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Elizabeth Krauter
ekrauter@usp.br
Universidade de São Paulo (USP), FEA – São Paulo, SP, Brasil
RESUMO
Em estudo realizado com 50 contratos de emissão de debêntures de empresas brasileiras não-
financeiras de 1989 a 1993, Anderson (1999) encontrou evidências de que o ambiente econômico tem
influência na definição das características das emissões de debêntures. Tomando por base esse
estudo, as características de 88 emissões de debêntures de empresas não-financeiras de 2004 e 2005
foram analisadas e comparadas com as características encontradas por Anderson, com o objetivo de
verificar se a estabilidade da economia, proporcionada pelo Plano Real, tem influência nas
características das emissões de debêntures brasileiras. A análise mostra que a estabilidade trouxe
mudanças e as principais foram: a) diminuição da utilização de indexadores ligados à inflação; b)
diminuição da utilização de remuneração de prêmio, de resgate antecipado e de amortização, e c)
diminuição da emissão de debêntures conversíveis.
Palavras-Chave: Debêntures. Estabilidade econômica. Instabilidade econômica. Características das
emissões de debêntures.
1. INTRODUÇÃO
Antes da implantação do Plano Real em 1994, a economia brasileira apresentava altas
taxas de inflação, instituições frágeis, intervenção do Estado na economia e volatilidade dos
indicadores econômicos.
Um estudo realizado por Anderson (1999) encontrou evidências de que o ambiente
econômico/institucional tem influência na definição das características das emissões de
debêntures.
O objetivo deste estudo é verificar se a estabilidade da economia, proporcionada pelo
Plano Real, tem influência nas características das emissões de debêntures brasileiras. Para
atingir esse objetivo, as características de 88 emissões de debêntures de empresas não-
financeiras de 2004 e 2005 (quando o Plano Real encontrava-se consolidado) foram
analisadas e comparadas com as características encontradas por Anderson (1999) em estudo
com 50 emissões de empresas não-financeiras de 1989 a 1993 (antes do Plano Real).
O artigo está dividido em quatro seções: a primeira apresenta uma revisão da teoria, a
segunda expõe a metodologia utilizada, a terceira apresenta a análise dos resultados e a quarta
seção conclui com as considerações finais.
2. REVISÃO TEÓRICA
2.1. DEBÊNTURES
As debêntures são títulos de crédito, emitidas por empresas de capital aberto, para
captar recursos de médio e de longo prazo (ASSAF NETO, 2005; SND, 2005;
PENTAGONO, 2005).
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Flexibilidade;
Menores custos de captação;
Pagamento de juros dedutíveis;
Não alteração do controle acionário (debêntures simples).
1. Data da emissão
Dentre as condições de emissão deliberadas na Assembléia Geral Extraordinária
deverá, necessariamente, constar a data de emissão das debêntures.
2. Quantidade de títulos
A empresa pode fazer mais de uma emissão e cada emissão pode ser dividida em
séries.
3. Valor nominal
O valor nominal deve ser expresso em moeda nacional.
5. Séries
A emissão pode ser em série única, em um número determinado de séries, ou em
séries indeterminadas.
6. Vencimento
O vencimento das debêntures deverá constar da escritura de emissão. A emissora
poderá estipular amortizações parciais de cada série, criar fundos de amortização e reservar-se
o direito de resgate antecipado, parcial ou total, dos títulos da mesma série. O vencimento da
debênture pode, também, ser condicionada à ocorrência de determinadas condições.
7. Forma
As debêntures podem ser nominativas ou escriturais. As debêntures nominativas são
aquelas em cujos certificados consta o nome do titular.
As debêntures escriturais são nominativas, mas não existe a emissão do certificado.
São mantidas em contas de depósito, em nome de seus titulares, em instituição financeira
depositária designada pela emissora.
As debêntures ao portador ou endossáveis foram extintas pela Lei nº 9.457/97.
8. Espécie
Dependendo da garantia, têm-se as seguintes espécies:
Debêntures com garantia real: os direitos creditórios dos debenturistas
são garantidos por bens do ativo da emissora ou de terceiros, que não
podem ser negociados até o vencimento das obrigações por eles
garantidas.
Debêntures com garantia flutuante: nesse caso, as debêntures têm
privilégio geral sobre o ativo da emissora, sem que isso impeça a
negociação dos bens que o compõem.
Debêntures quirografárias ou sem preferência: nesse caso, as
debêntures concorrem em igualdade de condições com os demais
credores quirografários da emissora. As debêntures quirografárias não
oferecem nenhuma garantia real aos seus detentores.
Debêntures subordinadas: as debêntures que não gozam de garantia
podem conter cláusula de subordinação aos credores quirografários da
companhia. Isto significa que, no caso de liquidação da companhia, os
debenturistas têm preferência para ressarcimento do valor aplicado
somente em relação aos acionistas.
