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Caderno de

Histórias

FINANCIADO POR IMPLEMENTADO POR

USAID
FROM THE AMERICAN
eC CENTRO DE APREN
E CAPACITAC::AO
• DA SOCIECACE CIVIL
□IZAC EM

PEOP\.E

PARCEiROS c5
World Vision·
1
NOTA INTRODUTÓRIA
Esta brochura reúne histórias de sucesso registadas durante o primeiro
ano de implementação do Programa AGE–Avançando a Educação
das Raparigas, uma iniciativa da USAID destinada à redução das
várias barreiras que dificultam a inclusão e o avanço das raparigas no
sistema educativo.

O Programa Avançando a Educação das Raparigas está a ser


implementado pelo Consórcio composto por CESC- líder de
implementação e parceiros: Nweti, Uataf, Ku-kumbi e Visão Mundial
Internacional para implementar o programa AGE nas províncias de
Nampula e Zambézia, cobrindo 12 distritos (6 para cada província),
nomeadamente: Namacurra, Mocuba, Lugela, Milange, Gurué e Alto-
Molócuè (Zambézia) e Murrupula, Rapale, Mecúburi, Meconta,
Monapo e Mossuril (Nampula). O Programa contribui directamente
para o Objectivo Estratégico 1 do PEE 2020-2029: Acesso, Retenção
e Equidade. Com duração de cinco anos, o programa tem como
principal objectivo apoiar o avanço da educação das raparigas dos 10
aos 19 anos, para que mais raparigas possam concluir o Ensino
Básico (EP2 e ESG1), promovendo a sua retenção, aprendizagem e
progressão de ciclos.

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1: Melhorado acesso à escola para raparigas entre os 10 e os 19 anos e aumentado o apoio
comunitário à educação das raparigas. Realização de Clubes de Raparigas e Rapazes que
RESULTADOS & PRINCIPAIS ACTIVIDADES

estão fora da escola; Modelos de Referência; Aquisição de registos de nascimento e


atestados de pobreza para raparigas vulneráveis; Apoio com material escolar; Promoção de
campeões de mudança; Ligação com Sector Privado e Sensibilizações via rádio.

2: Melhorada a retenção e o desempenho das raparigas nas escolas primárias e secundárias.


Realização de Clubes de Raparigas e Rapazes dentro da escola; Modelos de Referência;
Provisão de kits de higiene menstrual e materiais didáticos; Prémios às escolas; Formações
a provedores de Serviços de Educação (IFPs, SDJET, CEs); Advocacia e Estudos
(Reduçãodo Absentismo; Melhoria dos Centros, Lares e Internatos, Revisão dos 20% do
Currículo Local); Ligação com Sector Privado, Pequenos Fundos Locais, Campos de
Transição Escolar.

3: Aumentado o acesso das raparigas e rapazes aos Serviços Sociais chave como a Saúde,
Água, Higiene e Saneamento e serviços de resposta à Violência (Justiça, Acção Social,
etc.). Ligação das escolas/ comunidades com os Serviços de Saúde, WASH,
SSR/Planeamento Familiar; Rastreio e Referenciamento para SAAJs; Unidades Sanitárias;
Brigadas Móveis; Rastreio e Referenciamento de casos de VBG aos serviços de justiça e
polícia; Provisão de kits de higiene menstrual e escolar; Formações dos CEs e Núcleos de
Higiene Escolar Reforço dos conhecimentos de Raparigas e Rapazes sobre os Serviços.

4: Melhorada a segurança das Raparigas na Escola e Comunidade. Formação em Escolas


Seguras e Acolhedoras e Sistema de Alerta Precoce; Currículo de Ritos de Iniciação;
Disseminação do Mecanismo Multisectorial de Resposta à Violência na Escola com os
actores-chave.

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A MENTORA QUE USA A HISTÓRIA DE
SUA VIDA PARA MOTIVAR MENINAS A
ESTUDAREM E VOLTAREM À ESCOLA
Anita Romão Paulo, de 19 anos é mentora do AGE que vive no Bairro Primeiro de Maio, no distrito de
Milange, Zambézia. Anita facilita cinco sessões semanais de clubes juvenis e diálogos comunitários.
Anita é órfã e mora sozinha há quase 8 anos.

