunca
passei o feriado aqui.

— Eu estava ansiosa para passar o Natal aqui — eu disse a ele.


— Não tenho garantias de que estarei em Woodsboro no ano que
vem. Quero dizer, podemos, mas...

— Ok. — Ele assentiu. — Bem, meu irmão Michael geralmente


recebe nossa família na véspera de Natal. Você deveria vir. Scottie
também, é claro.

— Eu adoraria.

— Tenho certeza de que Neil adoraria ver você. — Ele piscou.

Eu me encolhi. — Eu não tinha pensado nisso. Será estranho


se eu estiver lá?

— Não, ele é legal. Não há ressentimentos.

— Ótimo.

Fiquei emocionada com o fato de Josh ter me convidado para a


reunião de Natal de sua família. Era verdade que ele provavelmente
sentiu que não tinha escolha, mas ainda assim fiquei comovida
por ele estar pensando no futuro e não querer que eu me sentisse
excluída.

— Eu adoraria conhecer seu pai também — eu disse.

— Ele é uma viagem. Já passou por muita coisa, mas ainda


tem um bom senso de humor. Ele teve seus altos e baixos ao longo
dos anos, mas agora está bem.

— Todo mundo troca presentes lá ou...


— Na verdade, a esposa de Michael, Vanessa, designa para
todos nós uma pessoa para comprar. Vou avisar que vocês estão
indo, para que ela possa adicioná-los à lista.

— Ah, adorei essa ideia. Isso facilita muito.

Josh assentiu. — Antes deste ano, o Natal era a única vez que
eu voltava para casa. Mas tomei cuidado para nunca perder um.

— Brad também — eu disse. — Ele adorava voltar para casa


em Woodsboro no Natal.

— Sim. — Depois de um momento, Josh acrescentou: —


Devemos pegar uma árvore.

— Sim? — Eu sorri, surpresa com sua sugestão. — Onde vamos


colocá-la?

— Vamos comprar uma pequena. O amigo do meu pai tem uma


loja de árvores. Deveríamos ir em uma noite desta semana. Levar
o Scottie. Eles vendem chocolate quente na barraca de vendas.

— Isso soa como um filme da Hallmark.

— Não sei do que você está falando. — Ele me deu uma olhada.

— Você já assistiu a algum dos filmes de Natal?

— Se eu tivesse, jamais admitiria.

Eu ri. Eu já sabia que estava ansiosa por aquele passeio por


árvores com Josh muito mais do que estava ansiosa pelo meu
encontro esta noite. Suspiros.

Só então a campainha tocou. Scottie pulava em seu assento,


excitado pelas luzes piscantes de um caminhão de entrega do lado
de fora. Josh saiu para buscar o pacote. Eu podia ver pingentes de
gelo pendurados na soleira da nossa porta da frente.

Quando voltou, rasgou o envelope acolchoado branco e


congelou. — Merda.

— O quê?

— Eu encomendei algo online e presumi que era isso. Mas é


seu. Sinto muito por abri-lo.

Por que ele está se desculpando? Depois que ele me entregou,


eu percebi.

Era um vibrador rosa brilhante.

Balancei minha cabeça. — Eu não pedi isso.

— Bem, alguém fez. Tem o seu nome nele.

Fechei os olhos. Christina pediu meu endereço outro dia. Achei


que ela ia me mandar um presente de aniversário antecipado ou
algo assim para a casa. Certamente não isso. Havia um bilhete
dentro, que Josh felizmente não tinha visto. Uma solução
temporária para o seu pequeno problema.

— É da minha amiga, Christina.

— Você não precisa mentir. Não é nada para se envergonhar.

— Eu sei que não. E não teria vergonha. Mas não pedi isso para
mim.

Josh franziu as sobrancelhas. — Bem, todos nós deveríamos


ter mais amigos como Christina, então.

Eu consegui um sorriso. — Ela é louca, mas eu a amo. — Acenei


com o pacote. — Eu só vou... colocar isso no quarto.
— Existe alguma razão para ela sentir a necessidade de enviar
isso? — Josh perguntou enquanto eu me dirigia para o meu
quarto.

— Não. — Engoli. — É apenas um presente engraçado.

— Você contou a ela sobre nosso... deslize?

Uma onda de calor viajou através de mim. — Não, eu não


contei.

— Você não conta tudo a ela?

— Nem tudo. — Eu inclinei minha cabeça. — Você contou a


seus irmãos?

— Não.

— Você tem vergonha? — perguntei. — É por isso?

— Não. Não é da conta de ninguém.

— Exatamente.

Olhei para baixo e poderia jurar que a protuberância na calça


de Josh era um pouco maior do que o normal. Ele estava excitado?
Ou eu só queria acreditar que ele estava?

— Bem, eu vou tomar um banho e me preparar.

— Sim. — Ele olhou para mim. — Faça isso.

Enquanto a água caía sobre mim, eu resisti a me tocar. Eu


sabia que se o fizesse, eu imaginaria Josh, e não queria ir para
este encontro esta noite pensando em outro homem, mesmo que o
orgasmo pudesse me acalmar.

Quando saí do banheiro, pude ouvir Josh conversando no


quarto de Scottie. Parecia que ele estava lendo um livro para ele.
Isso apertou meu coração. Scottie era tecnicamente um adulto,
mas tinha muitos livros infantis em uma estante que
ocasionalmente líamos para ele quando não estava grudado em
seus dispositivos. Ele parecia apreciar as cores vibrantes e a
simplicidade das histórias.

Arrisquei-me para o meu quarto para começar a me vestir.


Depois de colocar o sutiã e a calcinha, enrolei um roupão de seda
sobre o corpo enquanto arrumava o cabelo e a maquiagem.

Alguns minutos depois, houve uma leve batida na porta. —


Você está vestida? — ouvi Josh perguntar.

Parei de enrolar o cabelo por um momento e larguei a chapinha.


— Sim. Entre.

— Ei. — Ele enfiou as mãos nos bolsos ao entrar.

— Eu ouvi você lendo para Scottie. Amo isso.

— Ele gosta de virar as páginas – às vezes antes de eu terminar


de ler. — Ele sorriu. — Eu não posso pegar uma dica,
aparentemente.

— O que ele está fazendo agora? — perguntei.

— Ele está apenas relaxando com seu iPad. — Os olhos de Josh


permaneceram nos meus. — De qualquer forma... eu queria me
desculpar se deixei você desconfortável mais cedo com a coisa toda
do vibrador.

— Você não fez nada de errado. Você o abriu sem querer. A


coisa implorava para ser comentada.

Seu cabelo castanho caía bagunçado sobre sua testa, e a luz


do meu quarto fazia seus olhos castanhos brilharem. Deus, ele
parecia tão bonito. Meus mamilos endureceram. Havia algo
diferente no clima desta noite.

Sempre houve uma tensão sexual entre mim e Josh, mas ela
se intensificou o dia todo. Ele não se atrevia a admitir, mas sentia
que ele não queria que eu saísse hoje à noite.

Levantei minha chapinha e comecei a usá-la novamente.

— É fascinante o que as mulheres acham que têm de passar —


observou ele.

— Ninguém está me forçando. Eu gosto de enrolar meu cabelo.

— Não importa o que você veste, Carly, ou como você arruma


seu cabelo. O que quero dizer é que você vai ficar linda de qualquer
jeito. Esse cara vai estar salivando e pronto para atacar. Por isso
tenha cuidado.

Eu me virei para ele. — Você está flertando comigo, Mathers?

— Não — disse ele. — Eu só estava avisando.

Minhas sobrancelhas se ergueram. — Jure por Bubba-Hank.

Ele murmurou algo baixinho, mas notavelmente não sobre


nosso precioso antigo Goldendoodle.

Josh continuou me observando enquanto eu terminava meu


cabelo e me movia para examinar as roupas no armário. Eu não
tinha trazido uma tonelada de roupas bonitas comigo, então havia
apenas alguns itens que funcionariam para uma noite fora.

— Você precisa de ajuda para decidir? — ele perguntou.

Eu soprei uma respiração em meu cabelo. — Sim, na verdade.


Josh se aproximou e passou seus dedos grandes e masculinos
pelas coisas penduradas no armário. Eu invejava aquelas roupas,
porque não queria nada mais do que ser tocada por aquela mão.
Ele levantou um dos cabides, escolhendo um vestido preto justo.

Ele o ergueu para mim. — Eu gosto de você nisso.

— Você me viu nisso?

— Sim. Você o usou no dia em que fomos visitar o segundo lar


coletivo. Fica muito bom em você.

Tentei não demonstrar minha surpresa com sua excelente


memória. — Bem, se você gosta, eu vou usar — falei, com uma
pitada de sedução em meu tom. Eu não queria parecer
paqueradora, mas essa era a vibração que toda essa troca me deu.
Eu estava apenas jogando junto.

Josh colocou a roupa na minha cama. Então ele voltou para o


lugar na minha frente, um olhar distinto de desejo em seus olhos
– o mesmo olhar que eu tinha certeza de que tinha agora.

Limpei minha garganta. — Eu deveria me vestir. — Quando ele


não se mexeu, acrescentei: — Você vai ficar aí parado me olhando
ou algo assim?

Josh não respondeu. Mas ele também não se moveu de seu


lugar, seu olhar grudado no meu.

Sentindo-me um pouco descontrolada, abri lentamente o


roupão e deixei-o cair no chão, ficando apenas de sutiã e calcinha.
Os olhos de Josh ficaram vidrados enquanto percorriam meu
corpo.

Ele engoliu em seco.


Eu teria dado tudo para que ele me tocasse, mas sabia que ele
não faria isso. Josh era o rei da provocação e da contenção. A cada
segundo que passava, eu ficava mais molhada enquanto ele
continuava a me olhar, com as pupilas dilatadas. Meu corpo
implorava silenciosamente por seu toque. Eu aceitaria qualquer
coisa que ele me desse.

Ele se aproximou de mim até ficar a poucos centímetros de


distância, sua respiração acariciando meu rosto. Ele colocou a
mão em meu pescoço e, por um segundo, esqueci-me de como
respirar.

Meus cílios se agitaram. — Você não está sendo muito educado


agora, Mathers.

— Não estou me sentindo educado. — Ele balançou a cabeça e


soltou a mão em meu pescoço como se tivesse acabado de acordar
de um torpor. — Como você diz educadamente a alguém que quer
transar com ela até doer?

Meus joelhos quase cederam.

— Porra. — Ele balançou a cabeça e soltou meu pescoço como


se tivesse acabado de perceber isso. — Desculpe. Isso foi...

Josh deu um passo para trás e saiu do quarto, deixando-me


uma pilha de mingau excitado.

Ele queria me foder.

Até doer.

Agora eu teria que trocar minha maldita calcinha quando tinha


acabado de vesti-la.
A determinação de Josh finalmente havia se rompido. No
entanto, ele ainda se recusava a deixar ir, recusava-se a realmente
ir até lá comigo. Eu não iria seduzi-lo ainda mais, porque não
queria ser seu maior arrependimento. Mas o modo como ele estava
me olhando, como se pudesse me comer com os olhos, e depois
aquelas palavras que certamente seriam repetidas em minha
cabeça a noite toda. Ele havia me levado ao limite. Eu precisava de
um alívio.

Peguei o pacote que Christina havia me enviado e o abri. Para


evitar que Josh voltasse, entrei sorrateiramente no closet e escolhi
um lugar no chão antes de abrir as pernas. Isso não demoraria
muito.

Só que nada aconteceu. Olhei novamente para o pacote. Pilhas


não incluídas.

Sim. No momento, eu era a única coisa ligada aqui.


Capítulo 23

JOSH

Depois que Carly saiu para seu encontro, eu me senti


completamente louco. Não conseguia acreditar no que havia dito a
ela, mas aquele pequeno striptease me fez perder a cabeça. O que
diabos eu estava pensando ao ficar no quarto dela enquanto ela se
arrumava, só para poder admirá-la e ter minha maldita dose antes
de ela sair? Saiu para um encontro com outro homem, lembrei a mim
mesmo.

Eu a desejava da pior maneira possível e, evidentemente, nem


estava mais tentando esconder isso. Além disso, o que houve com
minha incapacidade de mentir por um segundo e jurar pela vida
do cachorro quando ela perguntou se eu estava flertando? Você
aprendia algo novo sobre si mesmo todos os dias.

Esta noite, aprendi que sou um maricas supersticioso.

Eu estava ficando louco. Precisava falar com alguém, então


liguei para meu irmão Michael.

Ele atendeu no terceiro toque. — Oi, cara.

— Oi.

Parecia que ele estava em um restaurante lotado.

— O que há de errado? Você nunca me liga, Josh.


— Eu acho que você estava certo — eu disse a ele. — Sobre
mim e Carly. — Puxei meu cabelo.

— O que tem a Carly?

— Minha incapacidade de manter meu pau dentro da calça. Eu


sou uma bomba-relógio. Fiz uma grande besteira esta noite –
passei dos limites e disse coisas que não deveria ter dito. Quanto
mais tempo ficarmos aqui em Woodsboro, mais difícil será.

— O que você disse a ela?

Exatamente o que eu estava pensando no calor do momento. —


Você não quer saber.

— Acho que isso significa que definitivamente é algo que eu


gostaria de saber.

— Não importa o que eu disse. Apenas saiba que estou


perdendo o controle.

— Espere um pouco — eu o ouvi dizer para alguém. Então o


barulho pareceu desaparecer. — Desculpe. Saí para poder ouvi-lo
melhor. — Ele suspirou. — De qualquer forma, eu sei que você tem
essa regra autoimposta sobre não passar dos limites com a garota
do Brad, mas você precisa pensar nisso de uma perspectiva
diferente. Não há mais ninguém por perto para machucar.

A realidade de Brad ter partido para sempre, sempre me atingiu


em ondas. Uma parte de mim ainda não tinha realmente entendido
isso. Michael tinha acabado de ir direto ao ponto, e parecia uma
faca.
— Não se trata apenas do que Brad pode pensar — eu disse
quando pude respirar fundo novamente. — É sobre minha própria
culpa, independentemente de como ele se sentiria.

— Entendo. E não posso tirar isso de você, mas...

— Ela está em um encontro hoje à noite — eu soltei.

— Bem, isso é estúpido pra caralho. Você a deixou ir?

— O que quer dizer com deixá-la? Eu não a possuo. Não


estamos juntos. — Suspirei. — Onde você está, afinal?

— No The Bar. Vanessa e eu estamos tendo um encontro.

— Merda.

— Por quê?

— É onde ela está.

Carly nunca viu Michael, então ela não teria ideia de quem ele
era.

— Você está brincando. Espere. Vou voltar e examinar o lugar.


Como ela é mesmo?

— Eu não quero você espionando-a...

Ele me ignorou. — Cabelo loiro comprido?

— Sim... — Eu andei e mordi meu lábio, esperando que ele


dissesse alguma coisa.

— Caralho. Acho que a vi. Ela está usando um vestido preto,


certo? E ela está com um cara e outro casal. Há apenas uma loira
bonita no lugar. Tem que ser ela.

Não havia sentido em negá-lo. — Sim, é ela.


— Espere — disse ele.

Eu podia ouvir o som abafado dele falando com sua esposa.

— Desculpe, eu queria contar para a Vanessa.

— Por favor, não vá até Carly.

— Claro que não. É melhor que ela não saiba que estou aqui.
Mas posso lhe enviar mensagens atualizadas sobre o que estou
vendo.

— Eu não preciso de atualizações. Não é da minha conta o que


ela está fazendo.

— Então, você não se importa que ela esteja sentada no colo de


um cara agora beijando-o?

Meu estômago afundou. Eu nem tinha palavras para


responder.

— Você ainda está aí?

— Você está fodendo comigo, Michael?

— Uau, cara. — Ele riu.

— O quê?

— Você ficou em silêncio por um tempo. — Ele riu. — Eu só


estava brincando.

— Idiota. — Eu não podia acreditar que caí nessa, nem por um


segundo. Pensei que talvez eu a tivesse deixado tão excitada que
ela estava descontando naquele cara.

— Ela está sentada em frente a ele, apenas conversando. Ele é


muito bonito. Não tão bonito quanto você, no entanto. E
certamente não tão bonito quanto eu.
Parecia errado espioná-la. Isso era mais do que eu precisava
saber. — Não a observe mais — eu disse a ele. — Deixe-a em paz.
Ela merece privacidade. Eu vou deixar você ir.

Desliguei antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa.

Aventurei-me no quarto de Scottie e sentei-me na beirada de


seu colchão. Ele estava totalmente imerso em três vídeos diferentes
em três tablets diferentes. E ele estava tirando fotos e vídeos de
todos os três tablets com um quarto iPad. Era assim que Scottie
se divertia. Wayne devia ter ido à falência comprando aparelhos
eletrônicos para ele. Mas eu sabia o motivo: Scottie ficava furioso
sempre que a bateria de um de seus aparelhos acabava. Era
preciso ter sempre um extra à mão enquanto o outro estava
carregando. Era melhor prevenir do que remediar.

— Cara, gostaria que você pudesse me entender agora por que


eu realmente preciso de alguém para conversar.

Ele olhou para cima por um momento fugaz antes de voltar sua
atenção para o iPad.

Eu ri. — Caramba, talvez você possa entender, e eu


simplesmente não sei. Talvez você também ache que sou o maior
idiota. — Deixando escapar um suspiro profundo, esfreguei suas
costas. — Você já quis algo que sabia que não deveria ter, Scottie?
Mas, no final, você não consegue evitar esse desejo? Estou
tentando pensar em algo com que você possa se identificar. —
Estalei os dedos. — Como você e a Internet. O excesso dela não é
bom para você, certo? É um estímulo constante e ruim para seus
olhos. Mas você faz isso mesmo assim. Você está nessa merda o
tempo todo, e não há nada que qualquer um de nós possa fazer
para que você não a queira. — Olhei para o teto dele. — É assim
que tem sido com Carly ultimamente. Quanto mais digo a mim
mesmo que não posso tê-la, mais a desejo. Estou uma bagunça. —
Eu o balancei de brincadeira. — Você tem algum conselho para
mim, garotão? Você provavelmente é a única pessoa em quem
confio com tudo isso, sabia?

Em vez de responder, Scottie abriu seu aplicativo de música e


tocou Elton John ao contrário, quase estourando meus tímpanos.
Depois de um minuto, decifrei que era “Crocodile Rock”.

Entrei em transe enquanto o ouvia tocando várias músicas por


um tempo e, por fim, cochilei ao lado dele no colchão.

Quando acordei algum tempo depois, ele estava dormindo


profundamente. Peguei seus dispositivos e os conectei aos
carregadores no canto do quarto antes de desligar a luz.

Olhei a hora no meu telefone. Já passava da meia-noite. Carly


devia estar se divertindo se ficou fora até tão tarde.

Então notei uma mensagem de Michael.

Michael: Eu sei que você disse que não queria atualizações,


mas vou lhe dar minha avaliação geral. Sua linguagem corporal
me disse que ela não estava a fim dele. Ela continuou
verificando o telefone. Aposto que ela estava olhando para ver
se você mandou uma mensagem para ela. Quando saímos, eles
ainda estavam lá, mas tive a impressão de que ela estava
entediada.
Quando fechei a mensagem dele, notei outra mensagem, de
Carly.

Carly: Estou tentando aproveitar este encontro, mas não


consigo parar de pensar em você, no que você disse e no jeito
que estava olhando para mim esta noite.

Porra. Ela havia enviado algumas horas atrás e ainda não


estava em casa.

Eu tinha mexido com a cabeça dela antes. Eu queria arruinar


o encontro dela, não?

Sentei-me na sala de estar, sem saber como me explicar


quando ela chegasse em casa. Mas também me senti
extremamente satisfeito porque ela estava pensando em mim esta
noite. E isso era foda.

Quando a porta se abriu, levantei-me, mas não disse nada.

— Ei — ela finalmente falou. Seu rosto estava vermelho, e eu


não sabia se era por causa do frio ou porque ela estava chateada.

— Não recebi sua mensagem até pouco tempo atrás — eu


expliquei. — Adormeci com Scottie em seu quarto.

— Oh... — Ela encontrou meu olhar. — Eu apenas presumi que


você não sabia como responder. — Ela balançou a cabeça. — Eu
não deveria ter enviado.

— Nunca se desculpe por ser honesta comigo.


Dei alguns passos em direção a ela, ainda sem saber como me
comportar ou o que eu queria fazer. Mas quando eu estava a
apenas alguns centímetros, meu cérebro não conseguia mais
formar frases coerentes. Meu corpo parecia estar pegando fogo e
sabia que o desejo primordial dentro de mim havia chegado a um
ponto sem volta.

Segundo a segundo, eu me aproximei até que nossas bocas


estivessem praticamente se tocando. O calor de sua respiração
rápida em meu rosto fez meu pau ficar rígido.

— Diga-me para parar, Carly — sussurrei em seus lábios,


saboreando seu cheiro enquanto ficava mais duro.

— Não. — Ela ofegou. — Eu não quero que você pare.

— Eu não queria que você saísse hoje à noite — admiti. — Eu


queria você em casa comigo.

Carly assentiu, cravando as unhas em meu peito. — Eu sei.

— Eu não quero me sentir assim — murmurei sobre sua boca.


— Como se quisesse ser seu dono. Eu não possuo você. Você não
é minha. Você nunca será.

— Diga isso ao meu corpo. — Sua respiração acelerou. — Josh,


preciso que você se solte. — Ela agarrou minha camisa. — Eu
preciso de você.

Isso desfez toda a minha determinação. Não havia mais espaço


entre nós quando tomei sua boca na minha, notando um toque de
algo doce em sua língua. Era apenas o gosto dela ou algo que ela
havia comido? Eu não dava a mínima; eu só precisava consumir
tudo. Eu não conseguia devorá-la rápido o suficiente.
Ela precisa de mim.

E caramba, eu precisava dela.

Desabotoei seu casaco e o deslizei por seus braços antes de


jogá-lo de lado e pressionar meu peito contra o dela. Eu podia
sentir seu coração batendo contra o meu, que batia ainda mais
rápido. A culpa ainda estava dentro de mim em algum lugar, mas
não era forte o suficiente para dominar a intensidade do meu
batimento cardíaco, a intensidade do meu desejo por ela neste
momento. Como se ela soubesse que minha culpa estava tentando
se infiltrar e arruinar isso, Carly agarrou meu cabelo e me puxou
para perto, um apelo silencioso para não mudar de ideia. Ela não
percebeu que não havia chance de voltar atrás agora. Meu corpo
estava pronto para explodir.

Levantei Carly do chão enquanto ela envolvia suas pernas ao


meu redor. Quando a levei para o quarto, ela parecia leve como
uma pluma, sem tirar meus lábios dos dela. Beijá-la era como uma
droga, impossível de parar, minha língua a explorava mais
rapidamente a cada segundo. Era por isso que eu nunca a havia
beijado antes – de alguma forma, sabia que seria assim. Que eu
estaria viciado demais para pensar direito.

