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FLÁVIO ALTERTHUM
BIOTECNOLOGIA
Recebeu o título de professor emérito
Entre os assuntos abordados estão: elementos e técnicas básicas de da FMJ em 2010. Atualmente, é
INDUSTRIAL
C
microbiologia; conceitos de engenharia genética e metabólica; obtenção, assessor de planejamento dessa
instituição. É autor de trinta capítulos
BIOTECNOLOGIA
M cultivo e manutenção de microrganismos; enzimologia; processos
Y metabólicos e de obtenção de energia; cinética e estequiometria das de livros; publicou cerca de 120
reações enzimáticas e dos bioprocessos. trabalhos científicos em revistas
CM
nacionais e internacionais; e é editor
INDUSTRIAL
MY
Temas importantes como análise da lei brasileira de patentes, científico do livro Microbiologia , em
CY
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, nanotecnologia e suas colaboração com Luiz Rachid Trabulsi
CMY
aplicações na biotecnologia e questões relacionadas à produção do etanol (Editora Atheneu, 6. ed., 2015). É
K em destilarias brasileiras também são abordados. autor dos livros infantisPai, o que é
micróbio? (Editora Atheneu, 2010),
Volume 1 em colaboração com Telma Alvez Monezi;
FUNDAMENTOS ePai, o que é sustentabilidade?
(Editora Atheneu, 2016), em
colaboração com Liége Mariel Petroni,
Gabriel Zago Vieira Santos, Victhor
Giacomett e Camila Carvalhal
COORDENADORES DA COLEÇÃO
1 Flávio Alterthum
Willibaldo Schmidell
Alterthum. É inventor da Patente n.
5.000.000, junto com L. O. Ingram e
T. Conway, expedida pelo United
Urgel de Almeida Lima
States Patent and Trademark Office
Iracema de Oliveira Moraes
Iracema de Oliveira Moraes (org.) em 1991. Nessa pesquisa, foi
desenvolvida uma bactéria
geneticamente modificada capaz de
2ª
edição
produzir etanol a partir de resíduos
agrícolas e industriais como bagaço de
cana-de-açúcar, palha de arroz, palha
e sabugo de milho, casca de amendoim
e soro de leite oriundo da produção de
queijo.
Coordenadores da coleção
Flávio Alterthum
Willibaldo Schmidell
Urgel de Almeida Lima
Iracema de Oliveira Moraes
Bibliografia
ISBN 978-85-212-1898-2 (impresso)
1. ELEMENTOS DE MICROBIOLOGIA 15
1.1 Introdução à microbiologia 15
1.2 Morfologia e estrutura 19
1.3 Nutrição microbiana 32
1.4 Meios de cultura 35
1.5 Crescimento microbiano 39
1.6 Controle dos microrganismos pela ação de agentes físicos 46
1.7 Controle dos microrganismos pela ação de agentes químicos 49
Referências 51
Leituras complementares recomendadas 51
Flávio Alterthum
Walderez Gambale
Telma Alves Monezi
REINO FUNGI
Absorção de
nutrientes
REINO ANIMALIA
REINO PLANTAE Ingestão de
Fotossíntese nutrientes
REINO PROTISTA
Eucariotos; microrganismos
unicelulares, principalmente
algas e protozoários
REINO MONERA
Procariotos (bactérias)
Formas ancestrais
Figura 1.1 Distribuição dos organismos vivos em reinos, de acordo com a proposta de Whittaker.
Fonte: adaptada de Pelczar Jr., Chan e Krieg (1993).
Reinos
Fungos
Protistas Plantas
Monera Animais
Supra-reino
Eucarioto
Supra-reino
Eubactéria
Supra-reino
Arqueobactéria
Origem da vida
Ancestral
Figura 1.2 Distribuição dos organismos em domínios ou supra-reinos, de acordo com a proposta de
Woese.
Por não apresentarem uma estrutura celular, os vírus não são considerados seres
vivos e, portanto, não se enquadram nas classificações apresentadas. Veja mais sobre
as características dos vírus mais adiante neste mesmo capítulo.
