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O Ambiente Econômico e as Emissões de Debêntures no Brasil

Elizabeth Krauter
ekrauter@usp.br
Universidade de São Paulo (USP), FEA – São Paulo, SP, Brasil

RESUMO
Em estudo realizado com 50 contratos de emissão de debêntures de empresas brasileiras não-
financeiras de 1989 a 1993, Anderson (1999) encontrou evidências de que o ambiente econômico tem
influência na definição das características das emissões de debêntures. Tomando por base esse
estudo, as características de 88 emissões de debêntures de empresas não-financeiras de 2004 e 2005
foram analisadas e comparadas com as características encontradas por Anderson, com o objetivo de
verificar se a estabilidade da economia, proporcionada pelo Plano Real, tem influência nas
características das emissões de debêntures brasileiras. A análise mostra que a estabilidade trouxe
mudanças e as principais foram: a) diminuição da utilização de indexadores ligados à inflação; b)
diminuição da utilização de remuneração de prêmio, de resgate antecipado e de amortização, e c)
diminuição da emissão de debêntures conversíveis.
Palavras-Chave: Debêntures. Estabilidade econômica. Instabilidade econômica. Características das
emissões de debêntures.

1. INTRODUÇÃO
Antes da implantação do Plano Real em 1994, a economia brasileira apresentava altas
taxas de inflação, instituições frágeis, intervenção do Estado na economia e volatilidade dos
indicadores econômicos.
Um estudo realizado por Anderson (1999) encontrou evidências de que o ambiente
econômico/institucional tem influência na definição das características das emissões de
debêntures.
O objetivo deste estudo é verificar se a estabilidade da economia, proporcionada pelo
Plano Real, tem influência nas características das emissões de debêntures brasileiras. Para
atingir esse objetivo, as características de 88 emissões de debêntures de empresas não-
financeiras de 2004 e 2005 (quando o Plano Real encontrava-se consolidado) foram
analisadas e comparadas com as características encontradas por Anderson (1999) em estudo
com 50 emissões de empresas não-financeiras de 1989 a 1993 (antes do Plano Real).
O artigo está dividido em quatro seções: a primeira apresenta uma revisão da teoria, a
segunda expõe a metodologia utilizada, a terceira apresenta a análise dos resultados e a quarta
seção conclui com as considerações finais.

2. REVISÃO TEÓRICA

2.1. DEBÊNTURES
As debêntures são títulos de crédito, emitidas por empresas de capital aberto, para
captar recursos de médio e de longo prazo (ASSAF NETO, 2005; SND, 2005;
PENTAGONO, 2005).
IV SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia

A captação de recursos através de debêntures apresenta algumas vantagens em relação


a outras fontes de financiamento (SND, 2005):

Flexibilidade;
Menores custos de captação;
Pagamento de juros dedutíveis;
Não alteração do controle acionário (debêntures simples).

A flexibilidade permite que as empresas modelem as emissões de acordo com suas


necessidades (SND, 2005).
No período de 1990 a 2005, o SND – Sistema Nacional de Debêntures –, direcionou
mais de US$ 68 milhões para as empresas brasileiras. Cerca de 80% desse total, ou US$ 55
bilhões foram captados a partir da implantação do Plano Real, o que demonstra a preferência
pela debênture em períodos de estabilidade econômica (SND, 2005).

2.2. O PROCESSO DE EMISSÃO


As debêntures são regulamentadas pela Lei 6.404 de 15/12/1976 – a Lei das
Sociedades por Ações, em seu capítulo V, artigos 52 a 74.

Figura 1. Processo de emissão de debêntures.


Fonte: SND (2005).

A Figura 1 ilustra o processo de emissão de debêntures. A empresa escolhe uma


instituição financeira para estruturar e coordenar o processo de emissão. Essa instituição,
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denominada coordenador-líder, será responsável pela modelagem da operação, registro na


