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21 - Alpha & Omega (07) - Ainda sem título, será lançado em 2024
Avisos
Ele franziu a testa um pouco. Não, ela não era mais sua
inimiga. Sua aliada, então. Ela havia pedido sua ajuda, algo que até
mesmo sua Senhora raramente fazia, servo indigno de confiança
que ele era.
Ele tinha ajudado Mercy, talvez, e então ela tinha, ela tinha...
Feito alguma coisa com ele. Ele também não tinha certeza de como
chamar isso, porque parecia que ela o havia salvado até que os
efeitos passassem e ele entendesse que ela poderia tê-lo destruído. A
esperança era a mais mortal das emoções.
Ele não achava que ela era sua inimiga. Mas certamente não
era sua amiga.
Ele segurou o tecido de seda que era seu tesouro com cuidado.
Estava muito velho agora, embora não tão velho quanto ele, e ele
raramente o tirava de sua caixa protetora por medo de danificá-lo.
Ele o levou ao nariz e fingiu que ainda podia sentir o rico perfume
de jasmim que ele tinha para cobrir os aromas que os corpos
humanos saudáveis costumavam carregar antes dos banhos diários
- ou mesmo semanais. Ele sentia falta daqueles aromas; tudo
cheirava fraco e pálido para ele agora.
Este tecido frágil, um presente para a pessoa que ele havia
sido, era sua pedra de toque, um lembrete de que ele já havia sido
completo. Antigamente havia alegria. Ele estava se arriscando
deixando isso aqui, esse último fragmento de sua alma. Mercy era
imprevisível e levava o caos em seu rastro.
Ele não era um cristão, nunca tinha sido, que ele pudesse se
lembrar. Mas as palavras irônicas da oração das crianças vieram a
ele.
Eu queimo.
CAPÍTULO 01
“Mercy.”
“Lindo.” Eu disse.
Alguém abafou uma risada, mas não era Adam. Sua carranca
se aprofundou.
Eu não poderia ter puxado Adam para mim se ele não quisesse
vir. Ele era um lobisomem e eu não. Eu poderia ter me apoiado
nele, mas não precisei fazer nenhum esforço. Ele se abaixou e
roçou meus lábios levemente, com uma inclinação irônica de uma
sobrancelha que me disse que ele sabia o que eu estava fazendo,
mas ele estava disposto a jogar meu jogo.
“Ei, chefe.” Disse a voz casual de Warren, aquela que ele usava
quando pensava que não estava falando com um ser racional.
Olhei para ver que o caubói alto e esguio havia assumido uma
postura deliberadamente relaxada a cerca de três metros de
distância. Teria sido mais convincente se seus olhos não
mostrassem um toque de ouro. Alguns metros atrás dele, o bando
pairava em um agregado silencioso salpicado de lama.
*—*
Não seria vaidade dizer que não havia outro bando tão
conhecido quanto o nosso em lugar nenhum, pelo menos aos
olhos do mundo mundano. Adam, nosso Alfa, meu companheiro,
era reconhecível em qualquer esquina dos Estados Unidos. Isso
começou como um acidente de seus contatos no exército, sua
vontade de falar com agências de notícias e a boa aparência que
tinha sido a ruína de sua vida muito antes de ele se tornar um
lobisomem.
Mas foi minha culpa que todo o bando sofreu junto com ele.
A barganha com os fae fez das Tri-Cities uma zona neutra onde
os humanos poderiam conviver lado a lado com o mundo mágico
porque eles estavam protegidos. De repente, havíamos nos tornado
um ponto de interesse na política nacional, internacional e
sobrenatural - e havia consequências.
“Você pode não ter sido atingida na cabeça por uma abóbora.”
Disse Honey, com doçura adicional em sua voz. Ela sabia em que
tipo de problema eu estava metida. “É laranja, mas também
pequeno e duro, então temos certeza de que na verdade é algum
tipo de cabeça ornamental, e não uma variedade de abóbora.
Estávamos discutindo o assunto antes…”
Eu tinha certeza.
*—*
“Eu ouvi seus globos oculares rolarem.” Ele me disse, que foi
uma frase que ele usava para sua filha, que tinha sido a
imperatriz de revirar os olhos quando ela tinha treze anos.
Eu ri.
*—*
“Quando você está lidando com um grande lobo mau, você tem
que usar todas as armas que você tem.” Eu expliquei, abrindo a
água.
1
É uma palavra que significa "absurdo". É mais um ditado britânico do que americano.
Ele se afastou e encontrou meus olhos, seu próprio chocolate
escuro, as pupilas arregaladas de paixão. “Você me traz alegria.” Ele
disse claramente. “Eu nunca esperei isso. Eu não mereço isso, mas
estou reivindicando você para mim.”
*—*
“Muito.” Eu menti.
“Você não está com raiva.” Disse Joel, franzindo a testa para
mim como se eu fosse um suporte de motor recalcitrante, um
quebra-cabeça a ser resolvido. “Isso foi uma mentira.”
Tanto por ser mais fácil mentir para Joel do que para um dos
lobisomens. “Estou um pouco zangada.” Eu disse.
“Eu adoraria ter sido uma mosca na parede.” Disse ele. Antes
que ele pudesse dizer mais alguma coisa, alguém chamou seu
nome. Ele me deu um sorriso triste e se dirigiu naquela direção.
Mesmo assim, como Adam, ele teve alguns meses difíceis. Ele
ficou um tempo conosco, se recuperando de ser possuído por um
dragão de fumaça, voltando para sua casa apenas algumas
semanas atrás. Ele parecia estar bem, mas havia perdido cerca de
sete quilos que não precisava perder e não os estava recuperando.
“Não foi tão engraçado.” Disse ele, mas também estava rindo.
Ele não parecia nada perigoso.
Ela deve ter ido para casa - ou em algum lugar - para tomar
banho e se trocar também, porque ela estava arrumada de volta
ao seu jeito elegante de sempre, completa com calças e camisa de
seda. Ela era uma daquelas mulheres que sabia se maquiar de
forma que chamasse a atenção para seus traços e não para a
maquiagem.
“Ouvi dizer que demorou duas semanas até que eles pedissem
para ele prosseguir e retomar sua antiga frase.” Disse Honey.
Adam riu.
CAPÍTULO 02
“Olha quem fala.” Disse George, seus olhos indo para o meu
rosto machucado. “Levei corpos para o necrotério que foram
atingidos nesse mesmo local. Esse é um ponto fraco no crânio.”
Ele me deu um meio sorriso. “Eu gosto de ter você por perto.”
Parecia que Kyle poderia ter tomado essa decisão apesar das
objeções de Warren, embora isso fosse um pouco diferente dele.
Isso pode explicar a tensão extra que Warren estava usando esta
noite.
“Eu sou uma mecânica.” Eu disse a ele com falsa frieza. “Eu
tenho que dirigir um carro velho. São as regras.”
*—*
Cerca de vinte minutos depois, o bando começou a ir embora
sozinhos ou em pequenos grupos. Adam ficou parado na porta,
tocando cada um enquanto eles saíam. Às vezes ele os abraçava,
às vezes era um roçar de seus dedos em suas bochechas ou um
tapinha no ombro. Um bom líder de matilha sabia o que seus
lobos precisavam.
Bran sabia o que ia acontecer aqui? Ele sabia que nosso bando
se tornaria o centro das manobras políticas dos Fae antes de nós?
Porque Sherwood veio até nós não muito antes de eu fazer nossa
reivindicação territorial no noticiário nacional. Como Bran sabia?
E se sim, por que ele não nos avisou que seria forçado a nos
deixar (abandonar-me, alguma parte infantil de mim murmurou)
no frio sem a proteção do Marrok e de todos os lobos sob sua égide?
Eu não sabia bem o que ele era. Mas eu sabia que ele era
alguém, um Poder cujo nome seria conhecido. Alguém que alguns
dos lobos realmente velhos provavelmente conheceriam à primeira
vista. Tínhamos apenas alguns desses — Honey e Zack. A idade é
uma daquelas coisas que você simplesmente não pergunta, mas
depois de um tempo você sente. Eu sabia que Honey não sabia
quem era Sherwood, mas não tinha tanta certeza sobre Zack. Zack
sabia guardar segredos.
“Você é Shakespeare?”
Adam havia me dito, após nosso banho esta noite, que os laços
de posição da matilha o informaram que a memória de Sherwood
estava de volta. A reação de Sherwood me disse que ele estava
certo. Adam não tinha ideia de por que isso aconteceu, mas isso
não era o importante agora. Tínhamos em nossa matilha um lobo
que de repente se tornou muito, muito dominante.
Adam ofereceu a cadeira vazia que Ben tinha usado para Zack
de uma forma que me lembrou, como às vezes as maneiras de
Adam faziam, que ele era um produto de outra época. Havia algo
de protetor e galante na ação antiquada. Não tinha o ar de um
homem puxando uma cadeira para uma dama, mas não estava
longe.
Mas o tio Mike era velho. E eu tinha certeza de que ele sabia
quem era Sherwood, ou tinha sido. Aquele olhar... Ele olhou
primeiro para Sherwood e depois para mim? Eu não conseguia me
lembrar.
Adam olhou para Zack e para mim, então acenou com a cabeça
em direção ao jarro.
“Algo?” Perguntei.
Ele encolheu os ombros. “Algo. Alguém. Um velho inimigo. Por
sua morte, ele me libertou.”
Não era hora para histórias agora. Eu ligaria para Anna e veria
se ela sabia de alguma coisa.
“Eu te dei tempo para vir até mim.” Adam disse. “Mas você não
fez isso. Pelo bem do bando, eu não poderia deixar isso de lado por
mais tempo.”
Para esse fim, continuei: “Talvez tão curioso que poderia ter
palavrões no meio. Mas ele não vai dizer isso na minha frente.”
Ele não parecia Sherwood, pensei, mas o que ele disse ainda
soava familiar, como ouvir algumas falas de um filme antigo que
eu não conseguia identificar.
“Eu sei que você entende o que quero dizer.” Adam disse
impacientemente, sua voz um pouco rouca como a do lobo,
embora seus olhos ainda estivessem escuros. “Violência isolada é
diferente de genocídio. Uma batalha é diferente de uma guerra.”
Adam assentiu. “Lutar pela paz, eu sei o quão estúpido isso soa.
