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Rita Oliveira

A C R I A N Ç A , O H O S P I TA L E O
LÚDICO

2ª edição /AM

São Paulo
2018
A C R I A N Ç A , O H O S P I TA L E O
LÚDICO

Rita Oliveira

2ª edição

São Paulo
2018
Casa de Joana Editora, 2018
2ª edição
ISBN: 978-85-69048-00-8
Capa: Lenio Mendes
Arte / Desenhos: Ana Clara Moreira
Diagramação: Juraci Moreira
Revisão ortográfica: Carina Silva
Impresso no Brasil / Printed in Brazil
DEDICATÓRIA

Dedico este livro a meu marido Juraci por todo carinho e incentivo, a minha
querida filha Ana Clara, que tolerou e aceitou com generosidade minhas
ausências e ao meu irmão Agostinho, que partiu para outro plano durante o
período em que eu estava iniciando esta pesquisa.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e toda minha amada família que sempre torce e vibra com minhas conquistas.

À Simone Rodrigues Neves, que foi minha mestra, orientadora e incentivadora nesta obra, todo meu carinho,
reconhecimento e gratidão. Sem ela, este livro jamais teria sido concluído.

Ao grupo “Luta pela Vida”, que me possibilitou viver a experiência de coordenar uma brinquedoteca hospitalar e
ter uma oportunidade fantástica de conviver com crianças encantadoras que me deram lições de esperança, fé,
amor e agradecimento pela vida.

Aos coordenadores e voluntários da brinquedoteca “Brincar é viver”, pela acolhida e por todas as informações
concedidas.
ÍNDICE

APRESENTAÇÃO.................................................

INTRODUÇÃO......................................................

1. AS BRINCADEIRAS E JOGOS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL. .......................

1.1 A importancia do brincar ....................

2. A BRINQUEDOTECA .......................................

2.1. O SURGIMENTO DAS BRINQUEDOTECAS. ...........................................................................

2.2. O ESPAÇO RESERVADO PARA O BRINCAR INFANTIL...........................................................

2.3. Várias possibilidades de uma brinquedoteca ...........................................................................

3. O BRINQUEDO.............................

3.1. Brinquedos de sucata ................................

3.2. Atenção para a segurança e adequação dos brinquedos ........................................................

4. O ADULTO E O BRINCAR INFANTIL..............

4.1. O brinquedista como o profissional que cria brinquedos ........................................................

5. O PROFISSIONAL LÚDICO NO HOSPITAL.............................................................

5.1. A contação de história no hospital ..............

5.2. O PALHAÇO NO HOSPITAL ......................

5.3. O Teatro no hospital ................................

6. A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM A DOENÇA E O AMBIENTE HOSPITALAR .............................

6.1. O brincar dentro do HOSPITAL..............

7. RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA .............................................................................

7.1. O GRUPO LUTA PELA VIDA ..................

7.2. A BRINQUEDOTECA DO HOSPITAL DO CÂNCER EM UBERLÂNDIA............................

7.2.1. O ACOMPANHANTE .............................

7.2.2. O PROJETO PEDAGÓGICO..................

7.2.3. A BRINQUEDOTECA VAI ATÉ A CRIANÇA ...........................................................................

7.3. A PROPOSTA DE HUMANIZAÇÃO ESTÁ ALÉM DO ESPAÇO FÍSICO .............................

8. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES .....................


Anexo I - LEI Nº 11.104, DE 21 DE MARÇO DE 2005 ....................................................................

Anexo II - PORTARIA Nº 2.261, DE 23 DE NOVEMBRO DE 2005.........................................

BIBLIOGRAFIA...................................................
ÍNDICE DE FOTOS

Figura 1 - Brinquedoteca do Hospital do Cancer de Uberlândia /MG ..........................................................

Figura 2 – Cantinho do bebe - Hospital do Câncer em Uberlândia/MG ...........................................................

Figura 3- Bonecas - Hospital do Câncer em Uberlândia/MG ...........................................................

Figura 4 - Cantinho da Leitura - Hospital do Câncer em Uberlândia ...................................................................

Figura 5 - Modelo de Binquedoteca móvel - Hospital do Câncer em Uberlândia/MG .........................................

Figura 6 - Kits de Montagem .......................................

Figura 7 - Cantinho da Informática - Hospital do Câncer em Uberlândia .............................................................


PREFÁCIO

T ive a rica oportunidade de acompanhar Rita em sua formação acadêmica como professora e, mais tarde, como
orientadora de seu Trabalho de Conclusão de Curso. De lá para cá já se passou quase uma década, mas posso
afirmar, com tranquilidade, que o conteúdo deste trabalho, agora publicado, está muito atual.

Esse livro é, portanto, resultado de uma integração coerente de relato de experiência, pessoal e profissional,
e investimento intelectual de pesquisa sobre as contribuições de diversos pesquisadores sobre o brincar e a função da
brinquedoteca no contexto hospitalar.

Acredito que sua vivência pessoal de adoecimento e internação na infância, apresentada de maneira
delicada e envolvente no capítulo “A relação da criança com a doença e o ambiente hospitalar”, é o ponto de partida
para suas reflexões sobre as inúmeras “violações” sofridas pelas crianças no espaço hospitalar.

As outras memórias evocadas são de sua experiência como brinquedista no Hospital das Clínicas de
Uberlândia, onde foi pioneira, de sua formação acadêmica em pedagogia e de sua trajetória como atriz. Em minha
opinião, mistura melhor não poderia acontecer. É neste caldeirão de vivências inspiradoras que esse trabalho nasceu.
Vivências essas que sustentam suas reflexões de que a ação de brincar, muitas vezes considerada como simples
passatempo por adultos, é um nutriente poderoso da infância e alicerce de uma vida adulta criativa, rica e saudável.

As contribuições do brincar para o desenvolvimento infantil é tema de investigação para autores da


interface psicologia e educação, tais como Vygotsky e Winnicott que, neste trabalho, são ressaltados como
referência para a investigação do desenvolvimento infantil. Importantes pesquisadores brasileiros como Friedmann,
Janô, Kishimoto, entre outros, também servem de base para as discussões levantadas.

As brincadeiras são aqui analisadas como um meio de comunicação das experiências internas infantis.
Alegrias, frustrações e fantasias são demonstradas pelos comportamentos lúdicos. Neste contexto, os papéis sociais
são assumidos, as emoções elaboradas e muitos problemas resolvidos.

A criança hospitalizada está com as condições de brincar provisoriamente limitadas, encontrando-se, neste
momento, fragilizada e distanciada do seu espaço doméstico protegido, o que pode levar à sensação de perda do seu
espaço interno de referência pessoal. É o sofrimento psíquico do não pertencer e da impessoalidade que se instala na
criança.

Dessa maneira, a mediação do profissional instrumentalizado para “o brincar” entra em cena. O brinquedista
é esse personagem que ganha um espaço relevante no hospital; espaço esse, destinado ao tratamento de doenças e
que, contraditoriamente, se esquece do indivíduo singular, no qual se instala a doença. É muito importante que esse
profissional tenha uma formação teórica e técnica consistente, instrumentalizado com um repertório amplo de jogos
e brincadeiras.

A autora chama nossa atenção para a necessidade da formação múltipla do profissional brinquedista; ele pode
aprender a contar histórias, oferecendo oportunidade para que as narrativas de cada criança ganhem espaço e sejam
ressignificadas. Pode ser “palhaço”, promotor do riso e do bom humor como um remédio capaz de aliviar as dores
pesadas instaladas no corpo e na alma. Ele poderá ser capaz de produzir brinquedos, construir novidades através de
velhas sucatas, apresentando às crianças a metáfora da transformação do lixo em luxo lúdico, capaz de evidenciar o
processo cíclico e transformador da existência.

Mas, em se tratando de crianças hospitalizadas, faz-se necessário ir adiante. Além de estarem


instrumentalizados, tais profissionais precisam estar identificados com o universo infantil, sendo capazes de
promover e sustentar um espaço de ludicidade e de se sobrepor ao sofrimento vivido.

Acredito que a contribuição desse trabalho está na ênfase do caráter humanitário das grandes
transformações que podem ser alcançadas através de mudanças simples, porém, significativas na cultura do
atendimento às crianças no contexto hospitalar.

O brincar é um direito infantil descrito na constituição brasileira, mas que precisa ser garantido e
preservado através de ações concretas, principalmente em espaços com demandas específicas como no caso dos
hospitais. Nesse contexto, esse direito manifesta-se desde o acolhimento da família, a identificação do paciente
infantil, ao permitir que o seu espaço de infância seja preservado, na experimentação de jogos e brincadeiras
diversas. É o calor humano que se contrapõe à frieza de um leito hospitalar, lugar reservado para a vivência da dor.

É importante ressaltar que os diversos profissionais que lidam com as crianças hospitalizadas devam ter essa
compreensão. As próprias memórias da autora sobre a sua experiência de hospitalização são indicativos de que,
mesmo em situações limitadoras, como a por ela vivenciada, é possível encontrar “brechas” para experiências
lúdicas revitalizadoras.

Enfim, a leitura desse livro nos inspira na esperança de que, através do estímulo da ludicidade em seu
sentido mais amplo, mesmo em contextos limitados como os hospitais, é possível a promoção de uma cultura para a
paz e a criatividade, condições básicas para a promoção da vida, mesmo em situações em que estamos diante da
morte e do morrer. Sugiro, então, que não esqueçamos de que brincar é uma coisa muito séria.

Simone Rodrigues Neves


APRESENTAÇÃO
inspiração para este livro surgiu da experiência que tive trabalhando como coordenadora da brinquedoteca
A “Brincar é Viver” do Hospital do Câncer em Uberlândia, coordenada pela organização não governamental
“Grupo Luta Pela Vida”.

A partir dessa experiência passei a pesquisar intensamente a questão do lúdico no ambiente hospitalar e essa
pesquisa resultou em minha monografia “Brinquedoteca Hospitalar” e, atualmente, neste livro.

Meu primeiro contato com uma brinquedoteca foi através de um estágio que fiz em uma brinquedoteca da USP
enquanto estudava na Escola de Arte Dramática (EAD/ECA) dessa universidade no ano de 1995. Foi uma rápida
experiência que me aproximou dessa questão tão importante que é o brincar na infância.

Observando e participando das atividades, comecei a entender o quanto os jogos e as brincadeiras podem fazer a
diferença no processo de formação de uma criança.

Como atriz e contadora de histórias, trabalhando intensamente com o público infantil, também tenho a oportunidade
de perceber, diariamente, o quanto a intervenção lúdica é importante em qualquer ambiente onde haja criança.

Os jogos, brincadeiras e atividades artísticas como a contação de histórias, encenações teatrais e musicais, podem
ser ferramentas valiosas no estabelecimento de uma comunicação com os pequenos.

Em relação ao ambiente hospitalar convivi intensamente com o mesmo por duas vezes. Uma vez como
paciente infantil internada e outra como coordenadora de brinquedoteca. Nessas duas experiências percebi que os
espaços criados nos hospitais para atividades lúdicas podem ser pequenos “paraísos” para as crianças enfermas.

Além das atividades lúdicas, a postura do adulto em relação à criança dentro de um hospital, seja em uma
brinquedoteca, em um leito ou em uma sala de espera, pode alterar toda a concepção que uma criança tem em
relação a sua ida até lá.

No hospital do Câncer em Uberlândia, através das atividades realizadas pelos profissionais da saúde, equipe de
voluntários e pelos artistas que fazem parte do grupo “Anjos da Alegria”, foi possível perceber e refletir sobre como
os adultos podem atuar de forma benéfica na vida da criança enquanto esta precisa permanecer num hospital.
INTRODUÇÃO
stamos em uma era na qual o avanço tecnológico ganhou tamanha proporção, que refletir sobre sua utilização
E em todos os meios em que vivemos é fundamental.

Porém, discussões sobre as mais modernas descobertas tecnológicas não podem estar restritas a como aplicar
estas ferramentas, é preciso discutir, também, sobre como podemos conviver de forma respeitosa, harmoniosa e
humanizada com todas essas novidades.

No setor da saúde, sabemos que muitos avanços no tratamento de doentes ocorreram graças às mais variadas
novidades que a tecnologia possibilitou.

Infelizmente, podemos constatar também, através de pesquisas e algumas experiências vividas, que enquanto a
tecnologia evoluiu bastante, a humanização no atendimento a enfermos ainda é muito falha. Ainda temos muito para
aprender sobre um tema tão delicado como esse.

Muitos profissionais da comunidade médica passam a vida pesquisando sobre quais os melhores e mais
eficientes meios de se curar doenças e prolongar a possibilidade de vida. Mas, é uma pena que, na luta por cada vez
mais descobertas tecnológicas, ainda estejamos tão atrasados no âmbito humanitário.

As pesquisas em relação à saúde do ser humano estão, quase sempre, pautadas na criação de modernos
equipamentos tecnológicos e nos lançamentos de novas drogas no mercado farmacêutico.

Poucas publicações são feitas sobre como seria possível melhorar a qualidade de vida do doente enquanto ele está
em tratamento nos hospitais.

Lutar pela cura de patologias é sempre importante, mas é preciso entender que, para muito além das patologias,
estão as pessoas e que elas precisam ser tratadas com muito respeito e consideração. Se o profissional da saúde se
preocupa com a cura de seu paciente, precisa enxergar o individuo por trás da doença e tratá-lo de forma
humanizada.

É cada vez mais evidente que tratar de um doente pode ir muito além de identificar a sua patologia, receitar
medicamentos e alguns cuidados físicos. Esse ir além significa que o profissional da saúde deve estar atento à pessoa
do doente, entendendo que esse ser humano tem uma história de vida, tem familiares e está inserido em um contexto
onde sua cultura e suas crenças influenciam diretamente seu comportamento e sua maneira de lidar com a doença e o
tratamento.

Percebemos dentro de alguns hospitais que, apesar da medicina ter avançado tanto e feito descobertas tão
incríveis no tratamento de enfermidades que, por muito tempo, foram consideradas incuráveis, o cuidado com o ser
humano ainda está muito aquém do que deveria ou poderia ser.

Podemos ver e ouvir casos de doentes que foram tratados de forma desumana em hospitais públicos e privados,
preferindo até mesmo permanecer em suas residências, junto a suas famílias, aguardando a morte a ter que ficar
internados em um hospital.

Segundo Camon (1996), a forma fria e mecanizada com que muitos profissionais da saúde desenvolvem seu trabalho
também é fator importante que deve ser considerado quando se discute as consequências negativas que podem ser
causadas por uma hospitalização.

Uma equipe com profissionais que ainda não despertaram em si o interesse pela pessoa do doente, acima de tudo,
dificilmente será capaz de dar um atendimento adequado.
Cada vez mais são planejados congressos, palestras e cursos para tratar dos avanços tecnológicos e o quanto esses
podem auxiliar no combate das enfermidades, mas a tecnologia, apesar da grande utilidade que tem nos tratamentos,
não pode ser o único recurso utilizado.