CVM – Comissão de Valores Mobiliários –, apresentação ao mercado, formação do pool de
distribuição e colocação dos títulos junto aos investidores.
O coordenador-líder deverá, também, elaborar, junto com a empresa emissora, a
escritura de emissão e o prospecto. A escritura de emissão é celebrada com base na
autorização deliberada na Assembléia Geral Extraordinária da empresa emissora. No
prospecto estão descritas as características da distribuição, os direitos conferidos pelos títulos,
garantias, prazos e demais condições.
Para emissão pública, a empresa deve ter registro de companhia aberta; a emissão de
debêntures deve ser registrada na CVM; a ata que deliberou sobre a emissão deve ser
arquivada no registro do comércio e deve ser publicada; a escritura da emissão deve ser
inscrita no registro de comércio; e se for o caso, as garantias devem ser constituídas.
A emissão pública exige a presença do agente fiduciário, que representa os interesses
dos debenturistas junto à sociedade emissora.
É necessário, também, o cadastramento da empresa emissora e da emissão no SND,
administrado pela ANDIMA – Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto –, e
operacionalizado pelo CETIP – Centro de Custódia e de Liquidação Financeira de Títulos.
Esse último se encarregará de confeccionar o modelo de subscrição da debênture e
encaminha-lo a CVM.
Após a concessão do registro da emissão pela CVM, o CETIP disponibiliza as telas do
SDT – Sistema de Distribuição de Títulos –, e inicia-se o processo de distribuição e
liquidação financeira da operação.

2.3. CARACTERÍSTICAS DAS DEBÊNTURES


As principais características das debêntures são (PENTAGONO, 2005;
INVESTSHOP, 2005):

1. Data da emissão
Dentre as condições de emissão deliberadas na Assembléia Geral Extraordinária
deverá, necessariamente, constar a data de emissão das debêntures.

2. Quantidade de títulos
A empresa pode fazer mais de uma emissão e cada emissão pode ser dividida em
séries.

3. Valor nominal
O valor nominal deve ser expresso em moeda nacional.

4. Valor total da emissão


A Assembléia Geral Extraordinária é que delibera o montante da emissão, que pode
ser dividido em séries.
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5. Séries
A emissão pode ser em série única, em um número determinado de séries, ou em
séries indeterminadas.

6. Vencimento
O vencimento das debêntures deverá constar da escritura de emissão. A emissora
poderá estipular amortizações parciais de cada série, criar fundos de amortização e reservar-se
o direito de resgate antecipado, parcial ou total, dos títulos da mesma série. O vencimento da
debênture pode, também, ser condicionada à ocorrência de determinadas condições.

7. Forma
As debêntures podem ser nominativas ou escriturais. As debêntures nominativas são
aquelas em cujos certificados consta o nome do titular.
As debêntures escriturais são nominativas, mas não existe a emissão do certificado.
São mantidas em contas de depósito, em nome de seus titulares, em instituição financeira
depositária designada pela emissora.
As debêntures ao portador ou endossáveis foram extintas pela Lei nº 9.457/97.

8. Espécie
Dependendo da garantia, têm-se as seguintes espécies:
Debêntures com garantia real: os direitos creditórios dos debenturistas
são garantidos por bens do ativo da emissora ou de terceiros, que não
podem ser negociados até o vencimento das obrigações por eles
garantidas.
Debêntures com garantia flutuante: nesse caso, as debêntures têm
privilégio geral sobre o ativo da emissora, sem que isso impeça a
negociação dos bens que o compõem.
Debêntures quirografárias ou sem preferência: nesse caso, as
debêntures concorrem em igualdade de condições com os demais
credores quirografários da emissora. As debêntures quirografárias não
oferecem nenhuma garantia real aos seus detentores.
Debêntures subordinadas: as debêntures que não gozam de garantia
podem conter cláusula de subordinação aos credores quirografários da
companhia. Isto significa que, no caso de liquidação da companhia, os
debenturistas têm preferência para ressarcimento do valor aplicado
somente em relação aos acionistas.

9. Tipo
As debêntures podem ser: simples, conversíveis e permutáveis. A escritura das
debêntures simples não prevê a conversão em ações. Já a escritura das debêntures
conversíveis permite a conversão em ações e estipula as condições.
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As debêntures permutáveis são consideradas do tipo simples, acrescidas de uma opção


de permutar uma debênture por uma quantidade fixa de ações. A grande diferença é que as
debêntures permutáveis são trocadas por ações de uma outra companhia, enquanto que as
conversíveis são convertidas por ações da própria emissora, além de apresentar um aumento
do capital social, quando da conversão.

