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DIREITO ADMINISTRATIVO II

2023/2024

TURMA B

SUBTURMAS 10 e 16

Prof. Doutor Miguel Prata Roque

BLOCO DE CASOS PRÁTICOS

Caso n.º 1

- Noção de “interesse público”: contraposição com os interesses privados


- Noção ampla de “princípio da legalidade”
- Distinção entre legalidade e normatividade
- Intensidades de vinculação: “atos predominantemente vinculados” e “atos predominantemente
discricionários”

Imagine que, ao abrigo dos poderes que lhe são conferidos pelo artigo 35º da Lei de
Bases da Proteção Civil (aprovada pela Lei n.º 27/2006, de 3 de julho, e sucessivamente
alterada)1, durante um incêndio florestal de avultadas proporções, o Presidente da
Câmara Municipal de Mação decide dar expressas instruções aos bombeiros que ali se
encontram, a combater os fogos, para que abandonem a zona principal do incêndio e se
dirijam para uma área ainda não ardida, de modo a protegerem as moradias da sua filha

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A legislação referida ao longo do bloco de estudos práticos encontra-se em vigor no ordenamento jurídico
português e pode ser consultada in www.dre.pt.

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e genro, que, apesar de poderem ser afetadas pelo fogo, ainda não se encontravam em
risco eminente.

Face ao abandono local, vários campos de cultivo e duas habitações acabaram


por ser destruídas pelo incêndio. Os proprietários dos terrenos, que escaparam por um
triz ao incêndio, pretendem uma indemnização do Município de Mação, pelos prejuízos
sofridos pela decisão de deslocação dos meios de combate ao fogo para outro local.

Caso n.º 2

- A limitação do princípio da legalidade pela necessidade de ponderação das soluções a adotar quanto a
situações jurídico-administrativas concretas
- A interpretação pela Administração Pública: em especial, a aplicação de conceitos jurídicos
indeterminados
- A decisão de agir
- A discricionariedade administrativa
- As decisões fundadas em critérios técnico-científicos
- O risco de subtração ao controlo democrático e jurisdicional do poder técnico-científico

Na sequência da abertura de um concurso público, a Presidente do Conselho de


Administração da empresa municipal LISBOA VIVA, E.M. decide, ao abrigo dos poderes
que a lei lhe confere, escolher a empresa PIRILAMPO MÁGICO, LDA., de entre 12
concorrentes, para colocar as iluminações de Natal em locais históricos da cidade.

Apesar de aquela empresa cumprir todos os requisitos legais exigidos para


candidatura ao concurso, a sua proposta era a mais dispendiosa e a que menos ruas da
cidade abrangia. Ainda assim, a Presidente do Conselho de Administração da LISBOA
VIVA, E.M. escolheu-a por ter considerado como critério preferencial o facto de aquela

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empresa ter mais de 50% dos seus trabalhadores contratados entre pessoas portadoras
de deficiências e por os pareceres técnicos de eletrotecnia a confirmarem como a
proposta mais segura e amiga do ambiente.

A CANDEIA DO PAI NATAL, S.A., empresa derrotada no concurso, decidiu


reclamar perante o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, solicitando que aquele
altere a decisão anteriormente tomada pela Presidente do Conselho de Administração,
na medida em que, em concursos anteriores, os dirigentes dos serviços administrativos
daquela Câmara sempre tinham adotado a regra de escolha do concorrente que
apresentava a proposta menos dispendiosa. Desta feita, o Presidente da Câmara mantém
a decisão, mas fundamenta-la em pareceres técnicos que demonstravam que as
iluminações da empresa vencedora eram as mais brilhantes e mais seguras para os
transeuntes.

Permanecendo insatisfeita com o resultado do concurso, a CANDEIA DO PAI


NATAL, S.A. decide:

a) Apelar ao Secretário de Estado da Administração Local, para que aquele


altere a decisão do Presidente da Câmara Municipal de Lisboa;

b) Instaurar uma ação administrativa para impugnação da validade do ato


administrativo que outorgou o contrato à empresa vencedora perante
o Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa.

Em sede de contestação, o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa afirma em


sua defesa que a lei não permitia a impugnação jurisdicional do ato sem que primeiro
fosse interposto recurso para o plenário da Câmara Municipal. Mais invoca que o

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Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa não pode sindicar a justeza dos pareceres
técnicos que impuseram a decisão administrativa.

1. Comente a decisão tomada pela Presidente do Conselho de


Administração.

2. Analise a reação da empresa derrotada e pronuncie-se sobre os


fundamentos de oposição invocados pelo Presidente da Câmara
Municipal.

