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Adicionalmente, qualquer problema com sua turma/curso deve ser resolvido, em primeira
instância, pela secretaria de sua unidade. Caso você não tenha obtido, junto a sua
secretaria, as orientações e os esclarecimentos necessários, utilize o canal institucional da
Ouvidoria.
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SUMÁRIO
9. CONCLUSÃO .................................................................................................. 60
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1. PROGRAMA DA DISCIPLINA
1.1 Ementa
Contribuições Especiais. Contribuições sobre a folha de salários. PIS/COFINS. CSLL.
Retenções. IRPJ: Fato gerador, alíquota, base de cálculo. Progressividade, universalidade
e generalidade. ICMS: Fatos geradores. Substituição tributária. Guerra fiscal. Convênios.
Benefícios fiscais. ICMS na importação e exportação. ISSQN: fato gerador, base de cálculo,
alíquota mínima e máxima. Local do fato gerador. Sujeito passivo. Simples Nacional.
Definição de Microempresa (ME) e Empresa de Pequeno Porte (EPP). Conceito de Receita
Bruta. Tributos Alcançados.
1.3 Objetivos
Examinar os conceitos pertinentes ao tema, aprofundando as análises por meio de
utilização de casos concretos.
1.5 Metodologia
Adota-se a metodologia participativa na qual as aulas ministradas visam possibilitar a
participação ativa dos alunos não somente na construção e apreensão de conceitos
trabalhados ao longo do curso, mas também na aplicação destes conceitos às suas
atividades práticas.
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ROSA JÚNIOR, Luiz Emygdio F. da. Manual de Direito Financeiro & Tributário. Rio de
Janeiro: Renovar, 2017.
TORRES, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário.Rio de Janeiro: Renovar,
2016.
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Diante disso, iremos analisar assuntos de direito tributário que convergem para
administração fiscal de empresas.
Vinculados – são aqueles tributos em que sua cobrança esta diretamente ligada a
uma prestação estatal. Por exemplo, taxas e contribuições de melhoria.
Não vinculados – são aqueles tributos em que sua cobrança não está ligada a uma
prestação estatal específica. Por exemplo, impostos (art.16, CTN).
Fiscais – tem como principal objetivo a arrecadação de recursos para o Estado. Por
exemplo, o IR.
Parafiscais – “Para” é um prefixo de origem grega que significa “ao lado de”. É a
atribuição, pelo titular da competência tributária, mediante lei, de capacidade tributária
ativa, a pessoas públicas ou privadas que desenvolvam finalidades públicas ou de interesse
público. Por exemplo, INSS, CRM, CREA, SESI, SENAC, SESC, SENAI etc.
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Extrafiscais – “Extra” é um prefixo de origem latina que significa “fora de”. Ocorre
quando o seu principal objetivo é fomentar ou desestimular determinada atividade por
meio de tributo, como a intervenção no domínio econômico. É claro que a Fazenda Pública
acaba obtendo recursos com a tributação, porém sua principal intenção não é arrecadar,
mas sim intervir e regular alguma atividade, como ocorre no imposto territorial rural em
que a União através do tributo tenta desestimular a manutenção de propriedades
improdutivas (art. 153, §4º, I da CF/ 88).
Reais – são aqueles instituídos com base somente nos aspectos objetivos do
patrimônio do contribuinte. Não é levado em conta o aspecto subjetivo do contribuinte. É
somente a exteriorização de riqueza. Por exemplo, IPTU e IPVA.
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Diretos – são aqueles que não admitem repercussão jurídica, ou seja, a pessoa
indicada na lei como sendo responsável pelo pagamento do tributo (contribuinte de direito)
é a pessoa que efetivamente arca com a obrigação tributária (contribuinte de fato). Há
uma confusão entre contribuinte de direito e contribuinte de fato. Por exemplo, IPTU.
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3. ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS
As espécies tributárias previstas no ordenamento jurídico brasileiro são impostos
(art. 145, I; art. 153; art. 155; art. 156, todos da CF/88), taxas (art. 145, II, CF/88),
contribuição de melhoria (art. 145, III, CF/88), empréstimos compulsórios (art. 148,
CF/88), contribuições especiais (art. 149, CF/88) e contribuição de iluminação pública (art.
149-A, CF/88) são espécies tributárias previstas no ordenamento jurídico brasileiro
contemporâneo.
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL
Não obstante, alguns direitos sociais fazem parte da seguridade que são aqueles
destinados a atender a saúde, a assistência e a previdência (art. 194, CF/88), logo há:
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Contribuição é o tributo devido pela realização de serviço ou obra pública indivisível em favor de determinado
grupo social, de que decorra benefício especial para o cidadão que dele participa. Na contribuição, por
conseguinte, se apresentam dois elementos, em permanente interação: a atividade estatal praticada no interesse
de determinado grupo e a vantagem individual auferida. Curso de Direito Financeiro e Tributário. 13ª ed. Rio de
Janeiro: Renovar, 2006, p. 405. Cabe ressaltar que o autor defende a corrente quadripartida, pois para ele
contribuições de melhoria e especiais são espécies do gênero contribuição.
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O STF tem entendido que não há bis in idem por ter as contribuições o mesmo fato
gerador que os impostos. O que realmente as diferencia é a vinculação do produto de sua
arrecadação a determinados órgãos ou finalidades específicas, ou seja, sua destinação
específica.
I. A CARGO DO EMPREGADOR
As contribuições podem ser instituídas por meio de lei ordinária, porém se a União
resolver instituir outras contribuições sociais não previstas na Constituição, terá que ser
por meio de lei complementar (art. 195, §4º, CF/88). Por esse motivo, não cabe a edição
de contribuição residual por medida provisória (art. 62, §1º, III, CF/88).
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Com a EC nº 33/01 foi criada a CIDE – combustíveis (art. 177, §4º, CF/88), cuja
destinação da arrecadação será para subsidiar o álcool combustível, gás natural e
derivados de petróleo, financiar projetos de meio ambiente e financiar programas de infra-
estrutura de transportes.
CONTRIBUIÇÃO CORPORATIVA
Com a edição da EC 33/01, o art. 149, §2º, I da CF/88 passou a estabelecer uma
imunidade geral, abrangendo todas as contribuições sociais e contribuições de intervenção
do domínio econômico sobre as receitas decorrentes de exportação.
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4. LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA
Noções gerais
FONTES TRIBUTÁRIAS
Fonte é o lugar de onde emana algum instituto jurídico. A tributação está calcada
em duas premissas: exteriorização de riqueza e normas que inovem, regulem e
modifiquem a incidência do poder de tributar. A tributação está cerrada no princípio da
legalidade, razão pela qual sua essência está nas fontes formais. Assim sendo, faz-se
necessário analisar as principais fontes tributárias.
