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PSICANÁLISE CLÍNICA

MÓDULO 10- Neuroses e Psicoses

Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo.


Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores
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NEUROSES & PSICOSES

A palavra "neurótico", da maneira como costuma ser usada hoje, tem sentido
impróprio e pode ser ofensivo ou pejorativo. Pessoas que não entendem nada dessa
parte da medicina podem usar a palavra "neurose" como sinônimo de "loucura".
Mas isso não é verdade, de forma alguma.

Trata-se de uma reação exagerada do sistema psíquico em relação a uma


experiência vivida (Reação Vivencial). Neurose é uma maneira da pessoa SER e de
reagir à vida. A pessoa É neurótica e não ESTÁ neurótica .

Essa maneira de ser neurótica significa que a pessoa reage à vida através de
reações vivenciais não normais; seja no sentido dessas reações serem
desproporcionais, seja pelo fato de serem muito duradouras, seja pelo fato delas
existirem mesmo que não exista uma causa vivencial aparente.

Essa maneira exagerada de reagir leva a pessoa neurótica a adotar uma serie de
comportamentos (evita lugares, faz atitudes para alívio da ansiedade... etc). O
neurótico, tem plena consciência do seu problema e, muitas vezes, sente-se
impotente para modificá-lo.

Para Freud, a neurose resultaria de um conflito entre duas forças antagônicas, um


desejo de prazer (pulsão) e o medo de punição (moral e social). O Dicionário de
Psiquiatria, editado no site do Hospital das Clínicas da USP e organizado pelo Dr.
Hélio Elkis diz o seguinte:

"A palavra neurose foi criada pelo médico escocês Wiliam Cullen no fim do século
18, para designar distúrbios das sensações e movimentação corporal, sem uma
lesão anatômica correspondente na rede nervosa.

No início do século 20 o termo popularizou-se graças à difusão das idéias de Freud e


da Psicanálise, significando conjuntos de sintomas resultantes principalmente de
conflitos psicológicos e recalques inconscientes.

Este conceito prevaleceu na Psiquiatria até a década de 60, em que os transtornos


mentais eram distribuídos em dois grandes grupos: psicoses e neuroses. Às
psicoses, consideradas doenças mentais mais graves, atribuíam-se causas
orgânicas ou funcionais; as neuroses, tidas como menos graves, teriam origem nos
conflitos emocionais e traumas psicológicos.
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As pesquisas das últimas décadas mostraram que esta distinção não se sustenta;
nas neuroses, embora os eventos vitais tenham capital importância, mecanismos
químicos de neurotransmissão participam, também, da produção e manutenção dos
sintomas, e os fatores genéticos são igualmente significativos. Considera-se que,
nas neuroses, a autodeterminação e capacidade de discernimento não são afetadas
seriamente.

Em muitos casos, o tratamento apenas psicológico não é suficiente, sendo


necessário o suporte medicamentoso, até para possibilitar maior aproveitamento da
psicoterapia e conforto do paciente ao longo da resolução de seus conflitos.

Na atual classificação oficial de doenças (CID – 10), são registrados os seguintes


transtornos neuróticos: fóbico-ansiosos, transtornos de ansiedade, obssessivo-
compulsivo, reações de estresse e transtornos de ajustamento, transtornos
dissociativos, somatoformes e outros, onde se incluem neurastenia e
despersonalização. Cada um desses quadros apresenta subdivisões e formas com
sintomas diferentes, que só o psiquiatra pode distinguir e tratar adequadamente

Entendendo as Neuroses

É muito difícil explicar ou discorrer didaticamente sobre neuroses, já que se


necessita, antes, da perfeita formulação do conceito sobre o que é a neurose. Para
começo, é bom falarmos em Transtornos Neuróticos, denominação mais corrente e,
mais conceitualmente, Reação Neurótica. Reação Neurótica é mais didático.
Primeiramente vamos entender que qualquer que seja um fato ou acontecimento
introduzido em nossa consciência, receberá sempre uma maquiagem pessoal
oferecida por nossa afetividade, dando à ele um significado muito pessoal. Portanto,
os fatos de nossa vida, sejam presentes, passados ou perspectivas futuras, serão
sempre coloridos pela afetividade (veja Afetividade no menu da esquerda).

Para entender a Reação Neurótica devemos, então, entender a Reação (vivencial)


Normal. Os fatos e acontecimentos apreendidos por nossa consciência e coloridos
por nossa Afetividade serão chamados de Vivências, portanto, essas Vivências terão
sempre caráter individual e particular em cada um de nós, de acordo com as
particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para
várias pessoas, as Vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes.

Tais Vivências são sempre capazes de determinar uma resposta emocional na


pessoa sob a forma de sentimento e aos sentimentos produzidos pelas vivências
podemos chamar de Reações Vivenciais, tal como chamaríamos de reação alérgica
as manifestações determinadas pela imunidade diante de um objeto

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alérgeno. Para que uma Reação Vivencial possa ser considerada normal, Jaspers
recomenda ter 3 elementos

1- uma relação causal;

2- uma relação proporcional;

3- uma relação temporal.


Devido à complexidade do ser humano, nem sempre uma ação determina uma
reação previsível e pré-estabelecida. Cada pessoa pode manifestar uma
sensibilidade bastante individual aos fatos vividos, portanto a valorização de sua vida
será sempre concordante com sua sensibilidade afetiva. Como a afetividade é um
atributo da personalidade, então os fatos e seus valores dependerão sempre da
personalidade de cada um, mais que dos fatos em si.

Para compreendermos bem nossas reações, bem como as reações de nossos


semelhantes diante da vida e dos fatos vividos, é indispensável termos a idéia
segundo a qual cada um reage exclusivamente à sua maneira diante da realidade
dos fatos.

Capítulo I

Sentimentos e Emoções

Muito provavelmente há, no córtex cerebral, um local responsável pela tomada de


consciência das emoções que sentimos e, simultaneamente com a consciência
dessas emoções, nosso organismo manifesta alterações orgânicas compatíveis. São
respostas do sistema nervoso autônomo (SNA) ou vegetativo, por isso, chamadas de
respostas autonômicas.

Para a ocorrência dessas respostas autonômicas (do SNA), sejam elas endócrinas,
vegetativas (palpitação, sudorese, etc) ou motoras, há necessidade de um comando
neurológico. Para tal, quem entra em ação são as porções subcorticais (abaixo do
córtex) do sistema nervoso, tais como a Amígdala, o Hipotálamo e o tronco cerebral.
Essas respostas são importantes, pois preparam o organismo para a ação
necessária e comunica nossos estados emocionais ao ambiente e às outras
pessoas.

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Em meados do Século XX, os neurofisiologistas Walter Cannon e Philip Bard


formularam teorias sobre a importância das estruturas subcorticais na mediação
entre as emoções e o resto do organismo.

Pesquisando em gatos, eles observaram respostas emocionais integradas mesmo


quando o córtex cerebral desses animais era removido, entretanto, não ocorriam
respostas quando o Hipotálamo, que é uma estrutura subcortical, era removido.

Finalmente, Cannon e Bard propuseram a idéia, até hoje aceita, da dupla função das
estruturas subcorticais Hipotálamo e tálamo; eram eles quem fornecia os comandos
orgânicos das respostas emocionais e, mais que isso, forneciam ao córtex as
informações necessárias para a consciência dessas emoções.

Figura 1

Portanto, mais recentemente, com Antônio Damasio e Stanley Schachter,


completando as pesquisas de Cannon, Bard, James e Lange, se acredita que o
comportamento emocional seja a interação entre o córtex cerebral, as estruturas
subcorticais e a periferia orgânica.

Entende-se que o córtex cria uma resposta cognitiva (consciente) à informação


periférica (dos sentidos), resposta esta compatível com as expectativas do indivíduo
e de seu contexto social. Essas estruturas subcorticais assim envolvidas na emoção
foram denominadas de Sistema Límbico.

1- Sistema Límbico
Sabe-se hoje que as áreas relacionadas com os processos emocionais ocupam
distintos territórios do cérebro, destacando-se entre elas o Hipotálamo, a área Pré-
Frontal e o Sistema Límbico.

Os mecanismos que controlam os níveis de atividade nas diferentes partes do


encéfalo e as bases dos impulsos da motivação, principalmente a motivação para o
processo de aprendizagem, bem como as sensações de prazer ou punição, são
realizadas em grande parte pelas regiões basais do cérebro, as quais, em conjunto,
são derivadas do Sistema Límbico.

Em 1878, o neurologista francês Paul Broca observou que, na superfície medial do


cérebro dos mamíferos, logo abaixo do contes, existe uma região constituída por

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núcleos de células cinzentas (neurônios), a qual ele deu o nome de lobo límbico (do
latim limbus, que traduz a idéia de círculo, anel, em torno de, etc), uma vez que ela
forma uma espécie de borda ao redor do tronco encefálico (em outra parte desse
texto escreveremos mais sobre esses núcleos).

Esse conjunto de estruturas, denominado mais tarde de Sistema Límbico, aparece


na escala filogenética a partir dos mamíferos inferiores (mais antigos). É esse
Sistema Límbico, o qual comanda certos comportamentos necessários à
sobrevivência de todos os mamíferos, cria e modula funções mais específicas, as
quais permitem ao animal distinguir entre o que lhe agrada ou desagrada.

Aqui se desenvolvem funções afetivas, como aquela que induz as fêmeas a


cuidarem atentamente de suas crias, ou a que promove a tendência desses animais
a desenvolverem comportamentos lúdicos (gostar de brincar).

Emoções e sentimentos, como ira, pavor, paixão, amor, ódio, alegria e tristeza, são
criações mamíferas, originadas no Sistema Límbico. Este Sistema Límbico é
também responsável por alguns aspectos da identidade pessoal e por importantes
funções ligadas à memória. A parte do Sistema Límbico relacionada às emoções e
seus estereótipos comportamentais denomina-se circuito de Papez. Na década de
30, refletindo sobre os trabalhos de Cannon e Bard, o neurofisiologista Papez propôs
que os diversos componentes do Sistema Límbico mantinham numerosas e
complexas conexões entre si.

Assim, o neocórtex se comunica com o Hipotálamo através de conexões do Giro do


Cíngulo, formando uma região chamada de Hipocampo (veja hypothalamus e
cingulate gyrus na figura). Pois bem. Essa região, o Hipocampo, processa as
informações recebidas do córtex e as projeta para os corpos mamilares do
Hipotálamo através de uma estrutura chamada Fórnix.

Mais precisamente, as emoções e memórias fluem da Amígdala e Hipocampo para


os corpos mamilares através de fórnix (veja figura). Do fórnix seguem para o núcleo
anterior do Tálamo, via fascículo mamilotalâmico, e do Tálamo para o Giro
Cingulado, irradiando-se para o neocórtex, colorindo emocionalmente a experiência
cognitiva. Do neocórtex esses estímulos voltam novamente para o Giro Cingulado,
retornando à Amígdala e Hipocampo.

Deste modo é modulada a resposta emocional. Este circuito também está envolvido
na formação dos sonhos e da experiência inconsciente. De fato, a mente
inconsciente não é nenhuma realidade abstrata ou conceitual, mas fisiologicamente,
é a elaboração da vida ou dos estímulos que ela oferece organizados no sistema
Límbico-Hipotalâmico.

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Figura 2

Com a chegada dos mamíferos superiores na escala evolutiva, desenvolveu-se,


finalmente, a terceira unidade cerebral: o neopálio ou cérebro racional, uma rede
complexa de células nervosas altamente diferenciadas, capazes de produzirem uma
linguagem simbólica, assim permitindo ao homem desempenhar tarefas intelectuais
como leitura, escrita e cálculo matemático. O neopálio é o gerador de idéias ou,
como diz Paul MacLean - "ele é a mãe da invenção e o pai do pensamento abstrato".
(Fonte: Júlio Rocha do Amaral, Jorge Martins de Oliveira)

Assim sendo, o Hipocampo funciona como um grande banco de dados. Nele, são
armazenados registros de todos os fatos e eventos, e essas informações ali
guardadas servem para regular a atividade de várias outras áreas do cérebro. A
região conhecida como Amígdala também trabalha na seleção de dados e ainda
dispara sinais de alerta quando reconhece um perigo ou situação de ameaça.

O Hipotálamo informa ao Giro do Cíngulo através de uma via dos corpos mamilares
para os núcleos talâmicos anteriores (trato Mamilo Talâmico) e dos Núcleos
Talâmicos anteriores para o giro cingulado. Papez acreditava, como hoje já se sabe,
que o córtex na região límbica está seriamente envolvido nas emoções. É por isso
que as lesões ou tumores nessas áreas corticais límbicas podem gerar distúrbios
emocionais. Concluindo, no circuito de Papez, o Hipotálamo governa a expressão
das emoções.

2 - O Hipotálamo

Um importante centro coordenador das funções cerebrais é o chamado Diencéfalo,

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uma região formada pelo Tálamo e pelo Hipotálamo. O primeiro consiste em uma
massa cinzenta que processa a maior parte das informações destinadas aos
hemisférios cerebrais. É uma grande estação de elaboração dos sentidos.

O Hipotálamo, por sua vez, regula a função de abastecimento do sistema endócrino


e processa inúmeras informações necessárias à constância do meio-interno corporal
(homeostasia). Coordena, por exemplo, a pressão arterial, a sensação de fome e o
desejo sexual.

A importância do Hipotálamo, pode-se dizer, é inversamente proporcional ao seu


tamanho. Ocupando menos de 1% do volume total do cérebro humano, o
Hipotálamo contém muitos circuitos neuronais que regulam aquelas funções vitais
que variam com os estados emocionais, como por exemplo a temperatura, os
batimentos cardíacos, a pressão sanguínea, a sensação de sede e de fome, etc. O
Hipotálamo controla também todo sistema endócrino através de uma glândula
localizada em seu assoalho, a Hipófise. Desse modo, o Hipotálamo é um dos
grandes responsáveis pelo equilíbrio orgânico interno (a homeostasia).

O Hipotálamo está, pois, intimamente relacionado ao Sistema Nervoso Autônomo


(SNA) e o SNA é, primariamente, o sistema de controle de todas as vísceras
(músculo cardíaco, sistema digestivo, glândulas endócrinas, etc). Esse SNA possui
duas divisões principais: o sistema simpático e o sistema parassimpático.

Por causa dessa múltipla função, Cannon propôs que o Hipotálamo determinava não
só a regulação da homeostasia do organismo, como a regulação do comportamento
emocional. O SNA sofre influencia de diversas regiões do cérebro, em particular do
córtex, da Amígdala e da formação reticular. Mas, todas essas estruturas exercem
suas ações sobre o SNA através do Hipotálamo, o qual integra as informações em
uma resposta coerente.

O Hipotálamo controla a atividade das vísceras ou seja, controla o SNA, através do


Tronco Cerebral. Isso é realizado de duas formas:

Primeiramente, ele se projeta para três importantes regiões do Tronco Cerebral e da


Medula Espinhal.

1 - projeta-se para o núcleo do trato solitário, o principal recipiente dos influxos


sensoriais provenientes das vísceras;

2- projeta-se para regiões do Tronco Cerebral no Bulbo Ventral Rostral, que controla
a saída (pré-glangionar) importante do SNA simpático e

3- projeta-se diretamente para o fluxo de saída autonômica da medula espinhal


(Fonte).

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Sobre o Sistema Endócrino o Hipotálamo exerce sua influência direta e


indiretamente. Diretamente essa influência se dá através da secreção de produtos
neuroendócrinos direto na circulação sanguínea a partir da porção posterior da
glândula Hipófise. Indiretamente a influência se dá pela secreção dos chamados
hormônios reguladores, os quais atuam liberando ou inibindo outras glândulas do
organismo, tais como as supra-renais, tireóide, para-tireóides e sexuais.

3 - A Área Pré-Frontal(CÓRTEX)

O Córtex Cerebral é a camada mais alta e externa do encéfalo, ou seja, dos dois
hemisférios. Trata-se de uma capa de substância cinzenta de mais ou manos 0,3
centímetros de espessura.

Os sulcos e fissuras do Córtex Cerebral é que definem suas regiões em, por
exemplo, Lobo Frontal, Lobo Temporal, Parietal e Occipital. O Lobo Frontal é um
lugar onde se concentra ali enorme variedade de importantes funções, incluindo o
controle de movimentos e de comportamentos necessários à vida social, como a
compreensão dos padrões éticos e morais e a capacidade de prever as
conseqüências de uma atitude.

O Lobo Parietal recebe e se processam as informações dos sentidos, enviadas pelo


lado oposto do corpo. O Lobo Temporal está permanentemente envolvido em
processos ligados a audição e memorização, enquanto o Lobo Occipital é o centro
que analisa as informações captadas pelos olhos e as interpreta mediante um
intrincado processo de comparação, seleção e integração.