10. Formas de amortização e resgate


O resgate de uma emissão de debêntures pode ser feito através de vários mecanismos.
Os mais utilizados são:
Resgate antecipado facultativo (call option): através deste mecanismo,
o emissor das debêntures pode, a qualquer momento, promover o
resgate total ou parcial dos títulos em circulação. No caso de resgate
parcial, o mesmo deve ser efetuado através de um sorteio.
Resgate obrigatório ou recompra obrigatória (put option): este
mecanismo permite ao debenturista ter suas debêntures resgatadas ou
recompradas pelo emissor em determinadas datas e quantidades
previamente descritas na escritura de emissão. Esta condição é bastante
comum em debêntures com cláusula de repactuação. A cláusula de
repactuação permite a renegociação das condições de remuneração dos
títulos em uma data pré-determinada. A repactuação visa adequar as
condições de remuneração das debêntures numa data futura, onde os
debenturistas, representados pelo agente fiduciário, e a emissora
negociam novos termos de remuneração. Caso alguns dos debenturistas
não concordem com os termos negociados, o emissor é obrigado a
resgatar ou recomprar as debêntures, acrescidas das condições de
remuneração anteriores a repactuação. No caso de recompra, as
debêntures poderão ser canceladas, permanecer em tesouraria ou serem
novamente colocadas em mercado.
Fundo de amortização: neste caso, a emissora se obriga a constituir um
fundo de disponibilidade de maneira a minimizar o impacto no caixa
quando do vencimento das debêntures emitidas.
Recompra: é facultado à emissora adquirir debêntures em circulação,
por preço não superior ao saldo de seu valor nominal unitário não
amortizado, acrescido das condições de remuneração das debêntures.

11. Remuneração
De acordo com a Decisão Conjunta nº 7 do Banco Central do Brasil e da CVM, de
23/09/1999, as debêntures podem ter por remuneração:

Taxa de juros prefixada.


Taxa referencial (TR), observado o prazo mínimo de quatro meses para
o vencimento ou período de repactuação. Somente as empresas de
leasing podem emitir com este indexador.
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Taxa de juros flutuante, observado o prazo mínimo de 120 dias para o


vencimento ou período de repactuação, admitindo-se que os intervalos
de reajuste da taxa utilizada como referencial ocorram em prazo não
inferior a 30 dias.
Taxa de juros fixa e cláusula de atualização com base em índice de
preços, atendido o prazo mínimo de um ano para vencimento ou
período de repactuação.

Além das condições de remuneração apresentadas acima, as debêntures também


podem garantir ao investidor participação nos lucros da companhia emissora ou um prêmio de
reembolso. Apesar de não serem muito utilizadas pelo mercado, as debêntures com
participação nos lucros oferecem uma percentagem do lucro líquido da companhia emissora.
O prêmio de reembolso garante uma remuneração adicional aos debenturistas,
permitindo um aumento da remuneração oferecida pelo título e possibilitando uma adequação
de seus rendimentos às condições de mercado na época de emissão.
2.4. O ESTUDO DE ANDERSON
Em seu estudo, Anderson (1999) analisou 50 contratos de emissão de debêntures de
empresas brasileiras não-financeiras, emitidos entre 1989 e 1993.
O ambiente econômico na época da pesquisa de Anderson (1999) era hostil ao
contrato financeiro. Segundo o autor, quatro características presentes na época, elevavam os
riscos dos contratos: inflação alta, volatilidade da atividade econômica, instituições fracas, e
um Estado intervencionista.
Essa forte instabilidade nas condições macroeconômicas levou os agentes de mercado
a desenvolver uma série de mecanismos de proteção aos riscos, para viabilizar a emissão de
debêntures. Anderson (1999) identificou os seguintes procedimentos utilizados pelas
empresas:

1. Indexação do valor de face a um índice, e pagamento de prêmio, para proteger


o investidor das perdas causada pela alta inflação;
2. Mecanismos contingenciais de vencimento, tais como: renegociação periódica
dos termos do contrato, opção de compra do emissor, opção de venda do
investidor, direito do investidor de converter as debêntures em ações;
3. Cláusulas que restringem as decisões de investimento, financiamento e
distribuição de resultados dos emissores;
4. Mecanismos adicionais de auto-execução para compensar a ineficiência
institucional.

Anderson (1999) encontrou evidências quanto à influência da instabilidade econômica


nas características das debêntures.
Tomando por base esse trabalho de Anderson (1999), Filgueira e Leal (1998)
analisaram 91 contratos de emissão de debêntures brasileiras de julho de 1994 a dezembro de
1997, com o objetivo de investigar as alterações ocorridas após o Plano Real. Os resultados da
pesquisa apontaram as seguintes alterações:
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Menor utilização da indexação à inflação doméstica;


Utilização de cláusulas de juros remuneratórios com base em taxas flutuantes;
Redução na utilização de cláusulas de remuneração de prêmio;
Redução na utilização de cláusulas que prevêem vencimento antecipado
(repactuação programada ou resgate antecipado);
Maior presença de debêntures conversíveis;
Aumento na utilização de cláusulas que restringem compromissos relativos a
investimentos e financiamentos.