Eu lutei naquela guerra e não pareceu ajudar ninguém.” Ele
suspirou e tomou outro gole. Quando Adam falou novamente,
suas palavras tinham peso, embora ele falasse baixinho. “Eu sou
responsável pela minha matilha. Pela vida dos que moram no meu
território. Por aqueles que amo. Essa responsabilidade me dá o
dever de lutar pela paz”.
“Eu acho que pode ser o cerne da questão.” Adam disse, com
voz suave. “A politicagem dos Lordes Cinzentos nos deixa
operando no limite do que podemos fazer, com o fracasso não
sendo uma opção se nosso bando quiser sobreviver.”
Uma matilha não poderia ter dois lobos Alfa. Um deles teria
que se submeter ao outro, ou morreria.
Ou um Bran.
“Você sabe que não posso deixar você ir embora.” Disse Adam.
“Estamos apenas administrando nossa parte do equilíbrio que os
faes construíram aqui. Se o baralho falhar, todo o castelo de
cartas cairá e essa chance de paz desaparecerá. O bando não pode
permitir que você saia.”
“Permitir.” Sherwood mostrou os dentes.
Adam era um lutador muito, muito bom, e ele não achava que
poderia vencer o Sherwood Post com o qual agora compartilhava
um vínculo de matilha. Pela primeira vez, desejei não confiar em
seu julgamento.
“Se você quer o bando…” Adam disse. “Diga-me. Não vai mudar
o quanto eu luto... Mas pode mudar algumas das minhas escolhas
quando batalharmos.”
“Você sabe que não funciona assim.” Disse Adam. Ele poderia
estar respondendo aos meus pensamentos, mas estava falando
com Zack. Porque o outro lobo era submisso e tão frágil quanto
qualquer outro lobisomem que eu já conheci, a voz de Adam era
gentil.
Olhei para Sherwood para ter certeza de que ele não iria se
ofender. E todas as pequenas coisas que meu subconsciente
notou finalmente se juntaram e eu vi o que Zack tinha visto.
Magia.
“Fé.” Eu forneci.
Adam estava meio segundo atrás dele. Não sei quando Zack se
levantou, apenas que nós quatro ficamos parados por um longo
minuto, alertados pela reação de Sherwood. Mas ninguém fez mais
nenhum movimento. Não consegui sentir o cheiro de nenhuma
magia além da do tio Mike, mas confiei nas habilidades de
Sherwood em vez das minhas.
Nada aconteceu.
“Enxofre.” Eu concordei.
Marsilia era nossa aliada. Ela não era uma bruxa. Embora ela
fosse assustadora e não gostasse de mim, ela não aparecia em
meus pesadelos atuais. E ainda assim, olhando para aquele rosto
pálido e perfeito, não guardei minha arma. Isso não era típico dela,
e isso me preocupou.
Sem abrir os olhos, ela puxou o véu para baixo para esconder o
rosto novamente. Apenas com o rosto atrás da renda preta
esfumada ela virou cabeça totalmente em nossa direção. Eu vi o
brilho de algo que poderia ter sido seus olhos, embora fosse mais
vermelho do que marrom.
Foi a segunda vez que Wulfe subiu ao nosso quarto sem que
ninguém o visse. Na primeira vez, ele deixou um bilhete coberto
com adesivos de coração, do tipo que os alunos do jardim de
infância colocam nos cartões de Dia dos Namorados.
“Porque eu não gosto do jeito que Wulfe trata Aiden como uma
ameaça.” Eu disse sem rodeios. Eu não disse a ele que estava com
medo por Joel, porque isso não teria sido útil.
Mas foi uma breve pausa. Ela olhou diretamente para Adam, e
ele ficou tenso sob seu olhar, embora seu véu agora estivesse
quase opaco.
*—*
Quando saímos do edifício, ouvi Tio Mike voltar e trancar a
fechadura. A grande nova placa havia sido desligada, junto com o
resto das luzes exteriores do edifício. Havia um estacionamento para
funcionários do outro lado do prédio, então nossos veículos eram os
únicos que restavam no estacionamento principal. Eu verifiquei
meu telefone, e sim, era muito tarde.
A essa altura, era óbvio que Zack estava evitando dar um nome
à amiga que lhe contara a história. Havia muitas razões para
coisas assim, e as boas maneiras de um lobisomem significavam
não perguntar.
Eu sorri para ele. “Isso deve ser interessante.” Zack fez menção
de fechar a porta novamente.
“Mais uma coisa.” Adam disse. Zack esperou. “Há algo que eu
deva saber sobre Warren?”
*—*
Não achei que ela tivesse usado o enxofre para mentir. Eu não
poderia usar meu olfato para me dizer isso, mas meus instintos
eram de que ela estava dizendo a verdade absoluta. Até onde foi.
“A última vez que ouvi, ele ainda estava na Itália.” Disse ele.
“Mas minhas informações têm algumas semanas. Vou verificar
novamente. Eu acho que você está olhando para a escala certa.
Alguém poderoso o suficiente para virar o rabo de Marsilia e
possivelmente capturar ou manipular Wulfe.”
Eu estremeci.
“Se Zee vai assustar toda a sua ajuda, você deveria fazê-lo
contratar o próximo.” Adam me disse, não pela primeira vez.
Jesse nos contou sobre o carro porque ela não conseguiu tirar
a tinta antes de voltar para casa. Mas Izzy, que havia
testemunhado parte do restante do assédio, ligou para Tad e
contou a ele sobre tudo.
Não sei, não quero saber o que Tad fez, mas Izzy me disse que
as pessoas com os sinais só apareceram brevemente naquela
manhã e não reapareceram depois que Tad falou com elas.
Quando os três caminharam até o carro de Jesse no final do dia,
ele estava nas mesmas condições em que o estacionaram.
“Não.”
Adam a abraçou com força. “Está tudo bem.” Ele disse a ela, o
que era verdade até agora. Mas Jesse estava acostumada com isso;
seu pai tinha sido o alfa do bando desde o dia em que ela nasceu.
Aha, pensei. Eles estão namorando. Não é à toa que ela ligou
para Tad quando Jesse estava com problemas.
“Eu não acho que ele goste muito de seu antigo colega de
escola.” Tad murmurou com olhos risonhos. “O ciúme é uma coisa
terrível.”
“Foi tão ruim.” Disse Jesse. “Quero dizer, ainda pior do que o
habitual filme de terror ruim. O vilão, por nenhum motivo
discernível que eu pudesse imaginar, vestiu-se como um
espantalho, pegou uma foice de um velho celeiro nos fundos da
fazenda que acabara de comprar e começou a matar pessoas de
maneiras projetadas para serem as mais sangrentas e
repugnantes possíveis.”
“Ah, foi isso que ela disse.” Exclamou Jesse. “Eu não sabia
dizer do que ela estava falando. Bem, se eles sabiam que aquela
coisa estúpida era assombrada, por que a deixaram pendurada em
um celeiro? Por que eles simplesmente não queimaram o celeiro
com a foice dentro?”
“Tudo o que sei é que nunca vou recuperar aqueles cento e oito
minutos da minha vida.” Disse Jesse. “Tem certeza de que se
chama de foice de mão? Todos no filme o chamavam apenas de
foice.”
“‘Foice de mão’ não soa tão legal quanto ‘foice’.” Disse Izzy,
franzindo a testa para Tad.
“Infame.” Eu corrigi.
“Ela disse a você que a história era sobre Zee?” Perguntei. Jesse
assentiu.
“Eu avisei que meu pai não era apenas um velho mal-
humorado.” Disse ele a Izzy. “Eu disse a você que ele fez algumas
coisas terríveis.”
Eu queria dizer a ela que mesmo que Zee tivesse sido terrível
uma vez, ele não fazia mais coisas assim. Mas teria sido uma
mentira. Eu tinha certeza de que partes dos corpos dos Lordes
Cinzentos que mantiveram Zee e Tad cativos na reserva fae ainda
apareciam em lugares inesperados. Os fae, mesmo os poderosos,
começaram a ter um certo tom em sua voz quando se referiam a
Zee.
Não havia, pelo que eu ouvi, nenhuma joia que antes era um
globo ocular. Eu esperava que Tilly estivesse errada - enganada,
não mentindo - que aquela história fosse sobre Wayland Smith,
que não era a mesma pessoa que o Dark Smith de Drontheim, que
se tornou meu Zee.
Todos nós olhamos para ela. Zee era meu mentor, meu amigo,
e eu o amava. Mas ‘legal’ não era um adjetivo que eu usaria para
descrever o velho ferreiro mal-humorado. Ele poderia ser gentil,
sim, mas ‘legal’ implicava algo menos... Perigoso.
Izzy olhou para Tad e depois para longe. Ela olhou para Jesse e
evidentemente achou isso mais fácil. O rosto de Tad me disse que
ele também não estava feliz com a história de Izzy, mas não era
preocupação que eu vi ali; era raiva acumulada.
Tad não era alguém que exagerava. E não achei que ele
estivesse assustado com a história das taças de caveira. Ou talvez
ele estivesse. As taças de caveira não foram a única coisa que
Wayland Smith fez nessa história.
“Ele me perguntou se estávamos namorando.” Disse Izzy a
Jesse. “Eu disse a ele que sim. E ele sorriu para mim como se
estivesse feliz com isso.”
Ele sorriu para ela, mas seus olhos estavam fechados. “Eu
disse a você que poderia haver algumas vezes como esta.” Ele
olhou para Adam e para mim, olhou de relance para Jesse e
colocou a mão leve sob o cotovelo de Izzy.
“Tudo bem.” Disse ela. Quando eles saíram pela porta da frente,
ela se virou e disse: “Boa noite, Jesse. Boa noite, Sr. H. e Sra. H.
Vou dar o seu pedido à minha mãe. E…” Ela fez uma pausa do
outro lado da porta. “Estou feliz que vocês conseguiram sair vivos
de novo.”
“Eu também.” Disse Jesse. “Estou feliz por vocês terem saído
vivos de novo também.”
“Eu sei.” Jesse disse culpada. “Eu não deveria ter contado a
estúpida história das joias para ela esta noite. Acho que minha
cabeça ainda estava presa naquele filme de terror e na
preocupação de que meu pai estaria morto quando eu chegasse
em casa.” Ela fez uma pausa. “E tenho pensado naquela história
da caveira desde que Tilly me contou neste fim de semana.”
