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Acácio Fuziy
Doutor em Ortodontia pela Faculdade de Odontologia de Bauru-USP. Professor Doutor Associado do Programa de Mestrado em Ortodontia da UNICID.
Professor da Universidade Estadual Norte do Paraná (UENP).
Como citar este artigo: Fuziy A, Paixão RF, Penido SMO, Simplício AHM. Considerações sobre a etiologia, o diagnóstico e Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais,
tratamento da sobremordida profunda. Rev Clín Ortod Dental Press. 2015 jun-jul;14(3):6-36. de propriedade ou financeiros que representem conflito de
interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
Enviado em: 05/01/2015 - Revisado e aceito: 15/06/2015
O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
Endereço de correspondência: Acácio Fuziy autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias
Email: acaciofuziy@hotmail.com faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
A B C
A
B
C
Com relação ao crescimento da cabeça da mandíbula, ele Existe uma infinidade de combinações dos fatores de
varia em quantidade, direção e tempo cronológico, po- crescimento que podem resultar na sobremordida, e
dendo apresentar-se equilibrado ou não com as demais sobre esses atuam os músculos da mastigação. Con-
partes da mandíbula. Quando a desproporção é obser- siderando-se os tipos faciais, o hiperdivergente tende
vada e ocorre uma predominância do crescimento nessa a apresentar um prognóstico mais favorável para a
região, pode resultar em aumento da sobremordida9,10. correção da sobremordida e para a manutenção dos
De acordo com a dentição cada paciente, de modo que possam ser atingidos os
A sobremordida profunda pode ocorrer nas dentaduras melhores resultados esqueléticos, dentários e estéticos.
decídua, mista e permanente.
No tocante ao diagnóstico da sobremordida profunda,
POR QUE CORRIGIR A existem algumas particularidades que devem ser mais
SOBREMORDIDA PROFUNDA? bem compreendidas e interpretadas durante essa eta-
Vale ressaltar que, da idade pré-puberal até a idade pa, como o diagnóstico facial, o diagnóstico cefalométri-
adulta, a sobremordida melhora em 83% dos casos18. co, o diagnóstico dentário e algumas variáveis externas,
A redução ocorrerá em função do crescimento do ramo como o sexo e a idade23.
mandibular e da extrusão dos molares. Caso não seja
tratada, a sobremordida pode resultar em: 1) trauma para Um exame clínico cuidadoso das características dos
a mucosa palatina na região dos incisivos superiores ou tecidos moles faciais dos pacientes pode ajudar na se-
para a gengiva vestibular na região de incisivos inferio- leção de estratégias para correção da sobremordida
res; 2) doenças periodontais, em virtude das limitações profunda. A face deve ser avaliada em vistas frontal e
funcionais que se impõem e do estresse anormal criado; de perfil, sempre com os lábios relaxados e fechados.
3) alterações do ciclo mastigatório nos movimentos in- Nesse exame, deve-se verificar o nível de exposição
trabordejantes, acentuando a guia anterior, o que pode gengival durante a fala e o sorriso, bem como a relação
interferir nos movimentos de lateralidade e protrusiva; do lábio superior com os incisivos.
4) problemas na articulação temporomandibular; 5) per-
da de dimensão vertical; 6) aumento do apinhamento A relação adequada do sorriso varia de uma posição na
anterior; e 7) vestibularização de incisivos superiores19-22. qual os lábios superiores repousam na margem gengival
dos incisivos centrais superiores23 até uma posição onde
ETIOLOGIA E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL se observe 2mm de exposição gengival24,25. As exposições
O desenvolvimento de uma sobremordida esquelética gengivais acima desse valor são consideradas antiesté-
ou dentária é causado por fatores genéticos, ambien- ticas25. As Figuras 3 e 4 mostram sorrisos de pacientes
tais ou uma combinação de ambos. As sobremordidas jovens com exposição gengival variando de 0 a 2mm,
profundas esqueléticas costumam apresentar um pa- os quais são considerados esteticamente agradáveis. Nes-
drão de crescimento horizontal e são caracterizadas sa situação, diante de um quadro de sobremordida profun-
por (1) discrepância de crescimento dos ossos maxilar da, estaria contraindicada a intrusão dos incisivos superio-
e mandibular, (2) rotação convergente das bases maxi- res. Porém, na Figura 5, observa-se um paciente jovem, do
lares e/ou (3) deficiência na altura do ramo mandibular. sexo masculino, com exposição gengival acima de 2mm,
Nesses pacientes, a altura anterior da face é, muitas um sorriso que não é esteticamente agradável; diante de
vezes, pequena, principalmente no terço inferior da uma má oclusão que apresente sobremordida profunda,
face. Por sua vez, as sobremordidas profundas den- estaria indicada a intrusão dos incisivos superiores.
tárias evidenciam uma supraoclusão (supraerupção)
dos incisivos, infraoclusão (infraerupção) dos molares Vale ressaltar que a avaliação do nível de exposição gen-
ou uma combinação de ambas. Outros fatores que gival não deve ser feita somente durante o sorriso, mas
podem afetar a sobremordida profunda são as altera- também durante a fala. Deve-se também observar, du-
ções na morfologia dos dentes; a perda prematura dos rante o sorriso e a fala, o grau de exposição dos incisivos
dentes permanentes, que resulta em colapso lingual inferiores. A não exposição desses dentes é uma carac-
dos dentes anteriores superiores ou inferiores; largura terística que rejuvenesce o paciente e, sempre que pos-
mesiodistal dos dentes anteriores e aprofundamento sível, deve-se optar pela intrusão desse grupo de den-
natural da mordida relacionado à idade4. tes26. Na Figura 6, observa-se o sorriso de paciente com
pouca exposição dos incisivos superiores e com exposi-
A etiologia da sobremordida profunda deve ser anali- ção dos incisivos inferiores. Nessas condições, sempre
sada em detalhes para que se elabore um diagnóstico que possível deve-se optar pela intrusão dos incisivos
global e um plano de tratamento individualizado para inferiores para correção da sobremordida profunda.
