Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO ABSTRACT
O presente artigo propõe uma reflexão sobre as The present article proposes a reflection on
terminologias utilizadas pelas áreas de Marketing the terminology used in the areas of Marketing
e Relações Públicas, apontando semelhanças e and Public Relations, pointing out similarities
diferenças entre os termos utilizados por ambas. and differences between the terms used in both
Com base na análise dos conceitos de autores do disciplines. Through concepts of authors of
Marketing e da Comunicação, o propósito é pro- Marketing and Communication the purpose is
blematizar seus usos na perspectiva das Relações to analyze these concepts and discuss its uses
Públicas. A partir da reflexão apresentada no tra- from the Public Relations’ perspective. From
balho, pode-se afirmar que, em sua maioria, há the reflection presented in the work, it can be
significados correlatos e sinônimos dos termos said that, in most cases, there is correlative
utilizados pelo Marketing na área da Comunica- meanings and synonyms of the terms used by
ção Social, especificamente nas Relações Públi- Marketing the media area, specifically in Pub-
cas. No entanto, é preciso um cuidado, pois, em lic Relations. However, a caution is necessary
alguns contextos, as terminologias usadas não re- because in some contexts, the terms used do
fletem o real sentido que se pretende e remetem a not reflect the real sense that we want and refer
um cenário diferente do proposto. to a different scenario is proposed.
Palavras-chave: Relações Públicas; Marketing; Keywords: Public Relations; Marketing; Ter-
Terminologias. minology.
1
Coordenador do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Brasil. Doutorando em Comunicação pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). E-mail: valmor@unipampa.edu.br.
2
Estudante de Graduação do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Brasil. E-mail: brunakgp@gmail.com.
3
Estudante de Graduação do Curso de Relações Públicas da Universidade Federal do Pampa (Unipampa). Brasil. E-mail: marcellirenata@gmail.com.
-os, já que alguns autores tratam deter- afetados significativamente pela organi-
minadas terminologias como sinônimas zação. As autoras esclarecem que:
e outros defendem uma diferença entre
seus significados. O termo stakeholder tem origem no
termo stockholder (acionista), e am-
2 Método plia o foco da organização, que antes
era satisfazer o acionista e passa a
satisfazer seus públicos de interesse
Demo (1996, p. 34) coloca a
estratégicos, como clientes, funcio-
pesquisa como atividade cotidiana, nários, imprensa, parceiros, fornece-
considerando-a como uma atitude, um dores, concorrentes, sindicatos e co-
“questionamento sistemático crítico e munidade local.
criativo, mais a intervenção competente
na realidade, ou o diálogo crítico per- França (2008) afirma que os ter-
manente com a realidade em sentido mos stakeholders e públicos geralmente
teórico e prático”. Gil (1999, p. 42) afir- são tratados como sinônimos, “porém há
ma que a pesquisa tem um caráter prag- uma ligeira diferença entre eles: as pes-
mático, sendo um “processo formal e soas são stakeholders porque se situam
sistemático de desenvolvimento do mé- numa categoria afetada pelas decisões
todo científico. O objetivo fundamental de uma organização ou porque suas de-
da pesquisa é descobrir respostas para cisões afetam a organização. Portanto,
problemas mediante o emprego de pro- stakeholders participam das decisões da
cedimentos científicos”. empresa (FRANÇA, 2008, p. 33).” Em
Tendo isso em vista, a pesquisa síntese, segundo o autor, os stakehol-
proposta neste trabalho busca refletir ders incluem todos aqueles indivíduos
sobre o uso de terminologias correlatas ou grupos que possuem legitimidade e/
nas áreas de Relações Públicas e Mar- ou poder. Porém, o autor não esclarece
keting, com base em uma pesquisa bi- o significado do termo públicos. Grunig
bliográfica. Para Lakatos et al (1992), a (2011, p. 90-91), por sua vez, entende
pesquisa bibliográfica é o levantamento os “stakeholders como categorias ge-
de bibliografias já publicadas em livros, rais de pessoas que são afetadas [...] os
revistas e periódicos. A autora ressalta, passivos podem ser chamados de públi-
ainda, que “sua finalidade é colocar o cos latentes. Stakeholders que são ou
pesquisador em contato direto com tudo que se tornam mais conscientes e ati-
aquilo que foi escrito sobre determina- vos podem ser descritos como públicos
do assunto” (LAKATOS, et al, 1992, conscientes e ativos”.