Existem várias pesquisas e depoimentos apontando para o fato de que o paciente, quando é respeitado como pessoa,
com o direito de viver dignamente é capaz de prolongar seu tempo de vida, melhorar a qualidade da mesma e até
colaborar mais efetivamente em seu tratamento.

Chiattone (1988) enfatiza que a maneira como cada moribundo reage à doença, tratamento e internação podem
variar muito. Mas, é fato que, a forma com que esse paciente é abordado pelo profissional da saúde, também
interfere na sua postura diante da situação.

Cada doente traz, dentro de si, todas as experiências que já vivenciou fora do hospital e essas informações,
registradas em seu interior, contam muito na hora de definir a forma com que esse paciente irá reagir.

O tempo de estadia dentro do hospital também é influência direta no comportamento dessas pessoas, afinal, passar
um ou dois dias hospitalizado é diferente de passar meses, sendo que, existem casos de pessoas com mais de dez,
doze anos de idade, que moram em hospital desde quando nasceram.

Conheci crianças hospitalizadas que viviam há tanto tempo naquele ambiente que elas tinham o leito como seu
quarto e os médicos e enfermeiras como suas verdadeiras famílias.

Quando esses “moradores de hospital” encontram uma equipe acolhedora e respeitosa, com certeza a qualidade de
vida deles pode ser bem melhor.

Precisamos pensar, também, nas diferentes patologias existentes e no quanto um diagnóstico pode afetar o
emocional de uma pessoa e seus familiares. Quando o médico explica, por exemplo, que alguém é portador de uma
doença fatal, toda a estrutura psicológica desse ser e daqueles que o rodeiam, pode ficar muito abalada.

Dificilmente alguém reage positivamente ao receber a notícia de uma doença grave, o que pode complicar muito a
estadia do enfermo no hospital, uma vez que ele fica mais propenso a ter depressão, angústia e outras reações que
devem ser encaradas como parte da doença e, consequentemente, do tratamento.

Um exemplo de patologia que abala toda a estrutura familiar é o câncer. A impressão que se tem, muitas vezes, é de
que a família toda adoece junto. O tratamento é penoso, demorado e, em muitas situações, sem certeza de cura.

Com relação às doenças contagiosas, a questão de reações a diagnósticos também é muito séria, é o tipo de situação
que incomoda muito o doente, porque provoca rejeição, por vezes até dos familiares que ficam com receio de serem
contaminados.

Em casos de HIV, além do receio de contágio, ainda nos dias de hoje existe o preconceito relacionado à forma
como a doença foi contraída.

O portador do HIV, além de todas as dificuldades físicas provocadas pela moléstia, é vítima de julgamento de culpa
por parte dele mesmo e de muitos que o rodeiam.

Este livro trata mais objetivamente do doente infantil que, de todos, é o mais
afetado em casos de doenças e hospitalização.

As experiências vivenciadas por mim, quando fui coordenadora da Brinquedoteca do Hospital do Câncer em
Uberlândia e as várias fontes de informações e pesquisas que embasam esta obra, confirmam a ideia de que é de
extrema necessidade que os hospitais, não sejam um ambiente frio e rígido.

Todas as unidades de saúde precisam ter, em suas dependências, espaços e atitudes voltadas para a humanização,
levando em conta que as atividades lúdicas são fundamentais na vida de todos e principalmente na vida da criança.

Chiattone (1988) afirma que a criança ao chegar numa unidade de saúde, além de doente, está fragilizada, insegura,
assustada e, em alguns, casos com debilidades físicas. Se encontrar um ambiente acolhedor e receptivo, com adultos
aceitando-a incondicionalmente, provavelmente, seu sofrimento será amenizado.

Quando uma criança é levada à internação, este fato pode interferir significativamente no seu desenvolvimento.

É importante entender que ser internada provoca uma grande alteração na rotina da criança que muitas vezes vê
interrompido o seu ano letivo, parando bruscamente seu aprendizado escolar e sua convivência com educadores e
amigos de sala de aula.

Apresento aqui o resultado de uma investigação sobre as contribuições que atividades lúdicas podem trazer para o
desenvolvimento de crianças adoentadas em seus processos emocionais, sociais e cognitivos. E, ainda, as
contribuições que podem ser dadas acerca do conforto, descontração e fortalecimento para os familiares do doente,
uma vez que, quando existe uma doença na família, pode ocorrer uma desestruturação de todos os seus membros,
que também necessitam de acolhimento e respeito.

Apesar de todas as dificuldades que uma hospitalização pode provocar, não podemos aceitar que durante um
processo de internação um paciente infantil fique totalmente estagnado, enquanto outras crianças vão para a escola,
cinema, parques, teatros e festas.

É necessária a compreensão de que ao finalizar o tratamento, a criança volta para a sua vida social e continua
acompanhando as outras pessoas de sua faixa etária.

O papel dos jogos e brincadeiras, assim como das atividades artísticas no hospital, é proporcionar para os pequenos,
condições de se prepararem para que, ao receberem alta, possam dar continuidade aos seus sonhos, seu
desenvolvimento e sua capacidade de socialização, que não pode ser interrompida no hospital.

Cada doente e familiar responde de uma maneira a notícia de doença e internação. Não existem fórmulas prontas a
respeito de como lidar com essas pessoas dentro dos hospitais, mas, com certeza, um atendente capaz de
desenvolver a empatia com aqueles a quem atende, será um profissional realizando de forma mais eficiente o seu
papel.

Os médicos, quando lidam com o paciente, precisam compreender que o doente já traz dentro de si algumas ideias
prévias sobre algumas doenças, sendo que isso pode complicar muito seu processo de aceitação da enfermidade.

Camon (1996) dá uma grande contribuição sobre o papel que exerce o imaginário na vida do moribundo. A criança
mesmo não tendo muita noção do que certos tipos de doenças significam, fica envolvida pelo ambiente mórbido que
os adultos criam em volta dela.

O paciente infantil, às vezes, pode se deixar levar pela reação do adulto e passar a acreditar no seu fim, mesmo
quando a cura é possível, simplesmente porque na história da humanidade aprendeu-se que algumas doenças são, ou
seja, incuráveis.

Por mais que os médicos expliquem sobre os inúmeros casos de cura em relação a algumas patologias, que sequer
deixam sequelas, ainda assim, a imaginação pode ser mais forte. O imaginário pode manter o doente e seus
familiares convencidos de que o fim do portador da doença é algo certo e rápido.

A proposta deste livro é mostrar que estudos e experiências concretas apontam que o ser humano e principalmente a
criança pode ter condições de aprender e se desenvolver independente do seu estado de saúde e de onde ela esteja.

A criança doente passa por um turbilhão de situações emocionais, que vão desde reações físicas e psíquicas da
patologia até as reações resultantes do estar diante de algo desconhecido.

Ter a possibilidade de aprender e se manter em desenvolvimento auxilia o paciente no sentido de poder focar a
atenção em outras coisas que não seja a patologia.

As pessoas destinadas a trabalhar com o paciente infantil precisam conhecer as possibilidades de intervenção lúdica
para se aproximarem desse paciente em uma perspectiva mais humanizada.

Se o pensamento do profissional partir de uma visão globalizada da criança que ele está atendendo, irá entender o
quanto esse ser pequeno e impotente precisa ser cuidado, acarinhado e tratado com respeito e dedicação.

É preciso considerar que os pequenos enfermos, assim que ficam curados, devem ser novamente inseridos em seu
grupo de convivência familiar e social.

Mesmo que fique indefinidamente confinado ao leito de um hospital, o paciente infantil não pode ter negado seu
direito mais primordial que é o de viver plenamente, tendo acesso ao conhecimento, ao afeto e a seu próximo.

Podemos encontrar na literatura de renomados pesquisadores, vários relatos de trabalhos lúdicos em hospitais, que
apresentam excelentes resultados na melhora da qualidade de vida do doente e de seus acompanhantes.
Claro que ainda há muito para ser analisado a respeito dos efeitos positivos que um tratamento mais humanizado
pode proporcionar ao doente, mas não se pode, em hipótese alguma, negar que os resultados sejam benéficos e
identificáveis.
AS BRINCADEIRAS E JOGOS NO
DESENVOLVIMENTO INFANTIL.
través do brincar, a criança tem maior possibilidade de apreender as informações que recebe e, desta forma,
A adquirir mais possibilidades de conviver socialmente e superar as alternâncias de realidade que fazem parte da
evolução constante da humanidade.

Winnicott (1982) afirma que a maioria das crianças gosta muito das experiências físicas e emocionais
proporcionadas pelas brincadeiras. Através dos jogos e brincadeiras, as crianças conseguem demonstrar para alguns
adultos suas emoções, pensamentos e sentimentos.

Percebemos que o fato do brincar parecer algo tão prazeroso para a criança provoca, em muitos adultos, a impressão
de que o momento da brincadeira não é uma ação muito séria e, consequentemente, tão fundamental.

No entanto, como afirma Vygotsky (1998), o brincar nem sempre gera prazer, trazendo, inclusive, angústias e
descontentamentos em algumas situações. Mas o autor ressalta a importância do brincar no desenvolvimento
infantil.

A importância do brincar vai muito além do deixar a criança “feliz”. Brincar é uma atividade importante no
desenvolvimento da criança e pode auxiliar no entendimento de questões, como doença e internação, de forma mais
apropriada ao nível de desenvolvimento que cada pequeno poderá estar.
1.1 A importancia do brincar.

Vygotsky (1998) considera fundamental que as crianças brinquem, para que, através das brincadeiras, elas tenham
oportunidade de reproduzir o que percebem no comportamento do adulto e, assim como reproduzir, ter também a
chance de se apropriar e reelaborar o que percebem. “O que na vida real passa despercebido pela criança, torna-se
uma regra de comportamento no brinquedo” (VYGOTSKY, 1998. p.124).

A criança precisa ter a oportunidade de brincar e o adulto deve estar sempre desempenhando bem sua função de
incentivar a brincadeira e, se possível, brincar e ensinar brincadeiras aos pequenos.

Frequentemente, podemos ver e ouvir adultos gritarem para crianças pararem de brincar, porque elas “irão se sujar e
bagunçar a casa” ou demonstrar aos outros que não são “comportadas”, “bem educadas”.

Infelizmente, ainda não ficou claro para muitos pais ou responsáveis por crianças que a brincadeira é um exercício
constante de amplitude de várias competências, assim como da capacidade criativa, muito importante na vida de
todo ser humano.

A sociedade imediatista em que vivemos leva muitos pais e educadores a buscarem cada vez mais rapidamente
resultados quantitativos na formação das crianças e o tempo para realizar as atividades lúdicas e artísticas é muito
pequeno. Isso acontece porque ainda não está claro que o brincar também é uma atividade relacionada à
aprendizagem, elaboração de conceitos e entendimento sobre o mundo.

Na maioria dos hospitais, a preocupação dos profissionais é com a patologia. Assim, os momentos como o brincar
que tanto contribuem para o desenvolvimento infantil, acabam sendo colocados em segundo plano ou sequer são
utilizados.

As crianças precisam brincar. As brincadeiras, mesmo quando não são dirigidas ou acompanhadas pelos adultos,
estão exercendo sua função que é proporcionar às crianças as chances que elas precisam para vivenciar experiências
ricas para o seu desenvolvimento.

Nos primeiros anos de vida é muito comum os pequenos ficarem frustrados ou irritados por não compreenderem ou
não terem condições físicas para acompanhar os maiores nas brincadeiras e jogos. Cabe ao adulto estimular e
incentivar a criança, pois é bom para ela saber que conseguirá.

O adulto deve sempre respeitar, incentivar e auxiliar a criança no que for preciso dentro das brincadeiras. Porém, ao
invés disso, algumas vezes vemos os mais velhos podando ou até mesmo impedindo os jogos e brincadeiras.

Acontecem muitos casos de adultos que até entendem que brincar é importante, mas quando se envolvem nas
atividades da criança, demonstram falta de preparo para lidar com a situação.

As crianças se sentem muito incentivadas a brincar quando podem contar com a participação de algum adulto na
brincadeira, pois se sentem importantes e valorizadas.

Para Maluf (2003), é necessário ajudar a criança a fazer as coisas à sua maneira, aceitando o que ela é fisicamente
capaz de fazer naquele momento. Segundo essa autora, ainda falta muito compromisso por parte das escolas no que
diz respeito ao brincar e esse fato pode ser porque muitos professores não estudaram sobre o brincar infantil.

Quando os professores partem para o trabalho docente, normalmente, não encontram incentivos para realizar
atividades infantis relacionadas com o brincar nas escolas em que atuam. Na maioria das vezes, por falta de preparo,
os professores também não tomam iniciativas para mudar a situação e, assim, a escola vai se eximindo dessa
responsabilidade.

Quando um profissional da educação não é capaz de compreender o quanto o brincar pode contribuir dentro do
ambiente escolar, é possível percebermos que existe uma lacuna em sua formação com relação ao desenvolvimento
da criança.
Temos em nossa literatura muitas informações para todos que tenham intenção de dar atenção para a questão do
brincar no universo infantil.

Atuando em uma brinquedoteca hospitalar e convivendo com recreadores e brinquedistas diariamente, foi possível
notar que ainda há muito para ser estudado e discutido sobre de que maneira as brincadeiras podem contribuir para o
desenvolvimento do indivíduo.

Dentro de um hospital o foco também está na maneira como a criança lida com a questão da doença, em alguns
casos, da internação. Neste caso, a intervenção lúdica é uma ferramenta fundamental, que pode ser utilizada pelo
adulto interessado no desenvolvimento saudável dos pacientes infantis.

O ser humano aprende desde pequeno, através da interação social, a se utilizar de jogos para se relacionar e se
desenvolver e na infância pode encontrar excelentes condições de fazer uso de todos os benefícios que os jogos
proporcionam.

Quando estamos jogando, temos a chance de relaxar, de nos libertar de amarras, tabus e convenções sociais.

Janô afirma que é no brincar, no jogar, que o indivíduo deixa fluir sua liberdade de criação e utiliza sua
personalidade integral, sendo que, sendo criativa a pessoa tem condições de descobrir o seu eu. De acordo com o
autor, “O jogo puro e simples constitui uma das principais bases da civilização”. (JANÔ. 1986. p.52).

Na escola de arte dramática, quando estudamos o processo de criação do ator, aprendemos que, em uma encenação,
a melhor forma de o artista ser verdadeiro em suas ações é conseguindo resgatar a capacidade que muitas crianças
possuem de brincar espontaneamente e se desenvolver através destas brincadeiras.

É preciso considerar que muitas crianças demonstram certa espontaneidade que se pode notar através dos jogos.
Porém, no decorrer da vida, somos levados pelas convenções, pelas normas e pela necessidade de sermos aceitos
como um ser social dentro de um determinado grupo e nos adaptamos deixando de lado a “coragem” de nos
expormos sem constrangimentos.

Por mais que na infância a criança seja estimulada a brincar e ser espontânea de alguma forma, através dos
enquadramentos sociais essa capacidade pode ser comprometida, esquecida ou neutralizada.

