Você está na página 1de 20

INFORMATIVO TÉCNICO Nº8

DEZEMBRO 2017

Sustentabilidade
no uso das emulsões asfálticas
COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA

ENGENHARIA
COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA
DEZEMBRO 2017
8
INFORMATIVO TÉCNICO Nº

Sustentabilidade
no uso das emulsões asfálticas
Sumário
Apresentação 3

Introdução 5

Emulsões asfálticas 6

Itens sustentáveis no uso das emulsões asfálticas 6

Energia 6

Segurança, meio ambiente e saúde (SMS) 8

Meio ambiente 8

Segurança e saúde ocupacional 9

Execução 9

Reciclagem 11

Versatilidade 15

Bibliografia 19
Apresentação

A Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Asfal-


tos (ABEDA), entidade que reúne em sua organização a maioria das
empresas distribuidoras de asfaltos e fabricantes de emulsões as-
fálticas, asfaltos especiais e indústrias do setor de impermeabiliza-
ção do mercado brasileiro, vem atuando com presença marcante na
organização e no desenvolvimento técnico do setor, investindo em
estudos, pesquisas, tecnologias e diferentes projetos de qualificação
e capacitação de profissionais do setor com o objetivo de estimular o
crescimento da infraestrutura rodoviária e o desenvolvimento socioe-
conômico do país.
O Comitê Técnico de Pavimentação da ABEDA, ciente das di-
ficuldades e necessidades do setor, vem elaborando uma série de
publicações com informações sobre produtos asfálticos e técnicas de
aplicação.
Neste oitavo Informativo Técnico apresentamos interessantes con-
siderações relacionadas com o uso das emulsões asfálticas no que
tange à questão de sustentabilidade, reforçando os diversos benefí-
cios do uso desses produtos no processo de pavimentação asfáltica.
A ABEDA agradece em especial a contribuição dos engenheiros
Agnaldo Banin Agostinho, Emerson Simoso, Rômulo Constantino,
Luiz Henrique Teixeira, Renato Darim, Gerson da Silva Pereira e Rafa-
el Marçal Martins de Reis, integrantes de seu Comitê Técnico de Pa-
vimentação, que trabalharam na elaboração do presente informativo.
Para mais informações, sugestões e contribuições, acesse o site
da ABEDA: www.abeda.org.br

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 3
Introdução

Em 1987, um importante documento publicado pela Comissão Mundial sobre o Meio


Ambiente e Desenvolvimento ganhou notoriedade mundial. Intitulado “Relatório Brundtland”
[1], este documento aponta para a incompatibilidade entre desenvolvimento sustentável e
os padrões de produção e consumo vigentes. Neste documento, o desenvolvimento susten-
tável é conceituado como:

O desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes,


sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
suprir suas próprias necessidades.

A partir de então, o conceito de sustentabilidade tem ganhado força no planejamento


das atividades fabris em todo o mundo. Com relação ao processo de pavimentação não
seria diferente: diversas alternativas sustentáveis foram desenvolvidas para minimizar os
impactos negativos do processo.

Miller e Bahia [2] definiram o conceito de pavimentação sustentável, abrangendo todo


o processo de construção rodoviária, como “aquele que minimiza os impactos ambientais
através da redução associada do consumo de energia, recursos naturais e emissões, cum-
prindo todas as condições de desempenho e padrões de qualidade". Dentro deste contexto,
as emulsões asfálticas se apresentam como uma excelente alternativa para construção de
diversos tipos de pavimentos asfálticos, contemplando vários benefícios relacionados ao
processo de pavimentação sustentável, que serão apresentados nos capítulos a seguir.

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 5
1. Emulsões asfálticas

As emulsões asfálticas têm sido aplicadas na manutenção rodoviária há mais de um


século, sendo as primeiras utilizações como supressor de poeira em 1903. Com o avanço
da tecnologia das emulsões, cresceram também a quantidade de aplicações e técnicas de
pavimentação asfáltica que fazem uso de importante insumo, sendo que atualmente emul-
sões asfálticas são universalmente utilizadas na construção e manutenção de pavimentos. O
desenvolvimento tecnológico das emulsões não resultou somente em novas alternativas de
técnicas de pavimentação, mas também reduziu o impacto ambiental no processo de cons-
trução, apoiando o progresso em direção ao desenvolvimento sustentável.

