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ABORDAGEM HISTÓRICA NO ENSINO DE SISTEMAS DE

NUMERAÇÃO EM ÂMBITO DO PIBID

Samara Cristine Oliveira Sales


Universidade Federal do Pará
Samysales15@gmail.com

Profa. Dra. Kátia Liége Nunes Gonçalves


Universidade Federal do Pará-UFPA
liegekatia@gmail.com

Resumo:
Este artigo se constituiu a partir de uma experiência vivenciada no campo de atuação do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) e discute como a História da Matemática
pode ser incorporada ao ensino de sistema de numeração decimal. No decorrer deste estudo,
fontes foram analisadas para sustentar a importância dessa abordagem na Educação Matemática
e a narrativa foi usada como método de pesquisa para descrever sua implementação em sala de
aula. Os resultados mostraram que essa prática auxilia no aprendizado dos estudantes dos
estudantes da E. M. E. F. Maria Hyluisa Pinto Ferreira em Curuçá-Pa, permitindo que explorem
suas habilidades cognitivas ao relacionar sistemas de numeração antigos com o sistema atual,
além de contribuir para uma compreensão humanista da Matemática e promovendo reflexões
sobre sua construção social. Esperamos que esta proposta de trabalho acrescente para o estudo da
História da Matemática o ensino e aprendizagem de conteúdos matemáticos.

Palavras-chave: História da Matemática. Sistemas de numeração. Ensino e Aprendizagem.

Introdução: A história da matemática no contexto educacional

O estudo de sistema de numeração decimal é objeto de conhecimento integrado à


unidade temática Números que pode receber diferentes ênfases em cada nível de
escolarização (BRASIL, 2018, p. 268). Esta área do conhecimento é base fundamental
para a compreensão de outros conteúdos matemáticos necessários para a integralização
de cada nível escolar, por isso é necessário que mereça um certo destaque por parte dos
professores. Alinhado à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) (BRASIL, 2017),
acreditamos que a inclusão da história da matemática como recurso pedagógico
“representa um contexto significativo para aprender e ensinar Matemática” (Brasil, 2018,
p. 298).

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Apresentar aos estudantes uma abordagem histórica dos conteúdos matemáticos é
uma forma de mostrar-lhes que essa disciplina é uma criação humana, que evoluiu ao
longo do tempo e foi influenciada por questões tecnológicas e sociais. O uso dessa
estratégia de ensino é sugerido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), quando
afirmam que:
ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mostrar
necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes
momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e
processos matemáticos do passado e do presente, o professor cria
condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais
favoráveis diante desse conhecimento (BRASIL, 1998, p.42).
Além disso, esse recurso pode tornar o ensino da disciplina mais acessível e
envolvente, ligando-a a histórias reais e às pessoas que contribuíram para essa ciência ao
longo dos séculos. Nessa perspectiva Lopes (2014) diz que a História da Matemática
como metodologia
pode tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes. Afinal, ao perceber
a fundamentação histórica da matemática, o professor tem em suas
mãos ferramentas para mostrar o porquê de estudar determinados
conteúdos, fugindo das repetições mecânicas de algoritmos. O resgate
da história dos saberes matemáticos ensinados no espaço escolar traz a
construção de um olhar crítico sobre o assunto em questão,
proporcionando reflexões acerca das relações entre a história cultural e
as tecnologias (p. 321).
Na linha desse pensamento, cabe evidenciar que a abordagem histórica tem
potencial de promover no estudante uma compreensão significativa de como diferentes
sociedades, em diferentes épocas, desenvolveram os seus próprios sistemas de
representação de número e como essa evolução contribuiu para a nossa sociedade atual,
pois “conhecer, historicamente, pontos altos da Matemática de ontem poderá [...] orientar
no aprendizado e no desenvolvimento da matemática de hoje” (D’AMBROSIO, 1996,
p.30).
Nesse viés, implementar uma abordagem histórica no estudo de sistemas de
numeração antigos, surge como proposta de ensino para aplicação do conteúdo de sistema
de numeração decimal em aulas de Matemática, cuja a interação entre professor e
estudantes seja fundamental para implementação dessa proposta, e consequentemente
para um resgate dos saberes históricos e sociais acoplado aos saberes matemáticos
discutidos em aula. Portanto, “compreender como os diversos significados vão se
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constituindo a partir das enunciações produzidas pelos sujeitos interlocutores durante as
interações, em que a produção do conhecimento está relacionada a essa dinâmica e ao
contexto social; cultural” e histórico (GONÇALVES, et al., 2008, p. 2).
No decorrer deste texto, mostraremos alguns resultados experienciados que
obtivemos ao aplicar esta estratégia em uma turma de 6º ano do Ensino Fundamental, a
partir de um conjunto de experiências proporcionadas pelo PIBID.

