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Paraíso do Tocantins
2020David Murilo Rezende
Paraíso do Tocantins
2020DECLARAÇÃO DE AUTENTICIDADE
_________________________________________
David Murilo Rezende
This study will address the need to include the phenomenon of cyberbullying in the
Brazilian Penal Code. The objective of this research is concentrated, mainly in
verifying if the specific typification of cyberbullying is necessary for the current legal
system, being in accordance with the principle of specialty, taxativity and legality,
contributing to a more reasonable punishment to the agent, besides reducing the
apparent legal insecurities. For this, the concepts and origin of bullying and
cyberbullying, their forms and characteristics will be worked. In addition to explaining
some of the guiding principles of criminal law, jurisprudence and most popular cases
of this act will be verified over the decade. The theoretical approach method will be
deductive, since it will start from general theories and conceptions using doctrinal
and jurisprudential understandings about cyberbullying, which generates legal
insecurity in society, the need to create special rules, the effectiveness of the rule
applied to current cases, for then come to the conclusion that it is necessary to
create specific legislation to guarantee legal security and reasonable sanction to the
agent that causes cyberbullying. In addition, the research is of an exploratory kind,
analyzing the causes of why the sanction is not so effective today and observing the
reflexes of these decisions in society. An analysis will be made observing the
application of sanctions to criminal agents, the consequences for victims of
cyberbullying and decisions on the topic in the country. To achieve this end, the
research will use the legal methodology, through bibliographic and documentary
research, especially in doctrines about criminal law, such as Guilherme de Souza
Nucci, Damásio de Jesus, among others; and psychological areas, such as Cleo
Fante, Allan Beane, will still have internet articles on the subjects. It will be enriched
with criminal and constitutional legislation, and jurisprudential understandings in the
same areas. Thus, through research, decisions on the subject that corroborate the
current legal uncertainty will be demonstrated, apart from the fact that there is little
legislation widely dedicated to this in order to have more satisfactory results for
society. In addition, with the results achieved, it remains to be demonstrated the need
to specify cyberbullying behaviors, due to some guiding principles of criminal law and
the reasonableness of the penalties applied.
1 INTRODUÇÃO 11
2 BREVE HISTÓRICO DO BULLYING E CYBERBULLYING 14
2.1 BULLYING
O 4
1
2.2 UTILIZAÇÃO DAS REDES SOCIAIS E INTERNET EM GERAL COMO
FORMA DE INSULTAR – CYBERBULLYING 9
1
3 PRINCÍPIOS DA ESPECIALIDADE, TAXATIVIDADE, LIBERDADE E
LEGALIDADE NO CYBERBULLYING 24
3.1 PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE E TAXATIVIDADE 24
3.2 O PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE 8
2
3.3 ANALOGIA SENDO USADA PARA PUNIÇÃO DO CYBERBULLYING
(INJÚRIA, DIFAMAÇÃO E CALÚNIA) 29
4 NECESSIDADE DE TIPIFICAÇÃO DO CYBERBULLYING 38
4.1 PISÓDIOS RECENTES DE CYBERBULLYING
E 8
3
4.2 INSEGURANÇA JURÍDICA E LEI PRÓPRIA PARA PUNIÇÃO DO
CYBERBULLYING 0
4
4.3 INÍCIO DA SOLUÇÃO ATRAVÉS DO PROJETO DO PACOTE
ANTICRIME, LEI Nº 13.964, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2019, LIBERDADE
E LIBERALIDADE 45
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 50
REFERÊNCIAS 2
5
52
1 INTRODUÇÃO
2.1 O BULLYING
No Brasil, não há uma expressão definida, mas pode ser identificado como
sendo conjuntos de ações agressivas que caracterizam o desequilíbrio de poder
entre indivíduos ou grupo de indivíduos opostos. Esse desequilíbrio é causado por
diversos fatores, como baixa estatura, medo psicológico, capacidade de defesa
mínima, etc. Assim, aquele que “aparentemente está por cima”, se sente superior ao
ponto de ridicularizar o outro.
