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Educação & Sociedade

Print version ISSN 0101-7330


Educ. Soc. vol. 19 n. 62 Campinas Apr. 1998

http://dx.doi.org/10.1590/S0101-73301998000100002
Trajetórias sociais e formas identitárias: alguns esclarecimentos
conceituais e metodológicos*

Claude Dubar**

RESUMO: A análise das trajetórias sociais defronta-se com a questão da


articulação de dois aspectos do processo biográfico. A "trajetória objetiva"
é definida como seqüência das posições sociais ocupadas durante a vida,
medida por categorias estatísticas e condensada numa tendência geral
(ascendente, descendente, estável etc.); em contraste, a "trajetória
subjetiva" é expressa em diversos relatos biográficos, por meio de
categorias inerentes remetendo a "mundos sociais" e condensável em
formas identitárias heterogêneas. Confrontar ambas as análises toma toda
sua importância ao se tentar apreender identidades sociais como
processos ao mesmo tempo biográficos e institucionais. Será o conceito de
configuração, defendido por Elias, de algum auxílio para combinarmos
processos biográficos típicos, oriundos de relatos subjetivos, com
percursos objetivados por meio de categorias estatísticas?

Palavras-chave: Trajetórias sociais, biografia, mobilidade, narrativas de


vida

Este texto almeja distinguir e, a seguir, pôr em paralelo os dois modos de


se considerar qualquer trajetória individual: objetivamente, como uma
"seqüência de posições" num ou mais campos da prática social, e
subjetivamente, como uma "história pessoal" cujo relato atualiza visões
de si e do mundo. Não raro, ambos os pontos de vista interferem nos usos
múltiplos da noção de identidade. Esclarecer os diversos sentidos deste
termo será, aqui, diretamente relacionado à explicitação dos métodos de
análise subjacentes aos usos empíricos da noção de identidade. Isso
resulta em duas maneiras muito diferentes de se analisar trajetórias
individuais, em função do que se entende por este termo.

O ponto de vista aqui apresentado defende que igual importância seja


dada às categorias institucionais, determinando "posições objetivas"
(escolares, profissionais...), e às categorias de linguagem utilizadas por
indivíduos em situação de entrevista de pesquisa. Para o sociólogo, tomar
a sério falas sobre si mesmo vindo de um sujeito incitado "a se narrar" e
entrando num diálogo particular, verdadeiro "exercício espiritual"
(Bourdieu 1993), com um pesquisador capacitado para escutar, talvez
constitua uma condição sine qua non para um uso sociológico da noção de
identidade.
Apresentação do problema: As duas faces dos processos identitários

O artigo de Jean-Claude Kaufman (1994), mencionando em várias


oportunidades meu livro sobre La Socialisation (1991), permite-me
retomar uma questão central em qualquer análise sociológica de
trajetórias individuais. Quero falar da distinção entre dois universos de
sentido vinculados à palavra "identidade" nas ciências sociais. O primeiro
que Kaufman nos propõe chamar de processo identitário individual é,
geralmente, apreendido a partir de produções de linguagem do tipo
"biográfico" e diz respeito às diversas maneiras pelas quais indivíduos
tentam dar conta de suas trajetórias (familiares, escolares,
profissionais...) por meio de uma "história", no intuito, por exemplo, de
justificar sua "posição" em dado momento e, às vezes, antecipar seus
possíveis futuros. Na medida em que o que está mesmo em jogo aqui é a
(re)construção subjetiva de uma definição de si, eu mesmo propusera
chamar este processo, condensado em poucas fórmulas, de "identidade
biográfica" ou, ainda, de "identidade para si". O segundo diz respeito ao
que Kaufman chama de quadros sociais da identificação, ou, ainda,
quadros de socialização e envolve as categorias utilizadas para identificar
um indivíduo num dado espaço social (o que eu mesmo chamei de
"identidade estrutural" ou "identidade para outrem"), as categorias do
discurso do indivíduo definindo-se do ponto de vista de outrem (quer este
outrem seja "significativo" e personalizado, quer seja "generalizado" e
institucional) inclusive. Na linha de G-H Mead (1993), Kaufman propõe
que voltemos ao termo de "papel" para designar este aspecto da
identidade.