“Espero que sim.” Jesse voltou sua atenção para Adam. “E você
está realmente bem?”
Jesse teve uma queda por Samuel quando ela era mais jovem, e
os efeitos persistiram. Mas, em vez de abordar o assunto de
Samuel ou Sherwood, ela perguntou: “Então, qual é a nova
situação que pode terminar em morte e destruição?”
Eram duas da manhã, mas Stefan era um vampiro. Ele não era
mais um dos vampiros de Marsilia, mas eles tinham laços que
remontavam ao Renascimento italiano, quando ambos eram
humanos. Ele também estava de olho em Wulfe uma vez que o
outro vampiro decidiu começar a me perseguir.
“Vou tentar a casa.” Eu disse. Não gostei que ele não tivesse
respondido. O telefone da casa foi atendido após quatro toques.
“Alô?”
“Vou ligar de volta para Tad.” Disse Adam. “Assim que ele
chegar aqui, iremos para a casa de Stefan.” Ele franziu a testa
para mim. “E você tome mais uma aspirina. Não faz sentido estar
exausta e com dor.”
*—*
“Sua casa seria um upgrade.” Disse Adam. “Mas viver tão perto
pode nos levar à luta que evitamos por pouco. Vou perguntar e
confiar em seu julgamento.”
“Pare de rir.”
“Eu também te amo.” Ele respondeu. “Por que isso fez você rir?”
“Pensei que você tivesse ajeitado para ele dirigir de novo.” Disse
Adam.
Olhei por cima do ombro para a estrada que passava pela casa
de Stefan. Era bastante movimentada, mas a essa hora da
madrugada, quando a escuridão dominava, não havia ninguém
por perto. Tirei rapidamente minhas roupas e mudei de forma
enquanto deixava cair minha calcinha no chão. Ao contrário dos
lobisomens, minha mudança era indolor e virtualmente
instantânea.
Senti uma garra se prender no tecido que rasgou e torci para
que fosse minha calcinha. Eu estava usando uma camisa nova
que minha irmã mais nova me mandou no aniversário dela. Eu
geralmente dava algo a ela no meu aniversário também. Não me
lembro quando começou ou por quê, mas agora era uma tradição.
Esta camisa era uma camiseta que dizia Quando o apocalipse
zumbi vier, lembre-se de que sou mais rápido que você em letras
que brilham no escuro.
Não importava que eu tivesse tentado fazer isso com ele alguns
minutos atrás. Minha respiração engatou como se algo estivesse
apertando minha garganta. E se ele pudesse ler minha mente o
tempo todo?
Ele não mentia para mim, isso era verdade. A maioria dos
lobisomens para de se preocupar com mentiras porque qualquer
outro lobisomem e algumas das outras criaturas sobrenaturais
podem sentir uma mentira. Eu posso. Adam não mentia nem
mesmo sobre coisas muito dolorosas. O lembrete de que ele iria
me contar o que sabia me permitiu permitir que nossos laços,
matilha e acasalamento, caíssem levemente sobre mim novamente.
Assim que parei de lutar, pude respirar.
Isso não quer dizer que ele não era assustador. Seus olhos
estavam em mim, brancos e sem pupilas, como foi a única vez que
o vi vivo. Ou tão vivo quanto os vampiros, de qualquer maneira.
Ele estava, como antes, meio faminto e frágil, seu cabelo apenas
uma barba por fazer no globo pálido de seu couro cabeludo
raspado. Lágrimas escorriam lentamente por seu rosto sem
emoção.
Adam deu dois passos à frente para poder ver melhor a cozinha
e a sala de jantar. Eu teria começado a ir para a cozinha, mas os
olhos caídos de Daniel encontraram os meus. Ele não era, não
tinha sido, um dos fantasmas que interagiam com o mundo real,
então fiquei surpresa quando ele olhou de mim para o teto
abobadado.
Meu alfanje não era a versão de lâmina grossa que ficou famosa
em desenhos animados e filmes ruins de piratas, embora fosse
robusta o suficiente. Sua lâmina era ligeiramente curva e curta o
suficiente para que pudesse ser usada de perto, como em um
navio pirata. Zack me disse que eles a escolheram porque o
comprimento combinava com o meu braço e também porque era
um prêmio por ganhar o jogo de computador pirata pelo qual todo
o bando era obcecado.
2
Shelob é um monstro fictício na forma de uma aranha gigante de O Senhor dos Anéis de J. R. R.
Tolkien. Seu covil fica em Cirith Ungol levando a Mordor. A criatura Gollum deliberadamente leva o
Hobbit protagonista Frodo lá na esperança de recuperar o Um Anel, deixando Shelob atacar Frodo.
Stefan.
Ela era mais magra do que um ser humano vivo poderia ser,
com cabelos grisalhos que caíam ao redor dela em longas tranças
com pequenas contas pretas entrelaçadas nelas. Suas mãos
tinham dedos anormalmente longos e pontas pretas, e ela tinha
seis dedos em cada mão.
*—*
Eu fiz, claro.
Larry disse: “Eu matei a tecelã, e ela era a única viva aqui
embaixo. Ou no resto da casa. Minha observadora me disse que
uma van branca alugada estava aqui ao pôr do sol, e o pessoal de
Stefan partiu nela.”
“Todos eles?”
Adam disse: “Você pode vir conosco. Ou posso ligar para você
enquanto dirigimos até lá ou enquanto voltamos para casa
depois.”
Adam disse: “Tudo bem. Iremos para nossa casa.” Adam olhou
para Larry. “Gostaria de uma carona?”
*—*
Larry estava sentado nos degraus da frente quando chegamos.
“Nós não falamos com ele.” Disse Adam. “E ter você lá pode ser
uma ideia melhor. Podemos incluir o aluguel como parte do seu
salário.”
“Acho que eles ainda estão surpresos por ela não gostar deles.”
Disse Tad em um tom azedo que me lembrou forçosamente de seu
pai.
Tad sorriu para Larry. Para mim, ele disse: “Posso me mudar
no sábado.”
“Anna.” Eu disse a ele. “Não faz muito tempo, ela ainda pode
desaparecer. Eu não sei o quanto você vai ver e ouvir, mas ela está
lá toda vez que eu entro. Ela assustou a senhora do HVAC na
semana passada.”
“Ok.” Eu concordei.
Larry deu de ombros. “Eu acho que ele estava guardando sua
casa de mim. Eu poderia ter acalmado sua mente, talvez.”
Foi um aviso.
Ele sorriu para mim com os dentes à mostra, mas quando falou,
sua voz era um sussurro. “A filha do Coiote mudou sua matilha,
Adam Hauptman. Ela mudou você. O Bando Bacia-Columbia está
repentinamente cheio de heróis que enfrentam qualquer um para
proteger os inocentes, os indefesos e até os inimigos.” Ele fez uma
pausa. “Até goblins. 'Pode ser certo', na verdade.”
Larry inclinou a cabeça. “Meu goblin que vigia aqui não o viu.
Infelizmente, isso não é incomum com Wulfe. Tem certeza?”
Não contei a ele que Stefan havia levado uma pessoa com ele e
se teletransportado de Spokane para as Tri-Cities. Isso parecia o
segredo de Stefan. Eu precisaria dormir um pouco antes de decidir
compartilhar os segredos de Stefan com Larry.
“Eu não queria perguntar com Larry por perto.” Disse ele. “Mas
eu tinha certeza de que você não estaria sentada conversando se
ele tivesse ido.”
“Eu não sei de mais nada.” Eu disse a ele. Ao contrário do
vínculo de acasalamento que compartilhava com Adam, o domínio
do vampiro sobre mim não era um vínculo entre iguais.
“Você quer dizer, por que Stefan não está puxando o vínculo e
seu poder sobre mim e arrastando minha bunda para onde quer
que ele esteja?” Eu me mexi para colocar alguma distância entre
nós. Pensar em estar vinculada a Stefan me deixou claustrofóbica.
“Eu tenho que assumir que é pelo mesmo motivo que ele não
apareceu aqui.” Stefan já havia aparecido na minha sala antes.
Ele me fez fazer coisas também. Principalmente coisas que
salvaram minha vida ou a dele, mas a ideia de que Stefan poderia
forçar sua vontade em mim fazia minha pele arrepiar. Terminei
com um: “Não faço ideia.”
“Ela gosta mais de você agora.” Disse Adam. “Ela me disse que
gosta de ver você espalhar o caos sobre os planos de outras
pessoas.”
“Se ela pensasse que Wulfe era alguém que precisava ser
parado…” Adam disse cuidadosamente. “Ela nos pediria para
detê-lo. Em vez disso, ela nos enviou para encontrá-lo.”
“Não sei. Nem ele.” Adam me disse. “Se ele não estivesse tão
confuso sobre isso quanto você, ele faria algo mais direto do que
segui-la e dar-lhe presentes inapropriados. Até que ele descubra,
ele não vai te machucar. E isso…” Ele me abraçou com força.
“Coloca-o bem abaixo na lista de coisas de que tenho medo.”
Pela aspereza de sua voz, entendi que havia coisas das quais
ele tinha medo, coisas sobre as quais não queria falar. Como o
fato de que nós dois estávamos preocupados com a maldição
persistente de Elizaveta. Que Sherwood ainda poderia ser um
problema, mesmo que ele fosse um Cornick. Que nosso bando
pode não estar à altura da tarefa de proteger nosso território, e
nossa falha em fazê-lo pode terminar em uma guerra, com os
humanos acabando com qualquer sobrenatural que possam
encontrar.
*—*
Eu estava sonhando.
“Mercy.”
Olhei para o céu, que era aquele azul cerúleo brilhante de que
os artistas tanto gostam. Mas não consegui localizar o sol.
Fiz menção de me levantar para ir até ele, mas ele ergueu a mão.
“Não.”
“Eu não acho que isso funcionaria.” Stefan me disse com uma
voz distante. “Eu não acho que alguém poderia fazer você matar
Adam.” Ele fez uma pausa. “Exceto, talvez, o próprio Adam, se ele
te deixar louco o suficiente.”
Eu olhei para ele. Não havia nada de errado com seus olhos.
Eles eram do mesmo marrom rico de sempre, alguns tons mais
claros que os de Adam. Meu ataque de pânico havia parado.