2. Itens sustentáveis no uso das emulsões asfálticas

2.1. Energia

As empresas associadas da ABEDA estão cientes da estratégia de um desenvolvimento


sustentável para as soluções de pavimentos rodoviários e desejam contribuir com esse esfor-
ço coletivo.

As técnicas de pavimentação a frio, ou seja, à base de emulsões asfálticas, são as mais


adequadas à conservação de energia, uma vez que estão associadas a aplicações em baixas
temperaturas e contribuem com baixos níveis de emissões, quando comparadas com as apli-
cações de misturas a quente, como observado nas Figuras 1 e 2.

Energia consumida

277
300

250
Energia (MJ/t)

200

150

100 36
50

0
Mistura a quente (160ºC, Mistura a frio
3% ligante asfáltico)

Figura 1. Comparativo de demanda energética entre a produção de uma


mistura a quente e uma mistura a frio [3]

6 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


Emissão de dióxido de carbono (CO2)

21
25
Emissão CO2 (kg/t)

20

15

10
3
5

0
Mistura a quente (160ºC, Mistura a frio
3% ligante asfáltico)

Figura 2. Comparativo de emissão de gás carbônico (CO2) entre a produção de uma


mistura a quente e uma mistura a frio [3]

Convém lembrar que na execução de um pavimento asfáltico é a fase de mistura que gera
a maior quantidade de emissões de gases do efeito estufa, representando 54% do total. A
produção de matéria-prima representa 43% das emissões totais.

A redução dos requisitos de energia associados aos pavimentos de asfalto flexíveis apre-
senta resultados mutuamente benéficos, onde a economia de custo para o produtor é acom-
panhada por um impacto negativo reduzido no meio ambiente.

A implementação de inúmeras técnicas de modificação de asfaltos e emulsões asfálticas


contribui para o aumento da durabilidade dos pavimentos, o que já sugere a salvaguarda do
meio ambiente.

Técnicas de misturas asfálticas são analisadas constantemente em nossos laboratórios


de pesquisa, envolvendo as emulsões asfálticas para tratamentos superficiais, misturas e
reciclagem de pavimentos, sempre em busca dos melhores cenários que exerçam o menor
impacto ao meio ambiente e o baixo consumo de energia, buscando gerar um pavimento o
mais ecológico possível e com sustentabilidade.

As técnicas de pavimentação utilizando emulsões asfálticas catiônicas, sejam para mis-


turas ou reciclagem, são as menos poluentes e que menos contribuem para o efeito estufa,
conforme observado na Figura 3. Observa-se também que os pavimentos rígidos, construídos
a partir do concreto de cimento Portland provocam uma emissão muito maior de CO2 e um
gasto energético extremamente elevado, devido às demandas energéticas requeridas no pro-
cesso de fabricação do cimento.

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 7
1.856
1.600
1.400
1.200
1.000
683
800
600
400 165 138
46 8
200
0
Concreto asfáltico a Pavimento rígido Reciclagem a frio
quente (concreto) in situ com
emulsão asfáltica

Emissão CO2 (kg/t) Energia consumida (MJ/t)

Figura 3. Comparativo de demanda energética e emissões para a produção de um


concreto asfáltico, concreto de cimento Portland e reciclagem a frio [3]

2.2. Segurança, meio ambiente e saúde (SMS)

Os requisitos gerais de segurança, meio ambiente e saúde constam como exigências no


intuito de definir os deveres e as responsabilidades cabíveis às empresas e estabelecer as
orientações e procedimentos concernentes às atividades de segurança, saúde e meio ambien-
te que devem ser cumpridas com o objetivo de proteger pessoas, equipamentos e instalações,
bem como promover a preservação do meio ambiente e a aptidão ao trabalho dos seus cola-
boradores, em decorrência da execução dos serviços ora contratados.