O modo de pensar e tornar operacional esta distinção entre "identidade


pessoal" (o que sou/gostaria de ser) e "identificação social" (como sou
definido/o que dizem que sou) dá margem a múltiplos desdobramentos e
permite caracterizar, de modo bastante grosseiro, não apenas as grandes
teorias da socialização na literatura das ciências sociais (Dubar 1991)
como também as concepções correntes, subjacentes aos discursos
comuns, que, às vezes, constituem uma espécie de vulgarização das
primeiras. Duas orientações se opõem: uma, chamada por alguns de
"psicologizante", mas que prefiro chamar de essencialista, fundada no
postulado da realidade de um self (ou de um ego, ou de um eu...) como
realidade "substancialista", permanente e autônoma construindo sua
unidade (Abramowski 1987 etc.); e a outra, inversa, às vezes chamada de
"sociologista", embora eu prefira chamá-la de relativista, que reduz o self
e, portanto, a identidade biográfica a uma "ilusão", ocultando a
pluralidade dos papéis sociais e sua dependência para com a posição
ocupada em cada campo social em particular, e no sistema das classes
sociais em geral (Bourdieu 1986).

Não é simplesmente, nem talvez primeiramente, o estatuto da


individualidade que está em jogo nesta polarização entre dois modos de
se abordar a questão da identidade. É também, e talvez acima de tudo, a
concepção do "social" e a relação estabelecida entre categorização e
identificação. Para os que consideram a identidade como vinculada a uma
"essência individual" - quer se trate de caráter, personalidade ou qualquer
outro traço permanente -, a identificação psíquica precede e orienta a
categorização social: o self, constituído de maneira precoce no jogo das
identificações da primeira infância, condiciona e norteia uma biografia
vivenciada ou interpretada como destino ("torna-ti o que és"). O "social"
emerge, então, como uma espécie de superestrutura, um exterior ou um
ambiente do sujeito, quer este seja o do inconsciente ou o das condutas
socializadas (o pólo "passivo" do ego ou o pólo "ativo" do eu, na
terminologia meadiana). Para os que consideram a identidade biográfica
como uma "ilusão", as categorizações sociais determinam identificações
coletivas que constituem uma matriz de disposições (o habitus em
Bourdieu), condicionando o acesso a posições sociais e o cumprimento de
papéis sociais. As categorias sociais, interiorizadas no decorrer do ciclo de
vida (níveis escolares, categorias profissionais, posições culturais...),
constituem o material a partir do qual os indivíduos inventam para si
identidades singulares, para unificar suas existências e tentar fazer valer
sua pretensão em um ou outro campo da prática social. Mas então é a
trajetória social "objetiva", categorizada pelas instituições, que determina
as identificações subjetivas e, conseqüentemente, "a pessoa não existe de
fato fora de seus quadros sociais" (Elias 1991a).

Diante de ambas as posturas, inconciliáveis quanto à questão da


identidade, a história das ciências sociais oferece várias tentativas
conceituais, buscando ultrapassar a oposição entre o essencialismo de
uma identidade pessoal preestabelecida e o relativismo das categorizações
sociais diversas, estruturando identidades biográficas ilusórias. Só
abordarei aqui as que tentaram tal ultrapassagem a partir da vertente
sociológica, isto é, tomando a sério os processos de categorização social
na construção das identidades individuais. De fato, considerar a
identidade de alguém como um processo e não como uma espécie de
estado inicial (e a fortiori como um destino) não implica ipso facto que a
subjetividade das elaborações biográficas (por exemplo, em entrevistas de
pesquisas) deva ser considerada como ilusória nem mesmo "secundária"
em face das determinações sociais objetivas. Inversamente, tomar muito
a sério os modos subjetivos pelo quais indivíduos se narram não significa,
necessariamente, menosprezar o lugar das categorizações "objetivas" nas
construções identitárias pessoais. Entre o ponto de vista "essencialista"
das entidades como "unidades psíquicas coerentes e permanentes" (Mary
Douglas 1990) e o ponto de vista "relativista" das "fórmulas mutáveis
destinadas a se engendrar através dos acontecimentos" (Gofman 1968),
um ponto de vista relacional a respeito dos processos identitários pode ser
encontrado em tradições de pesquisas tão diferentes quanto a abordagem
genética de Piaget, a fenomenologia de Schütz, a escola de Chicago ou a
etnometodologia. Este ponto de vista será, também, encontrado em
certas tentativas mais recentes de desenvolver abordagens longitudinais
de diversos tipos de populações, que procuram integrar as relações entre
a subjetividade dos "relatos de vida" e a imposição das categorizações
institucionais.

