Referência: SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências na
transição para uma ciência pós-moderna
Estamos a doze anos do final do século xx. Vivemos nem tempo
atônito que ao debruçar-se sobre si próprio descobre que os seus pés são um cruzamento de sombras, sombras que vem do passado que hora pensamos não sermos, ora pensamos já sermos, pra pensamos numa viemos a ser. (Página 46)
Mas se fecharmos os olhos e os voltamos abrir, verificamos com
surpresa que os grandes cientistas que estabeleceram e mapearam o campo teórico em que ainda hoje nós movemos vivemos ou trabalharam entre o século XVIII os primeiros vinte anos do século XX, de Adam Smith e Ricardo a Lavoisier e Darwin, de Marx e Durkheim a Max Weber e Pareto, de Humboldt e Planck a Poincaré e Einstein. (Página 46)
Daí a ambigüidade e complexidade do tempo científico presente a que
comecei por aludir. Daí também a ideia, hoje partilhada por muitos, de estarmos numa fase de transição. Daí finalmente audiência de dar resposta as perguntas simples, elementares, inteligíveis.(página 47)
Teremos força a mente de ser mais rousseaunianos no perguntar do
que no responder. Começarei por caracterizar sucintamente a ordem científica hegemônica. Analisarei depois os sinais das crises de hegemonia, distinguindo entre as condições teóricas e as condições sociológicas da crise. Finalmente especular ei sobre o perfil de uma nova ordem científica emergente, distinguindo de novo entre as condições teórica e as condições sociológicas da emergência. (Página 48)
A natureza é tão-só extensão e movimento; é passiva, eterna e
reversível, mecanismo cujo elemento se perdem demonstrar e depois relacionar sobre a forma de leis; Não tem qualquer outra qualidade ou dignidade que nos impeça de desvendar os seus mistérios, desvendamento que não é contemplativo, mas antes ativo, já que visa conhecer a natureza para a dominar e controlar. (Página 49) condições iniciais são o reino da complicação, do acidente e onde é necessário selecionar as que estabelece as condições relevantes dos fatos a observar; as leis da natureza são o reino da simplicidade e da regularidade onde é possível observar e medir com rigor. (Página 50)
Um conhecimento baseado na formulação de leis tem como preso
posto metateórico a ideia de ordem de estabilidade do mundo, a ideia de que o passado se repete no futuro. (Página 51)
O determinado mecanicista é o horizonte certo de uma forma de que
conhecimento que se pertence o utilitário é funcional, reconhecido menos pela capacidade de compreender profundamente o real do que pela capacidade de dominar e transformar.(página 51)
Vico sugere assistência de leis que governam deterministicamente a
evolução da sociedade e tornam possível prever os resultados das ações coletivas. Com extraordinária premonição, identifica e resolve a contradição entre a liberdade e a imprevisibilidade da ação humana individual e a determinação e previsibilidade da ação coletiva. (Página 52)
Na teoria das revoluções científicas de Thomas Kuhn o atraso da
ciência social é dado pelo caráter pré-paradigmático desta ciências, ao contrário das ciências naturais, essas sim paradigmáticas. Enquanto, nas ciências naturais, o desenvolvimento do conhecimento tornou possível a formulação de um conjunto de princípios e de teorias sobre a estrutura da matéria que são aceites sem discussão por toda a comunidade científica, conjunto ecid designa por paradigmas, na ciência social não há consenso paradigmático, pelo que o debate tende a atravessar verticalmente toda a espessura do conhecimento adquirido. O esforço e o desperdício que isso acarreta é simulamente causado o efeito do atraso da ciência social. (Página 53)
são hoje muitos e forte os sinais de que o modelo de racionalidade
científica que acabou de descrever em alguns dos seus traços principais atravessa uma profunda crise. (Página 54)
O rigor de medição posto em causa pela mecânica quântica Ceará
ainda mais profundamente abalado se questionar o rigor do veículo formal em que a medição é expressa, ou seja, o rigor da matemática. (Página 55)
A importância desse teoria está na nova concepção da matéria e da
natureza que propõe, uma concepção dificilmente compaginada da com a que herdamos da física clássica. Mas a importância maior dessa teoria está em que ela não é um fenômeno isolado. (Página 56)
As leis tem assim um caráter probabilístico, aproximativo e provisório,
bem expresso no princípio falsificabilidade de Popper. (Página 57) Hoje, a relativização do conceito de causa parte sobretudo do reconhecimento de que o lugar central que ele tem ocupado na ciência moderna se explica menos por razões odontológicas ou metodológicas do que por razão pragmática. (Página 58)
nas sociedades capitalistas como na sociedade socialista de estado
do leste europeu, a industrialização da ciência acarretou compromisso desta com os centros de poder econômico, social e político, os quais passaram a ter um papel decisivo na definição das prioridades científicas.(página 59)
Os avanços recentes da física e da biologia põe em causa a distinção
entre o orgânico e inorgânico, entre seres vivos e matérias inerte e mesmo entre humano e ou não mano.(página 60)
Hoje é possível é muito além da mecânica aquática. Enquanto está
introduziu a consciência no ato do conhecimento, nós temos hoje a introduzir no próprio objetivo do conhecimento, sabendo que, com isso, a distinção sujeito/objetivo superar numa transformação radical. (Página 61)
e como se o dito de Durkheim se tivesse invertido e em vez de serem
os fenômenos sociais e ser estudado como se fosse fenômenos naturais, são os fenômenos naturais estudados como se fosse fenômenos sociais. (Página 62)
a superação dá dicotomia ciências naturais/Ciências sociais têm diz
assim a revalorização do estudo humanísticos. Mas essa revalorização não ocorrerá sem que a humanidades sejam, elas também profundamente transformadas. (Página 63)
Na ciência moderna o conhecimento avança pela especialização. O
conhecimento é tanto mais rigoroso quanto mais restrito e objetivos sobre que se incide.( Página 64)
No paradigma emergente o conhecimento é total, tem como Horizonte
a totalidade universal de que fala Wigner ou a totalidade indivisa de que fala Bohm. Mais sendo total, e também local. A fragmentação pós- moderna não é disciplinar e sim temática. (Página 65)
O conhecimento pós-moderno, sendo total, não é determinístico,
sendo Local, não é descritivista. É um conhecimento sobre as condições de possibilidade. As condições de possibilidade da ação humana projetada no mundo a partir de um espaço-tempo e local. Um conhecimento desse tipo é relativamente e imetódico, constitui-se a partir ir de uma pluralidade metodológica.(página 66)
no domínio das ciências físicas-naturais, O regresso do sujeito fora já
anunciado pela mecânica aquática ao demonstrar que o ato de conhecimento é o produto do conhecimento era inseparável. (Página 67)
A consagração da ciência moderna neste último quatrocentos anos
naturalizou a explicação do real, a ponto de não o podemos conceber senão nos termos por ela proposta. (Página 68)
todo conhecimento científico visa constituir-se num novo senso
comum. (Página 69)
Se faz lista um ignorante especializado faz do cidadão comum um
ignorante generalizado (página 70)
Assim se a pós-moderna ao sensocomunizar-se, não despreza o
conhecimento que produz tecnologia, mas entende que, tal como o conhecimento se deve traduzir em um autoconhecimento o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se uma sabedoria de vida. (Página 70)
Na fase de transição e de revolução científica, está insegura ressaltar
ainda o fato de que nossa reflexão epistemológica ser muito mais avançada e sofisticada que a nossa prática científica. (Página 71)
Afinal se todo conhecimento é autoconhecimento, também todo o