O Córtex Pré-Frontal, considerado uma formação recente na evolução das espécies


e a sede da personalidade e da vida intelectiva, modula a energia límbica e tem a
possibilidade de criar comportamentos adaptativos adequados ao tomar consciência
das emoções.

Na ausência desta parte do Córtex, as emoções ficam fora de controle, são


exageradas e persistem após cessar o estímulo que as provocou, até que se esgote
a energia nervosa. Por outro lado, o Sistema Límbico através do Hipotálamo, pode
exercer um efeito supressor ou inibidor sobre o neocórtex, inibindo
momentaneamente a cognição e até o tônus muscular tônico, como se observa nas
fortes excitações emocionais.

O relacionamento concreto entre regiões corticais e as emoções ocorreu em 1939.


Nesse ano os pesquisadores Heinrich Klüver e Paul Bucy observaram uma síndrome
comportamental dramática em macacos depois de submeterem os animais a uma
lobotomia temporal bilateral. Os macacos, apesar de muito selvagens e agressivos,
tornaram-se mansos e demonstravam um apagamento das emoções.

Esse embotamento de emoções se manifestava, inclusive, como uma espécie de


cegueira emocional; os animais não se mobilizavam com objetos familiares nem com

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os próprios familiares. Ao mesmo tempo eles apresentaram uma contundente


tendência oral, levando à boca todos objetos.

A Área Pré-Frontal se desenvolveu bastante, na escala filogenética, com o


aparecimento dos mamíferos, sendo particularmente desenvolvida no ser humano e,
curiosamente, em algumas espécies de golfinhos. Entre os seres humanos essa
região do cérebro começa a adquiri maturidade suficiente entre os 4 e 6 anos de
idade (veja abaixo o Estágio Operacional Concreto).

Mas a Área Pré-Frontal não faz parte do Sistema Límbico. Entretanto, as intensas
conexões que mantém com o Tálamo, Amígdala e outras estruturas subcorticais
límbicas, justificam seu importante papel na expressão dos estados emocionais.

Assim como ocorreu na experiência de Heinrich Klüver e Paul Bucy em relação ao


Lobo Temporal, quando o Córtex Pré-Frontal é lesado, há severo prejuízo das
responsabilidades sociais, bem como da capacidade de concentração e de
abstração, apesar de se manterem intactas a consciência e a linguagem.

Em 1935, foi realizada a primeira Lobotomia Pré -Frontal em seres humanos. Foram
seccionadas as conexões límbicas, isolando o Córtex Pré-Frontal, em sua área
orbitofrontal, na tentativa de tratar alterações emocionais graves decorrentes de
doença mental. A principio, houve redução da ansiedade desses pacientes, mas
complicações como o desenvolvimento de epilepsia e alterações anormais da
personalidade, como a falta de inibição ou de iniciativa ou de motivação impediram a
continuidade desse tipo de tratamento.

Da mesma forma como os macacos de Heinrich Klüver e Paul Bucy tinham prejuízo
emocional após retirada do Lobo Temporal, a Lobotomia Pré-Frontal realizada em
seres humanos para tratamento de certos distúrbios psiquiátricos, resultava
igualmente num certo empobrecimento afetivo. Nessas pessoas não aparecia mais
quaisquer sinais de alegria, tristeza, esperança ou desesperança.

A Área Pré-Frontal do córtex corresponde a parte anterior não motora do lobo frontal.
Ela mantém conexões com o Sistema Límbico (visto acima) e com o Núcleo
Dorsomedial do Tálamo. Ela é responsável pela escolha das opções e estratégias
comportamentais, pela manutenção da atenção e pelo controle do comportamento
emocional.

A mais importante função associativa do Lobo Pré-Frontal parece ser, efetivamente,


integrar informações sensitivas externas e internas, pesar as conseqüências de
ações futuras para efetuar o planejamento motor de acordo com as conclusões.

Características do Córtex Cerebral

A localização das diversas funções em áreas específicas do córtex não implica que
uma determinada função seja mediada exclusivamente por uma única região
cerebral, mas sim que

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As áreas de associação cortical, que são as áreas Pré-Frontal, Parieto-Têmporo-


Occipital e Límbicas, integram as informações somáticas com o planejamento do
movimento. Suas funções prioritárias são:

Córtex Pré-Frontal: planejamento e execução das ações motoras complexas


Córtex Parieto-Têmporo-Occipital: integração das funções sensoriais com a
linguagem
Área Límbica: integração da memória com aspectos comportamentais relacionados
a memória e motivação

Córtex Pré-Motor: início da ação

- Áreas corticais superiores sensitivas conectadas diretamente a áreas primárias


sensitivas projetam para o córtex pré-motor, que projeta para o córtex motor
primário.
- Áreas corticais superiores sensitivas não conectadas diretamente a áreas primárias
sensitivas projetam para o Córtex Pré-Frontal, que projeta para o Córtex Pré-Motor
O Córtex Parieto-Têmporo-Occipital recebe projeções de áreas somáticas superiores
visuais e auditivas, processando a informação sensitiva envolvida com a percepção
e a linguagem

O Córtex Límbico recebe projeções de áreas ssensitivas superiores e projeta para


outras regiões corticais, dentre elas o córtex pré-frontal.

No cérebro normal, dotado de inúmeras e quase infinitas interconexões, a interação


entre os dois hemisférios é tão integrada que não se pode dissociar claramente suas
funções específicas. Ambos se auxiliam na efetuação de tarefas várias. Nenhuma
parte do sistema nervoso funciona isoladamente, de tal forma que o cérebro pode
fazer com que as funções das áreas lesadas sejam assumidas por outras áreas
sadias.

É importante sabermos com que idade se desenvolve, mais satisfatoriamente na


pessoa, seus lobos frontais e pré-frontais (depois dos 12 anos, veja adiante). O
Córtex Pré-Frontal do hemisfério esquerdo é muito mais relacionado à cognição e
consciência, ou seja, intelectual, que o seu homólogo do lado direito. Os argumentos
racionais das terapias cognitivas procuram fazer a pessoa reaprenderem a lidar com
suas emoções através da cognição, como uma alternativa racional das exigências da
angústia detonada, seja pelo córtex frontal direito ou Sistema Límbico.

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Entendendo as Neuroses

É muito difícil explicar ou discorrer didaticamente sobre neuroses, já que se


necessita, antes, da perfeita formulação do conceito sobre o que é a nedurose. Para
começo, é bom falarmos em Transtornos Neuróticos, denominação mais corrente e,
mais conceitualmente, Reação Neurótica. Reação Neurótica é mais didático.
Primeiramente vamos entender que qualquer que seja um fato ou acontecimento
introduzido em nossa consciência, receberá sempre uma maquiagem pessoal
oferecida por nossa afetividade, dando à ele um significado muito pessoal. Portanto,
os fatos de nossa vida, sejam presentes, passados ou perspectivas futuras, serão
sempre coloridos pela afetividade (veja Afetividade no menu da esquerda).

Para entender a Reação Neurótica devemos, então, entender a Reação (vivencial)


Normal. Os fatos e acontecimentos apreendidos por nossa consciência e coloridos
por nossa Afetividade serão chamados de Vivências, portanto, essas Vivências terão
sempre caráter individual e particular em cada um de nós, de acordo com as
particularidades de nossos traços afetivos. Os fatos podem ser os mesmos para
várias pessoas, as Vivências desses fatos, porém, serão sempre diferentes.

Tais Vivências são sempre capazes de determinar uma resposta emocional na


pessoa sob a forma de sentimento e aos sentimentos produzidos pelas vivências
podemos chamar de Reações Vivenciais, tal como chamaríamos de reação alérgica
as manifestações determinadas pela imunidade diante de um objeto alérgeno. Para
que uma Reação Vivencial possa ser considerada normal, Jaspers recomenda ter 3
elementos

1- uma relação causal;

2- uma relação proporcional;

3- uma relação temporal.


Devido à complexidade do ser humano, nem sempre uma ação determina uma
reação previsível e pré-estabelecida. Cada pessoa pode manifestar uma
sensibilidade bastante individual aos fatos vividos, portanto a valorização de sua vida
será sempre concordante com sua sensibilidade afetiva. Como a afetividade é um
atributo da personalidade, então os fatos e seus valores dependerão sempre da
personalidade de cada um, mais que dos fatos em si.

Para compreendermos bem nossas reações, bem como as reações de nossos


semelhantes diante da vida e dos fatos vividos, é indispensável termos a idéia
segundo a qual cada um reage exclusivamente à sua maneira diante da realidade
dos fatos.

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No estudo das neuroses esse aspecto individual de reagir à realidade chama-se


Reações Vivenciais, estudadas juntamente com a Afetividade em PsiqWeb.

A - Reação Neurótica Aguda

Fosse permitido construir uma analogia didática para compreender a Reação


Neurótica Aguda e diferenciá-la da Personalidade Neurótica citaria, por exemplo, o
caso da alergia. Há indivíduos que, em contacto com um determinado alérgeno,
como por exemplo o mofo, reagem alergicamente espirrando, com coriza e
lacrimejando. Depois de algum tempo e distante do alérgeno, tudo volta ao normal.
Isto é o que acontece com quase todas as pessoas mas, por outro lado, há
indivíduos que vivem cronicamente com alergia e de maneira inespecífica. Estão
sempre com coriza, espirrando ou lacrimejando, nas mais variadas situações e
diante dos mais insuspeitados alérgenos. No primeiro caso temos um exemplo da
Reação Aguda e no segundo de uma configuração da Personalidade.

No primeiro caso da analogia descrita acima, podemos dizer que o indivíduo teve
uma alergia e, no segundo, que ele é alérgico. Pois bem. Tendo em vista a
conceituação tradicional de Neurose, como vimos atrás, a qual fala em doenças da
personalidade como um estado permanente e duradouro, será fácil deduzir que
apenas a Personalidade Neurótica representa, realmente, aquilo que queremos dizer
como Neurose. Já a denominação de Reação Neurótica Aguda poderia ser
entendida como, digamos, um tropeço emocional na vida do indivíduo.

De fato, tanto o DSM-IV quanto a CID-10 não utilizam o termo Neurótico com a
mesma assiduidade que seus antecessores DSM-III e CID-9. O DSM-IV refere-se às
nossas Reações Neuróticas Agudas como TRANSTORNOS DE AJUSTAMENTO, a
CID-10 classifica o mesmo estado como REAÇÃO À ESTRESSE e TRANSTORNO
DE AJUSTAMENTO. Kaplan, baseando-se no DSM-IV fala em TRANSTORNOS de
ADAPTAÇÃO.

Insistimos na denominação de Reações Neuróticas Agudas devido, apenas, à


similaridade sintomática e etiológica com as neuroses em geral, assim como em
benefício da compreensão sobre o psicofisiologismo das reações emocionais às
vivências. Entretanto, deve ficar claro que o neurótico, propriamente dito, é aquele
portador da Personalidade Neurótica.

Existem três situações clínicas englobadas pelo quadro de Reação a Estresse Grave
e Transtorno de Ajustamento segundo a CID-10:

Reação Aguda a Estresse (F43.0);

Transtorno de Estresse Pós-Traumático (F43.1); e

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Transtornos de Ajustamento (F43.2).

Na REAÇÃO AGUDA A ESTRESSE os sintomas emocionais aparecem dentro de


minutos ou horas após a vivência causadora e desaparecem, também, em questão
de alguns dias ou mesmo horas. Há como uma espécie de atordoamento, diminuição
da atenção, incapacidade para integrar todos os estímulos e até um estado de
desorientação. Para que se caracterize uma Reação Aguda ao Estresse, é
indispensável haver uma conexão temporal entre os sintomas emocionais e o
impacto do estressor psicossocial. Nesta espécie de choque psíquico pode haver,
concomitante ao atordoamento e desorientação, um quadro de depressão, angústia,
ansiedade, raiva e desespero.

Quanto ao TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO, a resposta é mais


tardia ou protraída a um evento ou situação estressante. Poderá ser de longa ou
curta duração. Há, aqui, um certo embotamento emocional, afastamento social,
sonhos freqüentes com a situação causadora, diminuição do interesse para com o
ambiente, diminuição do prazer ou sua abolição total (anedonia) e evitação de
situações recordativas do trauma. Com freqüência há também uma hiperexitação,
hipervigilância e insônia, ansiedade e depressão. Como complicação podemos
encontrar, nestes casos, um abuso excessivo de bebidas alcoólicas. Para o
diagnóstico do Transtorno de Estresse pós-Traumático há necessidade de que o
quadro tenha surgido dentro de até 6 meses após um evento traumático de
excepcional gravidade. O curso deste transtorno é flutuante, porém, seu prognóstico
costuma ser favorável para a grande maioria dos casos.

O TRANSTORNO DE AJUSTAMENTO é cogitado quando existe uma angústia ou


perturbação emocional interferindo com o funcionamento e desempenho sociais, a
qual tenha surgido como conseqüência aos esforços adaptativos a uma mudança
significativa na vida da pessoa. A característica essencial de um Transtorno de
Ajustamento é o desenvolvimento de um quadro psico-emocional significativo em
resposta a um ou mais estressores psicossociais identificáveis. No Transtorno de
Ajustamento os sintomas desenvolvem-se, normalmente, dentro de um período de 3
meses após o início do estressor ou estressores.

A Reação Vivencial no Transtorno de Ajustamento é caracterizada por um acentuado


sofrimento, o qual excede o que seria estatisticamente esperado pela natureza do
estressor e resulta em prejuízo significativo no funcionamento social ou profissional.
Os sintomas principais são: humor deprimido, ansiedade, preocupação, sentimentos
de incapacidade em adaptar-se, sensação de perspectivas sombrias do futuro,
dificuldade no desempenho da rotina diária. Em crianças podemos observar
comportamentos regressivos.

Os sintomas podem persistir por um período de até mais de 6 meses, principalmente


se são em resposta a um estressor crônico, como por exemplo, uma doença crônica
ou a um estressor breve mas de conseqüências prolongadas, como por exemplo as
dificuldades sociais, financeiras, separações conjugais, etc.

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O estressor pode ainda ser um evento isolado (por ex., fim de um relacionamento
romântico) ou pode haver múltiplos estressores (por ex., dificuldades acentuadas
nos negócios e problemas conjugais). Os estressores podem ser recorrentes (por
ex., associados com crises profissionais cíclicas) ou contínuos (por ex., viver em
uma área de alta criminalidade). Os estressores podem afetar um único indivíduo,
toda uma família, um grupo maior ou uma comunidade (por ex., em um desastre
natural). Alguns estressores podem acompanhar eventos evolutivos específicos (por
ex., ingresso na escola, deixar a casa paterna, casar-se, tornar-se pai/mãe, fracasso
em atingir objetivos profissionais, aposentadoria).

A resposta no Transtorno de Ajustamento é mal adaptativa porque existe um


prejuízo no funcionamento social e ocupacional, ou porque os sintomas e
comportamentos excedem a resposta normal esperada para tal estressor. São tão
comuns estes Transtornos de Adaptação que Kaplan refere uma incidência de 5%
em todas admissões hospitalares estudadas num período de três anos. A
organização da Personalidade e os valores culturais do grupo contribuem para estas
respostas desproporcionais, assim como também podem advir de uma somatória de
pequenos estressores menos importantes. Como exemplo disso citamos um
relacionamento familiar conflitivo, o qual, depois de algum tempo, poderá
comprometer progressivamente o limiar de tolerância da pessoa tornando-a mais
vulnerável às solicitações existenciais, ou seja, reagindo neuroticamente às
vivências.

Finalizando esta questão das Reações Neuróticas, é bom saber que sua
fisiopatologia segue os conceitos daquilo que vimos em Reações Vivenciais
Anormais e que a classificações propostas, tanto pelo DSM-IV quanto pela CID-10,
podem parecer-nos um pouco pedantes.

Se na REAÇÃO AGUDA A ESTRESSE os sintomas emocionais aparecem dentro de


minutos ou horas após a vivência causadora e desaparecem, também, em questão
de alguns dias, se no TRANSTORNO DE ESTRESSE PÓS-TRAUMÁTICO a
resposta é mais tardia e o quadro tenha surgido dentro de até 6 meses após um
evento traumático ou se no TRANSTORNO DE AJUSTAMENTO tudo acontece
dentro de um período de 3 meses após o início do estressor, isso tudo só terá valor
prático quanto à duração do tratamento. Na realidade, o fenômeno psicopatológico
pode muito bem ser o mesmo em todas essas situações.