É uma posição constante dos sociólogos de Chicago, esta de considerar os


documentos pessoais e, mais particularmente, os materiais biográficos,
como dados sociológicos importantes e suscetíveis de interferir nos
processos sociais mais estruturantes. A noção de identidade elaborada por
Everett Hughes, Howard Becker ou Anselm Strauss almeja, cada qual a
seu modo, articular quadros sociais de identificação (e, essencialmente, as
filières profissionais, estruturando os espaços de trabalho ou as
categorizações dos grupos desviantes) com itinerários individuais,
apreendidos de maneira compreensiva. Ela atribui um lugar privilegiado às
interações sempre suscetíveis de infletir, e até mesmo de "converter" as
identidades anteriores. Ela concede um valor importante aos processos de
negociação, de transação (Strauss 1992) e de compromisso entre as
"definições de situação" (Thomas e Znaniecki 1919) resultando das
interações presentes e dos esquemas culturais (valores e atitudes)
oriundos da socialização passada. Mesmo se essa tradição não legou a
seus sucessores uma "teoria" unificada da identidade, ela produziu
pesquisas muito sugestivas e formalizou eixos de um procedimento
indutivo relativamente operatório (Glaser e Strauss 1967).

Mais recentemente, o fato de levar em conta trajetórias, itinerários e


percursos individuais traduziu-se, na França, por uma abundância de
trabalhos empíricos promissores que, embora não unificados
teoricamente, privilegiam as abordagens longitudinais e se recusam a
favorecer uma das duas posições acima definidas (Coutrot e Dubar 1992).
Esses trabalhos, na sua grande maioria, almejam reconstruir
indutivamente classes de percursos, principalmente no mercado de
trabalho, para aproximá-las das categorias consideradas como mais ou
menos "objetivas" (classes de idades, níveis escolares, categorias
profissionais, setores de atividade, tipo de empresas). Às vezes, eles
tentam também interpretar relatos biográficos de maneira mais
compreensiva, recorrendo a categorias mais "subjetivas". Não raro, eles
buscam relacionar políticas institucionais com práticas de emprego, de
formação, de mobilidade. Algumas destas pesquisas procuram contrapor
"classes de trajetórias biográficas", delimitadas por meio de calendários
de atividade, com "tipos de relatos biográficos", reconstruídos a partir de
dados de entrevistas (Demazière e Dubar 1996). Elas recorrem também à
noção de identidade, embora de forma específica, articulando a análise
das categorizações mais ou menos oficiais ou mais informais com a das
trajetórias interpretadas subjetivamente (Demazière 1992; Pottier 1992).
Essas pesquisas procuram relacionar "trajetórias subjetivas" com "mundos
vividos", organizados em torno de categorias específicas e oriundos da
análise de relatos biográficos, e propõem a noção de "formas identitárias"
(Dubar 1991, 1992; Demazière 1992; Demazière e Dubar 1996). A
seqüência deste texto será dedicada a precisar o sentido desses conceitos
e a traduzi-los em orientações metodológicas.

Trajetórias "objetivas" e "classes de trajetórias típicas"

A primeira grande dificuldade para as abordagens longitudinais consiste


em reagrupar a multiplicidade de itinerários, demarcados a partir de
posições sucessivas, numa variável sintética abrangendo todos os estados
possíveis, num pequeno número de "classes de trajetórias" reunindo os
itinerários considerados semelhantes. Isto se consegue de maneira
indutiva, por meio de uma análise de variância minimizando a dispersão
dentro de cada classe e maximizando a variância interclasses, isto é, a
distância vetorial entre as classes. Com isso, procura-se obter o menor
número possível de classes, reunindo um número máximo de itinerários. A
dificuldade principal consiste em caracterizar as classes assim obtidas e
em conferir-lhes um sentido que não seja puramente nominalista. Desse
modo, a categoria de "estabilização" aplicada a todos os itinerários de
inserção de jovens que, durante os três (Pottier 1992) ou sete (Demazière
e Dubar 1996) primeiros anos após o fim de seus estudos, possuem um
CDII constando apenas um ou dois empregadores não implica que todos
os jovens contemplados se considerem "estabilizados" ou queiram
permanecer "estabilizados" no seu emprego (nem mesmo que recorram a
este termo para "se narrar"). O mesmo acontece com a categoria de
exclusão, freqüentemente utilizada para definir o percurso de jovens não
inseridos que nunca conseguiram um CDI (Demazière e Dubar 1994) ou
de desempregados "contumazes" "desmotivados" que acham não mais
poder encontrar um emprego (Demazière 1992, 1996): ela se baseia
raramente numa explicitação dos sentidos veiculados pelos usos sociais e
políticos que, na maioria das vezes, remetem mais a um estado do que a
um processo (Dubar 1996; Paugham 1996). Diante da falta de análise
qualitativa rigorosa, a adequação da categorização do pesquisador com a
da pessoa em questão resulta, muitas vezes, problemática e o risco é
grande, para o sociólogo, de considerar categorias administrativas ou
termos do debate social como conceitos descritivos, e de, portanto,
confundir "nominação" com "etiquetagem".