Figura 3: Sorriso agradável, com o lábio Figura 4: Linha do sorriso agradável, com Figura 5: Excesso de exposição gengival
superior repousando sobre a margem gen- exposição de 2mm de gengiva, em uma ao sorrir, em um paciente do sexo masculi-
gival dos incisivos centrais superiores, em jovem de 15 anos de idade. no com 18 anos de idade.
paciente jovem do sexo feminino.
Figura 11: Paciente apresentando padrão Figura 12: Paciente exibindo padrão facial Figura 13: Telerradiografia evidenciando
facial dolicocefálico. hipodivergente, braquicefálico. um padrão facial equilibrado, mesocefálico.
A magnitude da curva de Spee é outra variável que pre- influência da força da gravidade nos lábios superior e
cisa ser investigada, pois, em grande parte dos casos, é inferior. Em função disso, a quantidade de exposição de
acentuada e, para o seu nivelamento, deve ser avaliada a gengiva no sorriso e na fala diminui, e aumenta a exposi-
quantidade de espaço presente na arcada, uma vez que, ção dos incisivos inferiores23,24,26. Além disso, a distância
para sua retificação, será necessário mais espaço na ar- da borda incisal dos incisivos superiores até o lábio tam-
cada. Na Figura 14, pode-se avaliar, por meio de modelos bém diminui com a idade28. Essa informação é relevan-
ortodônticos, os planos oclusais de um paciente, onde se te durante o diagnóstico, para que esses dados sejam
percebe a presença de dois planos oclusais, um anterior e registrados e os objetivos traçados de acordo com a
outro posterior. Vários fatores devem ser analisados para idade do paciente.
a decisão entre nivelar essa curva de Spee por intrusão
dos dentes anteriores ou por extrusão dos posteriores e Outro aspecto que deve ser levado em consideração
intrusão dos anteriores. é o sexo dos pacientes, pois diversos estudos indicam
que as mulheres apresentam a linha do sorriso mais
No tocante ao diagnóstico da sobremordida profunda, alta, com maior exposição gengival, ao passo que os
outras variáveis devem ser levadas em consideração, homens apresentam a linha do sorriso mais baixa, com
como a idade do paciente e o sexo. menor faixa de exposição23,24,25,29. A Figura 15 apresenta
fotografias da face de um paciente com os lábios relaxa-
Com o tempo, a influência do envelhecimento diminui dos, ao final do tratamento ortodôntico e 10 anos após
a elasticidade dos tecidos moles peribucais, com con- o tratamento, onde se percebe a melhora do selamento
sequente achatamento do perfil tegumentar, além da labial com o passar dos anos.
A B
Figura 14: Curva de Spee exibindo dois planos oclusais, um anterior e outro posterior: A) lado direito e B) lado esquerdo.
A B
COMO CORRIGIR A SOBREMORDIDA PROFUNDA reduzida, curva de Spee excessiva e exposição dos in-
A sobremordida profunda é um dos problemas mais fre- cisivos de mínima a moderada. A possibilidade de se
quentemente encontrados em várias más oclusões. Esse estimular a extrusão de dentes posteriores tem sido
problema oclusal tem sido associado à função mandibu- defendida por muitas décadas. Em 1921, Case des-
lar inadequada e a desordens nas articulações temporo- creveu a correção de “mordidas cobertas” e mostrou a
mandibulares, e tem efeito prejudicial no desenvolvimento utilização de planos de mordida para permitir a erupção
mandibular. Em função disso, a sua correção durante o de dentes posteriores32. Case utilizou um acessório fixo
tratamento ortodôntico é essencial para a obtenção de posterior rígido nas coroas, para eliminar o uso de apa-
uma função normal do aparelho mastigatório30. relhos removíveis. Propôs, também, a utilização de um
arco com curva de Spee reversa, para extruir os pré-
É amplamente aceito na literatura que a correção da so- -molares e abrir a mordida. Hemley33, em 1938, apre-
bremordida profunda é mais estável e mais fácil de ser sentou alguns pacientes que foram tratados com uma
obtida em pacientes que apresentam crescimento esque- placa com batente anterior, para permitir a extrusão
lético. As razões que têm sido citadas para o potencial de dos dentes posteriores. O método mais comumente
recidiva em adultos incluem a invasão do espaço funcio- utilizado para extruir os dentes posteriores é nivelar as
nal livre e o fato de a correção se opor a uma musculatura arcadas com o uso sequencial de fios contínuos4,32,34.