* Há exceções.
espécie não, e ambos os nomes são escritos em itálico ou sublinhados. Exemplos: Saccha
romyces cerevisiae ou Saccharomyces cerevisiae, em que Saccharomyces é o gênero e
cerevisiae é a espécie; Escherichia coli ou Escherichia coli, em que Escherichia é o gê-
nero e coli é a espécie.
O microscópio foi e ainda é, em muitos casos, o equipamento laboratorial mais
utilizado no estudo dos microrganismos. Há duas categorias principais de microscó-
pios empregados: óptico e eletrônico. Eles diferem na forma pela qual se dá a amplia-
ção e a visualização do objeto. Na microscopia óptica um sistema de lentes manipula
um feixe de luz que atravessa o objeto e chega ao olho do observador; na microscopia
eletrônica a luz é substituída por um feixe de elétrons, e as lentes, por um sistema de
campo magnético. A microscopia óptica comum aumenta em até 2 mil vezes e tem
variações como as microscopias de fase, de campo escuro e de fluorescência. A mi-
croscopia eletrônica permite um aumento de cerca de 400 mil vezes e apresenta varia-
ções como as microscopias de transmissão e de varredura.
A Figura 1.3 apresenta alguns exemplos comparativos entre os tamanhos de micror-
ganismos e vírus e a tabela de equivalência das unidades empregadas na microbiologia.
Limite de resolução
do microscópio óptico
Limite de resolução do
microscópio eletrônico
100 µm
Célula epitelial
10 µm
Hemácia
Bactérias típicas
1 µm
Micoplasmas
100 nm
Vírus
10 nm
(100 Å) Proteínas
Microscópio
de varredura Aminoácidos
1 nm
(10 Å)
0,1 nm Átomos
(1 Å)
Figura 1.3 Limites de resolução dos microscópios e possibilidades de visualização de células eucarió-
ticas, bactérias, vírus, moléculas e átomos.
1.2.1 BACTÉRIAS
Quando observadas ao microscópio, a maior parte das bactérias apresenta-se em
uma dessas três formas: esférica, cilíndrica ou espiralada. As bactérias de forma esfé-
rica denominam-se cocos, e as cilíndricas, bacilos. Alguns bacilos assemelham-se
aos cocos e por isso são chamados de cocobacilos. As espiraladas, quando o corpo é
rígido e apresenta várias espirais, recebem o nome de espirilos e, quando o corpo
é rígido, porém em forma de vírgula ou meia espiral, recebem a designação vibriões.
As espiroquetas têm a forma espiralada, mas o corpo é flexível (Figura 1.4).
Cocos
Bacilos
Cocobacilos
Vibriões
Espiroquetas
Espirilos
19,0 µm. Há exceções, como uma bactéria macroscópica (500 µm de comprimento) que
habita o interior de peixes que vivem a centenas de metros de profundidade nos oceanos.
Diplococos
Estreptococos
Tétrades
Sarcinas
Estafilococos
Figura 1.5 Arranjos dos cocos em função do plano de divisão.
Figura 1.6 Representação esquemática de uma célula procariótica (bactéria) e suas principais estruturas.
Esporo livre I
Formação do filamento axial
VII
Lise do esporângio, II
liberação do esporo Formação do septo
VI III
Final da síntese Englobamento
da capa e aumento do pré-esporo
da refratilidade e da V IV
resistência térmica Síntese da capa Formação do córtex
A reprodução nas bactérias é feita, na grande maioria dos casos, pelo processo da
divisão binária simples, na qual uma célula, atingindo um determinado tamanho,
divide-se ao meio, dando origem a duas células-filhas iguais.
1.2.2 FUNGOS
Os fungos são seres eucarióticos, heterotróficos (não sintetizam clorofila, por-
tanto não fazem fotossíntese), que não armazenam amido como material de reserva,
e sim glicogênio, nem têm celulose na parede celular, com exceção de alguns fungos
aquáticos. São ubíquos, podendo ser encontrados no ar, no solo, na água, em vege-
tais e animais.