EMENDA CONSTITUCIONAL
A Constituição pode ser modificada por processo de emenda, desde que observado
o processo legislativo de iniciativa, aprovação e promulgação previsto no art. 60 da CF/88.
Percorrido todo esse processo, as emendas constitucionais incorporam-se às normas
constitucionais em igual hierarquia. Diante disso, qualquer alteração no Sistema Tributário
Nacional somente pode ser veiculada por meio de emenda, conquanto que observadas as
cláusulas pétreas (art. 60, §4º, CF/88).
LEI ORDINÁRIA
É a principal fonte criadora de tributos, tendo em vista que todo tributo somente
pode ser criado ou aumentado por meio de lei ordinária (art. 150, I, CF/88), ressalvadas
as exceções constitucionais. Sua aprovação requer quorum de maioria simples (art. 47,
CF/88).
LEI COMPLEMENTAR
Embora haja muita discussão doutrinária sobre a hierarquia das normas, o Supremo
Tribunal Federal tem entendido que, em matéria tributária, há hierarquia entre lei ordinária
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e lei complementar, ou seja, uma lei complementar só pode ser modificada ou revogada
por outra lei complementar.
Diante disso, pode-se dizer que o CTN tratando de matéria reservada à lei
complementar, segundo o art. 146, III da CF/88, estabelece normas gerais em matéria de
legislação tributária, especialmente sobre:
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É interessante lembrar que a lei complementar, embora não seja a regra, serve
também para instituir tributos, como ocorre nos arts. 148; 153, VII; 154, I e 195, §4º da
CF/88.
Tratados internacionais
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Outro ponto que chama bastante atenção da doutrina em geral é saber se o tratado
pode conceder isenção de tributos estaduais e municipais. Essa possibilidade é conhecida
também como isenção heterônoma.
Toda controvérsia surge, porque a Constituição em seu art. 151, III veda à União
instituir isenção de competência dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Todavia,
a orientação predominante é a de que a União, quando atua no plano interno, age como
um ente da federação, em que somente tem autonomia. Quando a União atua no plano
externo, celebrando tratados, ela age como a República Federativa do Brasil, ou seja, é
uma verdadeira representante dos Estados-membros, razão pela qual ela poderia conceder
isenção de tributos estaduais e municipais. Além disso, a Constituição ressalvou de forma
expressa a possibilidade da União conceder isenção para o ICMS (art. 155, §2º, XII, “e”)
e para o ISS (art. 156, §3º, II).
Decreto legislativo
Resoluções
São atos exclusivos do Poder Legislativo que têm importância no direito tributário
como fonte formal, na medida em que o Senado Federal poderá estabelecer alíquotas
mínimas e máximas do ICMS (art. 155, §2º, V, “a” e “b”, da CF/88).
Medida provisória
As medidas provisórias, que têm como seu antecedente o antigo Decreto-Lei, são
atos administrativos que a Constituição atribui força de lei, toda vez que o Presidente da
Republica entender que há caso relevante e urgente.
O art. 62, §1º, III vedou expressamente a edição de medida provisória sobre
matéria reservada à lei complementar, logo não cabe para: imposto sobre as grandes
fortunas (art. 153, VII, CF/88), empréstimos compulsórios (art. 148, CF/88), impostos
residuais (art. 154, I, CF/88) e contribuições residuais da seguridade social (art. 195, §4º,
CF/88).
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financeiras (art. 153, V) e o imposto extraordinário de guerra (art. 154, II). Portanto, não
cabe a instituição, por medida provisória, de taxas, de contribuições de melhoria e de
contribuições especiais.
No tocante à majoração do II, IE, IPI e IOF, verifica-se que a medida provisória é
um instrumento totalmente despiciendo, uma vez que a alíquota (elemento quantitativo
do fato gerador) pode ser majorada por decreto (art. 153, §1º c/c 84, CF). A base de
cálculo pode ser majorada por MP (art. 97, §1º, CTN), porém haverá a necessidade da
configuração dos requisitos da relevância e urgência.
Diante disso, pode-se concluir que o tributo reflete o poder de tributar do Estado,
que por sua vez é a expressão da soberania. Esta seria analisada intrinsecamente, a
parcela da liberdade que cada cidadão empresta para o Estado com o objetivo de alcançar
o bem comum por meio de um pacto social (Jean-Jacques Rousseau). Seria, portanto, o
pacto ou o contrato social, um autoconsentimento popular para a tributação, o que reflete
a democracia. Assim, a medida provisória editada pelo Chefe do Executivo para instituir
ou majorar tributos não estaria refletindo o poder de tributar do Estado, pois este somente
pode ser exercido pelos representantes do povo (art. 1º, parágrafo único, CF/88), por meio
do Poder Legislativo, cuja função é inovar no ordenamento jurídico como expressão da
vontade popular.
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Curso de Direito Tributário. 17ª ed., São Paulo: Saraiva, 2005. p. 73-74.
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Assim sendo, pode-se afirmar que o Imposto de Renda, após sua criação, passou
por três grandes fases, a primeira, instituído como imposto de guerra; a segunda, instituído
em períodos de dificuldades financeiras; e, a terceira, instituído como um imposto
permanente.
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A divergência entre os autores que entendem que existe e os que entendem que não existe um conceito
constitucional de renda, muitas vezes, é mais semântica do que substancial. Mesmo aqueles que afirmam que
não há um conceito constitucional de “renda e proventos de qualquer natureza” não admitem que o legislador
seja livre para tributar qualquer fato econômico com base no art. 153, III, da CF. Tome-se, por exemplo, a
opinião de Gisele Lemke sobre o assunto: “Roberto Quiroga Mosquera (Renda e Proventos de Qualquer Natureza)
sustenta a existência de um conceito constitucional de renda, ao qual se chega através de uma interpretação
sistemática da CF, com a utilização dos princípios constitucionais, sobretudo daquele da repartição constitucional
de competências. Essa posição, todavia, na verdade, não é muito diversa da nossa, tratando-se apenas de se
saber se o que se tem é um conceito aberto ou fechado. Para nós, o conceito é aberto, porque não contém todos
os elementos da definição de renda, deixando espaço para sua maior especificação pela lei complementar
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Com efeito, uma leitura atenta da Constituição Federal revela que esta estabelece
a incidência dos impostos ora sobre o patrimônio (imposto territorial rural, art. 153, VI;
sobre grandes fortunas, art. 153, VII; sobre a propriedade de veículos automotores, art.