O estudo dos sistemas de numeração e alguns exemplos abordados

Os sistemas de numeração desempenharam um papel fundamental para a


fundamentação da História da Matemática. Cada cultura desenvolveu seu próprio sistema
de representar números, desde “o antigo sistema de numeração egípcio baseado em
agrupamentos simples” (EVES, 2012, p. 30) até o sistema decimal indo-arábico
amplamente utilizado hoje. Ao apresentar os sistemas de numeração que permearam a
história da humanidade, o estudante “entenderá que as características que o sistema de
numeração decimal apresenta têm origem em outros sistemas e constatará que a
Matemática é um conhecimento dinâmico, fruto da construção permanente de saberes
pelos seres humanos” (PAIVA, 2018, p. 96).
Nesse sentido, vale ressaltar a importância do papel do professor como
apresentador desses conhecimentos, reconhecendo que
“o processo de gerar conhecimento como ação é enriquecido pelo
intercâmbio com outro, imersos no mesmo processo, por meio do que
chamamos de comunicação. Nessa perspectiva é imprescindível o
diálogo que se estabelece entre professor/aluno, para que ocorra a
aprendizagem significativa; na qual estão implícitas crenças,
concepções e a cultura de sala de aula a respeito da educação e do
conhecimento matemático (D’ AMBROSIO apud GONÇALVES, et
al., 2008, p. 2).

Sistema de numeração Egípcio

Esse sistema é “tão antigo quanto as pirâmides, datando de cerca de 5.000 anos
atrás” (BOYER, 2012, p. 30) e era representado por símbolos que lembravam elementos
usuais da sua cultura, como mostrado na Figura 1. “O sistema egípcio era de base dez,

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assim como nosso sistema atual, a diferença entre eles era que o dos egípcios não era
posicional, seus símbolos eram adicionados uns aos outros não importando a posição,
cada símbolo podia ser repetido no máximo nove vezes” (BORGES, 2012, p. 41). A
representação de números dos egípcios se dava da seguinte maneira:
um traço vertical representa uma unidade, um V invertido indicava 10,
um laço que lembra um pouco a letra C maiúscula valia 100, uma flor
de lótus, 1.000, um dedo dobrado, 10.000, um peixe era usado para
indicar 100.000 e uma figura ajoelhada (talvez o deus do Sem-fim)
1.000.000. (BOYER, 2012, p. 30)

Figura 1 – símbolos utilizados pra representar números egípcios

Fonte: EVES, 2012

Sistema de numeração Maia

A cultura Maia desenvolveu um sistema de numeração vigesimal, ou seja, de base


vinte, eles “usavam arranjo vertical de posição, geralmente com 20 como base primária e
5 como auxiliar.” (BOYER, 2012, p. 25). “Esses numerais eram representados por
símbolos compostos por pontos (para representar unidades) e barras (para representar o
cinco), sendo o zero a única exceção por ser representado pelo desenho de uma concha”
(BORGES, 2012, p. 45). Essa representação é mostrada a seguir na Figura 2.

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Figura 2 – Representação numérica Maia

Fonte: EVES, 2012

Sistema de numeração Romano

Os Romanos utilizavam um sistema de agrupamento simples, de base 10 (EVES,


2012), no qual usavam as próprias letras do alfabeto para representar seus números, como
mostra a Figura 3. Apesar de não ser o sistema utilizado por nós para desenvolver
conceitos matemáticos, este é considerado o sistema de numeração mais usado no nosso
cotidiano em contextos específicos sociais. Seu valor de posicionamento obedece a alguns
princípios, a saber:
1. Todo símbolo numérico que possui valor menor do que o que está à sua
esquerda, deve ser somado ao maior.
2. Todo símbolo numérico que possui valor menor ao que está à sua direita,
deve ser subtraído do maior.
3. Todo símbolo numérico com um traço horizontal sobre ele representa
milhar e o símbolo numérico que apresenta dois traços sobre ele representa
milhão (BORGES, 2012, p. 44).

Figura 3 – Números Romanos

Fonte: Google imagens, 2023

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Descrição da atividade

Para aplicar uma abordagem histórica no ensino de matemática para apresentar os


sistemas numéricos foram promovidos três momentos com estudantes. Primeiramente,
foi proporcionado um momento de interação dialógica entre o professor e os estudantes,
no qual foi exposto a História dos diferentes sistemas de numeração. Essa parte foi
baseada em explorar as características de representações das civilizações antigas: egípcio,
maia e romano.
O segundo momento foi de atividades interativas de aprendizagens entre os
estudantes, onde a turma foi dividida em grupos e cada um ficou responsável por um
sistema de numeração. Na folha de atividade foram propostos problemas e operações com
valores do nosso sistema convencional e os grupos deveriam representa-los de acordo
com o sistema de numeração antigo. Na direção do contexto dialógico e interativo para a
aquisição dos referidos conhecimentos, Gonçalves (2008) ressalta que
O diálogo na sua essência capacita os alunos/alunos e alunos/professores a re-
significarem o conhecimento, conhecer outras experiências, testar novas
ideias, conhecer o que se sabem e o que mais se precisa aprender. A partir da
discussão estabelecida, das diferentes respostas obtidas, o educador atento a
fala e/ou escrita dos alunos, poderá perceber a natureza das respostas,
realizando assim intervenções apropriadas (p.6).

