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AULA 2

ENGENHARIA DO PRODUTO,
QFD, FMEA E DOE

Prof. Thiago Shoji Obi Tamachiro


INTRODUÇÃO

Ferramentas e métodos do projeto informacional e projeto conceitual

As duas primeiras fases do Processo de Desenvolvimento de Produtos


(PDP) são denominadas Projeto Informacional e Projeto Conceitual. Em resumo,
elas envolvem as definições fundamentais de quais serão as características do
produto final, a fim de satisfazer as necessidades dos clientes.
No Projeto Informacional, o foco está em determinar os requisitos que o
cliente deseja em um produto, cujas respostas podem ser encontradas por meio
da ferramenta de Desdobramento da Função Qualidade (QFD, em inglês,
Quality Function Deployment) e benchmarking. Além disso, é essencial obter um
panorama de como a empresa está posicionada em relação aos seus
concorrentes, analisando quais critérios são ganhadores de pedidos (critérios
diferenciais da empresa) e os critérios qualificadores de pedidos (critérios que
devem ser melhorados). Essa análise é realizada por meio de uma avaliação
quantitativa com consumidores e, em seguida, os dados obtidos são utilizados
para a construção de curvas de valor, que irão indicar os critérios que devem ser
levados em consideração no desenvolvimento do produto.
Com base nas definições de requisitos do produto definidas no Projeto
Informacional, a etapa do Projeto Conceitual visa determinar qual é o melhor
conjunto de soluções para o produto por meio de ideias obtidas por ferramentas
e métodos como brainstorming, Análise Funcional, Matriz Morfológica e o
método de seleção de materiais.
Nesta etapa, estudaremos as ferramentas mais empregadas no Projeto
Informacional: Desdobramento da Função Qualidade (QFD), Análise de Curvas
de Valor e benchmarking, e as ferramentas e métodos do Projeto Conceitual:
brainstorming, Análise Funcional, Matriz Morfológica e método de seleção de
materiais.

TEMA 1 – DESDOBRAMENTO DA FUNÇÃO QUALIDADE (QFD)

A primeira ferramenta do Projeto Informacional a ser estudada é o


Desdobramento da Função Qualidade (QFD), também conhecida como casa da
qualidade, ou “voz do cliente”. O QFD foi desenvolvido pela Mitsubishi, na cidade
de Kobe (Japão).

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De acordo com Akao (1990), o QFD tem como principal objetivo traduzir
as necessidades dos clientes em características de qualidade para o produto ou
serviço a ser desenvolvido. Com isso, sua utilização contribui para que a
organização possa identificar a relação de “o quê” (requisitos do cliente) será
desenvolvido, e “como” (características do produto) será desenvolvido.
Para a análise da relação entre requisitos do cliente e as características
do produto, é necessário construir a matriz QFD, apresentada na Figura 1. As
definições de cada campo da matriz serão descritas em seguida.

Figura 1 – Matriz QFD

1. Requisitos do consumidor (“quês”): são os requisitos ou critérios de


desempenho que os consumidores desejam de um determinado produto.
A importância do requisito de desempenho é mensurada por uma nota de
1 a 10, atribuída na coluna “importância para o consumidor”.
2. Características do produto (“comos”): são os elementos e componentes
do produto que permitirão operacionalizar os requisitos dos
consumidores.
3. Matriz de relacionamento: representa a relação entre os “quês” e os
“comos”, sendo que essa avaliação é feita pela equipe de projeto; são
utilizados símbolos que indicam a força de relacionamento. Por exemplo:
caso o produto seja um aplicativo de celular, o requisito do consumidor

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“segurança” terá uma forte relação com a característica do produto
“verificação em duas etapas”.
4. Matriz de correlação: semelhante à matriz de relacionamento, a matriz de
correlação representa a relação entre as características de desempenho;
a avaliação também é feita por símbolos que indicam a força de
relacionamento.
5. Notas competitivas: referem-se à avaliação de cada requisito do
consumidor para o produto oferecido, e também para dois produtos
concorrentes. Essa avaliação é feita com atribuição de notas de 1 a 5.
6. Avaliação técnica do produto: representa a importância absoluta de cada
característica do produto; é calculada pela soma dos produtos das notas
de importância para os consumidores, e as notas de força da matriz de
relacionamento. Com os resultados de importância absoluta, as
características podem ser classificadas em ordem decrescente, obtendo-
se a importância relativa. Por fim, é realizada uma avaliação do grau de
dificuldade técnica de alcançar um alto nível de desempenho em cada
característica do produto.