155, I, c; sobre a propriedade predial e territorial urbana, art. 156, I), ora sobre a
circulação de bens e serviços (ICMS, IPI, ISS, II, IE, ITCD, ITBI), sobre operações
financeiras (IOF) e o imposto sobre renda e proventos de qualquer natureza. Da simples
repartição constitucional da competência tributária, vista em seu sistema, depreende-se
que renda não é sinônimo de propriedade, de circulação de bens e serviços ou de operações
financeiras. Já se vislumbra, portanto, um conceito negativo de renda, pois já se sabe o
que renda não é. Assim, o fato de se ter um imóvel, por exemplo, jamais poderia ser
definido legalmente como renda; do mesmo modo, o simples fato de vender uma
mercadoria ou prestar um serviço tampouco poderia enquadrar-se em uma definição legal
de renda. É claro que esses negócios jurídicos podem causar renda, mas não são, em si
mesmo considerados, renda.
Classificando os impostos com este enfoque, Paulo Ayres Barreto refere que, “ao
outorgar a competência tributária, o legislador constituinte poderia alcançar o patrimônio
de pessoas físicas e jurídicas de uma perspectiva estática (a sua manutenção como índice
de capacidade econômica) e de uma perspectiva dinâmica, tendo em consideração os
acréscimos patrimoniais verificados”. Assim, “analisando o rol de impostos cometidos à
competência tributária da União temos que: (I) o imposto territorial rural e o imposto sobre
grandes fortunas são exemplos característicos de atribuição de competência que toma o
patrimônio, a partir de uma perspectiva estática, como índice de capacidade econômica;
(II) os impostos de importação e exportação, sobre produtos industrializados e operações
de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários oneram o
patrimônio, a partir de uma perspectiva dinâmica, independentemente da ocorrência de
acréscimo patrimonial; (III) e, por fim, o imposto sobre a renda classifica-se como tributo
em relação ao qual o patrimônio é onerado, a partir de uma perspectiva dinâmica,
exigindo-se, para tanto, mutação que se constitua num acréscimo de patrimônio. Revelará
tributária. Mas o fato é que, como dizíamos, a premissa básica que Quiroga Mosquera adota é a mesma adotada
nesse trabalho, a saber, a de que o conceito de renda, em razão do princípio da repartição constitucional de
competências, é diverso do de patrimônio e do de faturamento, estando vinculado ao fato ‘acréscimo patrimonial’”
(in Imposto de renda: os conceitos de renda e de disponibilidade econômica e jurídica, São Paulo, Dialética, 1998,
p. 60, nota de rodapé n.° 1).
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Conforme FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário da Língua Portuguesa, ed. Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, pp. 445 e 528.
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Como foi visto acima, essa análise nos permite concluir que a Constituição Federal
estabelece uma conceituação mínima, por exclusão, da expressão “renda e proventos de
qualquer natureza”. Veja-se que essa análise independe de qualquer pesquisa acerca de
uma concepção leiga (isto é, aquela decorrente no senso comum) ou técnica (originária
das ciências econômicas) do que seria “renda e proventos de qualquer natureza”.
Por outro lado, também é importante observar que as palavras utilizadas no texto
constitucional, embora não possuam uma definição a priori, carregam em si um “núcleo
significativo básico”, ou seja, têm uma carga mínima de conceito que pode ser
compreendida razoavelmente por todas as pessoas. Se não fosse assim, seria impossível
a comunicação, porque a cada palavra utilizada deveria seguir-se uma explicação sobre o
seu significado, e assim por diante, em ciclo interminável.
5
BARRETO, Paulo Ayres, Imposto sobre renda e preços de transferência, São Paulo, Dialética, 2001, pp.
66/67.
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Não há equívocos, destarte, de que o legislador não possui liberdade absoluta para
estabelecer, ao seu bel-prazer, o que é ou não é renda e proventos de qualquer natureza.
Concordamos com Hugo de Brito Machado, ao afirmar que “o simples fato de haver na
Constituição vigente um dispositivo que atribui à União competência para instituir e cobrar
imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza, é bastante para autorizar a
conclusão de que o legislador não desfruta de inteira liberdade para definir o conteúdo
dessa expressão. Renda e proventos de qualquer natureza é expressão que limita o âmbito
de incidência de imposto federal. A não ser assim, ter-se-ia de ler a norma constitucional
como se esta atribuísse competência à União para instituir e cobrar imposto sobre qualquer
fato, a critério do legislador... E isso evidentemente não está inscrito na norma
constitucional”78.
Constituição Federal estabelece, em seu art. 146, III, “a”, que cabe à lei
complementar estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária,
especialmente sobre “definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos
6
ÁVILA, Humberto. Teoria dos Princípios, 3.ª ed., Malheiros, 2004, pp. 24/25.
7
MACHADO, Hugo de Brito, “A Supremacia Constitucional e o Imposto de Renda”, in Imposto de Renda –
Conceito, Princípios e Comentários, Ives Gandra da Silva (coordenador), São Paulo, Atlas, 1996, p. 44.
8
Por essas razões, compartilhamos a crítica que o citado autor faz sobre a utilidade do art. 110 do CTN (“A lei
tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado,
utilizados, expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas Constituições dos Estados, ou pelas Leis
Orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias”). Diz Hugo de
Brito Machado que o art. 110 do CTN tem um sentido meramente “didático”, e que, “ainda que não existisse,
teria de ser como nele está determinado”. In Curso de Direito Tributário, 14.ª edição, Malheiros, 1998, p. 82.
9
BARRETO, Paulo Ayres, Imposto sobre a renda e preços de transferência, São Paulo, Dialética, 2001, pp. 67 e
71.
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Desse modo, a lei (complementar, como exigido pela Constituição Federal) tem uma
certa área de discricionariedade para a definição de renda e proventos de qualquer
natureza, dentro do conceito genérico se pode deduzir da Lei Maior. A lei, por exemplo,
poderia restringir renda e proventos de qualquer natureza aos acréscimos patrimoniais
decorrentes de fontes produtivas duradouras (estabelecendo o critério permanência da
fonte como decisivo para a definição de renda e proventos de qualquer natureza), poderia
excluir o salário do conceito de renda (estabelecendo um critério de natureza da fonte),
poderia estabelecer que só é renda o acréscimo patrimonial que não é utilizado para a
manutenção da fonte produtiva (estabelecendo o critério da não-tributação do mínimo vital
– tornando obrigatória a dedução, para o cálculo do imposto de renda da pessoa física, de
todos os gastos do contribuinte com alimentação, saúde, habitação, etc), entre tantas
outras possibilidades. Poderia a lei estabelecer, também – como de fato estabeleceu o
Código Tributário Nacional, segundo será explicitado adiante – que renda é todo e qualquer
acréscimo patrimonial, independentemente de sua denominação, natureza ou origem.