Caso n.º 3

- O âmbito aplicativo do CPA/2015: em especial, o problema da (falta de) regulação das atuações intra-
administrativas

A Presidente do INFARMED, I.P. determinou, por despacho, que os serviços


jurídicos, financeiros e de recursos daquele organismo deveriam ser transferidos, no
prazo de 3 meses, para o Porto. Apesar de os Estatutos do referido instituto fixarem que
cabe ao Conselho de Administração aprovar o respetivo Regulamento Interno, o Diretor
dos Assuntos Jurídicos decreta um regulamento interno que determina que os
trabalhadores do INFARMED que se deslocarem para o Porto não podem continuar a
usar os computadores portáteis que lhes foram atribuídos por aquela pessoa coletiva
pública para fins pessoais, designadamente para contactarem, por Skype, com as suas
famílias.
O Sindicato dos Trabalhadores Públicos alega que:

i) A decisão da Presidente do INFARMED é ilegal, por não ter sido


precedida de audiência prévia dos trabalhadores deslocados;

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ii) O regulamento interno do INFARMED é ilegal, por não ter sido
aprovado pelo órgão competente e por configurar uma restrição
desproporcionada do direito constitucional à compatibilização entre a vida
profissional e a vida familiar.

A Presidente do INFARMED limita-se a alegar que os trabalhadores do


INFARMED não podem beneficiar dos direitos e garantias que os demais indivíduos e
empresas usufruem, visto que estão adstritos à prossecução do interesse público e que
as atuações administrativas supra descritas apenas produzem efeitos internos.

Comente as posições conflituantes supra mencionadas, determinando


qual delas deve proceder.

Caso n.º 4

- A distinção entre norma-regra e norma-princípio


- A conceção jusnaturalista dos princípios gerais (ou fundamentais): pré-determinação das regras pela ordem
histórica, social e cultural
- A conceção neocontratualista dos princípios gerais: valorização do livre arbítrio social e função sistemática
e agregadora
- Os princípios gerais procedimentais: a influência externa (estrangeira/comparada, europeia,
internacional, transnacional e global)
- O princípio da participação dos administrados (v.g., audiência prévia, instrução, solicitação de informações
e esclarecimentos)

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Em 2 de fevereiro de 2024, DELFINA CUMPRIDORA solicitou à Câmara
Municipal de Cascais autorização para construir uma garagem a anexar à sua moradia,
sita em São Domingos de Rana.
Uma das suas vizinhas, que era a funcionária encarregue da organização dos
processos de pedidos de licenças para obras na Divisão de Urbanismo da Câmara
Municipal de Cascais, encontra-a perto de casa, em 25 de março de 2024, e solicita-
lhe que entregue naqueles serviços plantas atualizadas do prédio misto onde se
encontrava implantada a morada.
DELFINA CUMPRIDORA crê que tais plantas já se encontram juntas aos autos
do procedimento administrativo e, como tal, nada faz. Em 2 de abril de 2024,
temendo que haja demora na apreciação do pedido apresentado, aquela desloca-se à
Divisão de Urbanismo e solicita uma informação escrita sobre o estado do processo.
O funcionário que a atende informa-a que não pode emitir tal informação no
próximo mês, visto que a chefe daqueles serviços se encontra de gozo de licença de
maternidade e só regressará em 15 de maio de 2024.

1. Pronuncie-se sobre eventuais deveres que recaiam sobre DELFINA


CUMPRIDORA.

2. Aprecie a atuação da Administração Pública e as consequências da


sua inação.

Caso n.º 5

- O princípio do livre acesso aos documentos administrativos (breve referência)

ALBERTINO SEM-PAVOR, lojista na Marina de Cascais, é informado pela


MARCASCAIS, S.A., concessionária da exploração da referida marina, que aquela

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sociedade comercial não tenciona realizar quaisquer obras de conservação daquele
espaço público, ainda que tal obrigação conste do contrato de concessão, alegando
que a crise financeira mundial afetou a sua capacidade de tesouraria. Contudo, corre
o boato entre os lojistas que a MARCASCAIS, S.A. tem gasto avultadas somas de
dinheiro na contratação de pareceres jurídicos ao irmão de um dos membros do
Conselho de Administração.
Em 10 de março de 2024, com vista a instaurar ação administrativa de
condenação à prática de ato devido, ALBERTINO SEM-PAVOR solicita à
MARCASCAIS, S.A. que lhe entreguem cópias dos contratos de prestação de serviços
de consultadoria jurídica, dos recibos de pagamento daqueles serviços e dos pareceres
jurídicos entregues pelo irmão do membro do Conselho de Administração.
A Secretária do Conselho de Administração informa ALBERTINO SEM-
PAVOR que tais documentos fazem parte da escrituração comercial da MARCASCAIS,
S.A., pelo que não podem ser facultados a terceiros. Para além disso, um dos
pareceres jurídicos versava sobre uma situação de alegado assédio sexual a uma das
funcionárias, pelo que não seria ético permitir que ALBERTINO SEM-PAVOR dele
tomasse conhecimento.