ANITA ROMÃO PAULO

“Minha trajetória da 7ª a
12ª classe, vivendo sozinha, indo para
a escola sem comer, sem roupas decentes, sem todo tipo de material escolar é um exemp-
lo para as meninas. Poderia ter casado, poderia ter namorado e até ter engravidado, como aconteceu com muitas meninas. Mas isso não aconteceu porque meu
vida das meninas do meu bairro.”

DIÁLOGOS COMUNITÁRIOS AUMENTAM O APOIO


DOS PAIS NA EDUCAÇÃO DAS RAPARIGAS NA
LO- CALIDADE DE CAZUZO, DISTRITO DE
MURRUPULA
O AGE - Avançando a Educação das Raparigas com
negativos das normas e práticas socioculturais que
fundos da USAID implementou durante o seu
constituem barreiras para que meninas e meninos
primeiro ano de actividades, no distrito de Murrupula,
possam estudar e darlhes a base para sonhar e construir
Província de Nampula, 7 grupos de diálogos
um futuro melhor. Diferentes tópicos são discutidos,
comunitários, constituídos por pais, cuidadores, líderes
como empoderamento de meninas e meninos com
comunitários pessoas influentes, homens e mulheres.
informações sobre habilidades para a vida, saúde e
Os Grupos de Diálogos Comunitários são espaços
serviços sexuais e reprodutivos, serviços de violência
onde as comunidades identificam e discutem as
baseada em género, comunicação positiva entre pais e
principais barreiras que impedem a educação das
filhos e outros. Em Murrupula, um total de 147
meninas, e onde se discutem soluções locais para
participantes, incluindo 88 homens e 59 mulheres,
reverter a situação. O objetivo é estimular a reflexão
participaram do primeiro ciclo de diálogos
nas comunidades sobre os efeitos
comunitários.

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“Meu pai morreu quando eu tinha seis
dade onde vive, nomeadamente uniões como elas, com o sofrimento que passei
anos, não o conhecia, só tenho a imagem
prematuras, gravidezes precoces, eu poderia ter engravidado, poderia ter me
dele por fotos. A minha mãe faleceu em
abandono escolar, violência contra casado, mas eu disse não, quero terminar
2015, na altura em que eu tinha
crianças, entre outros. “Este treinamento meus estudos. Elas também podem ser
terminado a 6ª Classe”, começou por
despertou minha mente. Agora, é possível como eu e fazer ainda melhor.” Anita
explicar. “Não conseguia estudar, passei
com a minha história despertar outras disse que sente que “as meninas gostam
anos a sofrer. Eu tive que pegar na
meninas para o sonho, mesmo com as de ouvir a minha história e isso as motiva.
agricultura e trabalhar muito cedo, vivia
dificuldades que enfrentam no dia a dia.” Por exemplo, sempre que iniciamos uma
da machamba que mal conseguia
Anita descreve dois tipos de mudanças. A sessão, elas reservam alguns minutos para
produzir. Na co- munidade, eu passava
primeira está relacionada com as que eu possa contar a minha história. Eu
meu tempo a trançar o cabelo das meninas
condições de vida: “Este ano pela sinto que eles gostam e as inspiro de
e mulheres. Elas me ofereciam comida, às
primeira vez consegui capinar os 5 forma positiva. Às vezes elas vêm com
vezes me davam um dinheiro e às vezes
hectares da minha machamba, o que antes perguntas que eu sinto que fazem porque
me davam material escolar. Foi assim que
não tinha conseguido. “O subsídio um dia eu contei algo parecido”.
consegui estudar, em 2021 concluí a 12ª
fornecido por ser mentora, me ajudo a ter Anita sonha com uma comunidade onde
classe.” No ano de 2022, com fundos da
sustento na minha machamba, mas todas as meninas conseguem concluir os
USAID, através do Programa AGE –
também consigo viver e suprir minhas seus estudos livres de doenças, gravidez,
Avançando a Educação das Raparigas,
necessidades básicas”. uniões forçadas e sem violência de
Anita Paulo, e outras 11 raparigas do
“A segunda mudança que considero mais género. Anita também sonha que “como
distrito de Milange, beneficiaram de uma
importante é o facto de poder usar o meu todos sabem, Milange foi afetada em
formação em Técnicas de Facilitação de
exemplo de vida para encorajar as Março pelo ciclone Freddy, minha casa
Mentoria através dos Manuais e guias
meninas da minha comunidade a irem à foi destruída, algumas paredes tinham
utilizados no Programa, que incluiu
escola e aquelas que, por vários motivos, caido, como pode ver. O meu sonho é
gestão de casos de Violência de Gênero e
desistiram, a voltarem à escola. Digo-lhes reabilitar esta casa e torná-la a melhor
diversos outros temas.
que sejam como eu, que estudem e casa deste bairro. Eu acho que eu posso!”
Segundo ela, a formação chamou-lhe a
terminem os estudos sem engravidar, sem
atenção para os vários males que
casar. Eu sou uma menina bonita
acontecem na comuni-