A lei, assim, não pode estabelecer como fato gerador do imposto de renda qualquer
fato que não represente alteração patrimonial positiva, sob pena de inconstitucionalidade;
mas, dentro das inúmeras formas possíveis de acréscimo patrimonial, e sob os vários
ângulos pelo qual esse fenômeno pode ser analisado, o legislador tem uma margem de
escolha para estabelecer a definição legal do fato gerador do imposto sobre renda e
proventos de qualquer natureza, de acordo com as opções políticas prevalecentes no
parlamento.
O Imposto de renda por ser um imposto norteado pela personalização significa que
o legislador levará em consideração para o cálculo do Imposto de Renda as despesas
necessárias para a manutenção do contribuinte e de sua família. E mais do que isso, a
tributação será calculada de acordo com dados individuais. Esse princípio dá efetividade
ao aspecto subjetivo do princípio da capacidade contributiva. Então, dois contribuintes,
que tenham a mesma renda, podem ser tributados de maneira diferente, dependendo da
despesa que cada um tiver.
Por essa razão a base de cálculo, pela personalização, comporta deduções como
(Art. 4°, Lei 9250/95):
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O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) ajuizou, nesta segunda-feira (25), Ação Direta
de Inconstitucionalidade (ADI 4927), com pedido de liminar, questionando dispositivos da Lei 9.250/1995 (com
a redação dada pela Lei 12.469/2011) que estabelecem limites de dedução no Imposto de Renda da Pessoa Física
(IRPF) de despesas com instrução do contribuinte e seus dependentes. Segundo a OAB, a imposição de limites
reduzidos de dedutibilidade ofende comandos constitucionais relativos ao conceito de renda, capacidade
contributiva, da dignidade humana, da razoabilidade e o direito à educação.
A OAB questiona os itens 7, 8 e 9 do inciso II do artigo 8º da lei que fixaram os limites de dedução para os anos-
base de 2012, 2013 e 2014. Segundo a entidade, o teto de dedução para despesas com educação é irrealista. De
acordo com a lei, para o ano-base de 2012, o limite é de R$ 3.091,35, subindo para R$ 3.230,46 em 2013 e
atingindo R$ 3.375,83 a partir do ano-base de 2014.
A OAB argumenta que, embora não esteja defendendo a existência de uma vedação constitucional à fixação de
um limite razoável para dedução, “tampouco há um dever constitucional de limitar-se a dedutibilidade dos gastos
com educação na base de cálculo do IRPF, restrição aliás inexistente para as despesas com saúde e pensão
alimentícia”.
De acordo com a entidade, o objetivo da ADI não é discutir se seria aceitável, em tese, a imposição de um limite
de dedução de gastos com educação, desde que condizente com a realidade. Segundo os autos, até que nova lei
venha a ser editada, o teto para dedução desses gastos deixaria de existir, tal como ocorre para outras despesas
com saúde e pensão alimentícia.
“O que apenas se afirma é que [o limite] é inconstitucional, nos termos em que ora fixado. A procedência desta
Ação Direta, obviamente, não levará o STF a definir o teto de abatimento que entenda legítimo. Isso é tarefa a
ser empreendida pelo legislador, sempre sujeito ao controle judicial”, sustenta a OAB.
A OAB defende que a eliminação do teto de dedução para despesas com educação não prejudicaria a coerência
interna do tributo. De acordo com a ação, a dedutibilidade das despesas com instrução da base de cálculo do
IRPF não é favor fiscal sujeito ao arbítrio do legislador, mas consequência direta dos comandos constitucionais
referentes ao conceito de renda, da capacidade contributiva, da dignidade humana, do não confisco e o direito à
educação.
Em razão da data limite para entrega da declaração de ajuste do IRPF - 30 de abril -, a OAB pede a suspensão
imediata dos dispositivos da lei, por decisão monocrática do ministro-relator, a ser posteriormente submetida a
referendo pelo Plenário, ou a pronta inclusão do processo em pauta, antes mesmo de serem ouvidos a Presidência
da República e o Congresso Nacional e da manifestação da Advocacia-Geral da União (AGU) e da Procuradoria-
Geral da República (PGR).
A OAB defende que a concessão da cautelar antes do prazo final para a entrega da declaração permitirá que os
contribuintes façam a dedução total das despesas com educação na elaboração de suas declarações de
rendimentos e imporá à Receita Federal do Brasil que a considere de ofício ao processar as declarações recebidas
antes da decisão do STF, “tudo de forma a evitar desembolsos indevidos pelos particulares e a minorar a
necessidade de devolução de valores indevidamente arrecadados pela União”.
Fonte: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=234353 acessado em 01/11/2013.
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Na S.A isso não acontece. O fato da S.A ter apurado lucro não significa que seus
acionistas vão receber dividendos. A Assembléia Geral irá decidir.
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Ainda, o próprio Superior Tribunal de Justiça, reforçou tal entendimento através das
seguintes súmulas:
Súmula 125 STJ – O pagamento de férias não gozadas por necessidade do serviço
não está sujeito à incidência do Imposto de Renda.
Súmula 136 STJ – O pagamento de licença-prêmio não gozada por necessidade do
serviço não está sujeito ao imposto de renda.
Súmula 215 STJ – A indenização recebida pela adesão a programa de incentivo à
demissão voluntária não está sujeita à incidência do imposto de renda.
Súmula 498 STJ – Não incide imposto de renda sobre a indenização por danos
morais.
Tendo isso, percebe-se que para a caracterização do fato gerador do imposto de renda é
imprescindível a presença do aumento patrimonial, não proveniente de indenização ou
qualquer outra forma de reparação moral ou material, fatos que não configuram
disponibilidade econômica.
Dispõem o art. 153, §2°, I, CF: "O imposto previsto no inciso III [imposto de sobre
a renda e proventos de qualquer natureza] será informado pelos critérios da generalidade,
da universalidade e da progressividade na forma da lei.".
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O princípio segundo o qual, para o Estado, o dinheiro não tem cheiro que se traduz
na conhecida expressão pecunia non olet decorre da Universalidade. Aliomar Baleeiro
lembra que a cláusula surgiu a partir do diálogo ocorrido entre o Imperador Vespasiano e
seu filho Tito, quando este se pôs a indagar o pai sobre a razão pela qual se decidiu tributar
os usuários de banheiros públicos na Roma Antiga.