Explique de que modo e com que extensão poderia ALBERTINO SEM-


PAVOR reagir de modo a obter cópia dos documentos pretendidos.

Caso n.º 6

- O procedimento do ato administrativo como procedimento comum ou paradigmático


- O procedimento declarativo comum
- A cooperação intra-administrativa e o princípio da boa administração: em especial, as conferências
procedimentais entre órgãos e pessoas coletivas públicas distintas
- Distinção entre atos constitutivos e atos meramente declarativos

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- A precariedade intrínseca dos atos administrativos constitutivos: a inovação tecnológica e científica como
fundamento da precarização
- As espécies de atos administrativos constitutivos primários
a) Atos impositivos (a administração agressiva ou de interferência)
▪ Em especial, os atos sancionatórios
b) Atos permissivos (a administração prestadora ou facilitadora)
c) Atos propulsores
- Os vícios da vontade: em especial, erro-vício e erro-obstáculo
- Os vícios relativos ao objeto: em especial, a impossibilidade objetiva
- Os vícios de forma: em especial, a preterição de formalidades essenciais e não essenciais
- O conflito com o princípio da primazia da materialidade subjacente e do aproveitamento dos atos

No início da década de 1990, o Presidente da Câmara Municipal de Mafra,


com fundamento numa inspeção realizada pelo respetivo Departamento de
Urbanismo e num parecer emitido pela Agência Portuguesa do Ambiente, I.P., em
cumprimento da lei então vigente, havia recusado um pedido de legalização de uma
moradia, já construída na década de 1970, por EDUARDO BOAVIDA, numa das
arribas da Praia de São Lourenço, na Ericeira. O ofício então enviado pela Câmara
Municipal de Mafra não foi precedido de qualquer reunião prévia ou de discussão
com o interessado.
Hoje, por ter ouvido que está em curso um período para comprovação da
propriedade de imóveis sitos na orla costeira, os herdeiros de EDUARDO BOAVIDA
dirigem-se à Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. que os informa que apenas aceita
a prova da propriedade, quando aquela não tenha sido alvo de uma decisão
desfavorável, por parte da Câmara Municipal competente.
Após consulta de ZÉ XICO ESPERTO, Advogado com escritório na Malveira,
os herdeiros são aconselhados a invocar a ilegalidade do despacho, entre outros, com

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fundamento na ausência de uma conferência procedimental entre a Câmara
Municipal de Mafra e a Agência Portuguesa do Ambiente, I.P..

Comente a eventual procedência dessa reação.

Caso n.º 7

- A distinção entre ilegalidade/vício e desvalor/consequência


- Uma tipologia aberta de vícios
- Os vícios de incompetência: absoluta, relativa e distinção face à usurpação de poder
- Os vícios relativos à causa: em especial, o desvio de poderes

LUÍSA FORTUNATA, Diretora do Agrupamento de Escolas Secundária


Emídio Navarro, em Almada, incumbiu BELINDA LABUTA, Chefe da Secretaria da
referida escola, de conduzir, negociar e executar todas as diligências necessárias à
realização de obras de conservação da escola em causa. Ocupada com inúmeros
trabalhos burocráticos BELINDA LABUTA, transfere essas tarefas para uma das
funcionárias da Secretaria da Escola Secundária Emídio Navarro.
Após queixa de uma empresa preterida, quanto à empreitada a realizar na
escola, que alegou que, para além de nunca ter tido conhecimento de que tivessem
sido transferidos aqueles poderes, BELINDA LABUTA havia atribuído as obras à
OBRAS-A-METRO, LDA., sociedade comercial cujo gerente era seu namorado, o
Conselho Executivo delibera revogar o ato de contratação. Como LUÍSA
FORTUNATA se encontrava fora do país, a Diretora-Adjunta, JUSTINA VERTICAL,
assina, em nome da Diretora, um ofício nos termos do qual comunica à empresa
vencedora que a decisão de contratar era revogada.
Revoltada com esta reviravolta, a OBRAS-A-METRO, LDA. apresenta um
pedido de alteração da decisão tomada por JUSTINA VERTICAL, perante o Gabinete

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da Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa. Após envio de tal
questão à Secretária de Estado da Modernização Administrativa, esta viria a ordenar
a manutenção do contrato originário, em homenagem ao princípio da confiança
jurídica. A Diretora-Adjunta fica perplexa, pois julgava só estar sujeita a ordens
emitidas pelo Ministro da Educação.

Analise todas as questões jurídico-administrativas relevantes.