DIÁLOGOS COMUNITÁRIOS

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DONA TERESA CONTA QUE, AO
CON- TRÁRIO DO PASSADO, TEM
UMA JORNADA MAIS ORGANIZADA
PARA CADA UM DE SEUS FILHOS
Teresa António tem 32 anos e é mãe de seis filhos, 3 meninas e 4 meninos. Ela
reside na comunidade de Cazuzo em Murrupula. Têm tempo para ajudar nos
trabalhos de casa, para preparar as aulas, para juntar os amigos, brincar e para ir
à escola.

“Quando meu filho ou filha estão a brincar e percebo que se


esquecem de ir para a escola, vou procurá-los, coisa que antes não
fazia. Dona Teresa conta que o grupo de diálogos comunitário,
criado pelo AGE em sua comunidade, também melhorou o
relacionamento e as situações de violência que ocorriam de forma
recorrente em sua casa. “Nós discutíamos muito aqui em casa, era
problema com os filhos, com meu marido, às vezes transferimos
estes problemas para os bairros. Isso tudo aconteceu porque não
tínhamos tempo para conversar e nos entender. Quando meu
marido saía com amigos, eu achava que ele ia me trair. Hoje
sabemos como lidar com conversas. A conversa é o mais
fundamental em minha casa.”

“ESTAMOS A RECEBER MUITA


PARTICIPAÇÃO E ENVOLVI-
MENTO DOS PAIS NA ESCOLA”
O Sr. Afito Afonso Calavete tem 36 anos e é pai de 7 filhos, 5
dos quais são do sexo feminino. Mora em Imprima, no Posto
Administrativo de Cazuzu. Calavete é presidente do Conselho
de Escola da Escola Primária e Completa de Cazuzu, onde
tem como função coordenar todos os pais e responsáveis e
fazer a ligação entre a comunidade e a escola. Por meio do
grupo de diálogo comunitário estabelecido na comunidade
onde está localizada a escola e do qual o Afito participou, o
diálogo entre pais e responsáveis e seus
filhos e vice-versa melhorou muito. Afito Afonso Calavete
Presidente do Conselho de escola da EPC

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Aprendi muito nessas
conversas entre pais.
Antes de ir às reuniões, eu não conseguia
ficar um tempo sem bater e/ou insultar
meus filhos. Agora posso trocar mimos,
fazer um pedido aos meus filhos de forma
adequada, sem insultos e sem recorrer à
violência.

TERESA ANTÓNIO

“Primeiro, houve um comportamento muito negativo com os pais e responsáveis dos


nossos meninos e meninas, inclusive comigo. Não havia interesse por parte dos pais em
relação à educação dos filhos, faltava diálogo entre nós e as crianças. Todas as questões
de educação eram consideradas um problema apenas da escola. Três meses depois
dessas conversas nos diálogos comunitários, percebemos muita participação e
envolvimento dos pais na escola e estamos a conquistar mais alunos”. Disse ainda, que
“antigamente, por questões culturais, poucas crianças ingressavam na escola. Veja que
eu, como presidente do Conselho Escolar, tive problemas com minha filha de 14 anos,
no último ano ela abandonou a 6ª classe, ela não ficava em casa e eu via esse problema
crescer”, ele disse e continuou “Quando comecei a participar das reuniões dos Diálogos
Comunitários, aprendi a ter uma conversa normal com minha filha. Comecei a falar
regularmente sobre a escola, sobre a necessidade de adiar o casamento. As brincadeiras
nunca terminam, o casamento não é a solução do sofrimento e sobre a melhor forma de
planear o tempo. Graças a estas conversas, este ano, a minha filha retomou a escola e
está a fazer a 6ª classe”.