p. 44). Assim, a partir da busca dessas Nesta concepção, stakeholders
terminologias correlatas nas bibliogra- são aquelas pessoas com verdadeira
fias sobre as áreas de Relações Públicas participação ou conectados na organi-
e Marketing, pretende-se refletir e pro- zação, com mais legitimidade e poder,
blematizar seu uso. o que não aconteceria com os públi-
cos. Outra diferença que França (2008,
3 Referencial teórico, apresentação e p. 34) ressalta é que: “O termo não se
discussão da temática subdivide em designações de públicos
internos e externos; caracteriza pessoas
3.1 Stakeholders versus Públicos ou grupos que estão conectados a uma
organização porque eles e a organiza-
Kunsch (2006) descreve sta- ção mantêm um encadeamento lógico
keholders como sinônimo de públicos de um em relação ao outro”.
estratégicos. Para Rocha e Goldschmidt Atualmente, há uma tendência
(2010, p. 06), os stakeholders são pú- a classificar os públicos com base nos
blicos de interesse que afetam ou são princípios de Marketing, em que se ado-
rios como uma extensão dos funcionários, sendo assim classificados como
enquanto que o endomarketing é muito público interno também. Ver mais em: As transformações nas organi-
zações gerando novos públicos para relações públicas. Disponível em:
mais superficial e não promove a ver- <http://www.fca.pucminas.br/saogabriel/ci/cmercadologica/textos_novos/
dadeira integração entre a organização relacoes_publicas/CESCA_transformacoes_organizacoes_gerando.pdf >.
Acesso em: 16 ago. 2012.
na o que faz, ele está utilizando a co- sombreamento. No que diz respeito ao
municação para atingir determinados Marketing e às Relações Públicas, esses
públicos e não o marketing cultural. entendimentos diferentes ultrapassam as
O autor dá um exemplo de marketing terminologias e proporcionam um amplo
cultural ao dizer que: “Diferentemente, campo de estudo. Ambas as áreas utili-
uma fundação criada com o objetivo de zam, por exemplo, os termos marketing
promover a cultura, como a Fundação social e ação social.
Itaú Cultural, passa a desenvolver seu O marketing social está relacio-
próprio marketing cultural porque seu nado aos aspectos sociais de uma or-
principal objetivo agora é a colocação ganização, levando em consideração
de produtos culturais no mercado” (YA- questões relativas ao comportamento
NASE, 2011, p. 634). geral e específico da empresa e não ape-
Surge, então, um conceito especí- nas relativas ao consumo. Kotler (1971,
fico para designar essas ações de comu- p. 5), juntamente com Gerald Zaltman,
nicação focadas nas questões culturais. conceituou o marketing social como:
Para Augusto (2010, p. 636), uma co- “Projeto de criação, implementação e
municação por ação cultural apresenta: controle de programas utilizados para
“práticas de apoio à cultura, adotadas influenciar a aceitabilidade das idéias
no cenário nacional, em que o objetivo sociais, envolvendo questões de pla-
é puramente promocional, ainda que as nejamento de produto, preço, comuni-
organizações que as utilizam tenham cação, distribuição e pesquisa de mar-
uma preocupação sincera com a socie- keting”. Pode-se dizer que a definição
dade”. Ou seja, trata-se de estratégias atual para essa tipologia de marketing
de comunicação institucional com o ob- é uma evolução da proposta inicial des-
jetivo de manter e melhorar o bem-estar ses autores, que valoriza aspectos ope-
do consumidor e de fixar nos públicos racionais e envolve a disseminação de
uma imagem positiva. conhecimento sobre questões sociais.
A comunicação por ação cultural Ressalta-se, ainda, que o mar-
acontece quando uma empresa, que não keting social pode possuir diversas fa-
vende produtos ou serviços culturais, ses, que ocasionam determinadas con-
utiliza a cultura como base para suas sequências. Para Credidio e Yanaze, o
estratégias comunicacionais. Por exem- marketing social “é o planejamento e a
plo, o patrocínio ou promoção de ações execução de programas desenvolvidos
culturais com o intuito de transferir para para a promoção de mudança social,
si o prestígio dado à cultura pela socie- mediante o emprego dos conceitos e
dade, mesmo sem atuar nesse segmento, princípios do marketing comercial”
representa a maior parte das ações nes- (CREDIDIO; YANAZE, 2011, p. 617).