B - Personalidade Neurótica

O entendimento da Personalidade Neurótica ou, conforme termo de Henri Ey, do


Caráter Neurótico, implica antes no entendimento global do que foi dito até agora
sobre a Personalidade; das Disposições Pessoais, do arranjo peculiar dos Traços no
interior do eu, da modelagem afetiva no desenvolvimento da Personalidade, da
história biológica e existencial do indivíduo e das exigências adaptativas que a vida
solicita.

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O indivíduo, aqui e agora, do jeito em que ele se encontra e com esta determinada
disposição para com a sua vida, só pode ser compreendido como uma resultância
daquilo que ele trouxe para a vida, através de sua natureza constitucional, com
aquilo que a vida trouxe para ele, através de seu destino existencial. Entender a
Personalidade Neurótica implica, antes, no entendimento da Personalidade como um
todo, normal ou alterada, apta a responder harmonicamente à vida ou claudicar por
dificuldades imanentes ao seu modo de ser.

Podemos dizer que o indivíduo possui uma Personalidade Neurótica quando ele
reage neuroticamente diante dos eventos de uma forma habitual e isto passa a
caracterizar sua maneira de existir. Podemos dizer ainda que é neurótico quando
sucumbe cronicamente diante de seus conflitos, sucumbe não apenas aos conflitos
atuais mas, também e sobretudo, aos conflitos remanescentes do passado.
Podemos ainda arriscar a considerar neurótico quando suas pulsões inconscientes
dominam suas atitudes conscientes, quando constatamos uma falha crônica em
seus mecanismos de defesa, enfim, quando sua adaptação emocional à vida é
constantemente problemática.

Sempre que as Reações Vivenciais Anormais ou os Distúrbios Adaptativos, ou ainda


e também sinônimo, as Reações de Ajustamento não são acontecimentos fortuitos e
ocasionais, mas constituem uma maneira perene e constante de relacionar-se com a
realidade, estamos diante de uma Personalidade Neurótica.

É tênue e as vezes impossível, clinicamente, uma delimitação precisa entre aquilo


que estudamos como Transtornos da Personalidade e a Personalidade Neurótica.
Tanto assim, que o tema é abordado separadamente na atual CID-10 mas era
indistintamente tratado no DSM-III -R. A grosso modo poderíamos dizer, se de fato
for imprescindível uma distinção, que o Transtorno da Personalidade é um pré-
requisito constitucional para a Personalidade Neurótica e que esta aparece apenas
como uma evidência clinicamente estabelecida daquela. Arriscamos, sem receio de
errar, que a diferença entre uma e outra é a mesma constatada entre uma miopia de
meio grau e uma miopia de três graus. Ou seja, com meio grau o indivíduo ainda se
conduz na vida sem auxílio de óculos, embora não tenha uma visão tão fiel da
realidade, com três, entretanto, apresenta uma dificuldade de adaptação muito
maior.

Desta forma, o conceito de Personalidade, seja referente à Personalidade Neurótica


ou normal, diz respeito à modalidade do relacionamento do sujeito com o objeto. Os
critérios de avaliação destas relações objectuais normalmente são estabelecidos
pelo conjunto normativo de um sistema cultural, o que corresponde a dizer que, se
todos integrantes de um mesmo sistema tiverem meio grau de miopia esta será a
norma. A classificação dos Transtornos Neuróticos pela CID.10 (Classificação
Internacional de Doenças) é a seguinte:

De F40 até F48 - Transtornos Neuróticos, Transtornos Relacionados com o Estresse


e Transtornos Somatoformes

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Exclui:

quando associado aos transtornos de conduta classificados em F91.- (F92.8)


Este agrupamento contém as seguintes categorias:
F40 Transtornos Fóbico-Ansiosos
F41 Outros Transtornos Ansiosos
F42 Transtorno Obsessivo-Compulsivo
F43 Reações ao Estresse Grave e Transtornos de Adaptação
F44 Transtornos Dissociativos [de Conversão]
F45 Transtornos Somatoformes
F48 Outros Transtornos Neuróticos

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Atenção e Memória

Uma maneira importante pela qual a percepção se torna consciente é através da Atenção
que, em essência, é a focalização consciente e específica sobre alguns aspectos ou
algumas partes da realidade. Assim sendo, nossa consciência pode, voluntariamente ou
espontaneamente, privilegiar um determinado conteúdo e determinar a inibição de outros
conteúdos vividos simultaneamente. Portanto, reconhece-se a Atenção como um fenômeno
de tensão, de esforço, de concentração, de interesse e de focalização da consciência.

Atenção pode sofrer alterações em todos os transtornos mentais e emocionais. Mesmo


quando não existam alterações psíquicas tão evidentes, como é o caso da ansiedade
simples, a Atenção pode apresentar oscilações. Uma série de fatores intra-psíquicos pode
modificar a sua eficácia da Atenção mesmo dentro dos limites da normalidade. Vários
estados emocionais podem alterar a capacidade de Atenção, ora alterando sua
intensidade, ora alterando sua tenacidade ou sua vigilância. Sob a influência de
determinados alimentos, de bebidas alcoólicas e de substâncias farmacológicas, a Atenção
também pode experimentar alterações em seu rendimento e em sua eficiência.

A Memória, no sentido estrito, pode ser entendida como a soma de todas as lembranças
existentes na consciência, bem como as aptidões que determinam a extensão e a precisão
dessas lembranças . De modo geral a Memória necessita de duas funções neuropsiquícas
fundamentais; a capacidade de fixação, que é a função responsável pelo acréscimo de
novas impressões à consciência e graças à qual é possível adquirir novo material
mnemônico, e a capacidade de evocação, ou reprodução, pela qual os traços mnêmicos
são revividos e colocados à disposição livremente da consciência.

A Atenção pode ser entendida como uma atitude psicológica através da qual concentramos
a nossa atividade psíquica sobre um estímulo específico, seja este estímulo uma
sensação, uma percepção, representação, afeto ou desejo, a fim de elaborar os conceitos
e o raciocínio. Portanto, de modo geral a Atenção parece criar a própria consciência.

Alguns autores consideram a Memória em si, um processo puramente fisiológico, enquanto


a fixação e a evocação mnêmicas das lembranças seriam atos psíquicos e vividos pelo
indivíduo.

Para que uma lembrança seja eficaz é indispensável a compreensão do objeto sobre o
qual se polariza a Atenção, condição essa que depende da afetividade e do interesse.
Kraepelin já afirmava a lembrança poderia persistir por mais tempo quanto mais claramente
(mais compreensivamente) se percebia o estímulo original e quanto mais numerosas e
intensas fossem suas ligações com o resto do conteúdo da consciência. Portanto, as
lembranças perduram por mais tempo quanto mais são reforçadas pela repetição.

A Memória como Parte Importante da Consciência

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Para estudar os mecanismos da memória é didático fazer analogia com o mecanismo dos
computadores. Tal como os os computadores, nossa mente está equipada com dois tipos
básicos de memória: "a memória imedita" (de trabalho) para tratar a informação do
presente momento, e a memória de longo prazo, usada para arquivar durante longo tempo.

Ao contrário do que se pode pensar, nosso cérebro não está continuadamente registando
tudo que nos acontece para, num segundo momento, selecionar e apagar o que não é
importante. A maior parte dos estímulos com os quais estamos lidando permanece por um
brevemente tempo na memória, mais precisamente, na memória imediata ou de trabalho. A
analogia que se faz com o computador é com a chamada memória RAM, ou seja, com a
memória de acesso aleatório da máquina (Random Access Memory).

Depois de algum tempo esses estímulos trabalhados pela memória imediata se evaporam
dando lugar à outros. A memória imediata nos permite realizar os cálculos de cabeça,
permite reter números de telefone durante algum tempo, permite continuar um diálogo
baseado no início da conversa, permite saber o nome do interlocutor durante algum tempo
(diretamente proporcional à importância deste para nós).

Continuando nossa analogia, podemos dizer que a memória de longo prazo seria como o
disco rígido do computador, registando fisicamente as experiências passadas na região do
cérebro designada córtex cerebral. A córtex, ou a camada exterior do cérebro, contém
aproximadamente dez bilhões de células nervosas, as quais se comunicam intensamente
trocando impulsos eléctricos e químicos.

Sempre que um estímulo atinge nossa consciência, seja uma imagem, som, ideia,
sensação, etc., ativa-se um conjunto destes neurônios, modernamente chamado de
"assembléia neuronal". A teoria baseada nas assembléias neuronais representa um
modelo muito convincente para a formulação de uma hipótese a respeito da construção da
consciência. Segundo essa teoria, o pensamento consciente é gerado quando vários
neurônios de diversas colunas se unem funcionalmente e, atuando harmonicamente e em
conjunto, constroem uma assembléia, iniciando assim a formação de um determinado
estado consciente. Depois desse novo estado de consciência esses neurônios do conjunto
que participou do estímulo nem sempre retomam o estado original. Eles costumam
fortalecer as ligações uns com os outros, tornando-se mais densamente interligados.

Quando isso acontece constroi-se uma memória consciente, e o que quer que estimule
essa rede ou assembléia trará de volta a percepção inicial sob a forma de recordação. O
que entendemos como recordações são, afinal, padrões de ligação entre células nervosas.
Uma recordação recém-codificada pode envolver milhares de neurónios abarcando todo o
córtex.

Segundo a teoria dos conjuntos de células envolvidas na consciência e memória, os


neurônios são capazes de se associarem rapidamente, formando grupos (assembléias)
funcionais para realizarem uma determinada tarefa ou apreenderem um determinado
estímulo. Uma vez que esta tarefa esteja terminada, o grupo se dissolve e os neurônios

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estão novamente aptos a se engajarem em outras assembléias, para cumprirem uma nova
tarefa . Portanto, esse conjunto, rede ou assembléia de neurônios dilue -se, caso não seja
reutilizada, mas, se a ativarmos repetidamente, o padrão de ligações incorpora-se cada vez
mais nos padrões de nossos tecidos nervosos.

É devido a essa organização e dissolução dinâmica das assembléias neuronais que


podemos comparar a atividade mnêmica fugaz com a memória RAM do computador. Há,
ainda, um aspecto quantitativo acerca dessa assembléia neuronal, segundo a qual, quanto
maior o número de neurônios recrutados, maior será o tamanho dessa assembléia e, em
conseqüência, maior será a recém criada consciência ou memória, em termos de
intensidade e tempo de duração. Contrariamente, se for pequeno o número de neurônios
recrutados, a memória resultante será pequena em intensidade e duração.

Os estímulos são registrados na memória de longo prazo mediante repetição ou através de


sua carga afetiva. Enquanto a decisão de armazenar ou diluir uma informação possa ser
voluntária, a eficácia dessa memorização nem sempre depende de nossa vontade. Quem
garante a eficácia da memória, indiretamente da consciência que se tem do vivido, é um
atributo automático do hipocampo.

O hipocampo é uma pequena estrutura bilobular alojada profundamente no centro do


cérebro. Tal como o teclado do nosso computador, o hipocampo é como uma espécie de
posto de comando. À medida que os neurónios do córtex recebem informação sensorial,
transmitem-na ao hipocampo. Somente após a resposta do hipocampo é que os neurónios
sensoriais começam a formar uma rede durável (assembléia). Sem o "consentimento" do
hipocampo a experiência desvanece-se para sempre.

É aqui que entra a carga afetiva necessária para que o estímulo se fixe na memória de
longo prazo. A atitude de "consentimento" do hipocampo parece depender de duas
questões. Primeiro, a informação tem algum significado emocional, portanto, tem que ter
alguma importância afetiva. O nome de uma pessoa muito atraente tem mais probabilidade
de conseguir "autorização" do hipocampo para se fixar no "disco rígido" de nosso
computador do que o nome do jornalita que escreve o obituário do jornal. É assim que
nossa consciência se constrói, sempre em conformidade com nossos próprios interesses
emotivos.

A segunda atitude do hipocampo é uma imediata analogia, ele avalia é se a informação


que está chegando no cérebro tem relação com alguma coisa que já esteve por ai, ou que
já sabemos. Ao contrário do computador, que armazena separadamente os factos
relacionados, o cérebro procura constantemente fazer associações. Se o estímulo recém
chegado tem alguma relação ou correspondência com algum material já armazenado, esse
novo fato terá mais facilidade de agregar-se ao dinamismo psíquico. Em suma, usamos as
assembléias elaboradas pela experiência passada para captar novas informações.

Através da formação continuada de assembléias neuronais os fenômenos conscientes se


sucederiam, continuamente, cada um diferindo dos demais em duração e intensidade, de
acordo com o tamanho das assembléias. Esse dinamismo faz com que a substituição de
uma vivência consciente pela que se segue seja muito rápida, conferindo à consciência seu
aspecto de continuidade. Aqui devemos lembrar que, também continuadamente, o

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hipocampo vai selecionando o que fica na memória de longo prazo e o que pertence
apenas à memória imediata.

De qualquer forma forma-se uma assembléia neuronal e, numa ínfima fração de tempo, a
consciência da vivência se formaria. Essa consciência seria recém formada a partir da
mobilização simultânea de um determinado número de neurônios por um período de tempo
variável e, imediatamente depois de terminada sua função, seria substituída por outra
assembléia (consciência), depois por outra e, sucessivamente outras. Esses arranjos
neuronais obedecem uma estrutura muito pessoal que, em seu conjunto, acabam por
corresponder (ou contribuir para) ao perfil afetivo e sensibilidade de cada um e, quem sabe
até, para a vocação de cada um. É por isso que um mesmo quadro pode impressionar
diferentemente as várias pessoas que o observam; alguns se sensibilizam com as
tonalidades, outros com o tema, outros até com a combinação quadro-moldura, outros só
conseguem memorizar o preço e assim por diante. Podemos constatar essa experiência
facilmente retirando o quadro da vista das pessoas e pedindo para elas descreverem o que
viram: ... cores fortes.... tema triste.... muito grande.... deve valer muito... e assim por
diante.

Assim sendo, as condições capazes de perturbar o hipocampo acabam por prejudicar a


memória e, conseqüentemente, a integração da consciência. A doença de Alzheimer
destrói gradualmente esse órgão, portanto, destrói a capacidade para formar novas
memórias. O envelhecimento normal também pode causar danos mais sutis. Alguns
estudos sugerem que a massa encefálica decresce, a grosso modo e variavelmente, de
cinco a dez por cento a cada dez anos.

Exceto em casos mais patológicos, como por exemplo na doença de Alzheimer ou nos
problemas vasculares, a idade por si só parece não perturbar a nossa memória
significativamente. A idade, quando muito, torna as pessoas um pouco mais lentas e
menos precisas e, embora as médias apontem para o declínio com a idade, alguns
octogenários continuam mais incisivos e rápidos que os adolescentes.

Evidentemente existem circunstâncias clínicas capazes de prejudicar o rendimento da


memória ao longo dos anos. A pressão sanguínea elevada cronicamente pode prejudicar a
função mental. Alguns estudos constatam que ao longo dos anos, as pessoas hipertensas
perdem duas vezes mais capacidade cognitiva que aqueles que apresentam tensão
sanguínea normal. Também o excesso de álcool ou o funcionamento deficiente da glândula
tiróide, assim como a depressão, a ansiedade e a simples falta de estímulo estão
associados ao prejuízo da memória.

O Estresse e a Memória
Atualmente um novo problema parece estar associado ao desgaste da capacidade de
fixação. É o excesso ou sobrecarga de informação. As informações dos tempos modernos
chegam até nós através dos mais variados meios: jornal, revista, rádio, televisão, cinema,
fax, carta, e-mail, internet, escola, cursos, etc... Muitas vezes essa avalanche de
informações superam nossa capacidade de apreensão eficaz.

Essa dificuldade de apreensão e, conseqüentemente, de memorização tem muito a ver

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com o estresse por excesso de estimulação e solicitação. Evidentemente que, em curto


prazo, o estresse até habilita nosso cérebro a reagir mais prontamente aos estímulos,
sendo essa a função primária da ansiedade do estresse. Em longo prazo, entretanto, o
desgaste supera a eficiência.

Algumas pesquisas na área do estresse calculam que, ao fim de cerca de 30 minutos, os


hormônios do estresse (adrenalina e cortizona) começam a desativar as moléculas que
transportam glucose para o hipocampo, deixando assim essa parte do cérebro com pouca
energia. Depois de períodos mais longos, os hormônios do estresse podem acabar
comprometendo seriamente as ligações entre neurónios e fazendo o hipocampo reduzir ao
máximo sua ação, tal como uma espécie de atrofia funcional. Esta espécie de atrofia
funcional é reversível se o estresse for curto, mas um estado de estresse que demora
meses ou anos, pode acabar inutilizando definitivamente neurónios do hipocampo. Como
vimos acima, quem garante a eficácia da memória, indiretamente da consciência que se
tem do vivido, é um atributo automático do hipocampo, portanto, havendo dano dessa
estrutura cerebral a capacidade de fixação mnêmica estará prejudicada.