2.5. O PLANO REAL

Anunciado em 28/02/1994 como um programa de estabilização da economia, o Plano


Real foi concebido em três fases: ajuste fiscal, desindexação, e âncoras monetária e cambial
(CASTRO, 2005).

O Plano Real foi bem sucedido em sua tentativa de combater a inflação. Um conjunto
de fatores contribuiu para esse sucesso. Em primeiro lugar, a grande liquidez internacional e
um elevado patamar de reservas, somados a abertura da economia brasileira foram
fundamentais para assegurar a eficácia da âncora cambial. Em segundo lugar, o sucesso das
estratégias de desindexação com a criação de um padrão estável de valor denominado URV –
Unidade Real de Valor. Em terceiro lugar, o governo tinha o apoio político do Congresso. E
em quarto lugar, os juros elevados tornaram-se uma âncora para os preços (CASTRO, 2005).

Em 2004, o processo de estabilização estava consolidado. O Plano Real tinha posto


fim a um processo histórico de indexação (GIAMBIAGI, 2005).

3. METODOLOGIA
A análise de conteúdo dos prospectos de emissão foi o método utilizado. O critério de
análise das características das emissões de debêntures baseou-se no trabalho de Anderson
(1999).
Das emissões públicas registradas em 2004 e 2005 na CVM (2005; 2006) e no SND
(2005), foram selecionadas as emissões de empresas não-financeiras. A amostra é composta
de 88 emissões.
A estatística descritiva foi escolhida para organizar, resumir e apresentar as
características observadas (STEVENSON, 1981). A ferramenta utilizada foi a distribuição de
freqüências.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


4.1. CARACTERÍSTICAS DAS EMISSÕES DE 2004 e 2005
Nos anos de 2004 e 2005 foram registradas no SND, 106 emissões de debêntures.
Foram 47 emissões em 2004, sendo 4 (9%) de empresas financeiras e 43 (91%) de empresas
não-financeiras. E, em 2005, foram 59 emissões, sendo 14 (24%) de empresas financeiras e
45 (76%) de empresas não-financeiras (Tabela 1).
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As 88 emissões de empresas não-financeiras representavam 83% das emissões e 41%


do volume emitido no período em análise. O volume médio dessas emissões foi de R$
238.984 milhões e o prazo médio foi de 70 meses. Notou-se um aumento, de 2004 para 2005,
no número de emissões com prazos mais longos.
Quanto ao tipo de debênture, das 47 emissões de 2004, apenas duas eram de
debêntures conversíveis em ações. Já em 2005, não houve emissão de debêntures com
cláusula de conversibilidade.

Tabela 1. Emissões de debêntures registradas em 2004 e 2005.

EMISSÕES 2004 2005


N R$ (mil) N R$ (mil)
Empresas não-financeiras 43 9.394.451 45 11.638.852
Empresas financeiras 4 220.000 14 29.900.000
Total 47 9.614.451 59 41.538.852
Fonte: Elaborado pela autora.

Quanto à garantia das emissões de debêntures de empresas não-financeiras emitidas


em 2004 e 2005, 63% foram quirografárias, ou seja, os debenturistas concorrem em igualdade
de condições com os demais credores quirografários da companhia emissora (Tabela 2).

Tabela 2. Espécie/garantia das emissões da amostra.

ESPÉCIE/GARANTIA N %
Real 16 18
Subordinada 11 13
Quirografária 55 63
Flutuante 6 6
Total 88 100
Fonte: Elaborado pela autora.

Tabela 3. Índice presente nas emissões da amostra.

ÍNDICE 2004 2005


N % N %
DI 25 58 36 80
IGP-M 12 28 8 18
SELIC 1 2  
TJLP   1 2
Dólar 2 5  
Não disponível 3 7  
Total 43 100 45 100
Fonte: Elaborado pela autora.

Em 2004, 58% das emissões da amostra estavam atreladas à taxa DI – Depósito


Interbancário. Já os papéis indexados ao IGP-M – Índice Geral de Preços do Mercado –, e ao
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dólar representaram 28% e 5%, respectivamente. Em 2005, 80% das emissões estavam
atreladas à taxa DI (Tabela 3).
A Tabela 4 apresenta a existência de cláusulas de resgate antecipado, amortização e
remuneração de prêmio nas emissões da amostra. 54% das emissões não apresentavam
cláusula de resgate antecipado, 50% apresentavam cláusula de amortização e 82% não
previam remuneração de prêmio.