Apenas parado. E me perguntei se ele havia me dito para não ter
medo. E não lembrar que ele me disse isso.
“Stefan.” Eu disse.
Eu fiz uma careta para ele. “Como você sabe que eu fui na sua
casa?”
Ele riu, e desta vez soou como sua risada, embora um pouco
cansada. “Macaroons3.” Ele me disse. “Macaroons são os
enfadonhos com todo o coco.”
“Eu não me importo com o piano.” Disse ele. “As coisas podem
3
Macaron ou macaroon, é um pequeno bolo granulado e comumente produzido sob forma
arredondada de 3 ou 5 cm de diâmetro, especialidade de Lorraine, na França.
ser substituídas. Até livros.” Ele estava franzindo a testa para mim.
Ele se inclinou para o lado, dando uma olhada melhor no meu pé
pendurado. “O que há de errado com o seu pé? Seus pés? Por que
você está mantendo eles para o lado de fora?”
“Ok.” Eu concordei.
“Dê-me o outro.”
*—*
“Então. o que você acha que foi?” Adam perguntou, quase uma hora
depois, enquanto guardava as panelas que usara para fazer o café
da manhã.
“Eu irei com você. Depois devemos reunir alguns dos lobos e
ir…” Ele parou de falar quando o som de um carro do lado de fora
chamou sua atenção. Ele olhou para mim.
*—*
Bom para Sandy, quem quer que seja, pensei, quando ela
parou de falar. E isso significava que Sandy havia desaparecido e
tínhamos quatro bruxas desaparecidas? Ou algo mais aconteceu
com ela? Ou era ela quem sabia sobre as bruxas desaparecidas?
“Desculpe.” Ela disse, sua voz apertando até que fosse quase
um sussurro.
Ela ergueu o queixo e olhou para mim. Ela ergueu uma mão
em minha direção, com a palma primeiro, e senti uma leve cócega
de magia deslizar sobre mim. Então ela fechou os olhos e assentiu.
George a cutucou.
“Uma bruxa negra, talvez?” Geena arriscou. Era óbvio que ela
realmente não sabia. “Sandy diz que Katie era uma bruxa cinza,
mas não poderosa, nem mesmo média pelos padrões das bruxas
brancas. E Sandy disse que o quarto parecia errado. Ela é sensível
a coisas assim.”
“Sim.” Eu disse.
Isso parecia ser o que ela precisava. Quando ela continuou, sua
voz estava mais firme. “Mas se Ruben fugiu, ele deixou tudo para
trás, não contou a ninguém e derrubou a mesa da sala de jantar
no processo. Isso foi há cerca de quatro semanas. Ligamos para a
família dele, um do meu grupo é uma espécie de primo dele. Eles
vieram e limparam seu apartamento, mas nenhum deles tinha
ouvido falar dele. Não que eles fossem admitir, de qualquer
maneira. Provavelmente, se não fossem os outros dois, ninguém
teria pensado muito em seu desaparecimento.”
“Ele está certo.” Disse Geena. “Pode haver mais. Estes são os
que ninguém achou que fugiriam. A terceira bruxa foi Millie
Sawyer.”
Isso foi uma coisa interessante para ele fazer. O mais comum
era encobrirmos crimes que tínhamos certeza de que envolviam
apenas a comunidade sobrenatural. Eles eram muito perigosos
para a aplicação da lei humana.
“Não.” Ela disse. “Claro. Você deveria tê-las.” Ela fez uma
careta. “Coisas feias.”
Adam riu. “Eu entendo o seu ponto, no entanto. Não falei com
ninguém esta manhã. Entrei em contato com Darryl cerca de duas
horas atrás, dei a ele a história e disse a ele para garantir que ela
viajasse pelo bando.
“Bruxas brancas são vítimas perfeitas, não são?” Ele fez uma
careta. “Não é uma surpresa perder alguns, não é uma surpresa
vê-los fugir. Nem nos preocupamos em procurá-los quando
desaparecem.”
Adam assentiu. “Isso é certeza. O que você pode nos dizer sobre
o assassinato de ontem à noite?”
Eu fiz uma careta para ele. “Não há nada de errado com meus
pés.”
Ele secou as mãos e olhou para mim. “Não consigo evitar como
isso soa, Liebchen.”
“Você.” Ele disse. “E você.” Ele olhou para Adam e depois para
George. “Saiam e atendam o telefone. Mantenham as pessoas que
vêm me incomodar—”
“Eu não posso fazer isso.” Zee me disse com uma careta. “Sem
um pagamento.”
*—*
“Não.” A voz de Zee era firme. “Eu não acabei. Fique onde está,
George.”
Nas minhas costas, George enrijeceu ao ouvir o tom de Zee,
mas não disse nada. Eu me perguntei o que havia deixado o velho
fae de tão mau humor. Agora que eu estava pensando com mais
clareza, tinha sido estranho para Zee ser tão abrasivo antes. Eu
esperava que Adam se ofendesse, mas Zee geralmente não saía de
seu caminho para forçar assim. Ele gostava de Adam e entendia o
papel de um lobo Alpha.
“Ainda bem que meu cadáver não vai dar à luz a aranhas de
seis patas.” Eu disse a Zee, minha voz rouca, que era o mais perto
que eu poderia agradecê-lo.
“Sim.”
“Então…” Disse Zee. “Eu disse a você que tenho uma adição à
história que Mercy me contou. Ela disse que o dono da mercearia
viu o Ceifador, o vilão do filme de terror, pelo espelho retrovisor?”
“Sim.” George disse. Pelo tom de voz, ele ainda estava irritado
com a grosseria de Zee.
“E daí?”
“Na verdade, o filme ainda não abriu.” Eu disse a ele. “Você viu
ontem à noite?”
“Você não vai fazer nada com ela sem falar comigo sobre isso.”
Eu interpretei. “E se eu disser para deixá-la em paz, você o fará.”
Havia tanta simpatia em sua voz que virei o pescoço para poder
vê-lo.
“Você não seguiu Jesse por aí.” Eu disse. Adam não respondeu.
E foi por isso que ele desistiu quando o confrontei sobre Izzy.
Tad também sabia sobre a coisa do carro. Eu relaxei ainda mais.
Zee não podia fazer nada com Izzy sem que Tad descobrisse. E
isso deixou Izzy muito mais segura.
“Você ia nos contar sobre o Ceifeiro?” Eu sugeri.
“Ja, gut.” Zee disse. “No filme, essa foice de mão leva o homem
a matar, e depois a perseguir e matar de maneiras cada vez mais
elaboradas, ja?”
“Havia tal foice de mão.” Zee disse pesadamente. “Não sei como
veio parar aqui, neste lugar. Mas cerca de quarenta anos atrás,
algum maldito garoto idiota a encontrou, ou a recebeu. Esta foice
de mão é senciente, como sua bengala, Mercy. Mas é mais do que
isso. Ele recruta as pessoas para o seu propósito. Esse garoto
começou a matar pessoas.”
“Olá?” Eu disse.
“Stefan?” Perguntei.
“Você não teria ouvido falar disso.” Zee disse. “A maioria das
vítimas nunca foi denunciada, como suas bruxas desaparecidas.
Acho que houve relatórios oficiais sobre três, embora tenham sido
destruídos. A situação foi administrada para que nada fosse
divulgado e o oficial de investigação foi silenciado.” Zee franziu o
cenho. “Não gostei dessa parte. Ele era um bom homem fazendo
um trabalho duro, e a maneira como ele se aquietou foi grosseira.
Ele largou o emprego logo depois.”
“Eu deveria ter ouvido falar disso.” George disse com certeza.
“Com ou sem papelada, as pessoas viram os corpos. Quem abafou
fez um bom trabalho.”
“Sim.” Zee disse. “Temos um filme. Com base nas histórias que
um velho policial contou a seu neto. Fora dos traços gerais, um
assassino controlado por uma foice de mão amaldiçoada. O filme é
completamente fictício.”
Ele assentiu, mas não parecia feliz com isso. Filmes de terror
do tipo de assassinatos sangrentos não eram comida saudável
para um lobisomem. Barulhos repentinos, muita tensão e um
teatro lotado de pessoas carregadas de medo eram uma receita
para o desastre.
Olhei para Zee. “Você gostaria de vir conosco para olhar uma
cena de crime?”
“Você vai ficar aqui.” Adam me disse com firmeza. “Seus pés
estão doendo.”
*—*
Eu pensei que era algo sobre a maneira como o jovem foi morto
que criou a sopa mágica que me inundou. Tentei me livrar disso e
conseguir algo sobre o assassino.
Pensando nisso, ouvi uma nova voz falar baixinho. Tony chegou
aqui vindo da cena do crime de Kennewick.
Esta loja não era como a Costco ou algumas das outras lojas de
armazéns que colocam prateleiras suspensas para armazenar
mercadorias. Mas o topo da prateleira ainda estava bem alto,
alguns metros acima da altura da cabeça. Não realmente fora de
vista, mas havia muitas criaturas mágicas que poderiam
permanecer invisíveis se fossem o suficiente. Lobisomens podiam.
Eu tinha certeza que os vampiros também podiam.
Eu não sabia por que eles não tinham acabado de entrar pela
porta aberta.
...um jogo...
Ou talvez eu saiba.
CAPÍTULO 09
ADAM
Ainda assim, saber que deixar Mercy quando ela pediu era a
coisa certa a fazer não tornava as coisas mais fáceis.
Tremendo.
Nem ele nem seu lobo estavam felizes com ela sozinha no SUV.
Algo mais bestial que seu lobo ganhou vida e trouxe um rosnado
subindo de seus lábios. Ele parou antes que se tornasse audível.
Mercy ainda acreditava que Elizaveta, a bruxa, havia criado a
besta malformada. Mercy pensou que quando ela quebrasse a
maldição da bruxa, a criatura maligna - que se parecia com seu
lobo como um tanque se parecia com o amado e falecido Rabbit de
Mercy - deveria ter ido embora. Quando demorou, ela decidiu que
só precisaria de tempo para desaparecer.
Elizaveta pode ter dado forma, mas aquela besta era dele por
mais tempo do que Mercy era viva, nascido quando um menino
temente a Deus, que pensava que o mundo era principalmente um
bom lugar povoado principalmente por boas pessoas, encontrou
uma guerra no Sudeste da Ásia. Adam criou aquela fera para se
proteger e a usou para percorrer cenas de tanto horror que,
mesmo tendo vivido como um lobisomem por meio século, as
memórias ainda apareciam em seus piores pesadelos. Adam havia
usado a besta para seguir ordens que nenhum ser moral seria
capaz de cumprir, porque ele sabia que essas ordens eram as
corretas, por mais horríveis que fossem.