Com o objetivo de mostrar a aplicação da ferramenta, a Figura 2


apresenta a matriz QFD para o exemplo de uma capa refletora para mochila.

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Figura 2 – Matriz QFD para o exemplo da capa refletora para mochila

Conforme a matriz construída na Figura 2, a equipe de projeto deve


priorizar que o produto tenha as características “2x tecido refletivo” ((10 x 9) + (8
x 3) = 114), “tecido elástico” (9 x 9 = 81) e “estojo para guardar o produto” ((8 x
1) + (9 x 8) = 80) para conseguir atender aos requisitos dos consumidores. Com
a definição de quais critérios são importantes para o produto, todo o
detalhamento em termos dos materiais a serem utilizados, métodos de
fabricação necessários, entre outros, são deixados para a próxima etapa do
PDP, que corresponderá ao Projeto Conceitual.
Em relação à matriz de correlação, foram encontradas apenas duas
relações entre as características do produto: relação negativa entre “tecido
elástico” e “bolsos laterais”, pois com o tempo os pesos dos itens guardados nos
bolsos podem desgastar a elasticidade do tecido. A segunda relação, entre “2x
tecido refletivo” e “tecido elástico”, é uma relação forte, pois ambas as
características podem ser combinadas, caso não exista no mercado tecido
refletivo com elástico disponível.
Quanto à matriz de relacionamentos, todos os requisitos dos
consumidores tiveram pelo menos uma relação com um dos critérios do produto,
seja do tipo forte, médio ou fraco. Além disso, as células que ficaram em branco
indicam que não foi encontrada nenhuma relação possível.
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TEMA 2 – CURVAS DE VALOR E BENCHMARKING

As curvas de valor e o benchmarking, são duas ferramentas do Projeto


Informacional, que auxiliam a organização a comparar seus produtos e serviços
aos de seus concorrentes, e tomar as decisões necessárias para se manter
competitiva. Para entender o que são as curvas de valor, primeiramente serão
definidos os conceitos de critérios ganhadores e qualificadores de pedidos.

2.1 Critérios ganhadores e qualificadores de pedidos

De acordo com Slack, Chambers e Johnston (2009), uma forma útil de


determinar os critérios competitivos de uma organização é por meio da divisão
desses critérios em ganhadores e qualificadores de pedidos, cujas definições
são:

• Critérios ganhadores de pedidos: são os critérios que realmente


contribuem para que o cliente enxergue o produto ou serviço de uma
empresa como um diferencial em relação aos dos concorrentes. Por
exemplo, o computador de uma determinada marca se diferencia por
apresentar critérios superiores aos de seus concorrentes, como nitidez de
imagem, capacidade de memória e suporte técnico especializado.
• Critérios qualificadores de pedidos: são os critérios que apresentam
deficiências no desempenho para a organização, e que os clientes não
consideram como importantes. Nesse caso, indicadores estratégicos
devem ser construídos para melhorar o desempenho dos critérios
qualificadores.

2.2 Construção das curvas de valor

Ter o conhecimento de quais são os critérios ganhadores e qualificadores


de pedidos contribuem para definir o valor percebido que o produto ou serviço
está oferecendo, ou vai oferecer ao cliente. A Figura 3 ilustra dois exemplos de
valores percebidos, tanto para produtos, no caso um console de videogame, e
serviços, no caso de um restaurante.