Do ponto de vista morfológico, é conveniente distingui-los entre leveduras e bolo-
res. Essa distinção não tem valor taxonômico, pois ambas as formas podem ser encon-
tradas num mesmo grupo de fungos.
As leveduras são geralmente unicelulares, de forma esférica, elíptica ou filamentosa.
O tamanho varia de 1 µm a 5 µm de diâmetro e de 5 µm a 30 µm de comprimento.
Os bolores são constituídos por células multinucleadas (cenócitos), que formam
tubos chamados hifas; ao conjunto de hifas dá-se o nome de micélio. As hifas podem
ser contínuas ou septadas (Figura 1.8).
Núcleos
Septo
Formação de Formação
Pseudo-hifa Hifa não septada Hifa septada
blastoconídios de fissão
Flagelo
Conídios
Vesícula
Conidióforo
Conidióforo
Metulas Macroconídios
Artroconídios
Microconídios
Aspergillus Penicillium Geotrichum Trichophyton
Macroconídio Esporângio
Endósporos
Esporangióforo
= Tamanho comparativo
Rizoides
Microconídio
Microsporum Epidermophyton Rhizopus
Figura 1.10 Exemplos de formação e localização dos esporos fúngicos. A barra comparativa representa
100 µm.
1.2.3 VÍRUS
Vírus são entidades infecciosas, não celulares, cujos genomas são DNA ou RNA.
Replicam somente em células vivas. Usam o metabolismo energético e biossintético
da célula hospedeira para sua reprodução, e, por isso, são considerados parasitas in-
tracelulares obrigatórios. Os vírus podem infectar todas as formas de vida, incluindo
vertebrados, invertebrados, fungos, plantas e até mesmo bactérias. A suscetibilidade
do hospedeiro em relação aos vírus depende necessariamente da presença de proteí-
nas de ligação na superfície viral capazes de reconhecer receptores específicos que
possam estar presentes nas células do hospedeiro, além de a maquinaria celular ade-
quada ser necessária para a replicação viral.
Os vírus são classificados de acordo com alguns critérios, sendo os mais importan-
tes: hospedeiro, morfologia da partícula viral, tipo de ácido nucleico e, ainda, tama-
nho, características físico-químicas, proteínas virais, sintomas da doença e outros.
Desde que foi criado, em 1966, até os dias atuais, o Comitê Internacional de Taxono-
mia dos Vírus (International Committee on Taxonomy of Viruses – ICTV) é o res-
ponsável pela classificação dos vírus.
1.2.3.1 Estrutura
A partícula viral é composta por um tipo de ácido nucleico DNA ou RNA, nunca
ambos, podendo ser de fita simples ou fita dupla. Um conjunto de proteínas chamado
capsídeo envolve o ácido nucleico. Cada subunidade básica de um capsídeo é chamada
de capsômero ou protômero e o conjunto de proteína e ácido nucleico é chamado de
nucleocapsídeo. Além de conferir a simetria do vírion, o capsídeo protege o genoma
contra danos físico, químico e enzimático e permite ainda a entrada nas células do
hospedeiro pela ligação de suas proteínas aos receptores celulares.
Alguns vírus podem ainda ter um envoltório ou envelope recobrindo o nucleocap-
sídeo. O envelope é uma bicamada lipídica, adquirida de membranas da célula do
hospedeiro, que pode ser degradada por detergentes, álcoois etc. Inseridas no envelo-
pe dos vírus envelopados, glicoproteínas transmembranosas, denominadas espículas, são
responsáveis pela ligação da partícula viral a receptores nas células do hospedeiro
para iniciar a penetração. As espículas são os principais determinantes antigênicos do
vírion, ou seja, as respostas imunes do hospedeiro são direcionadas especificamente
para essas glicoproteínas.
Em outras palavras, a importância dos capsômeros proteicos ou das espículas é
que, por meio dessas moléculas, o vírus reconhece os receptores celulares que servirão
de alvo para seu ataque (penetração) e, num eventual bloqueio desses receptores – me-
diado por anticorpos, quer sejam elaborados por vacinas ou soros, produtos tipicamen-
te biotecnológicos –, ficarão impossibilitados de entrar e infectar a célula hospedeira.