Infelizmente, é possível constatar que muitas crianças, por falta de oportunidade de brincar, vão, já na infância, se
fechando e perdendo a chance de se desenvolver plenamente.

O medo de se expor, de estar contra os padrões pré-estabelecidos, leva o ser humano a ir se moldando.

A adolescência nos dá muitos exemplos de conflitos internos em função do medo de ser ridicularizado pelo grupo de
convivência.

Então, naturalmente, para se igualar e não chamar muita atenção, a tendência é a busca pela padronização e,
consequentemente, a perda da espontaneidade.

Muitos artistas, quando vão compor suas obras, se desprendem das convenções e buscam sua essência sem receio de
se expor ao ridículo. Esse é um exercício de liberdade, que seria bom se todos nós fossemos capazes de fazer.

No momento da criação artística, o brincar é fundamental. Que bom seria se a capacidade criativa, exercitada através
do brincar, acompanhasse as pessoas no decorrer de toda sua existência.

Kishimoto (1997) afirma que o lúdico é um aliado de todo educador, se ele compreender essa importância e for
capaz de trabalhar como um facilitador no processo de aprendizagem será capaz de dar uma grande contribuição a
seus educandos.

A referida autora também fala da diferenciação, que se deve fazer em relação ao jogo e às brincadeiras,
considerando que todo jogo é uma espécie de brincadeira, mas nem toda brincadeira é, necessariamente, um tipo de
jogo.
Para a referida autora, existe também diferença entre brinquedo e jogo, uma vez que o brinquedo é o objeto que
serve como suporte para a criança realizar jogos e brincadeiras.

Chateau (1987) afirma que para a criança, o jogo é como se fosse seu ofício, seu direito acima de tudo. Jogar
possibilita compreensão de regras, socialização, criatividade, vontade de superação e desenvolvimento cognitivo.

Jogar é um exercício que pode gerar disciplina, aquisição de conhecimento, facilidade de relações interpessoais e
organização de ideias.

Dentro do universo dos jogadores existem regras já estabelecidas que todos “aprendem” a respeitar para terem
condições de continuar jogando. Essas atividades são fundamentais para o desenvolvimento de um ser humano
capaz de se relacionar e resolver seus problemas.

Friedmann (2001) reafirma o papel importante do jogo no desenvolvimento infantil. Lidar com os brinquedos
auxilia a criança a nomear e entender a utilidade dos objetos.

Brincar de faz de conta permite a criança desenvolver sua imaginação, compreender as relações sociais e apropriar
do mundo em que ela está inserida.

É muito importante que todo jogo seja elaborado através da contextualização em que as crianças vivem. Os mesmos
brinquedos podem ter múltiplas representações, dependendo do contexto histórico e cultural em que estão inseridos.

No jogo de faz de conta, a criança libera suas emoções, trabalha seus medos, suas angústias, tem coragem de falar e
fazer coisas que normalmente talvez ela não fizesse.

No geral, jogar pode desenvolver na criança a motricidade e mesmo estando hospitalizadas algumas atividades
podem auxiliar neste desenvolvimento sem comprometer o tratamento.

O brincar infantil também possibilita o desenvolvimento da linguagem, promove a aprendizagem, as relações


afetivas, a sociabilidade e a moral.

Através do brincar, a criança enferma tem condições de compreender a situação em que se encontra e melhor
percepção do ambiente em que está inserida. Mas é muito importante lembrar que a participação do adulto é
fundamental em todo esse processo.
A BRINQUEDOTECA
sempre bom lembrar que brinquedoteca não é apenas sinônimo de sala de brinquedos, é um espaço que
É requer entendimento sobre seus objetivos, que podem variar de acordo com o lugar em que está inserido.

Existem muitos espaços construídos e organizados para a realização de jogos e brincadeiras, principalmente dentro
de escolas, hospitais, hipermercados, lojas de materiais para construção e shoppings.

Algumas vezes, essas salas são denominadas brinquedotecas, outras vezes, apenas salas de recreação.
2.1. O SURGIMENTO DAS BRINQUEDOTECAS.

O termo brinquedoteca foi criado no Brasil e patenteado pela ABRRI – Associação Brasileira de
Brinquedotecas e, segundo o site da própria ABBRI, é uma “Associação Filantrópica de Caráter Cultural e
Educacional”.

Embora já houvessem no Brasil espaços organizados e voltados ao brincar infantil, foi na década de 80, em
Indianápolis/SP, que a professora Nylse Helena da Silva Cunha criou um dos primeiros espaços de brincar no país
com o nome de brinquedoteca.

Para Cunha (1997), a brinquedoteca é um local onde acontece uma interação educacional, espaço em que é possível
a busca de uma educação para a paz, voltando todas as atividades para a socialização, sensibilização, afetividade e
desenvolvimento cognitivo.

Segundo Kishimoto (1997), foi a partir da década de 70, com a expansão das creches, que instituições infantis
passaram a questionar a importância de um espaço específico para brincar, para aquelas crianças que, até então,
ficavam soltas em seus quintais e ruas próximas a suas casas.

Já na década de 70, começou a ficar complicado dar total liberdade para que as crianças brincassem livremente pelas
ruas e quintais baldios ou, até mesmo dentro de casa, pois cada vez mais as mães foram se dirigindo ao mercado de
trabalho e as crianças para as unidades escolares.

A independência da mulher é um fator muito importante para ser analisado quando nos referimos ao fato de nossas
crianças irem cada dia mais cedo para as escolas, ficando por lá cada vez mais tempo.

A ida das mães para o mercado de trabalho criou a necessidade de espaços onde as crianças fossem acolhidas para
serem cuidadas e se desenvolverem em todos os aspectos.

O brincar passou a ser reconhecido também como meio de lazer e educação dentro das instituições de ensino.

Com o passar do tempo, foi possível constatar que não bastava a realização de jogos e brincadeiras dentro da sala de
aula ou em pátios e corredores escolares, havia a necessidade, também, de um local específico, com brinquedos
variados, onde as opções de atividades fossem maiores e mais atrativas.

Na década de 80, a ideia passou a ser concretizada com a elaboração das brinquedotecas. Apesar de hoje esses
espaços estarem sendo criados cada vez em maior número por todo país, Kishimoto (1997) atenta para a questão de
que não basta o espaço físico voltado aos jogos e brincadeiras, pois existe ainda uma necessidade muito grande de
que educadores que tenham a intenção de realizar este trabalho estejam preparados para isto.

A necessidade do brinquedo como suporte para as atividades lúdicas sugere a necessidade de profissionais
preparados para esse tipo de ação, assim como, de um local onde esses objetos estejam disponíveis para crianças de
ambos os sexos e todas as faixas etárias.
2.2. O ESPAÇO RESERVADO PARA O BRINCAR
INFANTIL.

O potencial criativo é muito valorizado. O mercado de trabalho e inúmeras situações do cotidiano exigem que se
tenha sempre uma proposta criativa para solução dos problemas que surgem.

Independente de estar ou não focando para os apelos criados pelo mundo capitalista, toda criança deveria ser
estimulada para realizar ações criativas e o local onde ela está inserida precisa apresentar situações favoráveis para
que a criatividade ocorra.

A brinquedoteca deve ser um lugar em que a criança se sinta à vontade para se movimentar. É necessário que
existam espaços em que, desde a infância, o ser humano tenha oportunidade de se desenvolver e se tornar capaz de
criar e concretizar inovações.

Cunha (2001) orienta que a brinquedoteca seja dividida em cantinhos. Ao trabalhar dentro nestas salas é possível
perceber o quanto a organização da mesma facilita também a sua manutenção. Cada canto, bem estruturado,
funciona como um verdadeiro convite para a brincadeira.

A disponibilidade dos jogos e brinquedos facilita a vida da criança que pode ver e ter acesso a tudo com
tranquilidade, a organização por cantos na brinquedoteca (orientados pela ABBRI) facilita na hora de encontrar os
brinquedos e possibilita uma melhor visualização de tudo o que o espaço disponibiliza para as atividades.

O canto do bebê é onde podem ficar expostos os elementos relacionados às atividades que estimulam os sentidos
auditivos e visuais.

Nesse local o bebê precisa encontrar chocalhos, livros de plástico, caixas musicais, móbiles, caixa para encaixe de
peças, blocos para montar e desmontar, bolas e outros.

É muito saudável para o bebê receber estímulos. Ele pode brincar acompanhado por um adulto que, além de dar
atenção e carinho, poderá mostrar as muitas possibilidades de ações que os objetos podem oferecer.

O canto do bebê pede uma atenção muito especial no que se refere à higienização. Os pequeninos costumam levar os
brinquedos à boca frequentemente, portanto, devem estar sempre muito limpos e sem nenhum tipo de pontas ou algo
que possam engolir ou até mesmo quebrar facilmente.

Já o canto dos jogos deve ser um ambiente onde seja possível encontrar jogos direcionados para todas as faixas de
idade, sendo organizados de forma que todas as crianças possam ter acesso aos mesmos.

Deve haver atividades que desenvolvam o raciocínio lógico, linguístico, coordenação motora, memória, atenção,
socialização e reflexão.

É interessante que próximo a esses jogos fiquem algumas mesas e cadeiras, assim a criança se sentirá convidada a
sentar e desenvolver as atividades que cada jogo propõe.

Não é difícil encontrarmos nos manuais dos jogos sugestões de faixa etária para utilização dos mesmos que não são
condizentes com o nível de desenvolvimento de crianças dentro da idade proposta.

Muitas vezes lemos em caixa de jogos que tal jogo é pra tal idade e ao iniciarmos a brincadeira notamos que é
inadequado. Também precisamos levar em conta que o desenvolvimento pode variar de uma criança para outra,
mesmo que tenham a mesma idade.

O jogador mirim precisa ser estimulado a pegar jogos que lhe ofereçam desafios e descobertas, mas isso nem sempre
acontece, porque a atividade proposta, algumas vezes, pode ir além do que a criança tem condições de realizar
naquele determinado momento.
Todo jogo deve ser analisado, jogado, testado para se ter certeza de que está de acordo com a indicação etária do
mesmo.

O canto do faz de conta é um espaço que deve permitir que a criança, com imaginação tão fértil, deixe as ideias
fluírem e acontecerem.

É um lugar que pode contar com diversos figurinos para encenações e interpretações de personagens e pode ter,
também, painéis do tipo feirinha, hospital, escola, etc...

Nesse canto as crianças precisam estar livres, se possível, descalças, com roupas leves para vestirem por cima o
figurino ou fantasia que quiserem.

A presença do adulto é importante, no entanto, em alguns casos, precisa ser cautelosa. Muitas vezes, os pequenos
querem apenas ser “assistidos”, “prestigiados”, mas sem serem importunados por interrupções ou mesmo palpite de
adultos ansiosos em “dar ideias”.

É fundamental em uma brinquedoteca um cantinho reservado para a leitura. O canto pode ter uma estante contendo
livros de qualidade, para que a criança, confortavelmente sentada ou deitada, desde cedo, se descubra como um
assíduo leitor.

Como se pode perceber, esse canto precisa ter um tapete fofo e atraente para a criança se deitar à vontade ou muitas
almofadas onde se possa sentar confortavelmente embalado pela leitura dos mais variados temas infantis.

O canto dos eletrônicos é um espaço que já está presente na maioria das brinquedotecas bem equipadas. Conta com
computador, videogame, televisão, dvd e videokê.

A informática permite, principalmente, em Brinquedotecas Hospitalares, que a criança se conecte com o mundo.
Navegando no plano virtual é possível saber das notícias, conhecer cidades, ler histórias, visitar museus e se
comunicar com as pessoas.

A tevê e o videogame são interessantes para a criança, mas deve-se fazer um esforço para que ela se sinta atraída por
atividades que potencializem mais a criatividade e o espírito de equipe. Não que isso não possa ocorrer ao se assistir
a um bom filme ou jogar com outros nos videogames, mas é mais limitador.

Toda a divisão proposta para o espaço da brinquedoteca é muito importante. Além de auxiliar na organização e
manutenção, cada canto convida a criança a realizar atividades diferenciadas, aguçando a criatividade e estimulando
o interesse.

É preciso tomar muito cuidado, pois não se pode tolher a liberdade de se movimentar da criança. No entanto, como
mediador, o adulto deve participar das brincadeiras, estimular a criança e observar seu comportamento enquanto ela
brinca. Dessa forma, terá meios de compreender melhor a criança e contribuir de forma mais eficiente no seu
desenvolvimento através do brincar.

O espaço chamado de brinquedoteca, reservado para a realização de jogos e brincadeiras, continua sendo construído
também em muitas unidades de ensino. Visto que em sala de aula, com carteiras e cadeiras, não ficam muitas
possibilidades para que os alunos se movimentem livremente.

Como já comentamos, atualmente é possível encontrar salas para brincar dentro de shoppings e hipermercados,
totalmente estruturados para que os clientes mirins se divirtam à vontade enquanto a clientela adulta passeia e realiza
suas compras.

Mas, nesse caso, o objetivo está ligado somente à necessidade de manter a criança distraída enquanto os adultos
consomem livremente.

Para Negrine (1997), uma brinquedoteca pode ter função pedagógica, social, comunitária, terapêutica e de animador
de bairro. São muitas as possibilidades de utilização de uma brinquedoteca, mas o objetivo de todas é que a criança
tenha acesso a um espaço onde o brincar é o mais importante.
Cada vez mais podemos perceber que um espaço apropriado para o brincar infantil com acesso a brinquedos, longe
dos perigos e tumultos que a vida moderna provoca é fundamental.

Cunha (2001) chama a atenção para que se compreenda que, embora haja necessidade de um espaço direcionado
para jogos e brincadeiras, não se deve acreditar que basta a construção e manutenção física desse lugar é preciso que
se entenda que a brinquedoteca é muito mais que uma sala cheia de objetos para atividades infantis, sua existência
eficiente depende muito mais da conduta daqueles que trabalham nela do que das coisas que a mesma possa ter.
2.3. Várias possibilidades de uma brinquedoteca

Já existem no Brasil alguns projetos de brinquedoteca itinerante, onde os brinquedistas colocam vários tipos de
jogos e brinquedos em um grande automóvel e os levam para diferentes lugares.

A brinquedoteca itinerante permite que crianças de todas as idades e condições econômicas possam se divertir com
outras crianças tendo o brinquedista como um facilitador das atividades.

Existe também a brinquedoteca móvel, que é um recurso muito utilizado dentro de alguns hospitais. Nesse caso,
carrega-se um carrinho, chamado de brinquedoteca móvel, no qual se transporta brinquedos, livros, jogos, cds e
vários objetos que possibilitam atividades como pintura, desenhos, modelagem em massinha e dobraduras.

Em alguns hospitais, a criança que está imobilizada em seu leito pode receber a brinquedoteca móvel no quarto e
escolher, sem pressão, o tipo de atividade que deseja realizar, podendo contar com a orientação do adulto que leva o
carrinho até ela.