forte e menos adaptável ao alongamento30. Uma vez que Uma variação dessa técnica é a utilização de uma curva
o crescimento tende a aumentar a distância vertical entre de Spee reversa mandibular e/ou curva de Spee acen-
a maxila e a mandíbula, provavelmente é útil tratar esses tuada maxilar nos arcos. Outra forma seria o aumento
pacientes durante o período de crescimento mandibular progressivo das dobras em degraus no arco ou alteran-
ativo. Durante o período de crescimento, a erupção do do a altura da colocação dos acessórios. Nas Figuras
dente pode ser estimulada nos segmentos posteriores e 16, 17 e 18, ilustra-se a aplicação do batente anterior
inibida nos segmentos anteriores, uma vez que o cresci- de resina, associado ao emprego de arcos com curva
mento da cabeça da mandíbula permite o crescimento acentuada na arcada superior e reversa na inferior, para
dentoalveolar. Em adultos, no entanto, tal movimento é proporcionar a melhoria no quadro de sobremordida, a
contrabalançado pela oclusão posterior, especialmente qual pôde ser evidenciada, no caso em questão, quatro
naqueles com um padrão esquelético hipodivergente. meses após a colagem dos acessórios inferiores.
Caso seja realizado, a estabilidade do movimento do
dente é altamente questionável, pois leva a alterações na A manipulação da curva de Spee, pela utilização de
fisiologia muscular, aumentando o risco de recidiva4. arcos contínuos construídos com fios redondos ou re-
tangulares, tem sido amplamente empregada em Or-
Estratégias de tratamento todontia, para a correção da sobremordida profunda
A sobremordida profunda possui diversas modalidades pela combinação de intrusão dos dentes anteriores
de tratamento e essas estão relacionadas à causa pri- e extrusão dos dentes posteriores. Nesses arcos, na
mária do problema. Sendo assim, as principais estraté- maioria das vezes é incorporada uma curva gradativa,
gias de tratamento são a extrusão dos dentes posterio- de anterior para posterior, contrária à curva de Spee da
res, a intrusão dos dentes anteriores, uma combinação arcada inferior e no mesmo sentido da curva de Spee
de extrusão com intrusão e inclinação para vestibular superior, só que em maior magnitude34. Os arcos com
dos dentes anteriores31. curva de Spee reversa e acentuada corrigem a sobre-
mordida profunda primariamente, pela extrusão dos
Extrusão dos dentes posteriores dentes posteriores, juntamente com a inclinação para
A extrusão dos dentes posteriores é o método mais co- vestibular dos incisivos. Ambos, extrusão e inclinação,
mumente utilizado na correção da sobremordida pro- podem ser movimentos instáveis, em muitos pacien-
funda. Para cada 1mm de extrusão dos dentes poste- tes, devido à alteração do equilíbrio muscular4,7,32.
riores, teremos uma redução do trespasse anterior da
ordem de 1,5 a 2,5mm. Essa modalidade de tratamento Os aparelhos ortopédicos funcionais também podem
está indicada para indivíduos com altura anteroinferior ser utilizados na correção da sobremordida profunda
A B C
Figura 16: Fotografias intrabucais iniciais de um paciente, do sexo masculino, com idade cronológica de 30 anos, no qual observa-se
a sobremordida profunda (B) e a relação sagital de Classe I (A, C).
A B C
Figura 17: Adaptação do batente anterior em resina e colagem de acessórios na arcada inferior.
A B C
Figura 18: Melhoria na sobremordida, alcançada 4 meses após a colagem dos acessórios inferiores.
naqueles pacientes que tenham um padrão braquifacial O aparelho Bionator de Balters possibilita o controle
ou mesofacial com pouca projeção do pogônio, altura da erupção dos dentes anteriores enquanto se mani-
facial anterior reduzida, perfil convexo e exposição ade- pula a erupção dos dentes posteriores, pelo desgaste
quada de incisivos superiores ao sorrir — indivíduos seletivo do acrílico que recobre a oclusal desses den-
portadores de Classe II, divisão 1, na maioria das ve- tes, favorecendo a correção da curva de Spee. A pro-
zes apresentam essas características. Nesses casos, a pulsão e abertura mandibular incluída na aplicação
necessidade de, ao mesmo tempo, aumento da altura do aparelho promove ação ortopédica e dentoalveo-
facial anterior e melhora na convexidade facial contrain- lar maxilomandibular, que reduz a convexidade facial,
dica o uso dos recursos anteriores, onde a extrusão dos aumenta a altura facial anterior e auxilia na correção
dentes posteriores e a rotação mandibular para baixo da Classe II. As Figuras 19, 20 e 21 exemplificam a
e para trás ocorreriam e trariam como resultado efeitos abordagem com o aparelho ortopédico Bionator de
deletérios para o perfil facial. Uma opção de tratamento Balters, seguida da complementação com a aparato-
nessa situação seria a utilização de aparelhos ortopédi- logia fixa, sendo que os resultados finais podem ser
cos funcionais, tais como o Bionator de Balters34. visualizados na Figura 22.
A B C
A B C
A B C
Figura 22: Fotografias intrabucais finais, onde observa-se a neutroclusão (A e C) e a sobremordida corrigida (B).