Análise Jurisprudencial n.º 1

- Os vícios materiais
- As fronteiras entre vícios materiais e meros vícios de forma
- Em especial, a ofensa ao conteúdo essencial de um direito fundamental (ex: falta de fundamentação e falta
de audiência prévia)

Analise o Acórdão n.º 594/2008 (Benjamim Rodrigues), do Tribunal


Constitucional2, e pronuncie-se sobre as fronteiras entre vícios materiais e vícios de
forma, em especial, a propósito do direito à fundamentação e do direito à audiência
prévia.

Caso n.º 8

- Teoria geral do desvalor do ato administrativo


- A inexistência
a) por vícios formais
b) por vícios materiais de gravidade intensa
- A invalidade: nulidade e anulabilidade

2 A jurisprudência do Tribunal Constitucional pode ser consultada in www.tribunalconstitucional.pt.

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- A ineficácia
- A irregularidade
- O aproveitamento de efeitos jurídicos de atos inválidos

Em 20 de abril de 2024, o Vereador do Ambiente da Câmara Municipal de


Lisboa ordena a remoção de um cartaz do Partido Nacional Renovador [PNR],
notificando os seus dirigentes de que “a afixação do cartaz supra identificado viola os preceitos
legais aplicáveis”. O Presidente daquele partido invoca a total carência de força jurídica
da decisão, por não ser possível descortinar quais os motivos da mesma, e, juntamente
com diversos militantes, opõe-se à retirada do cartaz e impede que os funcionários
camarários procedam à sua remoção, em 24 de abril de 2024.
Chamados ao local, dois efetivos do corpo de segurança da Polícia Municipal
tomam conhecimento da ocorrência e, partilhando as críticas do PNR, recusam-se a
fazer executar a decisão tomada pelo Vereador do Ambiente. Informado, pelos
funcionários camarários, da recusa de atuação da Polícia Municipal, o referido
Vereador envia um SMS para o telemóvel de um dos funcionários, ordenando-lhe que
notifique imediata e pessoalmente os dois membros da Polícia Municipal de que
foram expulsos daquele corpo de segurança.
De seguida, o Vereador do Ambiente desloca-se ao local da afixação do cartaz
e notifica pessoalmente o Presidente do PNR de um despacho onde pormenoriza que
o cartaz deverá ser removido por a sua afixação não ter sido precedida de pedido de
licenciamento ao Presidente da Câmara Municipal, nos termos do n.º 1 do artigo 1º
da Lei n.º 97/88, de 17 de agosto, e de o cartaz impedir a circulação de peões e, em
especial de deficiente, conforme vedado pela alínea f) do n.º 1 do artigo 4º do mesmo
diploma legal e pelo Regulamento Municipal de Afixação de Propaganda Comercial.
Finalmente, após intervenção da Polícia de Segurança Pública, o cartaz é removido,
apesar de os dirigentes do PNR exibirem uma certidão de que foi requerida, no dia
anterior, uma providência cautelar para suspensão da ordem de remoção.

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1. Qualifique o desvalor jurídico associado à decisão administrativa de
remoção do cartaz de propaganda.

2. Comente a admissibilidade da reação dos militantes do PNR.

3. Analise a conduta dos membros da Polícia Municipal.

4. Qualifique o desvalor jurídico associado à decisão administrativa de


expulsão dos membros da Polícia Municipal.

5. Aprecie as consequências da justificação apresentada pelo Vereador


do Ambiente e da apresentação em tribunal de uma providência
cautelar de suspensão da decisão.

6. Pondere os demais meios processuais disponíveis para fazer face ao


ato de remoção do cartaz.

Caso n.º 9

- As espécies de atos administrativos constitutivos secundários


a) Os atos integrativos
▪ Ratificação
▪ Reforma
▪ Conversão
b) Os atos desintegrativos
▪ Revogação “proprio sensu”
▪ Anulação administrativa

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- Os atos administrativos declarativos: a sua distinção face aos atos reais meramente certificativos
- Distinção entre declarações de vontade e declarações de ciência
- A automatização e a emissão automatizada de declarações administrativas
- As espécies de atos administrativos declarativos
a) Atos de verificação
b) Atos de valoração
c) Atos de transmissão