Existem países que chamam a brinquedoteca de ludoteca, espaços que também podem funcionar para empréstimo de
brinquedos, para que crianças sem possibilidades de comprar alguns objetos lúdicos tenham condições de acesso,
mesmo que temporariamente.

O termo brinquedoteca é muito amplo, podendo ser utilizado em contextos diversos, seja como for, a importância
dos espaços lúdicos é muito grande.
O BRINQUEDO
egundo Ribeiro (1997), existe diferença entre brinquedo tradicional e brinquedo industrializado e, geralmente, o
S primeiro é feito pela própria criança ou, se feito pelo adulto, é de forma artesanal para a criança interagir com o
objeto.

O brinquedo industrial, para Ribeiro, é fabricado pelo adulto baseado na concepção que este tem do brincar,
resultando, na maioria das vezes, em objetos caros e quase impossíveis da criança interagir, criar ou acrescentar algo
a ele.

Ferreira Neto (2001) apresenta o brinquedo como um excelente auxiliar nas atividades lúdico motoras. Faz parte da
formação do ser humano seu desenvolvimento físico, no sentido de ficar apto a se movimentar, manipular objetos e
se relacionar com os outros.

É fundamental que desde a infância haja condições de todos terem conhecimento do próprio corpo percebendo seus
limites e possibilidades de ação. Muitas brincadeiras favorecem a movimentação e a criança pode se exercita, dentro
de suas possibilidades, sem perceber que está se exercitando. Movimentos simples como encher uma bexiga, por
exemplo pode ser um exercício físico muito importante para os pulmões.

Ao procurar um entendimento sobre a importância do brincar, somos levados a uma reflexão sobre o papel do
brinquedo durante as brincadeiras.

Normalmente a criança, ao interagir com um brinquedo, explora todas as possibilidades de atividades que o mesmo
dispõe.

O brinquedo sofreu muitas mudanças no decorrer dos tempos. Este é um momento em que o avanço tecnológico é
muito rápido e exerce influência constante na vida das pessoas e isso se estende até as brincadeiras infantis.

Os objetos lúdicos para a infância disponíveis nas lojas são, em sua maioria, eletrônicos e não possibilitam à criança
realizar muitas ações com eles.

Depois de ativados a maioria dos brinquedos eletrônicos se movimenta sozinho fazendo com que a criança tenha que
parar para vê-los em ação, sem ter a chance ou a necessidade de manipulá-los.

Maluf (2003) comenta que o progresso industrial possibilitou que se fabricassem brinquedos cada vez mais
sofisticados e diversificados, perdendo-se, assim, o vínculo com a simplicidade.

Claro que para a criança criativa é possível inventar e reinventar brincadeiras mesmo com os objetos mais
improváveis.

Muitas crianças conseguem interagir, apesar de certa dificuldade, até com os brinquedos mais modernos, no entanto,
é lamentável que tanta “evolução” diminua a necessidade da criança inventar e criar.
3.1. Brinquedos de sucata

Alguns autores sugerem a utilização de brinquedos confeccionados com sucatas. A reciclagem é muito interessante,
uma vez que, a própria criança pode contribuir com o processo, criando ela própria alguns brinquedos simples e
gostosos de manusear.

O profissional que se interessa em utilizar material reciclável para confeccionar brinquedos precisa estar atento para
o utensílio a ser utilizado, estando certo de que não causará nenhum risco à saúde da criança.

É importante que, em caso de fragilidade dos objetos criados artesanalmente, todos estejam cientes de que o mesmo
poderá quebrar com facilidade. Caberá ao adulto mostrar para a criança que ela não precisa ficar insegura ou
frustrada quando os brinquedos se quebrarem.

A mediação de um adulto no brincar também deve estar presente nos momentos em que os pequenos encontram
dificuldades dentro das brincadeiras.

Lidar com a perda de um objeto tão desejado e, muitas vezes, tão querido é um tipo de dificuldade que pede a
presença e o cuidado de um responsável.
3.2. Atenção para a segurança e adequação dos
brinquedos.

Existe um selo do Instituto nacional de Metrologia – INMETRO, que fiscaliza e garante a qualidade dos produtos
industrializados, incluindo o que é fabricado para o público infantil.

A norma técnica que cuida de garantir a segurança dos brinquedos fabricados no Brasil é ABNT (Associação
Brasileira de Normas Técnicas), que submete os brinquedos a vários testes, simulando situações possíveis de
acontecer ao brinquedo nas mãos de crianças.

Um estudo realizado pela Comissão de Segurança de Produtos de Consumo dos Estados Unidos, baseado em
informações obtidas em pronto-socorros naquele país, mostra que as causas mais frequentes de acidentes são quedas,
tropeços ou golpes com brinquedos. (ABRINQ, 2005).

Existe ainda a Abrinq – Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos – é a entidade de classe representativa
do setor de brinquedos, instituição sem fins lucrativos, fundada em 02 de julho de 1985.

Em seu site (www.abrinq.com.br) a Abrinq divulga uma listagem com diversos brinquedos classificando os mesmo
por faixa etária. Com a lista em mãos, os pais e educadores podem ter maior facilidade na hora de escolher o que for
mais adequado à idade da criança.

No site também há uma lista classificando os brinquedos de forma a esclarecer para que tipo de atividades cada um
foi elaborado. São informações que podem ser utilizadas na brinquedoteca para auxiliar na classificação, não só de
brinquedos industrializados, mas também dos brinquedos artesanais.

A sugestão da Abrinq com relação ao tipo de brinquedo adequado para cada idade é a seguinte:

Para bebês menores de dezoito meses é melhor que sejam utilizados objetos que estimulem os sentidos da visão, tato
e audição, como:

✓ Chocalhos;

✓ Bonecas de tecidos;

✓ Brinquedos com guizos;

✓ Mordedores;

Brinquedos de borracha para serem apertados, mordidos, jogados e acarinhados.

Para crianças de dezoito a trinta e seis meses objetos que ativem o movimento corporal como:
✓ Carrinhos grandes que possam ser puxados;

✓ Bolas;

✓ Brinquedos infláveis;

✓ Brinquedos para areia;

✓ Cubos de montar.

É bom lembrar que os brinquedos de ambas as faixas de idade devem ser fáceis de manusear, precisam ter cores
vivas e ser atóxicos.

No caso das crianças de três a seis anos, que estão na fase mais propensa à imitação das atitudes e falas dos adultos,
assim como de brincar com objetos que reproduzam o mundo adulto, a sugestão é:

✓ Lojas em miniatura;

✓ Móveis em miniatura;

✓ Fortes;

✓ Circos;

✓ Fantoches;

✓ Casas de bonecas.

É importante tudo o que estimule esta fase (três a seis anos) onde o imaginário é tão fértil.

Entre seis e nove anos o mais recomendável são:

✓ Jogos de tabuleiro;

✓ Bolinhas de gude;
✓ Perna de pau;

✓ Patinetes;

✓ Outros tipos de artigos para a prática de esportes;

✓ Brinquedos de armar;

✓ Todos os jogos que auxiliem no processo de socialização da criança.

As crianças de nove a doze anos começam a definir um pouco melhor algumas habilidades próprias e são
interessantes:

✓ Kits elaborados de peças de construção;

✓ Jogos de cartas;

✓ Tabuleiros;

✓ Eletrônicos e muitos outros.

Dentro de uma brinquedoteca o brinquedo não deve ser o centro das atenções. Esse é o espaço da criança se
movimentar livremente e decidir, ela própria, se quer manusear algum objeto ou não.

É possível que a criança queira ver um filme, ouvir uma música ou uma contação de história. O interesse para a
utilização do brinquedo ou realização de atividades varia também em relação ao nível de seu desenvolvimento físico
e cognitivo.

O importante é que o adulto, ao adquirir um brinquedo, entenda que as crianças se desenvolvem de forma
diferenciada umas das outras, dependendo muito da sua convivência familiar, social e cultural. Para se desenvolver
bem e saudável a criança precisa encontrar condições favoráveis.

É sempre bom lembrar que materiais para atividades artísticas como pintura, massas de modelar, música e artes
dramáticas, devem estar sempre presentes na vida das crianças.

O adulto deve sugerir, planejar e interferir nas brincadeiras sempre que necessário. Porém as crianças também
precisam ter a oportunidade de participar, dar ideias, criar, enfim serem sujeitos ativos neste trabalho tão importante
que é brincar e evoluir como ser humano.
O ADULTO E O BRINCAR INFANTIL
rincando com o adulto a criança sente que é bem vinda ao mundo e valorizada em suas ações, desta forma
B podemos constatar que o adulto tem, de fato, um papel muito importante no brincar da criança.

Mesmo que o adulto não tenha objetivos pedagógicos em relação ao brincar, sua participação na brincadeira pode
ser muito estimuladora para os pequenos.

A principal tarefa do profissional que vai desenvolver atividades lúdicas é apontar caminhos, oferecendo condições
de forma direta, sem invadir, sendo leve e delicado sem ser passivo, aceitando a criança com respeito e admiração
(Batista. 2003. p.124).

Não ser invasivo não quer dizer ficar de fora apenas como um espectador das atividades recreativas. A passividade
do adulto diante do brincar infantil dentro de um espaço que tem como objetivo a abordagem lúdica, não contribui
em nada com o desenvolvimento da criança.

O adulto que trabalha com a intervenção lúdica também precisa entender a importância do jogo, que traz consigo
muito da história da humanidade. Saber que no jogo estão inseridas crenças, folclores, descobertas, atitudes e muito
mais.

Através de situações vivenciadas por crianças dentro de uma brinquedoteca é possível notar como elas se
desenvolvem simulando a realidade em brincadeiras de casinha, carrinhos, bancos imobiliários e outros.

É fundamental o papel do adulto que, em muitas brincadeiras, é imitado em seus gestos e atitudes pelas crianças.
Isso acontece porque na infância é comum o ser humano imitar e criar comportamentos de acordo com os exemplos
que recebem dos mais velhos.

Baseados na ideia que os pequenos possuem de um determinado padrão que deve haver no comportamento de um
adulto, eles o imitam, seguindo esse padrão de comportamento.

Vygotsky (1998) exemplifica a importância do brincar relatando a brincadeira de duas irmãs: ao fazerem de conta
que são “irmãzinhas”, as meninas passam a seguir regras que acreditam ser necessárias numa relação entre irmãs.
No entanto, essas regras elas criam para a brincadeira somente, não as seguindo na realidade do seu dia a dia.

A brincadeira, dentro do que propõe Vygotsky (1998), deveria ser considerada pelo adulto uma atividade muito
séria, uma oportunidade fundamental de desenvolvimento da criança, através da interação sócio-cultural que o
brincar promove.

Cabe então ao adulto, oportunizar momentos em que, através da fantasia, muito mais que simples diversão, a criança
estará adquirindo conhecimento de si mesma e do mundo que a rodeia.

Ao escrever sobre o papel do educador, Maluf (2003) afirma que durante sua formação, o profissional precisa ter um
grande conhecimento da importância do lúdico na educação.

Assim como os jogos e brincadeiras são fundamentais para a criança no processo de aprendizagem, também é
indispensável ao pedagogo que ele tenha formação para utilizar elementos lúdicos na produção do conhecimento.

Ainda segundo Maluf, o educador deveria, também, conhecer os objetivos do brincar e entender de que forma a
atividade lúdica impulsiona o desenvolvimento e perceber como o brincar infantil auxilia na construção da
identidade da criança e sua importância como elemento que potencializa o trabalho educativo.

Ser formado para atuar como educador nem sempre é sinônimo de estar inteirado sobre as várias condições
que a criança deve ter para, realmente, se desenvolver como um todo.

Dentro das escolas de formação para a docência, dificilmente são oferecidas disciplinas que preparam o
profissional para, nas salas de aula, utilizar os jogos e brincadeiras como recurso nos processos de ensino e
aprendizagem.

Para trabalhar com a criança através da intervenção lúdica, é necessário que o adulto busque formação, seja
sensível às necessidades infantis, tenha conhecimento de jogos, seja criativo e, acima de tudo, respeite o direito de
liberdade de criação da criança.

Se o adulto está interessado em buscar interação com a criança, ele necessita, também, de um despertar para
utilização do corpo como mais um recurso para se aproximar dos pequenos e ser compreendido.

Seria muito bom se todos entendessem que o corpo fala. Claro que a linguagem oral faz parte do corpo, mas
não é só através dela que se realiza a comunicação. Cada gesto, cada expressão do rosto, cada movimento do olhar é
muito importante quando se está comunicando algo.

Dentro de uma brinquedoteca pode haver profissionais de diversas áreas, como pedagogia, psicologia, artes
e outros. Porém, não será possível a nenhum desses profissionais desempenharem bem suas funções dentro da
brinquedoteca se não tiverem como base o desejo de interagir com a criança.

A brincadeira é um caminho totalmente viável para que a interação com a criança aconteça, sendo que o brinquedo
(enquanto objeto) é o melhor suporte para isso.
4.1. O brinquedista como o profissional que cria
brinquedos.

Em alguns países, o criador de brinquedos não recebe o nome de brinquedista, mas é uma profissão tão séria e
respeitada que existem cursos de até cinco anos de duração para a formação dos mesmos.

Na Alemanha, por exemplo, tem uma escola na cidade de Halle, onde os pretendentes à profissão de criadores de
brinquedos realizam exame de admissão. Eles fazem estágio em empresa fabricante de brinquedos e, só depois de
estudar por cinco anos disciplinas de psicologia, pedagogia, artes, tecnologia, artesanato e outros, que se formam.

Somente depois de tanto estudo, o brinquedista (nesse caso o criador de brinquedos) alemão parte para o
mercado de trabalho, atuando na pesquisa e criação de brinquedos que atendam as necessidades infantis e agradem
esse público que pode ser muito exigente.

É sempre bom ressaltar a necessidade de adultos capacitados a interagir com a criança, eles mostrarão para os
pequenos as possibilidades de brincadeiras, porém, sem serem autoritários.

O importante é que o profissional saiba respeitar a maneira com que a própria criança queira agir nas brincadeiras.

O adulto deve mediar, instruir, construir e discutir, juntamente com todos, quais as melhores maneiras de conduzir
as atividades recreativas sem ser autoritário.

Os adultos contribuem, neste ponto, pelo reconhecimento do grande lugar que cabe à brincadeira e pelo ensino
de brincadeiras tradicionais... (Winnicott, 1982. p.165)
Para atuar na área da saúde com crianças, mesmo sendo formado como ator, contador de histórias, desenhista,
palhaço, o profissional precisa desenvolver saberes relacionado ao atendimento desse público que é tão específico.
O PROFISSIONAL LÚDICO NO
HOSPITAL.
onsidero que o trabalho do brinquedista, recreador, clown, contador de histórias e de todos os artistas que
C trabalham em hospital está em constante movimento. Ainda percebemos muitas dúvidas sobre os saberes que o
profissional precisa ter para ser um mediador das atividades lúdicas no hospital.