Tabela 4. Existência de cláusulas de resgate antecipado, amortização e remuneração de prêmio.

CLÁUSULA N %
Resgate antecipado
Sim 28 32
Não 48 54
Não disponível 12 14
Amortização
Sim 44 50
Não 35 40
Não disponível 9 10
Prêmio
Sim 14 16
Não 72 82
Não disponível 2 2
Fonte: Elaborado pela autora.

A Tabela 5 apresenta a destinação dos recursos captados. Em primeiro lugar, com


51%, aparecem as emissões destinadas ao alongamento do perfil de endividamento. Em
segundo lugar, com 16%, aparecem as emissões destinadas a captar recursos para capital de
giro.

Tabela 5. Destino dos recursos captados nas emissões da amostra,

DESTINAÇÃO DOS RECURSOS N %


Alongamento do perfil de endividamento 56 51
Capital de giro 18 16
Redução de passivo 8 7
Investimento ou aquisição de participações societárias 4 4
Implantação de projeto 7 6
Reestruturação, modernização e recuperação empresarial 3 2
Recompra ou resgate de debêntures de emissão anterior 2 1
Investimento em imobilizado 4 4
Investimento em infra-estrutura 4 4
Não informado 5 5
Total 110 100
Obs: Algumas emissões apresentavam mais de uma destinação para os recursos.
Fonte: Elaborado pela autora.
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A Tabela 6 mostra um aumento na utilização do procedimento de bookbuilding. Em


2004, 39% das emissões da amostra utilizaram o procedimento, passando para 61% em 2005.

Tabela 6. Utilização do procedimento de bookbuilding nas emissões da amostra.

ANO N %
2004 18 39
2005 28 61
Total 46 100
Fonte: Elaborado pela autora.

Quanto ao procedimento adotado na distribuição, houve um aumento, no período


analisado, da utilização da garantia de acesso a todos os investidores. Esse procedimento
prevê a utilização de alguma sistemática de reserva por parte do emissor ou do líder do
lançamento (Tabela 7).

Tabela 7. Procedimento de distribuição nas emissões da amostra.

DISTRIBUIÇÃO 2004 2005


Diferenciado 29 22
Com garantia de acesso 0 13
Não informado 14 10
Fonte: Elaborado pela autora.

4.2. COMPARAÇÃO COM OS RESULTADOS ENCONTRADOS POR ANDERSON


A Tabela 8 apresenta um comparativo das principais características das emissões de
debêntures encontradas neste estudo (após o Plano Real) e no estudo de Anderson (1999)
(antes do Plano Real).
No estudo de Anderson (1999), realizado em um período de grande instabilidade
econômica, 36% das emissões apresentavam cláusula de conversibilidade em ações. Neste
estudo apenas 2% das emissões eram de debêntures conversíveis.
No estudo de Anderson (1999), 88% das emissões da amostra utilizavam mecanismos
de indexação à inflação. Neste estudo, apenas 25% das emissões da amostra utilizavam esse
mecanismo. A Tabela 3 mostrou um aumento na utilização de juros, sendo a taxa DI o índice
mais utilizado.
A remuneração de prêmio passou a ser menos utilizada após o Plano Real. Na amostra
de Anderson (1999), essa característica aparecia em 84% das emissões. Nesse estudo aparece
apenas em 16%.
A presença de cláusulas de resgate antecipado diminuiu de 82% no estudo de
Anderson (1999) para 32% no presente estudo.
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Tabela 8. Comparação dos resultados encontrados neste estudo com os de Anderson (1999).