O Manual de requisitos MRS [4] refere-se a informações e documentos ao preenchimento


das necessidades inerentes às ações de SMS (REQUISITOS DE MEIO AMBIENTE, SAÚDE
OCUPACIONAL E SEGURANÇA DO TRABALHO PARA CONTRATADAS).

Na diretriz organizacional do Manual MRS há duas considerações:

a) Meio ambiente

“A contratada deve assegurar que qualquer pessoa que, para ela ou em nome dela, rea-
lize tarefas que possam causar impactos ambientais significativos deve estar consciente da
importância de trabalharem em conformidade com a política de meio ambiente, saúde e segu-
rança e seus requisitos. Verificando também os requisitos legais aplicáveis, requisitos ou pro-
cedimentos operacionais, com a melhoria do desempenho pessoal, de modo a buscar a pre-
venção da poluição e a melhoria do desempenho ambiental” (2010, DO-MRS-0003/00.00).

8 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


b) Segurança e saúde ocupacional

“A contratada deve assegurar que qualquer pessoa que, para ela ou em nome dela,
rea­lize tarefas que possam causar danos significativos à segurança e saúde, deve estar
consciente da importância de trabalharem em conformidade com a política de meio ambien-
te, saúde e segurança e seus requisitos. Verificando também os requisitos legais aplicáveis,
requisitos ou procedimentos operacionais, com a melhoria do desempenho pessoal, de
modo a buscar a prevenção de acidentes e incidentes e a melhoria do desempenho” (2010,
DO-MRS-0003/00.00).

Para atender às necessidades inerentes às ações de SMS, as empresas produtoras de


emulsões asfálticas fornecem como documento a ficha de segurança de produto químico
(FISPQ) referente à toxicologia, saúde e ao meio ambiente, onde constam informações para o
preenchimento dos requisitos necessários aos programas de Prevenção de Riscos Ambientais
– PPRA e de Controle Médico e Saúde Ocupacional – PCMSO.

De forma geral, os riscos envolvendo as operações no processo de pavimentação com


as emulsões asfálticas são minimizados, quando comparados com os riscos nas operações
utilizando um ligante asfáltico aquecido. Dentre eles, podemos destacar:

 Menor exposição dos colaboradores envolvidos aos riscos de acidentes (queimaduras


graves), durante o transporte e utilização do produto;

 Devido à menor emissão de gases, os perigos envolvendo a inalação de odores também


são minimizados;

 Por se tratar de um produto à base de água, os riscos de incêndio relacionados com o


aquecimento são mínimos.

2.3. Execução

O asfalto é sinônimo de progresso e representa o desenvolvimento socioeconômico de


um país. Encurta distâncias, movimenta a cadeia produtiva nacional, facilita o escoamento
da produção do pequeno, médio e grande produtor, seja na pecuária, agricultura, indústria de
bens e serviços, entre outros. Além disso, ele democratiza e viabiliza o acesso de qualquer
cidadão aos serviços de saúde, educação, lazer e transporte com muito mais dinamismo,
conforto e rapidez, promovendo uma melhor qualidade de vida.

Muitas cidades brasileiras têm situação econômica precária, sistemas de tratamento de


esgoto ineficiente, muitas vezes a céu aberto. Muitos problemas de poeira, causando doenças
respiratórias, estradas de terra que em dias chuvosos impedem a chegada do ônibus urbano,
atrasos no percurso ao trabalho, crianças com dificuldades de chegar à escola, enfim, nossa
engenharia rodoviária pode auxiliar trazendo técnicas de baixo custo na pavimentação, tor-
nando possível às prefeituras com dificuldades financeiras pavimentar suas ruas sem grande

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 9
necessidade de equipamentos sofisticados, utilizando materiais disponíveis na região e equipe
de trabalhadores da própria municipalidade. Técnicas simples desde uma aplicação antipó,
um tratamento superficial simples ou pré-misturado a frio são alternativas de baixo custo e
fácil aplicação e manutenção.