Adam tinha certeza de que desta vez estava aqui para ficar. Por
um momento, ele se lembrou de uma noite na oficina de Mercy,
quando a besta o pegou de surpresa e se libertou.
“Ela não precisa disso.” Disse Tony com firmeza. “Ela está
armada. Ela é perigosa. E ela está sentada no estacionamento do
centro de justiça criminal, não em um antigo cemitério no meio da
Transilvânia.”
“Eu precisava disso.” Mercy disse, sua voz abafada nas dobras
de seu casaco. “Obrigada.”
“Você quer me dizer o que há de errado?” Ele perguntou.
“Ele está usando algum tipo de magia que protege seu cheiro?”
Adam especulou. “Mas você o seguiu de qualquer maneira.” Ele não
estava duvidando de sua afirmação, ele não foi capaz de sentir o
cheiro do assassino ele mesmo. Mas ele sabia como era uma caçada,
e ela estava em uma trilha.
Ele esperou.
Em voz baixa, ela disse: “Acho que o trouxe comigo. Acho que
afundou suas mandíbulas em mim quando quebrei a teia da coisa-
aranha, e está comigo desde então.”
“Você acha que isso está ligado aos espinhos que Zee tirou de
suas mãos e pés?” Ele perguntou.
“Ele quer falar com você também.” Disse Adam. “Mas volte
para a parte do abismo que você acha que tem suas garras cravadas
em você, e que também está ligado ao assassinato daquele garoto.”
Ela deu de ombros. “Eu disse que era estranho. É estranho.
Eu não sei como descrevê-lo. É algo com vontade e poder e...” A voz
dela ficou tensa. Ela não terminou esse pensamento. “O que eu
estava seguindo, o rastro do assassino, era um rastro que ele deixou
para trás.”
“Zee nos disse que a foice de mão, aquela que ele veio aqui
procurando, era senciente.” Adam comentou. “E se o que você está
sentindo for essa foice de mão?”
Ele não duvidou nem por um minuto que ela estava certa. Sua
magia, uma dádiva do Coiote, era exatamente como qualquer dádiva
que um deus trapaceiro pudesse legar: irracional, caótica e útil
apenas às vezes. Mas Mercy era especialista em descobrir como
lidar com isso usando instintos e intelecto.
“Por que?”
Adam sabia o que ela queria dizer. Já que ele não foi capaz de
sentir o assassino, ele não sabia o que acontecia com o cheiro
quando alguém entrava em um carro traduzido para o que quer que
Mercy tivesse sentido. Mas ele confiava em seu julgamento de que
quem quer que fosse o assassino, ele havia desaparecido da mesma
forma que veio. E isso soava como algo que Stefan poderia fazer —
Stefan e Marsilia, a criadora de Stefan.
“Depois que ele matou...” Ela hesitou. “Depois que ele ou ela
matou o garoto...” Ela pausou novamente.
“Aubrey Worth.”
“Foi magia, ou melhor, havia muita magia por toda parte." Ela
soltou um suspiro irritado, soando, pela primeira vez, quase
normal.
Ele não estava ferido. Ele esperava sua retirada física assim
que seus tremores diminuíssem. A Mercy não era muito dada a
demonstrações públicas de afeto, ainda menos se fossem
motivadas pela necessidade de conforto. Ela não revelava fraqueza
levianamente, ele entendia isso completamente.
“Acho que posso rastrear essa magia porque ela também está
ligada a mim. Uma espécie de terrível empate triplo.” Ela olhou
para o banco de trás e seu rosto se contraiu.
Adam assentiu.
“Bem, posso dizer a você que nossa vítima não era muito
inteligente, mas doce como eles vêm. Ele estava meio apaixonado
por um de seus colegas de quarto e meio apaixonado por uma
linda garota em um de seus grupos de estudo com quem até agora
ele tinha sido muito tímido para falar. Ele adorava chá de bolhas e
sushi. Algum dia ele queria visitar o Japão. Ele era bom em
matemática, mas não devia estar matriculado em ciência da
computação.”
Depois de muito pouco tempo, Mercy disse: “Por que você está
aqui sem o resto deles?”
“Zee me enviou para ver se você poderia entrar. Ele quer que
você olhe os corpos. Algo que ele descobriu lá o deixou muito
estranho.” Adam considerou sua memória do rosto de Zee. “Com
raiva, eu acho.”
“Olha...” Ela disse. “Você precisa ir. Vá para a luz ou o que quer
que seja.” Pausa. “Não sei que luz. Deve haver uma luz. Ou um
caminho.” Pausa. “Olha, eu não tenho um maldito manual. Não
sei o que fazer, mas acho que você deveria.” Pausa. “Porque a
maioria das pessoas morre e vai para algum lugar. Suas almas
não permanecem por perto, mesmo que seus fantasmas o façam.
Não acho que seja bom para você.” Pausa muito mais longa.
“Eu percebi.”
“Seu tempo aqui acabou.” Sua voz, apesar de todo o poder que
ela estava colocando nela, era gentil. “Fique em paz.”
“Está tudo bem.” Disse ela. “Eu entendo. Mas não vou levá-lo
para aquele prédio porque não é um bom lugar para você. Você
poderia esperar no SUV?”
*—*
Mercy cheirou novamente. Como Zee fez, ela tomou cuidado para
não tocar no corpo do garoto. Suas sobrancelhas estavam franzidas
em perplexidade, e ela inclinou a cabeça como se tentasse captar
algum som fraco. Abruptamente, ela enrijeceu e fechou os olhos, e
Adam sentiu que ela se aproximava do bando, não pelo poder, mas
como uma âncora. Instintivamente, ele deu um passo à frente e
estendeu a mão para tocá-la.
*—*
*—*
“Tony...” Adam disse pensativo. “Até onde você quer descer por
esta toca de coelho?”
“Você terá que mentir sobre isso para seus colegas oficiais,
sabendo que a ignorância pode levá-los à morte, embora talvez
mais devagar do que realmente saber o que está acontecendo.”
Aubrey me seguiu.
Minhas mãos e pés doíam, uma dor chata e irritante que não
me impedia de andar. O ritmo significava que Aubrey tinha mais
dificuldade em tentar invadir minha bolha pessoal. Como bônus,
enquanto caminhava, uma pequena dor nos pés me distraiu da
pior parte do meu dia até agora.
Adam olhou para mim, e captei o momento em que ele viu que
eu ainda estava usando seu casaco, dentro de casa, onde a
temperatura era boa para mangas de camisa. Ele encontrou meus
olhos e sorriu. Não era divertido aquele sorriso. Ele gostava
quando eu usava suas roupas. Eu fui de me sentir ridícula a me
sentir sexy em um sorriso. “Deixe-me começar.” Disse Adam,
levantando um dedo. “A Mercy está ligada a algum tipo de
inteligência desde que ela quebrou a teia de feitiços na casa de
Stefan, e está ficando mais forte.”
Zee assentiu.
“Ja.” Disse Zee. “Para ser justo, é uma coisa muito antiga.” Ele
deu de ombros, o movimento fazendo seu banquinho ranger. “E a
magia aplicada ao longo do tempo é uma força estranha e
poderosa.”
Ele fez uma pausa e sua cadeira rangeu novamente quando ele
balançou para trás. “Eu estive procurando pela foice Caçadora de
Almas por muito tempo, e criaturas tão velhas quanto eu acabam
ficando sem coisas que tornam a vida interessante. Resolvi me
instalar aqui e esperar.”
“Não sabemos quem é.” Disse Adam. “Mas vou assumir, com
base na evidência de que a Caçadora de Almas está ativa
novamente, que a pessoa que matou aquele adolescente e deu a
você uma foice de mão substituta é a pessoa que providenciou
para que a Caçadora de Almas estivesse matando pessoas
novamente. ”
“Não.” Eu concordei.
“Não poderei vir aqui amanhã, Liebchen.” Zee disse. “Ou você
terá que trabalhar na loja ou fechá-la por um dia, o que é ruim
para os negócios.”
Ficou óbvio que ele não iria elaborar até que eu respondesse.
Esfreguei o rosto e olhei para Adam.
“Claro que vou com você.” Eu disse a ele. “Vou fechar a loja
hoje.” Olhei para Zee. “Se não tirarmos um dia de folga aleatório
de vez em quando, nossos clientes vão pensar que estão no
comando.”
Toquei-o e puxei meu dedo para trás com um silvo. Não doeu
exatamente, mas me deixou com uma sensação de erro.
“Bran fica assim quando ela grita com ele.” Ele disse a Zee.
“Ofendido, mas também meio incrédulo e encantado. Quando foi a
última vez que alguém gritou com você por causa de uma...” E sua
voz perdeu a graça. “Façanha idiota?” Ele deixou as palavras
soarem por um momento e disse: “Você vai me dizer o que era?”
“Mal-assombrado.” Eu disse.
“Se você não jogar objetos perigosos nas pessoas que amo, não
vou brigar com você de novo esta noite.” Eu ofereci depois de um
momento.
“Você sentiu isso, não foi?” Ele não estava se dirigindo a Adam,
e sua voz causou arrepios em meus ossos. “Tem um propósito.
Você pode sentir os laços que unem os corpos e as almas.”
*—*
Meu telefone tocou no caminho para casa.
“Mercy?”
“Ariana?”
Ele estava soando mais como ele mesmo, mas ainda havia
algo oculto, uma pequena borda que me dizia que ele estava no
meio de algo desesperado. Se falar sobre o nosso misterioso
Sherwood lhe proporcionasse algum divertimento, alguma pausa,
então poderíamos falar sobre Sherwood, pelos próximos três
minutos, pelo menos.
“Quem foi que me disse para nunca perguntar aos velhos lobos
sobre o passado deles?” Eu perguntei em troca. Se Sherwood
tivesse a intenção de nos dizer quem ele era, ele o teria feito.
“Se você não sabia que Sherwood era perigoso, não prestou
atenção.” Disse Adam.
“Sim.”