Não havia fechadura na porta, mas eu a fechei atrás de nós e


rezei para que Scottie dormisse tão profundamente como de
costume. Essa era a beleza da máquina de som estático que ele
tinha em seu quarto.

Carly caiu de costas na cama quando eu aterrissei em cima


dela. Rompemos o beijo quando ela olhou para mim com olhos
turvos, que mais uma vez me imploravam para não parar.
— Eu não vou parar, Carly. Ok? — Beijei seu pescoço. —
Estamos prestes a transar, e você vai me odiar amanhã. Mas
pretendo fazer valer cada segundo disso.

Ela assentiu enquanto eu a ajudava a tirar o vestido preto. Ela


desabotoou o sutiã pela frente e o jogou de lado. Baixei minha boca
e peguei seu mamilo entre meus dentes antes de chupar com força
e gemer em sua pele enquanto ela se contorcia embaixo de mim.

Carly passou as mãos pelo meu cabelo. — Isso é tão bom.

Lambendo seu mamilo em círculos, eu provoquei: — Acho que


encontrei o prêmio booby.

Seu corpo tremia de tanto rir enquanto eu continuava a devorar


seu lindo seio.

— Eu amo sua boca em mim — ela gemeu.

— Você está prestes a sentir isso em todos os lugares — falei


sobre sua pele macia.

Meu pau estava tão duro que doía enquanto eu me esfregava


contra seu montículo através da minha calça. Mudei para o outro
seio para dar-lhe amor igual antes de atingir minha capacidade de
resistir a ir mais baixo.

Eu corri minha língua ao longo do meu lábio inferior. — Eu


preciso provar você.

Ela assentiu e abaixei sua calcinha, deslizando-a por suas


pernas e jogando-a no ar.

Minha boca tremia de desejo enquanto eu pressionava minha


língua contra seu clitóris, lambendo a deliciosa umidade de sua
excitação. O gosto era exatamente igual ao dos dedos dela naquela
primeira noite em que perdi o controle. Só que isso era cem vezes
mais doce e viciante. Fruto proibido. Carly continuou a puxar meu
cabelo – o que eu adorava – enquanto eu a comia, circulando
minha língua em torno de seu clitóris enquanto afundava meus
dedos dentro dela. Parei por um momento para testemunhar o
olhar de êxtase em seu rosto, a cabeça inclinada para trás e os
olhos fechados. Enquanto movia meus dedos para dentro e para
fora murmurei: — Você me quer dentro de você assim?

— Uh-huh — ela murmurou. — Sim.

Tive que perguntar. — Você quer que eu use camisinha?

Ela se acalmou. — Não. Estou tomando pílula. A menos que


você não esteja...

— Estou seguro, Carly. Fiz meus últimos testes antes de vir


para cá e não estive com ninguém.

Ela assentiu enquanto olhava para mim. — O mesmo.

O pensamento de fodê-la nu foi quase suficiente para me fazer


gozar no local. Eu me levantei para abrir meu jeans e puxá-lo para
baixo. Quando abaixei minha cueca boxer e tirei meu pau duro
como pedra, Carly se aproximou, rastejando em minha direção,
então sua boca estava no meu pau. Sem hesitar, ela me levou para
dentro e para baixo em sua garganta.

Eu senti como se tivesse sido transportado para outra


dimensão. Inclinei minha cabeça para trás e aproveitei o que
parecia ser a coisa mais egoísta que já permiti que acontecesse. Se
eu parasse por um segundo para realmente reconhecer que esta
era a mulher de Brad me chupando, teria arruinado tudo. Então
não deixei minha mente ir para lá. Após a seca mais longa da
minha vida, eu precisava desse orgasmo como precisava da minha
próxima respiração. Eu lidaria com as consequências mais tarde.

Quando senti que estava prestes a gozar, puxei meu pau para
fora de seus lábios, curtindo demais o som de estalo que se seguiu.
Quase gozei quando ela lambeu os lábios, engolindo o pouco de
pré-sêmen que os manchava.

— Como é o gosto? — eu murmurei.

— Delicioso — ela respirou.

— Eu preciso estar dentro de você agora, Carly — falei,


duvidando se poderia durar o suficiente para lhe dar um orgasmo.
Eu nunca estive tão excitado por uma mulher em minha vida.

Carly deitou-se, abriu bem as pernas e eu me acomodei dentro


dela. Eu pretendia ser gentil, já que fazia um tempo para ela. Mas
assim que sua umidade quente envolveu meu pau, perdi toda a
capacidade de ir devagar. Dentro de alguns segundos, empurrava
com tanta força que estava na profundidade das bolas, movendo-
me para dentro e para fora ritmicamente e não tão gentilmente
mais.

— Tudo bem? — eu murmurei.

— Sim. É tão bom sentir você assim. Continue.

Puxei todo ele para fora e bati nela novamente, chegando ao


fundo. — Sua boceta enrolada no meu pau é a melhor coisa que
eu já senti, Carly — sussurrei em seu ouvido. — Tão bom.

Minhas estocadas ficaram tão fortes que a cama estava


tremendo, a cabeceira batendo contra a parede. Seria um maldito
milagre se Scottie não acordasse, mas nem mesmo a ameaça disso
foi suficiente para me fazer parar. Eu simplesmente não poderia
transar com ela de outra maneira agora – tinha que ser assim, pois
semanas de frustração reprimida saíam de dentro de mim.

Então ela começou a pulsar sua boceta – apertando com força


e soltando.

Eu quase enlouqueci. — Você está tentando me matar? — gemi,


beijando-a com mais força.

Ela riu sobre meus lábios.

— Pare com isso, ou eu vou gozar dentro de você agora mesmo.

— Faça isso — ela provocou.

— Foda-se, não. Eu não estou pronto para isso acabar.

Ela me beijou com mais força e, felizmente, parou de apertar os


músculos, ganhando algum tempo para mim. Mas eu sabia que
seria de curta duração quando Carly agarrou minha bunda para
guiar meus movimentos. Sua respiração ficou ainda mais intensa,
e sabia que ela tinha que estar perto. Isso era bom, porque minhas
bolas estavam prestes a explodir.

Alguns segundos depois, senti sua boceta pulsando ao meu


redor enquanto ela fazia um som ininteligível. Foi quando eu
finalmente perdi o controle, acelerando minhas estocadas para
capturar cada último momento de seu clímax enquanto esvaziava
o que parecia ser um fluxo interminável de esperma dentro dela.
Não havia como voltar atrás agora. Carly foi manchada para
sempre por mim. Eu não poderia voltar atrás, e não queria. Na
verdade, eu já queria fazer tudo de novo.
Eventualmente, os movimentos sincronizados de nossos corpos
diminuíram para um balanço suave, embora ficássemos presos
juntos. Cobrindo-a de beijos, gostei da sensação de mover meu
esperma cada vez mais fundo dentro dela, reivindicando-a, mesmo
que por apenas uma noite.
Capítulo 24

CARLY

Abri meus olhos e imediatamente tive um pensamento. A noite


passada realmente aconteceu?

Sexo com Josh era tudo que eu imaginava que seria. Na


verdade, foi ainda mais – valeu cada segundo da lenta tortura que
antecedeu a ele. A maneira como ele assumiu o controle do meu
corpo foi diferente de tudo que eu já havia experimentado. Mas por
mais incrível que tivesse sido a noite passada, uma nuvem de
realidade pairava sobre mim hoje.

Josh havia se levantado cedo com Scottie. Suspeitei que ele se


ofereceu para essa tarefa para evitar ter que falar sobre o que
tínhamos feito. Esse parecia ser seu modus operandi. Esperava que
ele não pensasse que eu tinha alguma expectativa. Eu era
inteligente o suficiente para não permitir que meu coração
seguisse por esse caminho. Nossos corpos simplesmente não
conseguiram mais resistir. Não foi nada mais do que sexo
alucinante e primitivo. Eu tinha aceitado isso, por mais agridoce
que fosse. Apenas sexo. Pelo menos era isso que eu precisava
continuar a me convencer como mecanismo de sobrevivência.

De alguma forma, eu precisava garantir a Josh que a noite


passada não mudou nada. Se ele se sentisse pressionado – ou pior,
cheio de culpa – seria muito difícil passar o resto do nosso tempo
aqui. Precisávamos um do outro e não podíamos nos dar ao luxo
de nos sentir estranhos 24 horas por dia, sete dias por semana.

Embora Josh e Scottie tomassem banho à noite na maioria das


vezes, eu podia ouvir a água correndo no banheiro. Talvez Josh se
sentisse sujo depois da noite passada.

Levantei-me, imaginando que teria um pouco de tempo sozinha


antes de enfrentá-lo.

Scottie saiu primeiro do banheiro. Seu cabelo estava úmido e


ele cheirava a algum tipo de loção pós-barba. — Bom dia, amigo —
eu chamei da cozinha. Como sempre, ele me ignorou.

Eu mesma precisaria de um banho logo. Josh e eu transamos


três vezes ontem à noite antes de finalmente desmaiarmos.
Provavelmente dormi quatro horas.

— Bom dia — disse Josh atrás de mim.

Minha mão parou na máquina de café antes de me virar para


encará-lo. Apenas o som de sua voz profunda me fez tremer.

Deus, eu amei cada segundo da noite passada.

Ele não usava nada além de jeans. Meus olhos caíram em seu
peito sem camisa, seu corpo era outro lembrete de todas as
maneiras pelas quais ele me penetrou. Outro lembrete, porque o
maior era o fato de eu estar dolorida entre as pernas. Eu já o queria
de novo, e isso seria um problema recorrente agora que eu sabia
como era tê-lo.

— Bom dia. — Limpei minha garganta. — Você decidiu tomar


banho mais cedo?
— Na verdade, Scottie estava muito suado quando se levantou.
Acho que ele pode estar com febre, então dei um banho nele para
tentar esfriá-lo.

Fui até o sofá para sentir a testa de Scottie. — Eita. Você tem
razão. Ele está quente.

— Procurei um termômetro, mas não encontrei — disse Josh.

— Há um no armário ao lado das velhas vitaminas de Wayne.


— Eu fui buscá-lo.

Felizmente, era do tipo que você apenas passa na testa, porque


não achava que Scottie nos deixaria colocar qualquer coisa em sua
boca. O termômetro apitou quando terminou, ele estava levemente
febril.

— Coitado — eu disse, mostrando o número na direção de Josh.

— Vou buscar um remédio para ele. — Josh jogou uma camisa


sobre a cabeça e encontrou seu casaco.

Parecia que ele mal podia esperar para escapar. Scottie


precisava tomar algo para a febre, mas tive a impressão de que
Josh precisava de um pouco de ar antes de enfrentarmos a
inevitável discussão sobre o que a noite passada significou – ou
não.

— Como podemos fazer com que ele engula ibuprofeno? —


perguntei.

Josh coçou a cabeça. — Lembro que Wayne costumava pegar o


tipo líquido e esgueirar para o suco. Você sabe, do tipo feito para
crianças. É melhor que nada.

— Ok.
— Você precisa de alguma coisa enquanto estou fora?

Você não agindo de forma estranha? — Não, eu estou bem. —


Sorri.

— Ok... já volto.

Mais tarde, quando Josh voltou com o remédio com sabor de


cereja para Scottie e um pouco de Gatorade para escondê-lo,
trabalhamos juntos para descobrir a dosagem certa. A presença
próxima de Josh não passou despercebida quando ele se inclinou
sobre meu ombro para ler as instruções em letras pequenas. Tentei
muito controlar minha reação física, que estava pior do que nunca
depois da noite passada. Eu nunca tive orgasmos tão intensos. Eu
nunca estive tão perdida em alguém.

E sim, essa percepção certamente me fez sentir ainda mais


culpada. Brad era o amor da minha vida e essa experiência deveria
ter sido dele. Mas não foi – pertencia a Josh. E se eu fosse
realmente honesta, por mais que tentasse me convencer do
contrário, meu coração também estava começando a pertencer a
Josh. Ou pelo menos qualquer parte do meu coração que não tinha
sido enterrada com Brad.

Mas sabia com o que Josh poderia lidar, e isso não incluía eu
me apaixonar por ele dessa forma. Ele tinha muita culpa não
resolvida quando se tratava de seu melhor amigo. Eu não seria
responsável por piorar isso.

Foi só sexo. Esse seria o meu mantra.

Depois de colocarmos o remédio no Gatorade, Josh o levou até


Scottie e sentou-se ao lado dele. Fiquei arrepiada quando Scottie
encostou a cabeça no ombro de Josh, e Josh falou com ele
gentilmente para fazê-lo beber a mistura. Josh seria um pai
incrível algum dia. Meu coração se apertou. Eu me perguntei se
ele e eu manteríamos contato depois que saíssemos de Woodsboro.
Eu não poderia imaginar uma vida em que não nos falássemos
pelo menos de vez em quando. Ironicamente, ele era tudo que eu
tinha de Brad. Talvez isso soasse errado depois da noite passada.
Mas era a verdade.

Após cerca de vinte minutos, Josh finalmente se levantou do


sofá. Ele acenou com o copo vazio. — Engoliu tudo.

— Você é realmente meu herói por isso — eu disse.

— Espero que ele comece a se sentir melhor. — Foi para a


cozinha lavar a caneca. — É estranho como a febre o deixa calmo.
Você notou que ele não estava fazendo nenhum stimming esta
manhã?

Stimming era o termo que usávamos para os comportamentos


autoestimulatórios que Scottie apresentava constantemente,
coisas como bater as mãos e cantarolar.

— Sim — eu disse. — É fascinante. Eles deveriam pesquisar


isso, como a febre afeta as pessoas com autismo.

Josh assentiu. — Você tomou café esta manhã?

— Não. — Esfreguei minha têmpora. — Eu me distraí e não


consegui. Não é de admirar que minha cabeça esteja doendo.

— Vou fazer para nós — disse ele.

— Obrigada.
Enquanto eu o observava se atrapalhar com as cápsulas de
café, percebi como ele estava tenso. Eu obviamente sabia por quê.
E não aguentava mais o silêncio.

— Acho que devemos conversar sobre ontem à noite, ou é


melhor não falarmos?

Josh congelou – literalmente parou tudo o que estava fazendo


e encostou-se no balcão.

Ele finalmente se virou para mim. — Tenho tentado descobrir


isso. Não quero que você pense que estou estragando tudo, muito
pelo contrário. Não consigo pensar em mais nada. Desculpe se
estou quieto.

— Eu sei. — Balancei a cabeça. — Entendo. A noite passada


foi...

— Incrível pra caralho — disse ele. — Mas ainda não descobri como lidar
com isso.

— Também não sei como lidar. Talvez nós simplesmente não


lidamos com isso e não pressionamos um ao outro para encontrar
as palavras certas ou fazer com que faça sentido. — Dei de ombros.
— O que aconteceu, aconteceu. Foi só sexo.

Aí estava. Uma das maiores mentiras que já contei.

Ele olhou para o nada por um momento. — Acho que não


devemos fazer isso de novo.

Essa declaração não foi nenhuma surpresa. Foi a mesma coisa


que ele disse na primeira vez que gozamos junto.

— Eu concordo — falei, embora fosse a última coisa que eu


queria. De jeito nenhum pressionaria por algo para o qual ele não
estava pronto. Talvez fosse melhor dar um passo para trás, agora
que tínhamos tirado isso da nossa cabeça.

Em silêncio, observamos o café escorrer da máquina. Então


meu celular tocou. Quando vi que era a agência de serviços sociais
de Scottie, coloquei a ligação no viva-voz para que Josh pudesse
ouvir também.

— Alô?

— Oi, é Carly Garber?

— Sim?

— Aqui é Maxine Gerard, do The Johnson Pruitt Center.

— Sim...

— Não acredito que estou dizendo isso, mas parece que temos
uma vaga na casa coletiva para a qual você se candidatou. A que
fica na Jones Avenue.

Josh e eu nos entreolhamos.

Seus olhos se arregalaram.

Meu queixo caiu.

— Como isso é possível? — perguntei. — Eles nos disseram que


poderia levar meses, ou até anos, potencialmente.

— Bem, como acontece às vezes, os membros da família


decidem que um lugar diferente pode ser mais adequado. Havia
um residente que parecia estar muito agitado em relação a outro
nesta casa em particular, então uma das famílias solicitou a
transferência para outro lar em outro Estado. E foram aprovados.

— Quando esta vaga estará disponível? — perguntei.


— Bem, a transição não vai acontecer até depois do ano novo.
Faltando apenas uma semana para o Natal, tudo vai desacelerar
um pouco. A data oficial de mudança do residente atual é 3 de
janeiro, e depois precisaremos de alguns dias para preparar o
espaço para Scottie, se você decidir aceitar esta vaga.

— Quanto tempo temos para decidir? — perguntou Josh.

— Posso lhe dar até o final de amanhã. Sinceramente, Scottie


não era o primeiro da lista de espera, mas achamos que ele seria
mais adequado para essa casa em particular, porque é bastante
calma. Nem toda casa é adequada para todos. Mas realmente não
podemos lhe dar muito mais do que um dia para decidir, pois
temos que dar andamento a toda a documentação de transição e
dar a oportunidade a outra pessoa se você não a aceitar. E como
Lorraine Longo é oficialmente a parente mais próxima de Scottie,
ela precisará assinar tudo, embora eu saiba que ela nos instruiu a
nos comunicarmos com você primeiro.

— Tudo bem... Josh e eu vamos discutir isso e manter Lorraine


informada também. Retornaremos até amanhã. — Coloquei minha
mão no meu peito para tentar conter meu coração acelerado. —
Devo ligar de volta para este número?

— Sim, não há problema algum.

Josh falou por cima do meu ombro. — Obrigado por ligar,


Maxine.

Depois que desliguei o telefone, fiquei olhando para a sala de


estar atordoada.
Scottie estava sentado ali, calmo e com o rosto vermelho, alheio
a essa grande virada em sua vida.

— Puta merda — Josh murmurou.

Segurei meu estômago como se estivesse pronta para vomitar.


— Eu sei.

— Eu não esperava que fosse acontecer tão rápido. Você?

Eu balancei minha cabeça. — De jeito nenhum.

O rosto de Josh parecia afundado. — Não me sinto preparado...

— Será que algum dia nos sentiremos prontos, Josh?

Ele franziu a testa. — Provavelmente, não.

— É como... cuidado com o que você deseja, certo? — Suspirei.


— É para isso que estamos trabalhando desde o início, mas agora
que está acontecendo, é assustador. Eu também fico me
perguntando se isso é o que eles realmente querem...

Ele arqueou a testa. — Você quer dizer Wayne e Brad?

— Sim. — Eu balancei a cabeça. — Eles ficariam bem com isso


ou gostariam que ficássemos?

Josh desviou o olhar. — Acho que eles nunca esperariam que


ficássemos.

— Não o que eles esperavam, mas o que eles queriam? Eles


gostariam que ficássemos se estivéssemos dispostos? — Eu
balancei minha cabeça. — Acho que não importa. Obviamente, não
é viável. Continuo dizendo a mim mesma que o lar coletivo tem
mais recursos para ele do que nós.
— Precisamos seguir em frente com nossas vidas, e Scottie
também — disse ele. — Vai levar algum ajuste para todos nós, mas
a situação do lar é a melhor.

O olhar triste em seu rosto me disse que ele estava tentando


convencer a si mesmo tanto quanto a mim.

— Sim. — Esfreguei seu braço. — Isto é uma coisa boa. Mas


ainda temos até amanhã para decidir. Embora, eu não tenha
certeza do que nos impediria.

— Não há nada que me detenha... você? — Ele olhou nos meus


olhos.

Qualquer motivo que me dissuadisse seria egoísta. Eu não


queria deixar Josh, e uma parte de mim tinha se tornado muito
apegada a Scottie, apesar de quanto trabalho era cuidar dele. Mas
no final, Scottie precisava de cuidados 24 horas por dia e eu
precisava voltar à minha vida na Califórnia. Sabia em meu coração
que, por mais que Brad amasse seu irmão, ele nunca ficaria bem
comigo abrindo mão de minha liberdade para cuidar de Scottie em
tempo integral.

— Não há nada que me detenha, não — respondi finalmente.

— Então acho que está resolvido. — Ele soltou um longo


suspiro.

— Vamos ligar para eles e Lorraine amanhã, e dizer que


aceitamos.

Josh parecia perdido em pensamentos quando murmurou: —


Sim.
Um humor sombrio nos acompanhou pelo resto do dia. A única
coisa boa foi que o remédio de Scottie parecia estar funcionando e
sua febre baixou. Tentamos fazê-lo comer, mas ele não tinha
apetite, o que era compreensível. E o ibuprofeno ou a febre o
deixaram sonolento, então ele foi para a cama mais cedo do que o
normal naquela noite.

Josh sentou-se com ele em seu quarto até que Scottie estivesse
totalmente adormecido, e eu estava em nossa pequena lavanderia
descarregando a máquina de lavar quando ele finalmente saiu. Eu
o senti vir atrás de mim.

Quando ele passou o braço em volta da minha cintura, fechei


os olhos. Com que rapidez meu corpo caiu de volta em um lugar
de rendição completa. Seu toque me fez sentir os joelhos fracos.

— Eu disse a mim mesmo que não iria tocar em você de novo


— disse ele, apertando ainda mais minha cintura.

— Como está indo para você? — suspirei, inclinando minha


cabeça para trás para encontrar o calor de sua respiração no meu
pescoço.

— Não muito bem... — O estrondo de sua risada gentil


balançou contra minhas costas. Então senti a carícia quente de
seus lábios no meu pescoço, o arranhão de sua barba.

— Estou morrendo de fome, Carly. — Ele falou sobre a minha


pele, sua ereção pressionando em mim. — Você notou todas as
marcas que deixei em você ontem à noite?

— Mmm-hmm.
— Fiquei olhando para elas o dia todo, querendo fazer mais. —
Ele chupou meu pescoço. — Não consigo parar de pensar em foder
você, meu esperma dentro de você. Eu fiquei duro toda vez que
você passou por mim hoje. Sinto que estou ficando louco.

— Achei que você tinha dito que deveríamos parar. — As


palavras saíram da minha língua preguiçosamente enquanto
inclinava minha cabeça para trás novamente.

— Eu sei o que disse — ele sussurrou. — Só mais uma vez.


Podemos parar amanhã.

Eu estava tão excitada que não conseguia nem responder com


palavras. Simplesmente balancei a cabeça enquanto respirações
erráticas escapavam de mim. Isso era óbvio, considerando que eu
o queria de novo desde o segundo em que saí da cama esta manhã.
Não havia nada que eu não arriscaria para ter Josh dentro de mim
mais uma vez.