A segunda dificuldade, mais temível, é a de ordenar e interpretar as


diversas classes de trajetórias em termos de mobilidade social. Para que
um itinerário de emprego ou um itinerário matrimonial (ou residencial)
possa ser sociologicamente interpretável, é geralmente preciso que os
estados usados para avaliá-lo sejam hierarquizados de modo a podermos
distinguir "trajetórias ascendentes", "descendentes" e "estagnantes".
Trata-se, dessa vez, de um procedimento dedutivo consistindo em
confrontar as classes empíricas obtidas pela tipologia estatística com
trajetórias teóricas resultando de um modelo a priori.

Pode-se utilizar, por exemplo, um modelo simplificado derivado da


hipótese - formulada, entre outros, por Bourdieu (1974) - segundo a qual
é a inclinação da trajetória social que determina o sistema de disposições
(habitus) que estrutura as práticas sociais. Podemos aplicá-lo à
mobilidade tanto intergeracional (avós/pais/entrevistados) quanto
intrageracional: basta definir pontos de referências temporais precisos
(por exemplo: fim dos estudos/ingresso na vida ativa/posição quando da
entrevista) e medir a posição social do indivíduo numa mesma escala
(exemplo: classes superiores[S]/Médias[M]/Populares[ P]) nestes três
momentos.

Chamaremos de trajetória objetiva a seqüência de posições sociais


ocupadas por um indivíduo ou sua linhagem. Selecionando três pontos no
tempo, por exemplo, e medindo a posição por meio de uma variante
tricotômica, obtemos 27 trajetórias teóricas que podem ser agrupadas da
seguinte maneira:
- As trajetórias de rigidez social (n=3) de tipo SSS/MMM/PPP

- As trajetórias de ascensão social (n=7) de tipo MSS/MMS/PMS

- As trajetórias de descida social (n=7) de tipo SMM/SSM/MMP

- As trajetórias de contramobilidade social (n=10) que podemos distinguir


em:

· contramobilidade em V (n=5) de tipo SMS/MPM/SPS/SPM

· contramobilidade em 2 (n=5) de tipo MSM/PMP/PSP/MSP

A confrontação deste "modelo", dedutivo e combinatório, com as classes


obtidas indutivamente por agrupamento estatístico permite-nos chegar a
"classes de trajetórias típicas" que possuem, ao mesmo tempo, um
significado teórico e uma representatividade empírica. Não raro, de fato,
essas "classes teóricas" não seriam representadas numa amostra de
trajetórias empiricamente reconstruídas (por meio de um questionário
biográfico ou de um calendário de atividade). Também é possível testar
vários modelos para determinar o que melhor se adapta às classes obtidas
indutivamente.

Trata-se de uma análise "objetivista" das trajetórias na medida em que


não se leva em conta o sentido subjetivo que os indivíduos atribuem ao
próprio percurso. Trata-se, também, de uma análise necessariamente
redutora, uma vez que a posição, num dado momento, é medida numa
escala apenas. É a relação entre as posições sucessivas que importa no
modelo e não cada posição isolada.

Notemos ainda, para concluir essa primeira abordagem, que, em


Bourdieu, cada grande tipo de trajetória é, às vezes, associado a um
"habitus de classe" levando em conta ao mesmo tempo a inclinação e o
"nível" (de chegada) da trajetória social. Obviamente, um operário filho e
neto de operário não tem o mesmo habitus que um alto executivo, filho e
neto de empresário. Podemos, contudo, avançar a hipótese de que a
"ancoragem" de cada um em sua classe induz certas disposições
homólogas. O modelo, em Bourdieu, é essencialmente hipotético-
dedutivo, e os traços interpretados em termos de habitus são associados
tanto a trajetórias quanto a posições. No entanto, os habitus de classe,
expressos principalmente em termos de "qualidades", são empiricamente
relacionados antes com posições do que com trajetórias estatisticamente
medidas, o que torna seu modelo ambíguo (Dubar 1991, cap. 3).