Ao ser contratada para trabalhar em uma brinquedoteca hospitalar, fui inicialmente registrada como recreadora, pois
não havia como meu registro ser de brinquedista, já que a profissão não era regulamentada e também não tínhamos
muito conhecimento desse termo.

Depois de um tempo trabalhando, passei a ser contratada como coordenadora da brinquedoteca, mas tinha
dificuldade em definir qual era minha profissão naquele momento.

Fui a primeira profissional contratada para atuar na brinquedoteca daquele hospital de forma remunerada, embora o
espaço já estivesse perfeitamente montado por um grupo de eficientes voluntárias.

Tive que pesquisar e fazer cursos, participar de congressos e ler muito para começar a entender o verdadeiro
significado daquele espaço no hospital. Algumas crianças o chamavam de sala encantada, alguns pais diziam que era
o canto da paz e do descanso e assim por diante.

Quando comecei a trabalhar com brinquedoteca hospitalar em 2005, ainda não tinha acesso a tantas informações.
Juntamente com as voluntárias que me auxiliavam o tempo todo, fomos descobrindo o nosso jeito de ser
brinquedistas.

O curso que pude fazer na Abbri foi o inicio de um grande processo investigatório, mas, ainda hoje, sinto que muitas
dúvidas precisam ser investigadas sobre essa categoria de trabalhadores (brinquedista hospitalar).
5.1. A contação de história no hospital.

A contação de história pode ser feita na brinquedoteca, na sala de espera, no leito ou em qualquer lugar onde não
atrapalhe os procedimentos médicos.

O contador de histórias pode realizar a atividade de contação para uma ou várias crianças e envolver também os
acompanhantes dos internados.

Mais uma vez, volto a insistir na importância do preparo daquele profissional que vai atuar com o público infantil na
área da saúde. É sempre bom que a pessoa responsável pelas intervenções lúdicas e artísticas conheça o trabalho do
contador de histórias antes dele começar essa atividade no hospital.

Infelizmente, não basta ter boa vontade e gostar de criança para ser um bom contador de histórias, principalmente
para o público hospitalar.

Certa vez, realizando trabalho voluntário através de uma empresa recreativa em que eu trabalhava, fui a uma
instituição carente fazer uma intervenção lúdica junto com mais três colegas de trabalho. Um dos contadores de
história, mesmo sendo bastante experiente e divertido, não percebeu que o ambiente em que estávamos era bem
diferente do que ele estava acostumado (shoppings, festas de aniversário, etc) e, na empolgação, percebi que ele
falava alto, com a voz projetada.

O profissional citado poderia ter sido bem aceito em outro local, mas, naquele lugar, fiquei muito preocupada
quando notei que algumas crianças estavam tapando os ouvidos e reclamando do barulho.

Uma brincadeira divertida pode precisar de mais delicadeza e sensibilidade por parte do adulto que a está
comandando quando o local onde ela acontece é um espaço reservado para o repouso, para o tratamento de
patologias ou, simplesmente, para o sossego de pessoas tão desgastadas por estarem doentes ou acompanhando
algum doente.

Trabalhar com o lúdico no hospital não é apenas uma questão de querer o bem estar da criança, também é preciso
estar preparado.

Já vi voluntários que se ofereceram para realizar atividades musicais para pacientes, mas no meio da apresentação
ficaram emocionados e choraram, provocando comoção no ambiente. Esse, certamente, não é o objetivo do trabalho
do artista dentro do hospital.
5.2. O PALHAÇO NO HOSPITAL.

Tive contato com a linguagem do clown quando fiz minha iniciação ao palhaço em uma oficina na escola Mazzaropi
em São Paulo. Eu adquiri os saberes necessários para começar a atuar como clown, mas não me aventurei a intervir
no ambiente hospitalar utilizando essa técnica, por entender que apenas a técnica não bastava.

Tenho vários amigos que atuam como palhaço em hospitais e em muitos outros setores. No tempo em que trabalhei
no hospital do Câncer em Uberlândia, tive contato com um grupo de atores clownescos que executavam
maravilhosamente suas funções de médicos do riso.

Coordenados pela doutora Ximbica (Rose Battistella), a trupe “Anjos da Alegria” faz visitas regulares à
brinquedoteca e ao hospital, levando alegria e bem-estar aos pacientes e seus familiares.

Rose Batistela é uma profissional que leva muito a sério seu trabalho e nos ajuda a refletir um pouco mais sobre
questões como a necessidade de se gostar do que faz, assim como, ter formação e coerência nas propostas de
atividades.

Os “Anjos da Alegria” são um grupo de palhaços profissionais, ou seja, com formação na arte do palhaço, que
trabalham de forma voluntária ou remunerada através de patrocínios culturais. Atualmente, a trupe trabalha no
Hospital do Câncer em Uberlândia e na Santa Casa de Misericórdia em São Paulo.

O grupo tem quinze anos de existência e sua principal missão é levar a arte do palhaço (clown) aos mais diversos
ambientes (hospitais, asilos, orfanatos, instituições, etc.). Segundo Batistela, eles atuam com o objetivo de contribuir
para a restituição do conceito de belo por pessoas que estão à deriva, despertando nelas uma posição mais
construtiva perante a vida, com desejos de transformação pessoal e social.

E, através da figura do clown e de sua simplicidade, se resgata o valor das relações humanas, do prazer de rir e sorrir
sem preconceito, independente do local onde esteja.

O palhaço une qualidades ímpares de comunicação direta com o público, há uma empatia imediata. A figura do
palhaço médico desperta o lado mais saudável de cada um, sua vontade de brincar e rir apesar de todos os problemas
do ser humano.

Sobre como a figura do palhaço poderia beneficiar o paciente no hospital, Batistela afirma que, em um primeiro
momento, pode até haver um estranhamento, mas, aos poucos, a criança mergulha totalmente no lúdico. É visível a
mudança de comportamento antes e depois que um palhaço passa por ela. Muitas vezes, os médicos esperam que
primeiro os palhaços entrem no quarto e brinquem, para depois realizarem a consulta ou revisão.

Ao falarmos sobre a maneira como os profissionais da saúde se relacionam com os palhaços a doutora Ximbica faz
um alerta sobre a importância da formação do profissional palhaço que vai atuar no hospital. Ela afirma que
palhaços amadores sem experiência as vezes bagunçam o local, não sabem a responsabilidade que possuem e podem
atrapalhar o ambiente hospitalar. O não preparo de alguns artistas, pode gerar desconfiança quando artistas
capacitados começam a implantar esse projeto. Mas, aos poucos, a equipe entende que o trabalho é para auxiliar e
complementar o da equipe de saúde.

Quando pergunto mais especificamente sobre a importância da formação/capacitação do profissional que atua no
hospital como palhaço independente de ser remunerado ou voluntário, a resposta é clara em relação à necessidade de
formação do profissional palhaço.

Outra experiência fantástica de intervenção artística dentro do hospital é a dos profissionais intitulados “Os doutores
da alegria”. Um grupo de artistas profissionais que se utilizam da sua capacitação para interagir com crianças
hospitalizadas, levando até elas momentos de alegria e descontração, assim como a oportunidade de extravasar todas
as angústias e tensões provocadas pela rotina hospitalar.

A missão dos Doutores da Alegria é promover a experiência da alegria como fator potencializador de relações
saudáveis por meio da atuação profissional de palhaços junto a crianças hospitalizadas, seus pais e profissionais de
saúde. Compartilhar a qualidade desse encontro com a sociedade com produção de conhecimento, formação e
criações artísticas. (Doutores da Alegria, 2015).

Na região metropolitana de Campinas temos um grupo de profissionais que também levam a sério a importância do
lúdico no hospital e, constantemente, realiza cursos de formação para seus palhaços voluntários. É a Ong
Hospitalhaços, que presta serviços em vários hospitais da região em que se localizam.

A Hospitalhaços é uma Organização Não Governamental que utiliza a figura do palhaço para levar sorrisos ao
ambiente hospitalar. Nosso desafio diário é criar uma atmosfera mais leve, alegre e descontraída para pacientes,
familiares e profissionais da área da Saúde. E nenhuma figura seria mais adequada que o palhaço para tal missão.
(Hospitalhaços, 2015)

São muitas as possibilidades de atividades lúdicas no hospital, seja dentro da brinquedoteca ou em qualquer outro
lugar. Há muito a ser estudado sobre o assunto, mas, também, já podemos contar com várias publicações onde
exemplos de experiências bem sucedidas são relatados.
5.3. O Teatro no hospital.

Como atriz também já tive a oportunidade de me apresentar para o público hospitalar, juntamente com minha
companheira de cena Lya Bueno, com a peça infantil “A história da caixa”, espetáculo que fala do mito da caixa de
Pandora e transmite para o público uma mensagem de esperança.

Embora tenhamos em nossa equipe na “Cia de teatro São Genésio” outras montagens infantis, optamos por levar
essa ao hospital devido à delicadeza do tema e da direção sensível que o espetáculo teve do diretor e querido amigo
Alexandre Souzah.

Para levar uma peça teatral pra dentro do ambiente hospitalar, principalmente se o foco for público infantil, a
temática da peça, a atuação dos atores e a produção do espetáculo precisa ser levada em conta.

A proposta da montagem precisa ser de otimismo, as músicas alegres e sem som agressivo, os figurinos bonitos e
muito higienizados e o cenário apropriado para se adequar ao espaço em que será montado.

Ao receber espetáculos dentro da brinquedoteca ou qualquer outro espaço de um hospital, mesmo sendo
apresentações realizadas por voluntários, é fundamental entender a proposta da encenação antes de agendar a
apresentação. Mesmo quando é gratuito, o espetáculo precisa passar pelo crivo dos responsáveis pelas atividades
lúdicas no hospital.

A arte pode ser uma aliada fantástica quando o assunto é intervenção lúdica, mas nem todo artista está preparado
para esta missão, que é levar arte para dentro do hospital.

Todo artista que atua com crianças dentro da área de saúde, se estiver preparado para isso, poderá perceber a
importância do seu papel, sentir o retorno imediato de seu público e certamente irá, acima de tudo, fazer um bem
sem igual para crianças necessitadas de compreensão, afeto, carinho e, se possível, diversão.

O importante é que a criança enferma, por mais grave que seja sua patologia, perceba que está sendo preparada para
a vida e não para o fim dela.

Por mais fatal que seja a doença, a pessoa que a tem é que deve ser o centro das atenções. Dar à criança a
oportunidade de brincar e estar envolvida em atividades recreativas é demonstrar a ela o quanto sua existência é
valorizada.

O brincar para a criança, independente de sua raça, etnia, credo ou posição social é um direito garantido por lei.

Está instituído no artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança da ONU que toda criança tem o direito ao
descanso e ao lazer, a participar de atividades de jogos e recreação, apropriadas à sua idade, e a participar livremente
da vida cultural e das artes. (Unicef, 2005).

Cabe a sociedade buscar a efetivação de tais direitos propostos pela ONU.


A RELAÇÃO DA CRIANÇA COM A
DOENÇA E O AMBIENTE HOSPITALAR.
A relação da criança com o hospital é muito difícil, principalmente porque ela sempre se dá em circunstancias de
grande fragilidade.

Aos quatro anos de idade fui hospitalizada por estar com um tipo de hepatite que pedia um tratamento constante.
Minha mãe me levou ao hospital para uma simples consulta e lá mesmo fiquei internada.

Naquela época não era permitido que a mãe ficasse com o filho no quarto durante o período de internação, então eu
ficava rodeada por pessoas estranhas. No leito do hospital me via deitada em uma cama que não era minha e com o
braço todo roxo das agulhadas que, diariamente, aquelas pessoas vestidas de branco me aplicavam.

Eu era muito nova para entender o porquê daquela situação, achava que estava ali longe dos meus irmãos e fora da
minha casa porque estava sendo castigada por alguma coisa que poderia ter feito de errado. Eu tinha muita vontade
de chorar, mas evitava porque o choro aumentava minhas dores de cabeça.

Algumas vezes eu conseguia sair do quarto sem que as enfermeiras percebessem, mas era muito triste, pois eu
sempre me deparava com um enorme corredor que me deixava terrivelmente assustada.

Tenho gravados em minha memória os momentos em que tomava banho. Eu me lembro de um espaço grande, todo
azulejado, uma espécie de pia quadrada onde cada dia uma mulher que eu nunca tinha visto antes, tirava minha
roupa, passava sabonete pelo meu corpo e me lavava enquanto falava de sua vida e de seus problemas pessoais para
suas colegas de trabalho.

O momento do banho era especialmente estranho, eu tinha uma sensação que não sabia definir, mas hoje entendo
que era de violação. Naquele momento, eu não pertencia a minha mãe ou a meu pai e nem a mim mesma, eu era só
mais uma no meio de tantas crianças.

Todo esse processo causado pela internação parecia contribuir ainda mais com meu mal-estar e os pesadelos que
tinha ao dormir.

Chiattone (1988) afirma que toda doença é um ataque à criança como um todo, que a criança doente é afetada em
sua integridade e que seu desenvolvimento emocional também é bastante comprometido.

Na infância, normalmente o indivíduo está quase sempre com muita disposição de se movimentar e ficar entre
amigos. Infelizmente, ao adoecer esse quadro pode mudar, fazendo com que a criança fique sem ânimo, com pouca
vontade de se relacionar e, o que é pior, sem muitas condições de entender porque ela está se sentindo assim.

Quando pequenos, os doentes têm mais dificuldade que o adulto para entender o que está acontecendo. Ainda
não sabem lidar com as mudanças que certas enfermidades provocam e não se dão conta da necessidade de um
tratamento, podendo, desta forma, dificultar o seu andamento.

Fazer uma criança enferma entender o porquê do seu mal-estar, as razões que a levaram a tomar agulhadas, ser
internada ou algo assim, é um trabalho muito difícil.

Conforme já foi mencionado, raramente o paciente infantil compreende o que está acontecendo com ele. A criança
doente fica quase sempre assustada, irritada e com pouca disposição para colaborar. A situação se agrava ainda mais
pelo fato de alguns tratamentos serem, de certa forma, desumanizados.

Os procedimentos hospitalares geralmente são dolorosos, causando medo, insegurança e muita insatisfação.

Quando hospitalizada, a criança além de estar em um lugar diferente, rodeada de pessoas estranhas, ela se vê em
perigo por achar que sua integridade física pode estar ameaçada.

Os maiores incômodos da criança doente são:

✓ Não estar com seus entes queridos, principalmente pais e irmãos;

✓ Ficar diante de pessoas completamente estranhas;

✓ Responder perguntas que muitas vezes não entendem;


✓ As dores, que parecem não fazer sentido;

✓ As agulhadas que mais parecem punições;

✓ Soros que, às vezes, ficam dias sendo injetados, dificultando a movimentação;

✓ Exames dos mais variados e quase sempre invasivos;

✓ Tirar a roupa e se expor diante de estranhos;

✓ Subir e descer da maca sem entender para que ou por quê;

✓ Passar por uma série de aparelhos frios e assustadores.