O calor de sua protuberância dura pressionou contra minha


bunda. Minha calcinha já estava encharcada. Josh abaixou a mão
e deslizou para baixo minha calça de ioga. Parando antes de tirar
minha calcinha, ele a deslizou para o lado.

— Eu sempre quis foder você contra essa coisa. Tantas vezes


eu passei enquanto você lavava roupa e fiquei pensando no que
queria fazer com você.

Empurrei minha bunda contra ele. Então ouvi seu zíper, e a


próxima coisa que eu sabia era que ele tinha entrado em mim em
um impulso duro que parecia puro nirvana.

Ele gemeu. — Foda-se... você já está tão molhada.


Seu nome rolou da minha língua em um suspiro. — Josh...

— Não diga meu nome. Você vai me fazer gozar.

Abri minhas pernas e apoiei minhas mãos contra a máquina de


lavar.

— É isso aí, abra mais para mim, baby.

Josh empurrou mais forte, bombeando dentro e fora de mim


tão rápido que eu podia ouvir o som liso da minha excitação. Havia
algo tão quente em ser fodida por alguém que você costumava
odiar. Apenas acrescentava combustível ao fogo.

— Josh...

— O que eu disse sobre dizer meu nome?

— Josh... — provoquei novamente.

Ele me fodeu mais forte, agarrando meu cabelo e puxando-o.


Eu decidi fazer aquela coisa que o deixa louco. Eu apertei meus
músculos, em seguida, soltei.

A respiração de Josh falhou. — Você deve querer que eu goze


agora.

Ofegante, sussurrei: — Eu quero.

— Mal posso esperar para encher você com meu esperma


novamente.

Isso me desfez totalmente. Meu clímax vindo à tona, diminuí o


movimento de meus quadris e abaixei minha mão para meu clitóris
para terminar. Josh me penetrou com mais força enquanto
liberava seu próprio orgasmo, a sensação quente de seu sêmen
tornando o final do meu êxtase ainda mais doce.
Isso foi o mais rápido que alguém já me levou ao orgasmo. Era
para ser sexo na lavanderia – áspero, rápido e nada mais. Mas
quando seu calor me encheu desta vez, meu coração parecia
prestes a explodir. Eu ia ter meu coração partido – pelo último
homem na Terra que imaginei que acabaria com esse poder.

Enquanto ele entrava e saía de mim, Josh falou na curva do


meu pescoço. — Isso foi incrível, linda.

Quando ele saiu, eu me virei para encará-lo. Seus olhos ainda


estavam semicerrados, bêbados de desejo persistente. O peso em
meu peito tornou-se insuportável, especialmente com a notícia que
recebemos esta manhã. Eu tinha que dizer a ele.

Coloquei minhas mãos em volta de seu rosto e deixei escapar:


— Não fui honesta com você.

— Do que você está falando?

— Meus sentimentos são mais fortes do que deixei


transparecer. — Coloquei a mão dele no meu coração para que ele
pudesse sentir como batia por ele. — Não me sinto mais morta por
dentro, Josh. Você fez isso. Mas acho que é uma boa ideia se
realmente pararmos agora. Estou começando a sentir demais. Em
breve não estaremos mais juntos, e é melhor pararmos antes de
causarmos mais estragos.

Ele fechou os olhos. — Sinto muito. Tudo isso é culpa minha.


— Ele se aproximou, descansando sua testa contra a minha. — Eu
sou tão fraco.

— Você não é o único. — Eu podia sentir seu esperma


escorrendo pela minha coxa.
Eu já o queria de novo, apenas alguns segundos depois de dizer
a ele que precisávamos parar. O problema, porém? Eu não apenas
o queria dentro de mim, eu o queria na minha cama esta noite,
abraçando-me. Eu estava começando a querer tudo com Josh,
coisas que ele provavelmente não estava disposto a me dar. Era
precisamente por isso que precisávamos de um passo atrás.
Capítulo 25

JOSH

Na manhã seguinte, encontrei meu irmão Michael para o café


da manhã. Meu plano era continuar negando que qualquer coisa
sexual tivesse acontecido entre mim e Carly. Infelizmente, meu
irmão sempre podia ver através de mim.

— Carly e Scottie vão comigo para sua casa no Natal — eu disse


a ele. — Espero que esteja tudo bem...

— Você está brincando? — ele disse com a boca cheia de


panqueca. — Quanto mais melhor. Vou avisar a Vanessa. Ela vai
ficar animada.

— Sim, e você pode pedir a Vanessa para adicionar Carly e


Scottie aos presentes do Papai Noel Secreto?

— Claro. Ela vai ficar emocionada.

— Obrigado. — Peguei um pacote de açúcar e esvaziei na minha


xícara, sacudindo-o repetidamente.

— Então... o que aconteceu na outra noite, depois que Carly


chegou em casa de seu encontro? — ele perguntou. — Você não
me disse, nem respondeu a minha mensagem.

Eu não disse nada enquanto mexia meu café, mas ele


aparentemente viu algo em meu rosto. Ou talvez fosse o fato de
que eu não olhava para ele.
— Você dormiu com ela, não...

Merda. Não adiantava negar. Batendo minha colher contra a


caneca, finalmente encontrei seus olhos. — Apenas... aconteceu.
Eu estava com ciúme. E você estava certo. Ela estava me
mandando mensagens de lá. Mas o que quer que tenha acontecido
conosco naquela noite, acabou.

— Espere, então você realmente dormiu com ela naquela noite


depois que ela voltou?

Eu balancei a cabeça, murmurando: — A primeira vez, pelo


menos...

— Espere... — ele disse. — O que você quer dizer com acabou?


Não acabou de começar? Isso foi apenas duas noites atrás.

— Nós decidimos... — Eu me parei. — Bem, na verdade ela


decidiu recentemente que temos que parar. E ela está certa. Não
vamos ficar aqui em Woodsboro por muito mais tempo.

— O que você quer dizer?

— Essa é uma das coisas que eu queria contar. — Forcei um


sorriso. — Scottie conseguiu uma vaga.

— Sem chance. Achei que deveria levar um ano ou mais.

— Nós também. Mas eles têm uma vaga para ele. Ele está se
mudando depois do ano novo.

— Uau. — Meu irmão olhou pela janela. — Eu tenho que dizer...


estou um pouco chateado. Eu meio que esperava que você ficasse
mais tempo.
Sim. Eu também. — Tudo acontece por uma razão. Não posso
retirar o que fiz com Carly. E honestamente, eu não gostaria. Mas
sexo e amor são duas coisas diferentes. Se fôssemos nos envolver
mais... isso não seria bom. Já é ruim eu ter feito sexo com ela, mas
qualquer outra coisa não me pertence. Isso sempre pertencerá a
Brad. Não tenho o direito de continuar com ela de onde ele parou.
— Esfreguei minhas têmporas. — Deus, isso é tão fodido.

— Você é apenas humano, Josh. É perfeitamente natural ter os


sentimentos que vocês têm um pelo outro. Especialmente porque
vocês dois passaram pela mesma perda. Eu sei que essa é a parte
irônica, mas provavelmente é o que mais une vocês.

Minhas entranhas se contorceram com a ideia de Brad ser o


laço que me unia a Carly. Mudei de assunto. — De qualquer forma,
hoje vamos à fazenda do Pete comprar uma arvore de Natal. Vou
tentar levar o Scottie. Vamos ver como vai ser.

Michael sorriu. — Tenho certeza de que ele vai gostar da


barraquinha de chocolate quente.

— Não tenho certeza se ele vai beber essa coisa. Ele é peculiar
com relação às escolhas alimentares. Mas eu me lembro que ele
costumava gostar das luzes da árvore de Natal do Wayne. Como
este será seu último Natal naquela casa, eu não poderia deixar de
comprar uma árvore para ele. — Senti meus olhos começarem a
lacrimejar. — Que porra é essa? Isso quase me fez chorar agora
quando pensei que ele nunca mais voltaria.

Meu irmão balançou a cabeça. — Ok, agora você vai me fazer


chorar. Dois homens adultos chorando em suas malditas
panquecas no meio de uma lanchonete. Não é um bom visual.
●●●

Carly estava pronta para sair quando voltei para casa naquela
tarde. Eu mandei uma mensagem para ela para dizer-lhe para
estar pronta. Ela parecia uma maldita princesa da neve, vestindo
um casaco branco com um chapéu branco combinando e um
cachecol listrado de pirulito.

— Você está adorável — eu disse a ela. Não consegui me conter.

Ela se virou. — Achei que deveria entrar na história do espírito


natalino.

Nem mesmo um minuto em casa, e eu gostaria de poder


envolver suas pernas em volta de mim e levá-la contra a parede.
Passar por esses últimos dias sem tocá-la seria excruciante.

Em vez de agir no impulso de beijar o Natal dela, peguei o


casaco de Scottie. — Você está pronto para ir, amigo? Vamos
comprar uma árvore de Natal!

Ele pareceu entender por que não nos deu problemas para
vestir o casaco. Na maioria das vezes, ele resistia quando você
tentava tirá-lo de casa, mas felizmente não hoje.

No caminho para a Pete’s Christmas Tree Farm, liguei a estação


de rádio que tocava músicas natalinas. Ele se misturou com os
sons do iPad de Scottie vindo do banco de trás.

Quando chegamos, o lugar estava lotado – o que não era


surpresa, já que estava chegando o Natal. Mas eles tinham muita
mercadoria sobrando. Havia fileiras de árvores de todos os
tamanhos e larguras imagináveis alinhadas no campo aberto,
deixando o cheiro da estação no ar. Flocos de neve leves
começaram a voar, o que contribuiu para o ambiente de feriado
perfeito. A nostalgia tomou conta de mim. Eu vinha para cá desde
criança, muitas vezes com os Longo, e Brad. Então uma onda de
culpa me atingiu.

Como eu suspeitava que Scottie não iria querer ficar aqui tanto
tempo, levei ele e Carly até uma área onde havia várias árvores
menores.

Apontei para uma delas. — E quanto a essa? Parece bonita por


toda parte.

— Acho perfeita. — Carly virou-se para Scottie. — Você gosta


desta árvore?

Ele pronunciou algo ininteligível e pulou para cima e para


baixo.

— Scottie parece gostar, então acho que é essa. — Sorri,


recortando o tíquete da árvore, que deveríamos levar ao caixa. —
Por que não entro na fila para pagar com ele? Você se importa de
entrar na fila do chocolate para não perdermos tempo? Já estou
vendo que ele está ficando inquieto.

— De forma alguma. Esse parece ser um bom plano.

A fila para pagar andava a passos de tartaruga. Uma rajada de


vento levou meu dinheiro embora, então corri para pegar as notas
antes que elas sumissem. Desviei os olhos de Scottie por não mais
que três segundos. Mas foi só isso.

— Ei! Pare! É meu! — ouvi um garoto gritar atrás de mim. —


Esse homem acabou de tentar pegar meu iPad!
Quando dei por mim, o pai do garoto estava estrangulando
Scottie.

Meu coração quase parou.

— Por favor! Solte-o! — implorei, afastando Scottie do homem.


— Ele não sabe o que faz! — gritei.

— Que porra há de errado com ele, pegando o iPad do meu


filho? — o homem se enfureceu.

— Ele tem autismo — falei, ofegante. — Ele não sabe distinguir


o certo do errado. Ele adora iPads, então pensou...

Os olhos do cara se moveram para frente e para trás em


confusão. — Bem, fique de olho nele, então. — Ele então levou seu
filho de nariz empinado para longe.

Carly correu até nós, parecendo exausta. — O que aconteceu,


Josh? Eu vi a comoção, então saí da fila.

— Eu me virei por literalmente três segundos e Scottie pegou o


iPad de uma criança. O pai pensou que ele era um ladrão. Ele
quase o machucou. — Minha voz falhou.

— Oh, não. — Ela cobriu a boca.

— Eu não deveria ter tirado os olhos dele.

Ela esfregou meu braço. — Não é sua culpa, Josh.

— Isso é. Eu virei as costas. Qualquer coisa poderia ter


acontecido.

— Isso poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Não é


fácil lidar com ele. Você não tinha como saber que ele faria isso.
Ele é tão instável às vezes.
Ela segurou a mão de Scottie e usou a outra mão para passar
os dedos suavemente pelo meu cabelo. — Tudo bem. Você fez tanto
por ele... por nós dois nestes últimos meses. Dê a si mesmo um
pouco de tolerância, está bem? Ele está bem. Todos nós estamos
bem.

Estamos todos bem.

Exceto que eu me sentia vazio por dentro porque nosso tempo


juntos estava terminando. E o pobre Scottie não percebia o que
estava por vir.

Estávamos todos bem.

Fechando os olhos, saboreei a sensação do toque de Carly, que


me trazia tanto conforto. Tão indigno.

Eu balancei minha cabeça para sair dessa névoa. — Ok.


Acabou. Vamos pegar a árvore e voltar para casa.

O resto do nosso tempo lá correu bem. Amarrei a árvore no topo


do carro de Carly e, depois que Scottie estava em segurança no
banco de trás, olhando para seu iPad, deixei-o com Carly e voltei
para a lanchonete para pegar um chocolate quente para todos nós
para a volta para casa. Eu disse a eles para colocar leite extra no
de Scottie para que não ficasse muito quente. Ele pareceu gostar
disso.

“Have Yourself a Merry Little Christmas” dos Carpenters tocou


no rádio enquanto voltávamos. O som suave da voz do cantor me
acalmou um pouco. Jurei não deixar o que aconteceu esta tarde
arruinar o resto da nossa noite.
Em casa, enquanto Carly e eu montávamos a árvore de Natal,
Scottie saltitava, tocando um pouco de Elton John ao contrário.
Normalmente, ele se sentava ou fugia para seu quarto, então
parecia que ele estava intencionalmente conosco esta noite. Ele
sabia que as luzes estavam chegando, e era engraçado vê-lo tão
animado – especialmente com algo que não era um dispositivo
eletrônico. Inalando profundamente o cheiro de pinho fresco,
deixei que ele me levasse de volta por um momento aos muitos
Natais que passei nesta casa.

Carly foi para seu quarto por um momento e voltou segurando


uma grande caixa vermelha. — Eu tenho uma surpresa.

Parei de mexer com as luzes emaranhadas. — O que é?

— Há algum tempo, encontrei esta caixa de enfeites de Natal.


Sei que compramos alguns enfeites no Walmart, mas podemos
adicionar alguns dos Longos também.

— Puta merda, Carly. Fantástico.

Abrimos a caixa juntos. Os enfeites foram embrulhados em


papel de seda e cuidadosamente desembrulhamos cada um.
Algumas pareciam ter muitos anos. Um deles tinha o nome de
Brad escrito em purpurina.

A certa altura, Carly levantou outro e disse: — Josh, olhe...

Uau. Aí estava.

— É seu. — Ela sorriu.

Ainda me lembrava do dia em que Brad e eu nos sentamos à


mesa da cozinha e fizemos isso com Yvonne. Sempre adorei ver
meu nome na árvore deles todos os anos. O Natal aqui parecia um
feriado de verdade, ao contrário da cena deprimente na casa de
papai. Depois que minha mãe foi embora, ele nunca mais montou
uma árvore de Natal.

— Também fizemos um para Scottie nesse dia — lembrei. —


Tem que estar aí em algum lugar.

Acabamos encontrando o enfeite de Scottie, junto com tantos


outros sentimentais de que me lembrava. Penduramos todos e
cada um deles e não precisamos de muitos dos do Walmart. Não
havia espaço.

Então eu tive uma ideia. — Já volto — eu disse enquanto


desaparecia no quarto de Scottie.

Eu sabia que ele tinha algum glitter que Lauren trouxe para
fazer artesanato com ele. Também encontrei um pouco de cola.
Voltei para a sala e peguei um dos enfeites do Walmart,
cuidadosamente usando a cola para escrever CARLY antes de
espalhar brilhos sobre ele. A purpurina acabou espalhada pelo
chão, mas ninguém parecia se importar.

— Você faz parte desta família extensa agora. Você merece um


lugar na árvore — eu disse a ela. — Só precisamos deixar secar.

Carly sorriu para minha criação bagunçada. — Obrigada,


Mathers.

— Acho que depois do Natal vou levar todas essas decorações


e guardá-las na casa do papai para que não se percam. Lorraine
provavelmente jogará tudo fora se não pegarmos o que quisermos
antes que ela venda este lugar.
Carly franziu a testa. — Não consigo nem pensar nisso. Fico
tão triste em pensar que, uma vez que Scottie vá para o lar coletivo,
ele nunca mais voltará aqui. Mas você está certo. Ela já mencionou
que precisa do dinheiro.

Eu coloquei meu braço em volta de Carly para um abraço de


lado. — A coisa toda é uma merda, Pumpkin.

Olhamos para Scottie, que tinha o rosto praticamente


enterrado nas luzes da árvore de Natal.

— Olhe para ele — disse ela. — Ele está tão feliz agora.

Eu ri. — Eu teria acendido essas luzes muito antes se tivesse


percebido como ele ficaria feliz.

— Ele realmente não é tão difícil de agradar. Ele só precisa de


um lugar seguro para morar, eletricidade e seu frango. E agora
luzes. — Carly se virou para sorrir para mim e me pegou olhando
para ela. — O quê?

— Nada.

Eu queria tanto beijá-la. Isso era o que eu estava pensando. Eu


gostaria de poder beijá-la a noite toda e terminar a noite dentro
dela. Sabia que meus sentimentos por ela eram muito mais do que
sexuais, no entanto. Isso era diferente de tudo que eu havia
sentido antes. Eu tinha um desejo profundo de escapar para ela,
abraçá-la e adormecer com ela em meus braços. Tornar-me um
com ela. A maneira como ela me confortou na fazenda de árvores
de Natal – tudo o que ela teve que fazer foi me tocar e tudo pareceu
melhor. Ela sempre fez tudo melhor. Ela tornou minha vida
melhor. Ela me fez melhor. E isso me assustava. Porque estávamos
prestes a nos separar para sempre. Porque tínhamos que fazer.
Capítulo 26

CARLY

Três tipos diferentes de bolo de frutas. Martinis de bengala


doce. Castanhas assadas. A cunhada de Josh, Vanessa, preparou
uma grande refeição na véspera de Natal. Foi muito gentil da parte
dela e de Michael terem me convidado de braços abertos.

Mas o tom festivo da noite era agridoce. Josh e eu estávamos


nos aproximando do fim de nosso período em Woodsboro. Em
menos de duas semanas, Scottie se mudaria para o lar coletivo, e
Josh e eu estaríamos voltando para o lugar de onde viemos. Eu
nunca quis fazer uma pausa no tempo.

Eu havia me arrumado com meu melhor traje de feriado, um


vestido de coquetel vermelho brilhante, mas o clima era casual na
casa de Vanessa e Michael. Na verdade, Vanessa usava um pijama
de lã de búfalo. Portanto, talvez eu estivesse um pouco vestida
demais. Ah, bem. Scottie já havia se colocado ao lado da árvore de
Natal com seu iPad, e Josh estava em um canto da sala de estar
com seu sobrinho Max, ajudando-o a montar um brinquedo novo.
Sua sobrinha, Maya, estava com a mãe na cozinha, enquanto
Michael assistia à TV com o pai deles. Isso me deixou com Neil no
bufê, prestes a iniciar uma conversa desconfortável.

— Eu só queria dizer olá — falou. — Tirar a estranheza do


caminho. — Ele pegou uma azeitona e colocou na boca.
Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Obrigada.
Tenho certeza de que você preferiria aproveitar o Natal da sua
família sem que o seu encontro fracassado aparecesse.

— Você está brincando, Carly? Estou feliz que você e Scottie


estejam aqui.

— Obrigada, Neil.

— E realmente não há ressentimentos. — Ele pegou um dos


martinis de cana-de-açúcar. — Eu sei agora que nunca poderia ter
funcionado entre nós.

— Por quê? — Eu estava quase com medo de perguntar.

— Você não sabe? — Ele tomou um gole de sua bebida e olhou


em volta. — Posso dizer uma coisa, só entre nós?

— Claro... — Eu precisava de um martini também, agora


mesmo, então peguei um.

— Nunca vi meu irmão olhar para ninguém do jeito que ele olha
para você. Eu sei que existem razões para ouvir que podem ser
agridoces. Mas apenas uma observação. Também notei a maneira
como você falou sobre ele em nosso encontro. Talvez vocês dois
estejam em negação. Mas posso ver que vocês gostam muito um
do outro.

Tomei um longo gole da minha bebida. — Você está certo sobre


isso. Mas como tenho certeza de que você percebeu, é uma
situação complicada.

— Oh, eu sei. — Ele colocou a bebida na mesa. — Mas... acho


que Josh às vezes complica as coisas quando não precisa. A vida
é confusa, sabe? — Ele suspirou. — Mas também entendo o dilema
neste caso. Acho que o que quero dizer é que não importa o que
aconteça entre você e Josh, desejo o melhor a ambos depois que
deixarem Woodsboro. Eu realmente parabenizo vocês por
assumirem a responsabilidade de cuidar de Scottie.

Sorri. — Eu não teria conseguido sem Josh.

— Eu sei que ele diz o mesmo sobre você.

— O que foi, está tentando dar sua tacada de novo? — Josh


repreendeu enquanto entrava na sala, interrompendo nossa
conversa.

— E se eu estiver? — Neil brincou, piscando para mim. — Na


verdade, Carly acabou de me informar que ela acha que eu sou o
irmão mais bonito.

— Bem, agora eu sei que ela bebeu demais. — Josh sorriu para
mim, e isso me deu calafrios.

— Boa conversa, Carly. — Neil pegou sua bebida. — Vou ver se


Vanessa precisa de ajuda.

Eu me senti corando.

— Você está bem? — perguntou Josh.

— Sim. Neil é tão legal. Toda a sua família é incrível.

Josh estava muito bonito esta noite em um suéter marrom


justo. Eu queria cravar minhas unhas nele. Fui eu quem criou
essa regra de sexo proibido, mas era difícil cumpri-la. Eu queria
Josh cada segundo de cada dia, e esta noite não era exceção.

Seus olhos caíram para o meu decote. Meu vestidinho vermelho


talvez não deixasse muito à imaginação para um evento familiar.
Eu havia flagrado Josh me observando várias vezes esta noite e, a
cada vez, isso me deixava excitada. Embora eu tivesse jurado não
deixar que nada acontecesse entre nós, ainda ansiava por sua
atenção e por qualquer confirmação de seu desejo. Era o meu
único prêmio de consolação.

Ele limpou a garganta e mais uma vez ergueu os olhos para


mim. — Vanessa queria que eu avisasse que estamos prestes a
trocar presentes.

— Oh, legal.

Peguei minha bebida e segui Josh até a sala, sentando-me ao


lado dele no menor dos dois sofás. O calor de sua coxa esquentou
minha pele enquanto ele se sentava perto de mim, e eu o senti bem
entre minhas pernas. Tomando um longo gole do meu martini,
esperava entorpecer a sensação torturante.