“O que você acha que é tão ruim que faria Samuel fugir?” Eu
perguntei, minha voz soando pequena em meus próprios ouvidos.
*—*
Jesse e Tad estavam fazendo lição de casa na mesa da cozinha
quando chegamos em casa.
“Que bom que vocês estão vivos.” Disse Jesse. “Tem pizza na
geladeira, guardamos um pouco para vocês. É bom ter apenas nós
três, com uma pequena adição de mais um em casa. Quando você
coloca algo na geladeira, ele não desaparece magicamente.”
“Que bom que vocês também estão vivos.” Eu disse talvez com
um pouco de ênfase demais. Tad e Jesse olharam para cima.
“Dez anos?”
“Não pode ajudar seu outro amigo, então talvez você possa me
ajudar?” Sugeriu Tad gentilmente.
“Manter meu nariz fora disso?” Perguntei.
“Vou pegar uma água para você.” Disse Tad, pulando da mesa
e fugindo de nossa discussão sobre sua vida amorosa.
“Mercy.” Disse Tad. “Acho que seria uma boa ideia terminar
de comer lá dentro.”
Eu estava sonhando.
4
Avô
Ele estava todo vestido de branco. A túnica folgada, cintada na
cintura, pendia sobre as meias amarradas no meio da panturrilha.
Roupa de camponês, exceto que nenhum camponês poderia manter
roupas brancas tão imaculadas, e seu cinto, dobrado e redobrado
em torno de sua cintura estreita, era de seda fortemente bordada.
*—*
Mas eu sonhei com ele através dos olhos de Stefan, e não era
assim que meus sonhos costumavam funcionar. Não tinha a
nitidez, a sensação de que eu estava presente, que uma visão real
tinha. Mas mesmo que a aventura desta noite não parecesse real,
parecia verdadeira.
— Com Wulf.
*—*
“Stefan! Stefan!”
“Vão para seus quartos.” Ela ordenou com urgência. “Pegue uma
mala e faça as malas. Não perca tempo. Ele disse que eu posso ir.
Posso levar você e André. Seremos exilados.”
*—*
“Sim?”
“Eu abri a porta dele.” Disse Marsilia. “E então ele matou todo
mundo, menos eu.”
“Eu esperava encontrar você aqui.” Disse uma voz familiar atrás
de mim. Wulfe desapareceu atrás das saias de Marsilia com um
som de pânico.
“Você pode levar isso.” Disse ele com um aceno de cabeça para
Wulfe. “E…” Ele mostrou uma massa amassada de pano bordado
de ouro. “Você pode ficar com isso também.” Ele olhou para o que
restava do estudioso angelical e talentoso que Wulfe tinha sido. “Ele
parecia estar particularmente ligado a isso. Deixei-o na cela durante
um ou dois anos.” Ele sorriu. “Uma gentileza.”
Marsilia disse: “Você me diz que isso foi vingança? Por algo que
ele nunca fez, séculos atrás? Eu dei a ele o cinto.”
“Eu fiz isso por você, minha Lâmina Brilhante.” Disse Bonarata.
“Um presente de memória. Quando você me trair, lembre-se que
nunca será você quem sofrerá.” Ele se virou para sair.
“Você não fez isso por vingança.” Eu disse a ele. “Não apenas
por vingança.” Ele congelou e se virou para mim, com uma
expressão incrédula no rosto, como se um de seus cavalos tivesse
decidido falar. Era meu hábito deixá-lo pensar mal de mim, tratar-
me como seu criado, o que eu era. E se ele esqueceu que eu era
perigoso, isso era bom. Mas eu não ia deixá-lo viver acreditando que
o que tinha sido feito com Wulfe era culpa dela. “Você estava com
medo dele.” Eu disse, encontrando seus olhos.
*—*
Dessa vez quando acordei, o céu começava a clarear, e Adam estava
tomando banho. Saí da cama, fui até o armário e abri o cofre onde
havia guardado o cinto — o cinto — que Wulfe havia deixado na
cama.
Jesse parou e olhou para mim. “Não morra.” Ela me disse. “Não
o deixe morrer.” Ela apontou um dedo em direção à cozinha.
“Entre no carro, Tad.” Ela disse. “Espero que você e Izzy façam
as pazes logo. Não sei se vou aguentar ficar só com você por muito
tempo.”
*—*
Ele não teria feito isso na semana passada. Ele estava levando
a sério sua oferta de amizade.
“Sacrifícios?” Eu murmurei.
Ele olhou para mim. “Essa é a palavra que ela usou. Ela levou
os nomes para uma amiga do jornal.” Ele fez uma careta. “Pelo
menos a amiga dela é mais contida. O artigo não os acusa de ser o
motivo do desaparecimento das pessoas, apenas de não fazer o
trabalho que vocês diziam ser capazes de fazer.”
Tivemos sorte, pensei, por ter sido a srta. Chin fazendo a peça.
“Se quinze pessoas foram apanhadas debaixo do nosso nariz antes
de descobrirmos que algo está acontecendo, não estamos fazendo
nosso trabalho.” Disse Adam.
Adam assentiu. “Meu pessoal diz que ele também está na Itália.
Mas ele é um vampiro, e as pessoas acreditam no que Bonarata
lhes diz para acreditar. Uma vez que sabíamos o papel de Wulfe,
tinha que ser Bonarata.” Ele estava observando Larry. “Mas você
não sabia sobre Wulfe. O que há nas duas últimas mortes que
dizem que é Bonarata?”
“Bem, ele tem isso há muito tempo, não é?” Disse Larry.
“Séculos. Ele gosta de colecionar coisas, como Bonarata.”
Abri a boca para perguntar por quê, mas Adam fez a pergunta
primeiro.
Nós assentimos.
“Claro.” Eu disse.
Larry me deu um olhar pensativo. Não sei o que ele leu em meu
rosto, mas voltou à história com um aceno de cabeça. “Um ou
outro deles poderia ter sido capaz de lidar com o séquito, embora
nenhum deles fosse alguém que eu considerasse um líder. Juntos,
eles foram quase um desastre. Talvez Marsilia tenha achado
melhor assim.” Ele pareceu considerar isso. “Mas, mesmo assim,
cerca de quarenta e cinco anos atrás, os vampiros se organizaram
e assumiram o controle da comunidade sobrenatural das Tri-
Cities, um controle que só diminuiu quando Mercy subiu em uma
ponte e nos reivindicou para ela.” Ele sorriu para mim com dentes
afiados. “Nós goblins apreciamos isso mais do que eu disse a você,
eu acho.”
Larry fez uma careta. “Isso soa ainda pior do que eu pensava.
De qualquer forma, ele a enviou para matar pessoas, e foi o que
aconteceu. E alguma pessoa brilhante pensou em pedir proteção a
uma dos faes mais poderosos, um Lorde Cinzento. Uma vez que
ela foi chamada sua atenção para isso, um dos Lordes Cinzentos
convocou Siebold Adelbertsmiter.” Ele balançou sua cabeça. “Não
sei se foi uma jogada inteligente ou estúpida. Nem ela, porque ela
está morta. De qualquer forma, essa notícia chegou a Bonarata de
alguma forma.” Larry parou e me deu um olhar duro. “Mercy, é
importante que você saiba disso. Eu sei que você acha que ele é
seu amigo. Mas ninguém quer que o Dark Smith coloque as mãos
na Caçadora de Almas.”
“Talvez ele pense que pode fazer Zee trabalhar para seus
objetivos.” Adam disse. “Recebendo um suborno grande o
suficiente.”
“Eu sei o que o filme tem a ver com isso.” Eu disse em súbito
espanto. “Santo uau. É bastante claro deste ponto de vista, não é?
As Tri-Cities são maiores do que eram há quarenta anos, e temos
uma população muito maior de pessoas menos mágicas por causa
do tratado. Muitas e muitas pessoas novas que ainda não fazem
parte de nenhuma comunidade. E sabemos que são transitórios,
por isso, quando desaparecem, não nos preocupamos.”
“Sim.” Eu disse.
CAPÍTULO 12
Era dia, mas eu não teria entrado no séquito sem meu cordeiro,
a menos que alguém me arrastasse aos chutes e gritos.
Adam disse: “Eu não tinha certeza. Não tenho certeza agora.
Pode acontecer que haja um culto de aranhas faes que praticam
algum tipo de controle da mente.”
Ele parou de falar, e quando olhei para ele para ver o porquê,
seus olhos estavam brilhando em ouro brilhante.
“Obrigado.” Disse ele. “São todos esses anos lidando com Bran.
Ele entra na sua cabeça.”
“Você deveria contar tudo isso para Adam e seu povo.” Ele
disse. “Mas isso é o que eu queria dizer a você sozinha.”
“Ok?”
*—*
“Não conte com isso se for Bonarata.” Adam disse a eles. “Se
você o vir, não se envolva.”
“Não sei como ele é, chefe.” Disse Warren sem rodeios. Ele
estava, estranhamente, vestido com uma camiseta toda preta e
jeans pretos. Sua postura corporal era... errada, sua casualidade
relaxada usual em nenhum lugar à vista.
“Se Larry diz que o séquito está vazio…” Disse Darryl, sua voz
um pouco afiada. “Por que estamos indo?”
Adam olhou para ele e disse com uma voz hostil: “Você tem
algo melhor para fazer?”
*—*
Ele girou de volta para Darryl sem erguer os olhos, e todos nós
vimos o esforço que isso exigiu.
Estava destrancada.
“Eu sei.” Eu disse. “A primeira vez que vim aqui, escapei por
lá.”
Eu fiz uma careta para ele. Ele sabia o que eu queria dizer.
Ele olhou para mim, depois para longe. “Estou muito cansado
de ser pressionado.” Disse ele. “Deixe-me dizer como isso vai ser.
Vamos vasculhar esta casa e encontrar tudo. E você vai me deixar
em paz enquanto fazemos isso. Estou cansado de você enfiar sua
pequena senhorita eu-posso-consertar na porra dos meus
negócios.”
Majoritariamente.
Eu quase sorri com seu tom. Ainda havia irritação, mas era
afiada com cautela. Como se ele finalmente tivesse começado a
descobrir que não iria (me machucar) arrancar meu nariz e me
xingar sem pagar por isso.
Ele sabia por que eu estava lendo cada livro, e sabia que tudo o
que tinha que fazer (provavelmente) para se livrar de sua miséria
era pedir desculpas. Ele não o fez, então abri todos os livros em
todas as prateleiras.