de Cazuzu
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“NÃO POSSO ENGRAVIDAR AGORA, TEN-
HO QUE ESTUDAR E TER MEU EMPREGO,
SÓ ASSIM POSSO TENTAR ARRUMAR
UMA FORMA DE CONSTITUIR FAMÍLIA”
Zinha Ramisson Régan, 19 anos, beneficiária do programa AGE, é aluna do 10ª Classe da Escola
Secundária Armando Emílio Guebuza, distrito de Murrupula. Aos 13 anos, em 2018, Zinha teve que
fazer um aborto de uma gravidez indesejada.
“Estudava a 5ª Classe, e pensei em abandonar os estudos. Mas AGE - Avançando a Educação das Raparigas, num espaço
apesar do desentendimento com meus pais derivado do meu seguro em Murrupula. “Numa dessas sessões discutimos as
comportamento, eles tiveram que acionar um mecanismo para o vantagens de nós, jovens, planearmos a vida que queremos no
meu aborto. Senti muita dor que continua até hoje na minha futuro. Nesta sessão
cabeça.” Durante três meses, de finais de Janeiro a Abril de eu aprendi os diferentes métodos de planeamento
familiar. Com a experiência passada, fiquei curiosa para pedir a
2023, Zinha, na companhia de outras 19 raparigas da sua escola
nossa mentora que me colocasse em contacto com o SAAJ
beneficiou de sessões de um Clube de Interesse criado e
(Serviços de Saúde Amigos de Adolescentes e Jovens), foi aí que
operacionalizado pelo Programa me referenciaram”, conta Zinha.

Zinha é um exemplo de que podemos usar nossa dor e transforma-la em aprendizado, passar pelo
clube de meninas ajudou ela a olhar sua história com outros olhos, usar o aprendizado passado no
grupo para melhorar seu comportamento e sua história para contar e chamar a atenção para outras
meninas sobre gravidez e outras barreiras que enfrentam em suas vidas diárias.
No clube, elas foram treinadas
em habilidades para a vida.

“Quando cheguei ao SAAJ recebi muitos conselhos. A enfermeira me falou sobre vários métodos de planeamento familiar, suas vantagens e