DNA DNA
Parvo Circo
RNA DNA
Hepadna
Retro
Hepe
RNA RNA
Reo Birna
Ortho- Para-
Borna Bunya Filo Rhabdo Arena myxo myxo
1.2.3.3 Cultivo
Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios que necessitam de células vivas
para se multiplicarem. Existem três técnicas para o cultivo dos vírus em laboratório:
(1) inoculação em animais de laboratório; (2) inoculação em ovos embrionados; e (3)
cultura de células. Dependendo do vírus em questão e da disponibilidade de métodos
e pessoal especializado, o método é eleito, sendo que, na grande maioria dos casos, as
culturas celulares são preferencialmente utilizadas.
1) Os animais de laboratório, quando infectados experimentalmente com alguns
vírus, apresentam sintomas característicos e evidências anatomopatológicas
específicas, que eram utilizados antigamente para a identificação dos vírus.
Exemplo: camundongo para inoculação de vírus da febre amarela, vírus Cox-
sackie e vírus da raiva.
2) Os ovos embrionados de galinha apresentam vários tipos de células e podem
ser inoculados por quatro vias, a saber: cavidade amniótica, cavidade alantoi-
ca, membrana cório-alantoica e saco vitelino (Figura 1.12). Dependendo do
local de inoculação, deve-se levar em conta a idade do embrião. Alterações
características podem ser notadas nos ovos inoculados com vírus, como ini-
bição do crescimento e morte do embrião; formação de focos típicos; e he-
morragias. Geralmente essa técnica é utilizada em larga escala, por exemplo,
no preparo de vacinas e reagentes, mas não para fins de diagnóstico.
3) O método de cultura celular mais utilizado é o em monocamada. Nesse mé-
todo, tecidos são tratados com enzimas proteolíticas e agentes quelantes,
como o ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA), que desagregam e desfa-
zem as ligações intercelulares por meio da retirada de cálcio e magnésio. As
células livres retomam o crescimento com a adição de nutrientes e formam
uma camada que adere à superfície do frasco onde estão sendo cultivadas.
Há três tipos de culturas celulares: primárias, derivadas diretamente dos teci-
dos e que geralmente degeneram e morrem após a segunda ou terceira passa-
gem (tecidos embrionários, por exemplo), sendo mais sensíveis para o
isolamento de vírus; diploides, derivadas de clones selecionados e que se
mantêm estáveis e diploides até por volta de 50 ou mais passagens; e, por úl-
timo, com linhagens estabelecidas, cujo número de cromossomos difere de 2n
(aneuploide) e que são ainda estáveis após 70 passagens (rim de macaco, por
exemplo), multiplicando-se indefinidamente. Apesar de serem amplamente
utilizadas e extremamente úteis para fins de diagnóstico viral, isolamento e
propagação de vírus, não podem ser utilizadas para o preparo de vacinas em
virtude da malignidade dessas células.
Membrana da casca
Saco
vitelínico
Saco aéreo
Albumina
Embrião
Inoculação
Inoculação na na membrana
cavidade amniótica cório-alantoica
Inoculação na
cavidade alantoica
Inoculação no
saco vitelínico
Genoma viral –
RNA ou DNA
Receptor celular
Entrada por Fusão da membrana O vírus da influenza é
endocitose celular com o envoltório capturado em um endossomo;
viral – fusão a partir depois, a membrana
do exterior se funde – fusão a partir
do interior
O mRNA é transcrito
O mRNA
é transcrito
Novas proteínas Cromossomo
e proteínas Integração
precursoras Liberação
Novo genoma dos vírus
viral recém-formados
Complexo para as células
de Golgi vizinhas por fusão
Ribossomos
Formação de
novos vírions
Novas proteínas
e capsídeos
Liberação dos
Liberação dos vírus
vírus recém-formados
recém-formados por
por lise celular
brotamento da membrana
1.3.4 ÁGUA
A água não constitui um nutriente, mas é absolutamente indispensável para o
crescimento dos microrganismos. Seu papel é múltiplo. Com exceção dos protozoá-
rios, capazes de englobar partículas sólidas, os microrganismos se nutrem pela passa-
gem de substâncias em solução através da membrana citoplasmática. A água é o
solvente universal. Além disso, exerce função primordial na regulação da pressão os-
mótica e, pelo seu elevado calor específico, na regulação térmica. A maior parte dos
microrganismos, quando não esporulados, morre rapidamente pela dessecação.