Vanessa se sentou no chão no meio da sala com uma sacola


gigante cheia de todos os presentes do Papai Noel Secreto. Alguns
deles foram embrulhados em papel xadrez de búfalo que
combinava com o pijama dela.

Ela enfiou a mão dentro da bolsa. — Ok, vou distribuir esses


presentes e depois vamos dar a volta na sala e nos revezar na
abertura.

O pai de Josh, Tom, foi o primeiro. Ele era a pessoa que me foi
designada. Josh me disse que seu pai era um ávido pescador,
então eu comprei para ele alguns equipamentos na Bass Pro
Shops. Fiquei arrepiada ao vê-lo abrir o presente, realmente
esperando que ele não ficasse desapontado.
Depois que o Sr. Mathers percebeu que os itens eram meus, ele
se levantou e me deu um abraço. — Carly, eu não poderia ter
escolhido um presente melhor. Obrigado, querida. Como você
sabia do que eu gosto?

— Um passarinho me contou. — Olhei para Josh, que estava


sorrindo para nós.

Seu pai parecia um cara doce, e me irritou que sua esposa


tivesse feito a ele e seus filhos tão mal. Eu cresci sem um pai por
perto, então apreciava o bom pai que Josh e seus irmãos tiveram.

Vanessa foi a próxima a abrir seu presente: uma cesta de café


da Starbucks e várias canecas. — Meu marido me conhece tão
bem. — Ela se levantou para dar um beijo em Michael. — A
Starbucks mais próxima fica a quarenta minutos — ela me
explicou. — Portanto, é como uma viagem de campo sempre que
tenho que ir.

Em seguida, Scottie abriu seu presente de Vanessa: um tablet


Kindle Fire novinho em folha. Como se ele precisasse de outro
aparelho. Mas, aparentemente, ela sabia que esse era o caminho
mais rápido para o coração dele. Ele nunca tinha eletrônicos
suficientes.

— Apenas no caso de todos os outros ficarem sem bateria de


uma vez, Scottie. — Ela sorriu.

Ele tinha vários outros com ele esta noite, mas Scottie
examinou o novo dispositivo com grande interesse. Ela já o tinha
carregado com muitos de seus aplicativos favoritos. Josh devia tê-
la ajudado com isso.
Em seguida, as crianças abriram seus presentes. Eles foram
designados um ao outro. Max comprou roupas para Maya na
Hollister, e ela deu a ele um vale-presente para uma loja de jogos
e alguns doces.

Quando chegou a minha vez, restavam apenas algumas


possibilidades para o meu amigo secreto. Quando abri o cartão em
cima da minha caixa, fiquei tonta ao descobrir que dizia: Para
Carly, de Josh. Uma sensação quente e confusa tomou conta de
mim. Eu me perguntei se o dado havia caído assim ou se Josh
havia mexido alguns pauzinhos.

Pensei que meu coração estava cheio um segundo atrás, mas


quando abri a pequena caixa, eu me perguntei se poderia estourar.
Dentro havia uma pulseira de prata com vários pingentes. Eu olhei
para cada um deles de perto – uma casinha, um cachorro, um
sorvete... e um limão. Muitas das nossas coisas. Mas o que mais
me tocou foi o berloque de três pessoas de mãos dadas: uma garota
entre dois rapazes. Meu primeiro instinto foi pensar em Josh, Brad
e eu, por mais louco que isso fosse. Mas isso não fazia sentido.
Éramos Scottie, Josh e eu. Nossa família improvisada que estava
prestes a se desfazer.

— Josh, isso é... — Eu não conseguia encontrar as palavras


para expressar o quão doce era.

— Achei que iria imortalizar este tempo louco, já que está


prestes a chegar ao fim.

— É lindo. Obrigada. — Meus olhos começaram a lacrimejar.


— Verdadeiramente, a melhor coisa que eu poderia ter recebido.
— De nada. — Seus olhos encontraram os meus. — Estou tão
feliz que você amou.

Todos os olhos na sala pareciam estar em nós quando estendi


a mão para ele, envolvendo meus braços em volta do seu pescoço.
Eu me perguntei se minha luta para afastar meus sentimentos era
tão óbvia para os outros quanto parecia para mim.

Então Josh abriu o fecho e colocou a pulseira em mim. Até


mesmo o contato de sua mão sobre meu pulso me deu frio na
barriga.

Quando o último dos presentes foi aberto, continuei olhando


para a pulseira e pensando em nosso tempo chegando ao fim.
Assim que Josh e eu voltássemos para nossas respectivas cidades,
desta vez seria apenas uma lembrança. Pelo menos eu teria essa
pulseira para me lembrar.

Depois que todos receberam seus presentes, nós nos sentamos


para jantar. Trouxemos o frango de Scottie conosco, e eu o levei
para a cozinha e o esquentei.

Enquanto comíamos, Josh e eu conversávamos com vários


membros da família na mesa de jantar, mas de vez em quando eu
o pegava olhando furtivamente para mim. Seus olhos
silenciosamente me diziam que ele estava lutando com o mesmo
desejo que eu estava esta noite.

Depois do jantar, voltei à cozinha para levar meu prato à pia.


Alguns segundos depois, Josh entrou e, por um momento, nós dois
ficamos sozinhos. Os cabelos do meu pescoço se arrepiaram
quando ele veio atrás de mim enquanto eu estava na pia. A última
vez que ele esteve tão perto, acabamos nos esbarrando na máquina
de lavar.

Quando me virei, seu rosto estava a apenas alguns centímetros


do meu. — Não foi só sexo, Pumpkin. Esse é o problema. — Ele se
inclinou, muito ligeiramente.

Meus lábios se separaram, desesperados para se conectar com


os dele.

Um segundo depois, a sobrinha de Josh entrou na cozinha. Ele


recuou imediatamente.

— Tio Josh, venha ver meu novo skate!

Ela o arrastou para longe, deixando-me sozinha com meu


coração palpitante.
Capítulo 27

JOSH

Os dias seguintes ao Natal passaram rápido demais. Consegui


manter minha promessa e, portanto, meu pau dentro da calça. Eu
merecia um maldito prêmio por isso. Um prêmio booby, pelo
menos. Eu quase escorreguei várias vezes, mas no final, sabia que
precisava respeitar os desejos de Carly e minha própria promessa
de não deixar o que ela e eu começamos nos transformar em algo
do qual não poderíamos voltar.

Foi como se eu piscasse e, de repente, lá estávamos nós,


conduzindo Scottie para sua nova casa. O dia da mudança parecia
surreal, embora tivéssemos feito tudo o que podíamos para nos
preparar para isso. Carly e eu nos revezamos indo para sua nova
casa nos últimos dias, levando lentamente as coisas de Scottie.
Nosso objetivo era tornar seu quarto aqui o mais parecido possível
com seu quarto em casa. Mas não conseguimos levar tudo.
Simplesmente não havia espaço. Carly havia emoldurado uma foto
de nós três e deixado na mesa de cabeceira. Minha cunhada a
havia tirado na festa de Natal. Eu só podia esperar que, sempre
que Scottie olhasse para ela, ele não nos odiasse por deixá-lo.

Carly e eu estávamos sentados um de cada lado de sua nova


cama, sem querer ir para casa ainda. Já deveríamos ter ido
embora.
— Isso não parece certo — falei.

Carly olhou para Scottie, que estava jogando em seu iPad. Ele
não parecia entender a magnitude deste dia, ou pelo menos não
estava demonstrando.

— Eu meio que gostaria que pudéssemos passar a noite com


ele ou algo assim — disse ela.

— Não podemos. Isso tornaria ainda pior e mais difícil deixá-lo


aqui.

— Sim. — Ela pegou um fiapo na colcha dele. — Acho que essa


é uma daquelas situações em que você precisa arrancar o Band-
Aid.

Isso meio que me lembrou do que eu teria que fazer com meus
sentimentos por ela – afastar-me de tudo de uma vez. Não apenas
tínhamos que nos despedir de Scottie hoje, mas nos despediríamos
um do outro amanhã.

— Já confirmei com Lorraine que ela vai trazer o frango dele na


sexta-feira — disse Carly. — O lote que acabei de fazer deve durar
até lá.

— Espero que ela continue com isso. — Olhei para fora da


janela; estava começando a garoar.

Carly segurou-se na cabeceira da cama. — Eu me pergunto


quanto tempo vai demorar antes que ele pule nesta cama e a
quebre.

— Dou dois dias. — Eu ri. — Tenho certeza de que da próxima


vez que um de nós visitar, haverá um colchão no chão. Eles
aprenderão a lição.
Alguém veio até a porta. — Nós vamos jantar em breve. Vocês
podem ficar, mas pode ser melhor se forem embora para que
Scottie possa se acostumar com a rotina de sempre.

Eu poderia aceitar a sugestão.

Eu já disse que isso era realmente uma droga?

— Obrigado. — Eu balancei a cabeça. — Nós partiremos em


breve.

Sem mais delongas, estendi a mão para abraçá-lo. — Eu amo


você, cara. Prometo voltar para Woodsboro com mais frequência.
E quando o fizer, você será minha primeira parada.

Carly tinha lágrimas nos olhos enquanto o abraçava. — Sinto


muito por termos que partir, Scottie. Eu sei que isso vai funcionar
para o melhor no final, no entanto. Espero que você passe a amar
isso aqui. Eu realmente amo.

A coisa toda parecia tão antinatural. Mas me esforcei, porque


sabia que nunca iria querer ir embora. Carly e eu estávamos no
corredor quando notamos passos atrás de nós.

Eu me mexi.

Era Scottie.

Ele estava com sua jaqueta e seu iPad.

Ele tinha pensado que deveria partir conosco. Ele não


entendeu.

Meu maldito coração estava prestes a quebrar.


— Não, Scottie. Você vai ficar — disse Carly. Ela se virou para
mim com um olhar impotente em seus olhos. — O que nós
fazemos? — ela sussurrou.

— Não sei. — Cocei a cabeça e murmurei: — Eu não sei, porra.

Segurando seu braço, eu o levei de volta para dentro de seu


quarto. — Scottie, você fica aqui, ok? — Eu não poderia nem dizer
que estaríamos de volta... porque isso não era verdade. — É aqui
que você vai morar agora.

Por algum milagre, quando saímos pela segunda vez, ele não
nos seguiu. Mas eu não conseguia olhar para trás, temendo que
essa fosse uma daquelas raras vezes em que ele me olharia nos
olhos. Isso tornaria impossível ir embora.

Ao sairmos pela porta principal, Carly e eu nos despedimos da


equipe, que nos garantiu que Scottie estava em boas mãos.

Quando saímos, Carly desabou. Eu a peguei em meus braços e


falei em seu cabelo. — Vai ficar tudo bem, Pumpkin. Ambos
sabemos que isso é o melhor para ele a longo prazo, mesmo que
seja difícil hoje.

— Eu não acho que ele entendeu – que não vamos voltar para
levá-lo para casa nunca mais.

Mesmo que isso estivesse me matando por dentro, eu precisava


ser forte por ela. — Eventualmente não importará tanto. Ele vai
começar a olhar para este lugar como sua casa. Só vai levar algum
tempo.

— Espero que fique mais fácil para mim também — ela fungou.
— Porque agora isso parece insuportável.
— Vamos pegar um pouco de sorvete de pistache e vinho a
caminho de casa. Devemos tentar relaxar. Nós dois temos que
acordar cedo amanhã.

Havia algo que eu ainda não havia dito a ela. Eu mal podia
esperar, para ser honesto. Eu sabia que não iria melhorar tanto o
humor dela, mas esperava que ajudasse. Eu só queria esperar até
que estivéssemos de volta em casa.

●●●

Quando abrimos a porta da frente de casa, o silêncio era


ensurdecedor. Nenhum som do iPad de Scottie ou seu zumbido ou
Elton John sendo tocado ao contrário. Era a primeira vez que
experimentávamos esse tipo de silêncio. Eu desejei um momento
de paz e sossego tantas vezes enquanto cuidava dele, e agora era
a última coisa que queria. Eu teria dado qualquer coisa para olhar
e ver meu cara lá no sofá com seu dispositivo em seu ouvido
enquanto ele se balançava para frente e para trás, o cheiro de seu
frango frito esquentando no forno.

Carly foi até o quarto dele. Muito ainda ficou para trás.

— Eu não acho que Lorraine vai conseguir limpar este lugar


para prepará-lo para venda.

— Ela não vai precisar — eu disse, endireitando minha postura,


tão empolgada para deixá-lo sair.

Carly piscou confusa. — Você está voltando para ajudar?


— Não, Carly. — Eu dei alguns passos em direção a ela. — Esta
casa... não vai ser abandonada.

Seus olhos se arregalaram. — O que você quer dizer?

— Eu a comprei — falei, explodindo de orgulho.

Sua expressão se encheu de esperança. — O quê?

— Comprei de Lorraine.

Carly colocou a mão no coração. — Você está se mudando para


cá?

— Não. Quero dizer, não sei se algum dia viverei nela


permanentemente. Mas eu a estou mantendo. Penso em voar para
casa nas férias, pegar Scottie e trazê-lo aqui para uma visita, para
ele saber que as coisas nem sempre desaparecem em definitivo. Às
vezes, elas voltam.

Seus olhos estavam lacrimejantes, sua voz quase inaudível. —


Oh, Josh... — Carly pulou em meus braços. — Esta é a melhor
notícia de todas.

Meu pau ganhou vida ao sentir seus seios pressionados contra


mim. Dei uma cheirada em seu cabelo e desejei que meu pau se
acalmasse.

— Também não pretendo mudar nada — eu disse, forçando-me


a recuar. — Então não há necessidade de passar a última noite em
que estamos aqui limpando tudo. Podemos deixar como está e
apenas relaxar.

Ela enxugou os olhos. — Não acredito que você fez isso. — Ela
sorriu. — Não me sinto mais tão triste por deixá-lo, sabendo que
esta ainda será sua casa.
— Ótimo. Porque não quero que você se sinta culpada, Carly.
Você foi além do que qualquer outra pessoa em seu lugar teria
feito. Você deixou Brad orgulhoso. E você merece toda a felicidade
do mundo.

— Você também, Josh. — Ela fungou, limpando o nariz com a


manga. — Estou falando sério.

Se eu tivesse um desejo, teria sido que eu pudesse fazer amor


com esta mulher esta noite sem desfazer qualquer progresso que
fizemos desde que paramos. Mas fazer um movimento quando
estávamos saindo amanhã parecia a decisão mais idiota de todas.
Então, evitei me inclinar para todas as coisas que meu corpo me
pedia.

Em vez disso, assistimos a alguns dos DVDs de Wayne,


tomamos sorvete e refletimos sobre nosso tempo com Scottie.
Levou tudo em mim para não estragar minha determinação, mas
de alguma forma consegui passar a noite sem estragar tudo.

●●●

Na manhã seguinte, Carly preparou o café da manhã para nós,


mas eu estava com pouco apetite. Quando trocamos endereços, o
fato de estarmos nos separando começou a parecer muito real. Eu
temia voltar para minha vida em Chicago, que parecia tão vazia
depois dos últimos meses aqui.

O plano era que Carly me deixasse no aeroporto e continuasse


sua longa viagem de volta à Califórnia.
A luta da noite passada continuou esta manhã. A cada segundo
eu tinha que me conter para não a puxar para perto, arrastá-la
para o quarto uma última vez e mostrar a ela o quanto eu ainda a
queria – um adeus adequado. Eu nunca quis tanto Carly. Mas se
ontem à noite foi um momento ruim para perder o controle, esta
manhã teria sido ainda pior. Agora tinha um voo para pegar e não
havia como voltar atrás. Ela merecia voltar à sua vida sem que eu
complicasse tudo na última hora. Carly merecia muito mais do que
ser enganada por mim. Eu só queria que meu coração não
estivesse doendo com o conhecimento de que tudo o que tínhamos
estava terminando oficialmente quando ela me deixasse no
aeroporto.

A viagem até o aeroporto de Manchester durou mais de uma


hora, mas de alguma forma pareceu levar alguns minutos.
Durante quase toda a viagem, pensei em mudar de ideia e me
oferecer para acompanhá-la na viagem para a Califórnia. A ideia
de ela viajar tão longe sozinha não me agradava. Eu estava
preocupado com ela, tentado a mudar meu voo e voar de Los
Angeles para Chicago.

Mas eu não seria capaz de confiar em mim mesmo; uma


mudança de planos seria apenas uma desculpa para passar mais
tempo com ela e correr o risco de ceder à tentação.

Carly estacionou o carro na área de desembarque do aeroporto.


Tudo em mim queria se inclinar e beijá-la, mas em vez disso
estendi a mão e enfiei meus dedos em seu cabelo.

— Por favor, tenha cuidado ao dirigir — falei.

— Eu vou.
A tristeza em seus olhos era palpável. Ela parecia exatamente
como eu me sentia. Nenhum de nós parecia querer ir embora, mas
aqui estávamos nós, prestes a nos despedir.

— Josh... — ela finalmente disse.

Incapaz de evitar, levei a mão dela à minha boca e a beijei


delicadamente. — Sim, baby?

— Você acha que seria demais para você se eu também voltasse


para Woodsboro no próximo Natal? Você sabe, para ver Scottie?

— Demais para mim, por quê?

— Não sei...

Eu me fiz de bobo, mas sabia o que ela queria dizer. Tudo


poderia acontecer em um ano. Ela e eu nos vendo novamente
significaria um constrangimento inevitável se um de nós tivesse
seguido em frente. Eu precisava ser maduro sobre isso, porque não
queria perder o contato com ela. Precisava saber que ela estava
feliz e precisava acreditar que a veria novamente, mesmo que isso
fosse doloroso.

— Claro, eu adoraria isso. Scottie também.

— Eu realmente gostaria de fazer isso acontecer — disse ela.

A possibilidade de vê-la novamente no próximo Natal me


apavorou e me deu algo pelo qual esperar ao mesmo tempo. Eu
estaria temendo ou contando todos os malditos dias até então. —
É melhor eu ir... — falei, forçando-me a soltar a mão dela.

Ela me seguiu para fora do carro e parou na minha frente no


meio-fio. — Tenha um voo seguro.
Quando a peguei em meus braços pela última vez, percebi o
quanto estava mentindo para mim mesmo. Não só meu coração
ganhou vida, mas todos os sentimentos que eu estava abrigando
vieram à tona. Meu coração não tinha recebido a mensagem de que
tudo o que tínhamos acabou. Ainda estava no meio de se apaixonar
por alguém que nunca poderia ter. Envolvi minhas mãos em seu
rosto e dei-lhe um beijo firme, mas casto, não permitindo que
minha língua o saboreasse nem por um segundo.

Carly foi a primeira a recuar. Observei enquanto ela voltava


para o banco do motorista de seu carro. Acenei e mandei um beijo
para ela. Então me forcei a me virar e passar pelas portas de vidro
deslizantes. Eu me virei uma última vez para encontrá-la ainda
esperando que eu desaparecesse de vista. Soprei outro beijo para
ela e jurei não olhar para trás novamente.

Mesmo com toda a tristeza em meu peito, enquanto caminhava


em direção à escada rolante para fazer o check-in, não me
arrependi. Eu não teria mudado nada sobre nosso período juntos
e o que aprendi sobre minha capacidade de abrir meu coração.
Pensava que estava morto por dentro, mas Carly Garber me trouxe
de volta à vida, e por isso eu sempre seria grato.
Capítulo 28

CARLY

SEMPRE carregava o último bilhete que Josh me deixou. De


vez em quando, eu enfiava a mão na bolsa e olhava de novo.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Obrigado pelos melhores três meses da minha vida.

P.S.: Provavelmente vou me arrepender de não ter cedido uma


última vez enquanto viver.

Josh enfiou esse pedaço de papel na minha bolsa algum


momento antes de deixarmos Woodsboro, um mês atrás. Mas eu
não o encontrei até voltar para a Califórnia e desfazer minhas
malas.

Eu tinha acabado de terminar minha última cliente de


maquiagem do dia e estava prestes a ir para casa quando peguei
meu telefone, rolei até o nome dele e digitei: Estou com saudade.

Mas, em vez de enviar, apaguei imediatamente. Eu digitei essas


três palavras muitas vezes para contar recentemente. E nenhuma
vez tive coragem de enviar a mensagem para ele. Por que qual era
o sentido de dizer isso? Não mudaria nada.
Quatro semanas se passaram desde que voltei para a
Califórnia. Voltar ao ritmo não foi fácil. Meu apartamento parecia
frio e estéril. Mesmo tendo a sorte de ter alguns trabalhos de
maquiagem agendados quando retornei, desejava que o trabalho
fosse mais uma distração. Simplesmente havia muito tempo para
pensar enquanto aplicava base e delineava os olhos, porque eu
sabia como aplicar maquiagem durante o sono. Meus
pensamentos constantemente se voltavam para Josh –
perguntando-me o que ele estava fazendo, se ele já tinha saído com
alguém. Eu sonhava acordada com a casa em Woodsboro,
imaginando-me sentada ao lado do fogão a lenha ao lado de Josh
e Scottie, apenas relaxando. E eu me perdia especialmente
relembrando nossos encontros sexuais.

Eu não sabia o que era pior, o fato de que eu não conseguia


parar de pensar em Josh, ou o fato de que costumava ser Brad
para quem minha mente vagava. Minha obsessão por Josh havia
tirado parte da atenção da tristeza de perder Brad. Não tinha
certeza se isso era uma bênção ou um pecado.

Assim que cheguei em casa do trabalho, estava me preparando


para fazer o jantar quando recebi uma mensagem.

Josh: Será que é possível ver um limão desses novamente


e não pensar em seus Lemon Pits?

Seguiu-se uma foto dele no supermercado em Chicago,


segurando um limão. Apenas a visão de sua mão grande
segurando o limão me deu arrepios. Olhei para seu polegar caloso.
Meu corpo sentia falta dele da pior maneira. Eu sentia falta dele da
pior maneira. O que éramos agora? Amigos?

Outra mensagem chegou.

Josh: Ok, talvez eu pense em você mesmo quando não


estou olhando para os limões. Espero que você esteja tendo
um bom dia. xo

Mais uma vez, digitei: Estou com saudade. Então apaguei,


digitando uma resposta menos emocional.

Carly: Estou. Longo dia de trabalho, mas feliz que acabou.

Eu queria contar muito mais a ele – que os sentimentos de


solidão e depressão tinham retornado com força total quando voltei
para a Califórnia. Que a última vez que fui feliz, estava com ele.

Josh: Sinto muito que você teve um longo dia.

Cerca de uma hora depois, um entregador bateu na porta do


meu apartamento. Eu sabia que não tinha pedido nada, mas ele
insistiu que era o endereço certo. Quando abri a sacola, havia uma
caixa de sorvete de pistache dentro. Não havia bilhete, mas não
era necessário.
●●●

No dia seguinte, o sol brilhante da Califórnia entrou pela janela


do meu apartamento. A pequena palmeira do lado de fora
balançava suavemente com a brisa.