“Sinto muito por ter xingado você.” Disse Warren. “Mas pare de
cutucar.”
Eu considerei como responder. Um pedido de desculpas que
começa com um ‘sinto muito’ e termina com um ‘mas’ não é um
pedido de desculpas.
Não dito, mas claro para ser ouvido, foi: ‘E se você deixasse
alguém ajudá-lo antes de agora, você iria brincar nas masmorras
assustadoras em vez de enfrentar o tédio quase fatal como babá da
coiote inútil.’
“O que?”
Minha mãe uma vez me disse para ter cuidado com as punições
que acabavam indo para os dois lados. Minhas mãos estavam
imundas, e a pele do meu rosto coçava onde eu a havia tocado.
Lidar com livros não era tão ruim quanto lidar com dinheiro, mas
esses livros estavam parados há anos com nada além de uma leve
poeira.
Depois de parar de rir, ele disse: “Sinto muito por ter gritado
com você. Eu sei que você estava apenas tentando ajudar...”
“Se você disser ‘mas’ de novo e me culpar por isso, vamos dar
uma olhada em todos os livros deste quarto.” Eu o avisei.
“Eu te assustei?”
“Se ela fizer isso, você pode comprar uma toalha nova para ela
para combinar com as portas que Darryl deve estar tendo prazer
em destruir.” A voz de Warren era seca, como se ele entendesse
minha hesitação e a considerasse ridícula.
O que era.
“Obrigada.” Eu disse.
Usei uma toalha para esfregar meu rosto e passei algum tempo
em minhas mãos. Quando a água saiu limpa, desliguei e me
sequei em uma toalha próxima. A toalha branca estava manchada
quando terminei, então aparentemente não tinha sujado toda a
sujeira com o pano. Juntei as coisas sujas e as coloquei ao lado da
pia, onde a equipe de limpeza não poderia deixar de vê-las.
“Waren?”
Não ouvi nem cheirei nada. Além disso, quando tentei alcançar
Adam usando nosso vínculo de acasalamento, não consegui. Ainda
estava lá, mas eu não conseguia tocá-lo. O mesmo era verdade para
os laços do bando e meu vínculo com Stefan, que eu tentei em um
ataque de desespero. Alguém estava interferindo. Algo. Eu sabia o
que era.
Eu me perguntei por que ela havia parado para falar. Mas não
importa o quão horrível era ter aquela coisa falando comigo,
dentro de mim, quanto mais eu a mantivesse engajada, maior a
chance de Adam vir me procurar.
Não respondeu.
Então, por que Wulfe estava parado ali? Por que a Caçadora de
Almas não mandou ele me matar neste minuto? Por que ela estava
falando comigo?
Como seria, pensei, ter existido todos aqueles anos, e sabia que
era antiga da mesma forma que entendia a vida de Aubrey Worth.
Como seria ter uma única tarefa durante todos esses anos e
depois chegar ao fim dela? O que aconteceria com ela? Deixaria de
existir?
Era medo?
Abri a boca para perguntar, mas o Ceifador se mexeu e fiquei
ocupada demais para conversar. Eu senti a Caçadora de Almas
retirar sua consciência de mim enquanto Wulfe a ocupava
completamente.
Eu entendi agora, de uma forma que não havia uma hora atrás,
exatamente o que a Caçadora de Almas fazia com aqueles que a
empunhavam. Eu entendi por que Bonarata assumiria que Wulfe
morreria como servo da lâmina.
*—*
Eu vi Wulfe.
*—*
Eu sabia o que Wulfe era. Eu o tinha visto, visto o poder que ele
ainda possuía, e torcido e quebrado como estava, sua capacidade
de usar magia para proteger sua mente era infinitamente maior do
que minha pequena medida de habilidade, e a Caçadora de Almas
tinha o controle de Wulfe. Se eu tocasse naquela coisa, não teria
chance.
Mas, seja como for que tenha acontecido, acabei de ver Wulfe.
Se eu não estivesse lutando pela minha vida, poderia ter me
esforçado para explicar como o vi. Mas eu só tinha a Caçadora de
Almas na minha cabeça e não tinha tempo de mentir para mim
mesma.
Sua carne estava fria sob meus dedos aquecidos pela batalha e
magia enquanto eu sussurrava, com toda a magia nascida do
Coiote dentro de mim: “Fique em paz.”
A foice de mão veio até mim, cortando o ar tão rápido que fez
barulho.
“Qual?” Eu sussurrei.
“Não há nada no mundo que diga que uma metáfora não pode
ser concreta.” Repreendeu Coyote. “Mas se aquela coisa…”
A porta explodiu.
Adam me deixou ir. “Você tem certeza que está bem?” Ele
perguntou.
Adam foi até Warren, que não havia se mexido. Mary Jo, uma
paramédica treinada, examinava sua nuca e pescoço com mãos
cuidadosas. Havia um machado de bombeiro no chão ao lado dela,
sua arma favorita.
“Não sei por que ele está inconsciente.” Disse ela. “Há quanto
tempo ele está assim, Mercy?”
Sim, disse Aubrey bem ao meu lado. Eu posso ver isso. Mas
está sumindo.
Eu não respondi.
“E você ainda está viva?” A surpresa dela não foi lisonjeira, mas
eu compartilhava da opinião, então não me ofendi.
Zack deslizou para o lado do banco traseiro que não tinha sido
transformado em espaço de carga e colocou o cinto. “Auriele vai
levar o Subaru até nossa casa.” Disse ele, possivelmente para
Warren. “Darryl vai buscá-la lá.”
“Fique de olho nele.” Disse Adam. “O golpe não era nada para
se preocupar, mas ele foi mordido por um vampiro. Você deve
garantir que ele coma e beba.”
“Se você ficar preocupado, peça a Zack para dar uma olhada
nele.” Adam disse a ele. “Se você ficar realmente preocupado, me
ligue ou…” Ele hesitou. “Sherwood.”
“Achei que ela apenas tingisse seu cabelo de azul quando você
não estava olhando, ou colocasse coisas no seu café que faziam
você fazer xixi verde.” Disse Zack. “Eu não achava que ela gritava
com as pessoas.”
“Sim.” Disse ele. “Se eu tivesse levado você direto para a oficina
e ele perguntasse sobre a Caçadora de Almas, o que você teria
feito?”
Eu também não disse nada sobre isso. Ele não estava errado.
“Eu não sei.” Eu disse a ele. “Mas outras coisas são. Bonarata
tentou quebrar Wulfe, mas Wulfe já estava quebrado. Wulfe não é
teimoso, ele é tipo...” Uma pipa ao vento, e Bonarata era o vento.
Mas o que eu disse foi: “Como o lagarto com as duas manchas
escuras na garupa que parecem olhos, para enganar os
predadores. Onde quer que seu inimigo pense que você está, está
em outro lugar.” Foi tudo o que pude dizer a ele. Havia outras
coisas que ele deveria saber, mas eu não conseguia colocá-las em
palavras.
“Agora, por que você não me diz por que não está olhando para
mim?” Adam perguntou. “Eu pensei que talvez você estivesse com
dor de cabeça, mas você deliberadamente não está olhando para
mim.”
Isso não era bem verdade. Eu tinha visto Wulfe e ele não tinha
olhos físicos para olhar. Ele teve que usar um sonho para isso.
“Mercy?”
“Você quer ver Zee?” Não havia ênfase no ‘ver’, mas nós dois
sabíamos o que ele queria dizer.
5
O LSD (dietilamida do ácido lisérgico), conhecido também como “doce” ou “ácido”, é uma
substância sintética pertencente ao grupo dos alucinógenos, isto é, uma droga produzida em
laboratório capaz de alterar as percepções, os pensamentos e os sentimentos de quem a utiliza.
Porque se pegarmos a Caçadora de Almas, a única coisa que posso
pensar em fazer com ela é dá-la a Zee. E eu simplesmente não sei
se isso é uma boa ideia ou não.”
“Não.” Eu disse.
Adam saiu primeiro porque não estava rígido por ficar sentado
depois de uma luta. Eu o ouvi rir enquanto eu deslizava
cuidadosamente para fora do veículo, mas não entendi por que ele
estava rindo até que fechei a porta do SUV.
Ele me despiu até a minha pele. Ele fez uma pausa aqui e ali
para verificar outros cortes e contusões. Mas eu sabia que não
havia muito. As pontas de seus dedos tocaram o músculo do meu
lado que me deu ataques quando ele me pegou na cozinha.
Houve uma pausa e senti meu sorriso suavizar, mas não iria
embora. Eu estava machucada. Eu era uma bagunça exausta.
Assim que eu me permitisse pensar novamente, eu seria uma
bagunça assustada e exausta. E isso não importava. Adam me
fazia feliz.
“Você pode olhar para mim, sabe.” Ele disse, mais perto do que
eu esperava. “Você não precisa da Caçadora de Almas para
mostrar minha alma, você já esteve lá, você já fez isso.”
Meu companheiro tinha um coração generoso e aberto. Ao lado
dele, eu era uma covarde incorrigível. Não importaria para mim se
ele tivesse visto minha alma nua uma vez, eu ainda não gostaria
que ele fizesse isso de novo. Eu ficaria com muito medo do que ele
veria.
*—*
“Frost.”
Olhei para a gata. “Acho que isso não vai ficar bom.” Eu disse,
mas saí com o sanduíche na mão. Se o Ceifador voltasse, ele
estaria ocupado com Tilly e não comigo.
Olhei para a coisa na mesa. “Se eu levar isso para ele, você
estenderá o acordo, aquele que permite que você tenha uma porta
em nosso quintal e promete não prejudicar ninguém que mora em
nossa casa, para minha casa ali.” Acenei para o trailer. “Assim
posso alugar para alguém sem me preocupar com o inquilino.”
Peguei a taça, não era tão grande nem tão pesada quanto
parecia, embora parecesse ser moldada em prata pura. Não havia
dúvida de que era uma obra de arte, extraordinariamente bela,
mesmo que tivesse a forma de uma caveira. Eu instintivamente a
levantei com a mão em concha sob a parte redonda e me senti
confortável lá.
“Exatamente.” Eu concordei.
Eu tinha certeza.
Ela fez uma pausa, mas eu não reagi. Essa história eu conhecia.