O Estrogênio e a Memória
As pesquisas que relacionam o estrogênio (hormônio feminino) com a memória foram
estimuladas indiretamente, partindo da observação de que as mulheres que tomavam
estrogênio reduziam o risco de contrair a doença de Alzheimer.

A a importância do estrogénio em relação à memória verbal foi testado em mulheres


jovens, antes e depois de serem submetidas a tratamento para tumores uterinos. Os níveis
de estrogênio dessas mulheres decresciam fortemente depois de 12 semanas de
quimioterapia, assim como decresciam também os seus resultados nos testes de retenção
da leitura. Mas, quando metade dessas mulheres juntou estrogênio ao regime terapêutico,
a memória melhorou prontamente.

As razões para esse efeito protetor sobre a memória atribuído ao estrogênio ainda não são
claras, mas o hormônio parece catalisar o desenvolvimento de neurônios no hipocampo e
fomentar a produção de acetilcolina, um composto (neurotransmissor) que ajuda as células
cerebrais a se comunicarem. Infelizmente, o uso de estrogênio também tem riscos, em
especial para as mulheres com predisposição para o câncer de mama.

Foco de Atenção
O aspecto para o qual se dirige a Atenção é chamado de alvo (perceptual e motor), por
isso e apropriadamente, podemos fazer uma analogia didática do focalizar da consciência
com um alvo de tiro. O elemento que, em dado momento, constitui o objeto de nossa
Atenção, ocupa sempre o ponto central do campo da consciência. O centro desse alvo
perceptual corresponde ao grau máximo de consciência e é denominado foco da Atenção.
Aí, tudo o que é focal é percebido com Atenção em seu redor, porém, existem outros
objetos ou fenômenos psíquicos, os quais, sem ter abandonado o campo da consciência,
deixam de ser objeto de Atenção. Os círculos concêntricos mais próximos exprimem,
esquematicamente, a área subconsciente e o círculo mais afastado o inconsciente.

O elemento que, em dado momento, constitui o objeto de nossa Atenção, ocupa sempre o
ponto central do campo da consciência, portanto, nossa capacidade para concentrar a

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atividade da consciência em uma só coisa acaba, forçosamente, excluindo total ou


parcialmente as demais. Entre as partes deste conjunto composto pela consciência,
subconsciente e inconsciente não é possível estabelecer limites de nítidos.

Aspecto Temporal da Atenção


Geralmente, a duração de um determinado foco de Atenção é breve. Existe constante
passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra e isso se dá por várias razões.
De um lado, existe na Atenção, como em todos os processos psicológicos, uma forma de
saciedade. Esta saciedade tende a inibir a continuidade de Atenção em determinada
direção, como se a pessoa estivesse continuadamente em busca de novidades
perceptivas. A Atenção tender a mudar, espontaneamente, depois de um período de
focalização em uma parte da realidade. Outra razão para a passagem da Atenção de uma
parte da realidade para outra é obtenção de uma certa organização perceptual. É difícil ou
impossível, por exemplo, organizar o todo a ser percebido com um único olhar. É preciso
passos sucessivos de exploração para que cada parte ou aspecto seja fixado por sua vez.

É importante esses aspectos temporais da organização perceptual e mesmo caso dos


padrões estático de certos estímulos, a percepção adequada envolve, invariavelmente,
mudanças sucessivas de focos de Atenção. Este é um elemento fundamental para o
artista, por exemplo, o qual precisa, construir sua obra de arte de tal forma que o olho do
observador seja dirigido numa direção determinada através do quadro ou da estátua. Sem
esse elemento organizacional não seria possível a percepção dos detalhes alocados no
objeto.

Mais uma razão para a passagem da Atenção de uma parte da realidade para outra é a
limitação da quantidade de material que pode ser incluída no foco de Atenção, em cada
momento considerado. Um hipotético olho cósmico, se existisse, poderia apreender
simultaneamente completamente tudo de uma determinada situação mas, o ser humano e
os organismos inferiores, entretanto, podem apreender apenas uma proporção limitada da
realidade. Uma forma de estudar o problema do alcance máximo do foco de Atenção é
através da análise da amplitude da apreensão.

Esta Amplitude da Atenção se refere ao número máximo de objetos que podem ser
percebidos imediatamente. Espalhando um pequeno número de grãos de feijão numa
mesa e olhando de relance, procuramos ver quantos grãos existem. Verificaremos que
cometermos poucos erros quando os grão são em número de cinco ou seis mas, a partir
desse número, começamos a errar mais. Portanto, nossa Atenção se desloca de tempos
em tempos para outras partes da realidade porque é limitada a capacidade de
apreendermos simultaneamente muitas coisas.

Sob este ponto de vista, a atividade mental consiste num vaivém perpétuo de focalizações
da Atenção em acontecimentos interiores, em sensações, em sentimentos, em idéias e em
imagens mentais que se associam ou se repelem, segundo as leis do dinamismo psíquico.
Serão estes diferentes estados de Atenção que permitem o aspecto dinâmico na atividade
da consciência.Em função da atividade predominante, distinguem-se 3 tipos principais de
Atenção: sensorial, motora e intelectual.

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Tipos de Atenção
Nossos 5 sentidos podem ser ativados conscientemente para focalizar a Atenção sobre um
determinado estímulo. Os condicionamentos, muitas vezes inconscientes, podem
proporcionar uma certa atividade de espera, mais ou menos orientada, no sentido de
confirmar ou não uma determinada expectativa.

Ao acrescentar mais sal na comida, por exemplo, nosso paladar espera, com certa
expectativa, constatar determinado gosto, assim como esperamos ver, momentos antes,
determinada cena de acidente ao constatar a direção e velocidade de um carro de corridas.
Trata-se da espera pré-perceptiva. Outras vezes, entretanto, quando os resultados fogem
completamente da expectativa perceptiva, acontece uma espécie de choque sensorial que
dá origem a um estado de surpresa.

Atenção Motora
Na Atenção motora, a consciência está concentrada na execução de uma atividade física e
muscular pré-programada. Ao olhar para um objeto, por exemplo, a pessoa se inclina na
direção desse objeto, e o mecanismo ocular atua de forma que os olhos se dirijam ao
objeto até que este caia na fóvea; os músculos do cristalino se acomodam de forma que a
imagem fique no foco mais claro, etc. Ao ouvir um som baixo a pessoa estica o pescoço
para a frente, coloca sua mão atrás da orelha, e pode fechar os olhos a fim de eliminar os
estímulos visuais concorrentes na tentativa de selecionar um determinado objeto (sonoro)
como foco de sua Atenção. Talvez seja por isso que algumas pessoas têm que tirar os
óculos de sol para prestarem mais Atenção em sons ou imagens.

A Atenção motora se caracteriza também pela tensão estática dos músculos, juntamente
com uma hipervigilância da consciência. Esta atividade de espera chamada por Pléron de
"atividade imobilizante", e exige um grande consumo de energia.

Veja-se, por exemplo, a brincadeira de tapa nas mãos. Neste joguete um dos jogadores,
aquele que dará os tapas, fica com as mãos espalmadas para cima, enquanto o outro
coloca suas mãos sobre as mãos do primeiro. Repentinamente o primeiro tentará retirar
suas mãos e estapear as mãos do segundo. Vence o mais rápido. O segundo deve retirar
suas mãos, tão logo perceba que o primeiro iniciou o movimento de estapeá-lo.

O papel da eficiência da Atenção, nesses casos, consiste privilegiar os elementos


automáticos da psicomotricidade, ao mesmo tempo em que reduz os elementos
intelectuais eventualmente atrelados ao movimento. Esta forma de Atenção representa
uma espécie de alerta às atividades musculares que devem responder prontamente a
determinada situação no sentido de favorecer a adaptação.

Atenção Intelectual
Representa o ato de reflexão e de atividade racional dirigidos na resolução de qualquer
problema conscientemente definido. Apesar da divisão da Atenção em Atenção Sensorial,
Atenção Motora e Atenção Intelectual, de certa forma a Atenção implica sempre em alguma
atividade intelectual, ora orientando os movimentos, ora dando sentido às percepções.

Afeto e Atenção

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Um dos fatores individuais de maior influência no processo da Atenção destacam-se as


condições do estado de ânimo ou de interesse, os quais podem facilitar ou inibir a
mobilização da Atenção. Portanto, o elemento afetivo tem significação determinante no
processo da Atenção, admitindo-se que a pessoa só dirige a Atenção aos estímulos que
lhe despertam interesse. De fato, ao constarmos que nossa Memória tem mais afinidade
para as coisas que nos despertam maior interesse, estamos falando antes, que nossa
Atenção (indispensável para a Memória) é mobilizada mais prontamente pela nossa
afetividade.

Nossa Atenção sobre algo é tanto mais intensa quanto mais nos interessa esse algo,
quanto mais desejamos conhecê-lo e compreendê-lo, quanto mais isto nos proporcione
prazer ou satisfação. É por isso que, durante os episódios depressivos, onde o prazer e o
interesse estão significativamente comprometidos, a Atenção e a Memória estarão também
severamente prejudicadas; por falta de interesse e prazer.

Despertam mais nossa Atenção as coisas com as quais mantemos algum laço de
interesse, alguma predileção. Passeando num shopping as pessoas detém-se (prestam
Atenção) diante das vitrinas que lhes despertam maior interesse, que mais lhes mobilizam
afetivamente. Ao estudarmos a sensopercepção também constatamos o fenômeno de
predileção sensorial de acordo com as tendências afetivas, como é o caso do artista, capaz
de perceber com mais acuidade a obra de arte. A Atenção seria a principal parte dessa
predileção sensorial.

De acordo com o papel que determinado estímulo desempenha ou possa eventualmente


desempenhar na vida pessoal, ele exercerá uma força maior ou menor de atração sobre a
Atenção. A Atenção realiza uma seleção natural de seus objetivos em função da disposição
pessoal, a qual tende a iluminar determinados objetos. A Atenção está sempre dirigida para
algo conscientemente desejado e esse tipo de disposição da pessoa para com o objeto é
chamado interesse. O interesse e a Atenção estão tão intimamente ligados que não é
possível existir Atenção completamente desprovida de interesse (Stern).

Níveis e Distribuição da Atenção


Ao estudar a extensão do campo de Atenção, julga-se muito mais importante a captação
de uma totalidade ou captação do todo significativo, que a quantidade de objetos que a
serem captados pela Atenção. Para William Stern, a Atenção é a condição imediata para a
produção de uma realização pessoal e suas características consistem num esclarecimento
consciente, na concentração de uma força psíquica disponível para o esclarecimento da
realidade.

A Atenção da pessoa, num determinado momento pode estar distribuída de várias


maneiras no campo da realidade. Pode estar concentrada num único objeto, dando-se
pouca Atenção ao resto, pode estar difusamente espalhada, sem que uma parte específica
esteja predominantemente em foco ou, por fim, pode estar dividida entre vários objetos,
quando então a pessoa procura prestar Atenção, simultaneamente, a duas ou mais coisas.
Quanto maior a divisão da Atenção entre objetos, maior a perda de qualidade da Atenção
dada a cada parte.

Conforme vimos acima, a amplitude limitada da apreensão, e o fato de que quanto maior a

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divisão da Atenção menor a sua qualidade, acentuam a necessidade da organização


perceptual. Quando algumas partes do campo são organizadas em todos maiores, a
Atenção necessária para percebê-las eficientemente será menor do que quando as partes
são simplesmente observadas separadamente.

Através da organização e do agrupamento de objetos a serem percebidos podemos


estender a amplitude da Atenção. Se separarmos nove grãos de feijão em três grupos de
três grãos, podemos vê-los mais facilmente. Este é um exemplo simples do princípio
segundo o qual a organização tem como função permitir; à pessoa, dirigir a Atenção para
maior quantidade de material.

Podemos ver a mesma coisa, de maneira mais significativa, no desenvolvimento de


habilidades específicas ou do treinamento. Não é necessário prestar Atenção a uma
atividade bem treinada, pela simples razão de que o todo integrado está tão reunido que
pode ser realizado sem Atenção as suas partes isoladas. A inspeção de qualidade numa
fábrica, por exemplo, é uma atividade tão treinada que o funcionário é capaz de ater-se
rapidamente à qualquer coisa que estiver estranha àquilo considerado desejável. Este
funcionário desenvolve seu trabalho muito mais rapidamente que outra pessoa não
treinada. Assim, é possível perceber, com um simples olhar, situações complexas.

A organização dos objetos facilita para que os estímulos se encaixem na expectativa a ser
percebida, sem necessidade de Atenção cuidadosa a cada uma das partes isoladamente.
Isso, naturalmente, permite maior eficiência, embora também possa provocar erros que
passam desapercebidos, quando estes eventualmente se encaixem bem na organização.

Determinates da Atenção
Falamos comumente da Atenção como voluntária ou involuntária. A primeira refere-se a
casos onde o indivíduo parece ter liberdade na determinação do foco de sua Atenção,
liberdade em escolher intencionalmente aquilo sobre que prestar Atenção. Entretanto, ao
estudarmos a influência da motivação, do interesse e da afetividade sobre a Atenção essa
simples divisão em voluntária e involuntária ficará mais complicada. De qualquer forma
vamos falar sobre essa divisão. A Atenção involuntária ou espontânea refere-se a casos
em que a pessoa parece menos o agente de escolha da direção de sua Atenção do que
um joguete nas mãos de forças que a obrigam a atentar para isso ou aquilo. Numa
narração folclórica e acaboclada de um contador de casos goiano , é cômica a passagem
onde diz, diante da censura de sua mulher por ter olhado demais para outra mulher: "- eu
não queria olhar, mas os olhos queriam...".

Alguns determinantes da Atenção involuntária estão relacionados ao afeto e sentimento


dirigidos para o objeto, como é o caso da pessoa faminta dirigir sua Atenção,
irresistivelmente, para o alimento da vitrina do restaurante.

Outros determinantes se ligam a características duradouras dos objetos estimulantes.


Essas características determinantes podem ser tão solicitantes que acabam atraindo
tiranicamente a Atenção, apesar parecer que a pessoa atentou voluntariamente. As
características dos estímulos, que exigem Atenção, foram muito estudadas por
experimentos de laboratório e por técnicas de propaganda. Esses fatores determinantes do

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estímulo podem ser sumariados da seguinte maneira:

DETERMINANTE DE... EXEMPLO


intensidade ................................... : o silvo da sirene do carro de bombeiros
repetição...................................... : anúncios na televisão
isolamento .................................... : uma única palavra, na página da revista
movimento e mudança.................. : o pisca-pisca no cruzamento da estrada
novidade........................................ : o desenho exagerado do último modelo de carro
incongruência ............................... : a mulher fumando um charuto

Tenacidade e Vigilância
Já vimos, no capítulo da sensopercepção, que o ato de perceber consiste na apreensão de
uma totalidade e que essa totalidade não representa uma simples soma do elementos
isolados captados pelos órgãos sensoriais. O todo sensorial caracteriza uma determinada
forma, e esta forma percebida pelos sentidos será qualitativamente diferente daquilo que
representa suas partes isoladas.

Para a Atenção, também, somente uma parte das excitações sensoriais adquire relevo,
dando origem à uma forma sobre a qual se polariza a Atenção, enquanto as partes
restantes representam o fundo, menos claro, mais difuso e mais fluido. Aqui, tanto quanto
na sensopercepção, não existem quaisquer elementos isolados, mas apenas fins totais e
integrado para alguma realização pessoal, e serão "claras" e "nítidas" as percepções
contidas no foco da Atenção, "vagas" e "difusas" aquelas que se encontram além desse
foco.

O nível da Atenção depende de vários fatores. Como vimos acima, o principal desses
fatores é a ânimo ou o interesse (em outras palavras, o afeto). Quando nos encontramos
diante de uma variedade de objetos, a Atenção está dispersa e os diferentes objetos
recebem pequenas quantidades de energia e alcançam um grau médio de Atenção. Mas,
ao concentrarmos a Atenção num único objeto, toda a energia se orienta neste sentido e
os demais objetos ficam numa zona obscura. No entanto, no objeto em que se concentrou
a Atenção se descobre uma infinidade de pormenores que haviam passado
desapercebidos quando este se achava imerso nos demais. Neste caso a Atenção foi
polarizada no objeto escolhido.