Presente o fato típico previsto na legislação tributária, o que importa é tão somente
a sua análise objetiva sendo irrelevante se o fato gerador do tributo decorre de uma fonte
lícita ou ilícita, de ato imoral ou não, de ato nulo ou anulável, criminoso ou não. Em outras
palavras, o Direito Tributário preocupa-se em saber tão somente sobre a relação
econômica relativa a um determinado negócio jurídico.
Com efeito, é possível inferir que a cláusula pecunia non olet está enraizada no
princípio da isonomia tributária consagrada no art. 150, inc. II, da CF/88. Ricardo Lobo
Torres esclarece que "se o cidadão pratica atividades ilícitas com consistência econômica,
deve pagar o tributo sobre o lucro obtido, para não ser agraciado com tratamento desigual
frente às pessoas que sofrem a incidência tributária sobre os ganhos provenientes do
trabalho honesto ou da propriedade legítima". 12 Assim, aquele que pratica atividades
ilícitas não pode ser invocar sua própria torpeza para furtar-se ao pagamento de tributos
a pretexto de que o fato gerador não se aperfeiçoaria diante das irregularidades cometidas
por ele próprio.
Para a legislação brasileira do Imposto de Renda, todos aqueles que auferem renda
ou de proventos de qualquer natureza poderão ser chamados a integrar o pólo passivo da
11
Baleeiro Aliomar. Direito tributário brasileiro. Atualizado por Misabel Abreu Machado Derzi, 11ª. ed., Rio de
Janeiro: Forense, 2007, p. 714
12
Torres. Ricardo LoboTratado de direito constitucional, financeiro e tributário - v. 2, Rio de Janeiro: Renovar,
2005, p. 372.
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E importante que a lei do Imposto sobre a Renda, na busca ideal de uma justiça fiscal,
leve a cabo algumas medidas concretas, que, por exemplo, seriam:
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Ate pouco tempo, a legislação regente do imposto sobre a renda de pessoa física
(IRPF) consignava, tão somente, duas alíquotas (15% e 27,5%). Em momento anterior,
ate 1995, havia também a previsão de uma terceira alíquota, de 35%.
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Até 1.787,77
-
Acima de 4.463,81
27,5
Em termos práticos, quem ganha ate R$ 1.787,77 continuara isento, e, deste valor
ate R$ 2.679,29, haverá uma nova alíquota, de 7,5%. Entre R$ 2.679,30 e R$ 3.572,43,
incidira a alíquota de 15%. Deste valor ate R$ 4.463,81 haverá outra alíquota nova, de
22,5%. Acima deste valor, esta mantida a alíquota de 27,5%.
Por outro lado, a iniciativa tem sofrido criticas, sob o argumento de que se deveria
buscar, efetivamente, a redução das alíquotas existentes, no lugar de trazer novos
percentuais intermediários.
Direito Tributário II
28
A base de cálculo sobre o lucro Real é aquela base de cálculo que se baseia na
capacidade contributiva efetiva, ou seja, na renda devidamente calculada. Para a pessoa
física essa base de cálculo equivale aos rendimentos líquidos, que são os rendimentos
brutos menos as despesas essenciais (indispensáveis) para a manutenção do contribuinte
e de sua família. Essas despesas essenciais traduzem, no IR, o mínimo existencial.
Numa perspectiva positivista, é possível dizer que a base de cálculo se traduz nos
rendimentos brutos menos as deduções previstas em lei. Todavia, essa visão não considera
a efetividade dos princípios constitucionais, como o mínimo existencial.
Para a pessoa jurídica esse montante real é representado pelo chamado lucro real.
O lucro real é o lucro líquido, mais as adições, menos as exclusões, menos as
compensações.
Lucro real é uma realidade definida pela lei tributária, já lucro líquido é uma
realidade definida pela lei societária, ou seja, é o lucro contábil. Nesta, o interesse
predominante é a preservação dos interesses dos acionistas (inclusive minoritários), sendo
assim, prevalece a tutela da autonomia da vontade. Já no Direito Tributário, prevalece o
interesse público tendente à arrecadação conforme a capacidade contributiva. Então, essa
realidade societária deve ser ajustada à realidade tributária. Assim, essas três espécies de
operações (adições, exclusões e compensações) são chamadas de ajustes.
Direito Tributário II
29
Adições são parcelas que embora não estejam integrando o lucro líquido, na forma
prevista na lei societária, introduzidas pela legislação tributária para o cálculo do lucro real.
Assim, adiciona-se ao lucro líquido aquilo que embora não seja previsto no conceito de
lucro líquido previsto na legislação societária se traduz em acréscimo patrimonial. Se não
significar acréscimo patrimonial, não pode integrar o lucro real (já que o fato gerador do
IR é o acréscimo patrimonial).
Admitindo que de acordo com a lei societária, os sócios da empresa que recebem a
indenização do seguro de um bem pertencente à empresa, resolvam distribuir entre eles
o valor dessa indenização, ao invés de adquirir outro bem; a lei tributária não poderá
adicionar esse recurso, pois ele tem natureza indenizatória, não podendo integrar o lucro
real, que se prende ao conceito de renda do artigo 43 do CTN.
Exemplo: a lei societária não obsta que os sócios convencionem que determinadas
despesas que não são indispensáveis à produção do resultado societário sejam deduzidas
como custo (aluguel, carro). Nesse caso, a lei tributária manda adicionar essas parcelas já
que elas estão inseridas no conceito de lucro real. Isso nada mais é do que distribuição
disfarçada de lucro, na medida em que não é indispensável para a produção do resultado
empresarial que a empresa custeie despesas particulares de sócios, como residência, carro
etc.
O lucro líquido parte de um conceito maior que é o de receita bruta que é tudo que
entra na empresa. Da receita bruta para lucro líquido deve-se deduzir apenas as despesas
indispensáveis à produção empresarial. Assim, ao se adicionar, deve-se adicionar aquilo
que foi subtraído da receita bruta e que não era indispensável.
Nesse diapasão, diz-se que o empresário não paga imposto porque a empresa já
pagou. Por exemplo, se dois sócios têm um restaurante que apurou um lucro de 100 mil
reais, quando eles repartem esse lucro entre si, este já foi tributado pelo IRPJ, por isso
não será novamente tributado. Quando o empresário recebe o dividendo, não há
tributação.