Dentro deste contexto, as emulsões asfálticas possibilitam a execução de muitos serviços


in loco, ou seja, não necessitam de usinas de concreto asfáltico, evitando custos de transporte
de materiais. Outra grande vantagem no uso de emulsões é o aproveitamento de materiais da
região da obra, como cascalhos, agregados britados, seixos rolados, escórias etc. São várias
técnicas para utilização de emulsão asfáltica in loco, seguem algumas delas:

 Imprimação com emulsão asfáltica de imprimação (EAI): emulsão especial com baixa vis-
cosidade e não precisa de aquecimento. Após compactação e finalização da base, a EAI
é aplicada com uma taxa média de 1,1 l/m². Esta imprimação serve como camada antipó
ou camada impermeabilizante para receber a base do pavimento, impedindo a entrada
de água na base, o que desestabilizaria a capacidade estrutural. A emulsão EAI pode ser
considerada como o substituto sustentável do asfalto diluído de petróleo (CM-30), utiliza-
do no Brasil há décadas. Uma pesquisa australiana [5] observou que os asfaltos diluídos
utilizados no serviço de imprimação emitem quase 7,5 vezes mais compostos orgânicos
não voláteis (excluindo o metano) para o meio ambiente, comparado com a mesma apli-
cação com emulsão asfáltica.

 Tratamento superficial: este é o pavimento mais econômico possível, com excelentes pro-
priedades de flexibilidade. Pode ser usado em novas rodovias, sobre pavimentos envelhe-
cidos, para melhoria da segurança (rugosidade), recomposição da superfície de rolamen-
to, camada de bloqueio ou camada de aderência. Também conhecido como “sanduíche”,
pode ser feito com espargidores, onde se aplica um banho de emulsão asfáltica RR-2C
e em seguida o espalhamento de agregados com equipamento de distribuição. Depois
este pavimento é rolado, fazendo correções pontuais de taxas. Este procedimento pode
ser repetido várias vezes. O custo dos equipamentos é baixo devido à alta produtividade
e necessidade de poucos equipamentos. O custo do pavimento também é baixo devido à
reduzida quantidade de material por m².

 Macadame betuminoso: excelente serviço para locais de tráfego pesado. Consiste em


uma aplicação de agregados, com taxas definidas e aplicação de emulsão RR-2C. Uti-
lizam-se os mesmos equipamentos usados para tratamento superficial. A manutenção
tanto dos serviços como dos equipamentos é fácil, rápida e econômica.

 Microrrevestimento asfáltico: trata-se de uma usina móvel que utiliza um caminhão com
equipamentos de mistura dos agregados com emulsão asfáltica, dosagem e espalhamento
sobre o pavimento ou sobre a base. A alta produtividade e o baixo custo são os principais
benefícios da técnica para a manutenção de rodovias.

 Pré-misturado a frio (PMF): pode ser feito em usina de solos, usina de PMF ou até mesmo
em betoneiras. Não necessita de aquecimentos e pode ser feito no local da obra. O ser-

10 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


viço de manutenção é simples e os investimentos são mínimos. Excelente material para
pavimentação de ruas, loteamentos, estacionamentos etc.

 Estabilização de solos com emulsão asfáltica: a estabilização de solos com emulsão asfál-
tica é o produto resultante da mistura de solos no local com equipamentos apropriados,
espalhada e compactada a frio. Esse processo permite melhorar as propriedades do solo
(estabilidade, resistência, deformabilidade, permeabilidade, textura etc.). A estabilização
aumenta a resistência e durabilidade do solo, adequando-o às cargas e esforços induzidos
pelo tráfego. A técnica é uma excelente alternativa para a ligação entre áreas rurais e ur-
banas. É ambientalmente sustentável, pois preserva os recursos naturais (utiliza materiais
locais), além de apresentar baixo custo de execução/manutenção e de conservação de
energia (não há necessidade de aquecimento dos materiais).