— Oh, meu coração. Essa é a coisa mais doce que já ouvi. —


Christina suspirou.

Eu tinha acabado de contar a ela como Josh comprou a casa


dos Longo. Ela e eu não tivemos a chance de conversar desde que
voltei para Los Angeles, porque ela estava visitando a avó em
Portugal. Mas ela finalmente parou no meu apartamento para
tomar chá hoje para colocar o papo em dia.

— Como Scottie está se adaptando à sua nova casa?

— Lorraine diz que ele parece bem quando ela passa lá para
deixar a comida dele. Eu preciso visitá-lo eventualmente. Prometi
que faria. Não quero nem saber se ele me entendeu. Só preciso vê-
lo novamente por mim mesma, para saber que ele está bem. Então,
estou pensando que talvez no próximo Natal.

— Você precisa ver Scottie... não Josh? — Ela me olhou com


ceticismo.

Olhei para minha xícara de chá. — Eu também quero vê-lo


novamente. Só tenho dificuldade em imaginar como será daqui a
um ano.

Ela cruzou as pernas enquanto se acomodava no meu sofá. —


Você acha que vai ser estranho – tipo, se um de vocês seguir em
frente?
— Claro. Eu não gostaria de ficar na casa com ele se ele
estivesse com alguém.

Ela riu. — Eu posso ver como isso pode ser uma droga.

— Isso provavelmente seria o que eu mereço, no entanto.

Ela arqueou uma sobrancelha. — Você quer dizer por causa de


Brad?

Correndo meu dedo ao longo do lado do meu copo, dei de


ombros. — Eu nunca vou me sentir culpada por isso. A culpa não
foi suficiente para me parar – claramente.

Christina pegou um biscoito. — E se Brad orquestrou a coisa


toda? — Ela deu uma mordida. — Você já pensou nisso?

Eu semicerrei os olhos. — O que você quer dizer? Tipo, lá de


cima?

— Sim. — Ela falou com a boca cheia. — Como você sabe que
ele não tem nada a ver com você e Josh ficando juntos? Tudo é
possível.

— Por que Brad não teria me enviado ninguém no mundo além


de seu melhor amigo?

— Porque talvez ele soubesse que ninguém mais poderia


entender o que você passou como Josh. Não sei. — Ela deu outra
mordida. — Você não pode descartar isso.

— Ou, ele pode estar rolando em seu túmulo porque eu fiz sexo
desprotegido várias vezes com seu melhor amigo. Meu dinheiro
está nesse cenário.
— Falando nisso... — Ela tomou um gole. — Eu nunca
perguntei sobre o sexo. Você tem sido muito indiferente sobre isso.
Mas tenho certeza de que foi incrível.

Eu corei. — Foi.

— Como eu disse antes, basta olhar para aquele cara e você


percebe que ele sabe como foder. — Christina fez uma pausa, então
sorriu. — Ok, posso dizer que você não quer me dar detalhes.

— Você tem razão. Eu não quero. — Minhas bochechas


queimaram.

Também parei de admitir que tinha pensado em pouca coisa


além de Josh desde que voltei para cá. Ou que eu quase mandei
uma mensagem para ele dizendo que sentia sua falta mais de cem
vezes.

— Bem, você não pode se sentar e esperar até o próximo Natal


para transar. Você vai tentar seguir em frente agora que voltou,
certo? Começar a sair?

O pensamento disso fez meu estômago revirar. — Eu não tenho


escolha.

— Parece que você precisa de uma ajudinha.

Peguei um biscoito e dei uma mordida. — Acho que sim.

●●●

Christina levou a coisa toda de ‘ajudar’ um pouco a sério


demais.
Na noite de sexta-feira da semana seguinte, aceitei ir para uma
festa para a qual ela me convidou – algo para um cliente dela em
Newport Beach. Levei duas horas para chegar lá no trânsito. Eu
estava exausta depois de um longo dia, mas não podia continuar
a ficar sozinha no meu apartamento na maioria das noites.

Quando entrei no clube, ficou bem claro que aquilo era mais do
que apenas uma festa. Christina me apresentou a um cara com
quem ela aparentemente já tinha saído e – surpresa – ele tinha um
amigo que por acaso veio com ele para o evento.

Isso foi uma armação. Ela disse que ia me ajudar a voltar para
lá e, aparentemente, ela quis dizer isso.

Todd Marino era um corretor de imóveis charmoso e


carismático em Orange County. Embora ele fosse um pouco mais
velho do que eu geralmente namorava – provavelmente com quase
quarenta anos – era alto, bonito e cheirava muito bem. Ele parecia
muito interessado em ouvir sobre minha carreira como
maquiadora e o trabalho de caridade que em breve começaria
novamente para um abrigo local para sem-teto, oferecendo
serviços de maquiagem gratuitos para mulheres que queriam
voltar ao mercado de trabalho.

Todd era atencioso, bonito, bem-sucedido – todas as coisas que


você poderia desejar, certo? Mas, infelizmente, eu não estava
sentindo isso. E ter que ficar ‘ligada’ por minutos a fio era
exaustivo. Isso me fez perceber que ainda não estava pronta para
namorar ninguém.

Quando Christina e eu escapamos para o banheiro, ela me


provocou.
Passou a mão pelos cabelos longos, pretos e cacheados
enquanto se olhava no espelho. — Então... o que você acha dele?

— Primeiro de tudo, você não me disse nada sobre esta noite


ser um encontro duplo.

— Você teria vindo se eu tivesse?

— Provavelmente não.

— Aí está. — Ela riu.

— Ele é um grande cara. Eu simplesmente não me sinto pronta


para dar a ele a atenção que ele merece.

— Tradução: ainda não superei Josh.

Nem mesmo tentando negar, levantei minhas mãos. — O que


você quer que eu faça? Não posso evitar como me sinto...

Ela retocou os lábios e se virou para mim. — Sentir saudade de


um cara que deixou claro que você e ele não têm futuro juntos,
porque se sente culpado demais para fazer qualquer coisa além de
foder você, não é um bom uso do seu tempo, Carly.

Suas palavras foram duras. Elas literalmente machucaram


meu peito.

— Eu estou ciente disso. — Engoli. — Mas você sabe que os


sentimentos nem sempre são baseados na lógica.

Ela suspirou e balançou a cabeça. — Tudo bem... desculpe. É


um pouco cedo demais para um amor. Vou voltar para lá. Que tal
eu dizer aos caras que você não está se sentindo bem e precisa
voltar para casa?

— Você vai tirar sarro de mim por dias se eu fizer isso.


— Além de eu estar enchendo o saco, o que você quer fazer
agora?

— Eu gostaria de ir embora.

— Ok, menina. Então vá.

— Obrigada — eu disse, sentindo um alívio imenso.

Eu a abracei antes de sair do banheiro e sair por uma porta


lateral.

Mas acabei não indo direto para casa, afinal. Em vez disso, dei
uma longa caminhada por um píer próximo. À medida que o sol se
punha, havia tanta gente feliz a passear, preparando-se para
desfrutar de uma noite de sexta-feira nos seus barcos de festa.

Ouvindo o som das ondas quebrando, sentei-me em uma


grande pedra e peguei meu telefone. Mais uma vez, rolei até o nome
dele e digitei: Estou com saudade.

Mas desta vez, eu realmente enviei.


Capítulo 29

JOSH

Eu olhei ao redor do restaurante, em qualquer lugar menos


para ela. Não havia nada de errado com Sydney, e ela tinha a
distinção de ser a primeira mulher com quem saí desde que voltei
para Chicago. Eu me forcei a voltar ao aplicativo de namoro,
porque era a única maneira de ter uma chance de seguir em frente.
Com base na minha falta de interesse quase no instante em que
nos sentamos, porém, parecia que a decisão podia ter sido um
pouco prematura.

Sydney foi quem mais falou esta noite. Ela me contou que seu
divórcio foi finalizado recentemente e ela havia acabado de entrar
novamente na cena do namoro.

— Esta é a minha primeira vez, na verdade — explicou ela.

Ótimo. Primeira vez, e foi desperdiçada com um homem que não


estava a fim dela. Agora eu realmente me sentia mal pela pobre
mulher. — Não percebi isso. Você quer dizer como o primeiro
encontro desde seu marido?

— Sim.

— Você disse que era nova na cena de namoro. Na verdade, não


pensei que esse fosse seu primeiro encontro.

— Isso é. E sinto que ganhei o jackpot. — Ela piscou. — Você é


adorável.
— Bem, obrigado. — Eu girei minha bebida. — Esta é a minha
primeira vez em algum tempo também... desde que voltei.

— Voltou? — Ela inclinou a cabeça. — Onde você esteve?

— Fui para casa em Woodsboro, New Hampshire, para cuidar


de um problema de família.

— Oh. — Ela colocou o guardanapo no colo. — Está tudo bem


agora?

— Sim. — Eu levantei minha mão para pedir outra bebida. Até


a menção de Woodsboro me fez sentir como se fosse precisar. Uma
dor cresceu em meu peito enquanto esperava a garçonete entregar,
e essa dor só piorou com a próxima pergunta de Sydney.

— Quando foi seu último relacionamento, Josh?

Sem pensar bem, respondi: — Eu realmente não gosto de


relacionamentos. Não tenho namorada desde o colégio.

Uau. Essa foi a resposta enlatada que sempre esteve na ponta


da minha língua. Mas parecia errado dizer isso desta vez. Estava
errado. Sydney tinha se aberto comigo sobre seu divórcio e, em
troca, eu menti na cara dela. Carly e eu podíamos não ter sido
oficialmente ‘namorado e namorada’, mas identificar o que
tínhamos como algo menos do que um relacionamento era uma
mentira. Mesmo a palavra relacionamento não parecia forte o
suficiente. Foi uma verdadeira parceria, mesmo que por poucos
meses. E mesmo que tivesse acabado agora, não parecia natural
fingir que nunca aconteceu.

— Na verdade, isso não é verdade. — Balancei minha cabeça e


olhei para o meu copo vazio. — Desculpe.
Sydney piscou confusa. — Oh?

A garçonete colocou minha nova bebida na minha frente e


tomei um longo gole antes de bater o copo com mais força do que
pretendia. — Eu estava em um relacionamento recentemente. Em
New Hampshire. Acabou há cerca de um mês.

Seus olhos se estreitaram. — Por que você mentiu?

— Eu não tinha certeza se queria falar sobre isso. Desculpe.

Sydney assentiu com simpatia. — As feridas ainda estão


frescas, então.

Meu peito parecia apertado. — Você poderia dizer isso.

— Posso perguntar o que aconteceu?

— Foi uma decisão mútua. Como eu, ela estava em New


Hampshire apenas temporariamente. Vivemos em lados separados
do país. — Engoli.

Outra mentira. Essa não era a razão pela qual não estávamos
juntos. Eu teria ido a qualquer lugar por Carly, se as coisas fossem
mais simples.

— Na verdade... isso também não é inteiramente verdade. —


Tomei outro longo gole da minha bebida. — Admitir o que fiz é um
pouco difícil.

— Você não é um mentiroso muito bom, Josh. — Ela riu. —


Você confessa a verdade em segundos.

— Porra. Eu sei. — Esfreguei minhas têmporas. — Eu


realmente sinto muito, Sydney. Realmente sinto. Você não está
obtendo a melhor versão de mim esta noite, eu temo. Tenho estado
indisposto desde que voltei.

Ela sacudiu o cabelo ruivo, inclinando-se curiosamente. — O


que você fez de tão ruim?

Respirei fundo, preparando-me para o julgamento. — Carly


estava noiva do meu melhor amigo no mundo antes de ele morrer.
Brad morreu em um acidente de carro alguns anos atrás.

— Você foi morar com a noiva dele?

Um nó se formou em meu estômago. — Não é tão simples


assim. Não foi como se eu tivesse decidido ir atrás dela porque ele
não estava por perto. Na verdade, nunca gostei muito dela quando
eles estavam juntos. — Eu ri. — Você poderia até dizer que nos
odiávamos.

— Por que vocês não gostavam um do outro?

— Equívocos. Noções preconcebidas que não eram verdadeiras.


Decisões idiotas da minha parte. Faça sua escolha. Nós realmente
não conhecemos ninguém até passarmos um tempo com eles.

Ela inclinou a cabeça. — Então, como você acabou namorando-


a?

Nesse ponto, expliquei toda a situação com Scottie e tudo o que


havia acontecido naqueles poucos meses em Woodsboro.

— Então vocês eram apenas duas pessoas jogadas na mesma


situação ao mesmo tempo. Acho que posso ver como isso pode
acontecer.

Talvez tivesse sido assim que começou. Mas aqui estava eu,
longe de Carly agora e ainda pensando nela todos os dias, meu
corpo ainda ansiando por ela. Portanto, isso não era exatamente
situacional para mim. Meus sentimentos por ela tinham passado
para a minha vida cotidiana normal agora também. Acho que era
isso que acontecia quando alguém entrava no seu coração. Não
importava onde estivesse; ela estaria lá com você.

— Tenho certeza de que me apaixonei por ela. — Surpreso com


minha própria franqueza, parei para refletir sobre isso. — Tenho
certeza de que ainda estou.

— Então por que você está aqui comigo?

Nota F pelo meu desempenho neste encontro. — Não sei. — Eu


balancei minha cabeça. — Sinto muito.

— Eu também. — Ela deu um sorriso triste.

Então, a próxima coisa que eu sabia, Sydney tinha lágrimas


nos olhos.

— Merda. Por que você está chorando?

Ela pegou um guardanapo para enxugar os olhos. — Porque


ouvir você falar sobre ela me lembra de como ainda me sinto em
relação ao meu ex-marido. Saí com um homem lindo esta noite,
mas só consigo pensar em Ray.

Recostando-me na cadeira, cruzei os braços. — Bem, não


somos um time dos sonhos...

Notavelmente, uma vez que Sydney e eu decidimos que éramos


uma causa perdida, pudemos desfrutar de uma refeição juntos.
Toda a pressão da situação tinha evaporado.

Ela me contou mais sobre seu ex, e me lembrei de histórias de


Woodsboro. Eu até contei a ela sobre o incidente do frango com
peito de silicone. Ela gargalhou tanto que pensei que fosse mijar
na calça.

Quando terminamos de jantar, Sydney e eu nos desejamos


felicidades antes de nos separarmos. Eu duvidava que a veria
novamente, e estava tudo bem. Nosso encontro serviu a um
propósito; através um do outro, aprendemos coisas sobre nós esta
noite.

Fiquei na mesa para pagar depois que ela saiu, rolando no meu
telefone. Percebi que de alguma forma tinha perdido uma
mensagem de Carly.

Carly: Estou com saudade.

Esfreguei o polegar na tela, como se quisesse acariciar aquelas


palavras. Carly devia estar pensando em mim tão intensamente
quanto eu nela.

Josh: Desculpe por não ter visto isso. Mas como você sabia
que eu estava pensando em você esta noite?

Os pontinhos se moveram enquanto ela digitava.

Carly: Você pode falar?


Josh: Sim, dê-me alguns minutos. Estou em um restaurante
barulhento no momento.

Recém-motivado, paguei a conta e fui para o meu carro. Assim


que liguei o motor, disquei para Carly e coloquei no viva-voz.

— Ei — falei.

— Eu interrompi sua noite? — ela perguntou.

— Não havia nada para interromper.

— Você estava sozinho quando me mandou uma mensagem?

— Eu estava.

— Você foi a um restaurante sozinho?

— Bem, eu me encontrei com uma mulher lá antes.

Depois de uma breve pausa, ela murmurou: — Oh.

— Podemos falar sobre esse tipo de coisa? — perguntei.

— Eu realmente não quero, mas também não quero que você


minta para mim. Então sim. Diga-me. — Ela soltou um longo
suspiro no telefone.

— Foi a primeira vez que tentei encontrar alguém desde que


voltei. E foi uma falha épica. Eu não estava sentindo isso.

— O que estava errado?

Ela não era você, eu queria dizer. — Apenas sem química. E


não me sinto pronto para o namoro, para ser honesto.

— Eu tenho uma confissão... — Carly disse. — Acabei de chegar


em casa de uma espécie de emboscada que Christina arranjou.
O ciúme imediatamente se instalou, mas tentei não
demonstrar. — Christina? A garota do vibrador?

— Sim. — Ela riu.

— Como foi?

— Bem, considerando que saí mais cedo e inventei uma história


de que não estava me sentindo bem... nada bom.

— Uau, olhe para nós, hein?

— Sim. — Ela suspirou.

— Para que conste, eu também sinto sua falta, Carly.

Após uma breve pausa, ela disse: — É tão bom ouvir sua voz.
Isso é realmente tudo que eu queria.

Conversamos por vários minutos enquanto eu estacionava em


meu apartamento.

Quando entrei em minha casa, ela disse: — Parece que você


não está mais dirigindo.

— Acabei de chegar em casa. — Joguei minhas chaves na mesa.

— Você precisa ir?

— Não. Vamos ficar no telefone, a menos que você tenha outro


lugar para estar?

— Eu não — disse ela.

Continuamos conversando enquanto eu tirava minhas roupas


e subia na cama, desejando desesperadamente que ela estivesse
aqui comigo.

— Fui visitar meu pai no Arizona — Carly me disse.


Endireitei-me contra a minha cabeceira. — Quando?

— Fim de semana passado.

— Você não o via há anos, certo?

— Pelo menos sete anos, sim.

— O que fez você fazer isso?

— Acho que quando vi seu pai na época do Natal, senti falta do


meu, ou pelo menos da ideia dele. Decidi que talvez me
arrependesse se não tentasse fazer as pazes com ele.

— Como foi?

— Ele ficou muito feliz em me ver. Ele disse que sentia que eu
o odiava e que isso o impedia de entrar em contato comigo, disse
que não queria me aborrecer. Sei que, de certa forma, isso é
besteira, pois quem ama seu filho, não importa o que aconteça,
entra em contato com ele. Mas percebi, durante a viagem, que ele
tem uma certa imaturidade que afeta a maneira como ele lida com
as coisas. Não acho que ele seja uma pessoa ruim, nem acho que
tenha a intenção de me machucar. Mas também acho que ele não
me ama como eu gostaria que amasse.

Partiu meu coração ouvi-la dizer isso.

— Tenho certeza de que perdi o único homem que realmente


me amou quando Brad morreu.

Não, você não perdeu, eu queria gritar. Mas sabia que não
haveria como voltar atrás se eu o fizesse. Mais do que isso, eu não
iria ofuscar uma declaração sobre o amor genuíno de Brad por ela,
desencadeando uma revelação inadequada de minha autoria, com
um timing impecável. Também não queria dar a ela falsas
esperanças quando deveríamos ter terminado as coisas.

Fechei os olhos, depois os abri, transmitindo apenas uma


fração do que realmente queria dizer. — O melhor ainda está por
vir para você, Carly. Eu só sei disso. Por favor, não desista da ideia
de amor. Sempre há esperança, enquanto estivermos vivos. Não
deixe seu pai de merda afetar sua visão da vida.

— Acho que você deveria seguir seus próprios conselhos, Josh.

De muitas maneiras, com Carly, parecia que eu havia


encontrado a versão feminina de mim mesmo. O que era irônico,
considerando o quanto não gostávamos um do outro em um ponto.

— Nós temos muito em comum — eu disse a ela. — Mais do


que apenas Brad. Nunca consegui conciliar como minha mãe pôde
simplesmente ir embora. E isso afetou meu senso de autoestima.
Entendo por que seu pai faz você se sentir assim, mas não
podemos definir nosso valor pelas más ações ou decisões de
pessoas que provavelmente precisam de ajuda mental. Estou
tentando me fazer acreditar nisso. E ouvir você falar, sabendo o
quão forte eu sinto que você foi levada a acreditar em certas coisas
por causa das ações de seu pai, faz com que entenda que posso
estar errado sobre mim mesmo. Também levei as ações de minha
mãe para o lado pessoal. É esclarecedor ver sua situação de fora.

— Bem, estou feliz que minha merda pode ajudar você, Josh.

— Nós dois estamos um pouco fodidos, Pumpkin. Mas está


tudo bem.

— Posso confessar mais uma coisa esta noite? — ela disse.


— Claro.

— Sinto falta de fazer sexo com você.

Apertando meus músculos, eu sibilei. — Fizemos isso muito


bem, não é?

— Eu sei que está feito. Mas... eu penso muito sobre isso — ela
admitiu. — Foi o melhor sexo da minha vida.

Uau.

Essa era uma proclamação.

Melhor que Brad?

Evitei esse pensamento porque era doentio.

— Foi diferente com você — acrescentou ela. — Talvez melhor


não seja a palavra certa ou justa para dizer..., mas experimentei
coisas com você que eu não tinha antes. Foi isso que eu quis dizer.
— Ela hesitou. — Eu não comparo você a ele. Você sabe disso,
certo? O que quer que você e eu tenhamos é totalmente separado.

Ela atingiu um ponto fraco – a ideia de que não importava o


quanto eu sentisse por ela, eu nunca poderia estar à altura dele,
que eu sempre só a teria por que ele não estava mais aqui. E se de
alguma forma ele voltasse milagrosamente, ela o escolheria.

Parecia a coisa mais egoísta do mundo me comparar a alguém


que não tinha mais o privilégio da vida. Então forcei esses
pensamentos para fora da minha mente. Ao mesmo tempo, não
queria aceitar a satisfação de saber que aparentemente a levei a
lugares sexuais que ninguém tinha antes. Que tipo de pessoa isso
faria de mim, orgulhando-me de uma coisa dessas?
Carly e eu ficamos ao telefone até sentir que ela estava
cochilando. Essa noite, imaginei que finalmente poderia sair com
alguém novamente. No fim das contas, o encontro que tive foi o
único que eu realmente queria.
Capítulo 30

CARLY

Começou como um dia normal de trabalho. Eu estava em um


set de filmagem feito para a TV, preparando-me para atender um
cliente às 6 da manhã, quando notei um número de New
Hampshire ligando para o meu telefone.

Isso era estranho.

Eu imediatamente atendi. — Alô?

— Carly, é Lorraine. Eu não sei o que fazer. Estou


enlouquecendo.

— O que aconteceu?

— Acabei de receber uma ligação do lar coletivo. Scottie


escapou esta manhã. Ele está desaparecido.

Meu coração caiu. — O quê!?

Sua voz tremeu. — Havia um novo funcionário, eu acho,


trabalhando na casa, e eles não trancaram a porta dos fundos.

A sala parecia estar girando. — Isso acabou de acontecer?

— Eles me ligaram há dez minutos. A polícia já está no local.


Estou dirigindo para lá agora. Eu apenas senti que precisava
deixar você saber.