Intrusão dos dentes anteriores Por outro lado, o sistema que utiliza o encaixe direto
A intrusão dos incisivos superiores e inferiores é outro nas ranhuras dos braquetes anteriores pode incorpo-
método utilizado para correção da sobremordida pro- rar torques indesejados, sendo estaticamente indeter-
funda em pacientes adultos e adolescentes que apre- minado. Vale também destacar que, no sistema que
sentam excesso vertical, distância incisivo-estômio ex- amarra o fio nos segmentos de arco, pode-se mudar o
cessiva e um grande espaço interlabial. ponto da aplicação de força da mesial dos incisivos até
a distal dos caninos, controlando-se o movimento que
Os quatro métodos mais comuns para realização da se deseja realizar — ou seja, intrusão com vestibulari-
intrusão dos incisivos foram descritos por Burstone35, zação, intrusão pura ou intrusão com lingualização39.
Begg e Kesling36, Ricketts37 e Greig38. Todos esses
métodos empregam ângulos caudais nos arcos, para A Figura 23A evidencia o espaço interlabial aumen-
promover uma força intrusiva. Essas técnicas diferem tado, em um paciente do sexo masculino na fase da
no tamanho do arco, material empregado, método de dentadura mista; nas Figuras 23B e 23C, observa-se
encaixe nos braquetes e na execução de torques; no a grande exposição dentária e um perfil facial suges-
entanto, todas reconhecem a necessidade de aplicação tivo de deficiência mandibular. O paciente apresen-
de forças leves e contínuas. tava má oclusão de Classe II, divisão 1, e sobremor-
dida profunda, como pode-se verificar nas Figuras
Para a realização da intrusão de dentes anteriores, 24A, 24B e 24C. As Figuras 25A, 25B, 26A, 26B,
existem, basicamente, dois tipos de mecânicas: o arco 26C ilustram a fase após a abordagem preventiva e
contínuo do tipo arco base, e o sistema com 3 peças. interceptora, e após o emprego do ativador associa-
Na primeira forma, o arco é confeccionado contornando do ao aparelho extrabucal.
toda a arcada dentária e, na região anterior, poderá ser
ligado aos dentes diretamente nos encaixes das ranhu- O sistema de intrusão de 3 peças foi empregado na
ras dos braquetes, ou sendo amarrado em um segmen- arcada superior e o arco base, na inferior, como pode
to de arco. No sistema de 3 peças, dois segmentos de ser visualizado nas Figuras 27A, 27B e 27C. A melhoria
fio são confeccionados, um para cada lado, e encaixa- na sobremordida pode ser observada nas Figuras 28A,
dos em outro segmento na região anterior. 28B e 28C. Os resultados finais do tratamento eviden-
ciam a solução para a sobremordida profunda, o que
O sistema que utiliza a amarração em um segmento pode ser constatado nas Figuras 29A, 29B, 30A, 30B
de arco, preferencialmente a colocação do fio dentro e 30C; e o sucesso do tratamento pode ser observado
da ranhura do braquete, é uma alternativa mecâni- no controle de 10 anos pós-tratamento, nas Figuras
ca mais previsível e estaticamente determinada35,39,40. 31A, 31B, 32A, 32B e 32C.
A B C
Figura 23: Fotografias faciais evidenciando, em A, o espaço interlabial aumentado e a relação lábio-incisivo superior alterada; em
B e C, a grande exposição dentária e o perfil facial sugestivo de deficiência mandibular.
A B C
Figura 24: Fotografias dos modelos de estudo, mostrando a relação oclusal de Classe II (A e C) e a sobremordida profunda (B).
A B C
A B C
Figura 26: Fotografias intrabucais e dos modelos de estudo, após a primeira fase do tratamento ortodôntico.
A B C
A B C
A B C
Figura 30: Fotografias intrabucais finais evidenciando a correção sagital e vertical da má oclusão.
A B C
Figura 32: Fotografias intrabucais evidenciando a manutenção dos resultados do tratamento, 10 anos pós-tratamento.
A B C
Figura 34: Fotografias intrabucais, onde observa-se sobremordida profunda (B) e má oclusão de Classe I (A, C).
A B C
Figura 36: Fotografias intrabucais finais, mostrando a melhoria na sobremordida, que passou a assumir uma condição de normalidade.
Combinação de extrusão, intrusão lingual, como os pacientes Classe II, divisão 2, ou com
e inclinação para vestibular dos incisivos más oclusões de Classe III que podem suportar uma
Em algumas situações, as características clínicas e es- inclinação dos incisivos superiores e inferiores para
queléticas dos pacientes indicam a correção da sobre- vestibular. O risco de inclinação dos dentes inclui a
mordida profunda por meio de uma associação de ex- estabilidade de se vestibularizar os incisivos, por cau-
trusão dentária posterior e intrusão dentária anterior e/ sa da possibilidade de alteração no equilíbrio neuro-
ou correção da inclinação axial. Nesses casos, o contro- muscular peribucal. Em pacientes que apresentam um
le biomecânico é menos crítico, sendo viável a utilização bom padrão facial e apinhamento anterior, estão indi-
de sistemas de forças mais simples, como o nivelamen- cadas a vestibularização dos incisivos e a abertura da
to sequencial das arcadas, para manipular a curva de circunferência da arcada32.