2.4. Reciclagem

Dentre as técnicas de pavimentação rodoviária, destaca-se a reciclagem a frio com emul-


são asfáltica. Essa tecnologia de reciclagem trouxe ganhos para o setor de pavimentação,
além de propiciar um processo de aplicação mais sustentável. Isso porque, ao aproveitar inte-
gralmente a camada de pavimento existente, recuperando-a, sem a necessidade de empregar
mais agregados, a tecnologia permite que haja, ao mesmo tempo, menor uso de derivados de
petróleo e prolongamento da vida útil daquele pavimento já envelhecido, devolvendo qualida-
de e segurança ao tráfego.

O tema reciclagem ganhou bastante importância no Brasil na década de 1990, quando


vários setores da sociedade passaram a debater temas como a preservação de florestas,
aquecimento global, emissão de gases poluentes na atmosfera. No que diz respeito ao asfalto,
o processo não só representa um avanço no reaproveitamento de insumos, como também
agrega valor tecnológico para a indústria como um todo.

A reciclagem de pavimentos é uma técnica de reabilitação rodoviária que consiste em


reutilizar materiais existentes triturados mais adição de agentes rejuvenescedores e/ou ligantes
asfálticos novos, ou ainda com incorporação de agregado para correção granulométrica, de es-
puma de asfalto, de emulsões asfálticas e até de cimento Portland ou outro aditivo químico [6].

Segundo a ARRA (Asphalt Recycling and Reclaiming Association) [7], a reciclagem de


pavimentos não é considerada uma técnica nova. Existem relatos do uso de reciclagem a frio
na década de 1900, já o primeiro caso documentado de reciclagem a quente in situ data da
década de 1930. Porém, foi apenas na década de 1970 que houve um grande avanço nesta
tecnologia, isto devido à crise do petróleo e ao desenvolvimento em larga escala de equipa-
mentos de fresagem. Desde então, os métodos e equipamentos envolvidos na reciclagem se
desenvolveram exponencialmente.

No Brasil, a primeira obra de reciclagem com emulsão asfáltica foi feita em 1991, na BR-
393, no trecho Três Rios-Além Paraíba. Para a obra foi desenvolvida, pela empresa Probitec,

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 11
a emulsão catiônica para reciclagem PR-7C. Mais tarde essa solução técnica foi estendida
para vários trechos do pavimento da Rio-Juiz de Fora (BR-040) e da pista antiga da Via Lagos
(RJ-124), ambas já sob o regime de concessão.

A tecnologia empregada foi a reciclagem profunda de pavimento, a frio e in situ. Para


este tipo de reciclagem, o único material novo empregado foi a emulsão asfáltica, com total
reaproveitamento do concreto asfáltico (CAUQ) existente.

A reciclagem profunda é um processo onde tanto a camada de revestimento asfáltico


quanto a camada de base (por vezes sub-base) são tratadas simultaneamente para se pro-
duzir uma nova camada para a estrutura do pavimento. Eventualmente pode-se realizar uma
correção granulométrica através da adição de agregados virgens à mistura.

Essa técnica é utilizada para restabelecer a capacidade estrutural de pavimentos deterio-


rados e consiste em transformar o pavimento degradado numa estrutura homogênea, estável
e com capacidade estrutural compatível com o tráfego que deverá suportar.

O processo de reciclagem profunda se dá pela trituração e homogeneização dos materiais


existentes no pavimento, com a incorporação de emulsão asfáltica ou outros aditivos (cimen-
to, asfalto-espuma), através de uma máquina fresadora/recicladora específica, com posterior
compactação e nivelamento do material reciclado. Este método é realizado por equipamentos
de grande porte (Wirtgen WR 2500S, por exemplo), que possibilitam triturar o pavimento a
profundidades de 8 a 30 cm. A Figura 4 apresenta a máquina fresadora/recicladora para a
reciclagem profunda.