ZINHA RAMISSON RÉGAN

“A situação foi dramática no nosso distrito. Só para ilustrar, no envolvem pais e cuidadores, incluindo líderes comunitários, bem
final do primeiro semestre, no ano passado, pelo menos sete como membros dos conselhos de escolas. Este ano, o AGE criou
raparigas desistiram e perderam o ano devido a gravidez 44 clubes de interesse e 11 grupos de diálogos comunitários no
precoce. Esta situação não agrada a ninguém. Este ano, distrito de Mocuba. Para além dos pais e encarregados de ed-
terminámos o primeiro semestre sem um único caso de gravidez ucação compreenderem a importância da educação das crianças,
precoce nas nossas escolas”, explicou o Director do Serviço de o Director do sector de educação em Mocuba, Faria Alberto, diz
Educação, Juventude e Tecnologia do distrito de Mocuba, Farias que “as próprias raparigas estão a adquirir conhecimentos sobre
Noé Alberto, que continuou, dizendo o seguinte: “Havia falta de questões de Saúde Sexual e Reprodutiva, o que as ajuda a
interesse dos pais e encarregados de educação pela educação dos cuidarem de si próprias”.
seus filhos, os pais não se envolviam na vida escolar dos seus A título de exemplo, o Director da Educação de Mocuba, disse
filhos, principalmente das raparigas”. que: “este ano, não temos registo oficial de raparigas grávidas
Como parte da implementação das actividades do programa nas nossas escolas, atribuímos isso ao trabalho que está a ser
AGE, Avançando a Educação das Raparigas, uma iniciativa feito pelo programa AGE nas nossas comunidades. Também o
financiada pela USAID Moçambique, o programa centra-se na facto de o programa estar a usar os meios de comunicação, no
criação de clubes de interesse, clubes escolares e diálogos caso específico, a rádio comunitária, partilhando mensagens que
comunitários. O Programa AGE estabeleceu clubes de inter- estão a transformar as pessoas. No entanto, o nosso sector é o
esse nas escolas, envolvendo crianças do Sistema Nacional de que mais ganha. “Já não sofremos com a procura das crianças
Educação e na comunidade onde trabalha com crianças que para participarem nas aulas, elas estão sempre presentes na
estão fora do sistema de ensino, apoiando a sua reintegração. Os escola.”
diálogos comunitários são estabelecidos na comunidade e
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“QUANDO EU SABIA QUE ERA DIA DE APRESENTAR OS
DOCUMENTOS DE IDENTIFICAÇÃO, ACABAVA NÃO INDO
PARA A ESCOLA E PERDIA AULAS”
Dilénia Hortênsio tem 14 anos de idade, é natural da zona de Mepaniua, localidade de Invinha, no
distrito de Gurué. Perdeu o pai quando tinha apenas 4 anos de idade e, desde então, vive com a mãe, que
está desempregada. A pequena Dilénia frequenta actualmente a 10ª classe na Escola Secundária Madre
Maria Clara, na Invinha.
Desde que Dilênia Hortênsio nasceu, ela
à escola”, disse a mãe. “Quando terminei tinham documentos. A escola pediu-me
nunca teve a oportunidade de tirar um
a 7ª classe, tive muitas dificuldades em para ter uma identificação oficial. Como
documento de identificação, sua mãe, a
passar da escola primária para a escola eu não tinha dinheiro para a tirar, a minha
Sra. Verônica Januário alegou que não
secundária, onde estou actualmente a mãe prometia sempre tratar disso, mas não
tinha condições financeiras para processar
estudar. A declaração da igreja já não era podia”, disse e acrescentou: “A minha
a certidão de nascimento de Dilênia, pois
válida para a escola, mas tive sorte mãe não trabalha, sustenta-nos com a
seu marido faleceu. A partir de então, ela
porque, ao longo dos anos, a minha mãe pequena produção da sua machamba. Ela
passou a assumir toda a responsabilidade
acabou por encontrar o meu cartão de produz ervilhas e mandioca, mas não te-
pela filha e explica que não tem sido fácil
nascimento (cartão de bebé, emitido pelo mos o suficiente para vender nem
levar a família e ter uma vida normal. O
hospital onde a criança nasce). Foi este dinheiro para ir à aldeia buscar os
pouco rendimento que aufere é através da
documento que garantiu o meu acesso à documentos”.
venda da produção agrícola, e a sua
escola, apesar dos muitos Durante o ano passado, quando Dilênia
pequena machamba, serve apenas para
constrangimentos por que passei. Na Hortênsio tinha 13 anos de idade e
alimentação, “Para inscrever a minha
minha idade, é raro não ter um frequentava a 9ªclasse, participou do
filha, pela primeira vez, tive de usar uma
documento de identificação oficial. Eu era clube sob a orientação de uma mentora
declaração que pedi na igreja. A igreja
discriminada na sala de aula, porque não engajada que mobilizava as meninas para
passou o documento que permitiu o
tinha um documento de identificação acções positivas em suas vidas e
acesso da minha filha
oficial, sentia-me muito envergonhada melhorava suas habilidades de vida, do
por estar entre os que programa

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AGE – Avançando a Educação das à escola e faltava às aulas.” cemos muito, a partir de agora, o
Raparigas, uma iniciativa da Agência O AGE tem estado a apoiar a aquisição sofrimento ficou para trás. Já não vamos
dos Estados Unidos para o de certidões de nascimento em apoio a sofrer para nos inscrevermos e obtermos
Desenvolvimento Internacional raparigas e rapazes vulneráveis, como outros documentos escolares. Este ano,
(USAID, onde acabou por apresentar es- tratégia para eliminar a barreira da se a minha filha passar, já podemos pedir
como uma das barreiras que a impediu falta de documentos de identificação, o certificado sem qualquer
no processo de educação, a cédula que afecta a maioria dos adolescentes e constrangimento. Com esse documento
pessoal. “Apesar de ter continuado a es- jovens, nas províncias de Nampula e também esperamos ter várias
tudar, a falta de cédula pessoal Zambézia. oportunidades”, diz dona Verônica
preocupava-me, porque era me sempre Dilênia Hortênsio, está entre os 504 Januário, mãe de Dilênia. No primeiro
pedida. Por vezes, quando sabia que beneficiários da AGE, no distrito do semestre deste ano, a pequena Dilênia
hoje era o dia de apresentar os Gurué, que conseguiram obter cédulas registrou uma conquista pedagógica
documentos de identificação, acabava pessoais. “Agrade- positiva.
por não ir

“Com a minha
certidão de nascimento, a minha vontade de
estudar e concluir os meus estudos é cada
vezmaior. Es- pero melhorar o meu
desempenho”, diz a pequena Dilênia que
sonha em ser professora, “porque no futuro
vou ensinaras crianças desta comunidade, e ser
como as professoras que nos ensinam hoje, na
Escola Secundária Madre Maria Clara de
Invinha.”