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Figura 3 – (a) Valor percebido de um console de videogame; (b) valor percebido
de um restaurante

Valor
percebido de Facilidade Preço
Variedade
um console de uso do dos jogos Interatividade
de jogos
de controle
videogame

Valor
percebido de Sabor da Preço Ambiente
um Atendimento aconchegante
comida acessível
restaurante

De forma a classificar quantitativamente quais são os critérios ganhadores


e qualificadores de pedidos, é realizada a construção de curvas de valor, cujos
passos para sua elaboração são:

1. Definir 10 critérios aplicáveis ao produto que sua organização fabrica e


quer analisar;
2. Eleger 2 principais concorrentes que fabricam produto semelhante ao de
sua organização;
3. Avaliar o desempenho do produto da sua organização e de seus 2
concorrentes nos 10 critérios, atribuindo notas de 1 a 10;
4. Selecionar 2 clientes-alvo para avaliação do produto, e solicitar que façam
uma avaliação de expectativa de desempenho (valor percebido) dos 10
critérios, atribuindo notas de 1 a 10;
5. Realizar a tabulação dos dados e analisar os critérios de seus
concorrentes que são superiores, e os que são inferiores;
6. Análise: os critérios que estão acima ou igual à necessidade do cliente e
da média do mercado, são os critérios ganhadores de pedido. Os critérios
abaixo da necessidade do cliente ou da média do mercado, são os
critérios qualificadores de pedido

Para exemplificar a utilização dessa ferramenta, considere uma empresa


que produz ventiladores e que irá lançar um novo modelo no mercado. Dessa
forma, para identificar quais critérios de desempenho serão críticos para o
projeto, a organização decidiu avaliar o modelo de ventilador atual comparando-
o a produtos semelhantes de dois concorrentes. O Quadro 1 apresenta a

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avaliação do produto da organização e dos concorrentes com base em 10
critérios de desempenho considerados.

Quadro 1 – Avaliação de desempenho dos ventiladores

Desempenho
Desempenho Desempenho Média de Desempenho
Critérios de do produto da
do do desempenho do melhor
desempenho minha
concorrente 1 concorrente 2 do mercado competidor
organização
Imagem da
9 9 6 8 9
marca
Preço baixo 6 8 7 7.0 8
Assistência
9 6 7 7.3 9
técnica
Potência de
9 8 7 8 9
ventilação
Baixo ruído 6 7 8 7.0 8
Segurança
7 7 7 7.0 7
do produto
Opções de
10 8 8 8.7 10
velocidade
Baixo
consumo de 6 8 7 7 8
energia
Ajuste de
7 5 7 6.3 7
altura
Tamanho do
8 6 5 6.3 8
produto

Para analisar os dados do Quadro 1 de forma visual, foi construído o


gráfico das curvas de valor (Figura 4) das avaliações de desempenho da
organização, dos concorrentes e da média do mercado.

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Figura 4 – Curvas de valor para o exemplo dos ventiladores

Percebemos, na Figura 4, que os critérios de desempenho superiores


aos concorrentes e da média do mercado são assistência técnica, potência de
ventilação, opções de velocidade e tamanho do produto. Esses critérios são, de
fato, importantes de serem sustentados, porém os critérios que a organização
deve priorizar a serem melhorados para o novo produto a ser desenvolvido, são
os que estão abaixo de seus concorrentes: preço baixo, baixo ruído e baixo
consumo de energia.
A próxima etapa da análise é medir a expectativa de desempenho de dois
clientes-alvo em relação aos 10 critérios já levantados. Sendo assim, o Quadro 2
apresenta a avaliação dos clientes sobre os critérios de desempenho.

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Quadro 2 – Avaliação da expectativa de desempenho dos clientes

Desempenho
Avaliação de Avaliação de Desempenho Média de
Critérios de do produto da
expectativa expectativa do melhor desempenho
desempenho minha
do cliente 1 do cliente 2 competidor do mercado
organização
Imagem da
9 8 9 9 8
marca
Preço baixo 6 7 6 8 7.0
Assistência
9 8 8 9 7.3
técnica
Potência de
9 9 8 9 8
ventilação
Baixo ruído 6 8 8 8 7.0
Segurança
7 9 8 7 7.0
do produto
Opções de
10 9 9 10 8.7
velocidade
Baixo
consumo 6 5 5 8 7
de energia
Ajuste de
7 6 7 7 6.3
altura
Tamanho do
8 7 8 8 6.3
produto

Conforme a avaliação de expectativa de desempenho dos consumidores


mostrada no Quadro 2, pode-se realizar a divisão dos critérios em ganhadores
de pedido e qualificadores de pedido. Assim, utilizando a análise do passo 6,
apresentada no início desse tópico, a divisão dos critérios ficará assim:

• Critérios ganhadores de pedidos: imagem da marca, assistência técnica,


potência de ventilação, opções de velocidade, ajuste de altura e tamanho
do produto.
• Critérios qualificadores de pedidos: preço baixo, baixo ruído, segurança
do produto e baixo consumo de energia.