Quando são hospitalizados, as crianças costumam ficar distantes de muitas coisas que são importantes para elas em
sua formação.

Bebês internados, algumas vezes, precisam ser desmamados, tendo que deixar de ver a mãe que, até então, eles viam
em todo momento, já que nem sempre a pessoa que fica como acompanhante do bebê é a mãe.

Muitas mães ficam divididas entre o filho internado e os cuidados com outros filhos, trabalho, marido e afazeres
domésticos.

Por várias vezes, trabalhando em hospital, testemunhei histórias de mães desesperadas por terem outros filhos
menores em casa e não poderem contar com o apoio dos pais para cuidar dos mesmos.

O fato de hoje a mãe poder ficar com o filho hospitalizado não significa que ela irá ficar. Pois, às vezes, ela
simplesmente não pode. E, infelizmente, já testemunhamos caso de mãe que abandonou seu bebê doente no leito do
hospital e desapareceu.

Crianças maiores, ao serem internadas, se separam de pais, irmãos, amigos e também da escola.

O afastamento de casa pode resultar em perdas irreparáveis no desenvolvimento físico, psíquico e motor da criança,
prejudicando significativamente seu processo de aprendizagem, sua afetividade e socialização.

Lembro que depois do período de internação, ao voltar para casa, eu pedia permissão até para abrir a geladeira. É
uma questão de pertencimento. Eu fiquei afastada de casa, passei a fazer parte de outro lugar, então experimentei um
estranho processo de adaptação ao outro lugar. Voltar pra casa foi uma situação que envolvia alegria, mas também
muita dificuldade de readaptação.

Um ambiente mais adequado para as necessidades infantis e mais preparado para apoiar os familiares ajuda muito no
tratamento da patologia, pois a criança fica mais fortalecida para os afastamentos necessários. “Essas perdas podem
ser menos traumáticas para a criança se ela encontrar um local dentro do hospital que seja adequado para recebê-la”.
(UNIFEOB. 2004).

Logo que a criança entra no hospital é visível sua mudança de comportamento ao se deparar com esse ambiente que
pode ser tão hostil para ela.
A maioria dos locais de tratamento à saúde possuem ambientes de espera que não contribuem em nada para o bem-
estar dos pacientes. As recepções são, muitas vezes, barulhentas, movimentadas e estressantes. Pode haver
circulação de gente em situações de doenças tão graves, com aparências tão disformes que causam ainda mais temor
aos que estão vendo o doente do que aos próprios portadores das enfermidades.

Muitas unidades de saúde ainda oferecem salas de espera com atendentes pouco simpáticas (os) e até mal-educadas
(os) por falta de treinamento adequado ou mesmo por acharem que o atendimento frio e distanciado é uma forma de
não se envolverem com o sofrimento do cliente e assim se resguardarem.

Um local de espera para uma simples consulta pode ser, para a criança, um ambiente apavorante. O problema é que
também dentro dos consultórios, nem sempre as crianças encontram pediatras preparados para se relacionar com
elas.

No que diz respeitos aos profissionais de enfermagem, a situação pode ser bem difícil. Muitos profissionais, por
mais que tenham se capacitado para suas funções, dificilmente recebem formação para lidarem especificamente com
o público infantil.

Chiattone (1988) faz um alerta para o problema da despersonalização que a internação provoca na criança. Quando
chega ao hospital, o pequeno enfermo não entende os motivos que o levaram àquele lugar, além de se ver longe de
todos aqueles que ama.

É preciso que o interno seja adaptado aos padrões hospitalares, onde os profissionais são vestidos de forma igual,
uniformizada, padronizada, com uma imagem pouco acolhedora.

Geralmente não é permitida a entrada de objetos pessoais no hospital, deixando a criança longe do que lhe é
familiar.

Os leitos e roupas de cama são todos iguais também e a comida servida é feita da mesma forma para qualquer
paciente, não lembrando em nada a comidinha especial da mamãe, da vovó ou de uma tia querida.

Dentro do ambiente de internação o paciente infantil se vê sem os referenciais que são fundamentais para seu
processo de socialização e aprendizado. Os adultos à sua volta são, na maioria das vezes, desconhecidos e se
comportam de maneira fria e distanciada.

Na infância é muito importante ter em volta parâmetros para comparação, observação, imitação e tudo mais que
levar a um mundo fantástico de descobertas.

Em um lugar tão padronizado como os hospitais, dificilmente haverá estímulos para o processo de evolução que
deveria ser contínuo.

A pessoa enferma, muitas vezes, pode ser portadora de uma doença fatal e, em se tratando de paciente infantil, a
ideia de conversar sobre a morte pode parecer ainda mais difícil do que se fosse com um adulto.

De uma forma geral, as civilizações estão cada vez mais empolgadas com o combate às enfermidades e, assim, cada
vez mais relutantes em aceitar o fim da vida.

A maioria dos adultos não consegue digerir o assunto morte e consideram um erro tratar do assunto com criança.

É real a dificuldade, principalmente na infância, de compreender uma experiência que não se viveu. O problema é
que, infelizmente, na infância também se morre e se vê pessoas morrendo, principalmente dentro de um leito de
hospital.

Chiattone (1988) faz uma reflexão sobre a questão do luto na infância e alerta para o fato de que os adultos
costumam enganar a criança ou confundi-la com suas diversas versões para o fenômeno.

O paciente tem o direito de saber o que está acontecendo com ele, assim como a criança internada não deveria ser
enganada quando outra criança paciente falece.
O referido autor conta, em sua obra, a respeito de um caso de falecimento de uma criança no hospital e a forma com
que os adultos cuidadores dos menores conduziram a situação. Uns optaram por mentir que o morto havia viajado e
outros, em contar que o falecido havia mudado de enfermaria.

O resultado da mentira foi que todos os internados na pediatria do hospital acabaram descobrindo a verdade sobre a
morte do “coleguinha” e se instalou ali um clima de desconfiança e frustração entre todas as crianças.

É uma pena que, em meio a tantos progressos, a maioria de nós ainda não está preparada para tocar nesses assuntos
que sempre fizeram parte de nossa existência.

Como se pode perceber, a vida de um ser doente, que precisa passar por procedimentos médicos, não é nada fácil.

Ficar internada, frequentar, mesmo que de vez em quando, um ambiente envolvido por sensações de impotência,
desespero, separação e morte, faz com que a pessoa fique abalada, necessitando de todo amparo, amor e atenção.

É urgente a necessidade de humanização dentro dos hospitais e, mais ainda, quando se refere à clientela infantil.

Apenas sendo tratado de forma humanizada, o paciente infantil se sentirá respeitado e aceito incondicionalmente.

A criança saber que é aceita, apesar de todas as suas limitações, é fundamental para que ela se desenvolva
naturalmente, sem que a hospitalização deixe sequelas para o resto de sua existência.
6.1. O brincar dentro do HOSPITAL

Embora muitos adultos banalizem as brincadeiras infantis, considerando, algumas vezes, que não há necessidade de
uma criança brincar, é sempre bom insistir que a capacidade de atenção, concentração, empatia, comunicação,
imaginação, integração podem ser elaboradas na infância através das brincadeiras.

A sensibilização do ser humano pode ser trabalhada nas brincadeiras e atividades artísticas realizadas na infância e
também ser o resultado de todo afeto, atenção e respeito que a criança recebeu dos adultos a sua volta.

No dia 21 de março de 2005, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.104/05, de autoria da
deputada Luiza Erundina, que tornou obrigatória a instalação de brinquedotecas em todos os hospitais que atendem
crianças, no prazo máximo de seis meses, a partir de sua aprovação. (cópia da lei em anexo).

Juntamente com a ABBRI, a deputada Luíza Erundina conquistou esse direito que se estende a todos os hospitais da
rede pública e privada que atendem ao público infantil. (Mais saúde. 2005).

Apesar de a lei vigorar, não podemos afirmar que a questão relacionada à necessidade de brinquedoteca em hospitais
esteja resolvida.

Muitas instituições podem criar uma sala com alguns brinquedos, colocar um profissional de qualquer área e dar ao
espaço o nome de brinquedoteca. Infelizmente essa situação existe em alguns hospitais.

É muito importante uma atenção de todos os profissionais da saúde e da comunidade em torno dos hospitais.

É preciso fiscalizar e cobrar para que, além da construção da brinquedoteca, também hajam profissionais
capacitados e atendimento adequado nesses espaços. É necessário que se faça uma pressão constante por parte dos
profissionais da saúde que estejam preocupados com maior qualidade de vida para seus pacientes.

Muitos projetos de criação de espaços lúdicos dentro de hospitais estão demonstrando que as crianças doentes,
quando são tratadas e respeitadas em sua essência, como crianças têm condições de respostas mais eficazes aos
procedimentos médicos.

Está claro que, se os pacientes confiam nos seus cuidadores e não tem medo do ambiente em que estão sendo
consultados, ficarão mais tranquilos e seguros.

Muitas doenças exigem que o paciente permaneça durante horas tomando medicamentos, são momentos que podem
provocar dor, náuseas, medo, insegurança, solidão e irritação.

Os procedimentos médicos são momentos em que, embora haja a necessidade do pequeno enfermo permanecer no
local em que está sendo medicado, nada impede que profissionais brinquedistas estejam presentes contribuindo para
a amenização do sofrimento.

Todas as salas em que crianças são medicadas precisam contar com a vontade e criatividade dos que cuidam delas,
para que se tornem um espaço, no mínimo, descontraído, sem o “peso” que normalmente se vê em unidades de
saúde.

Cuidar com carinho e atenção dos espaços que recebem crianças para tratamento não está relacionado à preocupação
apenas com estética, e sim em oferecer um elemento a mais no sentido de alegrar, animar e colaborar com o paciente
em sua qualidade de vida.

O faz de conta que pode nos acompanhar até a vida adulta, através de cultos religiosos, filmes, novelas e outros, é
fundamental na infância.
O jogo é a base para a criança aprender a viver em grupo, sem contar que é fundamental no desenvolvimento
cognitivo, devendo fazer parte de todo processo de aprendizagem. Uma pessoa internada não pode, de forma
alguma, parar de se desenvolver.

Um espaço voltado para a recreação pode possibilitar, através dos jogos e brincadeiras, que todos possam relaxar um
pouco e diminuir a tensão provocada pelo ambiente e a situação da doença.

Batista (2003) afirma que toda mudança provoca muita ansiedade para qualquer pessoa, em qualquer tipo de
situação e quando a mudança é provocada por uma doença, a tendência é procurar por rostos familiares como forma
de conforto, consolo e proteção.

A criança que não tem oportunidades para se expressar ludicamente, corre o risco de se tornar um ser humano com
sérias dificuldades de se relacionar, de ter iniciativa, empatia e, até mesmo, de aceitar os outros e a si própria como
pessoa.

Um ser humano nas condições citadas acima pode ter dificuldades em assimilar informações e consequentemente ter
sua vida escolar totalmente prejudicada.

Quando se pensa em um hospital que atende público infantil, imediatamente se deve pensar em como receber esse
público.

É preciso analisar qual a melhor maneira de abordar a criança doente, que, de repente, se vê diante de um lugar
estranho, com pessoas desconhecidas e na maioria das vezes, estando com o organismo debilitado.

Segundo Ferreira Neto (2001), é preciso garantir às crianças condições apropriadas para a expressão das
necessidades de movimento, em um clima afetivo, harmônico e coerente.

O adulto precisa sugerir atividades no hospital que respeitem, também, o desenvolvimento físico de cada criança. É
pelo movimento que a criança pode adquirir e exprimir suas potencialidades motoras.

Ao analisar a situação de hospitais que atendem ao público infantil, entendemos que todos devem contar com um
local e com profissionais capazes de cumprir as responsabilidades que, no momento da internação, a escola e, muitas
vezes, a família não podem cumprir.

A criança enferma sempre que possível precisa se movimentar. A brinquedoteca pode ser um espaço onde a
movimentação do paciente infantil seja estimulada.

Embora o espaço fechado de uma brinquedoteca não seja o ideal para se trabalhar a movimentação corporal, em um
ambiente hospitalar o espaço destinado ao lúdico é, na maioria das vezes, o único a possibilitar que se desenvolva
também, habilidades físicas.

Brincar, então, deve ser considerado uma necessidade tanto da criança sadia, quanto da criança doente. Dentro das
unidades de internações pediátricas deve-se valorizar e proporcionar facilidades para que a criança possa brincar, é o
que afirma Batista (2003).

Brincando a criança consegue organizar e resolver os conflitos que vão surgindo.

Enquanto a criança brinca, vivencia uma experiência saudável e elabora melhor suas dificuldades em lidar com a
doença e possível internação.

É muito importante um espaço em que a criança juntamente com seu acompanhante possa ficar à vontade para
brincar e fortalecer as relações de afeto e confiabilidade.

Dentro de hospitais, muitos profissionais ainda tratam os pacientes como apenas mais um. Isso é muito sério e
comprometedor na qualidade de vida do internado. Ao se tratar de criança a gravidade é maior, uma vez que a
mesma necessita de atenção dobrada.

Todo hospital infantil precisa de um ambiente em que haja muitas possibilidades para a criança se sentir querida e
respeitada em sua individualidade.

Apesar de a criança hospitalizada estar, muitas vezes, com o corpo debilitado e até mesmo sem nenhuma disposição,
a brinquedoteca deve disponibilizar brinquedos que propiciem atividades voltadas para a coordenação motora, noção
de espaço, peso, tamanho, distância e outros.

O espaço destinado para o lúdico pode servir para oportunizar ao paciente se exercitar, mesmo que lentamente, as
partes do corpo que não estiverem fragilizadas.

Em uma internação, mesmo não estando impossibilitado de se movimentar, o paciente tende a uma vida sedentária,
apesar de a maioria dos hospitais contarem, também, com parquinhos de diversões.

O profissional que desenvolve trabalhos dentro de uma brinquedoteca hospitalar deve estar apto para se informar
sobre as condições do paciente infantil e sugerir brincadeiras que respeitem os seus limites físicos e emocionais.

As solicitações de brincadeiras feitas pelos pacientes precisam ser aceitas e estimuladas. É evidente que fica muito
mais fácil realizar atividades em que está claro o interesse da criança e o incentivo do adulto.

Para Vectore e Kishimoto (2002), é possível compreender a importância do adulto nas brincadeiras realizadas pelas
crianças. Isso se dá porque principalmente na infância, a pessoa necessita de orientações sobre as regras de
atividades grupais, utilização de brinquedos, conhecimentos musicais e tudo que envolve o universo das
brincadeiras.

É possível que, ao considerar o brincar algo desnecessário que a criança só faz para ocupar seu tempo e não dar
trabalho aos adultos, muitos pensem que ao ficar doente e precisar de cuidados ela possa, ou até deva, parar de
brincar e só se ocupar do que for referente ao tratamento da doença.