Trajetórias "subjetivas", lógicas de mobilidade e "formas identitárias"

Em contraste com a primeira abordagem que privilegiava os quadros


sociais da identificação, esta se apoia antes nos processos identitários
individuais, no sentido em que seu ponto de partida está no relato do
próprio "percurso" por um indivíduo, numa entrevista de pesquisa. A
hipótese principal norteando a análise é a de que a colocação deste
percurso em palavras, numa situação de entrevista considerada como um
diálogo focando o sujeito, permite a construção linguística de uma ordem
categorial (Sacks 1992) que organiza o discurso biográfico e lhe confere
um significado social. Encontrar, por meio de uma análise semântica
rigorosa, baseada, por exemplo, na análise estrutural das narrações
(Barthes 1967), a estrutura das categorias às quais o relato recorre em
seus diferentes níveis (função, ação, narração) e que permeiam o diálogo
com o pesquisador (relances, retomada, jeito de falar), permite alcançar,
de modo ideal-típico, a lógica (ao mesmo tempo cognitiva e afetiva,
pessoal e social) reconstruída pelo sujeito para dar conta dos
acontecimentos considerados significativos nesse percurso, assim
transformado em enredo (Ricœur 1984) pela entrevista biográfica. É o
que se tentou fazer a partir de um corpus de relatos de inserção
(Demazière e Dubar 1996).

Chamaremos de trajetória subjetiva esse enredo posto em palavras pela


entrevista biográfica e formalizado pelo esquema lógico, reconstruído pelo
pesquisador por meio da análise semântica. Trata-se da disposição
particular, num discurso, das categorias estruturantes do relato, segundo
as regras de disjunção e conjunção que suprem a produção de sentido.
Trata-se, também, de uma forma de resumo da argumentação, extraído
da análise do relato e da descoberta de um ou mais enredos, e dos
motivos pelos quais o sujeito está numa situação em que ele mesmo está
se definindo, a partir de acontecimentos passados, aberto para um
determinado campo de possíveis, mais ou menos desejáveis e mais ou
menos acessíveis. Lembraremos que um dos princípios de base da análise
estrutural dos relatos é o de que se pode encontrar a conseqüência por
trás do encadeamento e a argumentação narrativa por trás da série de
seqüências e da intervenção dos agentes. Trata-se, por fim, da
organização pessoal de categorias e procedimentos interpretativos
(Cicourel 1992), que manifestam a interiorização de um ou mais
"universos de crença" dizendo respeito à estrutura social em geral e aos
mais diversos campos da prática social (familiar, escolar, profissional,
relacional) em particular. Lembraremos que, para os sociólogos
cognitivistas, a fala envolve dispositivos de categorização e procedimentos
interpretativos que remetem a universos lógicos que estruturam as
identidades narrativas.

Na medida em que a expressão dessa trajetória subjetiva é duplamente


limitada, pelas categorias lexicais disponíveis e pelas regras sintáticas às
quais se recorre por um lado e, por outro lado, pelo contexto da entrevista
e pelas perguntas do pesquisador, pode-se avançar a hipótese de que o
corpus das entrevistas reunidas e dos esquemas (schème) construídos a
partir delas nos permite delimitar, de maneira indutiva, tipos de
argumentação, disposições típicas, configurações significativas de
categorias que chamaremos de formas identitárias. O termo "identidade"
é aqui empregado no sentido particular de articulação de um tipo de
espaço significativo de investimento de si com uma forma de
temporalidade considerada como estruturante em seu ciclo de vida (Dubar
1991). Este sentido é muito próximo do de "espaço-tempo geracional",
associado à idéia de busca (Erickson 1972) e pode ser considerado como
a síntese do ponto de vista "estratégico/cultural" desenvolvido, por
exemplo, em L'identité au travail de Sainsaulieu (1985) com o ponto de
vista "genético/estrutural" teorizado, por exemplo, em Le sens pratique de
Bourdieu (1980). As formas identitárias são tipos-ideais construídos pelo
pesquisador para dar conta da configuração e da distribuição dos
esquemas de discurso delimitados pela análise precedente. Elas
constituem recategorizações a partir das ordens categoriais circunscritas
pela análise indutiva dos relatos, comparados uns com os outros antes de
serem reagrupados por "agregação em torno de unidades-núcleos"
(Grémy e Le Noan 1977).

Nas pesquisas centradas sobre os assalariados de grandes empresas


privadas em fase de modernização intensa e os jovens sem diploma em
fase de inserção (Dubar 1992), assim como nas pesquisas acerca das
relações dos desempregados "contumazes" com os funcionários da Anpe II
(Demazière 1992), quatro formas identitárias foram indutivamente
delimitadas a partir de um corpus de esquemas de entrevistas de
pesquisa:

- as identidades de empresa, que dizem respeito aos relatos combinando


mobilização e trabalho, desejos de promoção interna ("subir") e fé na
cooperação (prioridade dada aos saberes de organização);

- as identidades de rede caracterizam relatos mistos de individualismo,


antecipações de mobilidade externa ("social"), e fé nas virtudes da
autonomia e do diploma (prioridade dada aos saberes teóricos, gerais);

- as identidades de categorias, subjacentes aos relatos valorizando a


especialização, projetando-se nas filières de "profissões" julgadas
desvalorizadas ("bloqueadas"), e marcadas por conflitos (prioridade dada
aos saberes técnicos);

- as identidades fora do trabalho emergem de relatos e do trabalho


instrumental, da valorização da estabilidade questionada ("ameaça de
exclusão") e de afirmações de dependências dolorosas (prioridades dadas
aos saberes práticos).