Meu coração estava indo a mil por hora. — Josh sabe?


— Ainda não. Eu liguei para você primeiro.

— Ok. Vou ligar para ele agora mesmo. — Comecei a arrumar


minhas coisas o mais rápido possível. — Lorraine, tudo vai ficar
bem. Eles vão encontrá-lo. — Jogando vários tubos sem pensar em
minha bolsa e falei: — Estou embarcando no próximo voo para aí.

— Obrigada, Carly. Estou tremendo agora. Não sei o que pensar


ou esperar.

Fechei meu grande baú de maquiagem. — Por favor, ligue de


volta se alguma coisa mudar.

— Eu vou.

Eu me virei para a minha cliente. — Sinto muito. Tive uma


emergência familiar. Tenho que pegar um avião para a Nova
Inglaterra.

Seus olhos se arregalaram e ela assentiu. — Oh, não.


Encontraremos alguém para cobrir você. Sem problemas.

Enquanto corria para fora do prédio, disquei para Josh. Nós


não nos falávamos desde nosso longo telefonema uma semana
atrás, e eu odiava que isso fosse devastá-lo.

— Carly? Tudo certo? — ele perguntou enquanto atendia.

— Ah, Josh... — Comecei a chorar.

— Carly, o que há de errado? Você está chorando?

— Lorraine acabou de ligar. — Eu funguei. — Scottie fugiu do


lar coletivo. A polícia está procurando por ele.

— O quê? — ele gritou. — Oh, meu Deus. Como diabos isso


aconteceu? Aquele lugar era como Fort Knox.
— Um novo membro da equipe se esqueceu de trancar uma
porta dos fundos e, aparentemente, isso foi tudo o que precisou.

— Porra. Vou embarcar no próximo voo.

— Eu também. Estou no meu carro agora indo para o


aeroporto. Vou ligar para reservar o próximo voo assim que
desligarmos.

— Carly... — Sua respiração era errática. — Eu nunca vou me


perdoar se alguma coisa acontecer com ele.

— Não pense nisso, Josh. — Liguei meu carro e corri pela


estrada. — Não podemos pensar.

●●●

Graças a Deus, depois que cheguei em New Hampshire,


consegui um carro alugado rapidamente. Outra bênção? Quase
não havia tráfego entre Manchester e Woodsboro.

Quando cheguei na casa de Wayne, usei minha chave para


abrir a porta.

Lorraine estava parada no meio da sala, parecendo perdida.

— Alguma coisa? — eu implorei.

— Não. Estou com tanto medo. — Ela correu e jogou os braços


em volta de mim.

Eu me afastei. — Josh já chegou aqui?

— Sim — ela assentiu. — Ele já saiu com a equipe de busca.


— Ok. — Eu respirei fundo. — Vou usar o banheiro e depois
me encontrar com ele.

Com a mesma rapidez com que entrei em casa, estava de novo


no carro, voltando para a estrada. Embora eu não devesse estar
usando meu telefone e dirigindo, mandei uma mensagem de voz
para Josh para descobrir sua localização exata.

Quando cheguei a uma rua perto do quarteirão da casa


coletiva, eu o vi parado na esquina. Depois de encontrar a vaga de
estacionamento mais próxima, corri para fora do carro.

Os olhos de Josh pareciam fundos, mas selvagens ao mesmo


tempo. Ele estava completamente perturbado e ainda não tinha me
notado.

— Josh — chamei para chamar sua atenção.

Ele se virou, a dor em seus olhos diminuindo ligeiramente. —


Ei.

Caímos nos braços um do outro por um momento.

Quando ele me soltou, falou: — A polícia me disse para não me


envolver, mas de jeito nenhum vou ficar sentado sem fazer nada
enquanto ele está por aí em algum lugar. Eu tenho procurado a
área a pé, mas acho que devemos dirigir agora.

— Vamos — eu insisti.

Entramos no carro alugado de Josh e dirigimos pela


vizinhança. Eu segurei sua mão o tempo todo, como se segurar ele
estivesse nos segurando juntos. Scottie tinha que estar bem. Mas
realmente, qualquer coisa poderia ter acontecido agora. Scottie
nunca havia atravessado a rua sozinho. Eu tive que empurrar os
pensamentos e se da minha mente.

Eu nunca tinha visto Josh assim, tão focado. Enquanto


dirigíamos lentamente em silêncio, ele se equilibrou prestando
atenção na estrada e vasculhando a área em busca de pistas.

Ele parou de repente. — Acho que devemos estacionar aqui e


caminhar um pouco.

— Devemos seguir direções diferentes?

Josh ponderou por um momento antes de assentir. — Isso


provavelmente é uma boa ideia. Melhor uso do tempo. — Ele
exalou. — Mas, por favor, tenha cuidado, Carly.

Ele foi esperto e pegou duas lanternas da casa, já que estava


escuro agora. Cada um de nós pegou uma e foi em direções
opostas, prometendo manter contato por mensagem.

Depois de uma hora procurando, a situação começou a ficar


sombria. Eu não me sentia totalmente segura vagando pelas
estradas rurais escuras sozinha, mas eu teria ficado aqui a noite
toda se isso significasse encontrar Scottie.

Mandei uma mensagem para Josh.

Carly: Alguma coisa?

Josh: Não. Posso levar você para passar a noite em casa,


mas vou ficar procurando.
Carly: Eu não quero voltar. Eu quero continuar procurando.

Josh: Ok. Encontre-me no carro?

Josh estava segurando uma sacola quando voltei para o carro.

— Comprei água e lanches — disse ele, entregando-a para mim.


Ele encostou-se ao carro com a cabeça entre as mãos. — Você reza,
Carly?

— Não o suficiente, mas com certeza tenho rezado hoje –


baixinho, quase constantemente.

Ele se virou para mim, seus olhos vermelhos. — Se ele levou


um dispositivo com ele, a bateria já deve estar acabando. — Ele
balançou sua cabeça. — Que porra é essa? Não era para ser assim
que as coisas aconteceriam. Nunca vou me perdoar se algo
acontecer com ele.

— Eu sei — murmurei, esfregando suas costas. — Não podemos


perdê-lo.

Depois de algumas lágrimas e um rápido momento de histeria,


conseguimos nos recompor novamente. Continuamos
vasculhando as ruas a pé com nossas lanternas até o amanhecer.
Meus olhos estavam tão pesados, e Josh tinha olheiras. Devíamos
parecer zumbis.

Como conhecíamos Scottie melhor do que ninguém, os policiais


nos pediram para encontrá-los na casa de Wayne esta manhã. Eles
tinham uma lista de perguntas que queriam fazer.
Um oficial estava esperando por nós na casa quando chegamos.
Nós o convidamos a entrar e colocamos nossos telefones para
carregar antes de nos sentarmos com ele.

— Acho que você não dormiu ontem à noite? — ele disse a Josh.

— Não, senhor.

— Bem, quero garantir que ainda temos uma equipe completa


procurando pelo Sr. Longo. Mas esperávamos obter de você
alguma informação que pudesse nos ajudar.

Passamos a meia hora seguinte contando a eles tudo sobre as


coisas favoritas de Scottie – seu frango, seus aplicativos, sua
música ao contrário de Elton John. Eu não tinha certeza de como
isso iria ajudá-los a encontrá-lo, especialmente porque ele não
teria nenhuma dessas coisas neste momento. O pensamento de
pelo menos um policial aqui na casa e não lá fora procurando por
ele me deixou desconfortável.

Depois que o policial saiu, puxei a jaqueta de Josh. — Vamos


voltar para rua.

— Tem certeza de que não precisa dormir?

— Sim. Eu só preciso fazer xixi.

Rapidamente usamos o banheiro e voltamos para o carro, desta


vez indo para outra área a alguns quilômetros do bairro onde ficava
a casa coletiva. Nenhuma razão específica, mas precisávamos
diversificar.

Assim que estacionamos, Josh e eu novamente nos separamos


e seguimos em direções diferentes. Orei silenciosamente a cada
passo do caminho, sentindo como se estivesse desejando um
milagre. Quanto mais tempo passasse, menor a probabilidade de
encontrarmos Scottie ileso.

Cada um de nós caminhou quilômetros, distribuindo panfletos


que as autoridades haviam feito com o rosto de Scottie neles. Deus,
ele se parecia com Brad naquela foto. No final, porém, acabou
sendo outro longo dia sem pistas.

Quando a escuridão caiu novamente, eu me senti


desmoronando e percebi que Josh estava chegando ao mesmo
ponto. A essa altura, todos os cantos de Woodsboro haviam sido
examinados. Josh e eu não tínhamos comido, exceto pelos
salgadinhos que ele comprou em uma loja de conveniência na noite
anterior. Mesmo que nenhum de nós sentisse fome agora, eu sabia
que precisaríamos do sustento para outra noite de busca. E em
algum momento, eu sabia que meu corpo iria desligar.

Decidimos parar em casa para usar o banheiro e comer um


pouco de fast food que compramos no caminho. Fiz o melhor que
pude para encontrar algo viável. Minha dieta sem glúten não
importava em tempos como este.

Lorraine ligou para nos dizer que havia saído da casa de Wayne
para tomar banho em sua casa e dormir algumas horas, então a
casa estava vazia quando voltamos. As coisas estavam tão quietas
que era quase assustador quando Josh e eu nos sentamos um de
frente para o outro na mesa da cozinha e devoramos nossa comida.
Em um ponto, nossos olhos se encontraram. A expressão de Josh
era tão desesperada quanto imaginava que a minha fosse agora.

Tentei falar algumas vezes, mas nada saiu. Eu gostaria de


poder dizer a Josh que tudo ficaria bem, mas eu não diria isso a
menos que acreditasse em meu coração. A ideia de receber um
telefonema me apavorava, embora também estivesse desesperada
por notícias. Meus nervos dispararam enquanto eu me preparava
para o pior. Precisava estar preparada, apenas no caso.

Quando estávamos prestes a sair novamente, o celular de Josh


tocou. Nós demos o número dele para a polícia, e meu coração
afundou mais do que eu imaginava.
Capítulo 31

CARLY

— Alô? — a mão de Josh tremeu quando ele levou o telefone ao


ouvido.

Seu peito subia e descia enquanto seus olhos se moviam de um


lado para o outro.

Tinha novidades. Eu só não sabia o quê. Meu coração batia


como um louco. Ele continuou balançando a cabeça, e de repente
seus lábios começaram a tremer.

Ele olhou para mim. — Ele está vivo. Eles o encontraram. Ele
está vivo! Ele está bem.

Ele estava bem.

Ele estava bem.

Oh, meu Deus! Ele estava bem!

Comecei a chorar, uma enorme quantidade de ar escapando de


mim. Meu corpo parecia que o oxigênio havia acabado de ser
devolvido a ele. Eu tinha sido uma casca ambulante de mim
mesma desde que cheguei aqui, e estava viva novamente.

Josh passou a mão pelo cabelo enquanto andava. — Onde ele


está? Podemos ir até ele? — Ele continuou balançando a cabeça e
se virou para mim e sussurrou: — Eles estão trazendo-o aqui. —
Ele acenou com a cabeça um pouco mais. — Ok. Ok. Obrigado,
oficial. Muito obrigado.

Depois de desligar, Josh jogou o telefone e caiu de joelhos. Ele


segurou a cabeça entre as mãos e chorou. Fui até ele e me ajoelhei,
juntando-me a ele no chão. Nós nos agarramos um ao outro
enquanto ambos chorávamos lágrimas de alegria. Lágrimas de
amor.

Depois de vários minutos, funguei e perguntei: — Onde eles o


encontraram?

Os olhos de Josh brilharam. — Um cara chamou a polícia


porque pensou que havia um urso dentro do clubinho de seus
filhos preso ao balanço. Graças a Deus ele não atirou. Quando
chegaram lá, não era um urso. Era Scottie. — Josh enxugou os
olhos. — Ele se escondeu dentro do clubinho por Deus sabe quanto
tempo. Isso é tudo que eu sei. Eles disseram que os paramédicos
estão examinando-o antes de trazê-lo para casa, mas ele parecia
bem, como se talvez tivesse conseguido comida e água de alguma
forma, porque não parecia desidratado.

Depois que ligamos para Lorraine para lhe contar a


maravilhosa notícia, Josh e eu mal conseguíamos ficar parados
enquanto esperávamos o carro aparecer. Quando finalmente
aconteceu, corremos para encontrá-los do lado de fora.

Um oficial abriu o banco traseiro e conduziu Scottie para fora.


Seu cabelo loiro estava desgrenhado e ele tinha um pouco de
sujeira em sua camisa, mas fora isso, ele parecia ótimo. Assim
como o nosso Scottie.
Josh colocou as mãos em volta do rosto de Scottie e beijou seu
rosto. — Você nos assustou pra caramba, amigo.

Esfreguei o braço de Scottie. — Estamos tão felizes que você


está bem.

Com olhos nebulosos, Scottie parecia um pouco desorientado,


provavelmente ainda em choque com a experiência de estar
perdido. Ele ainda estava com o iPad na mão, embora a tela
estivesse preta. Provavelmente morreu há muito tempo.

Ele olhou para mim e apontou para o seu dispositivo.

— Sim. Sim! — Estendi a mão, muito feliz em carregar algo para


ele. — Eu carrego para você. É o mínimo que posso fazer. — Corri
para dentro de casa para conectá-lo ao carregador do meu telefone.

Dois policiais nos acompanharam para dentro. Scottie ocupou


seu lugar no sofá e entreguei a ele meu telefone enquanto ele
esperava que seu tablet carregasse. Eu acessei seu site de
streaming favorito e, felizmente, isso pareceu funcionar no
momento.

— Onde exatamente era essa casa? — Josh perguntou a um


dos policiais.

— A pouco mais de um quilômetro do lar. É um milagre que ele


não tenha sido atropelado por um carro.

Olhei para o teto e pensei em Brad. Seu irmão estava cuidando


dele.

Josh olhou para Scottie. — O proprietário não tem ideia de


quanto tempo ele esteve lá?
— Não. O cara o notou há mais ou menos uma hora. Ele viu
uma sombra se movendo dentro do clubinho e presumiu que fosse
um animal, já que os tinha em seu quintal antes.

— Graças a Deus Scottie é uma criança de coração — eu disse.


— Ele provavelmente viu o balanço, e foi isso que o atraiu para
aquele quintal. Temos sorte de ele parar em um lugar seguro.

— Os paramédicos o examinaram no local. Iam levá-lo ao


pronto-socorro, mas seus sinais vitais estão bons e ele não parece
estar desidratado. Ele de alguma forma teve acesso a comida e
água. Suspeitamos que ele possa ter roubado algo de uma loja de
conveniência, porque eles preencheram um relatório sobre alguém
que corresponde à descrição do Sr. Longo. Eles relataram que um
homem entrou e descaradamente pegou uma garrafa de suco de
cranberry da geladeira e uma caixa de Oreos antes de sair. A
mulher mais velha do caixa tem uma perna ruim e não queria
correr atrás dele, e ela disse que o homem apenas olhou para ela
sem expressão quando ela gritou com ele. Isso está de acordo com
o que você relatou sobre o comportamento de Scottie. Mas esse
relatório chegou pouco antes de encontrá-lo, então não tínhamos
feito a conexão. De qualquer forma, isso pode explicar por que ele
está em boas condições. E demos a ele água e algumas barras de
granola, mas tenho certeza de que ele ainda está com fome.

— Scottie era um bandido em fuga. — Josh riu.

A porta se abriu e Lorraine entrou.

Ela avançou em direção a Scottie. — Você nos deixou muito


preocupados. — Scottie a ignorou, continuando a tocar no meu
telefone.
Depois de segurá-lo por alguns segundos, Lorraine se juntou a
nós onde estávamos com os policiais.

— Sou Lorraine Longo, tecnicamente a guardiã de Scottie —


disse ela, estendendo a mão. — Mas como você provavelmente
sabe, ele morou com Carly e Josh antes de se mudar para o lar
coletivo.

— Você está planejando levá-lo de volta para aquela residência?


— um dos policiais perguntou a ela.

Lorraine olhou para nós em busca de orientação.

— Não — Josh disse inflexivelmente. — Não tão cedo, pelo


menos. Mas ainda não decidimos sobre isso.

— Ok, bem, nós os informamos que o estávamos trazendo aqui,


porque foi isso que a Sra. Longo nos instruiu a fazer no caso de ele
ser encontrado. Você terá que entrar em contato com o lar e
informá-los sobre seus planos.

— Vou ligar, policial — disse Josh. — Não posso agradecer o


suficiente por trazê-lo para casa em segurança.

O oficial assentiu. — É isso que fazemos, filho. O prazer é


nosso.

Os policiais se viraram para sair pela porta e Scottie pulou do


sofá. Ele se aproximou de Josh e começou a se despir. Sua calça
estava na metade da perna quando Josh o parou.

— Ele sempre faz isso? — Um dos policiais riu.

— Ele quer tomar banho — tentei explicar. — Ele não é muito


sutil.
— Ok, vamos deixar vocês continuarem com sua noite — disse
ele, parecendo desconfortável.

Depois que a porta se fechou, Josh tirou a camisa e a jogou. —


Eu nunca estive tão feliz em ficar nu na minha vida. — Ele riu. —
Vamos, Scottie! Vamos tomar banho!

— Festa de banho dos homens! — Eu ri.

Josh então percebeu que não havia trazido uma muda de


roupa, então ele foi até o antigo armário de Wayne e pegou algumas
coisas para ele e Scottie.

Depois que eles desapareceram no banheiro, pude ouvir a


música explodindo pela porta. Foi uma verdadeira festa lá dentro.
Todas as emoções dos últimos dias pareciam me atingir de uma
vez. Lorraine tinha ido para a cozinha preparar o frango de Scottie,
e eu me sentei no sofá e chorei em minhas mãos. Tivemos tanta
sorte hoje. Muita sorte.

Quando Josh e Scottie saíram, os dois estavam com o cabelo


molhado e usavam as roupas de Wayne, que eram muito justas.

Josh balançou meus ombros de brincadeira. — Sem ofensa,


mas limões não vão resolver depois de 48 horas, Pumpkin. Acho
que você precisa tomar banho agora.

— Obrigada pelo conselho. E concordo. Você está certo desta


vez. Deixe-me ir ver se consigo encontrar algo para vestir também.

Entrei no quarto de Wayne em busca de qualquer coisa que


pudesse usar. Quando verifiquei as gavetas, não pude acreditar na
minha sorte. Eu aparentemente deixei para trás uma única tanga
da última vez que estive aqui. Peguei uma das camisas xadrez
verdes de Wayne e um short de cordão, então ficaria bem até ter a
chance de ir à loja amanhã ou lavar a roupa com a qual cheguei.

Um banho quente nunca foi tão bom. Enquanto a água caía


sobre mim, falei com Deus, agradecendo formalmente a Ele ou Ela
por trazer Scottie de volta em segurança hoje. Então, falei com
Brad e Wayne e prometi a eles que faria tudo o que pudesse para
garantir que isso nunca acontecesse novamente. Apesar de todas
as emoções, foi provavelmente o melhor banho da minha vida, não
apenas pelo nível de gratidão que guardava em meu coração, mas
porque não conseguia me lembrar de passar dois dias sem tomar
um.

Quando saí, Lorraine estava na cozinha. Scottie já estava na


mesa comendo seu frango.

Ela olhou para mim. — Oh, você parece interessante.

Olhei para minha camisa xadrez. — Acho que você quer dizer
ridícula. — Eu ri. — Como você fez esse frango tão rápido?

— Eu tenho feito muito, congelado e levado para a casa coletiva


em lotes. Eu ainda tinha alguns no meu freezer, então trouxe
comigo. Achei que ele estaria morrendo de fome.

Foi o mais rápido que eu já vi Scottie devorar sua comida. E


nunca estive tão feliz em testemunhar alguém comendo em minha
vida.

— Onde está Josh? — perguntei.

— Ele foi buscar algumas coisas de Scottie no lar coletivo e na


loja para comprar algumas roupas sobressalentes e outras coisas
que você e ele possam precisar.
Assim que Scottie terminou seu jantar, Josh voltou e Lorraine
foi para sua casa.

Éramos só nós três novamente, como se o tempo não tivesse


passado.

Josh não apenas pegou a maioria dos pertences de Scottie, mas


também conseguiu comida para nós e algumas coisas do Walmart.

— O que você comprou no Walmart? — perguntei.

— Comprei algumas peças de roupa para mim. Achei que você


poderia querer escolher suas próprias coisas amanhã, mas
comprei algumas roupas íntimas sobressalentes, um pijama para
esta noite e uma roupa que não vai fazer você parecer Howdy
Doody.

Olhei para a camisa xadrez de Wayne novamente e ri. — O que


você está tentando dizer?

Ele piscou. — Eu também trouxe alguns limões, um pouco de


café e outras coisas para o café da manhã. Você sabe, o essencial.

— Como você sabe o tamanho da minha calcinha?

— Havia uma mulher que parecia ser do seu tamanho, então


perguntei a ela que tamanho de calcinha ela usava. Ela pensou
que eu era um pervertido.

— Mesmo?

— Não. — Ele riu.

— Eu ia dizer que aquela mulher provavelmente ficou animada


porque um cara parecido com você estava interessado em sua
calcinha.
— Abri um dos pacotes e fiz o meu melhor palpite. Mas também
acariciei sua calcinha no passado, então meio que sabia seu
tamanho.

Balancei a cabeça e ri.

Nós levamos nossa comida para a sala para que pudéssemos


nos sentar ao lado de Scottie, nenhum de nós querendo sair do
lado dele por muito tempo.

— Qual é o plano? — perguntei depois que terminamos de


comer.

Josh se virou para mim. — Não faço ideia, Pumpkin. — Ele


sorriu. — Que tal dormir? Isso soa como um bom plano para
iniciantes.

Eu bocejei. — Definitivamente mal posso esperar por isso.

— Eu sei que não é isso que você estava perguntando, no


entanto. Esperançosamente, terei uma ideia melhor do que fazer
sobre Scottie e a situação de vida assim que tiver a cabeça limpa
novamente. Mas isso não será até amanhã, no mínimo.

Era tarde. Depois que Josh levou Scottie para seu quarto para
colocá-lo na cama, fui para o quarto de Wayne, esperando que
Josh não tentasse dormir no sofá. Eu estava hesitante em trazer à
tona o assunto de onde ele estaria dormindo, porque o assunto
parecia banal em comparação com tudo o que tínhamos passado
hoje. Decidi deixar as coisas acontecerem por conta própria.

Abri a sacola com as coisas que ele comprou para mim. Peguei
uma linda calça de moletom rosa e um casaco de moletom
combinando que meio que parecia ter vindo do departamento
júnior. Mas caberiam em mim. Ele também conseguiu um pacote
de seis calcinhas com corte de biquíni que realmente foi aberto.
Então meu queixo caiu quando tirei o pijama que ele mencionou.
Era um macacão adulto com pés!