O bullying pode ser realizado de diversas formas, seja através de apelidos
maldosos, brincadeiras que deixam o outro com baixa autoestima, falsas acusações,
intimidação e outras formas de ridicularizar que consequentemente fazem com que o
outro seja excluído socialmente, tendo ainda danos físicos, psíquicos e materiais.
De acordo com a psicóloga Carme Orte Socias, da Universidade das Ilhas
Baleares, na Espanha, o bullying é um mal-estar que se apresenta de forma oculta
nas pessoas, ou seja, no seu inconsciente, ressaltando as indiferenças,
aproveitando as brechas que existem na autoestima em relação à ausência
de valorização, que nasce através do desenvolvimento pessoal do agressor.
A autora Cleo Fante considera o bullying como um fenômeno relativamente
novo na sociedade, tendo seus estudos ampliados apenas nas últimas décadas,
pois as consequências estão aparecendo com mais frequência nos últimos anos,
causando tragédias nefastas e repudiadas. Entretanto, há quem diga que esse
fenômeno é mais antigo do que se pensa, pois desde muito tempo houve “valentões”
nas escolas que oprimiam os demais estudantes.
Ainda em complemento, Fante define que:
Portanto, o bullying é um conceito específico e muito bem definido, uma vez
que não se deixa confundir com outras formas de violência. Isso se justifica
pelo fato de apresentar características próprias, dentre elas, talvez a mais
grave, a propriedade de causas traumas ao psiquismo de suas vítimas.
Além disso, esse fenômeno pode ser identificado tanto nas escolas, quanto
nas famílias, trabalho, prisões, ou qualquer lugar que haja interações interpessoais.
Ao longo dos anos, o termo bullying se tornou popular, infelizmente graças
aos seus exemplos de acontecimentos. Normalmente esse fenômeno ocorre nas
escolas e gera algumas tragédias noticiadas em jornais, revistas, meios de
comunicação, de forma sensacionalista. Assim, a segurança pública desenvolveu
algumas estratégias, que consideram “funcionais”, evitando a entrada de armas de
fogo, drogas e bebidas alcóolicas nas escolas, tentando coibir os problemas
controlando o que os alunos levavam.
Entretanto, percebe-se o enfoque no objeto utilizado para a realização das
tragédias, mas não nos agentes que as causam, deixando de se preocupar com a
mentalidade destes. Um dos exemplos mais emblemáticos foi o ocorrido em 2011,
na cidade do Rio de Janeiro, no bairro de Realengo, onde aconteceu um dos
grandes massacres ocorridos em escolas no Brasil, o Massacre de Realengo, em
que um ex-estudante da escola Municipal Tasso da Silveira, Wellington Menezes de
Oliveira, assassinou doze jovens, entre 13 e 15 anos, e deixou mais de 22 feridos. O
crime foi cometido com o uso de duas pistolas, calibre. 38 e calibre .32. Ao final dos
assassinatos, o atirador cometeu suicídio.
Após o incidente, o jornal O Globo entrevistou um dos ex-colegas de classe
do atirador, e este descreveu que Wellington era vítima constante de provocações e
humilhações, mantendo-se sempre calado diante delas. Portanto, acredita-se que o
principal motivo do delito tenha sido o bullying que sofreu na infância.
Logo, percebe-se que esse fenômeno possui raízes no psicológico das
vítimas, que acabam tendo consequências que perduram por anos em seu
inconsciente. A autora Cleo Fante, em um artigo intitulado: “O fenômeno bullying e
as suas consequências psicológicas”, apresentou uma pesquisa na qual constatou
uma doença psicossocial expansiva, que denominou de SMAR – Síndrome de
Maus-tratos Repetitivos.
Dessa forma, quem possui a síndrome apresenta uma necessidade de
subjugar o outro, fazendo-o submisso, através da coação; ou ainda necessidades de
ser aceito por um grupo ou de se autoafirmar, sendo este incapaz de se expressar
emocionalmente e de ter compaixão ao ponto de se colocar no lugar de outrem.