Figura 4. Máquina fresadora/recicladora para reciclagem profunda de pavimentos

12 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


As principais etapas do processo de reciclagem com emulsão asfáltica são as seguintes:

 Estudo prévio da espessura do estado de envelhecimento do ligante asfáltico e do seu teor


ao longo do trecho a ser reciclado;

 Formulação da emulsão asfáltica de tal forma a adicionar determinada quantidade de


ligante asfáltico novo e suficiente para recuperar a qualidade do pavimento envelhecido;

 Fresagem da pista na espessura predeterminada e, ao mesmo tempo, adição ao longo


da rodovia da emulsão asfáltica na quantidade projetada, para a mistura com o material
fresado. Na sequência a mistura deve ser espalhada pelo equipamento e compactada de
imediato.

Entre as principais vantagens ocasionadas pela reciclagem profunda com emulsão asfálti-
ca pode-se citar a possibilidade de se tratar grande parte dos defeitos e melhorar significati-
vamente a capacidade estrutural do pavimento, conciliando custos mínimos com transporte e
reduzido tempo de interdição. A técnica apresenta outras vantagens operacionais, tais como:

 Eliminação da exploração de jazidas de novos materiais preservando o meio ambiente;

 Eliminação de operações de escavação, carga e transporte de materiais na jazida ou na


pista a ser restaurada;

 Aproveitamento total dos materiais do pavimento existente sem criar depósitos de mate-
riais removidos;

 Eliminação da necessidade de instalação de equipamentos para beneficiamento de mate-


riais (britadores);

 Processo de alta produtividade, não poluente e que não necessita de energia de aqueci-
mento dos materiais;

 Possibilita executar camadas com espessuras e dosagens diferenciadas para cada seção
da via, de acordo com sua necessidade específica;

 Geração de uma camada de base negra (de menor espessura em relação à reciclagem
com cimento e resistente à reflexão de trincas) com ótimas características estruturais,
possibilitando economia no dimensionamento de eventuais novas camadas;

 Mínima alteração do perfil original da via não havendo necessidade de modificações no


projeto geométrico e de drenagem;

 Mínima perturbação ao tráfego local em função do pequeno número de equipamentos


envolvidos. Imediatamente após a realização dos serviços, a via poderá ser reaberta ao
tráfego.

A reciclagem a frio também pode ser executada com um equipamento específico, capaz
de realizar vários processos simultaneamente, como a fresagem do revestimento, classifica-

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 13
ção dos materiais, britagem, dosagem, mistura e espalhamento da mistura reciclada a frio.
A Figura 5 apresenta o conjunto de equipamentos empregados para a execução da técnica.

Figura 5. Equipamento utilizado na reciclagem a frio in situ de revestimento [8]

Em termos de demanda energética, a reciclagem a frio é a técnica que proporciona menor


consumo de energia em todas as etapas do processo construtivo (aquecimento do ligante e
agregado, produção da mistura, transporte e aplicação), quando comparada com outras téc-
nicas de concreto asfáltico a quente, conforme observado na Figura 6.

1.600

900
Consumo de energia no processo (MJ/t)

800
Aplicação
700
Transporte
600
Produção
500
Agregado
400
Ligante
300

200

100

0
Concreto asfáltico a Concreto asfáltico Concreto asfáltico Reciclagem a frio com
quente com 30% RAP alto módulo convencional emulsão asfáltica

Figura 6. Comparativo de demanda energética entre diversos tipos de misturas


a quente e a reciclagem a frio com emulsão asfáltica [1]

14 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


2.5. Versatilidade

Entre vários fatores, a inclusão da emulsão asfáltica no portfólio de produtos asfálticos


gerou inovações na cadeia produtiva rodoviária, que culminaram na:

 Simplificação dos processos de produção de asfaltos alinhado às novas técnicas de pavimen-


tação, citando os serviços de pré-misturado a frio (PMF); tratamentos superficiais (TS), lama
asfáltica (LA); microrrevestimento asfáltico a frio (MRAF) e reciclagem a frio (RCF).

 Possibilidade de redução de custos e investimentos em todas as etapas, desde projetos


de produção e estocagem; logístico e em equipamentos de usinagem e aplicação.