Mas que diabos?

Ele apareceu na porta do quarto. — Você gosta do seu pijama?

— Que diabos?

— Vou dormir na cama com você esta noite — ele explicou. —


E mesmo que eu não esteja fazendo nada além de dormir agora,
quando eu me levantar de manhã, precisarei de toda a ajuda que
puder para manter minhas mãos longe de você.

Sentindo que não tinha nada a perder depois do inferno que


passamos, desabotoei minha camisa Howdy Doody e tirei as
roupas de Wayne bem na frente dele. Josh engoliu em seco quando
ele teve a visão fugaz dos meus seios nus e tanga. Ele manteve os
olhos em mim a cada segundo enquanto eu vestia o pijama,
fechando-o até o fim.

— Ok... — Ele soltou um suspiro trêmulo. — Isso foi cruel e


derrotou o propósito, você sabe.

— Nada que você não tenha visto antes, Mathers — eu


provoquei antes de subir na cama.

Alguns segundos depois, senti o calor dele nas minhas costas.


Josh passou os braços em volta de mim e me puxou para perto.
Quaisquer limites que estabelecemos na última vez que nos
separamos pareciam ter saído pela janela depois da experiência
dos últimos dois dias. Enquanto seu corpo envolvia o meu, fechei
os olhos e me permiti aproveitá-lo. Eu não tinha ideia do que o
amanhã traria, mas adormecer nos braços de Josh era tudo que
precisava esta noite.
Capítulo 32

CARLY

Na manhã seguinte, abri meus olhos para encontrar Josh


olhando para mim.

— Oi...

— Oi — disse ele com uma voz profunda e matinal.

— Você estava me olhando dormir?

Ele apoiou o queixo na mão. — Estava.

— Isso deveria ser uma coisa minha.

— Achei que deveria acordar antes de você – observá-la


assustadoramente antes que você pudesse acordar e me observar.
— Ele piscou.

— Você já ouviu Scottie? — perguntei.

— Não. Se tivesse, estaria lá fora e não apreciaria a vista daqui.

— Como você dormiu?

— Como uma pedra — disse ele. — Você?

— Como um bebê.

— Em um macacão. — Ele puxou meu pijama, enviando um


raio de eletricidade pelo meu lado.

— Exatamente. — Revirei os olhos.


Josh colocou a mão na minha cintura e apertou, seu toque
despertando os músculos entre as minhas pernas. Meus olhos
foram para seus lábios. Precisando desesperadamente tocá-lo,
estendi a mão e passei meus dedos por seu cabelo exuberante. Ele
fechou os olhos e gemeu. Fechei meus próprios olhos por um
momento e, antes que pudesse abri-los, senti o calor de seus lábios
nos meus.

Sim.

Sim.

Sim.

Eu imediatamente abri minha boca para ele enquanto nossas


línguas se reencontravam desesperadamente. O beijo ficou intenso
enquanto eu continuava a cravar meus dedos em seu cabelo,
puxando com necessidade. Sua ereção dura como pedra
pressionou contra meu abdômen através do material desse pijama
bobo. Minha perna envolveu seu corpo. E... foi nesse momento que
ouvimos a porta se abrir, seguido por um baque na cama.

Scottie.

— O que... — Josh resmungou.

— Scottie! — Eu ri.

Ele se moveu entre nós e se posicionou como se fosse uma coisa


totalmente normal de se fazer. Encostado na cabeceira da cama,
ele se acomodou e abriu um vídeo em seu dispositivo. Josh e eu
sorrimos. Sabia que nós dois estávamos agradecendo nossas
estrelas da sorte por ter Scottie de volta são e salvo.
— Ele nunca vinha aqui de manhã — falei. — Eu me pergunto
se ele estava verificando se ainda estávamos aqui – por razões
óbvias.

Josh se arrastou para fora da cama. — Você é o melhor


bloqueador de fodas de todos, Scottie.

Apesar da emboscada, Josh ainda estava visivelmente duro


através da calça de moletom cinza com a qual havia dormido. Ele
desapareceu porta afora. Quem sabia o quão longe nós teríamos
levado as coisas se Scottie não tivesse interrompido.

Como Scottie parecia contente na cama, levantei-me, deixando-


o ali, e fui procurar Josh, que agora estava parado ao lado da
cafeteira na cozinha.

Ele ergueu uma caneca. — Café?

— Sim, por favor. — Sorri. — Você está todo sexy com essa
camiseta enquanto eu pareço o coelhinho da Páscoa.

Ele se encostou no balcão enquanto esperava o café pingar da


máquina. — Bem, meu plano de cobri-la da cabeça aos pés, para
que eu não pudesse acessá-la facilmente, não funcionou. Eu ainda
quero você agora, mesmo que você esteja com essa roupa. — Ele
acariciou meu cabelo. — Nós precisamos conversar. Mas mais
tarde esta noite. Talvez depois que Scottie for para a cama. Tudo
bem?

Eu engoli em seco. — Ok...

Sem saber se ele queria falar sobre Scottie ou sobre nós, não
pedi que ele explicasse; uma parte de mim estava com medo de
descobrir.
— Eu só quero aproveitar este dia sem nenhum estresse —
disse ele.

— O que nós vamos fazer? — perguntei.

— Nada. Sair com ele. Assistir a alguns dos filmes do Wayne.


Tomar sorvete. Descomprimir do pesadelo dos últimos dois dias.
— Sua mão encontrou a minha.

Juntei meus dedos aos dele. — Você não vai me ouvir reclamar
sobre isso.

Josh me pegou em seus braços e me segurou, descansando o


queixo no topo da minha cabeça.

Uma batida na porta fez com que nos afastássemos um do


outro.

— Quem diabos é tão cedo? — ele perguntou.

Josh foi atender e eu o segui. Meu coração afundou quando vi


um policial parado ali. Eu sabia que Scottie estava seguro no
quarto de Wayne, mas minha primeira inclinação foi entrar em
pânico. Devia ser o trauma.

— Desculpe incomodar vocês. — O oficial olhou para mim e riu,


um lembrete de quão ridícula eu devia parecer neste maldito
macacão. — O dono da casa onde o Sr. Longo foi encontrado
descobriu esta foto no chão embaixo do clubinho em que ele estava
escondido. Então pensamos em devolvê-la a vocês. O Sr. Longo
devia estar com ela quando escapou do lar coletivo.

Eu peguei a foto dele. Era a que nós três tiramos na festa de


Natal de Michael e Vanessa.

— Uau. — Josh cobriu a boca, olhando para a foto.


— Eu dei isso a ele quando o deixamos na casa naquele
primeiro dia — expliquei ao policial. — Muito obrigada por devolvê-
la.

— O prazer é nosso. Que bom que deu tudo certo.

— Obrigado novamente, oficial — Josh disse enquanto fechava


a porta. Ele se virou para mim com um olhar de admiração. —
Scottie levou duas coisas com ele quando decidiu fugir – seu tablet
e uma foto de nós três juntos. Pensei que a saída dele foi meio
acidental, apenas o resultado de eles terem deixado a porta
destrancada. Mas agora acho que ele pode ter decidido sair. —
Josh coçou a cabeça. — Eu acho que ele estava...

— Procurando por nós — eu terminei sua frase.

— Sim — Josh murmurou em transe. — Puta merda, Carly.

Meu peito parecia pesado. — Eu sei.

●●●

Passamos o dia descansando em casa, e foi glorioso. Embora


eu tivesse feito uma rápida viagem ao Walmart para comprar um
pijama normal, mais algumas peças de roupa e alguns
mantimentos.

Agora, era quase hora de dormir e estávamos mais uma vez na


sala de estar. Josh e Scottie haviam tomado banho e agora
estavam olhando algo no iPad.
— Olhe o que ele está fazendo. — Josh apontou para a tela. —
Ele está usando o filtro de Andy Warhol novamente em, tipo, uma
centena de fotos de seu próprio rosto.

— Como nos velhos tempos — eu disse. — Ele deve gostar de


si mesmo.

— Essa é uma boa qualidade. — Josh bagunçou o cabelo de


Scottie. — Se todos nós gostássemos tanto de nós mesmos.

Scottie deitou a cabeça no ombro de Josh e continuou


brincando com as fotos. Meu coração.

— Ele está muito calmo esta noite — comentei. — Você pode


dizer que ele está feliz por estar em casa.

Josh sorriu. — Você pode culpá-lo?

— Não, não posso.

— Também estou feliz por estar aqui — disse ele.

— É uma loucura que Scottie teve que desaparecer para nos


reunirmos assim.

— Não do jeito que eu teria escolhido para acontecer, com


certeza — disse Josh.

Ele olhou para o telefone por um momento e colocou a mão no


ombro de Scottie. — Já passou da sua hora de dormir, cara. — Ele
levou Scottie para seu quarto para prepará-lo para dormir.

Pareceu demorar uma eternidade para ele voltar para a sala, o


que imaginei, já que eu estava nervosa com a conversa que
teríamos.
Quando Josh voltou, ele se sentou e descansou a cabeça no
sofá por um momento. Apesar do quanto relaxamos hoje, Josh
ainda parecia um pouco preocupado e exausto. Ele não começou
a falar imediatamente, mas decidi que não podia esperar mais.

— Então... — Limpei minha garganta. — Você disse que


precisávamos conversar...

Ele se virou para mim e se endireitou. — Sim. — Ele balançou


as pernas. — Então... — Ele fez uma pausa. — Eu quero saber se
você estaria disposta a ficar aqui por algumas semanas com
Scottie enquanto eu volto para Chicago.

Meus olhos se arregalaram. Essa era a última coisa que pensei


que ele diria.

— Vou voltar para Woodsboro, Carly. Eu praticamente tomei


essa decisão assim que voltei para cá. Prometi a mim mesmo que,
se Scottie voltasse para casa em segurança, nunca mais o perderia
de vista. Não quero que ele volte para o lar coletivo. Eu mesmo vou
cuidar dele.

— Uau. — Balancei a cabeça. — Então você... precisa que eu


fique aqui enquanto você vai pegar suas coisas?

— Basicamente, sim. Preciso falar no meu trabalho se eles


estariam dispostos a me deixar trabalhar remotamente de forma
permanente.

— E se não o fizerem?

— Então eu vou parar e pensar em outra coisa. Ou vou


trabalhar para a empresa de construção de Neil em alguma função
de gerenciamento e contratar ajuda de meio período para Scottie
aqui. Tentamos com a coisa do lar coletivo, certo? Mas ele
claramente não queria estar lá. Esta é a casa dele. Ele merece ficar
aqui, e eu quero fazer isso acontecer por ele, mesmo que tenha que
contratar ajuda.

Não havia nada em que pensar. Eu balancei a cabeça. — Claro,


eu vou ficar.

— Não é permanente — ele me assegurou. — Você pode voltar


para a Califórnia assim que retornar.

Meu estômago se agitou quando eu disse a primeira coisa que


me veio à mente. — E se eu não quiser?

Isso pareceu surpreendê-lo. Caramba, surpreendeu a mim.

— Você é bem-vinda aqui pelo tempo que quiser — ele me disse.


— Você sabe disso. Eu apenas presumi que você gostaria de voltar
para sua vida.

O que eu realmente queria era que ele me pedisse para ficar.


Mas não queria fazer essa conversa sobre mim e ele. Ele tinha
acabado de tomar uma grande decisão na vida, e jogar a
complicada questão de onde estávamos não seria justo agora. Eu
não achava que as razões pelas quais ele sentiu que não
poderíamos ficar juntos tinham desaparecido magicamente no
tempo em que estivemos separados.

Respirando fundo, decidi confiar no processo. O destino nos


trouxe de volta – mesmo que fosse temporário. Jurei não pensar
demais em nada, aproveitar meu tempo com ele enquanto durasse
e até mesmo apreciar meu tempo a sós com Scottie enquanto Josh
voltava para Chicago para resolver as coisas.
Em vez de liberar todas as minhas preocupações para ele, eu
apenas balancei a cabeça. — Você está tomando a decisão certa,
Josh.

Ele soltou um suspiro aliviado. — Você acha?

— Absolutamente.

— Vou pedir a Lorraine que transfira a guarda para mim. Você


acha que ela vai aceitar?

— Eu acho, na verdade. Ambos sabemos que ela não é capaz


de cuidar dele. E acho que será um alívio para ela saber que você
quer assumir oficialmente.

— Estava preocupado que você pudesse pensar que eu estava


perdendo a cabeça, levando isso para sempre.

Movendo-me para me sentar mais perto dele, coloquei minha


mão sobre a dele. — Você provou seu valor, Josh. Uma e outra vez.
A verdade é que, mesmo que você não seja perfeito nisso, ninguém
vai amá-lo como você. Você é a coisa mais próxima que ele tem de
família. E acho que Scottie será o cara mais sortudo do mundo por
ter você como guardião.

Queria que me pedisse para ficar. Não havia nada que eu


desejasse mais do que Josh me incluir nesses planos. Mas teria
que ser ele a sugerir isso. Eu já havia insinuado que não queria
voltar para a Califórnia. A bola estava com ele. Com certeza, não
iria pressionar por nada. Jurei esperar até que ele voltasse de
Chicago antes de começar a me preocupar com o que o futuro
reservava.

Precisava confiar no processo.


Resolvi tomar um banho antes de dormir. Estar perto de Josh
de novo me deixou com tanto tesão – especialmente depois que o
que começamos esta manhã nunca se concretizou.

Sob a água, deslizei minha mão para baixo e circulei meu


clitóris. Eu queria tanto que Josh me tocasse o dia todo hoje. Eu
não tinha certeza se ele planejava dormir na cama comigo
novamente esta noite, mas de qualquer forma, tinha quase certeza
de que teria outra noite de frustração pela frente.

Depois de alguns minutos, a porta do banheiro se abriu. Eu


pulei, pensando que era Scottie, mas quando vi a silhueta alta e
musculosa com cabelo foda-me através da porta de vidro
embaçada, percebi que era Josh.

Meu estômago deu cambalhotas quando ele abriu a porta do


chuveiro e entrou, gloriosamente nu. Meus olhos se moveram
sobre seu corpo lindo. Fazia tanto tempo que não o via assim, e
pensei que nunca mais teria a oportunidade. Seu pau inchado
brilhava com pré-sêmen na ponta. Sentindo-me envergonhada por
olhar – ainda um pouco traumatizada desde o momento em que
ele me chamou lá atrás – eu me afastei dele, de frente para o
chuveiro.

Seu corpo quente pressionado contra minhas costas, sua voz


vibrou contra a minha pele. — Oi.

— Bem, olá — eu sussurrei.

— Tudo bem? — ele perguntou.

— Sim — eu respirei.
Meus músculos se contraíram quando ele posicionou seu pau
quente e rígido contra mim, deslizando-o pelas nádegas da minha
bunda.

— Senti falta dessa bunda linda.

— Senti sua falta. — Eu sorri.

— Eu estive morrendo por você o dia todo, Carly. — Ele passou


um braço em volta da minha cintura. — Eu lavaria você com
sabão, mas para ser honesto, quero que você cheire como nada
além de mim esta noite.

Minhas pernas tremeram.

— Desde o momento em que nos separamos, não consigo parar


de fantasiar sobre foder você. — Ele falou em meu ouvido: — Eu
não estive com mais ninguém. Eu não quero mais ninguém. Eu só
quero você. E preciso mostrar o quanto agora.

— Leve-me — eu implorei.

— Eu quero foder você com força. Ok?

Tremendo, balancei a cabeça. — Eu quero isso também.

— Sim? — Ele massageou meu clitóris.

— Sim, por favor.

— Tão educada. — Ele riu. — Apoie os braços na parede. Você


vai precisar se segurar.

Tremendo de necessidade, fiz exatamente o que ele disse,


plantando as duas mãos na parede de azulejos molhados.

Seu pau duro ainda estava bem contra minhas nádegas, mas
não me penetrando ainda.
— Mal posso esperar para ver meu pau entrar e sair de você e
gozar dentro de você novamente.

Ele empurrou para dentro de mim sem aviso, fricção quente e


úmida, a bela queimadura acendendo um fogo dentro de mim.

— Eu senti falta disso, querida. — Ele gemeu quando foi até as


bolas profundamente. — Tanto.

— Eu também — ofeguei quando minhas paredes se apertaram


em torno dele.

— Eu não quero precisar de você assim, mas preciso. — Ele


bombeou em mim mais rápido.

— Está tudo bem — eu me engasguei.

— Eu me odeio, mas amo demais isso. — Ele puxou para fora


e depois empurrou com mais força. — Você me possui, Carly, mas
eu não sinto que você poderia ser minha.

Impulso.

— Eu sou sua — murmurei. — Senti tanto sua falta, Josh.

Impulso.

— Também senti sua falta, amor. Vou para o inferno por isso,
mas não dou a mínima agora. Eu preciso muito de você. Cansei de
tentar fingir que não.

Ele circulou meu clitóris novamente enquanto se movia dentro


e fora de mim. — Diga-me se eu estou machucando você.

— Não dói. Eu aguento.


Suas bolas bateram contra mim enquanto ele levava minhas
palavras a sério. Nunca tinha sido tão intenso, tão lindamente
áspero.

Ele mordeu meu ombro levemente. — Carly... — Seu corpo


espasmou quando uma onda de esperma quente me encheu. —
Foda-se, não posso parar com isso. É muito. Eu tenho que gozar.

Meu próprio clímax disparou através de mim alguns segundos


depois, pulso após pulso de puro êxtase disparando por meu
núcleo até que o ritmo de nossos movimentos diminuísse.

Ele me tocou depois que descemos de nossos orgasmos. —


Adoro sentir minha porra dentro de você. — Josh gentilmente
beijou minhas costas e ficou atrás de mim enquanto eu continuava
encostada na parede, saciada. — Amo ver isso escorrer de você
ainda mais — ele murmurou.

Sem fôlego, murmurei: — Josh... eu...

— O quê, baby?

— Não sei o que fazer com você.

— Eu sei o que você pode fazer. — Ele me virou e colocou sua


testa contra a minha. — Leve-me para a cama, para que possamos
fazer isso de novo. Porque não estou nem perto de terminar com
você esta noite.
Capítulo 33

JOSH

Eu precisei ficar em Chicago um pouco mais de duas semanas.

A longa viagem de volta a New Hampshire foi cansativa, mas


como queria levar meu carro, dirigi em vez de voar. Digamos que
isso me deu muito tempo para pensar, principalmente sobre o fato
de que eu não queria que Carly fosse embora. E eu precisava deixá-
la saber disso sem parecer um idiota egoísta. Ao mesmo tempo,
pedir-lhe que ficasse significaria pedir-lhe que desistisse de sua
vida na Califórnia. Também significaria me comprometer com ela
de uma forma que desconsideraria minha promessa de não trair
Brad.

Em meu coração, eu sabia que não poderia parar o que sentia


por ela só porque achava que deveria. Eu teria dado qualquer coisa
para ter uma conversa real com Brad sobre isso, para realmente
saber onde ele estava. Mas eu nunca saberia, apesar do fato de ter
rezado para que ele me enviasse uma pista.

Eu tinha cerca de oito quilômetros a percorrer antes de chegar


a Woodsboro. Ao passar pela cidade vizinha de Shearborn, notei
uma placa à distância.

Abadia de São Francisco: Casa dos Monges Trapistas de São


Francisco
Era um belo complexo no meio de um grande campo gramado,
situado no topo de uma colina. Com vários edifícios ligados uns
aos outros, havia também uma grande catedral ao lado. Uau. Este
era o lugar para o qual Wayne havia doado todo aquele dinheiro.
Como eu nunca havia notado esta propriedade em todos os anos
que vivi nesta área?

Em uma decisão de último segundo, pisei no freio e virei meu


carro, parando no estacionamento do mosteiro. Este lugar era um
mistério para mim desde que encontrei todos os blocos de
anotações na casa. Eu não conseguia entender por que isso era
tão importante para Wayne. Talvez não fosse sobre os monges, mas
sim o que eles poderiam fazer por ele. Mas ele devia ter tido seus
motivos para fazer aquelas doações.

Quando toquei a campainha da entrada principal, uma série de


toques soou. Um homem vestido com uma longa capa preta abriu
a porta.

Em que diabos eu me meti?

Sua voz era baixa e gentil. — Posso ajudar?

Eu pisquei. — Eu não tenho certeza.

— Você está em apuros?

— Não, não. Desculpe. — Olhei por trás de seu ombro para uma
grande estátua religiosa que Wayne provavelmente pagou no
vestíbulo vazio. — Estou... apenas curioso sobre este lugar.
Significou muito para alguém que significou muito para mim.

— Você gostaria de entrar?


Eu pensei por um segundo. Embora estivesse ficando tarde, eu
me senti compelido a entrar – como se este lugar estivesse me
chamando e, de alguma forma, não fosse uma coincidência que
tivesse passado por aqui.

— Claro. Obrigado.

Ele me levou a uma pequena sala de estar perto da entrada.

— Você é da área? — ele perguntou.

— Na verdade, estou voltando para casa em Woodsboro. Estou


me mudando de Chicago, mas cresci aqui.

— O que traz você de volta?

— Vou cuidar de um familiar adulto com necessidades


especiais. — Eu parei. — Você está falando comigo. Por que eu
achava que os monges eram silenciosos?

Ele riu. — Não guardamos silêncio perpétuo aqui. Isso é raro


hoje em dia. Embora tenhamos momentos de silêncio e certamente
evitemos conversa fiada.

Eu arqueei uma sobrancelha. — Isso não é considerado


conversa fiada?

— Quando a conversa é necessária para ajudar os outros, ela é


incentivada. Tenho a impressão de que você precisa de alguma
orientação.

Você acertou. Passei os próximos minutos informando-o sobre


a situação com Scottie, sem mencionar nenhum nome. Mas, no
final das contas, não pude evitar.

— Na verdade, você deve conhecer o pai de Scottie.


Ele cruzou as mãos no colo. — Oh?

— Waine Longo.

Os olhos do homem se arregalaram. — Wayne Longo... sim,


certamente reconheço o nome.

— Eu imaginei que você poderia. Claramente este lugar


significava muito para ele. Encontrei um monte de blocos de notas
com o nome deste mosteiro na casa de Wayne. Presumo que ele
deve ter doado muito dinheiro para isso.

O monge assentiu. — Na verdade, ele fez.

— Tem alguma ideia do porquê? Quero dizer, não que alguém


precise de um motivo para doar ao seu bom estabelecimento,
mas...

— As pessoas doam ao mosteiro com pedidos específicos de


oração. Em seguida, adicionamos o apelo deles à nossa bênção
diária.

— Wayne estava em, tipo, pagamento automático ou algo


assim? — eu brinquei.