9. Tipo
As debêntures podem ser: simples, conversíveis e permutáveis. A escritura das
debêntures simples não prevê a conversão em ações. Já a escritura das debêntures
conversíveis permite a conversão em ações e estipula as condições.
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11. Remuneração
De acordo com a Decisão Conjunta nº 7 do Banco Central do Brasil e da CVM, de
23/09/1999, as debêntures podem ter por remuneração:
O Plano Real foi bem sucedido em sua tentativa de combater a inflação. Um conjunto
de fatores contribuiu para esse sucesso. Em primeiro lugar, a grande liquidez internacional e
um elevado patamar de reservas, somados a abertura da economia brasileira foram
fundamentais para assegurar a eficácia da âncora cambial. Em segundo lugar, o sucesso das
estratégias de desindexação com a criação de um padrão estável de valor denominado URV –
Unidade Real de Valor. Em terceiro lugar, o governo tinha o apoio político do Congresso. E
em quarto lugar, os juros elevados tornaram-se uma âncora para os preços (CASTRO, 2005).
3. METODOLOGIA
A análise de conteúdo dos prospectos de emissão foi o método utilizado. O critério de
análise das características das emissões de debêntures baseou-se no trabalho de Anderson
(1999).
Das emissões públicas registradas em 2004 e 2005 na CVM (2005; 2006) e no SND
(2005), foram selecionadas as emissões de empresas não-financeiras. A amostra é composta
de 88 emissões.
A estatística descritiva foi escolhida para organizar, resumir e apresentar as
características observadas (STEVENSON, 1981). A ferramenta utilizada foi a distribuição de
freqüências.
ESPÉCIE/GARANTIA N %
Real 16 18
Subordinada 11 13
Quirografária 55 63
Flutuante 6 6
Total 88 100
Fonte: Elaborado pela autora.
dólar representaram 28% e 5%, respectivamente. Em 2005, 80% das emissões estavam
atreladas à taxa DI (Tabela 3).
A Tabela 4 apresenta a existência de cláusulas de resgate antecipado, amortização e
remuneração de prêmio nas emissões da amostra. 54% das emissões não apresentavam
cláusula de resgate antecipado, 50% apresentavam cláusula de amortização e 82% não
previam remuneração de prêmio.
CLÁUSULA N %
Resgate antecipado
Sim 28 32
Não 48 54
Não disponível 12 14
Amortização
Sim 44 50
Não 35 40
Não disponível 9 10
Prêmio
Sim 14 16
Não 72 82
Não disponível 2 2
Fonte: Elaborado pela autora.
ANO N %
2004 18 39
2005 28 61
Total 46 100
Fonte: Elaborado pela autora.
Tabela 8. Comparação dos resultados encontrados neste estudo com os de Anderson (1999).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em estudo realizado em 1999, Anderson analisou 50 contratos de emissão de
debêntures de empresas brasileiras não-financeiras. Nesse período, a economia brasileira
apresentava: inflação elevada, instituições frágeis, intervenção do Estado na economia e
volatilidade dos indicadores econômicos.
Para atenuar os efeitos dessa instabilidade, as empresas utilizavam: 1. indexadores
para reduzir o risco de inflação para os investidores; 2. mecanismos de vencimento
antecipado, que proporcionavam possibilidades de saída ou renegociação para os investidores;
3. cláusulas que restringem as decisões de investimento, financiamento e distribuição de
dividendos dos emissores; 4. mecanismos para reduzir a dependência da ineficiência
institucional.
O Plano Real, instituído no Brasil em 1994, trouxe estabilidade à economia, e as
debêntures tornaram-se uma alternativa atraente de captação de recursos.
O objetivo deste estudo foi verificar se a estabilidade da economia, proporcionada pelo
Plano Real, tem influência nas características das emissões de debêntures brasileiras.
As características de 88 emissões de debêntures de empresas não-financeiras de 2004 e
2005 (quando o Plano Real encontrava-se consolidado) foram analisadas e comparadas com
as características encontradas por Anderson (1999) em estudo com emissões de 1989 a 1993
(antes do Plano Real).
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A análise das emissões de 2004 e 2005 mostra que a estabilização da economia trouxe
uma mudança nas características das debêntures. As principais diferenças encontradas são:
A volatilidade vivida em passado recente pode ser uma explicação possível para a
presença dessas cláusulas.
Outras pesquisas podem ser realizadas a partir desses dados. Sugere-se uma pesquisa
no mercado secundário de debêntures.
REFERÊNCIAS
ANDERSON, C. W. Financial contracting under extreme uncertainty: an analysis of Brazilian
corporate debentures. Journal of Financial Economics, v. 51, p. 45-84, 1999.
FILGUEIRA, A. L. L.; LEAL, R. P. C. Uma análise das cláusulas das escrituras de emissão
de debêntures brasileiras após a estabilização econômica. In: Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração - ANPAD, XXII, 1998, Foz do Iguaçu. Anais... Foz
do Iguaçu: ANPAD, 1998. CD-ROM.
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