Número de Diferentes
Massa Massa/célula Peso
Macromoléculas moléculas/ tipos de
seca (%) x 10–15 g molecular
célula moléculas
Regulatório variável
(continua)
Número de Diferentes
Massa Massa/célula Peso
Macromoléculas moléculas/ tipos de
seca (%) x 10–15 g molecular
célula moléculas
Total de
96,1 273,0
macromoléculas
Subunidades 7,0
conservar fungos é por meio de seus esporos. Estes são misturados a areia, solo ou sílica
previamente esterilizados.
Há instituições especializadas que identificam, armazenam e vendem bactérias,
fungos e vírus. A mais conhecida é a American Type Culture Collection (ATCC).
Veja mais sobre conservação de microrganismos no Capítulo 5.
ou,
(1.9)
ln X = ln X0 + µt
Projetando-se num gráfico os valores do log X contra o tempo, obtém-se uma reta,
característica do crescimento exponencial.
Fase
estacionária
Logaritmo do número de células
Fase de
Fase log declínio
Fase ou morte
lag
Tempo
Reservatório
de meio estéril
Controlador
de fluxo
Agitador
Ar estéril
Fluxo de saída
Cultura Coletar ou
despejar
1.6.2 TEMPERATURA
De todos os processos empregados para matar microrganismos, o calor é, sem dú-
vida alguma, o mais eficiente e econômico. Pode ser empregado de duas maneiras:
seco e úmido. O calor seco age promovendo uma oxidação violenta de componentes
do protoplasma. Sua eficiência é comparativamente baixa, pois não tem muita capaci-
dade de penetração. Além disso, não é todo tipo de material que pode ser submetido
às temperaturas necessárias para esterilização pelo calor seco (160 °C a 180 °C duran-
te um tempo mínimo de 1 ou 2 horas). Emprega-se para vidraria, óleos ou pós. Nem
todo material metálico pode ser esterilizado a seco; certos instrumentos delicados
podem perder o corte ou a têmpera. O processo da flambagem, utilizado nos labora-
tórios de microbiologia para esterilizar alças e fios de platina, consiste em passar o
material diretamente na chama do bico de Bunsen (ver mais detalhes no Capítulo 2).
O calor úmido é muito mais eficiente. Age promovendo a desnaturação de proteí-
nas e a dissolução de lipídeos, o que também contribui para intensificar o primeiro
efeito. Tem alta capacidade de penetração e pode ser utilizado para uma grande varie-
dade de materiais, inclusive biológicos. A temperatura de 60 °C, durante 1 hora, é
suficiente para matar as formas vegetativas de todos os microrganismos, excetuando-se
os termófilos, naturalmente. A 100 °C as formas vegetativas morrem em poucos mi-
nutos; se mantida essa temperatura durante 15 minutos, morre também a maioria dos
esporos. Há esporos, contudo, principalmente de saprófitas, que podem resistir ao
aquecimento a 100 °C durante várias horas, suportando mesmo temperaturas um
pouco mais altas. Para matar qualquer tipo de microrganismo, inclusive todos os tipos
de esporos, emprega-se vapor d’água aquecido a 120 °C, sob uma pressão de 1 atmosfera
acima do normal, durante 20 minutos. O aparelho utilizado para esse fim é a autoclave,
que consiste num recipiente de paredes resistentes onde se coloca o material. O vapor
poderá ser produzido pelo aquecimento da água contida na própria autoclave ou ser
introduzido por tubulação adequada – ver a Figura 1.16. Para que o processo seja efi-
ciente, é indispensável que se evite mistura de ar ao vapor e que o material esteja
acondicionado e distribuído de forma conveniente.