Spee. Outra forma de se realizar esse procedimento é
alterando o posicionamento dos acessórios, colocando Um exemplo de um tratamento envolvendo a utilização
os braquetes anteriores mais para oclusal e os posterio- da curva reversa inferior e o aumento da inclinação vesti-
res mais para gengival. bular como abordagem terapêutica para a sobremordida
profunda pode ser visualizado nas Figuras 33, 34, 35 e
Um aumento na vestibularização dos incisivos su- 36. A correção da inclinação axial dos incisivos pode con-
periores e inferiores pode, efetivamente, diminuir a tribuir para o aumento da sua protrusão e, consequente-
sobremordida profunda. A inclinação para vestibular mente, resultar na obtenção de uma sobremordida nor-
tende a diminuir a sobremordida, secundariamente mal, como pode-se observar nas Figuras 37 e 38.
ao movimento rotacional da coroa dos incisivos. Para
correções suaves a moderadas, essa conduta pode O Quadro 1 apresenta um sumário das indicações
ser muito efetiva. Essa opção pode ser melhor indi- para o tratamento da sobremordida profunda, em fun-
cada em pacientes com inclinação dos incisivos para ção do diagnóstico.
A B C
Figura 37: Fotografias intrabucais evidenciando a sobremordida profunda e a verticalização dos incisos superiores e inferiores.
A B C
Figura 38: Fotografias intrabucais finais, nas quais se observa que a correção da sobremordida profunda ocorreu em função da ade-
quação das inclinações axiais dos incisivos superiores e inferiores.
Sobremordida profunda
Dentária Esquelética
Estimular
Superiores e/ou Camuflagem Cirurgia
desenvolvimento
inferiores dentoalveolar Ortognática
dentoalveolar
Quadro 1: Sumário das indicações de tratamento da sobremordida profunda, com base no diagnóstico20.
Planejamento mecânico: sistema de forças ideal Em relação a esse ponto, Burstone42 classifica as práti-
A base para o sucesso no controle da movimentação cas ortodônticas em dois tipos: a Ortodontia conduzida
ortodôntica reside no conhecimento e aplicação clínica pelo aparelho e a Ortodontia orientada pelos sistemas
dos fundamentos de biomecânica. Após todo o pro- de forças. Sempre que opta pela primeira alternativa,
cesso de diagnóstico, faz-se necessário o estabeleci- o ortodontista perde em controle da movimentação
mento de objetivos específicos de tratamento, com a e previsibilidade de resultados, além de tornar-se re-
descrição detalhada e tridimensional dos movimentos fém de efeitos colaterais. A Ortodontia orientada pelos
ortodônticos desejados41. Entretanto, a incorporação do sistemas de forças, por outro lado, tem o ortodontista
planejamento mecânico individualizado na elaboração como protagonista na condução do tratamento, valori-
do plano de tratamento ortodôntico ainda não é uma zando a individualização do planejamento e o controle
rotina em muitas escolas formadoras de especialistas. da movimentação.
incisivos inferiores35.
consolidados como segmentos de ancoragem (unida- tido das forças e nos momentos, diante da desativação
de reativa) por meio de fios rígidos (aço 0,018” x 0,025” do dispositivo, sendo que a variação é constatada so-
ou 0,019” x 0,025”) e conectados entre si com barra mente na intensidade desses35,39,43,44.
transpalatina ou arco lingual, de forma a neutralizar
os efeitos das forças extrusivas resultantes. O fato de A mecânica de intrusão com o arco base pode ser
utilizar níveis de força muito baixos também reduz as realizada tanto na arcada dentária superior quanto na
forças verticais e momentos reativos. inferior, dependendo da participação dessas no esta-
belecimento da sobremordida profunda. Efetua-se, ini-
Como forma de preservar a ancoragem, Burstone re- cialmente, a consolidação dos segmentos posteriores,
comenda a intrusão inicial apenas dos incisivos, sua que deve incorporar, por vestibular, um segmento de
estabilização com um arco rígido com bypass (des- arco de fio de aço inoxidável 0,019” x 0,025”, do pri-
vios) nos caninos, e posterior intrusão desses com meiro molar ao primeiro pré-molar, e uma barra trans-
cantiléveres individuais. palatina que une um lado ao outro (Fig. 47). Em casos
de ancoragem crítica, recomenda-se incluir o segundo
Considerando a diversidade dos casos com so- molar. Na arcada inferior, a consolidação do segmen-
bremordida profunda, torna-se fundamental ajustar to posterior exige procedimento similar, porém, com a
a abordagem mecânica de acordo com as indivi- complementação com um arco lingual. A barra trans-
dualidades de cada paciente. Não se pode tratar palatina e o arco lingual são confeccionados com fio de
situações distintas sempre utilizando uma mesma aço 0,036”. O segmento posterior compõe a unidade
fórmula. O mais adequado é a incorporação do pla- de ancoragem para a intrusão dos incisivos.
nejamento mecânico à rotina do planejamento orto-
dôntico, sempre partindo da identificação do proble-
ma a ser corrigido, determinando o movimento or-
todôntico ideal para a sua correção, estabelecendo
o sistema de forças adequado para cada situação,
selecionando o aparelho para esse fim, incorporando
as ativações precisas e monitorando clinicamente a
dinâmica da movimentação.
determinado, ou seja, não ocorrem alterações no sen- Figura 47: Consolidação dos segmentos anterior (A) e posterior (B).