DILÉNIA HORTÊNSIO
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Diálogos comunitários mudam a
per- ceção dos pais e cuidadores em
Mocu- ba sobre o Planeamento
Familiar

- APRENDEMOS QUE TER UM PRESER-


VATIVO OU FAZER PLANEAMENTO
FAMILIAR NÃO É SINAL DE SER UMA
MULHER LEVIANA. ARMINDA PEDRO
MENTIROSO.

- O PRESERVATIVO É UM MÉTODO DE
PLANEAMENTO FAMILIAR QUE ME
AJUDA A PREVENIR DOENÇAS E
GRAVIDEZ PRECOCE. LUISA CAVALO.

“Antes de me juntar a este grupo do AGE, tinha uma perceção diferente sobre as questões relacionadas com a sexualidade, pensava que os
ARMINDA MENTIROSO
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Luísa Cavalo tem 53 anos, é casa-
da e mãe de sete filhos, três dos Ambas as mulheres, Arminda e Luísa, são
quais raparigas de tenra idade, e membros de um grupo de Diálogos
Arminda Pedro Mentiroso tem 44 Comunitários, que contribui para reduzir as
anos, também casada e mãe de barreiras à educação e outros tópicos
três filhos, dois dos quais rapari- relacionados com a VBG, SSR, WASH e o
gas de 26 e 11 anos, respectiva- apoio parental das raparigas é dis- cutido,
mente. levando a planos de acção comunitários,
criados no âmbito do AGE- Avançando a
Arminda Mentiroso é uma mulher educação das Raparigas, um programa
muito poderosa no bairro de Man- financiado pela USAID. Moçambique.
gulamelo, no distrito de Mocuba.
É Secretária Adjunta da área.

Com os diálogos comunitários, a comunidade de


Comunitários, percebi que o preservativo é um
Mangulamelo em Mocuba está a mudar a sua
dos métodos de planeamento familiar, que previne
forma de olhar para certos aspectos relacionados
doenças e gravidez precoce. Quando me lembro do
com a Saúde Sexual e Reprodutiva, a Sra.
cenário que se passou nesse dia (em que bati na
Arminda e a Sra. Luísa são um exemplo dessas
minha filha) fico bastante envergonhada”, disse
mudanças: “Aprendemos que andar com um
Luísa Cavalo que referiu ainda que aprendeu sobre
preservativo ou fazer planeamento familiar não é
boas maneiras de relacionamento entre mãe e
sinal de ser uma mulher leviana “disse Arminda
filha. “Naquele dia, que não gosto de recordar,
Pedro Mentiroso, que durante a conversa estava a
perdi a oportunidade de compreender a minha
lavar a roupa da filha, que estava na escola no
filha, aprendi que devia ser mais positiva na
momento. “Quando entrei para o grupo dos
comunicação.”
Diálogos

Luísa Cavalo, que tem a seu cargo três raparigas, uma das quais fará 16 anos em Novembro de 2023, conta que “um dia, a minha filha tinha acabado

LUÍSA CAVALO

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REALIZAÇÕES DO ANO #1
O programa realizou o seu Lançamento Nacional em Fevereiro de 2023 que contou com a presença do Vice-Ministro
da Educação e Desenvolvimento Humano, Manuel Bazo, do Embaixador dos Estados Unidos da América, Peter
Vrooman, Governador da Província de Nampula, Manuel Rodrigues, Director da USAID, Helen Sworn, Directora
01 Executiva do CESC, Paula Monjane, todos os parceiros do consórcio, os principais Directores Nacionais e Provinciais
de Educação, os Directores dos Serviços Distritais de todos os sectores estratégicos (educação, género, acção social,
saúde e justiça), líderes comunitários, académicos, sector privado, ONGs locais e internacionais e beneficiárias do
programa.