CARACTERÍSTICAS Estudo atual Anderson


N % N %
Atualização monetária
Nenhuma indexação 61 69  
Indexação à inflação 22 25 44 88
Indexação à variação cambial   6 12
Indexação ao dólar 2 2  
Não disponível 3 3  
Total 88 100 50 100
Remuneração de prêmio
Nenhuma remuneração de prêmio 72 82 8 16
Presença de remuneração de prêmio 14 16 42 84
Não disponível 2 2  
Total 88 100 50 100
Resgate antecipado
Nenhuma provisão para resgate antecipado 48 55 9 18
Provisão para resgate antecipado 28 32 41 82
Não disponível 12 14  
Total 88 100 50 100
Tipo de debênture
Simples 86 98 32 64
Conversível 2 2 18 36
Total 88 100 50 100
Fonte: Elaborado pela autora.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em estudo realizado em 1999, Anderson analisou 50 contratos de emissão de
debêntures de empresas brasileiras não-financeiras. Nesse período, a economia brasileira
apresentava: inflação elevada, instituições frágeis, intervenção do Estado na economia e
volatilidade dos indicadores econômicos.
Para atenuar os efeitos dessa instabilidade, as empresas utilizavam: 1. indexadores
para reduzir o risco de inflação para os investidores; 2. mecanismos de vencimento
antecipado, que proporcionavam possibilidades de saída ou renegociação para os investidores;
3. cláusulas que restringem as decisões de investimento, financiamento e distribuição de
dividendos dos emissores; 4. mecanismos para reduzir a dependência da ineficiência
institucional.
O Plano Real, instituído no Brasil em 1994, trouxe estabilidade à economia, e as
debêntures tornaram-se uma alternativa atraente de captação de recursos.
O objetivo deste estudo foi verificar se a estabilidade da economia, proporcionada pelo
Plano Real, tem influência nas características das emissões de debêntures brasileiras.
As características de 88 emissões de debêntures de empresas não-financeiras de 2004 e
2005 (quando o Plano Real encontrava-se consolidado) foram analisadas e comparadas com
as características encontradas por Anderson (1999) em estudo com emissões de 1989 a 1993
(antes do Plano Real).
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A análise das emissões de 2004 e 2005 mostra que a estabilização da economia trouxe
uma mudança nas características das debêntures. As principais diferenças encontradas são:

Diminuição na utilização de indexadores ligados à inflação;


Diminuição na utilização de remuneração de prêmio, resgate antecipado e
amortização;
Diminuição da emissão de debêntures conversíveis.

Em relação ao estudo de Filgueira e Leal (1998), o presente estudo encontrou uma


diminuição na emissão de debêntures conversíveis. As demais diferenças encontradas pelos
autores foram corroboradas nesse estudo.
A análise dos prospectos mostrou a presença, em grande parte das emissões da
amostra, de:

Cláusula de vencimento antecipado em caso de dificuldades financeiras ou da


falta de cumprimento das cláusulas por parte do emissor;
Cláusula que estabelece um novo índice em caso de extinção do índice
original.

A volatilidade vivida em passado recente pode ser uma explicação possível para a
presença dessas cláusulas.
Outras pesquisas podem ser realizadas a partir desses dados. Sugere-se uma pesquisa
no mercado secundário de debêntures.

REFERÊNCIAS
ANDERSON, C. W. Financial contracting under extreme uncertainty: an analysis of Brazilian
corporate debentures. Journal of Financial Economics, v. 51, p. 45-84, 1999.

ASSAF NETO, A. Mercado financeiro. São Paulo: Atlas, 2005.

CASTRO, L. B. de. Privatização, abertura e desindexação: a primeira metade dos anos 90


(1990-1994). In: GIAMBIAGI, F. et al. (Org.). Economia brasileira contemporânea. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005.

CVM. Consulta a prospectos de emissões registradas de debêntures, legislação. Disponível


em www.cvm.gov.br . Acesso em: 02/12/2005; 05/01/2006; 09/01/2006.

FILGUEIRA, A. L. L.; LEAL, R. P. C. Uma análise das cláusulas das escrituras de emissão
de debêntures brasileiras após a estabilização econômica. In: Associação Nacional de Pós-
Graduação e Pesquisa em Administração - ANPAD, XXII, 1998, Foz do Iguaçu. Anais... Foz
do Iguaçu: ANPAD, 1998. CD-ROM.
IV SEGeT – Simpósio de Excelência em Gestão e Tecnologia

GIAMBIAGI, F. Estabilização, reformas e desequilíbrios macroeconômicos: os anos FHC


(1995-2002). In: GIAMBIAGI, F. et al. (Org.). Economia brasileira contemporânea. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2005.

INVESTSHOP. Consulta a informações sobre debêntures. Disponível em


www.investshop.com . Acesso em 01/12/2005.

PENTAGONO. Consulta a informações sobre debêntures. Disponível em


www.pentagonotrustee.com.br . Acesso em 01/12/2005.

SND. Consulta a prospectos de emissões de debêntures. Disponível em


www.debentures.com.br . Acesso em 02/12/2005.

STEVENSON, W. J. Estatística aplicada à administração. São Paulo: Harbra, 1981.

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