Segundo a autora, a síndrome possui os seguintes sintomas: “irritabilidade,
agressividade, impulsividade, intolerância, tensão, explosões emocionais, raiva
reprimida, depressão, stress, sintomas psicossomáticos, alteração do humor,
pensamentos suicidas”. O mais curioso é que isso, segundo Fante, é introduzido
ainda na primeira infância, com origem no modelo educativo predominante
introjetado ao menor, desde que seja estimulado de forma agressiva. Isso faz com
que a criança introjete tudo de forma inconsciente em seus pensamentos, fazendo
com que futuramente devolva a agressividade ou a reprima, prejudicando seu
desenvolvimento social.
As principais consequências listadas por Fante são:
As consequências para as “vítimas” desse fenômeno são graves e
abrangentes, promovendo no âmbito escolar o desinteresse pela escola, o
déficit de concentração e aprendizagem, a queda do rendimento, o
absentismo e a evasão escolar. No âmbito da saúde física e emocional, a
baixa na resistência imunológica e na autoestima, o stress, os sintomas
psicossomáticos, transtornos psicológicos, a depressão e o suicídio. (...)
Portanto, o assunto já não é mais encarado como algo pequeno, mas sim
assunto a ser debatido de forma ampla no mundo inteiro, pois se trata de uma das
formas do bullying, que é um problema mundialmente tratado todos os anos.
Com a origem da internet, ampliaram-se as barreiras que limitavam as
comunicações somente às pessoas próximas. Agora, as pessoas podem se falar a
quilômetros de distância vendo umas as outras, interagindo de diferentes formas,
jogando, e outras infinidades de coisas a ser fazer de forma online. Entretanto, tudo
o que existe possui tanto o seu lado positivo como seu lado negativo.
Com essa ampliação de espaço, conjuntamente também veio a sensação de
não estar limitado, onde a forma de se expressar poderia ser como bem entender.
Isso é perigoso, pois pode causar prejuízos em relações interpessoais e sociais.
Shariff diz o seguinte: “e as descrições e as definições da realidade podem ser
deliberadamente enquadradas para moldar a compreensão das pessoas acerca de
uma questão por meio das palavras que são usadas para defini-la”. Por isso, faz-se
necessário compreender o contexto diante da internet e suas ocorrências.
O cyberbullying, etimologicamente é formado pelas palavras “cyber”, que
deriva de “cybernetic” (cibernético, em português), e, “bullying”, derivado de “bully”
(valentão ou briguento), trata-se da prática do bullying no ambiente virtual, ou seja,
através da internet ou meios diversos que sejam virtuais. A advogada Belsey, definiu
da seguinte forma:
O ciberbullying envolve o uso de informações e de tecnologias da
comunicação como o e-mail, o telefone celular e aparelhos de envio de
mensagens de texto, as mensagens instantâneas, os sites pessoais
difamatórios e os sites difamatórios de votações na internet com o objetivo
de apoiar o comportamento deliberado, repetido e hostil por parte de um
indivíduo ou de um grupo que tem a intenção de prejudicar outros
indivíduos.
Por último, há a norma penal em branco, que só produzirá efeitos quando for
complementada por outra lei. A norma por si só parece ser ambígua, não sendo tão
clara quanto aos seus efeitos, mas basta uma complementação normativa para que
o sentido venha à tona.
Já, acerca do princípio da legalidade, também chamado de princípio da
reserva legal, tem-se o art. 5º, da Constituição da República Federativa do Brasil
(CRFB), inciso XXXIX: “não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal.” Além disso, conforme a Convenção Americana de Direitos
Humanos:
Art. 9 - Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no
momento em que forem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o
direito aplicável. Tampouco se pode impor pena mais grave que a aplicável
no momento da perpetração do delito. Se depois da perpetração do delito a
lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinqüente será por isso
beneficiado.
Dito isto, entende-se que essa interpretação da lei diminui sua amplitude,
sendo claro o que o legislador deseja obter com o descrito no tipo penal. Essa
interpretação, por mais que diminua a amplitude da norma, possibilita que a
segurança jurídica aumente, impedindo que a tipificação irresponsável se alastre,
como cita o doutrinador Eugênio Raul Zaffaroni.