Isso significa que dentro do campo da Atenção nem todos os estímulos recebem a mesma
conscientização e energia. Vale aqui o alvo inicialmente exemplificado: em torno de uma
zona central especialmente iluminada e energicamente acentuada, situam-se zonas de
fraca intensidade.

Quando estamos dirigindo o foco principal da Atenção deve estar na estrada e no trânsito à
nossa volta. Em nível menos profundo de Atenção estão os acostamentos da estrada, o
ruído do motor, os instrumentos do painel do veículo, etc. De um modo geral, o campo de
visão mais externo, a visão periférica, utiliza a energia psíquica sem propósito de foco da
Atenção, mas apenas como possibilidade para um eventual foco futuro.

Usando ainda o exemplo de dirigir, há também a Atenção de espera, quando então

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procuramos, espreitamos, espiamos ou exploramos, sem nenhum objeto específico à se


focar a Atenção. Digamos que é uma Atenção para as possibilidades. Nesses casos, o
objeto da Atenção ainda não se acha presente, tudo é indeterminado, não se conhece o
onde, nem o quando do que vai ser percebido. Pode ser que um cachorro atravesse em
nossa frente. Esta expectância e incerteza exige que a Atenção percorra continuamente
um campo mais amplo para, no caso do objeto aparecer, não o deixar escapar e colocá -lo
imediatamente em foco. Para completar esse exemplo temos que entender o que é
tenacidade e o que é vigilância.

Bleuler destaca duas qualidades na Atenção: a tenacidade e a vigilância. A tenacidade é a


propriedade de manter a Atenção orientada de modo permanente em determinado sentido.
A vigilância é a possibilidade de desviar a Atenção para um novo objeto, especialmente
para um estímulo do meio exterior. Essas duas qualidades da Atenção se comportam,
geralmente, de maneira antagônica, ou seja, quanto mais tenacidade sobre um
determinado objeto está se dedicando, menos vigilante estamos em relação à eventuais
estímulos a serem apreendidos.

Cisão da Atenção
É quando os objetos da Atenção opõem-se um ao outro e, por causa disso, não se pode
estabelecer uma unidade.Observação das mais significativas para a Psicopatologia
consiste na noção de "cisão" da Atenção. Este fato pode ocorrer com relativa freqüência
em alguns transtornos psíquicos, criando sérios problemas para a mente que deve atender,
simultaneamente, a objetivos múltiplos ou extremamente contraditórios. No caso de
"cisão", Nos casos mais acentuados, em que se manifestam outros sintomas
concomitantes, a cisão da Atenção pode determinar uma verdadeira desintegração da
mente. Bateson propos a hipótese do "duplo-vínculo", aplicável às situações insolúveis em
que se encontram muitos indivíduos no contexto familiar. A situação é descrita como
aquela em que uma pessoa transmite à outra duas mensagens afins, porém contraditórias
e incompreensíveis, contendo exigências de natureza oposta, ao mesmo tempo que trata
de impedir que a vítima expresse uma opinião acerca da incoerência.

O paciente se encontra numa situação singular e insustentável. Não pode adotar nenhuma
atitude sem sofrer pressões e exigências contraditórias vindas, geralmente, de parte de um
ou de ambos os pais. O fato de não saber para que lado deva se "voltar", para o lado do
pai ou da mãe, ocasiona o desmantelamento no interior de si próprio e, externamente, nas
relações interpessoais. Cria-se uma situação sem saída para os que se encontram a ela
vinculados.

Weakland estabeleceu os princípios da situação de duplo-vínculo criada entre filho-mãe-


pai:
1 ) O indivíduo participa de uma relação bastante intensa, isto é, fazem-no sentir que é
vitalmente importante que possa distinguir com precisão o tipo de mensagem que lhe está
sendo comunicada, a fim de poder responder de forma adequada. 2) O indivíduo está
atrapalhado em uma situação em que a outra pessoa que participa da relação expressa
duas formas de mensagens contraditórias, nas quais uma é a negação da outra. 3) O
indivíduo é incapaz de fazer comentários a respeito das mensagens que se estão

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expressando, com o fim de corrigir sua discriminação do tipo de mensagem a que deve
responder, isto é, não pode realizar uma formulação meta-comunicativa".

Esta situação de duplo-vínculo implica, naturalmente, a "cisão" da Atenção de quem se


encontra submetido a esta situação anômala e termina operando a desintegração de uma
personalidade em evolução e que não alcançou ainda pleno desenvolvimento.

O começo de um ato de Atenção consiste não só em dirigir a Atenção para o estímulo


sensorial, mas, ao mesmo tempo, interromper o estado psíquico anterior. Assim começa
uma nova vivência e, se esse processo proporcionava prazer ou não estava ainda
terminado, a interrupção é vivenciada como uma perturbação. Por isso, admite-se que a
dupla Atenção que um jovem deve prestar aos pais, quando ambos são muito diferentes e
expressam opiniões divergentes, contraditórias e conflitantes, determina, como
conseqüência, uma "cisão" no processo de Atenção, que termina comprometendo,
sobretudo, a parte afetiva da pessoa implicada.

O Ato de Concentrar a Atenção


Alonso Fernandez considera dois aspectos no ato de concentrar a Atenção: escolher um
tema no campo da consciência, elevando-o à um primeiro plano e; manter esse tema
rigorosamente destacado, sem deixar-se desviar por influências excêntricas do campo da
consciência, modificando-o com plena liberdade. Assim sendo, o individuo lúcido deve
dispor de liberdade diante das vivências, tornando possível o funcionamento normal da
capacidade de concentração . A primeira fase da Atenção representa a redução do campo
da consciência. A percepção, representação ou conceito que se acham eventualmente no
centro da consciência são percebidos, graças à concentração da Atenção, com maior
clareza, nitidez e delimitação. Esse processo de concentração pode ser ativo ou passivo,
dependendo da situação afetiva do momento.

Quanto à intencionalidade da Atenção distinguem-se duas formas: a Atenção espontânea e


a Atenção voluntária. A Atenção espontânea, como o próprio nome diz, resulta da
tendência natural da atividade psíquica em orientar-se espontaneamente para as
solicitações sensoriais e sensitivas necessárias à adaptação com a realidade, sem que
para tal haja necessidade imperiosa da consciência. Atenção ao andar, ao mastigar antes
de engolir, desviar de obstáculos para não cair, Atenção ao manusear objetos, por
exemplo.

A Atenção voluntária é aquela que já exige um certo esforço mental para algum
determinado fim. Esta atividade psíquica permite que as representações e os conceitos
objetos da Atenção permaneçam maior ou menor tempo no campo da consciência. Prestar
Atenção à aula, por exemplo. A afetividade, visto em tópico anterior, participa
inegavelmente na direção da Atenção voluntária.

Distração
Sob o rótulo de distração existem dois estados diferentes. Por excesso ou por falta de
tenacidade. Primeiro, diz respeito à dificuldade da Atenção em fixar-se, portanto, falta de
tenacidade. A dificuldade de tenacidade, por si só, não implica, como vimos, em prejuízo
obrigatório da vigilância. Muito pelo contrário. Nos transtornos hipercinéticos das crianças

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observamos, quase sempre, uma hiper-vigilância acompanhada de hipo-tenacidade. Ela


desvia sua Atenção diante de qualquer estímulo ambiental.

No segundo caso trata-se do contrário, ou seja, de uma concentração ou tenacidade muito


intensa em determinado estímulo, assunto ou representação, que acaba por impedir a
apreensão de tudo que não se refere ao motivo principal da Atenção, ou seja, por quase
abolição da vigilância. É a distração do preocupado, do sábio ou do estudioso,
interessados vivamente e exclusivamente por algum pensamento.

Na distraibilidade do primeiro caso, por falta de tenacidade, ocorre a diminuição da Atenção


voluntária e a aumento da Atenção espontânea. No segundo caso, ao contrário, por
excesso de tenacidade, como por exemplo na ioga, há aumento da Atenção voluntária e
diminuição da Atenção espontânea. Afetivamente podemos dizer que nos estados de
euforia a distraibilidade é do primeiro tipo e nos casos depressivos é do segundo, porém,
em ambos extremos do humor haverá certamente prejuízo da Atenção.

Compreendido essas duas maneiras de distraibilidade vamos aos nomes técnicos:


Hiperprosexia
Apesar do prefixo "hiper", há aqui prejuízo da Atenção. O "hiper" refere-se ao aumento
quantitativo da Atenção . Como, em termos de Atenção, a quantidade pode ser tida como
contrária à qualidade, esse tipo de alteração da Atenção se caracteriza por uma extrema
labilidade da Atenção (voluntária ou tenaz), o que leva o indivíduo a se interessar,
simultaneamente, às mais variadas solicitações sensoriais, sem se fixar sobre nenhum
objeto determinado. Refere-se, pois, a uma hiperatividade da Atenção espontânea.

Esta super-vigilância acompanhada de sub-tenacidade da Atenção é observada em


estados patológicos acompanhados de excitação psicomotora, como é o caso do Episódio
de Mania (euforia), no Transtorno Hipercinético da Infância, nas intoxicações exógenas por
estimulantes como a cocaína ou anfetaminas, na embriaguez, na esquizofrenia ou mesmo
em pessoas normais passando por momentos de grande excitação.

Hipoprosexia
Consiste no enfraquecimento acentuado da Atenção em todos os seus aspectos, isto é,
tanto da Atenção voluntária, quanto da Atenção espontânea (tenacidade e vigilância). É
observada nos estados onde haja obnubilação da consciência, seja por razões
neurológicas ou psiquiátricas. Também na embriaguez alcoólica aguda ou embriaguez
patológica, em casos de psicoses tóxicas, na amência, nos quadros de demências, na
paralisia geral, na esquizofrenia e em certas reações vivenciais anormais. Os estados
depressivos sempre se acompanham de diminuição da capacidade de concentrar a
Atenção, particularmente nos quadros de depressão ansiosa, que podem chegar, em casos
de estupor melancólico, a uma diminuição acentuada da capacidade de concentrar a
Atenção.

Em enfermos esquizofrênicos inibidos, a Atenção pode estar polarizada para o mundo


interno (introspecção), dando ao examinador a impressão de desinteresse completo ao
mundo exterior. Quando isso acontece falamos em postura autista. Nos deficientes mentais
também se observa déficit da capacidade de Atenção, tanto mais acentuado quanto maior
for o grau de deficiência mental, chegando, em alguns casos, à ausência

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completa de Atenção.

Aprosexia
Aprosexia é a falta absoluta de Atenção, dependendo esse tipo de transtorno de acentuada
deficiência intelectual ou de inibição cortical. Esse estado difere da insuficiente capacidade
de concentração de origem afetiva e das manifestações autistas dos esquizofrênico.
Observa-se a aprosexia na amência, no estupor e nos estados de demências.

Alteração da Memória
Hiperminésia
Ocorre Hipermnésia quando lembranças casuais são evocadas com mais vivacidade e
exatidão que normalmente, ou quando se recordam particularidades que comumente não
surgem na consciência. A Hipermnésia pode ser observada em alguns estados orgânicos,
como é o caso das afecções febris toxi-infecciosas. Nesses casos podem aparecer
lembranças da juventude ou da infância ou de fatos que a pessoa nem sequer tinha mais
consciência de sua existência. Também pode haver Hipermnésia por estimulação
hipnótica, onde recordações de particularidades muito complicadas são revividas com
exatidão.

Na Hipermnesia não existe um verdadeiro aumento da memória. O que se observa é, na


realidade, uma maior facilidade na evocação dos elementos mnêmicos, normalmente
limitados a períodos específicos ou a eventualidades específicas ou, ainda, a experiências
revestidas de forte carga afetiva.

Um fenômeno curioso é a Hipermnésia que pode ocorrer em estados que precedem a


morte ou quando a pessoa se defronta com situações extremamente ameaçadoras à
sobrevivência. Na literatura psiquiátrica há algumas referências de casos onde a pessoa se
recorda, em poucos instantes, de todos os acontecimentos da vida com absoluta clareza.

Algumas pessoas que foram salvas da morte iminente por afogamento descrevem que no
momento da asfixia pareciam ver toda a sua vida passada, nos seus mais pequenos
incidentes. Pareciam ver toda a vida anterior desenrolando-se em sucessão e com
pormenores muito precisos, formando um panorama de toda existência . Também Jaspers
descreve essas situações limites. Perante o infortúnio, o sofrimento e a morte iminente, diz
ele, a existência humana é lançada numa situação anímica extrema.

Hipomnésia e Amnésia
A Hipomnésia e a Amnésia podem ser consideradas como graus de hipofunção da
memória, ou seja, são diminuições do número de lembranças evocáveis. A Amnésia, por
sua vez, seria a desaparição completa das representações mnêmicas correspondentes a
um determinado tempo da vida do indivíduo". Bleuler prefere o termo debilidade da
memória ao invés de hipomnesia. Ele diz ainda que a Amnésia não precisa ser completa,
havendo várias gradações entre o nada absoluto e a lembrança incompleta.

Segundo Jaspers, "amnésias são perturbações da memória que se estendem a um período


de tempo delimitado, do qual nada ou quase nada pode ser evocado (Amnésia parcial), ou
ainda a acontecimentos menos nitidamente delimitados no tempo". Em

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seguida, estuda quatro variedades de Amnésia :

1. Primeiro - Há profunda obnubilação da consciência mais do que perturbação da


memória. Como nada se pode aprender na obnubilação, nada se pode fixar, ou seja, como
nenhum acontecimento atinge a consciência, não será possível alguma reprodução. 2.
Segundo - Aqui verifica -se ser possível a compreensão durante algum período de tempo,
porém a capacidade de fixação está profundamente diminuída, não sendo possível reter
nada. Isso é comum em psicoses orgânicas, notadamente na Korsakov. 3. Terceiro - É
quando certos acontecimentos podem ser compreendidos passageiramente, porém as
disposições da memória foram destruídas por um processo orgânico bem delimitado no
tempo. É, por exemplo, o que acontece nas amnesias retrógradas, após graves lesões
cerebrais, em que desaparecem totalmente as experiências das últimas horas ou dias
antes do acidente. 4. Quarto - Trata-se de amnésias extremamente acentuadas,
normalmente de origem psicogênica, sendo o principal defeito uma alteração da
capacidade de reprodução, apesar da soma das lembranças existentes estar conservada.
Nesses casos, muitas vezes a solução é conseguida por meio de hipnose

Existem, aliás mais comumente, Amnésias Parciais, onde se verifica o desaparecimento de


algumas lembranças e não de todas elas. Seriam as chamadas Amnésias Sistematizadas
Bleuler. Embora possam ser de causa orgânica, como por exemplo, após traumatismo
cerebral ou envenenamento, a maioria é de natureza psicogênica. Quando o esquecimento
se limita a certos acontecimentos da vida do indivíduo, mas este continua sendo capaz de
lembrar outros fatos vividos na mesma época, Bleuler chama de Amnésia catatímica.

Tipos de Amnésia
Amnésia Anterógrada
Amnésia Anterógrada se refere ao esquecimento dos fatos transcorridos depois da causa
determinante do distúrbio e o transtorno mais freqüente desse tipo de alteração da
memória é o de fixação. Costuma ser devido à uma concomitante perturbação da atenção,
tanto da tenacidade quanto da vigilância.

Como a maioria dos casos se deve a alterações orgânicas, é como se houvesse uma
diminuição da receptividade do sistema nervoso aos estímulos. A Amnésia Anterógrada
pode ser observada em lesões cerebrais agudas ou crônicas, sejam devidas a causas
traumáticas, circulatórias ou tóxicas. Os doentes com Amnésia Anterógrada não podem
relembrar os fatos recentes, porém, conservando a capacidade para recordar
acontecimentos passados mais remotamente.

Nos estados demenciais os graves defeitos da fixação se acompanham freqüentemente de


fabulações, ou seja, tentativas do paciente preencher as lacunas mnêmicas com
afirmativas completamente aleatórias.

Amnésia Retrógrada Amnésia Retrógrada é quando ocorre perda da memória para os fatos
ocorridos antes do evento que a causou. Aqui também o dano cerebral, de qualquer
natureza, tem destaque principal entre as causas. Esse tipo de Amnésia se estende por
dias ou semanas

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anteriores à lesão. Em alguns raros casos, a Amnésia Retrógrada pode compreender todos
os acontecimentos anteriores da vida do enfermo.

A Amnésia Retrógrada é bastante observada nos quadros neuro-psicológicos senis, após


um ictus circulatório cerebral e nos traumatismos cranianos, principalmente quando há
perda de consciência. Apesar da sintomatologia exuberante, a Amnésia Retrógrada pode
ser reversível, ocorrendo a regressão a partir dos fatos mais antigos para os mais recentes.