Outro requisito necessário para possibilitar a mecânica de comprimento e, com o alicate 139, efetua-se uma
de intrusão envolve a consolidação do segmento an- dobra de 90° em uma das extremidades e, imediata-
terior com arco estabilizador de fio de aço inoxidável mente, constrói-se um helicoide de duas voltas e meia,
0,019” x 0,025”, estendendo-se de incisivo lateral ao com aproximadamente 3mm de diâmetro interno, sen-
homólogo do lado oposto; e esses elementos dentá- do adaptado na mesial do tubo triplo do primeiro molar.
rios deverão estar conjugados, para evitar a abertura Subsequentemente, na região do terço mesial do cani-
de diastemas. Os caninos não são incluídos no seg- no, realiza-se uma dobra de 45° em direção oclusal, a
mento, pois, posteriormente, serão intruídos separa- qual deve apresentar a altura equivalente ao diâmetro do
damente, com o emprego de cantiléver ou alça retan- helicoide (Fig. 48).
gular. Evita-se a intrusão em massa dos seis dentes
anteriores, pois torna-se complexa do ponto de vista Na sequência, realiza-se uma dobra em direção mesial
da ancoragem vertical e poderão ocorrer efeitos inde- e promove-se a curvatura incisal com o alicate 109 ou
sejáveis de extrusão e angulação distal das coroas dos 065. A curvatura deve estar posicionada por cervical e
dentes posteriores35,39,43,44,47. mantendo o paralelismo com o segmento de arco dos
incisivos. Repetem-se as dobras no lado oposto do arco
Para a construção do arco base, recomenda-se o uso do base, concluindo com o helicoide na mesial do tubo
fio de aço ou de titânio-molibdênio de 0,017” x 0,025”, triplo do primeiro molar. Após a confecção, deve-se
ou de aço de 0,018” x 0,025. No caso do uso do fio conferir se o arco base se encontra passivo, antes de
de aço, realiza-se a incorporação do helicoide. Inicial- promover a ativação (Fig. 49). A ativação é efetuada rea-
mente, corta-se um segmento de fio de aço com 17cm lizando-se uma dobra na mesial do helicoide, seguindo
A B
C D
Figura 48: Construção passo a passo do arco base: A) dobra de 90°, B) helicoide, C) helicoide com duas voltas e meia, D) degrau anterior.
A B C
D E F
Figura 49: Construção passo-a-passo do arco base e sua ativação: A) Curvatura incisal, B) Adaptação da curvatura incisal, C) Arco base
construído, D) Passivo, E) Ativado, F) Conferência da força.
o mesmo princípio do cantiléver, no sentido ocluso-cer- acompanhada da inclinação vestibular ou lingual dos
vical, de tal forma que o arco base se desloque para incisivos, dependendo da linha de ação da força, em
cervical (Fig. 49). relação ao centro de resistência. Caso a força seja
aplicada anteriormente ao centro de resistência, a
Após a ativação, empregando-se um tensiômetro de intrusão será acompanhada da inclinação vestibular,
precisão, confere-se a força resultante de retorno do sistema de forças que é, frequentemente, indicado na
arco base da posição ativa de deslocamento para a má oclusão de Classe II, divisão 2. A melhor maneira
cervical até a posição neutra. Vale ressaltar que, para de se alcançar esse objetivo é amarrar o arco base na
a intrusão de incisivos superiores, é necessária uma linha média entre os incisivos centrais4.
força leve, de 15 a 20g por dente; já para os inferiores,
varia de 10 a 15g por elemento dentário35,48 (Fig. 49). Quando a linha de ação da força encontrar-se posterior-
mente ao centro de resistência, ocorrerá, concomitan-
O arco base ativo deverá ser fixado em seu extremo dis- temente com a intrusão, a lingualização dos incisivos.
tal, passando-se uma ligadura metálica pelo centro do Entretanto, quando se deseja a intrusão pura, o ponto
helicoide e amarrando-a ao gancho do tubo molar. Na re- de aplicação da força deve coincidir com o centro de
gião anterior, deve ser amarrado em um ponto de aplica- resistência. Nos casos em que os incisivos apresentam
ção entre o incisivo central e o lateral, ou entre os incisivos uma moderada proclinação, o arco base deve ser amar-
centrais, dependendo do objetivo da intrusão (Fig. 50). rado ao segmento anterior, em um ponto localizado dis-
Entretanto, o arco base não deve ser encaixado direta- talmente aos incisivos laterais4,40,47.
mente nas ranhuras dos braquetes dos incisivos, para se
prevenir o aumento do torque e a divergência das raízes. O sistema de forças resultante da ativação do arco base
é composto por uma força vertical intrusiva e um mo-
Para o movimento intrusivo controlado, é necessária mento que tende a promover a rotação dos incisivos,
a determinação do centro de resistência dos quatro dependendo do ponto de aplicação da força, em rela-
incisivos, que se localiza na mesial da raiz do canino, ção ao centro de resistência dos incisivos. Na unidade
a cerca de um terço da distância da crista óssea ao de ancoragem, observa-se a atuação da força vertical
ápice radicular45. Assim sendo, a intrusão poderá ser extrusiva e momento de angulação distal nos molares.