ANA POUCA-TERRA e ISILDA POUCA-TERRA são irmãs e herdaram terrenos


contíguos que pertenciam aos falecidos pais. A casa de morada de família, que se
encontra implantada, parcialmente, nos dois terrenos, foi dividida entre ambas, mas ANA
POUCA-TERRA insiste em usar o portão da entrada principal, que se encontra implantada
no terreno da irmã. Depois de ter sido avisada, várias vezes, de que não tinha autorização
para usar o portão da entrada principal, ANA POUCA-TERRA decidiu requerer à Câmara
Municipal de Vila Nova de Azeitão que emita uma certidão que comprove que o seu
prédio, com o n.º 2, também tem entrada pelo portão da entrada principal da irmã, que
corresponde ao n.º 4.
A referida certidão foi eletrónica e automaticamente emitida, através da aplicação
informática “E-Certifica”, que se encontra disponível do sítio eletrónico da referida
Câmara Municipal. Depois de a irmã ter alterado o Registo Predial do seu terreno, ISILDA
POUCA-TERRA fica furiosa e consulta uma Advogada que lhe diz que:
a) A certidão é ilegal porque dela apenas consta que foi emitida pela Chefe de
Divisão Municipal de Urbanismo e Fiscalização;
b) A Presidente da Câmara Municipal não delegou competências para emitir a
certidão;
c) A emissão de certidão não foi precedida de parecer da Comissão de
Toponímia e Numeração da Assembleia Municipal de Vila Nova de Azeitão,
conforme determina o respetivo Regulamento municipal.

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1) Aprecie os argumentos aduzidos pela Advogada.

Imagine que o Vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Vila Nova de


Azeitão, invocando uma delegação que havia sido conferida no anterior mandato daquela
Câmara, decide fazer sua a decisão da Chefe de Divisão Municipal de Urbanismo e
Fiscalização, confirmando-a. Por sua vez, por iniciativa dos Vereadores da oposição –
que dispunham de maioria nas reuniões de Câmara –, procedeu-se à revogação da
certidão e da decisão confirmatória do Vereador, alegando-se que todas as certidões
emitidas eletronicamente se encontram sujeitas a uma reserva de revogação. Quando
tenta usar o portão principal da casa da irmã, ANA POUCA-TERRA depara-se com uma
cópia afixada da deliberação da Câmara Municipal, da qual só teve conhecimento naquele
momento.

2) Aprecie a legalidade da conduta do Vereador do Urbanismo.

3) Aprecie a legalidade da conduta do plenário da Câmara Municipal

Caso n.º 10

- A noção e a tipologia dos regulamentos: de execução/complementares Vs independentes/autónomos


(recapitulação do programa do 1.º semestre)
- A titularidade da competência regulamentar
- O procedimento regulamentar: especificidades
- A forma dos regulamentos
- A validade e a eficácia dos regulamentos
- A sucessão no tempo de regulamentos e a sua relação com a sucessão de leis

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Na sequência da aprovação da Lei n.º ZZZ/2020, que estabelecia medidas de
prevenção do contágio da gripe sazonal de tipo A, o Governo Regional dos Açores
aprovou o Decreto Legislativo Regional n.º AAA/2020 que permitia a delegação de
competência regulamentar no Instituto Regional da Saúde Pública. Ao abrigo de tal
decreto, o referido Instituto aprovou a Circular n.º ABC/2020, nos termos da qual se
determinava que os indivíduos que entrassem no arquipélago dos Açores,
provenientes de países com casos detetados de contaminação pelo vírus da gripe
sazonal de tipo A, ficavam sujeitos a uma quarentena vigiada, com duração até 90
dias, em estabelecimento médico público.
Após o início da execução daquelas medidas, várias empresas de turismo e
viagens protestaram contra a medida, alegando que a decisão era muito lesiva dos seus
interesses, diminuindo o fluxo de turistas, e que ninguém as tinha ouvido, antes da
adoção da Circular n.º ABC/2018.
Mais tarde, a Lei n.º ZZZ/2020 vem a ser substituída pela Lei n.º WWW/2024,
que reduz a intensidade das medidas de combate ao contágio e as empresas de turismo
e viagens acentuam o seu protesto, invocando que a Circular n.º ABC/2020 se
encontra desfasada do novo regime legal aplicável.
Perante o crescimento dos protestos, o Governo Regional aprova a Portaria
n.º CBA/2024, que procede à revogação integral da Circular n.º ABC/2020.

1. Analise a conformidade legal da Circular n.º ABC/2020.

2. Pondere a admissibilidade de vigência da Circular n.º ABC/2020,


em face da Lei n.º WWW/2024 e da Portaria n.º CBA/2024.

Caso n.º 11

- Noção de ação humana: factos com relevância jurídico-administrativa

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- O problema dos factos naturais com relevância jurídico-administrativa autónoma da vontade
- O problema da automatização e a pré-determinação volitiva
- A voluntariedade da ação
- A imputação da vontade subjetiva do titular de órgão à vontade funcional da pessoa coletiva pública
- As dimensões da vontade subjetiva: dolo direto, necessário e eventual / negligência consciente,
inconsciente e grosseira (remissão para o § 14º do programa)
- Exclusão: os atos reflexos (e sua distinção face aos automatismos)