Ele sabia que Adam podia ouvir as mentiras que ele falava. Ele
não se importava.
Ele voltou sua atenção para Adam. “Da próxima vez que eu vier,
com certeza vou avisá-lo.” Disse ele. “Na próxima vez que comprar
uma propriedade, falarei com você também. Como você pode ouvir,
estou me preparando para ir embora.” Seu sorriso se alargou
novamente, dando-nos um vislumbre de suas presas. “Meu
trabalho aqui está feito.”
Pude ver no rosto de Bonarata que ele não pretendia que sua
declaração fosse real. Mas havia verdade em sua voz, e algo, o
destino ou o universo ou a própria magia, decidiu acreditar na
palavra do homem.
Naquele ritmo mais lento, era mais fácil entender o que eles
estavam fazendo. A foice de mão era do tamanho de uma faca e,
portanto, era melhor usada fora do alcance de luta. O bō permitia
que Adam ficasse mais longe do que isso, no círculo externo da
luta. Ele poderia acertar Wulfe, contanto que ele fosse rápido o
suficiente para que Wulfe não pudesse agarrar o bō. Mas Wulfe foi
forçado a ficar muito longe para a Caçadora de Almas tocar Adam,
que usou as pontas do bō para manter Wulfe longe dele.
Eu julguei a duração da luta mais pela maneira como eles
estavam lutando do que pelo relógio. A camisa de Adam estava
molhada de suor e Wulfe fazia movimentos irritantes quando seu
traje inspirado em Hollywood o atrapalhou. Ele tirou uma das
mangas esvoaçantes e jogou-a no chão com um grunhido que teria
dado crédito a Adam.
“Porque uma pipa precisa ser amarrada para voar.” Wulfe disse,
como se puxasse os pensamentos da minha cabeça, o que ele
poderia muito bem ter feito. Ele abriu os olhos e encontrou os
meus. “E Marsilia…” Sua mão apertou a velha seda. “É minha
âncora.”
Eles tinham sido amantes uma vez. Mais que isso. Marsilia,
Stefan, Andre e Bonarata eram sua família. A razão de sua
existência. Mas quando Bonarata o quebrou, Marsilia deu a ele
uma pedra de toque de segurança. Não precisei fechar os olhos
para me lembrar da criatura esquelética que se agarrara às saias
de Marsilia naquela masmorra antiga.
Ele riu. Imaginei que as pessoas que não sabiam o que ele era
teriam achado o som caloroso e reconfortante.
“Isso é o que eu penso também.” Disse ele. “Você acha que ele
vai se afogar como Bryan fez?”
Eu não sabia como ele sabia sobre meu pai adotivo, mas tentei
muito não dar a ele uma reação. Estávamos errados, Adam e eu,
quando determinamos as motivações de Bonarata. Não era sobre
Marsilia ou sabotar nosso território neutro. Isso era sobre mim,
um metamorfo coiote que fez o Senhor da Noite de tolo.
“Eu vou seguir você pelo resto de sua vida.” Ele disse
agradavelmente. “Não importa se você viverá cem ou quinhentos.
Eu entendo que é uma disputa com os filhos do Coiote.” Ele pegou
o telefone e apertou um botão. Nós dois ouvimos meu telefone
tocar por alguns segundos. Eu pensei sobre as ligações malucas
que eu vinha recebendo, aquelas que o pessoal de Adam não
conseguia rastrear. As ligações que aconteceram durante o dia.
“Mercy.”
Eu vi ele.
Eu estava muito cansada, muito ferida para tentar libertar
Adam do jeito que ajudei Wulfe a se libertar. De qualquer forma, o
poder que usei para isso era de Adam e do bando. Ele já o estava
usando para lutar contra a Caçadora de Almas. O bando estava
alimentando o poder de Adam tão rápido quanto ele podia
aguentar.
O poder que pulsava em Adam era mais focado, mais útil, com
Sherwood dirigindo-o de seu lado. Mas eu podia sentir o triunfo da
Caçadora de Almas quando Adam começou a perder a batalha de
qualquer maneira.
Adam colocou suas mãos sobre as minhas, onde elas ainda estavam
em cada lado de seu rosto. Ele fechou os olhos, quebrando o
conhecimento escaldante e confuso que fluía entre nós.
“Eu deveria saber que você era muito teimoso para um mero
artefato antigo engolir.”
“Liebchen?”
*—*
Adam tinha sofrido muito mais dano do que eu, mas já estava
praticamente curado quando o primeiro dos lobos nos encontrou.
Uma vez assegurado de que eu não morreria tão cedo, ele levou o
resto dos lobos para ver o que Bonarata havia feito com nossos
vampiros.
Ele fez uma careta para mim. “Decidi…” Disse ele. “Que a
barganha que você me ofereceu ainda me deixa em dívida com
você.”
Eu poderia ter dito algo inteligente, mas doía falar. Então eu só
consegui um: “Oh?”
Ele saiu sem dizer mais nada. Assim que ela julgou que ele
estava fora do alcance da voz, Mary Jo disse: “Eu não sabia que ele
podia curar as pessoas”.
*—*
Ele riu, depois se desculpou por ter sido um jovem doce. “Ei,
Mercy.” Ele disse. “Eu só queria dizer obrigado e dizer adeus.”
“Adeus?” Perguntei.
“Hora de ir, garoto.” Disse uma voz familiar, soando mais gentil
do que costumava quando falava comigo. Isso é ‘pais’ para você.
“Ja, às vezes acontece assim. Ainda bem que você não pegou.
Coma alguma coisa, você vai se sentir melhor.” Ele fez uma pausa.
“Estou com fome também. Eu levarei o almoço.”
“Se eu for para a Alemanha e todo mundo achar que sou mal-
humorada, a culpa será sua.” Eu disse. “E desde quando
comparamos nossos clientes a doenças?”
Adam lhe dera dois dias para lidar com o que quer que o
estivesse deixando tão mal-humorado.
6
Peste ou cólera - é a mesma coisa.
“Sempre feliz em meter o nariz em seus negócios.” Eu disse.
Não sei o que esperava, mas não foi Warren quem me fez um
gesto para sentar no banco do motorista de seu carro novo.
Sentei-me no couro e não pude deixar de sorrir enquanto ajustava
o assento para caber em mim.
“Tenho certeza de que foi uma das coisas que desliguei.” Disse,
quando o carro me informou que cruzei o marcador de faixa e
minhas mãos não estavam no volante. Os pneus podem ter tocado
a tinta branca entre minha pista e o acostamento, mas minhas
duas mãos estavam no volante.
“Sim.” Disse ele. “Você achou que eu não sabia ler o manual do
proprietário?”
“Ele não diz nada.” Disse Warren. “Ele apenas compra fluido de
lavagem e coloca as garrafas no meu lado da garagem.”
“Ele não deveria reativar toda a sua tecnologia útil.” Sugeri. “Eu
poderia tentar solucionar o problema, mas a maioria desses tipos
de programas são proprietários. Provavelmente mais fácil de
assimilar.”
“E você acha que ele não vai entender sobre o ‘ding’.” Eu disse.
“O que?” Eu disse.
“Eu não vou machucar aquele homem.” Ele disse em uma voz
suave. “Ele apenas sobreviveu a sua família. Ele não deixa
ninguém entrar tão longe quanto eu. Não vou machucá-lo
trocando este carro.”
“Entendo.” Eu disse. Os únicos sons no carro no resto do
caminho de volta para a oficina eram os sons que o carro fazia
para mim.
Zee saiu e fez uma careta para mim quando saímos do carro.
Não era sua carranca de estou com raiva, apenas sua carranca
usual de você-me-fez-negociar com os clientes. Bati no capô do
carro algumas vezes e disse: “Zee, este carro está com problema.”
“Ele pegou e levou para casa, você não foi com ele.”
*—*
“Tio Mike.” Disse Adam. “Mas ele não estaria fazendo isso se
Zee não tivesse pedido a ele.”
“Não.” Disse Adam. “Ela vai construir uma casa nova. Ela me
perguntou o nome do nosso empreiteiro.” Ele fez uma pausa. “Não
sei o que pensar sobre isso, mas ela comprou a propriedade de
Elizaveta em Finley.”
“Caramba.” Eu disse.
Adam bufou. Então ele disse: “Eu me sinto mal por aquele
escritor. Eu tirei seu momento de glória.”
Ele sorriu. “Nenhuma.” Ele disse, então ficou sério. “Ainda não
me lembro de como diminuir o quão dominante sou quando quero.
O que significa que Darryl, Warren e eu talvez tenhamos que
espanar um pouco para colocar tudo em ordem. Mas não agora,
porque meu lobo entende que uma briga pode prejudicar a
capacidade do bando de defender nosso território, e estamos em
guerra.” Ele balançou sua cabeça. “Lógica de lobo para você. Mas
sim, Adam e eu estamos bem. E Warren, Darryl e eu podemos nos
envolver em uma batalha simulada sem que ninguém se irrite.”
“Porque?” Perguntei.
Ele sorriu para mim, uma repentina expressão feliz, mas antes
que pudesse dizer qualquer coisa, fomos interrompidos.
Olhei pela janela sobre a pia. A noite havia caído e estava mais
escuro lá fora do que na minha cozinha, então não consegui ver
muito bem, mas pensei que havia pessoas sentadas nas mesas de
piquenique no quintal.
Ele fez um som que poderia ter sido uma risada, então
começou a tossir, um som seco e empoeirado que fez seus ombros
arquearem quando ele se abaixou até sua testa encostar nos
joelhos. Estendi a mão, mas não toquei porque não conseguia ver
como ele estava ferido.
Adam me disse que Marsilia estava mal, mas Stefan estava pior.
Eu entendi que Marsilia já havia se recuperado graças à
alimentação pesada, mas Stefan levaria mais tempo. Seu dano foi
mais do que físico, Marsilia disse a Adam. Mas ela não tinha
escolhido elaborar.
“Se ele não tentar falar, não precisa respirar.” Disse ele,
observando Stefan.
Ela fez beicinho para ele, e ele levantou uma sobrancelha. “Eu
venho e vou.” Ele disse a ela. “Você vai me ouvir de novo.”
Eu fiz uma careta para ele. “Isso significa que você vai parar de
me perseguir?”
Ele riu, mas não respondeu, apenas voltou para pegar seu
violino.