Trata-se, portanto, de pesquisas e de entrevistas que, por razões de


princípios (Dubar 1991) mas igualmente por oportunidades ligadas aos
mandos institucionais de pesquisa, privilegiam os campos do trabalho, do
emprego e da formação. Essas formas identitárias são, portanto,
rigorosamente, formas de identidades profissionais (no sentido francês do
termo), centradas nas relações entre o mundo da formação e o mundo do
trabalho ou do emprego. Trata-se, também, de identidades sociais,
exatamente na medida em que, num dado sistema social, a posição
social, a riqueza, o status e/ou prestígio dependem do nível de formação,
da situação de emprego e das posições no mundo do trabalho. Em outras
sociedades, essas dimensões são secundárias diante, por exemplo, dos
traços "culturais" definindo identidades étnicas utilizadas "para categorizar
a si mesmo e aos outros" (Barth 1989) e permitindo abordagens
similares. Nas sociedades contemporâneas, a trilogia
formação/emprego/trabalho parece ser a mais estruturante dos "espaços-
tempos" individuais e, portanto, da maneira segundo a qual as pessoas -
especialmente os homens - "narram sua vida" e categorizam suas
situações sucessivas quando assim solicitadas para fins de pesquisa.
Pesquisas recentes mostram que as mulheres misturam com muito mais
freqüência o universo doméstico a este universo profissional (Battagliola
et alii, 1992; Nicole-Drancourt 1990). As identidades típicas precedentes,
amplamente contextualizadas (os anos 80, na França, nas grandes
empresas privadas), organizam-se sempre em torno de categorias lexicais
que constituem uma espécie de denominações inerentes ("ameaçados",
"bloqueados", "competentes") muito afastadas das antigas categorias
oficiais ("operários", "executivos", "maîtrise"). Mesmo se os indivíduos a
elas recorrem em situação de entrevista de pesquisa sociológica, isso não
quer dizer que também as usem durante suas sessões de psicanálise: o
processo biográfico individual envolve também (e essencialmente, dirão
alguns) ligações afetivas e sexuais, identificações familiares, mobilizações
psíquicas e libidinais múltiplas. O uso sociológico do termo "identidade"
pressupõe que a identidade "social" remete a categorias que atualizam um
"estatuto principal" (Hughes 1958) e, portanto, a categorizações que o
exprimam: na França, as CSPIII/PCSIV constituem, a priori, um quadro
estruturante da categorização social, embora não sejam as únicas.

Trajetórias objetivas e trajetórias subjetivas: O quantitativo e o qualitativo


em face das identidades

Esta última parte será essencialmente programática, uma vez que poucas
pesquisas conseguiram relacionar, de modo convincente, os dois
procedimentos acima sem instrumentalizar um à lógica do outro. Existem
tentativas de se relacionar análises de "percursos típicos" (Dubar et alii,
1987; Nicole-Drancourt 1990; Demazière 1992), mas a articulação das
duas análises continua problemática: quer a análise estatística prévia
sirva somente para selecionar uma pequena amostra de casos, cuja
análise constitui a seguir o essencial dos resultados (lógica da restituição),
quer as entrevistas sirvam apenas para exemplificar tipos obtidos pela
análise estatística puramente nominalista (lógica da ilustração).
Estabelecer relações entre esquemas discursivos de relatos biográficos e
processos estruturais de determinação social continua sendo um exercício
essencialmente virtual.