Ele não esboçou um sorriso. — Wayne sempre teve o mesmo


pedido único: que orássemos por seu filho, para que Scott sempre
fosse cuidado, seguro e tratado caso algo acontecesse com Wayne.

Eu levei um momento para deixar isso afundar. — Realmente...

— Sim. Essa foi a única coisa que ele pediu.

— Uau.

— Então parece que suas orações foram atendidas.


Eu desviei o olhar, absorvendo aquela revelação. — Sim. Acho
que sim.

— Algo mais está incomodando você... — ele disse.

Este monge tinha um sexto sentido. Não havia razão para me


conter.

— Como eu disse a você, o filho mais velho de Wayne, Brad,


faleceu em um acidente antes de Wayne morrer. — Tomei um
pouco de ar. — Receio ter me apaixonado pela noiva de Brad, a
mulher de quem ele estava noivo antes de morrer. Temos cuidado
de Scottie juntos e nos apaixonamos no processo. Não sei não a
amar, mas também não sei viver comigo mesmo por ter traído meu
amigo.

A expressão do homem não mudou. Ele não parecia afetado


pelo que acabei de confessar. — Seu amigo tem um propósito
muito maior agora do que se preocupar com essas coisas — disse
ele.

— Como você sabe disso?

— Ele está com Deus. Ele não conhece mais ciúme ou


sentimentos de traição. Além desta vida, entende-se que tais coisas
são venenos. Elas não existem com Deus. Só existe amor e perdão.

— Você está dizendo que Brad não ficaria com raiva de mim por
basicamente viver a vida que ele deveria ter aqui? Ele não acharia
isso injusto?

— Aquela vida que ele conheceu aqui na Terra acabou, filho.


Brad está em um lugar melhor. Mas mesmo que ele se preocupasse
com essas coisas, duvido que ele quisesse que seus entes queridos
sofressem, se o que você e ela querem é ficar juntos. Mas,
novamente, Brad está com Deus e suas ações agora não são mais
relevantes para ele.

Sua perspectiva, pelo menos, era uma que eu queria


desesperadamente acreditar.

Balancei a cabeça. — Nunca pensei nisso dessa forma, eu acho


– que ele mudaria de qualquer uma das emoções que poderiam vir
com as coisas acontecendo aqui. Na maioria dos dias ainda é difícil
entender que ele realmente se foi.

— Ele não se foi — o homem corrigiu. — Ele está com Deus,


filho. E você está aqui, cuidando de seu irmão. E consertando o
coração partido de sua querida... — Ele fez uma pausa. — Qual é
o nome dela?

— Carly.

— Carly. — Ele fechou os olhos momentaneamente. —


Abençoados sejam vocês dois.

— Obrigado. Agradeço imensamente suas amáveis palavras. —


Eu me levantei do meu assento. — Embora tivesse que voltar, senti
que deveria parar aqui hoje. Você não tem ideia do quanto me
ajudou. Isso pareceu vir no momento exato em que eu precisava.

— É assim que funciona, filho.

O monge me acompanhou até a porta e saí de lá sentindo uma


paz que nunca esperara. Parecia um presente de Brad ou Wayne,
talvez de ambos.

Durante toda a viagem de hoje, desejei poder falar com Brad.


Agora escolhi acreditar que ele havia se comunicado comigo
através daquele monge trapista. Ou talvez eu tivesse que acreditar
nisso para fazer o que sabia que tinha que fazer assim que voltasse
para casa.

●●●

Carly largou a roupa que estava dobrando e correu para a porta


quando me viu.

— Você voltou! — Ela passou os braços em volta de mim.

— Oi, Carly... — Dei uma longa cheirada em seu perfume.

— Senti sua falta.

— Também senti sua falta. — Eu a apertei com mais força. —


Tanto, querida.

Ela se afastou, parecendo surpresa. — Sério?

Inclinei-me para beijar sua testa. — Sério...

Sentei-me ao lado de Scottie no sofá, interrompendo sua


navegação na internet. — Também senti sua falta, amigo.

No começo, ele mal fez contato visual comigo. Então ele


finalmente olhou para mim antes de pressionar o ícone ‘tomar
banho’ em seu aplicativo.

— Ainda não. — Eu ri, levantando-me do sofá. — Em breve, ok?

Carly estava na minha frente. — Como foi a viagem?

Eu esfreguei minha mão sobre seu braço. — Longa.

— Tudo correu bem ao sair do seu apartamento?


— Felizmente, o proprietário está mantendo todos os meus
móveis. Ele os comprou por uma bagatela.

— Pelo menos você não precisa se preocupar em movê-los.

— Exatamente.

— Seu chefe está bem com tudo?

— Por enquanto, sim. Veremos como será. Haverá momentos


em que terei que viajar de volta para Chicago, mas conseguirei
cobertura para Scottie quando isso acontecer. Espero que dê tudo
certo.

Ela olhou para baixo. A incerteza com a qual eu sabia que ela
estava lutando era tangível. Isso era minha culpa. Deixei tudo no
limbo antes de ir para Chicago. Isso porque eu ainda estava me
agarrando à culpa que estava me segurando. Não mais.

— Você está bem? — perguntei a ela.

— Sim. — Ela fingiu um sorriso. — Só não tenho certeza de


como estão as coisas. Está meio que me consumindo.

— Tive a sensação de que sabia o que estava pensando. —


Acariciei sua bochecha com as costas dos meus dedos. — Bem, eu
também estive pensando. Sobre nós. Eu ia esperar para ter essa
conversa até Scottie ir para a cama, mas agora vejo que não posso
esperar nem mais um segundo.

Ela colocou a mão sobre o coração, como se estivesse se


preparando. Isso me doeu. Entendi por que ela assumiu que isso
iria doer. Eu a condicionei a pensar o pior por tanto tempo, eu a
afastei por muito tempo. Não mais.
Peguei a mão dela na minha. — Carly, deixei você ir porque
pensei que a pior coisa que poderia fazer a Brad era amar você.
Então tentei impedir que isso acontecesse, como se fosse uma
escolha. — Apertando sua mão, olhei profundamente em seus
lindos olhos verdes. — Mas percebi que não consigo parar de amar
você. E mesmo que eu diga a mim mesmo que não devo ou não
posso, não importa. Eu ainda amo. — Respirei fundo. — Eu amo
você, Carly Garber. Amo muito, e não quero que você vá embora.
Nunca. Eu quero você aqui neste buraco na floresta conosco. Mas
só se você quiser ficar. Eu sei que é pedir muito para você deixar
seus clientes lá fora e...

— Não há mais nada que eu queira, Josh. — Lágrimas


mancharam seus olhos. — Nunca estive mais feliz do que aqui com
vocês dois. Tudo que eu preciso está aqui. — Ela olhou para Scottie
e de volta para mim. — Eu só estava esperando você perguntar. —
Ela colocou as mãos em volta do meu rosto. — E oh, meu Deus,
eu também amo você!

Meu corpo finalmente relaxou. Quando nossos lábios se


encontraram, tudo que eu conseguia pensar era que mal podia
esperar até que Scottie dormisse esta noite.

Quebrei nosso beijo para acrescentar algo. — Quero enfatizar


que quero que você fique não porque preciso de sua ajuda, mas
porque não quero me separar de você novamente. Não consigo
imaginar minha vida sem você.

Ela massageou meu cabelo. — Você lutou com o sentimento de


culpa por tanto tempo. O que mudou?
— Eu sei que amo você há um tempo. Sabia que precisava
contar como me sentia quando voltasse desta viagem, mas algo
aconteceu no caminho para casa hoje. — Olhei para o teto, ainda
maravilhado com aquele encontro mágico. — Foi incrível, e
contarei a história completa outra hora. Mas saiba... eu acredito
que Brad está bem conosco. Ele me enviou essa paz hoje. Ele nos
ama. E ele quer que sejamos felizes.

— Uau. Ok. — Ela enxugou os olhos. — Tive medo de que você


fosse me dizer para voltar para a Califórnia, como nos velhos
tempos.

— Nunca mais, Pumpkin. — Eu a levantei e a girei. — Você


pensou que se apaixonaria por um porco do mal?

— Você imaginou que aprenderia a amar meu rosto? — ela


disse quando eu a coloquei no chão.

— Eu não só amo seu rosto... — Coloquei minha testa contra a


dela. — Vejo meus futuros filhos nele.

Carly parecia atordoada quando ela sorriu para mim, seus


olhos brilhando. — Uau — ela sussurrou.

Enquanto nos abraçávamos, continuei a me sentir em paz.


Aquele encontro no mosteiro me libertou, em parte porque eu
simplesmente precisava acreditar para poder me permitir ser feliz.

Eu me virei para Scottie. — Amigo, o que você acha de Carly


ficar conosco permanentemente? Nós três morando juntos de
novo..., mas para sempre desta vez?

Sua resposta foi pular de seu assento, vir até nós e pressionar
o ícone de banho novamente em seu dispositivo.
Dei um tapinha nas costas dele. — Bem jogado, meu homem.
Seu plano de fuga não apenas trouxe você de volta para onde você
pertence, mas finalmente me deu algum sentido. Eu tenho que
agradecer por nos trazer de volta aqui.

Eu plantei um beijo nos lábios da minha mulher e disse: — Eu


sei que Brad sempre será o amor da sua vida..., mas espero que
você tenha espaço para um segundo.

Carly passou um braço ao meu redor e o outro ao redor de


Scottie. — Tenho espaço para três.
Epílogo

CARLY

UM ANO DEPOIS

Um envelope interessante chamou minha atenção quando corri


para verificar a caixa de correio.

Era de Casa dos Monges Trapistas de São Francisco e


endereçado a Josh. Curiosa demais, rasguei-o e, com certeza,
dentro estava um dos blocos de notas Um agradecimento dos
Monges Trapistas de São Francisco.

Huh. Interessante.

Falando em Josh, ele esteve fora por muito tempo esta tarde, e
eu estava ansiosa para que ele voltasse para casa. Ele disse que
tinha algumas coisas para fazer, mas estava fora há algumas
horas.

Scottie e eu, por outro lado, estávamos tendo um dia


preguiçoso. Sentei-me ao lado dele no sofá enquanto ele percorria
as fotos no álbum de seu iPad. Eu cobri minha boca quando ele foi
para algumas imagens explícitas de um Josh nu no banheiro. Não
só isso, ele decidiu colocar o filtro Andy Warhol sobre elas desta
vez.

Eu imediatamente peguei meu telefone.


Carly: Seu pau agora foi imortalizado com o filtro de Andy
Warhol.

Josh: Surpreso por ter demorado tanto.

Carly: Devemos vendê-las? ;-)

Josh: Estou pensando em apagá-las.

Carly: Vamos! Você está vindo?

Josh: Eu só tenho algumas coisas para resolver. Devo estar


em casa em breve. Por quê? Você está precisando de algo?

Carly: Estou sempre precisando de algo de você. ;-) Mas não,


não estou com pressa.

Josh: Volto logo, amor.

— Deixe-me ver isso por um momento, Scottie. — Peguei o


dispositivo dele e comecei a apagar todas as fotos do pau de Josh
Warhol antes que caíssem em mãos erradas. Felizmente, Scottie
acabou por mudar para outro tablet.
Depois que as fotos problemáticas foram embora, examinei
algumas de suas outras fotos. Scottie tirava as capturas de tela
mais bizarras e gravava alguns vídeos estranhos. Muitos deles
eram simplesmente vídeos de outros vídeos em seus tablets. Sua
coisa favorita, de longe, era tirar fotos de si mesmo ou de Josh e
colocar filtros sobre elas. Felizmente, a maioria delas era
classificada como apropriada.

Também notei um lote de vídeos feitos durante sua rotina de


dormir com Josh. Josh lia muito para ele à noite, e muitas vezes
eles tinham conversas engraçadas e unilaterais, de homem para
homem. Eu espiava às vezes, e era a coisa mais adorável. Josh
falava com Scottie como se fosse obter uma resposta. Ele se abria
com ele sobre coisas que poderiam estar incomodando e fazia
perguntas a Scottie. Às vezes, Scottie fazia um breve contato visual
com ele.

Furtivo como sempre, Scottie aparentemente gravou algumas


dessas conversas. Apertei o play em um desses vídeos. Eu podia
ver o lado do corpo de Josh enquanto ele falava com Scottie. Algo
que ele disse no meio da conversa me fez congelar.

Posso contar um segredo, Scottie? Tenho uma grande surpresa


para Carly no sábado. Ela não vai ver isso chegando, e eu
absolutamente não posso esperar. Você pode guardar segredos,
certo? O que estou dizendo? Você é o melhor guardador de segredos
do mundo. Essa é uma das coisas que eu amo em você. Posso contar
qualquer coisa e sei que ninguém vai descobrir.

Pausando, olhei a data do vídeo; tinha sido gravado três dias


atrás. Isso significava que o sábado a que ele se referia era hoje.
Eu imediatamente o fechei sem ouvir mais nada, porque não
queria estragar sua surpresa. Josh estava preparando algo. Minha
mente disparou para adivinhar qual seria a surpresa, tentando
não ir para o lugar que meu coração queria.

Seria possível que ele iria me pedir em casamento?

Josh e eu conversamos sobre nos casar no ano passado. Mas


também concordamos que não precisávamos dessa formalidade
para validar nosso relacionamento. Josh nunca pareceu
particularmente interessado nisso, então nunca chegamos a uma
conclusão firme.

Mas uma parte de mim sempre esperava que ele me pedisse de


qualquer maneira, mesmo que eu não precisasse de um pedaço de
papel para me sentir satisfeita. Eu já tinha tudo que precisava.
Josh, Scottie e eu construímos uma verdadeira vida juntos aqui
em Woodsboro. Josh continuou a trabalhar remotamente e apenas
viajava ocasionalmente para Chicago. E comecei meu próprio
negócio de maquiagem para eventos especiais itinerantes,
atendendo a maior parte de New Hampshire e outras partes da
Nova Inglaterra. Também estávamos planejando fazer um
acréscimo na casa para termos mais espaço.

Tudo estava perfeito, então por que eu precisava de um


documento legal para legitimar meu relacionamento com Josh? Eu
sabia que ele era para mim de qualquer maneira, e ele sabia que
eu não iria a lugar nenhum, então não havia razão para pressionar
nenhum de nós.

Suspiros. Dito isso, uma parte de mim ainda queria ser sua
esposa.
O resto da tarde, eu estava no limite. Ficou pior quanto mais
tempo Josh ficou fora. Fosse qual fosse a surpresa, eu me
perguntava se tinha dado errado. Ele me disse que estaria de volta
em breve, mais de uma hora atrás.

Quando seu carro finalmente estacionou, meu coração quase


pulou para fora do meu peito. Eu estava tão nervosa – por ele e por
mim, porque sabia que provavelmente tinha explodido minhas
esperanças fora de proporção.

Sentei-me casualmente no sofá ao lado de Scottie, como se não


estivesse esperando ansiosamente que Josh entrasse. No entanto,
quando a porta se abriu, levantei-me. Tanto para permanecer
indiferente.

O som de uma coleira de cachorro tilintou atrás dele.

E então eu o vi – um Goldendoodle familiar.

Bubba-Hank?

Lágrimas encheram meus olhos enquanto eu corria para o meu


cachorro grande e fofo. — Como? — chorei quando o cachorro
começou a pular em mim e lamber meu rosto. — O que ele está
fazendo aqui, Josh?

— Surpresa! — Josh sorriu.

— Você não o roubou, não é?

— Claro que não. Não sou um ladrão como você. — Ele piscou.

— Então o que ele está fazendo aqui?

— Ele está de volta, querida.

— O que você quer dizer?


— A pobre mulher que o possuía faleceu.

— Oh, não. — Eu olhei para ele. — Mas como diabos você sabia
disso? Você a perseguiu ou algo assim?

Ele riu. — Não. Mas sempre lembrei do nome dela e de onde


eles moravam. Então, fiz algumas pesquisas e entrei em contato
com a filha dela há um tempo para ver como ele estava. Naquela
época, ela me disse que sua mãe estava doente, mas ainda queria
o cachorro. Eu disse a ela que Bubba-Hank significava muito para
você, e se alguma coisa com a situação mudasse, adoraríamos
recebê-lo. Na verdade, não pensei que algo fosse acontecer, mas
então recebi uma ligação dela algumas semanas atrás. Ela me
disse que sua mãe havia morrido e que o cachorro era
responsabilidade demais para ela. Ela queria saber se ainda o
queríamos.

A esperança me encheu. — Ele não vai voltar?

— Não. Ele está aqui para ficar.

Cavando meu nariz em seu pelo castanho-alaranjado, eu gritei:


— Esta é a melhor surpresa que você poderia ter me dado, Josh.
Pensei que estava feliz antes, mas ter Bubba-Hank de volta? Eu
me sinto completa agora. — Levantei-me e passei meus braços em
volta de Josh enquanto o cachorro nos rodeava. — Por que você
demorou tanto para voltar?

— Bem, a filha da mulher mora em Massachusetts. Eu tive que


ir buscá-lo. Houve um acidente na 93 na volta, então demorou
uma eternidade. — Josh se inclinou para me beijar. — Estou tão
feliz que deu certo.
Bubba-Hank se acomodou no sofá ao lado de Scottie como se
nunca tivesse saído desta casa. Sentei-me do outro lado dele e
esfreguei entre suas orelhas por vários minutos. Os olhos de
Bubba-Hank se fecharam lentamente. Scottie não parecia
perturbado de um jeito ou de outro pela presença do cachorro.
Josh sentou-se à nossa frente, parecendo sentir imenso prazer em
me ver reencontrar meu precioso animal de estimação.

A pilha de correspondência que eu peguei antes estava na


mesinha ao lado dele.

— Você recebeu um bloco de notas dos monges. Você deve ter


doado.

— Oh. — Ele se virou e pegou o envelope contendo o bloco de


notas. Ele o pegou e folheou. — Sim. Achei melhor manter a
tradição.

— Alguma coisa em particular pela qual você está pedindo que


eles orem?

— Eu tenho algumas coisas. — Ele sorriu, mas não elaborou.


Então ele se levantou e foi para a cozinha. Quando voltou, ele me
entregou um bilhete ao passar pelo sofá.

Um agradecimento dos Monges de São Francisco

Você está me matando.

— Isso é sobre o quê? — Eu pisquei. — Por que estou matando


você?
Ele se sentou na minha frente, esfregando as mãos. Seu rosto
estava realmente ficando vermelho.

O que diabos estava acontecendo?

Ele apontou para o cachorro. — Acho que Bubba-Hank quer


uma massagem no pescoço. Você sabe, bem debaixo do colarinho.
Por que você não dá a ele?

Apertando os olhos com ceticismo, comecei a massagear o


pescoço do nosso Goldendoodle. O cachorro fechou os olhos,
parecendo estar no céu.

Então dei uma olhada mais de perto na etiqueta de


identificação brilhante pendurada em seu colarinho. Eu não tinha
notado o que estava realmente escrito nela. Gravado na etiqueta
havia uma mensagem: Quer se casar conosco?

Minha boca se abriu quando olhei para Josh. A próxima coisa


que eu soube foi que ele estava de joelhos na minha frente.

Minhas mãos tremiam. — Devo estar cega.

— Eu não podia esperar nem mais um segundo, Pumpkin.


Entrei em casa tão nervoso, e quase uma hora se passou, e você
ainda não tinha notado. — Ele abriu uma pequena caixa de anel
vermelha, com as mãos tremendo. — Carly, sei que conversamos
sobre casamento e dissemos que não era algo que devíamos ter,
mas quero que você seja minha esposa. Quero que adote meu
sobrenome. Talvez eu seja apenas egoísta desse jeito. — Ele tirou
o anel da caixa e o estendeu, respirando longa e profundamente.
— Perdi meu melhor amigo quando Brad morreu. Ele sabia que eu
precisava de um novo melhor amigo. Agora acredito que é por isso
que ele me enviou você. Sou muito grato todos os dias por onde a
vida me levou, mas especialmente pelo que ela me trouxe. — Josh
colocou o anel no meu dedo. — Espero que você diga sim.

Minha boca estava aberta. Finalmente encontrei as palavras.


— Sim! — Eu passei meus braços ao redor dele. — Um milhão de
vezes, sim, Josh Mathers.

Ele me apertou com força, e eu podia sentir seu coração


batendo contra o meu. Uau. Ele estava muito nervoso. Quando me
soltou, virou-se para Scottie. — Nós vamos nos casar, amigo! Você
está animado?

Scottie olhou para ele inexpressivamente, então pressionou o


ícone em seu dispositivo. Eu quero tomar um banho.

Josh deu um tapa na perna de brincadeira. — Obrigado por


compartilhar nossa alegria, cara. — Ele se virou para mim. —
Gostou do anel? Eu estava com medo de que talvez fosse muito
pouco convencional.

— Adorei — respondi, olhando para o desenho ornamentado.


Eu nunca tinha visto nada parecido. A pedra central era um
diamante alongado em forma de hexágono, flanqueado por dois
diamantes menores do mesmo corte.

— É diferente daquele que Brad comprou para você — disse ele.


— Eu não queria ofuscar isso de forma alguma. Ele deu a você
uma pedra grande e redonda – centrada e perfeita, assim como ele
era. Este anel... bem, acho que provavelmente não é algo que você
esperava. É mais como eu. Áspero em torno das bordas.
— Isso é exatamente certo. Inesperado e nada que jamais
imaginei – algo que eu nunca soube que precisava tanto. Isso é o
que você é, Josh. E é por isso que este anel é perfeito. — Eu olhei
para ele novamente. — Eu amo tanto isso. E amo você. Você me
fez a mulher mais feliz do mundo hoje.

— Você jura por Bubba-Hank?

Inclinei-me para abraçar nosso cachorro pateta. — Eu juro por


Bubba-Hank.

Josh se levantou de sua posição ajoelhada e Bubba-Hank


imediatamente começou a transar com sua perna. Josh o ignorou,
ainda sorrindo para mim com um olhar de puro amor em seus
olhos.

Este homem era a última pessoa que imeginei que me amaria


assim. O quanto eu sou sortuda por ser amada por dois grandes
homens na minha vida?

— Achei que minha vida tinha acabado quando Brad morreu


— eu disse a ele, esfregando sua barba por fazer. — Eu nunca
imaginei você vindo.

Josh piscou. — Agora você pode me ver chegando pelo resto da


sua vida.

Certa vez, ouvi um ditado que diz que a família é a maior


riqueza que você possui. Não tendo senso de família na época, eu
não entendi. Claro, nossa família não era convencional. Meu
futuro marido já foi meu inimigo jurado. Nosso cachorro gostava
de transar com ele. E nosso bebê pesava mais de cem quilos.
Não havia cerca branca ou gramado bem cuidado aqui. Nada
era perfeito e tudo era caótico. Mas tinha muito amor. E se a família
era a maior riqueza que você podia possuir? Bem, então eu era
rica.

FIM.

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