Por fim, chegamos à conclusão de que os critérios qualificadores serão os


priorizados pela organização, para que o novo modelo de ventilador a ser
desenvolvido atenda às expectativas dos consumidores e melhore seu
desempenho em relação à concorrência.

2.3 Benchmarking

Conforme visto no tópico anterior, a avaliação dos critérios depende de


uma seleção dos potenciais concorrentes de uma determinada organização.
Desse modo, para auxiliar a seleção e análise dos produtos dos concorrentes,
podemos utilizar a ferramenta de benchmarking, que envolve:

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• Selecionar o produto alvo;
• Identificar os critérios de desempenho a serem avaliados, como
funcionalidade, eficiência, estética, segurança, entre outros;
• Escolher os concorrentes ou áreas internas para aplicar a ferramenta;
• Coletar os dados de desempenho e performance dos produtos dos
concorrentes;
• Avaliar os pontos positivos e negativos dos produtos dos concorrentes,
com suas devidas justificativas;
• Adaptar e implementar as melhores práticas dos concorrentes, com a
definição de metas e aceitação de toda a organização.

TEMA 3 – BRAINSTORMING E ANÁLISE FUNCIONAL

As ferramentas de brainstorming e Análise Funcional são utilizadas na


etapa do Projeto Conceitual, para obtermos as primeiras ideias de como serão
as características e componentes que farão parte do produto final.

3.1 Brainstorming

O brainstorming é uma forma tradicional de ideação, seja para fins de


análise de causas de um problema, seja para encontrar soluções para produtos,
processos e serviços. Essa ferramenta pode ser do tipo estruturado (cada
membro da equipe sugere uma ideia por rodada), ou não estruturado (as ideias
podem ser sugeridas de forma livre sem uma ordem de participação dos
membros da equipe). Independentemente do tipo de brainstorming a ser
empregado, Camargo e Ribas (2019) indicam algumas regras a serem aplicadas
para obter êxito do uso da ferramenta:

• Mesmo que seja utilizado o brainstorming do tipo não estruturado, quando


uma pessoa estiver falando sua ideia, as demais devem permanecem em
silêncio, para evitar dispersão;
• Quanto mais ideias sugeridas, maior será a probabilidade de ter uma
solução promissora;
• Fica permitido que as ideias já sugeridas possam ser aprimoradas ou
combinadas a outras ideias;
• Não criticar ou julgar as ideias, pois pode desencorajar a participação dos
demais colegas e limitar sugestões de ideias “fora da caixa”;
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• Utilizar notas adesivas traz a sensação de que todas as ideias estão
sendo levadas em consideração.

3.2 Análise funcional

A Análise Funcional tem a finalidade de identificar as grandezas


funcionais (componentes do produto) por meio da decomposição das funções
primárias e secundárias. A realização dessa análise permite que a equipe de
projeto e os clientes entendam como cada componente irá contribuir para o
produto final (e também poderá ser aproveitado para a elaboração do manual de
instruções do produto na etapa de lançamento).
Seguindo o exemplo do desenvolvimento da capa refletora para mochila,
o Quadro 3 apresenta a Análise Funcional para as componentes que irão
compor o produto final.

Quadro 3 – Exemplo de Análise Funcional para a capa refletora para mochila

COMPONENTES FUNÇÃO PRIMÁRIA FUNÇÃO SECUNDÁRIA


Estojo Armazenar o produto Guardar na mochila
Permitir que o tecido seja
Fecho do estojo Proteger tecido de sujeira
guardado no compartimento
Contribuir para que o usuário
Tecido fluorescente -
se torne mais visível
Contribuir para que o usuário
Tecido refletivo -
se torne mais visível
Assegurar que o tecido não se
Elástico -
solte durante o uso
Rede Armazenar garrafa de água -
Bolso Guardar objetos do usuário -

TEMA 4 – MATRIZ MORFOLÓGICA

Com o levantamento de várias ideias de soluções obtidas no


brainstorming, e com a descrição da finalidade de cada componente do produto
na Análise Funcional, a próxima ferramenta a ser utilizada no Projeto Conceitual
é a Matriz Morfológica, cujo objetivo é criar múltiplas combinações de
parâmetros ou elementos do produto e, em seguida, avaliar cada combinação
por meio de uma matriz de priorização.
Para construir uma Matriz Morfológica, seguimos estes passos:

1. Listar as componentes do produto;

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2. Listar os possíveis princípios de solução (meio de fabricação, forma de
fixação etc.) para cada componente;
3. Criar combinações com os princípios de solução;
4. Criar critérios de desempenho para avaliar as combinações dos princípios
de solução;
5. Avaliar cada combinação de acordo com os critérios de desempenho por
meio de uma matriz de priorização, atribuindo notas 3 (solução atende ao
critério de desempenho), 1 (solução atende parcialmente o critério de
desempenho), ou 0 (solução não atende ao critério de desempenho);
6. A combinação que obtiver a maior pontuação será a eleita para compor o
produto final.

Para exemplificar a construção da Matriz Morfológica, o Quadro 4


apresenta a lista de componentes e os princípios de solução para o produto
capa protetora para mochila

Quadro 4 – Princípios de solução para as componentes da capa protetora para


mochila

PRINCÍPIOS DE SOLUÇÃO
COMPONENTE
1 2 3 4
A – Estojo Fixada a Solto (capa Fixada a capa Fixada a capa
capa com separada do com velcro com costura
cola estojo)
B – Fecho do estojo Zíper Botão Elástico Barbante
C – Tecido fluorescente Costurado Colado Velcro -
D – Tecido refletivo Costurado Colado Velcro -
E – Elástico que Costurado Passado Sem elástico -
envolve a capa
Após os princípios de solução para cada componente terem sido
levantados, foram criados, de forma aleatória, oito combinações para o produto
final:

• Combinação 1: A-1, B-1, C-1, D-1, E-1


• Combinação 2: A-2, B-1, C-3, D-1, E-1
• Combinação 3: A-3, B-4, C-2, D-2, E-2
• Combinação 4: A-2, B-3, C-1, D-1, E-2
• Combinação 5: A-4, B-3, C-2, D-1, E-1
• Combinação 6: A-2, B-4, C-2, D-2, E-2
• Combinação 7: A-3, B-3, C-3, D-3, E-3
• Combinação 8: A-4, B-2, C-1, D-1, E-1
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Com as combinações montadas, são estabelecidos critérios para avaliar
cada uma delas. A avaliação das combinações é mostrada no Quadro 5.

Quadro 5 – Avaliação das combinações dos princípios de soluções

CRITÉRIOS COMBINAÇÕES DOS PRINCIPÍOS DE SOLUÇÕES


1 2 3 4 5 6 7 8

Custo 1 3 3 3 1 3 3 3
Estética 1 3 0 3 1 1 1 3
Durabilidade 1 3 1 3 1 1 1 1
Usabilidade 3 1 3 3 3 3 3 3
Segurança 3 3 3 3 3 3 3 3
Adaptável 3 3 3 3 3 3 3 3
Total 12 16 13 18 12 14 14 16

Conforme a pontuação obtida no Quadro 5, a combinação eleita para


composição do produto final será a 4 (A-2, B-3, C-1, D-1, E-2), ou seja, a capa
protetora da mochila será composta pelos seguintes componentes e seus
respectivos princípios de solução:

• Estojo: solto (capa separada do estojo);


• Fecho do estojo: elástico;
• Tecido fluorescente: costurado;
• Tecido refletivo: costurado;
• Elástico que envolve a capa: passado.

TEMA 5 – MÉTODO DE SELEÇÃO DE MATERIAIS

O Método de Seleção de Materiais de Ashby (2019), empregado na etapa


do Projeto Conceitual, tem como objetivo auxiliar na seleção dos materiais que
irão compor o produto final, levando em consideração os aspectos técnicos de
propriedades de tais materiais, processos de fabricação e do projeto do
componente.
O método de Ashby (2019) é composto de quatro etapas:

1. Tradução: envolve as definições de função (O que o produto faz?),


restrições (O que obrigatoriamente o produto deve cumprir e quais itens
são desejáveis?), objetivo (O que deve ser maximizado ou minimizado?),

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e as variáveis livres (Quais parâmetros a equipe de projeto poderá alterar
livremente?).
2. Triagem: consiste em realizar um filtro para descartar todas as opções de
materiais que não se submetem às restrições estabelecidas.
3. Classificação: seu objetivo é identificar os melhores materiais que podem
ser empregados no produto após a realização da triagem.
4. Documentação: pesquisa em catálogos, artigos, base de dados
especializadas e de fornecedores, informações e histórico dos materiais
que classificados na etapa anterior, para dar subsídios para a seleção do
melhor material para o produto.