Além de neurológica a Amnésia Retrógrada pode ser psicogênica, em conseqüência de


traumas emocionais intensos. Nesses casos a Amnésia pode referir-se apenas a
determinado período de tempo, limitada a lembranças relacionadas com acontecimentos
angustiantes. Nesses casos, na realidade, não há um verdadeiro apagamento mnêmico e a
dificuldade da evocação resulta de um mecanismo de defesa (negação).

Amnésia Retroanterógrada Amnésia Retroanterógrada se refere ao esquecimento dos


fatos ocorridos antes e depois da causa determinante. Trata-se de uma alteração
simultânea da fixação e da evocação. Encontra-se nos casos graves de demências
orgânicas e de traumatismos crânio-encefálicos. O antigo termo psicorrexe, pouco em uso
atualmente, se refere à amnésia de instalação súbita e total, privando o indivíduo da
capacidade de compreensão e de orientação no tempo e no espaço.

Amnésia Transitória Amnésia Transitória é, como o nome diz, uma síndrome amnésica
transitória que se caracteriza pela incapacidade de fixar os acontecimentos recentes. É
observada com relativa freqüência na convalescença de enfermidades toxi-infecciosas
graves onde, apesar dos pacientes conservarem boa capacidade de evocação, manifestam
sérios transtornos da orientação têmporo-espacial, fabulações e perseveração.

Nestes casos de estados toxi-infecciosos graves verificamos um empobrecimento mental


global e simplificação do pensamento, amortecimento da vida emocional, indiferença,
apatia, falta de iniciativa e apragmatismo. Em alguns casos, podem surgir síndromes de
transição confusional e do tipo paranóide-alucinatória.

Tipos de Amnésia
Paramnésias
Os distúrbios da qualidade da memória de evocação denominam-se, de modo geral,
paramnesias. Estudam-se neste grupo as seguintes alterações:

1) ilusões mnêmicas;
2) alucinações mnêmicas;
3) fabulações;
4) fenômeno do já visto;
5) criptomnesia;
6) ecmnesia.

Ilusões Mnêmicas

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Tratam-se, as Ilusõs Mnêmicas de verdadeiras lembranças fictícias, ou seja, a recordação


vívida de alguma coisa irreal. Nesses casos haveria um acréscimo de elementos falsos na
consciência, os quais resultariam em lembranças fantásticas como, por exemplo, ter
existido antes do universo, ter vivido 10 mil anos, ser mãe de dezenas de filhos, ter
participado da queda da Bastilha ou da Guerra de Tróia e assim por diante. São algo
diferente dos delírios devido ao fato da pessoa poder descrever minuciosamente as cenas
vividas, algo como um acontecimento oniróide.

As Ilusõs Mnêmicas são a forma mais freqüente de paramnesia e desempenham


importante papel na psicopatologia, principalmente na sintomatologia psicótica. Segundo
Bleuler, as Ilusõs Mnêmicas constituiriam o principal material para elaboração dos delírios.
Bleuler inclui nas Ilusõs Mnêmicas as lembranças imprecisas também observadas no
alcoolismo agudo e crônico, nos orgânicos e nos epilépticos.

Entre as Ilusõs Mnêmicas se incluem os falsos reconhecimentos, observados em psicóticos


quando, muitas vezes, insistem em identificar o médico ou a enfermeira como uma pessoa
de sua família, a quem até atribuem algum nome de sua familiaridade. Nesses casos não
se trata de alteração da percepção e sim de formação da Ilusõs Mnêmicas, que leva o
paciente a identificar uma pessoa desconhecida com a lembrança de alguém familiar.

Alucinações Mnêmicas
Alucinações Mnêmicas são criações imaginativas com aparência de reminiscências e
lembranças, porém, não correspondem a nenhuma imagem de épocas passadas. Nos
psicóticos surgem, freqüentemente, lembranças reais de vivências irreais que podem
atribuir uma história de vida completamente diferente. São lembranças que não
correspondem a nenhum acontecimento vivido.

Pacientes pré-demenciais ou demenciais podem apresentar essas Aucinações Mnêmicas


como cenas acontecidas recentemente. Uma nossa paciente em início de demenciação
insistia que um antigo namorado vinha quase todas as noites visitá-la de carruagem.
Descrevia a cena com detalhes minuciosos.

Não se trata de realização de sonhos nem tampouco de alucinação dos sentidos, pois
muitos dos acontecimentos são situados no tempo em que o indivíduo normalmente se
ocupava do seu cotidiano. Em outros casos, as alucinações da memória são menos
sistematizadas e constam apenas de particularidades isoladas.

Fabulações
A Fabulação consiste no relato de temas fantásticos que, na realidade, nunca
aconteceram. Em grande parte, resultam de uma alteração da fixação e de uma
incapacidade para reconhecer como falsas as imagens produzidas pela fantasia. O
conteúdo das fabulações, como bem salientou Lange, procede do curso habitual da vida
anterior, acontecendo muitas vezes que, achando-se perturbada a capacidade de localizá-
las no tempo, lembranças isoladas autênticas completam erroneamente as lacunas da
memória. Nos casos em que existem alterações dos conceitos e desorganização da vida
instintiva, pode-se observar a produção rica de conteúdos fabulatórios absurdos e
inverosímeis, que, habitualmente, adquirem um aspecto oniróide. Em outros casos, certas

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imagens oníricas são rememoradas e atualizadas como lembranças autênticas. Enquanto


as Fabulações preenchem um vazio da memória e se mostram como que criadas para este
fim, podendo variar de tema e conteúdo, as Alucinações Mnêmicas não mudam, tal como
uma idéia delirante. No sentido mais particular, a Fabulação é, nos estados em que não há
delírio, um sintoma de comprometimento orgânico.

Psicopatologia
Vejamos agora como pode se apresentar a Atenção e a Memória em alguns estados
psíquicos mais encontradiços.

Transtorno Afetivo Bipolar


Nos período de euforia do Transtorno Afetivo Bipolar, a Atenção se caracteriza por uma
exagerada distraibilidade devido a hiper-vigilância e hipo-tenacidade, portanto, trata-se
daquilo que vimos aqui chamar-se Hiperprosexia. Como a Atenção é muito superficial e
dispersa, detendo-se nos estímulos ambientais, o paciente tem grande dificuldade para
concentrar a Atenção em determinado objeto. Nas fases de leve excitação maníaca, ou nos
estados hipomaníacos, os doentes percebem rapidamente tudo o que ocorre em torno de
sua pessoa, inclusive o que carece de significação, entretanto, a Atenção só consegue
manter-se em cada objeto durante um breve tempo, voltando-se novamente para novas
impressões.

Por outro lado, nos estados de depressão há lentidão e dificuldade de concentrar a


Atenção devido à hipo-vigilância e à hipo-tenacidade, ou seja Hipoprosexia. Em alguns
pacientes, porém, pode haver aumento da tenacidade da Atenção sobre seus próprios
pensamentos de teor negativo e depressivo. Nesses casos haveria super-tenacidade e
sub-vigilância: dificilmente o enfermo desvia a Atenção da idéia ou do objeto a que se
refere o seu estado mental.

Quanto à Memória nos estados maníacos, sua evocação está, via de regra, exaltada.
Diante da menor solicitação da consciência o eufórico tende a reviver uma sucessão
ininterrupta de idéias e de imagens mnêmicas. Entretanto, as ligações entre as idéias é
fraca e fragmentada.

As combinações dos conceitos e dos juízos se fazem de maneira acidental na euforia e, na


maioria das vezes, estabelecem-se relações secundárias e aleatórias, de acordo com
assonâncias, rimas e jogo de palavras. As idéias se sucedem sem direção, ao acaso das
circunstâncias psicológicas. A Memória das lembranças afluem à consciência em sucessão
torrencial e pode remontar à tempos muito pregressos.

O pensamento do eufórico é extremamente dinâmico, instável, salta sem transição de uma


idéia a outra (fuga de idéias), as evocações se fazem ao acaso. Os atos intencionais estão
todos nivelados para cima, têm igual interesse de ânimo e se atualizam com o mesmo grau
de consciência. Mundo exterior, impressões sensoriais, imagens verbais, motoras, tudo se
encontra sob o mesmo plano, tudo é vivido com igual intensidade.

Afetivamente as tendências anteriormente reprimidas dos pacientes em crises de euforia


tendem a liberação, favorecendo a emotividade e a expansividade exagerada. Os estados

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afetivos comandam o encadeamento veloz das representações mnêmicas e estas


provocam juízos que se expressam eloqüentemente. A Memória exaltada proporciona
freqüentes retornos de lembranças agradáveis, suscita pensamentos otimistas, projetos de
vida sem uma ordenação adequada. À medida que a excitação maníaca aumenta de
intensidade, a hiperevocação automática da Memória cresce de modo progressivo.

Com o evoluir do quadro, apesar da pseudo-hiperprodução mental do eufórico, a evocação


eloqüente e automática da Memória, por mais rica e fiel que seja, não serve mais para
nada, pois o doente não mais a controla, não escolhe nada de prioritário entre as
evocações tumultuosas e as representações incoerentes não podem mais dirigir a
atividade no sentido de uma via razoável, prática e objetiva.

Em muitos casos de excitação maníaca observa-se hipermnesia, caracterizada pela


revivescência acentuada de lembranças, que fluem à consciência do enfermo em
verdadeira avalanche mas, ao contrário de um enriquecimento da Memória, como poderia
parecer, há sim um verdadeiro tumulto e uma real desordem da Memória.

Alguns poucos casos o paciente maníaco está incapacitado para relembrar os fatos vividos
durante a agitação e, dessa forma, passa a apresentar uma amnésia total ou parcial
relativa à fase de agitação maníaca.

Estados depressivos
Nos estados depressivos, as funções psíquicas também estão perturbadas em seu
conjunto, tal como dissemos sobre o sintoma da Inibição Global dos deprimidos. Os
sintomas mais destacados são a tristeza vital, a angústia e a inibição da psicomotilidade.
Entretanto, ao lado desses sintomas axiais, os enfermos deprimidos se queixam de um
sentimento de impotência psíquica que os impede de realizar as suas tarefas habituais,
diminuição da capacidade de concentração e enfraquecimento da vontade. A Memória se
acha comprometida em suas capacidades de fixação e de evocação. Na maioria dos
casos, os doentes revelam redução da atividade voluntária global, além da mnêmica.

Estando a Atenção voluntária (tenacidade) e involuntária (vigilância) severamente


prejudicadas nos quadros depressivos, automaticamente também estará prejudicada a
Memória de Fixação e de Evocação, a primeira pela alterações da Atenção e a Segunda
por desinteresse.

Esquizofrenia
A alteração da Atenção que se observa na Esquizofrenia é, predominantemente, da
Atenção voluntária, ou seja, da tenacidade. O esquizofrênico tem dificuldade para ater-se à
temas necessários à vida pragmática, profissional ou social, embora possa estar
desperdiçando a energia psíquica necessária à Atenção, concentrando-se em temas
interiores e pertinentes à sua própria patologia delirante.

No caso da Esquizofrenia, a alteração da Atenção seria uma conseqüência da alteração da


afetividade (embotamento ou empobrecimento) em primeiro lugar, a qual determinaria, em
segundo lugar, alteração vontade, sendo esta última imprescindível para a manutenção da
Atenção. Na Esquizofrenia Paranóide os pacientes podem ter a Atenção fortemente
concentrada em suas alucinações, ou se sentem forçados a polarizar a Atenção para

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determinados acontecimentos do ambiente. Nestes casos, segundo Bleuler, seria uma


espécie de vigilância sistematizada, isto é, uma tendência patológica de relacionar os
estímulos do meio externo às concepções delirantes.

Nas esquizofrenias Hebefrênica e Catatônica há grande dificuldade de Atenção, com


notável diminuição da Atenção involuntária por indiferença aos acontecimentos externos,
sendo muito difícil mobilizar a Atenção voluntária do doente. Nessas psicoses, algumas
vezes, pode-se observar uma verdadeira interceptação da Atenção.

Quantitativamente a Memória, por sua vez, não está perturbada na esquizofrenia.


Entretanto, a fixação e a capacidade de evocação podem se achar alteradas em função do
prejuízo da Atenção e da falta de interesse. Em alguns casos observam-se, como
dissemos, alterações qualitativas da Memória, como são os casos de Ilusões e Alucinações
Mnêmicas.

Epilepsia
Na epilepsia, a Atenção sofre a influência da perseveração revelando aumento da
tenacidade. Entretanto, de modo geral, este aumento da tenacidade secundário à
perseveração do epiléptico resulta em prejuízo da extensão dessa tenacidade, isso em
virtude de um interesse circular, repetitivo e pouco prático. Por outro lado, a tenacidade
voluntáriamente invocada para outros temas pode estar severamente prejudicada,
principalmente quando o enfermo concentra a Atenção num tema que se lhe apresenta
obsessivamente muito importante. Quando se promove a variação rápida de temas, nota-
se que a Atenção se fatiga facilmente.

Os epilépticos também estão sujeitos à alguns transtornos da Memória que merecem


atenção especial. A Memória dos epilépticos pode ser insegura, principalmente em relação
à evocação e na localização das lembranças. Na medida em que a enfermidade progride
no tempo, a fixação vai-se tornando cada vez mais difícil. Com muita freqüência, alguns
enfermos apresentam esquecimentos de nomes, de datas, de acontecimentos da vida
cotidiana (fixação), enquanto conservam de modo perfeito os conhecimentos adquiridos
anteriormente (evocação).

Parece que tais alterações mnêmicas dos peilépticos não têm uma relação direta com a
freqüência das eventuais convulsões, visto serem observadas também em pacientes cujas
crises são controladas pelo tratamento. Alguns autores consideram que estes fenômenos
dependentes de elementos subclínicos e demonstráveis no EEG através de um traçado
elétrico típico, mesmo o paciente não manifestando alteração clinica.

Nas epilepsias francamente convulsivas, com a evolução da doença aumenta


gradativamente a alteração da Memória, revelada pela perda dos conhecimentos
adquiridos, pelo estreitamento do círculo de interesses e o empobrecimento dos meios de
expressão .

Estado Psicorgânicos e Senis


Nos estados demenciais há, inegavelmente, um enfraquecimento global e progressivo de
todas as funções intelectuais, incluindo, é lógico, a Atenção e a Memória. Na Atenção o
prejuízo da tenacidade resulta em decréscimo progressivo da concentração, e a diminuição

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da vigilância caracteriza uma conseqüente diminuição da extensão e fatigabilidade rápida


da Atenção.

Segundo Bleuler, nos quadros orgânicos senis a Atenção espontânea (vigilância) é


alterada antes e mais intensamente do que a Atenção voluntária (tenacidade). Por esse
motivo, esses pacientes, apesar de darem a impressão de que estão com a Atenção bem
conservada, em termos de tenacidade, costumam atrapalhar-se no pragmatismo cotidiano,
onde a vigilância é de suma importância. Esse estado, que freqüentemente acomete
idosos, não pode ser atribuído à alteração exclusiva da Memória (que pode estar até bem)
mas sim da Atenção.

Nos quadros francamente orgânicos, como aqueles secundários ao envelhecimento


cerebral, aos problemas circulatórios e aos traumatismos cranianos, ao contrário dos
quadros senis simples onde há alteração da Atenção, verifica-se alterações da fixação e da
evocação da Memória. O distúrbio da fixação é observado desde o início, evoluindo
progressivamente até alcançar uma completa incapacidade para fixar os acontecimentos
novos. Em certos casos, os fatos recentes são recordados, mas rapidamente são
esquecidos.

Especialmente na Demência Senil, a evocação se mostra deficiente e os pacientes revelam


uma tendência progressiva a utilizarem cada vez menos os seus conhecimentos. Observa-
se, nesses casos, a perda da capacidade de evocação, mais acentuada nos
acontecimentos mais recentes e menos grave para os acontecimentos mais antigos. É
comum os demenciados rememorarem com detalhes histórias muito antigas e não
conseguirem evocarem o que comeram no almoço.

Deficiência Mental
Em geral a Deficiência Mental se torna manifesta e mais prontamente diagnosticada
através do atraso geral na aprendizagem. Na Deficiência Mental há comprometimento
global da capacidade intelectual e, sobretudo, dificuldade de concentração (tenacidade) da
Atenção. Em todos os graus de deficiência mental a Atenção é lenta e fatigável e, por
causa disso, as características especiais da Deficiência Mental serão sempre de natureza
deficitária, evidenciando-se, notadamente, as alterações da fixação e da evocação da
Memória.

Sendo a alteração primária a da Atenção, em muitos casos, os deficientes mentais


mostram uma excelente capacidade para a reprodução mecânica da Memória em certas
especializações, como por exemplo, acerca de conhecimentos musicais, matemáticos ou
visuais.

