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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE

Tarefa 3: A partir dos textos indicados, redigir um texto de até 3 páginas, com
reflexões sobre autoria e coautoria científica
Elaborado para a disciplina de Produção do conhecimento no Campo CTS -
CTS013

Prof. Dr. Carlos Roberto Massao Hayashi


Profa. Dra. Márcia Regina Silva

Aluna: Ana Cristina Oliveira Mahle

A autoria científica é fundamental em qualquer pesquisa, porque vai dar o crédito


para as pessoas que realmente contribuíram para o trabalho.
É importante para os autores terem o seu nome em artigos publicados, porque dá
prestígio profissional, além das bolsas e auxílios financeiros que incentivam a pesquisa
(HAYASHI; SILVA, 2022).
Um grande problema enfrentado na atualidade é que a publicação científica se
tornou quase obrigatória nas grandes instituições, o que obriga os cientistas a produzir,
independentemente da qualidade do trabalho. Essa situação é chamada pela maioria dos
pesquisadores de “publish or perish”, que significa ‘publicar ou perecer’, que reflete a
pressão que os cientistas sofrem para avançar na sua vida acadêmica. (CAMARGO
JUNIOR; COELI, 2012).
É cada vez mais comum ter vários autores por artigo científico, e uma explicação
plausível para esse fenômeno seria o aumento da complexidade dos temas e isso
justificaria o trabalho cooperativo, que começou a se expandir em rede a partir do final
do século XX, graças ao avanço da tecnologia.
De acordo com Emmanuel Gazda e Carlos Quandt (2010), as crescentes mudanças
tecnológicas aliadas ao aumento da competividade, a colaboração na produção científica
evoluiu muito nos últimos anos, esses dados foram extraídos justamente pelo
levantamento de coautoria de artigos apresentados no Simpósio de Gestão da Inovação
Tecnológica (Sigitec) no período de 1998-2008), embora a tecnologia tenha contribuído
para o avanço das redes de cooperação, ainda não é o suficiente para a construção de
amplas redes de cooperação, porque no Brasil ainda há, de acordo com Gazda (2010, p.
22) um:
[...] descompasso entre a teoria e prática da produção e disseminação do
conhecimento científico e tecnológico. Enquanto os estudiosos da gestão da
inovação apregoam a importância e necessidade da diversificação de fontes de
conhecimento, da inovação aberta, da constituição de redes flexíveis e
multidisciplinares, da cooperação entre empresas e outras organizações
públicas e privadas, a sua própria prática não corresponde a esse discurso.

Uma outra alegação para o aumento dos números de autores por artigo científico,
seria o “publish or perish” porque muitas vezes, o elevado número de autores em um
artigo não é justificável pela complexidade do tema.
Outra situação que vem levantando preocupação, é que tem aumentado o número
de autores seniors nessas publicações, e Camargo Junior (2012, p. 895), aborda sobre essa
questão da seguinte forma:

Um dos estudos citados mostrou que a principal contribuição para o aumento


do número de autores em 20 anos no British Medical Journal (BMJ) foi o
acréscimo relativo de autores sênior. Esse dado adquire contornos
preocupantes, tendo-se em vista a descrição de Kwok do “efeito touro branco”
(2hite bull effect, por referência ao mito da sedução de Europa por Zeus,
disfarçado de touro branco), i.e., a autoimposição de um dado indivíduo como
“autor honorário” a um pesquisador em posição mais frágil. Por exemplo, a
negociação de um pesquisador sênior com estudantes sob sua orientação.
Deve-se questionar que parcela da contribuição dos autores sênior descrita no
estudo dos artigos do BMJ seria atribuível ao efeito touro branco.

Portanto, embora o trabalho colaborativo tenha se expandido e seja considerado


um aspecto positivo, há algumas questões que merecem atenção para que não ocorra a
inclusão indevida de autores que não participaram do trabalho e que seja dado o devido
destaque para os que efetivamente participaram da pesquisa.
Existem algumas regras a serem observadas para que a autoria científica realmente
faça jus às contribuições intelectuais individuais, “[...] porque fornecer crédito a alguém
que não é qualificado como autor ou se priva um cientista digno de crédito de autoria são
questões éticas graves que podem trazer sérias implicações (HAYASHI; SILVA, 2022,
p. 3).
De acordo com os slides apresentados em aula, o autor é o primeiro nome listado
no artigo, enquanto os coautores são aqueles que assinam o artigo e a atribuição de autoria
deve conter alguns critérios, que foi estabelecido pelo Comitê Internacional dos Editores
de Jornais Médicos (International Committee of Medical Journal Editors -ICMJE), em
1985, para que pudessem se aplicados de forma uniforme no processo de atribuição de
coautoria em trabalhos científicos médicos, tendo como princípio geral de que o autor
deve ser capaz de defender o seu trabalho publicamente.
Os critérios estabelecidos pelo ICMJE, são os seguintes (HAYASHI; SILVA,
2022, p. 13):
1) Concepção, planejamento, análise ou interpretação dos dados;
2) Redação do artigo ou sua revisão intelectual crítica;
3) Responsabilidade pela aprovação final.
Da mesma forma que o ICMJE, estabeleceu critérios para a autoria, ele listou
situações onde não se caracteriza a autoria, entre as quais:
a) Tarefas como obtenção de financiamentos para a pesquisa;
b) Aquisição de dados e supervisão geral do grupo de pesquisa são destacadas
como não meritórias para justificar a coautoria em trabalhos científicos,
devendo ser incluídas somente na seção de agradecimentos.
Portanto, para se caracterizar autoria, o autor tem que efetivamente ter trabalhado
no artigo e é recomendável que todos os autores façam uma descrição detalhada do que
contribuíram para o trabalho.
Quanto mais transparente estiver a descrição do artigo, de acordo com a
contribuição de cada autor, menor será a chance de que ocorra controvérsias quanto a
participação no trabalho.

REFERÊNCIAS

CAMARGO JUNIOR, Kenneth Rochel de; COELI, Claudia Medina. Múltipla autoria:
crescimento ou bolha inflacionária? Revista da Saúde Pública, v. 46, n. 5, p. 894-900,
2012. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0034-89102012000500017. Acesso em:
17 out. 2022.

GAZDA, Emanuel; QUANDT, Carlos Olavo. Colaboração interinstitucional em


pesquisa no brasil: tendências em artigos na área de gestão da inovação. RAE-
eletrônica, São Paulo, v. 9, n. 2, art. 14, jul./dez. 2010. Disponível em:
http://www.rae.com.br/eletronica/index.cfm?FuseAction=Artigo&ID=5645&Secao=AR
TIGOS&Volume=9&Numero=2&Ano=2010. Acesso em: 17 out. 2022.

HAYASHI, Carlos Roberto Massao; SILVA, Márcia Regina. Desafios e controvérsias


na autoria e coautoria científica. Disciplina Produção do conhecimento no campo
CTS, 2022.

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