Esta insuficiência empírica não impede que certos escritos teóricos


postulem uma correspondência íntima, e até uma estrita dependência
causal, entre as "formas de discurso" vinculadas a sistemas de opiniões,
de atitudes ou de disposições e as "trajetórias objetivas" mais típicas. Ora,
trata-se de hipóteses simplificadoras que devem ser submetidas a
observações empíricas suscetíveis, quando não para "validá-las", pelo
menos para torná-las críveis. Para que tal credibilidade tenha
fundamentos, é preciso que os dados quantitativos, permitindo a
determinação das "trajetórias objetivas", e os dados qualitativos, gerindo
a produção de relatos típicos de percursos biográficos, isso é, de
"trajetórias subjetivas", sejam ao mesmo tempo comparáveis e
produzidos de modo autônomo. Para serem comparáveis, é preciso que as
"classes de trajetórias objetivas" sejam interpretáveis de modo
compreensível e que os "discursos típicos" incidam mesmo sobre a
compreensão do sentido da biografia social dos sujeitos (esta noção
remete ao ponto de vista sociológico sobre uma biografia singular, mas
também à interpretação biográfica de uma "trajetória social objetiva").
Para que a confrontação surta efeitos, é preciso também que os
agrupamentos de "relatos" ou de seus esquemas não recorram às
categorias oriundas da análise estatística: caso contrário, só
encontraremos na análise do "qualitativo" o que nela colocamos a partir
do "quantitativo" (é a postura "ilustrativa" tão comum na utilização das
entrevistas em sociologia). É preciso também que os dados de entrevistas
sejam analisados e condensados em, salientando "ordens categoriais" que
possam ser confrontadas com as classes de nomenclaturas estatísticas e
não simplesmente retranscritas e entregues, tal qual, à perspicácia do
leitor (esta é a postura "restitutiva" quase tão freqüente quanto a
precedente).

Podemos agora perceber melhor as dificuldades envolvidas nessa


operação. De fato, a tentação de se associar os quatro grandes tipos de
"trajetórias objetivas" (cf. § 2) às quatro "formas identitárias" (cf. § 3)
esbarra em inúmeras objeções metodológicas dizendo respeito aos modos
de produção desses conceitos tipológicos e sua dependência para com
contextos de pesquisa. Parece mesmo que as poucas tentativas
organizadas para relacionar a distribuição estatística de amostras de
indivíduos, segundo sua "forma identitária dominante" (isso é, na
realidade, a forma à qual se pode vincular este discurso proferido em
circunstâncias determinadas e, portanto, contingentes) e sua "classe de
trajetória" estatisticamente demarcada com a ajuda de indicadores
considerados "objetivos", não deixa transparecer fortes correlações
(Dubar 1992; Demazière 1992). Mesmo se as "identidades fora do
trabalho", associadas às "ameaças de exclusão", parecem mais
freqüentemente o destino de indivíduos tendo trajetórias sociais
descendentes ou de rigidez socioprofissional (mas, também, de operários
idosos sem diplomas), e as "identidades de rede", o fado de pessoas
tendo trajetórias de "contramobilidade" (mas igualmente dos jovens
diplomados que se consideram profissionalmente desclassificados), não se
pode concluir haver uma determinação forte das trajetórias "objetivas"
sobre as "formas identitárias" associadas a formas de discurso biográfico
expressando as "trajetórias subjetivas". Contudo, temos de ser muito
cautelosos nesse ponto: as pesquisas não nos permitem afirmar nada de
modo convincente.

Um dos problemas mais árduos é o da dupla passagem da trajetória


"objetiva", num campo determinado (profissional, educativo, familiar),
para a "trajetória social global" por um lado, e da forma identitária à qual
se pode vincular um relato especializado (profissional, educativo, familiar)
para uma "forma identitária geral", que diria respeito a todos os campos.
Será possível, nas sociedades contemporâneas, reduzir o fato de um
indivíduo pertencer a um dado momento a uma posição única numa
"escala social"? Será possível categorizar um discurso por uma
configuração única de apreciações sobre sua "biografia social"? A
"sociologia da configuração", defendida por Norbert Elias como definição
específica da disciplina (1991b), implicando que se leve em conta tanto as
estruturas institucionais quanto a experiência vivida que os indivíduos têm
dessas estruturas" (trad. 1991a) não seria essencialmente um projeto
teórico? Será que isso não supõe um distanciamento histórico, que implica
a reconstituição ex post da experiência subjetiva a partir de traços
heterogêneos, escolhendo-se uma "biografia exemplar" (1991c) à luz do
que os trabalhos históricos têm reconstituído da época? Percebemos bem
a dificuldade existente quando tentamos conciliar a distância necessária
para a construção de "trajetórias objetivas" com a proximidade inerente
da reconstituição de "trajetórias subjetivas". Não é de espantar que
raramente se recorra, de maneira rigorosa, a ambos os pontos de vistas
numa mesma pesquisa.