A última fase de aplicação dessa abordagem foi a exposição dos estudos discutidos
através de materiais concreto. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Hyluiza
na cidade de Curuçá/Pará, onde a turma do 6º ano está situada, promoveu um evento
interdisciplinar, em que foram apresentados costumes históricos culturais da cidade, e os
estudantes do 6º ano tiveram a oportunidade de apresentar os conhecimentos adquiridos
para a comunidade estudantil.
A atividade foi realizada da seguinte forma: após os momentos em sala, os
bolsistas do PIBID, juntamente com o professor supervisor, confeccionaram painéis com
as características de cada sistema. Os materiais foram arrumados em forma de exposição
e os próprios estudantes ficaram responsáveis em apresentar para os participantes do
evento (Figuras 4 e 5). Além das apresentações, os estudantes também fizeram
demonstrações simples, conforme relacionavam datas importantes dos eventos históricos
da cidade, previamente escolhidas, à números dos sistemas de numeração antigo.

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Figura 4: Exposição dos painéis Figura 5: Explanação dos estudantes

Fonte: Autoria própria, 2023 Fonte: Autoria própria, 2023

Considerações sobre a experiência e os resultados

Ao acompanhar a turma, do 6º ano da E. M. E. F. Maria Hyluisa Pinto Ferreira na


cidade de Curuçá/Pará, durante a aplicação da atividade antes e durante o evento,
podemos dizer que obtivemos resultados significativos e satisfatórios. Como em todas
turmas com sua diversidade de estudantes, alguns estudantes apresentaram dificuldades
em associar os conceitos, porém a maioria mostrou bom desempenho ao resolver o que
foi proposto. Na última fase dessa atividade ficou evidenciado, à medida que se
expressavam durante a exposição, que os estudantes compreenderam a atividade
apresentada em sala através do método sugerido.
Em consideração reflexiva, ressaltamos que a abordagem histórica, bem como
cultural e social, pode ser uma forma de favorecer a compreensão matemática aos
estudantes, pois, explorar sistemas de numeração não habituais pode promover o
pensamento abstrato, a resolução de problemas e uma compreensão efetiva de conceitos
matemáticos básicos, como adição e subtração, dentre outros conteúdos matemáticos.
Além disso, essa estratégia também promove vislumbra desenvolver a Matemática para
um caminho humanista. Por isso destacamos que essa abordagem possui um aspecto
agregativo tanto conceitual como sócio-histórico-cultual ao contexto educacional.
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Agradecimentos

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Somos gratos a todos que possibilitaram a realização desta experiência de
aprendizado. Primeiramente, a Coordenação Geral do Programa de Bolsa de Iniciação à
Docência – PIBID/UFPA proporcionou a oportunidade de vivenciar e compartilhar essa
experiência de ensino.
Em seguida, nossos sinceros agradecimentos vão para a Coordenação de Área do
Núcleo de Castanhal, representada pelo Professor Dr. Renato Germano Reis Nunes, pela
Profa. Dra. Kátia Liége Nunes Gonçalves e pela Profa. Dra. Roberta Modesto Braga e
para o Supervisor Prof. Máximo de Campos Ferreira Júnior da E. M. E. F. Maria Hyluisa
Pinto Ferreira em Curuçá-Pa. Ressaltamos que o apoio e as orientações apresentadas por
eles foram primordiais para o sucesso desta vivência educacional.

Referências

BORGES, Luciano Rodrigues; BONFIM, Sabrina Helena. A origem dos números.


Interfaces da educação, Paranaíba, v.2, n.6, p.37-49, 2012.

BOYER, Carl. História da Matemática. 3ª ed. São Paulo, SP: Editora Blucher, 2012.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática –


Ensino fundamental. Brasília, 1998.

_______. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC,


2018.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática da teoria à prática. 17ª ed. Editora


Papirus, 1996.

EVES, Howard. Introdução à História da Matemática. 5ª ed. Campinas, SP: Editora da


Unicamp, 2012.

GONÇALVES, K. L. N.; SILVEIRA, M. R. A.; SANTO, A. O. do E.. LINGUAGEM


MATEMÁTICA E LINGUAGEM NATURAL: implicações para compreensão do
sistema de numeração decimal e das quatro operações fundamentais. In: Encontro
Paraense de Educação Matemática, 2008, Belém-Pará. Tendências Metodológicas em
Educação Matemática, 2008.

LOPES, Lidiane Schimitz; ALVES, Antônio Maurício Medeiros. A História da


Matemática em sala de aula: propostas de atividades para a Educação Básica. In: XX
EREMAT - Encontro Regional de Estudantes de Matemática da Região Sul. Bagé, RS,
p. 320–30, nov. 2014.
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PAIVA, Adriana Borges de. A História da Matemática no ensino e na aprendizagem
do sistema de numeração decimal. Boletim Cearense de Educação e História da
Matemática, v. 5, n. 14, p. 85–97, ago. 2018.

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