Na sequência de uma tempestade muito violenta, seguida de um corte de energia,


o sistema informático do ISS - Instituto da Segurança Social, I.P., colapsa e emite
milhares de ordens de pagamento de subsídios de desemprego e de invalidez, que não
eram legalmente devidos.
No dia seguinte ao restabelecimento da energia, TIBÚRCIO PREGUIÇOSO,
funcionário do centro distrital de Setúbal do ISS, I.P., recebe as guias eletronicamente
emitidas e, apesar de a Circular n.º MTSS/139/2018 determinar que todas as guias
entretanto emitidas deveriam ser verificadas manualmente, autoriza e procede aos
pagamentos dos subsídios ilegalmente atribuídos.
Ao detetar os débitos de várias quantias na conta bancária do ISS, I.P., o Diretor
do centro distrital de Setúbal solicita instruções ao Presidente do Conselho Diretivo
daquela instituição pública, através de uma aplicação informática interna.
Ao ler esse pedido de instruções, o Presidente do Conselho Diretivo do ISS, I.P.
– que, apesar de se encontrar muito constipado, tinha insistido em continuar a trabalhar,
por nunca ter faltado, em toda a sua vida profissional –, não conseguiu conter um
violento espirro e premiu a tecla do seu computador, autorizando automaticamente os
pagamentos efetuados por TIBÚRCIO PREGUIÇOSO.
Acontece, porém, que o Regulamento das Prestações Sociais, aprovado pelo
Ministro do Trabalho e da Segurança Social, determina que, em caso de corte de energia

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que perturbe o normal funcionamento do sistema informático da segurança social, todos
os pagamentos ficam suspensos, até serem confirmados, num prazo de 3 meses.

Aprecie a admissibilidade das atuações administrativas e as


consequências jurídicas dos factos descritos.

Caso n.º 12

- Distinção entre ação e omissão juridicamente relevante


- Os comportamentos (ativos e omissivos) concludentes e as atuações tácitas: em especial, o valor do silêncio

A Presidente da Câmara Municipal de Almada tem por hábito colocar os


documentos administrativos que são alvo de deferimento num cesto verde e os que são
alvo de indeferimento num cesto vermelho, ambos em cima da sua secretária.
Conhecedor desse hábito, o seu secretário recolhe, todos os dias de manhã, os despachos
da Presidente de Câmara e fá-los seguir para os serviços, a fim de serem notificados.
Acontece que, durante a madrugada, ARLINDO DISTRAÍDO, empregado de
limpeza da referida Câmara, dá um encontrão nos cestos e espalha-os pelo chão.
Assustado por ter deitado ao chão os documentos da “Senhora Presidente”, coloca-os,
aleatoriamente, nos cestos verde e vermelho, misturando-os. Pior do que isso, entornou
um jarro de água sobre um documento que dizia “Urgente” e danificou-o
irreversivelmente. Tentando esconder esse desastre, leva-o consigo e deita-o no primeiro
caixote de lixo que encontra, fora do edifício da Câmara.
Alguns dias mais tarde, CARLOTA ARRIVISTA recebe uma notificação de
despacho da Presidente da Câmara de Almada que indefere o seu pedido de
licenciamento comercial de uma esplanada, a incluir no exterior do seu restaurante, e fica
espantadíssima por todos os outros comerciantes da terra terem sempre sido
autorizados, nas mesmas circunstâncias, a abrir esplanadas. Mais espantada fica por não

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ter recebido qualquer resposta relativamente a um pedido de licenciamento urgente de
obra particular de recuperação do edifício onde está instalado o referido restaurante,
apesar de o pedido já ter sido entregue nos serviços da Câmara há mais de 9 meses.
CARLOTA ARRIVISTA comenta com ARLINDO DISTRAÍDO, que, por acaso do
destino, era cliente habitual do café pingado servido no restaurante: «Esta autorização
demora mais que um bébé a nascer! Aposto que deitaram o meu pedido para o caixote do lixo…».
ARLINDO DISTRAÍDO, resmunga, muito portuguesmente: «Esta nova Presidente de
Câmara é terrível. São todos iguais.».

Aprecie a relevância jurídica das atuações e omissões descritas.