Entretanto, o efeito sobre a unidade de ancoragem pode resistência desses elementos dentários, poderá promo-
ser reduzido pela incorporação de um maior número de ver a inclinação lingual dos molares. Esse efeito pode
dentes e pela conexão dos dois lados da arcada den- ser evitado com o emprego da barra transpalatina43.
tária, por meio da barra transpalatina e do arco lingual.
Um controle vertical adicional pode ser proporcionado A aplicação de força de magnitude elevada poderá pro-
pelo uso do aparelho extrabucal de tração alta35,39,43,44. vocar a atuação de momentos de força que tendem a
angular as coroas dos molares para distal, o que pode
A evolução do tratamento pode ser observada com a ser prevenido com a utilização do aparelho extrabucal.
intrusão média de 0,7mm por mês, e o arco de intrusão
deve ser reativado a cada 6 semanas; porém, com o O arco de intrusão deve ser amarrado nos tubos mola-
controle mensal do movimento35,39,44. A intrusão média res, evitando, no caso da linha de ação da força se lo-
dos incisivos superiores pode ser de 2,36mm, com no calizar anteriormente ao centro de resistência dos incisi-
máximo 4,0mm, empregando-se uma força de baixa vos, que se inclinem para vestibular durante a liberação
magnitude, com 60g48. da força intrusiva.
Os efeitos indesejáveis do arco de intrusão podem ser A exemplificação do emprego do arco base pode ser
prevenidos com o planejamento adequado da linha de observada na Figura 51, na qual se observa que a so-
ação da força em relação ao centro de resistência. En- bremordida profunda foi corrigida com o emprego do
tretanto, como o arco de intrusão é inserido no tubo arco base de Burstone, sendo que o ponto de aplicação
molar, sendo posicionado por vestibular ao centro de da força foi entre os incisivos centrais.
A B
Figura 50: Fixação do arco base e ponto de aplicação da força nas regiões anterior (A) e posterior (B).
A B C
Figura 51: Sobremordida profunda (A), emprego do arco base (B) e correção da sobremordida (C).
A A
Figura 52: Consolidação do segmento anterior: vistas frontal (A) e lateral (B).
A B C
Figura 53: A) Construção do helicoide e demarcação da localização para o gancho; B) cantiléver confeccionado e C) teste para verificar
se o cantiléver encontra-se passivo.
A A
Com o alicate 139 posicionado no helicoide, realiza-se Nas Figuras 56, 57 e 58, observa-se a aplicação do sis-
a pré-ativação do cantiléver, por meio de uma dobra em tema de intrusão e retração simultânea, sendo que os
direção cervical. O cantiléver ativado é fixado ao seg- diastemas existentes na região anterior foram fechados
mento posterior pelo tubo molar, e o gancho do cantilé- ao mesmo tempo em que ocorria a correção da sobre-
ver é encaixado no braço do segmento anterior (Fig. 54). mordida profunda.
A B C
Figura 56: Fotografias intrabucais evidenciando a má oclusão de Classe II, divisão 2, e a sobremordida profunda.
A B C
Figura 57: Fotografias intrabucais demonstrando o emprego do sistema de retração e intrusão simultânea.
A B C
Figura 58: Fotografias finais, mostrando a correção da má oclusão, em seus aspectos sagital e vertical.
A B C
Figura 59: Alça retangular, sendo que em: A) Alça retangular adaptada; B) alça retangular confeccionada e em C) Ativação.
de momentos que tendem a angular a raiz do canino efetua-se na distal do canino uma dobra em 90°, em
durante a intrusão43,47. direção cervical; posteriormente, efetua-se uma dobra
para a mesial. Na mesial do canino, dobra-se o fio em
Inicialmente, constrói-se uma dobra em forma de ôme- 90° para a oclusal. Finaliza-se a alça com uma dobra de
ga, com o alicate Tweed, visando a estabilização da forma a se encaixar passivamente na canaleta do bra-
alça retangular no sentido mesiodistal. Na sequência, quete do canino (Fig. 59).
A B
Figura 60: Cantiléver para intrusão de caninos: cantiléver ativado (A) e fixado (B).
Para a ativação da alça, simula-se o movimento de valores iniciais, ocorre em torno de 20 a 40% dos ca-
intrusão, com o auxílio de dois alicates, e efetua-se a sos50,51,52, mostrando-se relacionada à severidade inicial
pré-ativação nos ângulos alterados durante a simulação. do problema53. A recidiva ocorre nos dois primeiros anos
de pós-tratamento54; entretanto, a alteração que pode
O canino pode ser intruído com o emprego do cantilé- ocorrer no período pós-tratamento evidencia um peque-
ver, que é considerado um sistema estaticamente de- no aumento no valor da sobremordida, que pode não
terminado, ou seja, uma das extremidade é inserida no apresentar significância clínica55.