Nas Alterações do Estado de Consciência Nos estados confusionais, observa-se uma


crescente dificuldade na percepção do mundo objetivo, com diminuição da atividade
intelectual, diminuição essa que se acentua de maneira progressiva até atingir todas as
formas de atividade psíquica. Uma espécie de véu espesso cai sobre a consciência: eis
aqui os traços essenciais da obnubilação da consciência nas psicoses sintomáticas. Dentro
desse quadro sintomatológico, as perturbações da Atenção ocupam o primeiro plano. O
interrogatório clínico não progride, em virtude da incapacidade revelada pelo enfermo para
concentrar a tenção e responder

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às perguntas de modo acentuado. É necessário repetir as palavras, pressionar, praticar


uma verdadeira estimulação para conseguir que o olhar perdido ou apagado se volte para
o interlocutor. Esta diminuição da Atenção e da capacidade de concentração é
característica; é o elemento essencial e não representa o resultado de distração, nem a
conseqüência de concentração intelectual ou de polarização afetiva sobre uma idéia ou um
sentimento prevalente. Ela se manifesta também por extenuação rápida das reações;
quando o enfermo, em resultado de um grande esforço, consegue concentrar a Atenção,
ela não se mantém por muito tempo vinculada ao objeto.

Na obnubilação da consciência, a Atenção do enfermo é vaga e capta o ambiente de


maneira incompleta e inexata. Na opinião de Walther-Büel, o transtorno da Atenção
representa o sintoma obrigatório na obnubilação da consciência. "O indivíduo obnubilado,
por não dispor de capacidade de concentração suficiente, encontra-se à mercê de suas
vivências, sem poder participar na configuração das mesmas".

Transtornos Neuróticos
Habitualmente há fatigabilidade e distraibilidade da Atenção nas neuroses. Os enfermos se
queixam de que não podem concentrar a Atenção, porque logo se sentem fatigados.
Embora a capacidade intelectual esteja conservada nos pacientes com Transtornos
Neuróticos, há quase sempre uma alteração da Atenção, a qual acaba por se refletir,
secundariamente, na Memória de fixação.

Os pacientes com Transtornos Neuróticos, sejam eles do tipo Fóbico-Ansioso, Obsessivo-


Compulsivo, Distímicos ou mesmo Histriônicos costumam se queixar de uma certa
fraqueza da Memória. A mesma quesixa que encontramos nos pacientes leigamente
considerados com "Esgotamento". O que significa, nesses casos, é uma certa dificuldade
de fixar os acontecimentos, particularmente a fixação de assuntos lidos ou de temas de
estudo. Observa-se que existe uma oscilação no rendimento da Atenção tenaz e,
conseqüentemente da Memória de fixação, muito provavelmente ligada à fadiga e ao
desinteresse.

Entre os portadores de Transtornos Neuróticos, são os histéricos que mais costumam


apresentar Amnésias Psicogênicas, as quais, como vimos, obedecem a determinados
mecanismos de defesa do ego. Em alguns pacientes, entretanto, o que poderia ser tomado
por um mecanismo de Negação há, na realidade uma Repressão (outro mecanismo de
defesa) por pudor, angústia ou timidez. Nesses casos, não se trata de uma verdadeira
Amnésia Psicogênica.

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Capítulo II

Estresse

Há autores que definem a era moderna como a Idade da Ansiedade, associando a


este acontecimento psíquico a agitada dinâmica existencial da modernidade;
sociedade industrial, competitividade, consumismo desenfreado e assim por diante.

Diz-se que a simples participação do indivíduo na sociedade contemporânea já


preenche, por si só, um requisito suficiente para o surgimento da Ansiedade.
Portanto, viver ansiosamente passou a ser considerado uma condição do homem
moderno ou um destino comum ao qual todos estamos, de alguma maneira,
atrelados.

Nas últimas décadas, a expressiva mudança em todos os níveis da sociedade


passou a exigir do ser humano uma grande capacidade de adaptação física, mental
e social. Muitas vezes, a grande exigência imposta às pessoas pelas mudanças da
vida moderna e, conseqüentemente, a necessidade imperiosa de ajustar-se à tais
mudanças, acabaram por expor as pessoas à uma freqüente situação de conflito,
ansiedade, angústia e desestabilização emocional.

O endocrinologista canadense Hans Selye (1907-1982) foi o primeiro a pesquisar


seriamente o estresse na década de 1930. Ele observou que organismos diferentes
apresentam um mesmo padrão de resposta fisiológica para estímulos sensoriais ou
psicológicos. E isso teria efeitos nocivos em quase todos os órgãos, tecidos ou
processos metabólicos. fungos, etc.

O estresse patológico surge como uma conseqüência direta dos persistentes


esforços adaptativos da pessoa à sua situação existencial.

Seria impossível e, ao mesmo tempo, extremamente indesejável eliminar


completamente todos os tipos de Estresses. Fisiologicamente, a ausência total de
Estresse equivale à morte. O que devemos tentar fazer é reduzir, nas pessoas, os
efeitos danosos do Estresse que sociedade proporciona e sensibilizá-las para os
meios capazes ajudar a administrar melhor os estressores do cotidiano.

Devemos buscar uma postura onde o Estresse seja um acontecimento positivo e não
um empecilho ao desempenho pessoal, à saúde e à felicidade. O ideal seria
adquirirmos habilidades para melhorar física e mentalmente nossa resistência ao
Estresse, bem como eliminar o Estresse desnecessário. Atitudes assim baseiam-se
na modificação de alguns aspectos no estilo de vida nas atitudes.

Aproximadamente 50 a 75% de todas as consultas médicas estão direta ou


indiretamente relacionadas ao Estresse. A medicina não deve ter apenas um papel
importante no tratamento das doenças ligadas ao Estresse mas, também e

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principalmente, deve dar ao assunto uma conotação preventiva e educacional.


Conhecer o Estresse, suas causas, sinais e sintomas, é de fundamental importância
para aprendermos a lidar com ele.

Procurando significados para a palavra Estresse (stress, em inglês), vamos entender


que estar estressado significa "estar sob pressão" ou "estar sob a ação de estímulo
persistente". Na realidade, estar estressado não significa apenas estar em contacto
com algum estímulo mas, sobretudo, significa um conjunto de alterações
acontecidas num organismo em respostas à um determinado estímulo capaz de
colocá-lo sob tensão. Sem esse tal "conjunto de alterações" não se pode falar em
Estresse.

Mas essa reação do organismo aos agentes estressores tem um propósito evolutivo.
É uma resposta que a natureza dotou os animais superiores ao perigo.

Hans Selye dividiu toda reação de Estresse em três estágios. O primeiro estágio,
como veremos amis adiante, é a chamada Reação de Alarme, durante a qual o
organismo reconhece o estressor e começa ativando o sistema neuroendócrino.

No Sistema Endócrino as glândulas supra-renais são as mais prontamente ativadas


e produzem os hormônios típicos do Estresse, ou seja, o cortisol, a adrenalina e a
noradrenalina. Por causa disso, notadamente por conta da adrenalina, os batimentos
cardíacos aceleram, há dilatação das pupilas, aumenta a sudorese e aparece
hiperglicemia (aumento dos níveis de açúcar no sangue).

Concomitantemente a digestão é paralizada, o baço se contrai para expulsar mais


glóbulos vermelhos para aumentar o fornecimento de oxigênio aos tecidos e
interrompe a atividade imunológica (imunossupressão), por conta do cortisol.Depois
dessa primeira reação de alarme existem mais duas fase fisiológicas no Estresse, a
adaptação e o esgotamento, vistas mais adiante.

A função de toda essa revolução orgânica é preparar o organismo para a ação, para
adaptação imediata à situação causadora do Estresse para, em essência, favorecer
a sobrevivência. Portanto, o Estresse não implica, obrigatoriamente, numa alteração
patológica e doentia.

Longe de considerarmos o Estresse uma armadilha da natureza, esse conjunto de


alterações fisiológicas tem como principal objetivo adaptar o indivíduo à situação
proporcionada pelo estímulo estressor. O estado de Estresse está, então,
intimamente relacionado com a capacidade de adaptação do indivíduo à
circunstância atual. Ele contribui para a sobrevivência das espécies, incluindo a
nossa.

Imagine como estaria seriamente comprometida a sobrevivência e um gato, caso


permanecesse totalmente apático ao aparecer-lhe um cachorro pela frente. Da
mesma forma, imaginemos um ser humano enfrentando uma tempestade com a

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mesma lassidão que experimenta depois de uma pesada refeição. No esporte, no


trabalho ou na vida social o Estresse "normal" deve desempenhar uma função
adaptativa e, sobretudo, sadia.

Há quem compare o Estresse com o susto e, de fato, há semelhanças entre as


alterações fisiológicas que acontecem durante um susto com aquelas do Estresse.
Assim, podemos dizer que o Estresse seria como um estado de susto crônico e
continuado. O Estresse envolve o organismo como um todo e, assim como o
aumento de adrenalina e cortisona possam ser considerados componentes
endócrinos do Estresse, a ansiedade seria, igualmente, um dos componentes
psíquicos.

Nenhuma alteração do organismo terá início se não houver, antes, a presença de um


estímulo estressor. Podemos chamar de Estímulo Estressor ou Agente Estressor,
qualquer estímulo capaz de provocar num organismo, esse complexo conjunto de
respostas orgânicas, mentais, psicológicas e/ou comportamentais definidas como
Estresse.

Embora haja uma vasta série de modificações na composição química e na estrutura


funcional do organismo diante do Estresse, estas podem ser consideradas
fisiológicas e necessárias à adaptação do indivíduo à situação atual, porém, sendo
muito intensas ou muito duráveis, tais modificações podem resultar em dano ou
lesão. Nesse caso, ao invés de contribuírem para a adaptação farão exatamente o
contrário.

A própria classificação internacional das doenças (CID.10), agrupa num mesmo


capítulo as Reações Agudas ao Estresse Grave e os Transtornos do Ajustamento
(adaptação), sugerindo assim que uma pode levar ao outro.

Na década de 30, o pesquisador canadense Hans Selye, quem estudou pela


primeira vez e profundamente essa questão, denominou o conjunto das
modificações orgânicas resultantes do contacto do organismo com um determinado
estímulo desencadeador de tensão de Sindrome Geral de Adaptação (SGA).

O que é o Estresse

Ao se deparar com o Agente Estressor, que pode ser interno ou externo, o


organismo desenvolve um processo fisiológico, que consiste no somatório de todas
as reações sistêmicas, conhecido como Síndrome Geral de Adaptação. Assim,
podemos entender que essa Síndrome Geral de Adaptação ou Estresse é a
alteração global de nosso organismo para adaptar-se à uma situação nova ou às
mudanças de um modo geral.

O Estresse é, portanto, um mecanismo normal necessário e benéfico ao organismo,


pois faz com que o ser humano fique mais atento e sensível diante de situações de
perigo ou de dificuldade. Mesmo situações consideradas positivas e benéficas, como

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é o caso por exemplo das promoções profissionais, casamentos desejados,


nascimento de filhos, etc., podem produzir Estresse.

Na adaptação do organismo (e da mente) aos estímulos estressores, devemos


entender que mesmo as situações que requerem pequenas mudanças ou
adaptações, podem gerar um grau discreto de estresse, variável de pessoa a
pessoa, conforme as características pessoais de reagir aos estímulos.

Em termos científicos, o estresse é a resposta fisiológica e de comportamento de um


indivíduo que se esforça para adaptar-se e ajustar-se a estímulos internos e
externos. Como a energia necessária para esta adaptação é limitada, se houver
persistência do estímulo estressor, mais cedo ou mais tarde o organismo entra em
uma fase de esgotamento.

Sabendo que cada pessoa reage de forma diferente aos estímulos da vida, elas
também terão limiares diferentes de esgotamento por estresse. Segundo a
sensibilidade afetiva da pessoa, portanto, segundo a "visão" que cada um tem da
realidade, da valolrização do passado ou das perspectivas do futuro, as reações de
estresse podem ser mais favorecidas ou menos. Uma representação pessimista da
realidade pode favorecer estas reações, enquanto a representação positiva produze
amenizar os efeitos estressores (veja menu ao lado).

Uma "dose baixa" de Estresse é normal, fisiológico e desejável. trata-se de uma


ocorrência indispensável para nossa saúde e capacidade produtiva. As
características desse Estresse positivo são: aumento da vitalidade, manutenção do
entusiasmo, do otimismo, da disposição física, interesse, etc. Por outro lado, o
Estresse patológico e exagerado pode ter conseqüências mais danosas, como por
exemplo o cansaço, irritabilidade, falta de concentração, depressão, pessimismo,
queda da resistência imunológica, mau-humor etc.

Do ponto de vista pessoal, mudanças ocorrem em nossas vidas continuamente e


temos sempre de nos adaptar à elas. Nesses casos o Estresse funciona como um
mecanismo de sobrevivência e adaptação, necessário para estimular o organismo e
melhorar sua atuação diante de circunstâncias novas.

Do ponto de vista social e cultural as mudanças cotidianas, em si, não são novidade
na civilização humana, elas são, na realidade, a base da evolução de nossa espécie.
O que, talvez, seja novo ao ser humano e perigoso à sua saúde, é a velocidade sem
precedentes com a qual essas mudanças e as exigências que elas propiciam
acontecem na vida moderna. Essas mudança estão em toda a parte; mudanças
importantes na tecnologia, na ciência, medicina, ambiente de trabalho, nas
estruturas organizacionais, nos valores e costumes sociais, na filosofia e mesmo na
religião. Há, continuamente, uma enorme solicitação de adaptação às pessoas em
geral, tanto para os jovens como para os mais velhos.

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O Estresse na Vida Moderna

A Ansiedade, que é a mola propulsora do Estresse, é um sinal de alerta que adverte


sobre a necessidade de mudar e adaptar-se, ou sobre eventual perigo iminente, e
capacita a pessoa para medidas eficientes nesse sentido. O indivíduo ansioso age,
coloca-se em posição de alerta, física e psiquicamente; dilata as pupilas, acelera o
coração, diverge o sangue para musculatura voluntária, aumenta a glicose
circulante, dilata os brônquios.

A Ansiedade, originalmente fisiológica e indispensável à vida normal, passou a ser


objeto de distúrbios quando o ser humano colocou-a não a serviço de sua
sobrevivência, como fazia antes, mas a serviço de sua existência, com o amplo
leque de circunstâncias quantitativas e qualitativas desta existência. Assim, o
estresse passou a ser o representante emocional da Ansiedade, sua
correspondência psíquica e determinada de acordo com características pessoais.

O fato de um evento ser percebido como estressante não depende apenas da


natureza do mesmo, como acontece no mundo animal, mas do significado atribuído
à este evento pela pessoa, de seus recursos, de suas defesas e de seus
mecanismos de enfrentamento. Isso tudo diz respeito mais à personalidade que aos
eventos do destino em si.

Arqueólogos consideram que homem primitivo trabalhava muito menos que nós,
cerca de vinte horas semanais. Sua jornada diária correspondia à caça e colheita de
frutos. O ser humano primitivo manifestava sua ansiedade de maneira muito próxima
ao sentimento de medo, um medo especificamente dirigido a um objeto ou situação
específicos e delimitados no tempo e no espaço, ou seja, a situação, o perigo e a
ameaça estavam de fato ali, nesse determinado lugar e nesse determinado
momento.

Em nossos ancestrais o mecanismo do Estresse foi destinado à sobrevivência diante


dos perigos concretos e próprios da luta pela vida, como foi o caso das ameaças de
animais ferozes, das guerras tribais, das intempéries climáticas, da busca pelo
alimento, da luta pelo espaço geográfico, etc.

No ser humano moderno, apesar dessas ameaças concretas não existirem mais em
sua plenitude, tal como existiram outrora, o equipamento biológico do Estresse
continuou existindo. permaneceu em nossa natureza como capacidade para
reagirmos ansiosamente diante das ameaças.

Com a civilidade do ser humano outros perigos apareceram e ocuparam o lugar


daqueles que estressavam nossos ancestrais arqueológicos. Atualmente a maioria
dos estímulos desencadeadores desta emoção são inespecíficos, não podem ser
localizados no tempo e no espaço. Hoje em dia tememos a competitividade social, a
segurança social, a competência profissional, a sobrevivência econômica, as
perspectivas futuras e uma infinidade de ameaças abstratas mas reais para nós,

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enfim, tudo isso passou a significar a mesma ameaça de perigo que ameaçavam a
sobrevivência de nossos ancestrais. O ser humano moderno coloca-se em posição
de alarme diante de um inimigo abstrato e impalpável mas, não obstante, que dorme
e acorda com ele.