Para exemplificar a aplicação do método de seleção de materiais,


considere que uma panela será projetada; a equipe de projeto pretende definir o
material a ser utilizado. Desse modo, a primeira etapa consiste em descrever os
requisitos do projeto conforme feito no Quadro 6.

Quadro 6 – Função, restrições, objetivo e variáveis livres

Função (O que o produto vai fazer?) Preparar alimentos


Ter elevada condutividade térmica; não ser um
Restrições (O que obrigatoriamente o produto
material que possa ser prejudicial à saúde;
deve cumprir e quais itens são desejáveis?)
desejável: ser de baixo custo e ser leve.
Objetivo (O que deve ser maximizado ou
Maximizar a condutividade térmica.
minimizado?)
Variáveis livres (Quais parâmetros a equipe
Cor e tipo da alça da panela.
de projeto têm a liberdade para alterar?)

O próximo passo é realizar uma listagem de possíveis materiais para o


produto. Como critério de busca, foram utilizados dados de condutividade
térmica de diversos materiais (Quadro 7), pois essa propriedade é uma das
restrições obrigatórias para o produto.

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Quadro 7 – Condutividade térmica para diversos materiais

MATERIAL CONDUTIVIDADE TÉRMICA (W/m.k)


Liga de alumínio 1100 (recozida) 222
Teflon (PTFE) 0,25
Liga inoxidável 304 (recozida) 16,2
Cobre eletrolítico tenaz 388
Ferro fundido G1800 46
Vidrocerâmica (Pyroceram) 3,3
Vidro, borossilicato (Pyrex) 1,4

Fonte: Elaborado com base em Callister; Rethwisch, 2013.

Conforme os dados do Quadro 7, foram selecionados os quatro materiais


que possuem os valores mais altos de condutividade térmica: cobre eletrolítico
tenaz, liga de alumínio 1100, ferro fundido G1800 e liga inoxidável 304. Com a
classificação desses materiais, partimos para a etapa de documentação, a qual
envolve a realização de uma pesquisa para verificar qual material é o mais
adequado para o produto. Sendo assim, o resultado da pesquisa foi a seguinte:

• Cobre eletrolítico tenaz: as panelas feitas desse material são caras e são
mais pesadas do que as outras opções. Além disso, recomenda-se que o
cobre seja misturado a outro metal para evitar possíveis contatos do
material com os alimentos.
• Liga de alumínio 1100 (recozida): as panelas de alumínio são leves, de
baixo custo, resistentes e possuem alta condutividade térmica.
• Ferro fundido G1800: as panelas de ferro fundido contribuem para
aumentar os níveis de ferro no organismo, além de serem resistentes e
antiaderentes.
• Liga inoxidável 304 (recozida): as panelas inox são leves e resistentes à
corrosão e à ferrugem, porém apresentam baixa condutividade térmica.

Com base nos dados de condutividade térmica, aliada à pesquisa sobre


os materiais, podemos concluir que o material mais adequado aos requisitos de
projeto para a panela é a liga de alumínio 1100 (recozida).

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REFERÊNCIAS

AKAO, Y. Quality Function Deployment. Boston: Productivity Press, 1990.

ASHBY, M. Seleção de materiais no projeto mecânico. 5. ed. Rio de Janeiro:


Elsevier, 2019.

CALLISTER, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia de materiais:


uma introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2013.

CAMARGO, R.; RIBAS, T. Gestão ágil de projetos. São Paulo: Saraiva


Educação, 2019.

ROSENFELD, H. et al. Gestão de desenvolvimento de produtos: uma


referência para a melhoria do processo. São Paulo: Saraiva, 2006.

SLACK, N.; CHAMBERS, S.; JOHNSTON, R. Administração da produção. 3.


ed. São Paulo: Atlas, 2009.

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