sa área e, geralmente, são denominadas Em Relações Públicas, para se
erroneamente como marketing cultural. referir à preocupação das organizações
Desse modo, o uso das duas ter- com parte da sociedade, há duas termi-
minologias na perspectiva de Relações nologias: ações sociais (quando estas
Públicas não está deslocado. O profis- são esporádicas) e responsabilidade
sional deve apenas atentar para quais social (ação contínua) estruturada por
são os objetivos e as estratégias de de- meio de um projeto mais amplo e de
senvolvimento da sua ação, para que responsabilidade social que envolve a
possa, assim, direcioná-la corretamente. sociedade. A ação social é:
3.5 Marketing social e ação social Qualquer atividade realizada pela em-
presa para atender às comunidades em
É comum que existam conflitos de suas diversas formas [...] em áreas como
terminologias em áreas específicas ou de assistência social, alimentação, saúde,
educação, cultura, meio ambiente e de- nizações estão inseridas. Para o Marke-
senvolvimento comunitário. Abrange ting, o reflexo almejado consiste em um
desde pequenas doações a pessoas ou aumento do share7. Já para as Relações
instituições ate ações estruturadas, com Públicas, além desse objetivo, o prin-
uso planejado e monitorado de recursos, cipal interesse está em conquistar uma
seja pela própria empresa, por funda-
ções e institutos de origem empresarial,
imagem positiva para a organização,
ou por indivíduos especialmente con- por meio, por exemplo, da melhora no
tratados para a atividade (SILVA, apud relacionamento com os diversos públi-
SILVA e ARAÚJO, 2010, p. 3). cos, trazendo reflexos em médio e longo
prazo, mercadológicos e institucionais.
Na visão de Credidio e Yanaze
(2011, p. 622), o resultado que se espe- 4 Considerações finais
ra de uma ação social é a transformação
social. Os autores ressaltam que: Pode-se concluir, a partir da aná-
lise dos conceitos pertencentes à área
As empresas têm-se utilizado da res- de Relações Públicas e Marketing apre-
ponsabilidade social. Para as compa- sentados, que alguns são utilizados er-
nhias, está claro que as causas e os pro- roneamente, seja por desconhecimento
jetos socioambientais que patrocinam da sua origem ou dos seus significados.
trazem um retorno expressivo, como Esses enganos, algumas vezes, também
melhoria efetiva de imagem, exposição podem ser causados pelo uso de estran-
em mídia espontânea, recrutamento de geirismos, até mesmo porque, muitas
bons colaboradores, entre outros.
vezes, há termos em inglês que não
possuem uma tradução adequada para
A ação social está voltada ao agir
nosso idioma, gerando, assim, confusão
e às práticas efetivas de atividades so-
ao utilizá-los para classificar ações co-
ciais. Em Relações Públicas, está rela-
tidianas na área das Relações Públicas.
cionada com o propósito de diminuir as
Em outros casos, substituem-se,
demandas sociais da sociedade, não de
propriamente, as ações de Relações Pú-
uma forma contínua, mas por meio de
blicas por ações de Marketing na tenta-
atitudes esporádicas, como: ação de dia
tiva de avançar na conquista de espaço
das crianças, doação de agasalhos, doa-
no mercado competitivo. Com a trans-
ção de sangue, dentre tantas outras de-
formação da economia mundial, conse-
mandas sociais atualmente existentes.
quência da globalização e da tecnologia
Conceitualmente, pode-se afir-
da informação, as organizações tendem
mar que as ações sociais fazem parte de
a incorporar estratégias de marketing nos
uma perspectiva de marketing social,
setores mais variados, visando aumentar
mas num estágio em que ainda não pode
seus mercados de atuação, situação que se
ser considerado uma prática de respon-
comprova pelo número de profissionais
sabilidade social6, por não ser contínua.
do marketing8 que atuam em atividades
Ainda que haja diferenças con-
privativas de Relações Públicas no Brasil.
ceituais entre a ação social e o marke-
A grande questão é que, na visão
ting social, estes não são excludentes,
de Kotler, por exemplo, a comunicação é
uma vez que em ambos há uma preo-
um subproduto do marketing, enquanto
cupação em atender a demandas sociais
que, para nós, o próprio marketing é uma
e melhorar a sociedade na qual as orga-
6
Segundo o Instituto Ethos, responsabilidade social empresarial é a for-
modalidade de comunicação estratégica
ma de gestão que se define pela relação ética e transparente da empresa dirigida a resultados organizacionais, vi-
com todos os públicos com os quais ela se relaciona e pelo estabeleci-
mento de metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento sus- são compartilhada por Iasbeck (2012).
tentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para
as gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução
A partir dos conceitos e das ter-
das desigualdades sociais. Disponível em: 7
Fatia de participação da marca/produto no mercado global em análise.
<http://www.ethos.org.br/DesktopDefault.aspx?TabID=3344&Alias=E- 8
Ver mais em: <http://www.aberje.com.br/pesquisa/Pesquisa_GIFE
thos&Lang>. Acesso em: 20 ago. 2012. -Aberje_2007.ppt>. Acesso em: 04 nov. 2014.