Se os profissionais da saúde, de um modo geral, estivessem cientes do quanto é importante o lúdico na vida das
pessoas e de uma forma especial na infância, provavelmente incentivariam a todos, inclusive aos familiares do
doente, a não parar de fantasiar, ler, ouvir música, inventar histórias e muito mais.

Talvez ainda fiquem dúvidas sobre como uma criança doente poderia se exercitar e realizar atividades físicas dentro
de hospitais. Porém, existem várias maneiras de realizar brincadeiras mesmo se estando em um leito sem
possibilidades de ir até o espaço da brinquedoteca.

Isso acontece porque a mente é capaz de levar qualquer criança a um mundo de fantasia em que ela pode ser e fazer
tudo o que for capaz de inventar. Nesse caso, cabe ao adulto fazer propostas, incentivar e respeitar os limites e
desejos da criança.

É latente a necessidade de ambientes lúdicos dentro de hospitais para que os pequenos em formação tenham, de fato,
um espaço em que possam extravasar as tensões e se sentirem queridos.

Mas também é fundamental que, se a criança não puder ir até a brinquedoteca, que, de alguma forma, a
brinquedoteca vá até ela.

Para que a criança se estruture emocionalmente ela depende muito da presença de adultos incentivando e
acompanhando seu crescimento. Isso pode se dar, também, através da realização de brincadeiras e utilização de
jogos de natureza material ou mesmo verbal.

Entende-se que dentro do espaço lúdico no hospital, os adultos precisam cuidar para que suas atitudes não sejam
metódicas, em função do risco de se confundirem com a rotina hospitalar que, na maioria das vezes, é rígida e
dolorosa.
Souza (2003) constatou em sua pesquisa que pacientes e seus acompanhantes se sentiam melhores dentro do hospital
devido à existência de brinquedoteca em suas dependências, de atividades lá realizadas.

A criança doente consegue, brincando, demonstrar seu medo da doença, suas preocupações com os procedimentos,
suas carências e angústias. Este deve ser o principal objetivo do brincar no hospital: colaborar com a criança na
compreensão, aceitação e convivência com o seu tratamento.

Dentro de uma brinquedoteca hospitalar, mesmo estando enferma, a criança percebe que está em um ambiente
sossegado e mais próximo da realidade que tinha em casa e na escola.

É importante relembrar que esse local deve contar com profissionais bem informados. O brinquedista precisa ter
condições de deixar a criança livre para se expressar, questionar e refletir sobre sua atual circunstância. É
fundamental oferecer ao paciente infantil um espaço para que ele possa brincar, sorrir, aprender coisas novas, ser
amado e protegido.

Quando a pessoa aprende, ela também sente que está se preparando para utilizar o que aprendeu.

A aprendizagem tem o poder de dar às pessoas perspectiva de futuro, desejo de aplicar o que está sendo descoberto e
motivação para compartilhar o que foi aprendido.

É importante trabalhar no sentido de fazer o paciente entender que ninguém desistiu dele, que é necessário continuar
o processo evolutivo, para que, assim que tiver condições, possa aplicar o conhecimento
construído.

Muitos jogos podem acontecer dentro da brinquedoteca hospitalar partindo da própria iniciativa da criança. O adulto
responsável pelo espaço também deve estar constantemente pesquisando atividades possíveis de serem realizadas.

Muitas vezes a criança está em seu leito entediada, sem ânimo e uma simples prancheta com folhas de desenho e giz
de cera já podem transformar aquele momento triste.

Desenhar é uma atividade que pode ser muito prazerosa para a criança. Ela pode se comunicar através das figuras,
das cores e pode simplesmente se divertir colorindo o papel e focando sua atenção em outras coisas que não estejam
ligadas ao seu tratamento.
RELATOS DE UMA EXPERIÊNCIA
ste capítulo irá tratar, mais especificamente, da brinquedoteca hospitalar “Brincar é viver”, do Hospital do
E Câncer em Uberlândia, onde trabalhei durante um ano, atuando como brinquedista e coordenadora da
brinquedoteca.

O hospital é resultado do empenho e dedicação do grupo “Luta pela vida”, que através de doações e trabalhos
voluntários construiu e mantém o mesmo.

Meu trabalho nesse hospital foi entre 2004 e 2005, mas estive lá neste ano de 2016 para uma pesquisa de campo e
pude reafirmar minha admiração pelo trabalho lá realizado, no sentido de oferecer um atendimento humanizado,
respeitando o ser doente, focando a pessoa e não a doença e levando em conta as necessidades específicas dos
pacientes adultos e infantis.

Embora o hospital também realize um trabalho modelo com seus pacientes adultos, ficarei focada no paciente
infantil, que é o motivo da minha pesquisa.
7.1. O GRUPO LUTA PELA VIDA.

O Grupo Luta pela Vida é uma ONG que tem como objetivos combater o câncer e oferecer a pacientes e familiares
as melhores condições para tratamento e cura da doença. Somos responsáveis pela construção e manutenção do
Hospital do Câncer em Uberlândia, que desde 2000 atende a população de toda a região, proporcionando
atendimento gratuito e de qualidade.

Criado em 1996, o Grupo Luta pela Vida tem trabalhado incessantemente para mobilizar pessoas e empresas para a
obtenção dos recursos necessários para o Hospital do Câncer. Assim foram construídos e equipados os mais de
10.000 m² do Hospital, que atende mensalmente mais de 1.800 pacientes, vindos de mais de 80 cidades.

O grupo já surgiu com o intuito de criar o hospital.

Antes da intervenção do grupo, o setor de oncologia do hospital funcionava em uma pequena casa, tornando o
atendimento precário e com a possibilidade de receber poucos pacientes por dia.

Muitos membros do grupo (médicos, professores, etc) haviam perdido entes queridos, com enfermidades
relacionadas à oncologia, devido à precariedade nos atendimentos. Movidos pelo propósito de ampliar o
atendimento aos pacientes, de forma humanizada e mais eficiente, o grupo passou a se mobilizar na construção do
hospital oncológico.

O terreno foi cedido pela reitoria da UFU (Universidade Federal de Uberlândia) e a construção ficou a cargo
do grupo. As dificuldades para a arrecadação dos recursos eram muito grandes, mas o pontapé inicial veio
justamente de uma paciente oncológica que, em fase terminal, deixou em testamento todos os seus bens para que
fossem iniciadas as fundações do prédio.

Esta unidade de saúde é até hoje o setor de oncologia do hospital de clínicas (contando com o controle da
reitoria da UFU), mas é uma instituição ainda existente graças ao árduo e contínuo trabalho dos voluntários do grupo
“Luta pela vida”.

Além de contar com toda estrutura e corpo clínico, o Hospital do Câncer possui outros aliados no tratamento do
câncer: o trabalho voluntário. Ele é organizado pelo Núcleo de Voluntários do Grupo Luta Pela Vida. Atualmente
são cerca de 450 voluntários, divididos em 20 equipes, que trabalham de segunda à sexta, nos períodos da manhã e
tarde.

Movidos pela solidariedade, o grande objetivo dos voluntários é humanizar o ambiente hospitalar e proporcionar
apoio psicossocial e material aos pacientes e familiares. Para organização das atividades, o Núcleo possui uma
coordenadora geral e um vice- coordenador, além de coordenadores e vices para cada equipe de trabalho.

Os voluntários trabalham em vários setores do Hospital, buscando sempre levar mais conforto, assistência e alegria
durante o tratamento contra o câncer. Eles atuam em atividades ligadas diretamente aos pacientes e familiares e
também em ações de apoio. (HOSPITAL DO CÃNCER 2016).

O hospital oncológico possui trinta e dois leitos para atender ao público infantil. Apesar de estar atendendo há quase
duas décadas, ainda está em obras, buscando constantemente por recursos que possibilitem sua ampliação e
aperfeiçoamento no atendimento a todas as necessidades que um paciente oncológico requer para melhorar a
qualidade de vida e ampliar as possibilidades de cura.
7.2. A BRINQUEDOTECA DO HOSPITAL DO CÂNCER
EM UBERLÂNDIA

A instituição atende pacientes da cidade de Uberlândia e toda a região. Uma vez que o hospital oncológico mais
próximo fica na cidade de Uberaba, localizado a, aproximadamente, noventa quilômetros de lá.

Nesse hospital, a brinquedoteca funciona, também, como uma sala de espera para todos os pacientes infantis que vão
ao hospital. Nenhuma criança precisa aguardar o atendimento na recepção, elas chegam e se direcionam à
brinquedoteca.

Figura 1 - Brinquedoteca do Hospital do Câncer de Uberlândia /MG

Enquanto as crianças aguardam brincando, os médicos e enfermeiros ligam direto na brinquedoteca para
chamar a criança que será atendida ou medicada.

Nenhum procedimento é realizado dentro do espaço destinado ao brincar, lá dentro a criança sabe que jamais será
medicada.

O atendimento é planejado de forma que todas as crianças sejam atendidas no período da manhã. Para o período da
tarde ficam as crianças em tratamento ou as que estão internadas.

Toda essa rotina é muito importante para que pacientes e acompanhantes entendam o funcionamento do
espaço e se organizem na utilização do mesmo. Considero o modelo de funcionamento do hospital e da
brinquedoteca um modelo a ser seguido.
Figura 2 – Cantinho do bebe - Hospital do Câncer em Uberlândia/MG
7.2.1. O ACOMPANHANTE.

Na brinquedoteca “Brincar é viver” a criança não fica sem o acompanhante. Normalmente, são os pais que vão com
a criança até o hospital, sendo que, na maioria das vezes, a figura presente ao lado da criança é a mãe.

- Meu marido, quando soube que minha filha estava com câncer, se assustou, ficou muito triste e
demonstrou muita preocupação. Até veio nas primeiras consultas comigo. Com o passar do tempo,
percebendo que a luta era grande e longa, foi desanimando e hoje ele nem mora mais com a gente.
Arrumou outra esposa, que tem mais tempo pra ele, porque não precisa ficar indo direto com a
filha no hospital.

(Mãe de criança em tratamento)

O desabafo, de uma mãe que acompanha a filha com leucemia há mais de dois anos, é apenas um dos
exemplos de mães que precisam dar suporte ao filho doente e, para tanto, se ausentar do lar onde ficam, muitas
vezes, o marido e outros filhos.

- Atualmente, dos vinte pacientes infantis internados com câncer, três pais são acompanhantes,
sendo que isso ainda supera a média de pais acompanhantes normalmente.

(Depoimento do coordenador da brinquedoteca).

Também temos casos no hospital de mães que não suportam viver a angústia de acompanhar seu filho no
processo de tratamento e os abandonam no leito, desaparecendo sem deixar ninguém em seu lugar.

- Não faz muito tempo que uma mãe simplesmente abandonou a criança aqui no hospital e
desapareceu. Ela não quis ou não deu conta de ficar com o filho nessa situação.

(Depoimento do coordenador da brinquedoteca).

No dia a dia da brinquedoteca nos deparamos com mulheres muito sofridas, que lutam pela cura de seus filhos
e não desistem deles mesmo que, para isso, tenham que abrir mão do conforto de suas casas e da companhia de seus
parceiros.

A luta diária com o cuidado dos filhos é um caso à parte que merece muita reflexão. Quem são essas mães?
Como tornar seus momentos no hospital menos angustiantes? Uma abordagem mais solidária e mais humanizada
poderia ser um alento, para essas mulheres guerreiras, nesses momentos tão doloridos.

A brinquedoteca é um espaço que acolhe todas as crianças e acompanhantes e oferece um momento de respiro e uma
possibilidade de alívio. As mães vivem momentos de calma ao verem seus filhos brincando e sorrindo, mesmo que
brevemente. Para uma mãe, perceber que seu filho, tão amado e fragilizado, está sendo bem tratado, acalentado e
respeitado em sua condição, é muito reconfortante.
Figura 3- Bonecas - Hospital do Câncer em Uberlândia/MG

Além da rotina diária do espaço, também são realizadas algumas atividades extras hospitalares. Festas da páscoa,
junina, dia das crianças e Natal são datas comemoradas fora do hospital, quando a criança em tratamento é
convidada e pode levar seus irmãos.

O irmão participar das atividades é muito importante, pois ajuda a família a lidar melhor com a situação do
tratamento e possibilita ao irmão, que não está doente, poder brincar e se divertir também, acompanhando a mãe
que, muitas vezes, precisa estar ausente.

A brinquedoteca conta com um acervo de brinquedos e jogos que encanta até os adultos. Como o público
frequentador é, em sua maioria, de baixa renda, muitos daqueles objetos nunca estiveram ao acesso daquelas
crianças. Então, os irmãos também demonstram um desejo muito grande de desfrutar das brincadeiras e as festas
oferecem essas oportunidades.
Figura 4 - Cantinho da Leitura - Hospital do Câncer em Uberlândia

O dia da festa é o dia da família estar unida, focando a diversão e entretenimento, podendo relaxar um pouco e tirar
o foco da doença e tratamento.

Uma ou duas vezes por ano todos vão ao cinema. Paciente e família ganham pipoca, lanche, passeio em trenzinho e
muita atenção de todos os brinquedistas. É um evento que também faz toda diferença na relação das crianças com o
hospital.

Vale lembrar/ressaltar ou É importante lembrar/ressaltar que todas as festas são realizadas graças aos esforços dos
voluntários, que oferecem seu trabalho e sua dedicação na busca por doações.
7.2.2. O PROJETO PEDAGÓGICO

A preocupação com a formação escolar da criança também faz parte do trabalho da coordenação da
brinquedoteca. A criança hospitalizada ou em repouso em casa pode receber atendimento focado em atividades
pedagógicas, que possibilitem a ela continuar seu processo de aprendizagem mesmo fora da escola.

Existe um espaço apropriado para os estudos e atividades artísticas, mas, se a criança não tem condições de ir
até esse espaço, ela recebe a visita do pedagogo em seu leito.
7.2.3. A BRINQUEDOTECA VAI ATÉ A CRIANÇA.

Sempre que o paciente está impossibilitado de ir até o espaço das atividades, as atividades vão até o paciente,
respeitando suas limitações e as limitações do ambiente onde o paciente está.

A brinquedoteca móvel vai até o leito e a criança pode ficar dias com ela à sua disposição, para que possa,
individualmente, assistir tevê, jogar videogame ou ouvir música.

A criança também tem a possibilidade de ler, escrever desenhar e pintar, entre outras atividades, que ela pode
solicitar sempre que o brinquedista vai até os leitos com o carrinho de atividades.
Figura 5 - Modelo de Binquedoteca móvel - Hospital do Câncer em Uberlândia/MG

Quando Batista (2003, p.233) afirma que “o brincar permite a criança dizer, o brincar permite a criança viver”, está
ressaltando, ainda, algo fundamental que é o ato de brincar como “instrumento” de comunicação e expressão.

O carrinho, repleto de objetos lúdicos muito bem cuidados, passa diariamente pelo hospital e, muitas vezes, os
adultos também solicitam alguns objetos e são prontamente atendidos. Ao lado do carrinho, fica pendurado um saco
onde todos os brinquedos já utilizados são descartados para a higienização e novos objetos podem ser adquiridos.

