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REFERENCIAL NÃO INERCIAL

Professor Victor Cruz


Gagá Insano

1 Introdução
Até agora, todas as descrições dos movimentos de partı́culas foram efetuadas em relação a ref-
erenciais inerciais por meio de interpretações das soluções das equações baseadas na segunda
Lei de Newton . Claro que todas as discussões dos movimentos podem ser efetuadas apenas em
relação a referenciais inerciais, se assim desejar. Contudo, nem sempre um referencial inercial
é conveniente ou adequado para estudos mais especı́ficos. Por exemplo, o movimento de um
pêndulo dentro de um vagão acelerado pode ser descrito em relação a um referencial inercial,
em geral, fixado no solo, fora do vagão. Mas essa descrição torna-se muito complicada, uma
vez que o movimento acelerado do vagão deve ser levado em consideração. Além disso,efetuar
as medidas em relação a esse referencial fixo no solo, envolve um esquema bastante elaborado.
Em geral, é mais simples medir as grandezas necessárias no próprio vagão , pois a matemática
fica bem mais simples. Também é comum considerar como inercial, um referencial fixo na
superfı́cie da Terra para estudar os movimentos das partı́culas nas suas proximidades. Mas,
esse referencial está em rotação junto com a Terra e, por isso, não se pode considerá-lo inercial
para muitos desses movimentos, como o dos projéteis de um canhão que se movem com altas
velocidades, ou de um pêndulo de Foucault, ou de grandes massas de ar numa região extensa da
superfı́cie da Terra , em que o efeito de rotação da Terra sobre esses movimentos e significativo.
Mesmo esses fenômenos não são impossı́veis de serem estudados em um referencial considerado
inercial num grau de precisão muito melhor, como por exemplo, aquele fixado no Sol. Mas,
ele é muito inconveniente para a descrição desses movimentos porque as suas observações são
feitas aqui na Terra. Assim, conseguir escrever uma equação do movimento em um referencial
não inercial é imperativo. Entretanto, a segunda Lei de Newton, que é a base das equações do
movimento, foi enunciada, originalmente, para referenciais inerciais.

Os procedimentos desenvolvidos com intuito de estender a validade da segunda lei de Newton


para os referenciais não inerciais levaram ao conceito de forças inerciais. Essas forças são pecu-
liares no sentido que não têm origem em entidades fı́sicas concretas , em contraste com as Forças
Gravitacionais e Eletromagnéticas , por exemplo, que são provenientes de partı́culas com
massas e de partı́culas carregadas, respectivamente. Assim, a Força Centrı́fuga, de Coriolis,
de Einstein, e de Euler são efeitos cinemáticos e não existem entidades causadoras dessas
forças.

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2 Movimento em Relação a Eixos que Giram
A utilização de eixos de referência que giram facilita enormemente a solução de muitos proble-
mas na mecânica onde o movimento é gerado dentro de um sistema que está girando. Iniciamos
a descrição do movimento utilizando eixos que giram considerando o movimento plano de duas
partı́culas Ae B no plano XY.

2.1 Posição Relativa


#» #» #»
r B/A = xB i + yB j

r = #»r + #»r
B A B/A

2.2 Velocidade Relativa


#» #» d #»
r B/A
VB =VA+
dt
#» #» !
d #»
r B/A #» #» di dj
= x˙B i + y˙B j + xB + yB
dt dt dt
d #»
r B/A  #»  #»
= V B/A + Ω ∧ #» r B/A
dt xyz

#» #» #» #»  #» 
V B = V A + Ω ∧ r B/A + V B/A
xyz

2.3 Aceleração Relativa


 #» 
#» #» d V B/A
#» #» d Ω #» #» d r B/A xyz
aB = aA + ∧ r B/A + Ω ∧ +
dt dt dt
 #» 
d V B/A
xyz #»  #»  #» 
= a B/A xyz + Ω ∧ V B/A
dt
#» #» #»
#» #»  #» #»  #»  #» 
dΩ
+ #»

a B = a A + dt ∧ r B/A + Ω ∧ Ω ∧ r B/A + 2 Ω ∧ V B/A a B/A xyz
xyz

Como aplicações de Movimento Relativo podemos obter a velocidade de um ponto P de um


Mecanismo:

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#» #» #»  #» 
V B = V A + Ω ∧ #»
r B/A + V B/A
xyz

#» #»  #» #»
V P = −Ω (R + L cos θ) i + θ̇L − sin θ j + cos θ k

Podemos também obter a Aceleração de Coriolis em um automóvel que se movimenta com


velocidade relativa V em relação à superfı́cie da Terra:

#»  #» #»
V = V − sin θ j + cos θ k

#» #» #» #»
a cor = 2 Ω ∧ V = 2ΩV sin θ i

3 Transformação de Galileu

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Considerando-se dois Referenciais Inerciais S e S’ podemos analisar o movimento de um ponto
P levando em conta suas coordenadas espaciais e temporais :

t′ = t
z′ = z
y′ = y
x′ = x − V t
(V << c)
Dado que S’ está em translação com velocidade V no eixo x e que em t0 = 0 as origens dos
referenciais coincidem. Vetorialmente podemos compor os vetores velocidades como :

#» #» #»
v = v′ + V
#» #»
= v ′ = #»
v −V
Derivando em relação ao tempo:
#»′ !  #»  #» !
dv dv dV
= −
dt dt dt


a′ = #»
a

Com isso, podemos concluir que as Leis de Newton são invariantes para referenciais inerciais ,
pois as acelerações tanto para S quanto para S’ são as mesmas.

4 Dinâmica no Referencial em Roto-Translação


Vamos agora modelar a Dinâmica em um referencial em Movimento de Translação e Rotação.
Para isso vamos utilizar os dois referenciais abaixo:

Para o Movimento de Translação de S’ em relação à S :

#» #» #» #»
r = x i +yj +zk
#» #» #» #»
r ′ = x′ i ′ + y ′ j ′ + z ′ k ′
Da análise dos vetores posição :
#» #» #»
r = R + r′

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Derivando em relação ao tempo :
#» #» #»
v = V + v′
E por fim :
#» #» #»
a = A + a′

onde A corresponde a aceleração devido a translação acelerada.Podemos então escrever que a
Segunda Lei de Newton em um Referencial em Translação Acelerada é :
#» #» #»
F − m A = m a′

Definimos o termo −m A como Força de Einstein. Se agora quisermos implementar a Rotação
de S’ devemos derivar os vetores do referencial móvel:
#» dx′ #»′ dy ′ #»′ dz ′ #»′
v′ = i + j + k
dt dt dt
#» #» #» #» #»
v = V + v ′ + Ω ∧ r′
#» d2 x′ #» d2 y ′ #» d2 z ′ #»
a′ = 2 i ′ + 2 j ′ + 2 k ′
dt dt dt
#» #» #» #» #»  #» #»
#» ∧ r′ + Ω ∧ Ω ∧ r′ + 2 Ω#» #»′
a = A + a′ + α ∧v
Podemos agora escrever a expressão mais geral para análise dinâmica em um referencial em
Roto-Translação:

#» #» #» ∧ r#»′ − m Ω
F − mA − m α
#»  #» #»′  #» #» #»
∧ Ω ∧ r − 2m Ω ∧ v ′ = m a′

Essas forças que são efeitos do referencial acelerado são denominadas Forcas de Inércia ou
Força Fictı́cias :

Forças em Referenciais Girantes


Força de Euler :
#» #» ∧ r#»′
F eul = −m α
Força Centrı́fuga :
#» #»  #» #»′ 
F cf g = −m Ω ∧ Ω ∧ v
Força de Coriolis :
#» #» #»
F cor = −2m Ω ∧ v ′

5 Movimento nas Proximidades da Superfı́cie da Terra


#» , e aprox-
A velocidade angular de rotação da Terra em torno do seu eixo, representada por ω
imadamente constante. Por isso, nos estudos de movimentos de uma partı́cula em relação a

um referencial fixo na da superfı́cie da Terra, a força inercial que depende de ddtω pode ser

desconsiderada. Assim, será sempre adotada ddtω = 0 nos desenvolvimentos que se seguem, ou
seja, desprezaremos o efeito rotativo de Euler .

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Podemos escrever a segunda lei de newton para um referencial fixo na Terra:
#» #» #» ∧ r#»′ )]
m a′ = T + m[ #» #» ∧ ( ω
g −ω

onde T representa uma força newtoniana de origem não gravitacional.A partir da equação
acima podemos obter o o peso aparente de um corpo devido à rotação terrestre :

Considerando apenas a força gravitacional e centrı́fuga podemos analisar que a força que atua
sob um corpo fixo na superfı́cie terrestre em rotação é :
#» #» #» #» ∧ r#»′ )
F ′ = −mg k − ω ∧ (ω
Considerando que R = r′ e que o vetor rotação terrestre em função da latitude λ pode ser
#» = −ω sin λ #» #»
escrito como ω i + ω cos λ k :
#» #» #»
F ′ = mω 2 R sin λ cos λ i + (mω 2 R sin2 λ − mg) k
Obtendo o módulo dessa força no referencial girante da Terra otermos a expressão para o Peso
Aparente ou Efetivo de um corpo:
p
Pap = m (g − ω 2 R sin2 λ)2 + (ω 2 R sin λ cos λ)2

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