1.6.3 RADIAÇÕES
De interesse prático pela sua atividade letal sobre microrganismos são as radiações
ultravioleta (UV) e as chamadas ionizantes.
As radiações UV, principalmente as de comprimento de onda entre 240 nm e 280 nm,
são absorvidas pelas purinas e pirimidinas dos ácidos nucleicos, provocando muta-
ções. Anéis aromáticos de aminoácidos também absorvem radiações, levando à inati-
vação de enzimas. Ambos os efeitos podem levar a célula à morte. Na prática,
empregam-se lâmpadas de mercúrio como fonte de radiações UV. O seu emprego em
lugares públicos, salas de operação, berçários, enfermarias e salas assépticas tem sido
bem-sucedido. Os resultados demonstram que há uma redução apreciável das conta-
minações e das infeções cruzadas. Precaução indispensável é evitar a incidência dire-
ta da luz ultravioleta sobre as pessoas, pois ela produz, conforme o tempo de exposição,
queimaduras graves e lesões severas da córnea e na pele.
As radiações ionizantes exercem atividade de forma diferente, pois atingem os áto-
mos e são incomparavelmente mais eficientes. Enquanto para matar uma célula de
Escherichia coli são necessários 106 quanta no caso dos raios UV, apenas 1 quantum é
suficiente quando se trata de radiações ionizantes. Seringas, agulhas e outros mate-
riais descartáveis têm sido esterilizados por esse processo.
1.6.4 FILTRAÇÃO
A passagem de soluções ou gases através de filtros de poros suficientemente peque-
nos, que retêm microrganismos, pode ser empregada na remoção de bactérias e fun-
gos, deixando, entretanto, passar a maioria dos vírus.
As velas porosas de porcelana foram muito usadas no passado e atualmente são
empregadas membranas filtrantes de nitrocelulose e acetato de celulose para esse fim.
A filtração tem como principais aplicações a esterilização de soluções termossen-
síveis e na entrada de salas ou ambientes onde qualquer microrganismo do ar é indese-
jável. Muito comum é a esterilização do ar que é borbulhado em meios de cultura,
sendo bastante empregados filtros de lã de vidro.
REFERÊNCIAS
PELCZAR JR., M. J.; CHAN, E. C. S.; KRIEG, Noel R. MicrobioIogy. Concepts and
Applications. New York: McGraw-Hill, 1993.
TRABULSI, L. R.; ALTERTHUM, F. Microbiologia. 6. ed. São Paulo: Atheneu, 2015.
FLÁVIO ALTERTHUM
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C
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instituição. É autor de trinta capítulos
BIOTECNOLOGIA
M cultivo e manutenção de microrganismos; enzimologia; processos
Y metabólicos e de obtenção de energia; cinética e estequiometria das de livros; publicou cerca de 120
reações enzimáticas e dos bioprocessos. trabalhos científicos em revistas
CM
nacionais e internacionais; e é editor
INDUSTRIAL
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CY
sustentabilidade e desenvolvimento sustentável, nanotecnologia e suas colaboração com Luiz Rachid Trabulsi
CMY
aplicações na biotecnologia e questões relacionadas à produção do etanol (Editora Atheneu, 6. ed., 2015). É
K em destilarias brasileiras também são abordados. autor dos livros infantisPai, o que é
micróbio? (Editora Atheneu, 2010),
Volume 1 em colaboração com Telma Alvez Monezi;
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(Editora Atheneu, 2016), em
colaboração com Liége Mariel Petroni,
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1 Flávio Alterthum
Willibaldo Schmidell
Alterthum. É inventor da Patente n.
5.000.000, junto com L. O. Ingram e
T. Conway, expedida pelo United
Urgel de Almeida Lima
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desenvolvida uma bactéria
geneticamente modificada capaz de
2ª
edição
produzir etanol a partir de resíduos
agrícolas e industriais como bagaço de
cana-de-açúcar, palha de arroz, palha
e sabugo de milho, casca de amendoim
e soro de leite oriundo da produção de
queijo.