Caso n.º 13

- A multiplicidade tipológica de atuações administrativas: resquícios da hipertrofia das atuações unilaterais


- As atuações unilaterais:
a) Atos administrativos
b) Regulamentos administrativos
c) Planos administrativos
d) Atos reais
- As atuações bilaterais
a) Contratos públicos
b) Acordos endoprocedimentais
c) Padrões técnicos (em especial, de fonte transnacional)
- As atuações informais
a) Atos orais
b) Informações administrativas
c) Promessas administrativas
- As atuações jurídico-privadas

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O Conselho de Ministros aprovou, sob proposta da Ministra da Saúde o Plano
Nacional da Saúde Alimentar e Física, nos termos do qual se fixaram objetivos de
redução de consumo de gorduras animais, açúcar e sal e de aumento do tempo dedicado
à atividade física, ficando todos os serviços públicos encarregues de colaborar na
implementação desse mesmo plano.
O Conselho Nacional de Saúde ficou encarregue de aprovar um regulamento de
implementação daquele plano. O referido regulamento viria a determinar que os serviços
públicos apenas ficavam proibidos de vender ou disponibilizar aos utentes produtos com
níveis de açúcar ou de sal superiores aos fixados pelo comité conjunto de peritos da
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e da
Organização Mundial de Saúde.
A Diretora do Agrupamento de Escolas Amadora Oeste decide: a) contratar, por
ajuste direto, uma empresa de fornecimento de máquinas automáticas de venda de
alimentos, que pertencia ao Presidente da Associação de Pais do referido agrupamento;
b) determinar a proibição de venda de produtos e bebidas açucaradas, bolachas,
chocolates e fritos, no bar e no refeitório daquelas escolas; c) ordenar, oralmente, às
funcionárias daquelas escolas que confisquem quaisquer alimentos trazidos pelos alunos,
que não sejam ali adquiridos.
A Associação de Estudantes protestou, alegando que:
i) As máquinas automáticas de venda de alimentos continuavam a vender
chocolates, bolos, fritos e refrigerantes, o que não só levava a uma
concentração de estudantes em torno das máquinas, como isso violava as
deliberações do Conselho de Ministros e do Conselho Nacional de Saúde;
ii) O procedimento de contratação da empresa do Presidente da Associação
de Pais levantava muitas dúvidas quanto à sua transparência;
iii) Os alunos não tinham sido ouvidos sobre quaisquer das medidas tomadas,
sendo que a proibição absoluta de venda era excessiva.

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Face a estes protestos, a Diretora solicita, no mesmo dia, um parecer à Assembleia
de Escola. O Presidente daquele órgão decide não convocar o órgão e emite, ele próprio,
um parecer, nos termos do qual invoca (alegados) pareceres técnicos proferidos por
especialistas pagos por empresas multinacionais do ramo alimentar, que comprovam que
os alimentos vendidos nas máquinas automáticas até são benéficos para a saúde.
Entretanto, com vista a cumprir a decisão de confisco de alimentos, os
funcionários da portaria das escolas procedem a revistas das mochilas e malas dos alunos,
sempre que os mesmos entram e saem das escolas, remexendo no seu conteúdo, mesmo
quando os alunos retiram os alimentos para os exibir.
Face a esta prepotência, os alunos fecham as escolas e realizam uma greve de
protesto. Tendo em conta que a Presidente da Câmara lhe telefonou, avisando que uma
equipa da SIC-Notícias já estava a caminho das escolas, a Diretora reuniu, de urgência,
com os alunos e prometeu-lhes que passaria a autorizar a entrada de alimentos saudáveis
na escola e que só haveria confisco quando os funcionários presenciassem, em flagrante,
o consumo de alimentos proibidos.
Porém, passados alguns dias, ALEXANDRE (conhecido por O GRANDE) foi
barrado à porta e viu-lhe serem confiscadas várias bolachas americanas hiperproteicas,
que – apesar da sua aparência e sabor deliciosos – tinham sido receitadas por um
nutricionista que o estava a ajudar a combater um problema de obesidade crónica e não
continham açúcares adicionados ou gorduras animais. Furioso, confrontou a Diretora,
que sorriu, cáustica: «Promessas, leva-as o vento!».

Individualize e aprecie cada uma das atuações administrativas descritas,


qualificando-as juridicamente e identificando as suas caraterísticas próprias.

Caso n.º 14

- As garantias administrativas: controlo do fundamento e controlo do conteúdo

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a) Reclamação
b) Recurso hierárquico
c) Recursos especiais
- As garantias jurisdicionais
a) Controlo por tribunais administrativos e fiscais
b) Controlo por outros tribunais do Estado (judiciais comuns e especializados e Tribunal de
Contas)
c) Controlo por tribunais arbitrais
- As garantias políticas
a) Controlo da administração pública por órgãos políticos: a responsabilidade política
b) Controlo da administração pública pelos cidadãos: os mecanismos de participação política e de
democracia direta
c) Controlo da administração pública pelos meios de comunicação social: os media tradicionais e as
redes sociais
d) A tipologia de garantias políticas
▪ Direito de petição
▪ Direito de ação popular
▪ Referendos locais
▪ Orçamentos participativos
▪ Sondagens e questionários
- As garantias de intervenção judicial em sede de execução administrativa: o regime previsto no artigo 8.º,
n.º 2, do DL que aprovou o CPA/2015.