Em contrapartida, existe a interpretação extensiva, que segundo Tércio
Sampaio Ferraz:
(...) trata-se de um modo de interpretação que amplia o sentido da norma
para além do contido em sua letra. Isso significa que o intérprete toma a
mensagem codificada num código forte e a decodifica conforme um código
fraco. Argumenta-se, não obstante, que desse modo estará respeitada a
ratio legis, pois o legislador (obviamente, o legislador racional) não poderia
deixar de prever casos que, aparentemente, por uma interpretação
meramente especificadora, não seriam alcançados.
Acórdão
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ 4ª TURMA RECURSAL
DOS JUIZADOS ESPECIAIS - PROJUDI Rua Mauá, 920 - 14º Andar - Alto
da Glória - Curitiba/PR - CEP: 80.030-200 - Fone: 3210-7003/7573
Apelação Criminal nº 0007508-81.2017.8.16.0130 Juizado Especial Criminal
de Paranavaí Apelante (s): ELIS MAIARA DE BRITO VIEIRA Apelado (s):
Ministério Público do Estado do Paraná Relator: Manuela Tallão Benke
EMENTA: APELAÇÃO CRIMINAL. INJÚRIA. ART. 140, CP. PALAVRAS
PROFERIDAS COM INTUITO DE INJURIAR A VÍTIMA VIA REDE SOCIAL.
AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. SENTENÇA
CONDENATÓRIA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.
Trata-se de apelação criminal interposta por Elis Maiara de Brito Vieiria em
face de sentença que a condenou à pena de (10) dez dias-multa, no mínimo
legal, de 1/30 do salário mínimo em vigor à época dos fatos, pela prática do
crime previsto no art. 140, caput, do Código Penal, em virtude dos seguintes
fatos: “Ofendeu a querelante Grace da Silva Medeiros via rede social
Facebook, a xingando de “gorda”, “ridícula”, ”.“recalcada”, “mente de lixo”
(Evento 10.1, Autos Principais). (...)
E para o STJ:
Isto posto, verifica-se que à época dos fatos, mesmo com a legislação penal
vigente e com o código tratando acerca de crimes contra a dignidade sexual, não
houve como abarcar a situação a qual ocorrera, sendo necessária uma lei mais
especial.
Logo, entende-se que seja melhor a criação de uma lei específica que
abarcasse todos os atos de cyberbullying e houvesse inclusão no Código Penal,
evitando o surgimento de várias leis conforme aparecem os casos de cyberbullying.
REFERÊNCIAS
BEANE, Allan. Proteja seu filho do bullying: impeça que ele maltrate os colegas
ou seja maltratado por eles. Tradução: Débora Guimarães Isidoro, Rio de Janeiro,
RJ: Ed. BestSeller, 2010.
JESUS, Damásio de. Direito penal, 2º volume: parte especial; Crimes contra a
pessoa a crimes contra patrimônio / Damásio de Jesus. — 33. ed. — São Paulo:
Saraiva, 2013.
JESUS, Damásio de. Direito penal, volume 1 : parte geral / Damásio de Jesus. —
32. ed. — São Paulo : Saraiva, 2011.
LÉVY, Pierre. Cibercultura; tradução de Carlos Irineu da Costa.— São Paulo: Ed.
34, 1999.
LUISI, Luiz apud NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Penal: parte geral:
arts. 1º a 120 do Código Penal / Guilherme de Souza Nucci. – 3. ed. – Rio de
Janeiro: Forense, 2019.
MARQUES, Pablo. Brasil é o 2º país com mais casos de bullying virtual contra
crianças. R7.com. não paginado. Disponível em: https://noticias.r7.com/tecnologia-
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11072018. Acesso em: 18 out. 2020.
VÉRDELIO, Andreia. Bolsonaro diz que vetará aumento de pena para injúria na
internet. Agência Brasil. não paginado. Disponível em:
https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2019-12/bolsonaro-diz-que-vetara-
aumento-de-pena-para-injuria-na-internet. Acesso em: 15 out. 2020.
VOORS, Willian. The parent’s book about bullying: Changing the course of your
child life: for parents on either side of the bullying fence. Minnesota: Hazelden,
2010.
WALLYS, Lucy. A adolescência acaba aos 25 anos? . BBC News. não paginado.
Disponível em:
https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/09/130925_adolescencia_termina_25
anos_an. Acesso em: 16 out. 2020.