tubo molar e a outra, amarrada em apenas um ponto de
contato (Fig. 60). Alguns fatores colaboram para uma maior estabilidade
na correção da sobremordida profunda. Os pacientes
Geralmente, é confeccionado com fio 0,017” x 0,025” de em crescimento se beneficiam mais com esse proto-
aço ou de TMA, sendo que a diferenciação no uso dos colo de tratamento, pois durante o crescimento tende
fios é a introdução de um helicoide próximo ao tubo mo- a ocorrer o aumento da distância vertical entre a ma-
lar. A extremidade mesial do cantiléver termina com uma xila e mandíbula, assegurando uma maior estabilidade
dobra em forma de gota coincidindo com o longo eixo durante a correção do problema50. Assim sendo, a ex-
do canino. Após a construção, testa-se a sua passivida- trusão de molares em pacientes em crescimento pode
de e efetua-se a ativação, com uma dobra em direção proporcionar o sucesso no tratamento da sobremordida
cervical na região mesial ao helicoide. O cantiléver ativo profunda2,33,56. Por outro lado, a intrusão garante maior
é fixado ao tubo molar e ao braquete do canino. A força estabilidade em pacientes adultos57.
recomendada para intrusão de canino superior ou infe-
rior é de 25 a 30g. Os tipos faciais hiperdivergentes mostram uma estabi-
lidade maior de correção da sobremordida profunda,
ESTABILIDADE E CONTENÇÃO quando comparados aos tipos faciais hipodivergentes,
A correção da sobremordida profunda pode ser alcan- o que é justificado pelo fato de que a taxa de cresci-
çada por meio de uma variedade de métodos e com mento no sentido vertical é mais alta e apresenta maior
resultados previsíveis. Entretanto, o maior desafio con- duração nos pacientes com valor elevado do ângulo do
siste em manter essa correção. A literatura tem eviden- plano mandibular4.
ciado a preocupação com a estabilidade no tratamento
da sobremordida profunda50. Alterações na sobremordi- A extrusão de molares como forma de tratamento da
da profunda e nas dimensões verticais podem ocorrer, sobremordida profunda é uma alternativa que garante
e a recidiva no período pós-tratamento, em direção aos uma possibilidade maior de estabilidade em pacientes
em crescimento, desde que não invada os limites de dentários e estéticos. É amplamente aceito pela literatura
tolerância do espaço interoclusal57. O movimento extru- que a correção da sobremordida profunda é mais estável
sivo além do espaço interoclusal pode não ser estável, e mais fácil de ser obtida em pacientes que apresentam
devido à pressão da oclusão posterior e ao alongamen- crescimento esquelético e — independentemente se será
to muscular, acarretando na recidiva em pacientes com efetuada por meio da intrusão de incisivos, extrusão dos
padrão horizontal. Em pacientes adultos, seria aconse- dentes posteriores ou pela combinação de ambas — é
lhável a intrusão de incisivos22,57, sendo possível a in- fundamental que o profissional estabeleça o planejamen-
trusão de 1,5mm dos incisivos superiores e de 1,9mm to mecânico adequado, conhecendo o sistema de for-
dos inferiores58, ou valores maiores, de até 3,3mm de ças produzido pela ativação de cada um dos recursos
intrusão55. No entanto, alguns fatores contribuem para utilizados, pois o sucesso do tratamento dependerá do
a ocorrência da recidiva, a erupção continuada dos in- domínio dos componentes ativos e reativos, e da possibi-
cisivos inferiores, a inclinação do plano oclusal, o nivela- lidade de trabalhar com a previsibilidade dos resultados e
mento inadequado da curva de Spee, ângulo interincisi- do controle dos movimentos dentários.
vos aumentado e rotação mandibular anti-horária.
ABSTRACT
O ângulo interincisivos exerce influência na estabilida- Considerations about deep overbite etiology, di-
de da correção da sobremordida profunda. Assim sen- agnosis and treatment. / Overbite is the most com-
do, a verticalização excessiva dos incisivos promove o mon component in adult and children malocclusion
aumento do ângulo interincisivos e relaciona-se com a and its correction represents one of the first and most
recidiva da sobremordida profunda. Portanto, obter a difficult stages of treatment. It is of paramount impor-
inclinação axial adequada desses dentes ao término do tance that the professional know the nature of deep
tratamento pode representar um fator de estabilidade59. overbite, and while developing a treatment planning,
observe aspects related to its etiology, diagnosis and
Os protocolos de tratamento com extrações podem biomechanical considerations. Depending on the ob-
influenciar na estabilidade da correção da sobremor- jectives, deep overbite can be corrected by means of
dida profunda57,60,61; entretanto, outro estudo62 não mechanics for intrusion of anterior teeth, extrusion of
comprovou a existência de diferenças na estabilida- posterior teeth or the combination of both. In extrusion
de entre casos tratados com e sem extrações. Ca- mechanics, the use of resin anterior bite plate, func-
sos tratados com ou sem extrações, e que incluíram tional orthopedic appliances, or even fixed appliances
a mecânica de intrusão de incisivos, não apresentam associated with arches with reverse curve of Spee in
diferenças significativas57. the lower arch and accentuated curve of Spee in the
upper arch should be highlighted. Concerning intrusion
CONSIDERAÇÕES FINAIS mechanics, base arch and three-piece base arch ap-
A etiologia da sobremordida profunda deve ser cuidado- pliances are indicated to provide control of incisors tip-
samente analisada, para proporcionar subsídios para a ping during intrusion. This paper aimed to discuss the
elaboração de um diagnóstico global e de um plano de aspects concerning etiology, diagnosis and alternative
tratamento que atenda às necessidades de cada pacien- approaches in deep overbite treatment. / Keywords /
te, visando alcançar os melhores resultados esqueléticos, Overbite. Corrective Orthodontics. Stability.
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