Apesar da revogação da certidão eletrónica, o Registo Predial continua a manter a


menção de que o prédio de ANA POUCA-TERRA goza de acesso pelo portão principal de
entrada do prédio de ISILDA POUCA-TERRA. Esta está farta da situação e pede à
Advogada, em 20 de maio de 2024, que se dirija às seguintes entidades, solicitando a

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cessação de efeitos da certidão eletrónica, que foi emitida em 20 de janeiro de 2024, e a
modificação do respetivo registo:
a) Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Azeitão;
b) Presidente do Instituto de Registos e Notariado;
c) Ministra da Justiça;
d) Provedora da Justiça.

1) Aprecie a viabilidade da apresentação de requerimentos a cada uma


daquelas entidades.

A irmã, ANA POUCA-TERRA, é informada por uma amiga que trabalha na


Conservatória de Registo Predial de Vila Nova de Azeitão, de que a irmão pretende
alterar o referido registo e fica espantada por não ter sido contactada por nenhuma
daquelas entidades para que se pudesse pronunciar. Como retaliação, decide impugnar a
validade da deliberação da Câmara Municipal que revogou a certidão eletrónica, em
simultâneo, para o Secretário de Estado das Autarquias Locais e para o Tribunal
Administrativo e Fiscal de Almada.

2) Comente a pretensão de pronúncia de ANA POUCA-TERRA, bem como


a admissibilidade dos mecanismos de reação por ela usados.

Caso n.º 15

- A responsabilidade civil da administração pública (e sua distinção face aos demais tipos de
responsabilidade civil das pessoas coletivas públicas)
- A tipologia de responsabilidade civil
a) Contratual
b) Extracontratual

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▪ Por facto ilícito
▪ Pelo risco
▪ Imprópria: por sacrifícios excessivos
- Os pressupostos da responsabilidade civil extracontratual (breve excurso sobre as especificidades do
regime aplicável às pessoas coletivas públicas)

Em 1 de abril de 2024, foi lançada uma consulta pública relativa à construção


de um novo lanço de autoestrada entre Cascais e Malveira da Serra. Durante a
construção do referido lanço, os operários da SEMPRE-EM-FRENTE, S.A., empresa
que venceu o concurso para construção da autoestrada, não respeitaram o projeto de
construção apresentado a consulta pública, tendo utilizado cerca de 800 m 2 de um
terreno pertencente a EDUARDO POUCA-SORTE, que não tinha sido alvo de
expropriação. Para além disso, por ter descoberto diversos vestígios arqueológicos
do período pré-glaciar, o engenheiro responsável pela obra da SEMPRE-EM-
FRENTE, S.A. optou por desviar o percurso da autoestrada e ocupar cerca de 1.200
m2 de um outro terreno pertencente a DIAMANTINA PROGRESSO.
EDUARDO POUCA-SORTE, logo que vislumbrou operários da SEMPRE-EM-
FRENTE, S.A. nos seus terrenos, dirigiu-se à sede da ESTRADAS DE PORTUGAL,
S.A., entidade concedente da obra, e comunicou a SUZETE CATA-VENTO,
funcionária do Departamento de Obras, que aquela empresa se encontrava a
construir, de modo ilegal, a autoestrada num terreno que lhe pertencia. Mais exigiu
que a ESTRADAS DE PORTUGAL, S.A. ordenasse de imediato a paragem dos
trabalhos de construção.
Porém, como EDUARDO POUCA-SORTE constatou que os dias passavam e
as obras não paravam, dirigiu-se novamente à ESTRADAS DE PORTUGAL, S.A. e
exigiu que lhe dessem conta do andamento do pedido por si formulado. Depois de
ter sido obrigado a pedir o livro de reclamações e de chamar a chefe do Departamento

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de Obras, constatou que o requerimento por si apresentado não se encontrava nos
arquivos daquele serviço público, apesar de haver registo informático da sua entrega.
Mais tarde, DEOLINDA METEDIÇA, funcionária de limpeza daquela empresa,
viria a contar a EDUARDO POUCA-SORTE que vários documentos administrativos
tinham sido destruídos porque, durante uma greve de professores, várias funcionárias
daquele serviço tinham levado os seus filhos para o local de trabalho, tendo aqueles
provocado um pequeno incêndio que havia consumido parte do arquivo.

1. Analise a eventual responsabilidade civil de cada um dos


intervenientes, relativamente aos danos provocados a EDUARDO
POUCA-SORTE.

2. Imagine que, em sede de contestação, um dos réus invoca que a


circunstância de EDUARDO POUCA-SORTE não ter reagido
jurisdicionalmente impede que este venha a ser indemnizado.
“Quid iuris”?

3. Pondere e qualifique a eventual responsabilidade civil dos


intervenientes, relativamente aos danos provocados a DIAMANTINA
PROGRESSO.

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