Mobilização da comunidade e criação de clubes de interesses e grupos de diálogos comunitários: os clubes são um
espaço seguro criados nas escolas e nas comunidades onde os rapazes e raparigas se reúnem. Estes espaços, para o
AGE são dinamizados pela (o) Mentora/r. As sessões podem incluir a participação de pessoas externas (Agente da
PRM/Procurador (a)/Enfermeiro ou modelos de referência) para apoiarem em temas específicos. As sessões são
dinamizadas/orientadas através de guiões que abrangem diferentes temas em especial sobre o autocuidado,
importância de educação, saúde sexual e reprodutiva, VBG ente outros. Foram criados 228 clubes de interesse (105
02 em Nampula e 123 na Zambézia), dos quais 158 clubes de raparigas e 70 clubes de rapazes, atingindo um total de
4.594 beneficiários, dos quais 3254 são raparigas. O programa criou ainda 56 grupos de diálogos comunitários, 31 na
Zambézia e 25 em Nampula, beneficiando um total de 1.415 participantes (855 homens e 560 mulheres), entre pais,
cuidadores e líderes comunitários. Os Diálogos comunitários no âmbito do AGE, são uma metodologia para facilitar
um conjunto de reflexões que envolvem pais, cuidadores, lideranças comunitárias e outras pessoas influentes, este é
também liderado pelas mentoras/es.

Referências aos Serviços Sociais-Chave: Através do Rastreio de VBG e identificação de casos de Uniões Prematuras
é feita referência para os serviços. Para o AGE, essencialmente, as referências são para os serviços alinhados aos
pacotes oferecidos nas sessões com Clubes de Raparigas e de Rapazes. Todo o processo de encaminhamento de casos
é feito à partir de instrumento do MISAU denominado Guia de Referência e Contra referência. No ano 1 foram
03 submetidos ao rastreio para situações de VBG, 4.325 rapazes e raparigas, deste número 2.450 beneficiários foram da
Província da Zambézia.

Treinamentos dos Conselhos de Escolas: Os Conselhos de Escola tem um papel fundamental no acesso, retenção da
rapariga, redução de absentismo e garantia de segurança na escola. Com o AGE, competências nestas áreas foram
reforçadas com a formação de um total de 1.124 membros de conselhos de escolas, de 62 escolas, sobre temas-chave
(Papel do Conselho Escolar, VBG, Higiene Menstrual e Escolar, entre outros). Entre os participantes, 160 eram
04 estudantes (82 raparigas) e 964 representavam professores e membros da comunidade (394 mulheres).

Actividades de sensibilização através de debates na rádio e envolvimento da comunidade: foram realizados um total
de 9 programas de rádio em parceria com as rádios comunitárias de Mocuba, Milange e Gurué na província da
Zambézia com temas chave relacionados com as mensagens-chave do AGE, para além de um programa de rádio foi
realizado na Rádio Moçambique em Maputo.
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Aquisição e alocação de certidões de nascimento e certificados de pobreza para raparigas vulneráveis: O AGE
mobilizou para a aquisição de certificados de pobreza, beneficiando um total de 267 crianças (sendo 183 raparigas).
170 crianças beneficiaram de certidões de nascimento e 97 receberam certidões de pobreza. Estes documentos
facilitarão o seu acesso à escola, e o atestado de pobreza permitirá que alguns custos associados à matrícula,
06 uniformes e material escolar sejam cobertos pela Acção Social.

Advocacia e Colaboração: O AGE participou regularmente em diferentes grupos técnicos do sector de Educação
como parte de sua estratégia de advocacia com foco na divulgação e aplicação do Mecanismo Multissetorial de
Resposta à Violência nas Escolas e outros temas relacionados a género e educação. AGE reforçou as colaborações
com os programas SABER e LOGOS e iniciou contactos preliminares com o sector privado local para apoiarem
iniciativas de educação de raparigas.
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Reunião Anual de Revisão, Planificação e Aprendizagem: decorreu em Mossuril com 27 participantes dos 6 distritos
da I Fase do programa, onde foram discutidos o plano e os resultados alcançados durante o primeiro ano do programa.

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FICHA TÉCNICA

BROCHURA DE HISTÓRIAS DE SUCESSO ANO 1


Propriedade: Programa AGE - Avançando a Educação de
Raparigas
Directora do Programa: Tassiana Tomé
Director Adjunto: Momade Quitine
Redacção: Faizal Raimo - Oficial de Comunicação Revisão:
Ana Figueiredo - Especialista de Educação e Género
Financiador: USAID Moçambique
Layout e Impressão: Mediatech - Nampula
Tiragem: 250 exemplares

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SEDE-MAPUTO: Av. Julius Nyerere n° 258 Fixo: (+258) 21 48 75 52
info@cescmoz.org | www.cescmoz.org cescmocambique cescmoz

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