Se nas sociedades primitivas e neolíticas nossos ancestrais experimentavam


estresse diante dos perigos objetivos da sobrevivência física, hoje em dia o estresse
surge quando a pessoa julga não estar sendo capaz de cumprir as exigências da
sobrevivência social, quando sente que seu papel social está ameaçado. Diante
disso o organismo reage através da Síndrome Geral de Adaptação a fim de tentar se
adequar às exigências que lhe são impostas.

Mesmo na Idade Média o ser humano ainda trabalhava pouco em comparação ao


homem moderno. Havia o descanso obrigatório aos domingos e cinqüenta feriados
por ano, sendo braçais a maioria dos trabalhos, os quais sempre terminavam ao pôr-
do-sol. Também, em termos de estimulação e de necessidades de conhecimentos
para o simples cotidiano, o que se exigia de um cidadão comum da Idade Média era
infinitamente menor que precisa hoje uma criança de 12 anos.

Tudo leva a crer que o ser humano começou, de fato, a padecer por Estresse
excessivo depois da Revolução Industrial. Talvez o que a vida passou a exigir das
pessoas nesses últimos 80 a 50 anos tenha sido imensamente maior que o
desenvolvimento da capacidade neuro-psicofisiológica de adaptação, resultando
pois, nas dificuldades em conciliar harmonicamente as necessidades adaptativas da
vida social e nossos recursos orgânicos.

Durante uns 40 anos do Século XX o êxodo rural levou milhões de pessoas a trocar
a vida do campo pela agitação das cidades, com suas características competitivas,
agressão urbana, desafios profissionais e de sobrevivência. O ritmo frenético da vida
moderna talvez tenha exigido demasiadamente do corpo humano e até a
possibilidade de adoecer passou a ser uma ameaça potencial ao sucesso social da
pessoa.

Nossos conturbados tempos modernos não têm sido favoráveis ao equilíbrio e ao


desenvolvimento pleno e sadio do corpo humano, apesar de todo o progresso da
medicina, das conquistas científicas, técnicas e sociais que sempre têm objetivado
isso. Hábitos alimentares inadequados, a poluição do ar e da água, a agressão
sonora e visual do ambiente, a insegurança social e no trabalho, a violência urbana,
as crises econômicas e muitas outras fontes de estresse importantes acabam
esgotando a capacidade adaptativa da pessoa.

Assim sendo, a maioria dos autores acredita que parte expressiva das reazões para
o estresse é determinada pelo modo como nossa sociedade está organizada, pela
industrialização, pelo consumo e pela concorrência, especifica os tipos de relações
que serão mantidas e as exigências que deverão ser cumpridas, gerando condições
mais ou menos estressantes de trabalho, das estruturas familiar e social.

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Outro agravante do estresse, em seu aspecto cultural, está na "liberdade" que a


pessoa tem de expressar os comportamentos e atitudes fisiologicamente próprias do
estado de tensão. No mundo moderno não é socialmente aceitável que a pessoa
manifeste comportamentos típicos de fuga ou luta, que era a função natural e o
objetivo biológico original do estresse.

Assim, o ser humano moderno, ao se confrontar com estímulos estressores do


cotidiano, do trabalho, da vida social e pelas ruas é impedido de manifestar reações
de agressão ou de medo sincero, sendo obrigado a apresentar um comportamento
emocional ou motor politicamente correto, porém, incongruente com sua real
situação neuroendócrina. Se a situação estressante persiste indefinidamente pode
sair muito caro, organicamente, o custo de desempanhar um papel social
incompatível com a natureza biológica do estresse. Haverá um elevado desgaste do
organismo, predispondo certas doenças psicossomáticas.

Entre os estressores de peso social temos o fracasso, a carga, a manutenção,


momnotonia e a satisfação com o trabalho, a pressão para corrida contra o tempo,
as ameaças sociais e financeiras, indução do medo através da violência urbana, as
situações involuntárias de competição, os trabalhos em condições de perigo, a
submissão involuntária aos tabus, a contestação e contrariedade com certos valores,
a contrariedade ou privação de vida social e submissão contrariada às normas.

Fatores Estressantes

Em tese, Estresse é a resposta fisiológica, psicológica e comportamental de um


indivíduo que procura se adaptar e se ajustar às solicitações internas e/ou externas.
Essas solicitações capazes de levar ao Estresse são chamadas de Fatores
Estressantes ou Agentes Estressores.

Assim sendo, Fator Estressor é um acontecimento, uma situação, uma pessoa ou


um objeto capaz de proporcionar suficiente tensão emocional, portanto, capaz de
induzir à reação de Estresse.

Os fatores estressantes podem variar amplamente quanto à sua natureza,


abrangendo desde componentes emocionais, como por exemplo a frustração,
ansiedade, perda, até componentes de origem ambiental, biológica e física, como é
o caso do ruído excessivo, da poluição, variações extremas de temperatura,
problemas de nutrição, sobrecarga de trabalho, etc. De um modo geral vale a
classificação dos estressores como está no quadro ao lado.

Podemos ainda considerar os estressores como tendo origem interna ou externa ao


indivíduo. Se colocarmos um gato junto de um cão feroz, depois de algum tempo o
gato estará esgotado; primeiro ele terá muita ansiedade, entrará em Estresse e, se o
estímulo estressor persistir (presença do cão), ele se esgotará.

Tendo em vista o fato do gato representar para o cão uma ameaça menos agressiva
que o cão representa para ele, o cão ficará esgotado depois do gato. Nesse caso o

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cão representa para o gato um estímulo estressor externo, por estar fora do gato
e, inato, por fazer parte da natureza biológica de todos os gatos.

Assim sendo, nos animais os estímulos para desencadear a ansiedade podem ter
duas naturezas e uma só origem: quanto à natureza eles podem ser inatos, como
vimos, do tipo gato tem medo de cachorro ou, por outro lado, condicionados por
treinamento e experiência.

Quanto à origem serão predominantemente externos, partindo do pressuposto que


os animais não têm condições para alimentarem conflitos intrapsíquicos. Mesmo
assim, podemos dizer que alguns estímulos estressores para animais têm origem
interna quando provém de comportamentos inatos.

No ser humano, dito civilizado, esses estímulos costumam ter duas origens; podem
ser externos e, principalmente, internos. Os estímulos internos são oriundos dos
conflitos pessoais os quais, em última instância, refletem sempre a tonalidade afetiva
de cada um. Os estímulos externos, por sua vez, representam as ameaças
concretas do cotidiano de cada um.

Nos ANIMAIS No SER HUMANO


Origem Natureza Origem Natureza
Adversidades
EXTERNOS Condicionados EXTERNOS
Conflitos
Transtornos Afetivos
INTERNOS Inatos INTERNOS
Traços de Personalidade

Nossa capacidade de perceber o mundo individualmente proporciona uma


representação pessoal da realidade. Essa percepção pessoal da realidade, diferente
em cada um de nós, é chamada de procepção da realidade. O principal
conhecimento que devemos ter disso é que a realidade será sempre representada
intimamente e de acordo com os filtros afetivos de cada um (para entender melhor
veja a sugestão no quadro ao lado).

Portanto, por causa da percepção individual que temos da realidade não é


totalmente lícito dizer que esse ou aquele determinado fato são estressores, pois
alguns fatos podem representar estressores para alguns e não para outros.

A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa maneira


de ver e sentir o mundo. Engloba não apenas a concepção que temos das coisas
que estão fora da gente como os conceitos que temos dentro da gente. Isso inclui
também a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa própria
auto-estima.

Nossa auto-estima, por exemplo, pode ser representada mais negativamente ou


mais positivamente, de acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas
pessoas se vêem ótimas, outras se vêem péssimas. Assim sendo, a idéia que nós

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temos de nós mesmos pode ser um estímulo agressivo e estressor, causador de


ansiedade, se representar uma idéia ruim e que nos perturba constantemente.

É por causa desses estímulos internos é que a ansiedade humana tem sido
constante e, às vezes, patológica. As ameaças externas não costumam ser
constantes mas as internas sim. Vejamos o caso das ameaças concretas acerca de
nossa segurança pessoal, por exemplo: a ameaça de ser assaltados, agredidos,
morto, etc.

A possibilidade até existe, nos grandes centros, mas não é continuada. Há situações
onde podemos nos sentir seguros, racionalmente falando. Entretanto, o estímulo
interno não é racional, é emocional. Isso quer dizer que podemos estar ansiosos
devido ao medo de sermos assaltados e agredidos, embora essa possibilidade
prática seja mínima.

Da mesma forma, podemos dizer que ficar doente seja uma ameaça séria, um
estímulo ameaçador importante. É claro que é. Entretanto, podemos experimentar
uma grande ansiedade devido ao fato de pensarmos que podemos ficar doentes.
Esse estímulo é interno e não externo. Seria externo caso houvesse, de fato, sinais
de que nossa saúde está abalada. Enquanto houver apenas o medo de passar mal,
de poder ficar doente, isso será uma ameaça interna.

Ora, enquanto nos animais os agentes estressores (estímulos estressores externos)


aparecem periodicamente, no ser humano a presença dos estímulos estressores
(internos) pode ser continuada. Havendo pois, uma afetividade problemática, uma
insegurança e pessimismo vamos sentir ameaças internas continuamente. Vamos
dormir com essas ameaças e acordar com elas. Portanto, nessas circunstâncias
podemos ter o esgotamento.

De modo geral, no ser humano a afetividade é a moduladora da percepção que


temos do mundo (procepção), e será essa afetividade a maior responsável por
percebermos os estímulos como sendo agressivos e ameaçadores (estressores) ou
não. Mesmo se tratando de um estímulo externo, proveniente do mundo objetivo,
sua eventual natureza agressiva poderá ser mais traumática ou menos traumática,
dependendo da conotação à ele atribuída por nosso afeto.

Assim sendo, os estímulos ambientais se tornarão estressores não apenas de


acordo com a sua natureza objetiva mas, sobretudo, de acodo avaliação subjetiva
que a pessoa faz deles, atribuindo-lhes ou não importância. O mesmo podemos
dizer em relação aos estímulos internos, ou seja, aos conflitos, frustrações, medos,
sentimentos de perda, etc. Dependendo de nosso afeto essas emoções e
sentimentos podem significar uma ameaça maior ou menor.

A existência dos conflitos pode ser considerada fisiológica na espécie humana, ou


seja, eles existem em todos nós. Porém, é muito importante saber da capacidade
desses conflitos determinarem uma ansiedade patológica, isso sim merece uma
dedicação especial. Determinarão ansiedade na proporção que significarem ameaça
para nós.

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A Força dos Estressores

Vários autores tentaram estabelecer alguma espécie de graduação de importância


para os vários estímulos estressores possíveis no cotidiano. Embora algumas listas
possam dar a idéia de grau ou da força variável dos estressores, como por exemplo,
o caso da separação conjugal que seria mais estressante que mudança de emprego
e menos do que a morte do filho, tais tabelas perdem o valor quando consideramos
que as pessoas são muito diferentes quanto à sua forma de reagir aos desafios
impostos pela vida.

Algumas pessoas podem superar perfeitamente alguma perda importante, enquanto


outros podem desenvolver um transtorno emocional como resposta à
acontecimentos estressantes de menor importância. As variáveis pessoais
desempenham um papel decisivo na maneira de reagor aos eventos de vida.

De um modo geral, pelo menos é bom termos em mente que existem categorias de
estressores que nos impõem grandes esforços adaptativos, como por exemplo, a
morte de um ente querido, uma grande perda, severos revezes econômicos,
constatação de doença séria, etc., e, ao lado desses, existem os pequenos
acontecimentos estressantes do cotidiano que acontecem com maior frequência na
vida das pessoas e, finalmente, existem ainda a influência dos conflitos íntimos
pessoais.

Mas, além dos acontecimentos consideradosev entualmente estressantes para o


desencadeamento e manutenção do Estresse, há imperiosa necessidade de uma
vulnerabilidade pessoal à ansiedade.

Vulnerabilidade pessoal é uma espécie de tendência constitucional a reagir mais


ansiosamente aos estímulos. Algumas pessoas reagem com uma ativação fisiológica
maior aos acontecimentos estressantes.

Um exemplo médico que pode se prestar à analogia com o Estresse seria,


novamente, o da reação alérgica. Se, dentro de um mesmo ambiente impregnado de
bolor, existirem 10 pessoas e 3 delas reagirem com espirros, coriza e
lacrimejamento, enfim, com sinais de uma rinite alérgica ao mofo, não se pode,
medicamente falando, atribuir ao fungo do bolor a causa exclusiva para tal rinite.

Se assim fosse todos os demais também teriam essa reação. Para ocorrer a reação
alérgica é indispensável existir o mofo mais a sensibilidade pessoal. No máximo,
podemos dizer que para a reação alégica do exemplo são necessários dois
elementos; o fungo e a sensibilidade da pessoa.

Ao se estudar a Violência Urbana e suas conseqüências psiquiátricas, podemos


encontrar tabelas (como a abaixo) que listam estímulos estressores relacionados ao
desenvolvimento Transtorno por Estresse Pós-Traumático de intensidade moderada
ou grave. Atualmente, as guerras e os refugiados que estas ocasionam, também
estão sendo objeto de especial atenção por parte dos investigadores.

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Estímulos estressantes e porcentagem de Transtorno por Estresse


Pós-Traumático
AUTOR ANO ACONTECIMENTO %
Terr 1981 Seqüestro 100
Pynoos 1987 Ataque de franco-atirador 93
McLeer 1988 Abuso sexual 48
McLeer 1993 Agressão física 25
Reinherz 1996 Furacão 70
Shaw 1996 Terremoto 32
Najarian 1996 Guerra 71
Savin 1997 Incêndio 12
March 1999 Desastre nuclear 88
Korol 1999 Guerra 50
Sack 2000 Violência doméstica 24

De qualquer forma é fundamental ter em mente que a força dos estressores depende
mais da sensibilidade do sujeito do que do valor do objeto, ou seja, depende de
como e com que peso a pessoa valoriza o evento (interno ou externo), mais do que o
evento em si. Há pessoas que vivenciam as mesmas experiências que outros e
regem diferentemente, experimentando estresse de grau variado ou, às vezes, nem
se estressando. É por isso que estudamos, a seguir, o aspecto pessoal dos
estressores.

efeitos Pessoais dos Estressores


Nossa capacidade de conhecer o mundo decorre de nossa percepção pessoal da
realidade. Essa percepção pessoal da realidade, diferente em cada um de nós, é
chamada de procepção da realidade.

O principal conhecimento que devemos ter disso, é que a realidade será sempre
representada intimamente e de acordo com os filtros afetivos de cada um, ou seja,
de acordo com a sensibilidade (afetiva) de cada um.

A percepção pessoal da realidade engloba toda a realidade ou toda nossa maneira


de ver e sentir o mundo e só essa realidade (única para nós) nos interessa. Nossa
percepção pessoal da realidade engloba não apenas a concepção que temos das
coisas que estão fora da gente, como os fatos, eventos, objetos, pessoas, etc., mas
também os conceitos que cultivamos dentro da gente, nossas escalas de valores,
nosso conflitos e complexos. Dentro de todo esse material interno ou intra-psíquico
inclui-se, também, a imagem que nós temos de nós mesmos, ou seja, inclui nossa
auto-estima.

Nossa auto-estima, por exemplo, poderá ser representada mais negativamente ou


mais positivamente, de acordo com a tonalidade afetiva de cada um. Algumas
pessoas se vêem ótimos, outras se vêem péssimos. Assim sendo, a idéia que temos
de nós mesmos pode, por si só, ser um estímulo agressivo e causador de
ansiedade, caso seja uma idéia de nós seja uma idéia ruim e que nos perturba
constantemente.

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Mesmo em se tratando de um eventual estímulo externo, proveniente do mundo


objetivo e concreto, sua natureza agressiva poderá ser mais traumática ou menos
traumática, ou seja, mais estressante ou menos estressante, dependendo da
conotação mais agressiva ou menos agressiva à ele atribuída por nossa
sensibilidade (afetiva). Ter que falar em público, por exemplo, pode representar uma
ameaça maior ou menor, dependendo das circunstâncias pessoais.

Vendo uma antiga fotografia de algum ente querido já falecido, algumas pessoas
experimentam sentimentos tenros, suaves, saudosos e até agradáveis, outras, por
sua vez, podem experimentar sentimentos de angústia, tristeza, sensação de perda,
pesar, enfim, sentimentos desagradáveis. O que, realmente, dentro das pessoas faz
com que essa foto seja valorizada (Representada) dessa ou daquela maneira é a
Afetividade.

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