A exclusão retira aquilo que integra o lucro líquido, ou seja, que pode ser
considerado pela empresa para fins de distribuição de renda, mas que o legislador não
inclui no lucro real porque não pode e porque não quer. Não pode porque embora seja
lucro líquido, não se adequa ao conceito de acréscimo patrimonial, como por exemplo, a
indenização que o sócio resolveu distribuir como lucro, que integra o lucro líquido, mas não
pode integrar o lucro real já que tem natureza indenizatória. Assim, o legislador tributário
precisa excluir aquela distribuição de lucro porque não se adequa ao conceito de lucro real.
Quando o legislador não quer tributar isso se dá em virtude de incentivos fiscais, ou seja,
formas de dar isenção. Uma forma de isenção no IR é admitir a exclusão no lucro líquido.
O legislador pode, por exemplo, admitir a exclusão no lucro líquido das despesas que o
Direito Tributário II
30
contribuinte tenha para a preservação do patrimônio público. Isso é possível, embora tais
despesas integrem o lucro líquido, em virtude de uma razão extrafiscal.
Do ponto de vista ideal, o contribuinte não tem razão nessas alegações, isso porque
a compensação de prejuízos é um conveniente do ponto de vista econômico, mas, de
acordo com a jurisprudência (positivista) ela não é essencial para a capacidade
contributiva.
O direito à compensação pressupõe uma perspectiva de se ter lucro. Para que haja
compensação é preciso que haja prejuízo e lucro.
É uma discussão difícil, mas a posição dos tribunais superiores (STF e STJ) é de que
só deve ser compensado o que estiver e na forma definida em lei.
Para efeito da incidência do imposto sobre a renda, o lucro real das pessoas jurídicas
deve ser apurado na data de encerramento do período de apuração (Lei nº 9.430, de 1996,
arts. 1º e 2º).
Direito Tributário II
31
Cabe ressaltar que, sem prejuízo do balanço de que trata o art. 21 da Lei n° 9.249,
de 26 de dezembro de 1995, e art. 6º da Lei nº 9.648 de 27 de maio de 1998, e da
responsabilidade por sucessão, o resultado do período, que servirá de base para apuração
do imposto, nos casos de extinção, incorporação, fusão ou cisão da pessoa jurídica,
compreenderá os fatos geradores ocorridos até a data do evento.
Ademais, de acordo com o art. 2º da Lei 9430/96, pode ser realizado o pagamento
por estimativa. A pessoa jurídica sujeita a tributação com base no lucro real poderá optar
pelo pagamento do imposto, em cada mês, determinado sobre base de cálculo estimada,
mediante a aplicação, sobre a receita bruta auferida mensalmente, dos percentuais de que
trata o art. 15 da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995.
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32
Por outro lado, pode se verificar o lucro presumido que traduz numa técnica de
simplificação administrativa baseada na economicidade. Não é razoável que pequenas,
micro e médias empresas tenham uma despesa para a manutenção de uma contabilidade
que seja capaz de demonstrar o lucro real.
Assim, a legislação estabelece uma presunção de que quem teve x de receita bruta
terá y de lucro.
A lei diz que as empresas terão uma tributação de w sobre a receita bruta.
Não se conhece o lucro e nem há como conhecer, por isso parte-se para a
presunção.
Direito Tributário II
33
Somente empresas que tenham uma receita bruta até determinada faixa podem
optar pelo lucro presumido. Embora existam segmentos econômicos que não podem optar
pelo lucro presumido ainda que tenham receita bruta baixa, como, por exemplo,
instituições financeiras.
Sendo assim, não poderão optar pelo Lucro Presumido, por serem obrigadas a
apurar o Lucro Real, conforme art. 14 da Lei 9.718/98, as seguintes empresas:
Direito Tributário II
34
A opção é feita a priori, antes de se saber quanto será apurado naquele exercício.
O lucro presumido é bom para quem tem poucas despesas e ruim para quem têm muitas.
O contribuinte que não cumpre suas obrigações terá seu lucro arbitrado. Já que não
há elementos fáticos para apuração do lucro real é preciso partir para os elementos fáticos
disponíveis, como a receita bruta. Mas nada impede que o legislador busque outras
soluções, como por exemplo, numa empresa onde sequer a receita bruta seja estimada, o
legislador pode estipular como índice a folha de salários (isso deve estar na lei).
Direito Tributário II
35
O lucro arbitrado não pode ser considerado pena para quem não cumpre obrigação
acessória. A pena é a multa.
Direito Tributário II
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De acordo com o Decreto 9580/2018, art. 196, respondem pelos tributos das pessoas
jurídicas transformadas, incorporadas, fundidas, extintas ou cindidas:
Art. 196. Respondem pelo imposto sobre a renda devido pelas pessoas jurídicas
transformadas, extintas ou cindidas (Lei nº 5.172, de 1966 - Código Tributário Nacional,
art. 132; e Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 5º, caput):
IV - a pessoa física sócia da pessoa jurídica extinta por meio de liquidação, ou o seu
espólio, que continuar a exploração da atividade social, sob a mesma ou outra razão
social, ou sob firma individual; e
Parágrafo único. Respondem solidariamente pelo imposto sobre a renda devido pela
pessoa jurídica (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 5º, § 1º):
Direito Tributário II
37
Importa sublinhar que a responsabilidade se aplica por igual aos créditos tributários
definitivamente constituídos ou em curso de constituição à data dos atos supra referidos,
e aos constituídos posteriormente aos mesmos atos, desde que relativos a obrigações
tributárias surgidas até a referida data (RIR/2018, art. 196).
De acordo com o art. 197, decreto 9580/2018, a pessoa física ou jurídica que adquirir
de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial
ou profissional, e continuar a sua exploração, sob a mesma ou outra razão social, ou sob
firma ou nome individual, responde pelo imposto sobre a renda, relativo ao fundo ou ao
estabelecimento adquirido, devido até a data do ato (Lei nº 5.172, de 1966 - Código
Tributário Nacional, art. 133):
Direito Tributário II
38
O ICMS é uma derivação do antigo ICM, que por sua vez é fruto do velho IVC
(Imposto sobre vendas e consignações), existente até à emenda 18 de 65.
Com a emenda 18 foi criado o ICM, e com a CRFB de 88, o ICMS. O ICM é o imposto
sobre circulação de mercadorias.
a. Circulação de Mercadorias
b. Prestação de Serviços de Comunicação
c. Prestação de Serviços de Transporte Intermunicipal
d. Prestação de Serviços não incluídos na competência municipal, desde que em
conjunto com o fornecimento de mercadoria
e. Importação de bem
a. Circulação de Mercadorias
Direito Tributário II
39
Há formas de circulação e por isso deve ser determinado qual das espécies de
circulação se aplica ao ICMS:
Direito Tributário II
40
Muitos confundem o ICMS com o velho IVC, que era um imposto sobre vendas e
consignações. O ICMS é sobre a circulação de mercadorias. Logo, o fato gerador do IVC
era um fato gerador jurídico, já o do ICMS é econômico.