A passagem do carrinho de atividades é esperada e muito bem recebida por todos, oferecendo um pequeno alento em
momentos de dores e ansiedades.
Figura 6 - Kits de Montagem

Todos os lápis, giz de cera, papéis e livros são oferecidos e não são recolhidos, ficam com o paciente, pois não
devem retornar à brinquedoteca, já que não é possível fazer uma higienização adequada desses objetos.
7.3. A PROPOSTA DE HUMANIZAÇÃO ESTÁ ALÉM
DO ESPAÇO FÍSICO

No Hospital do Câncer em Uberlândia a preocupação com o atendimento humanizado vai muito além de,
apenas, uma proposta de intervenção lúdica. Todos os profissionais da saúde também buscam melhores
possibilidades de diálogo com seus pacientes. A preocupação com a pessoa doente é constante.

A pediatria dialoga regularmente com os responsáveis pela brinquedoteca. Todos falam dos pacientes,
procuram conhecer melhor cada caso e ajudar na realização do principal objetivo, que é dar melhores condições de
vida a todos os pacientes.

Todos os voluntários são orientados sobre seu comportamento dentro do hospital. Cada pessoa que colabora,
voluntariamente, com os atendimentos passa por um treinamento no qual aprendem a lidar com o paciente, respeitar
cada um em suas limitações e se esforçar para que o tempo que cada um tiver que passar no hospital seja agradável e
suave, na medida do que for possível.
Figura 7 - Cantinho da Informática - Hospital do Câncer em Uberlândia
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
través de todas as leituras que foram realizadas para a elaboração desse trabalho, foi possível compreender o
A quanto se deve insistir para que o direito da criança a viver dignamente seja respeitado.

É consenso entre todos os autores citados que o lúdico é fundamental no desenvolvimento de todo ser humano,
ficando claro que nenhuma criança pode ser privada desse meio tão sublime de evolução.

O brincar pode servir de apoio para que a criança em tratamento tenha condições de saber a respeito de sua
patologia, conviver com o tratamento e ser orientada, inclusive, sobre possíveis procedimentos mais rigorosos e
invasivos como as cirurgias.

O preparo emocional de uma criança pode significar muito em um tratamento, lembrando que é preciso levar em
conta, o desenvolvimento cognitivo de cada paciente, na hora de planejar e elaborar a forma de comunicação com
ele.

Conforme já foi visto no decorrer do trabalho, o diálogo com o paciente, no momento de ser orientado, deve ser
sincero, afetuoso e repetido quantas vezes se fizer necessário.

A brinquedoteca hospitalar pode ser um espaço educativo, comprometido com o brincar e, consequentemente, com o
desenvolvimento infantil, um local de encontro e confraternização de crianças e familiares e um ambiente agradável
de espera para o atendimento.

O lúdico dentro do hospital, como já foi visto, é uma realidade em várias instituições e está mostrando resultados
surpreendentes.

É preciso que se tome consciência de que a humanização é necessária em todos os espaços e que no hospital, talvez
seja ainda mais importante, uma vez que é o local onde mais se encontram pessoas fragilizadas e totalmente
inseguras.

Se este momento é o da era do conhecimento, em que tanto se discute gestão de pessoas, faz-se, então, necessário
que gestores da área hospitalar, além das preocupações com os equipamentos de última geração, voltem seu olhar
para a equipe de profissionais que atuam dentro desses espaços.

É fundamental que elaborem projetos voltados para uma abordagem mais humana, em que a valorização da pessoa
doente seja tão destacada quanto a valorização do combate às patologias.

A partir dos autores citados nesse trabalho, percebemos que a necessidade da intervenção lúdica não deve estar
restrita a construção de um espaço chamado brinquedoteca.

A criança enferma, a partir do momento que entra em um hospital, deve se sentir acolhida, respeitada e aceita pelos
atendentes, pela equipe médica, pelos enfermeiros e por todos os adultos que compõem a rotina de um hospital.

Os profissionais que trabalham com a intervenção lúdica devem estar atentos para que seu trabalho venha a somar.
O brinquedista hospitalar precisa trabalhar para que a criança, através das brincadeiras, se sinta mais confiante e
segura, não só para brincar, mas para dar andamento e continuidade aos tratamentos.

Além de tudo o que já foi dito sobre o papel do brinquedista hospitalar, vale lembrar que o trabalhador que atua com
intervenção lúdica no hospital deve estar em função de facilitar o andamento do tratamento, mas, em hipótese
alguma, pode interferir no mesmo.

Cabe à comunidade médica orientar sobre todos os procedimentos relacionados ao tratamento e, aos profissionais
lúdicos, ajudarem o paciente a entender e, se possível, aceitar a situação e colaborar com seu médico.

Seria muito bom se todos os profissionais da saúde, além de acharem lindo o espaço lúdico, também
compreendessem sua importância profundamente, mas, enquanto isso ainda não é uma realidade visível em todos os
hospitais, resta aos profissionais lúdicos fazerem sua parte.
Já existem ricas experiências implantadas em vários hospitais no Brasil, sendo bem sucedidas, que podem ser
utilizadas como referência para todos aqueles que trabalham ou estão interessados em trabalhar com crianças
hospitalizadas.

Não é demais lembrar que é lei todo hospital com atendimento infantil manter, em seu ambiente, uma brinquedoteca.
No entanto, não basta o espaço, é preciso que haja pessoas comprometidas, acima de tudo, com a humanização no
atendimento hospitalar.

O desenvolvimento de uma criança é de responsabilidade de todos. Dentro de um hospital, a criança continua tendo
os mesmo direitos que qualquer outra, sendo assim, cabe aos adultos fazerem valer esses direitos e não permitirem
que a evolução de um ser fique bloqueada seja por qualquer razão.

Nos dias atuais, com tantas informações acerca das necessidades infantis, sabemos que a criança necessita de
cuidados especiais para crescer saudável e feliz.

Infelizmente, parece que a maioria dos pais e profissionais que lidam com crianças entendem que essas necessidades
dizem respeito, apenas, à alimentação, escola e cursos voltados para futura profissionalização.

Não é raro ouvirmos frases do tipo “criança não tem querer” ou “ao invés de ficar brincando por aí, essa criança
deveria estar estudando, se preparando para o amanhã”. O problema é que, em meio a tanta preocupação com o
futuro, está ficando esquecido o presente.

Bom mesmo seria se todos os trabalhadores de hospitais, principalmente médicos e enfermeiros da pediatria, fossem
capazes de entender o que é o lúdico na vida de uma criança doente.

A intervenção lúdica mostra, para o cliente infantil, que o hospital não é um lugar onde só acontecem coisas tristes,
lá também tem razões para alegria e descontração e, o mais importante, motivação para continuar vivendo.

Ao mencionar que quando criança fui hospitalizada, queria mostrar que qualquer um de nós pode estar em ambos os
lados da questão. Podemos ser profissionais da saúde, profissionais da intervenção lúdica e profissionais em situação
de doença, passando por hospitalização.

Somos todos humanos e temos que buscar sempre a humanização de todos os ambientes onde haja pessoas.

Passei por momentos muito difíceis em minha internação, mas havia um momento no hospital em que toda a aflição
era deixada de lado ou até esquecida, era o momento do dia em que eu ia para o parquinho. Eu me sentia humana,
me sentia realmente criança.

Apesar de eu ter que ir até o parque no momento em que os outros internos não estavam presentes, pelo fato dos
médicos, naquela época não saberem se minha doença era contagiosa, mesmo assim, aqueles eram momentos
sublimes de plena comunhão com minha infância.

As lembranças mais fortes que tenho de minha internação, além das visitas de minha mãe e seu afeto angustiado, são
os momentos deliciosos que passei no balanço branco de dois lugares, que ficava bem no meio do parque.

Tenho certeza de que os momentos em que brinquei, somados à demonstração de afeto que algumas enfermeiras me
deram naquele hospital, foram fundamentais para que aquela internação fosse uma fase da minha vida que consigo
lembrar com ternura, sem maiores angústias.

O lúdico ajuda o paciente a aceitar melhor sua presença no hospital, pode auxiliar no entendimento do que está
acontecendo em relação à doença e o tratamento e o ajuda a se sentir respeitado como pessoa.

Adoecer, ser hospitalizado e, até morrer, são questões que fazem parte da vida de todos nós. O que muda é a forma
com que lidamos com tudo isso. A doença, o hospital, a morte, o tratamento, tudo é importante, mas o foco deve ser
sempre a vida e sua continuidade.
ANEXO I - LEI Nº 11.104, DE 21 DE
MARÇO DE 2005
Dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento
pediátrico em regime de internação.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:

Art. 1o Os hospitais que ofereçam atendimento pediátrico contarão, obrigatoriamente, com brinquedotecas
nas suas dependências.

Parágrafo único. O disposto no caput deste artigo aplica-se a qualquer unidade de saúde que ofereça
atendimento pediátrico em regime de internação.

Art. 2o Considera-se brinquedoteca, para os efeitos desta Lei, o espaço provido de brinquedos e jogos
educativos, destinado a estimular as crianças e seus acompanhantes a brincar.

Art. 3o A inobservância do disposto no art. 1o desta Lei configura infração à legislação sanitária federal e
sujeita seus infratores às penalidades previstas no inciso II do art. 10 da Lei no 6.437, de 20 de agosto de 1977.

Art. 4o Esta Lei entra em vigor 180 (cento e oitenta) dias após a data de sua publicação

Brasília, 21 de março de 2005; 184o da Independência e 117o da República.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Tarso Genro

Humberto Sérgio Costa Lima

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 22.3.2005.


ANEXO II - PORTARIA Nº 2.261, DE 23 DE
NOVEMBRO DE 2005
Aprova o Regulamento que estabelece as diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas nas unidades
de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação.

O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições, e

Considerando o disposto na Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, que dispõe sobre a obrigatoriedade de instalação
de brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação; e

Considerando que toda criança hospitalizada tem direitos especiais após a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente, Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, da Resolução nº 41, de 13 de outubro de 1995, do Conselho
Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, e da Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente,
ressaltando-se o direito de ser acompanhado por sua mãe ou responsável, durante todo o período de sua
hospitalização, o direito de desfrutar de formas de recreação, formas de educação para a saúde, acompanhamento do
currículo escolar durante sua permanência hospitalar, e o direito a receber todos os recursos terapêuticos disponíveis
para a sua cura e reabilitação, resolve:

Art. 1º Aprovar, na forma do Anexo a esta Portaria, o Regulamento que estabelece as diretrizes de instalação e
funcionamento das brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de
internação.

Art. 2º Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.

SARAIVA FELIPE

ANEXO

REGULAMENTO

Diretrizes de instalação e funcionamento das brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento
pediátrico em regime de internação, de acordo com a Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005.

CAPÍTULO I

DOS OBJETIVOS

Art. 1º A Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, tem por objetivo a obrigatoriedade, por parte dos hospitais que
ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação, de contarem com brinquedotecas em suas dependências.

Art. 2º Tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à
internação hospitalar, de forma que sua permanência seja mais agradável.

CAPÍTULO II

DAS DEFINIÇÕES
Art. 3º Entende-se por brinquedoteca o espaço provido de brinquedos e jogos educativos, destinado a estimular as
crianças e seus acompanhantes a brincar, contribuindo para a construção e/ou fortalecimento das relações de vínculo
e afeto entre as crianças e seu meio social.

Art. 4º Entende-se por atendimento pediátrico, para efeitos da Lei nº 11.104, de 21 de março de 2005, a atenção
dispensada à criança de 28 dias a 12 anos, em regime de internação.

CAPÍTULO III

DAS DIRETRIZES

Art 5º Para o cumprimento do disposto nos artigos anteriores, deverão ser observadas as seguintes diretrizes:

I - os estabelecimentos hospitalares pediátricos deverão disponibilizar brinquedos variados, bem como propiciar
atividades com jogos, brinquedos, figuras, leitura e entretenimento nas unidades de internação e tratamento
pediátrico como instrumentos de aprendizagem educacional e de estímulos positivos na recuperação da saúde;

II - tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à
internação hospitalar, de forma que sua permanência seja mais agradável;

III - agregação de estímulos positivos ao processo de cura, proporcionando o brincar como forma de lazer, alívio de
tensões e como instrumento privilegiado de crescimento e desenvolvimento infantil;

IV - ampliação do alcance do brincar para a família e os acompanhantes das crianças internadas, proporcionando
momentos de diálogos entre os familiares, as crianças e a equipe, facilitando a integração entre os pacientes e o
corpo funcional do hospital; e

V - a implementação da brinquedoteca deverá ser precedida de um trabalho de divulgação e sensibilização junto à


equipe do Hospital e de Voluntários, que deverá estimular e facilitar o acesso das crianças aos brinquedos, do jogos
e aos livros.

CAPÍTULO IV

DO DIMENSIONAMENTO DA BRINQUEDOTECA

Art. 6º O dimensionamento da brinquedoteca deve atender à RDC/ANVISA nº 50/2002, conforme descrito na


Tabela Unidade Funcional: 3 – Internação:

I - para os hospitais já em funcionamento e que não possuem condições de criar este ambiente específico é permitido
compartilhamento com ambiente de refeitório desde que fiquem definidos os horários para o desenvolvimento de
cada uma das atividades;

II - deve ser prevista uma área para guarda e higienização dos brinquedos;

III - a higienização dos brinquedos deve ser conforme o definido pela Comissão de Controle de Infecção do Hospital
(CCIH);

IV - os horários de funcionamento devem ser definidos pela direção do hospital, tendo a criança livre acesso; e

V - para as crianças impossibilitadas de andar ou sair do leito, os profissionais devem facilitar o acesso desses
pacientes às atividades desenvolvidas pela brinquedoteca, dentro das enfermarias.

CAPÍTULO V

DOS PROFISSIONAIS
Art. 7º A qualificação e o número de membros da equipe serão determinados pelas necessidades de cada instituição,
podendo funcionar com equipes de profissionais especializados, equipes de voluntários ou equipes mistas.

CAPÍTULO VI

DO FINANCIAMENTO

Art. 8º O financiamento para a criação das brinquedotecas contarão com subsídios do próprio estabelecimento
hospitalar pediátrico ou com subsídios externos nacionais ou estrangeiros, recursos públicos ou privados.

CAPÍTULO VI

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 9º O Ministério da Saúde estabelecerá as políticas e as diretrizes para a promoção, a prevenção e a recuperação
da saúde da criança, cujas ações serão executadas pela Política Nacional de Humanização - HumanizaSUS.

Art. 10. Para os fins previstos neste Regulamento, o Ministério da Saúde poderá promover os meios necessários
para que os estados, os municípios e as entidades governamentais e não-governamentais atuem em prol da eficácia
das ações de saúde da criança, observadas as diretrizes estabelecidas no artigo 3º deste Regulamento.

Art. 11. Os casos omissos nesse Regulamento serão resolvidos com o apoio do Ministério da Saúde no que lhe
couber.
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