 Redução de consumo energético em todas as etapas, melhorando, portanto, parâmetros


ligados a SMS (segurança, meio ambiente e saúde);

 Otimização do custo de aquisição versus desempenho como pavimento, entregando ao


cliente final, pavimentos de baixo custo, e de bom desempenho, possibilitando o emprego
das técnicas em 90% dos municípios brasileiros e/ou dependendo da técnica, aplicá-la
em rodovias de alto tráfego, com o objetivo de rejuvenescimento funcional de pavimentos.

Neste sentido, as emulsões asfálticas tornaram-se uma alternativa versátil frente aos
tipos de produtos asfálticos a quente existentes, possibilitando o desenvolvimento de novas
técnicas de serviços de pavimentação, citando que no passado eram empregados CAP de
maior penetração (CAP 85/100 ou CAP 150/200), porém obrigatoriamente deveriam ser
aquecidos, para obtenção de menores viscosidades, e assim possibilitar apenas seu uso em
serviços de macadame betuminoso e tratamentos superficiais. Além destas técnicas, com
o desenvolvimento das emulsões asfálticas, incluíram-se novas técnicas como: pintura de
ligação (PL); pré-misturado a frio (PMF); lama asfáltica (LA e LARC); microrrevestimento
asfáltico a frio (MRAF) e emulsão de imprimação (EAI).

Sua versatilidade, além de verificada e comprovada nos processos de produção, pode


ser evidenciada quando analisada em função da técnica de serviços de pavimentação a ser
empregada, citando:

Misturas asfálticas, tipo pré-misturado a frio (PMF)

A facilidade em instalar e operar equipamentos e sistemas de usinagem quando em-


pregando emulsões asfálticas possibilita ao empreiteiro de obras de pavimentação manejar
seus processos de produção e logística de obra de forma altamente produtiva a baixo custo,
fazendo com que o uso das emulsões se popularizasse em função da facilidade de manuseio
e produção in loco.

No caso de aplicação da técnica de pré-misturado a frio (PMF), o emprego de emulsão


asfáltica do tipo ruptura lenta (RL) ou ruptura média (RM) possibilita a usinagem de misturas
asfálticas de alta qualidade para uso e aplicações em bases negras e/ou revestimentos asfál-

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 15
ticos. No caso específico da emulsão RL, pode se produzir misturas com faixas “densas” e
“semidensas”, podendo até mesmo ser estocadas, garantindo-se a qualidade e trabalhabili-
dade da mistura. No caso da emulsão RM, pode ser largamente empregada na produção de
misturas “semidensas” e “abertas” para uso em bases negras, e principalmente em operações
de tapa buraco.

Tratamento superficial (TS)

A execução desta técnica de pavimentação empregando emulsão asfáltica tipo ruptu-


ra rápida (RR) estabeleceu um avanço tecnológico na execução da técnica. Anteriormente,
utilizava-se CAP 150/200 e posteriormente o CAP 85/100, produtos estes que atingiam sua
viscosidade de aplicação a altas temperaturas (165ºC ou mais), e que por descuido costumei-
ramente superava a temperatura limite de 177ºC, podendo oxidar prematuramente o ligante
asfáltico.

Sua substituição por emulsões de ruptura rápida, normalmente o RR-2C ou RR2C-E,


possibilitou atingir tal ponto a temperaturas próximas a 60ºC, proporcionando desta forma
maior versatilidade, além de segurança e desempenho. Quando da utilização de CAP para
esse serviço, o aquecimento era necessário, em tanque(s) auxiliar(es) dotado(s), além de re-
vestimento térmico, serpentina e tubulações externas de óleo térmico, de todos os periféricos
como: maçarico/queimador, gerador, compressor etc., até atingir aproximadamente 150°C.
Após aquecimento do CAP, este era transferido para o caminhão espargidor, necessitando
cuidados relacionados a SMS e manutenção da temperatura para aplicação.