Nem sempre a circulação econômica será jurídica. É possível que haja circulação
jurídica e não haja econômica, por exemplo: uma cadeia de lojas da Mr. Cat; são franquias
pertencentes à franqueados diferentes, pessoas jurídicas diferentes. Se alguém vai
comprar um sapato na loja do centro da cidade, não tendo a loja aquele determinado
número, pede para a loja localizada na zona Sul (outro franqueado). Nessa operação há
saída de mercadoria na mesma fase da cadeia entre pessoas jurídicas diferentes. Não há
circulação econômica, somente circulação jurídica.
É possível até que haja circulação econômica e jurídica sem que haja circulação
física. Na lei Kandir há um exemplo disso:
Direito Tributário II
41
Direito Tributário II
42
Outro exemplo, oficina mecânica, no que tange às peças. Há mão de obra e peças.
É preciso estabelecer uma regra que possa dirimir o potencial conflito de competências
entre o Estado e o Município. A regra é a utilizada no art. 155, §2º, inciso IX, alínea b da
CRFB, o qual indica que incide ICMS:
Há uma terceira hipótese em que o serviço está na lista, mas há ressalva a cobrança
de ICMS sobre as mercadorias, como, ocorre na retífica de motores onde há o serviço
prestado e o fornecimento de mercadorias.
Nesses casos, o prestador vai ter que destacar na nota o valor da mão de obra e o
valor das mercadorias, como ocorre nas oficinas mecânicas. Por exemplo, numa
Direito Tributário II
43
concessionária, tem-se o valor das peças e o valor da mão de obra, porque se paga ICMS
sobre o valor das peças e ISS sobre o valor da mão de obra.
e. Importação de Bem
Direito Tributário II
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IX - incidirá também:
Nesse caso, o STF deu uma interpretação de que só haveria incidência de ICMS
sobre a importação caso o bem fosse destinado a um estabelecimento comercial. Então,
por exemplo, se uma loja de sapato importar um computador, segundo o STF incidiria,
porque o bem do ativo fixo estava sendo destinado a um estabelecimento comercial. No
entanto, se um consultório médico importasse o mesmo computador, para a mesma
finalidade, o STF entendia que não incidia tributação. Assim também, se o dono do
consultório médico ou da sapataria importasse o mesmo computador para ficar na casa
dele, também não haveria incidência.
Por uma interpretação literal é até possível identificar uma distinção de tratamento
à pessoa física da pessoa jurídica, já que a pessoa física não tem estabelecimento e a
Constituição menciona em estabelecimento. Todavia, quando o STF pronuncia que para
haver incidência essa pessoa jurídica tem que ser comercial e não prestadora de serviço,
está estabelecendo uma distinção que não se extrai da Constituição, e nem da natureza
das coisas, pois se aquele bem não é para vender, não importa se o estabelecimento é
comercial ou prestador.
Com a redação nova não há mais dúvidas, incidindo na importação feita pela pessoa
física ou jurídica, com ou sem habitualidade.
Direito Tributário II
45
Segundo o art. 155, §2, inciso XII, ‘c’, CRFB, cabe a lei complementar a definição
do regime de crédito, regime de compensação. A LC 87/96, embora tenha optado pelo
regime do crédito financeiro, o fez com limites e condições.
Direito Tributário II
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Segundo o art.155,§ 2º, inciso XII, ‘c’ da CRFB, cabe à lei complementar disciplinar
o regime de compensação do imposto. Ocorre que, a lei complementar não pode criar
limitações ao poder de tributar sob pena de ferir a autonomia dos Estados e Municípios.
Quem tem que dar renúncia de receita não é o legislador nacional, e sim o titular
da competência. A lei nacional só pode restringir a autonomia do titular da competência
quando a CRFB autoriza. O ICMS é um imposto em que a amplitude da lei complementar
é muito mais ampla do que nos outros impostos. A lei Kandir não se limita a estabelecer o
fato gerador, base de cálculo e contribuinte, estabelecendo uma série de detalhes que o
constituinte atribuiu à lei complementar com o objetivo de evitar a guerra fiscal.
Entre o regime do crédito físico puro (que não existe nem no IPI) até o regime da
compensação financeira máxima (que não existe nem no ICMS), é uma opção do legislador
complementar. Se isso fere a autonomia do Estado, foi a vontade do próprio constituinte
originário.
Direito Tributário II
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O ICMS incide nas várias fases da cadeia econômica. O primeiro da cadeia não tem
crédito, só tem débito.
Segundo o art. 155, §2o, inciso III, CRFB, o ICMS poderá ser seletivo, em função
da essencialidade das mercadorias e dos serviços.
Contudo, para evitar a guerra fiscal, a CRFB estabelece certos limites na imposição
dessas alíquotas.
Direito Tributário II
48
No art. 155,§ 2º, inciso IV, CRFB há atribuição de competência ao Senado Federal
para fixar alíquota na exportação, alíquota nacional e alíquota de operações interestaduais.
Para que haja operação interestadual é preciso que a operação se dê entre dois
comerciantes. Assim, quando um consumidor compra uma mercadoria pela internet que
vem do estado de São Paulo, não há uma operação interestadual, já que eles não são dois
comerciantes.
O inciso IV não diz que o Senado fixará alíquotas máximas e sim que ele vai fixar
alíquota, em resolução de iniciativa do Presidente da República ou de 1/3 dos senadores e
aprovada por maioria absoluta.
Assim, quando sair de um Estado pobre para um Estado rico, alíquota de 12%. De
Estado rico para Estado rico, 12%. De Estado pobre para Estado pobre, 12%. De Estado
rico para Estado pobre, 7%.
Direito Tributário II
49
Na verdade, não existe nenhuma das duas resoluções (nem a prevista na alínea a,
nem na alínea b), mas, por uma via obliqua, existe uma alíquota mínima (embora essa
resolução prevista não tenha sido editada).
Os Estados pobres entendem que a alíquota mínima para eles é 7%, mas esse
raciocínio não está correto porque quando a CRFB diz que a alíquota interna não será
inferior à alíquota interestadual deve ser considerada a regra, e não a exceção. Portanto,
a alíquota mínima em todos os estados é de 12%, abaixo disso, só mediante convênio.