Um último problema, particularmente delicado, é o de apreender a


dinâmica das "formas identitárias" que abrange ao mesmo tempo os
processos de conversão de uma forma em outra e as transformações
internas, no tempo, de cada uma das formas, confrontando-as às
mudanças institucionais. Só existe um caminho, ao meu ver, capaz de nos
levar lá: o "verdadeiro" longitudinal (distinto do retrospectivo),
consistindo em "acompanhar" populações, regularmente instigadas a "se
narrarem", em instituições que possam ser monitoradas no decorrer do
tempo. Assim apresentada, a análise das trajetórias parece aproximar-se
do trabalho dos historiadores e sua confrontação necessária com várias
temporalidades, com a ajuda de conceitos tipológicos (Passeron 1991)
que dizem respeito tanto a "figuras individuais" (o empresário protestante
ou o perito de Weber, o burguês de Sombart, o Affluent Worker de
Goldthorpe et alii) quanto a tipos de funcionamentos e de categorias
institucionais (a burocracia weberiana, a grande empresa competitiva de
Goldthorpe). A arte de tornar compreensíveis as relações entre essas
temporalidades é um recurso raro que os sociólogos não podem ignorar.

Se tomarmos a sério as exigências empíricas da sociologia e se nos


recusarmos a dar preferência às categorias "oficiais" e "instituídas" sobre
as categorias "linguísticas" e "instituidoras", não há outro caminho para
avançar na elucidação da dinâmica social, a não ser correlacionando
análises objetivantes dos "movimentos de mobilidade", apreendidos em
nível "macro", das estatísticas que permitem reconstruir "trajetórias
objetivas" com análises compreensivas das "formas de discursos
biográficos", apreendidas em nível "micro", que são, ao mesmo tempo,
expressões pessoais de "mundos vividos", "espaços de referência" e
"temporalidades subjetivas" que temos chamado, por falta de termo
melhor, de "formas identitárias" e que lembram a noção de "configuração"
elaborada por Norbert Elias. A ingênua crença sociológica na determinação
mecânica das subjetividades pelas "condições objetivas" será
necessariamente substituída por laudos problemáticos de dependências
parciais e de autonomias irredutíveis, de mediações complexas e de
coerências frágeis, de defasagens múltiplas e de indeterminações tenazes.
A pesquisa ganhará muito com isso.

À guisa de conclusão
A distinção inicial das duas faces dos processos identitários, para as quais
Kaufman propunha um aprofundamento conceitual, revelou-se fecunda
para manter uma autonomia, mas também reivindicar uma articulação
entre dois procedimentos tão importantes quanto diferentes. Um permite
esclarecer de que maneira os "quadros sociais de identificação" -
traduzidos em categorias estatísticas e em conceitos operatórios
permitindo analisar as "trajetórias objetivas" - condicionam os percursos
individuais. O outro almeja compreender os discursos biográficos como
"processos identitários individuais", por meio dos quais as crenças e as
práticas dos membros de uma sociedade contribuem para inventar novas
categorias, modificar as antigas e reconfigurar permanentemente os
próprios "quadros de socialização". Isto quer dizer que as "formas
identitárias" não podem ser consideradas como formas estáveis, que
seriam preexistentes às dinâmicas sociais que as constróem. Elas não
passam de ferramentas de análise, de formas provisórias de
inteligibilidade que o sociólogo constrói para "dar conta da maneira
segundo a qual os membros dão conta de suas práticas" (Garfinkel 1967).

Será o termo "identidade" realmente necessário para tanto? Não


acarretaria ele o risco permanente de uma deriva essencialista,
associando-o a "tipos de personalidade", a "formas estáveis de percurso"
atualizando uma determinação inicial (seja ela de origem biológica,
cultural ou mística)? Pode ser. De fato, seu interesse é de ordem
problemática e programática: era preciso salientar a questão das relações
entre esses dois processos, dizendo respeito a procedimentos de pesquisa
diferentes como os processos biográficos individuais e as dinâmicas
institucionais coletivas ("históricas") que mantêm e fazem evoluir as
categorias sociais ao delimitar as formas de mobilidade. Essas relações
parecem-me incontornáveis uma vez que os discursos biográficos
recorrem, necessariamente, a categorias lingüísticas vinculadas a
categorizações sociais e que as dinâmicas institucionais passam por
indivíduos com biografias determinantes. Isso sem falar dos inúmeros
obstáculos de método e de terminologia que dificilmente serão superados.
Seria isso suficiente para nos fazer desistir?

Social trajectories and identity forms: Some conceptual and


methodological considerations

ABSTRACT: The analysis of social trajectories faces two aspects of the life
process. The "objective trajectory" is defined as the sequence of social
positions taken during one's life, measured by statistical categories and
summarised in a general tendency (ascending, descending, stable etc.).
By contrast, the "subjective trajectory" is expressed by several
biographical accounts, measured by native categories that point out to
"social worlds", summarised in heterogeneous identity forms. It is
necessary to confront both analysis as we try to understand the social
identity as a process both biographical and institutional. Does the concept
of "configuration", as presented by Elias, enable us to combine typical
biographical processes (subjective accounts) to objective trajectories
(statistical categories)?

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