Microrrevestimento asfáltico a frio (MRAF)

Com a evolução das emulsões asfálticas elastoméricas (EAE), proporcionou-se também


a evolução de técnicas de pavimentação, e, assim, devemos mencionar o microrrevestimento
asfáltico a frio (MRAF), cuja técnica demonstra o ponto máximo de versatilidade no emprego
de emulsões.

As emulsões elastoméricas do tipo RC1C-E empregam alta tecnologia, através de emul-


sificantes e polímeros especiais, que, em acordo aos projetos de dosagem, garantem tempo
de mistura adequado, coesão, resistência aos desgastes e, portanto, alto desempenho. A
aplicação em acordo às especificações vigentes garante proteção ao substrato asfáltico exis-
tente, elevando a vida de projetos deste, bem como melhorias nas condições funcionais do
revestimento asfáltico (IRI, melhoria coeficiente de atrito, IGG etc.). As Figuras 7(a) e 7(b)
ilustram a técnica de aplicação do MRAF.

16 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


Figura 7(a). Aplicação do MRAF em rodovia

Figura 7(b) – Aplicação do MRAF em via urbana

Em suma, as alternativas para realização de intervenções e manutenções no revestimento


asfáltico foram ampliadas de forma significativa, proporcionadas incondicionalmente pelo em-
prego das emulsões, citando como exemplo a lama asfáltica, altamente aplicada nas décadas
de 70 e 80, e nos anos 2000, com desenvolvimento do microrrevestimento asfáltico a frio
(MRAF), tornaram-se operações consolidadas na conservação de nossa malha viária mundial.
Com menor intensidade, mas não menos importantes, a técnica antipó (AP) e areia asfalto
a frio (AAF), começaram empregadas em locais onde a convivência com a poeira fazia parte
do dia a dia.

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 17
3. Considerações finais

Atualmente, a crescente tendência global em relação aos princípios e práticas de desen-


volvimento sustentável proporcionará desafios cada vez maiores para a construção e manu-
tenção de estradas no futuro. As características inerentes das emulsões asfálticas relaciona-
das com a baixa emissão de gases do efeito estufa, menor consumo energético no processo
de pavimentação, além da alternativa de utilização de materiais recicláveis apoiam os objeti-
vos de sustentabilidade, melhorando a utilização de recursos não renováveis para ampliar a
vida útil dos pavimentos asfálticos.

18 COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA


Bibliografia
[1] USIRF – Routes de France – Bitumen Emulsions – Cap 4 – Part 1 Emulsions and the
Environment – France, 2008.

[2] Miller, T. D.; Bahia, H. U. Sustainable Asphalt Pavementes: Technologies, Knowlwdge


Gaps and Opportunities. University of Wisconsin-Madison, 2009.

[3] Bouteiller, Étienne le. Asphalt Emulsions for Sustainable Pavements. Compendium of
Papers from the First International Conference on Pavement Preservation, Boulogne
Billancourt Cedex, France, 2010.

[4] Requisitos de meio ambiente, saúde ocupacional e segurança do trabalho para em-
presas contratadas. Site da empresa MRS Logística https://www.mrs.com.br/relaco-
escomfornecedores/requisitos.pdf, visitado dia 30/10/2017 ás 16:00h.

[5] Environmental Assessment of Emulsions, Austroads Report AP-R153 2000

[6] Bernucci, B. B; Motta, L. M. G.; Ceratti, J. A. P.; Soares; J. B. Pavimentação Asfálti-


ca: Formação básica para Engenheiros. ABEDA, 2009.

[7] Asphalt Recycling and Reclaiming Association (ARRA, 2001). Basic Asphalt
Recycling Manual. Annapolis, Maryland, 2001.

[8] Site empresa Brown Brown: http://www.brownbrown.com.br/site/ visitado dia


30/10/2017 ás 15:58h

INFORMATIVO TÉCNICO Nº 8 19
INFORMATIVO TÉCNICO Nº8
DEZEMBRO 2017

Sustentabilidade
no uso das emulsões asfálticas
COMITÊ TÉCNICO DA ABEDA

ENGENHARIA

Você também pode gostar