Direito Tributário II
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87/15 para realizar uma repartição de alíquotas, quando houver aquisição de produtos que
destinem bens e serviços a consumidor final, contribuinte ou não do imposto, localizado
em outro Estado.
Dessa forma, temos os incisos VII e VIII do §2º do art. 155 da CF/88:
Direito Tributário II
51
não ocorrerá recolhimento do ICMS, o qual só será recolhido na saída futura, das fábricas.
Estas recolherão o valor relativo à sua operação (como contribuinte) à anterior substituída
(como responsável).
Assim, a montadora vai pagar o valor do imposto devido por ela e pela
concessionária. O dela (montadora) já se conhece a base de cálculo. Os custos como valor
do seguro, frete etc. também já são conhecidos. Contudo, o que não se sabe é a base de
cálculo da operação futura. Dessa forma, será estipulada uma base de cálculo presumida
por índice determinado pelo Estado como margem de valor agregado (MVA). Por esse
motivo, a LC 87/96 traz o seguinte mecanismo:
Direito Tributário II
52
Esse é um dos problemas mais sérios do ICMS, atualmente. A lei de que trata o
parágrafo é lei estadual. No caso, por exemplo, a montadora vai calcular o imposto devido
pela concessionária com base numa presunção de mercado: valor de mercado.
Ocorre que dificilmente o valor real atende a esse preço. Quando a CRFB trata do
fato gerador presumido ela estabelece uma presunção relativa, já que ela dispõe que
quando o fato gerador é presumido caso este não ocorra haverá restituição.
Se o fato gerador ocorresse sobre uma base de cálculo menor, deveria ser devolvido
à concessionária (substituído) o valor da diferença. Se fosse fato gerador maior, a
concessionária deveria pagar. Mas nem um nem outro acontece. Não paga porque o
convênio dispensa (favor fiscal), e não há restituição porque o STF não admite.
O STF fez uma interpretação do §7o, artigo 150 da CRFB no sentido de que só há
direito de restituição caso não ocorra o fato gerador. Se o fato gerador ocorrer sobre uma
base de cálculo menor, não haverá necessidade de devolver.
(...)
(...)
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Segundo o art. 155, § 2º, inciso XII, ‘d’ da CFRB, cabe a lei complementar regular
a forma como, mediante deliberação dos Estados e do Distrito Federal, isenções, incentivos
e benefícios fiscais serão concedidos e revogados.
A lei complementar nesse caso não é a lei Kandir, mas sim a lei complementar
24/75, a lei do CONFAZ.
Para conceder benefício fiscal é preciso votação unânime. Assim, se um estado votar
contra, não há convênio. Por esse motivo dificilmente o CONFAZ resolve alguma coisa.
O problema é que os estados não querem colocar a alíquota alta, eles querem
colocar a alíquota baixa para atrair as empresas. Então ocorre uma guerra fiscal
inconstitucional. Sendo assim, qualquer favor fiscal deve ser previsto em convênio.
Incentivo fiscal em sentido lato é tudo que alguém tem que não está na regra geral.
A regra geral é que todo mundo paga imposto no prazo de vencimento. Se a lei estabelece
alguma outra possibilidade, isso é favor fiscal.
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Mesmo com essa possibilidade o legislador não se exime a edição de normas com
dispositivos complementares a listagem, visto a possibilidade de atividade extremamente
diversificadas em relação as já existentes.
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Segundo a Constituição no art. 156, §3º, cabe à lei complementar fixar as suas
alíquotas máximas e mínimas.
A LC 116/03 fixou a alíquota máxima em 5% em seu art. 8º, inciso II. Ao passo
que a alíquota mínima esta prevista no art. 8º-A da própria LC 116/03, conforme:
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Outro exemplo, oficina mecânica, no que tange às peças. Há mão de obra e peças.
Assim, é preciso estabelecer uma regra que possa dirimir o potencial conflito de
competências entre o Estado e o Município. A regra é a utilizada no art. 155, §2º, inciso
IX, alínea b da CRFB, o qual indica que incide ICMS:
Há uma terceira hipótese em que o serviço está na lista, mas há ressalva a cobrança
de ICMS sobre as mercadorias, como, ocorre na retífica de motores onde há o serviço
prestado e o fornecimento de mercadorias.
Nesses casos, o prestador vai ter que destacar na nota o valor da mão de obra e o
valor das mercadorias, como ocorre nas oficinas mecânicas. Por exemplo, numa
concessionária, tem-se o valor das peças e o valor da mão de obra, porque se paga ICMS
sobre o valor das peças e ISS sobre o valor da mão de obra.
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8. SIMPLES NACIONAL
Por intermédio da Lei Complementar-LC nº 123, de 14/12/2006, foi instituído o
Regime Unificado de Arrecadação de Tributos e Contribuições- Simples Nacional, aplicado
à pessoa jurídica enquadrada na condição de Microempresa-ME e de Empresa de Pequeno
Porte-EPP.
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Ressalte-se que, para fins de enquadramento na condição de ME ou de EPP, deve-se considerar o somatório das
receitas de todos os estabelecimentos.
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Receita Bruta considera-se receita bruta o produto da venda de bens e serviços nas
operações de conta própria, o preço dos serviços prestados e o resultado nas operações
em conta alheia, excluídas as vendas canceladas e os descontos incondicionais concedidos.
(LC nº 123/2006, art. 3º e § 1º)
Verifica-se que, uma vez respeitados os limites de receita bruta, uma empresa pode
ser definida como ME ou EPP, porém estar impedida de optar pelo Simples Nacional, por
enquadrar-se nas vedações impostas pela LC nº 123/2006, ou mesmo, não estando
impedida, não optar pelo regime. “O fato de não poder ou não querer optar pelo Simples
Nacional não lhe retira a condição de ME ou de EPP.”
Neste caso, tem direito a todos os benefícios que a Lei destinou ao segmento, mas
está impedida de usufruir dos benefícios tributários.
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9. CONCLUSÃO
O direito tributário é a disciplina que estuda a arrecadação, ou seja, a obtenção de
uma fonte de receita derivada, onde o Estado busca recursos na esfera do patrimônio de
todas as pessoas. Por esse motivo, não há como fazer uma análise abrangente se não
passar pelo Sistema Tributário Nacional e pelas obrigações tributárias.
A relação jurídica entre o Estado e o contribuinte ou o responsável é uma relação
de direito público em que se verifica a supremacia frente aos interesses individuais, no
entanto o Estado tem limites de atuação, uma vez que direitos fundamentais devem ser
preservados.
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