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A inovação tecnológica é inerente à evolução humana, potencializando as possibilidades da

sociedade em criar técnicas e resolver problemas. No meio acadêmico, a educação presenciou o uso
dos slides e do Word, a título de amostra. Atualmente, a última descoberta é a chamada Inteligência
Artificial (IA), cuja benéfica funcionalidade no que tange à organização textual e rapidez de busca
se mostrou incontestável. A exemplo do ChatGPT, muito utilizado no Brasil, vislumbra-se o porquê
de ser tão popular: seu sofisticado funcionamento é capaz de processar e aplicar dados
simultaneamente, transformando em texto.
Sua capacidade, aliás, não está adstrita ao assunto que o acadêmico delimita enquanto seu
objeto, sendo também apta a escrever conforme as regras de escrita científica e normas gramaticais,
criando um texto circunscrito aos critérios estabelecidos pelas instituições. Porém, sua existência
suscitou uma discussão acerca do uso ético desses programas em virtude do paradigma calcado pelo
direito autoral. Não se pode plagiar ideias e textos, seja um artigo ou dissertação. No âmbito das
teses de doutorado, a inovação é essencial. Como ficam, então, a originalidade e a criatividade?
Os limites estão postos pelas regras do direito autoral e da ética acadêmica, pois o escrever
precisa ser referenciado. A conscientização e a educação também são formas de combater o uso
antiético da IA. A problemática, porém, tem uma raiz mais profunda, porquanto está plantada sob o
solo do neoliberalismo, engendrando uma sociedade que Byung Chul-Han, em seu livro Sociedade
do Cansaço (2017)1, vai descrever como aquela em que imperará a produtividade, evidente reflexo
do modo de produção capitalista.
O meio acadêmico é igualmente fundada nessa égide, o que Marilena Chauí, em um
Congresso da Universidade Federal da Bahia (2016)2, apontará ao criticar a rapidez com a qual o
estudante é submetido para se formar e publicar artigos constantemente. A produtividade virou,
então, uma lógica, bem como uma necessidade de sobrevivência do indivíduo, pois o desemprego
se recrudesce, exigindo uma maior qualificação profissional, baseada não pela sua intelectualidade,
mas pelas publicações e títulos, utilizadas, inclusive, para admissão em concurso público e pós-
graduação. O uso antitético das IAs na academia se torna uma decorrência lógica desse cenário.
A luta não deve ser, portanto, contra o sintoma da doença, isto é, o uso das IAs em trabalhos
acadêmicos, pois existem diretrizes que regulamentam seu uso, a exemplo do que fez a revista
Nature (2023). A batalha deve ser para enfrentar a supremacia da produção em face do
compromisso científico. É contra as precárias condições de trabalho e pesquisa no Brasil, que
forçam o indivíduo a prezar pela utilidade em detrimento da ética e do compromisso social que a
pesquisa, em tese, deveria ter.
1 HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. 2. ed. ampliada. Petrópolis: Vozes, 2017.
2 CONTRA a Universidade Operacional e a servidão voluntária. Congresso da Universidade Federal da Bahia.
2016. Disponível em: Conheça a palestra Contra a universidade operacional e a servidão voluntária | Universidade
Federal da Bahia (ufba.br). Acesso em: 07 Abr. 2024.

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